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ETNOCONHECIMENTO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM


ÁREAS NATURAIS E AGRÍCOLAS NO PLANALTO SUL CATARINENSE
(Seção temática: Abordagem sistêmica em processos produtivos)

Maria Sueli Heberle Mafra1, Hulda Helena Coraciara Stadtler2

RESUMO
A abordagem etnoecológica tem feito parte das principais iniciativas que visam à
conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais. O etnoconhecimento,
conjuntamente com as inovações tecno-científicas e, com base em enfoques participativos,
busca integrar os agentes locais que agem sobre os objetos da conservação. Este trabalho
estudou, com uso de metodologias participativas, o conhecimento étnico visando avaliar
sua contribuição na conservação da biodiversidade em áreas naturais e sua relação com o
uso sustentável dos recursos naturais na agricultura familiar. A pesquisa foi realizada com
grupos de agricultores tradicionais nos municípios de Painel e Bocaina do Sul, no estado
de Santa Catarina. Esta região é conhecida pela pecuária extensiva e pela presença do
pinheiro (Araucaria angustifolia), cujas florestas naturais foram intensamente devastadas,
das quais restam apenas 3% do bioma original. Atualmente, o setor florestal está em
crescimento, mas baseado na monocultura de Pinus, causando conflitos ambientais, sociais
e econômicos, que contrastam com a rica diversidade biológica e cultural historicamente
marginalizada. Nas comunidades rurais a conservação da biodiversidade é construída
socialmente pela cultura na culinária tradicional, terapia medicinal popular e outros usos,
determinando estratégias de manejo peculiares que afetam populações biológicas e formas
da paisagem. O etnoconhecimento e a forma de vida relacionada, muitas vezes entram em
conflito com os interesses econômicos que desprezam a biodiversidade local, substituída
por espécies exóticas para o lucro imediato, ou mesmo porque determinam formas de
produção “modernas”. O grande desafio para a reversão deste quadro exige construção
coletiva do saber, por parte de técnicos, mas também participação e protagonismo efetivo
das comunidades. As políticas governamentais, visando capacitação e formação, as
pesquisas e a legislação ambiental devem favorecer uma melhor irradiação de tecnologias e
o desenvolvimento criativo nos programas de extensão rural baseados na pesquisa-ação e a
reflexão-na-ação para a sustentabilidade da agricultura familiar.

Palavras-chave: Agricultura familiar, Conservação da natureza, Mata Atlântica, Saber


local.

INTRODUÇÃO
A relação entre o etnoconhecimento e suas contribuições para a conservação da
diversidade representam um desafio no entendimento de como proceder no dia-a-dia da
extensão rural, atendendo a um dos princípios básicos de qualquer projeto em
desenvolvimento rural sustentável: Valorização do conhecimento local e protagonismo dos
atores sociais envolvidos.
Os padrões de intervenção na natureza das populações rurais são reflexos das

1
Mestranda em Ciência do Solo, Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências
Agroveterinárias (CAV/UDESC), Av. Luiz de Camões, 2090, Lages, SC. Bolsista da CAPES.
mshmafra@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Alagoas, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Departamento de Ciências
Sociais. Campus A. C. Simões, Br 104 km 14, Tabuleiro dos Martins, Maceió, AL. stadtler@elogica.com.br
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dimensões ecológicas, econômicas, culturais e sociais, que se integram para definir as


práticas agrícolas. Há evidências de grande potencial dos atores locais para manutenção
dos recursos naturais, que ocorre sob diferentes formas de manejo, elaboradas a partir de
conhecimentos detalhados do ecossistema. Entretanto, é preciso conhecer como estas
informações formam um processo de tomada de decisão, bem como de um processo de
avaliação, individual ou coletivo, que muitas vezes tem suas raízes na formação étnica
(DIEGUES, 1998).
Muitos conservacionistas convencionais defendem a existência de parques de
conservação ou proteção, evidenciando pretensa incompatibilidade entre as comunidades e
a natureza. São inúmeros os esforços para serem criados parques e áreas de proteção
permanente, principalmente para fins de recreação de populações urbanas, educação
ambiental e pesquisa. Ocorre que a maior parte dos remanescentes florestais nativos se
encontra nas propriedades rurais médias e pequenas (DIEGUES, 2000). Segundo o autor,
quando se fala na importância das populações tradicionais na conservação da natureza, está
implícito o papel preponderante da cultura e das relações homem/natureza. Tal percepção
contrasta assim, com a conservação do meio ambiente freqüentemente definida somente
em seus aspectos técnicos e científicos, sem considerar teorias mais amplas relativas aos
estudos das relações entre humanos e a natureza. Tal autor destaca que as populações
tradicionais não só convivem com a biodiversidade, mas nomeiam e classificam as
espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. É importante ressaltar que esta
diversidade é manipulada e domesticada de várias formas e ela não é vista como um
recurso natural, mas o conjunto de seres vivos, que têm valor de uso ou simbólico e estão
integrados numa complexa cosmologia.
O papel das comunidades tradicionais na conservação da biodiversidade na floresta
tropical brasileira já foi analisado em comparação com as formas convencionais de
utilização da terra em atividades agropecuárias. Neste caso, observou-se maior erosão
genética, mesmo quando acompanhada de “medidas conservacionistas”. Por outro lado, as
formas de utilização dos recursos naturais pelas populações extrativistas e indígenas
podem resultar em mínima erosão genética e maior conservação. Assim, o sistema
desenvolvido pelas populações tradicionais tem demonstrado uso mais rentável da floresta
em curto e médio prazo, mantendo a biodiversidade e os processos naturais de forma eficaz
(DIEGUES & ARRUDA, 2001).
Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi analisar a contribuição do
conhecimento étnico das famílias tradicionais para a conservação da biodiversidade e sua
relação com o uso sustentável dos recursos naturais na agricultura familiar tradicional no
Planalto Sul Catarinense. Buscou-se identificar as potencialidades que permitem que o
etnoconhecimento das populações tradicionais passe a ser incorporado na promoção da
conservação da biodiversidade. Além disso, o estudo visou identificar os elementos
culturais facilitadores que servem de instrumentos de gestão dos recursos naturais de forma
a integrar o produtor rural e o seu saber ao dos técnicos de pesquisa e extensão agrícola, na
geração de tecnologias alternativas que sejam adequadas às suas necessidades. Tais
informações serviram para identificar os fatores responsáveis pelos fracassados esforços de
“modernização” na região, verificando os motivos da resistência às mudanças e
“tecnologias modernas”.

MATERIAL E MÉTODOS
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O presente trabalho de pesquisa iniciou com a escolha das comunidades e famílias


a serem estudadas, utilizando como critério de escolha das famílias as características
comuns à prática da agricultura tradicional, independente da origem étnica.
Os trabalhos de campo foram realizados junto a duas comunidades: Ponte Alta, no
Município de Bocaina do Sul, SC e Casa de Pedras, em Painel, SC (Figura 1). De cada
grupo foi selecionada uma família para melhor apurar e exemplificar o estudo. As famílias
selecionadas foram do Sr. Edson José Wiggers de Ponte Alta e da Sra. Marli Melo de Liz
de Casa de Pedras. As comunidades de Painel e Bocaina do Sul estão distantes 45 e 37 km
de Lages, respectivamente.

Figura 1. Localização da região onde foi desenvolvida a pesquisa.

Na pesquisa de campo foram utilizadas diversas ferramentas metodológicas


participativas, tais como: visitas às famílias, com conversa informal, pesquisa exploratória,
observação participante e questionário semi-estruturado. Neste caso, foi
relacionado/confrontado o saber local com resultados das pesquisas e análises científicas
de maneira construtiva e reflexiva, com a finalidade de entender a lógica das práticas
tradicionais adotadas, para isto, foram analisados diversos tipos de usos do solo e sistemas
de produção pela população. Além disso, foram realizadas oficinas com diagnósticos rurais
participativos (DRP) onde se promoveram momentos de reflexão-na-ação (THIOLLENT,
2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uso da biodiversidade nas comunidades rurais estudadas


A excelência florestal marcou a cultura local, que tem seu desenvolvimento até hoje
ligado aos produtos da floresta. É nela que foram criados porcos à base de pinhão (semente
da araucária), ainda no começo do século XX. As matas são também importantes nos
pastos nativos, como abrigo do frio para o gado durante o inverno. Os bovinos consumiam
pinhão e, com as patas plantavam-nos em grande quantidade. Segundo os agricultores, as
gralhas-azuis Cyanocorax caeruleu “plantam” mais pinheiros em áreas abertas. Com o
ciclo da madeira e a chegada das serrarias, nas décadas de 1950-60, houve grande
desmatamento, retirando-se os pinheiros maiores. Atualmente, os pinheiros de idade mais
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nova que produzem pinhão são abundantes, e por isso valem mais em pé do que cortados
(FLORIANI, 2004).
As comunidades tradicionais se destacam pela abrangência dos remanescentes
florestais nativos, com grande número de famílias desenvolvendo atividades relacionadas à
floresta, destoando-se do entorno caracterizado por condições sociológicas distintas, com
predomínio da pecuária extensiva e plantios comerciais de pinus.
O manejo da mata nativa com sua biodiversidade é bem vista pelos agricultores,
desde que atenda as necessidades imediatas, como lenha, palanques, ervas medicinais, mel
e frutas. Tais agricultores indicam que as árvores maiores devem ser cortadas para deixar
lugar para as menores crescerem. Esta forma se justifica por gerar renda imediata. O maior
problema apontado é a legislação, pois os critérios são inadequados ou desconhecidos pela
população local. A maioria das propriedades possui área de terra maior que 30 hectares,
limite para haver possibilidade de cortar a araucária. Em virtude disso os agricultores ficam
sem meios para manejar os recursos florestais.
Na maioria das florestas nativas observou-se a presença do gado no seu interior,
gerando pressão de seleção sobre a diversidade biológica, prevalecendo espécies não
palatáveis ao gado. Os diferentes sistemas observados demonstram que há vários graus de
degradação, de acordo com o tipo de manejo adotado em cada situação. Fazem-se
necessárias pesquisas que busquem as informações e transformem em indicadores para
sustentabilidade dos sistemas produtivos multifuncionais.
As florestas da região são ricas em espécies não madeireiras para consumo e para
fins econômicos, como o pinhão e a erva-mate, além de fazerem parte da culinária, cultura
e tradição regional, representam importante contribuição econômica com a sua
comercialização. Ainda sob as copas dos pinheiros, se juntam plantas medicinais, frutíferas
e melíferas. As florestas também fornecem lenha utilizada para aquecimento das casas no
inverno.
Entre as espécies frutíferas nativas pode-se destacar a goiaba serrana, que cresce em
abundância nas florestas, capões e nos quintais das casas. Atualmente Embrapa, EPAGRI e
algumas Universidades estão pesquisando as variedades com interesse econômico, como
alternativa de geração de renda. Para Franzon et al. (2004), as espécies frutíferas nativas do
sul do Brasil apresentam grande potencial para exploração econômica.
A floresta nativa passa a ser um elemento fundamental na propriedade, uma vez que
ela é a base para toda a produção e se integra em todas as atividades importantes das
famílias. Há necessidade e vontade por parte dos agricultores de preservar mais a
vegetação nativa, não pelo simples fato do cumprimento da legislação ambiental, mas pela
percepção da perda econômica na apicultura, atividade desenvolvida por muitas famílias de
ambas as comunidades. A região é peculiar pelos tipos de mel que são produzidos. Obtém-
se basicamente dois tipos de mel, o primeiro é do néctar das flores de bracatingas,
agulheiros, vassouras e uma infinidade de plantas nativas que florescem no inverno e
primavera resultando no mel claro, já o segundo mel é obtido do exsudado açucarado da
cochonilha que se alimenta da seiva nos troncos da bracatinga.
Em Casa de Pedras observou-se que as frutíferas como maçã, pêssego, nêsperas,
pêras e até cítricas, naturalmente formam sistemas dinâmicos em diferentes extratos onde
uma se favorece com as outras. Como exemplo, a bergamota cresce no sub-bosque de um
pinheiro, encostado na copa da nêspera, voltada para o norte, recebendo assim suficiente
radiação solar, mas protegido da incidência dos ventos gelados do sul. As famílias que
conseguem ter limão para o consumo, são as que descobriram que ela se desenvolve bem
em capões, voltada para o lado norte. As maçãs e pêras comuns se desenvolvem no interior
de capões de vegetação nativa e produzem frutos sadios sem a necessidade de tratamentos
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químicos. A goiaba serrana se mantém preferencialmente no ambiente natural, pois


dificilmente é atacada pela mosca-da-fruta. A uva dificilmente dá bem no quintal da casa,
observou-se que as famílias costumam ter videiras subindo nas outras frutíferas ou é
plantada no pé das árvores de porte baixo como as aroeiras (Schinus terebinthifolia) e
bugres (Lithraea brasiliensis), nas quais eventualmente é feita poda para que não fiquem
muito altas. Os pássaros são os principais concorrentes dos homens no consumo. Uma
outra combinação interessante é o consórcio de vime com gila.

Extrativismo com forma de utilização da biodiversidade


Os solos onde estão situados os grupos de agricultores tradicionais são geralmente
mais ondulados e possuem menor fertilidade natural. Essa característica foi definida pela
forma como se deu a ocupação territorial. A agricultura familiar se formou nas terras
devolutas que foram ocupadas pelos que mais tarde iriam ser os agricultores tradicionais, e
que são objeto desta pesquisa.
O extrativismo dos produtos florestais ainda é a principal alternativa econômica
para sobrivivência de muitas famílias tradicionais. Na região, o extrativismo iniciou com
os primeiros povoados com a madeira. À medida que a madeira foi explorada, surgiram no
lugar campos que foram ocupados pelo gado. O manejo da pastagem se dá pela queima,
atividade praticada historicamente, com impactos negativos sobre os remanescentes
florestais.
A comercialização do pinhão consiste na principal atividade econômica da maioria
das famílias do Município de Painel. Este produto tem alcançado bons preços e com a
grande quantidade produzida, o volume de recursos é relevante. Em cem hectares, extensão
média das propriedades, são colhidos anualmente em média 200 sacas, o que representa
10.000 kg de pinhão, comercializado com preço médio de R$1,50 o quilo. A principal
despesa é a mão-de-obra durante colheita. O armazenamento já vem sendo estudado há
algum tempo pela população. Como se trata de produto perecível necessita de câmaras
frias e maior nível tecnológico.
A erva-mate (Ilex paraguaiensis) é natural das matas do planalto e se desenvolve
bem sob a sombra das araucárias. A erva-mate é multiplicada e disseminada pelo jacu
(Penelope ochrogaster). Houve épocas que cada família extraía e beneficiava
artesanalmente a sua erva para chimarrão. O beneficiamento manual consistia no corte,
sapeco, quebramento, separação dos ramos e secagem nos carijos. A erva-mate já foi muito
extraída, mas a sua produção decaiu gradativamente. As causas apontadas foram: poda
inadequada, colheita feita fora do inverno, e aumento das pragas.
Outro produto importante foi o xaxim (Dicksonia sellowiana), cuja extração já foi
muito intensa. O ciclo do xaxim na comunidade de Casa de Pedra teve no passado
relevância econômica, embora já se apresentem áreas que possibilitariam cortes
novamente, se fosse permitido pela legislação ambiental. A regra para o xaxim é a mesma
da araucária, corte de até 15 m3 em propriedades de até 30 hectares a cada cinco anos. A
comunidade desconhece as formas para manejar e se adequar de forma legal à legislação.
A fábrica que beneficiava o xaxim teve papel importante na comunidade, pois gerava
muitos empregos e, pelo seu movimento em torno dela, gerava outras facilidades aos
moradores. O xaxim pode voltar a constituir forte renda, segundo os agricultores, pois seu
crescimento é rápido. Além disso, recentemente algumas famílias extraíram a barba-de-
velho (Tillandsia usneoides) para geração de renda. Ainda não se sabe se isso pode
provocar algum tipo de desequilíbrio e se esta tem uma reposição e em quanto tempo isso
ocorre.
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O manejo da fauna beneficia a manutenção da vegetação, prestando valiosos


serviços ainda não estimados numericamente como no caso das abelhas nativas. Os
agricultores tradicionais extraem o mel das abelhas silvestres apenas para utilização
terapêutica. Acredita-se que o mel com maior poder de cura vem das abelhas da terra, que
fazem colméia dentro do solo. Outro mel muito requisitado é o mel da abelha jataí, muito
valorizado economicamente. Acredita-se que a quantidade de animais silvestres se
manteve de uns anos para cá por existir certo “acordo” entre os moradores tradicionais de
manter matrizes e animais novos. Entre as espécies de interesse estão: tatus, cutias, veados
e lebres. Alguns agricultores mantêm locais de alimentação livre onde os animais se
dirigem nas épocas de escassez de alimentos. Os órgãos de controle e fiscalização legal
ignoram tal conhecimento por que desconhecem ou não buscam elementos metodológicos
para valorizar e aproveitar este capital humano como aliado de um processo da gestão da
biodiversidade. Os agricultores tradicionais são grandes conhecedores dos hábitos da vida
silvestre e em conseqüência os conservadores amadores.

Agricultura
A coivara é uma das práticas tradicionais das populações locais, caracteriza-se pela
derrubada da vegetação florestal seguida de queima dos resíduos, constituindo um sistema
agroflorestal alternado. A regeneração natural durante o pousio recupera parte da
fertilidade dos solos transportada com os produtos. Neste sistema são utilizadas
principalmente sementes crioulas, insumos externos são utilizados raramente. Conhecer
como a atividade é gerida não pressupõe ausência de impacto, mas abre um precedente
para a compreensão do papel das populações locais em áreas que conservam
remanescentes de araucária. Recriminada por degradar o ecossistema e obter baixos níveis
de competitividade com sistemas extensivos modernos, ainda hoje é parte fundamental da
atividade familiar de agricultores tradicionais. Sua aplicação está intimamente ligada a
conhecimentos locais, dos quais depende o sucesso da implantação da lavoura, seja pela
efetiva eliminação de plantas concorrentes, pela adequada liberação de nutrientes e
capacidade de regeneração florestal. Mas tende a ser abandonada com a adoção de práticas
modernizadoras de uso do solo, pela supressão da vegetação para outros usos permanentes,
como campos e reflorestamentos ou pressão de restrições legais.
A eliminação da floresta e a ruptura de sua interação com o solo podem ter
aumentado a expansão de campos naturais na região, e o papel das práticas tradicionais,
como a coivara, associada ou seguida da criação extensiva de animais pode ter contribuído
para perda de resiliência ecológica dos ecossistemas originais nos diferentes solos do
planalto sul de Santa Catarina, práticas estas imprescindíveis para compreender a formação
da paisagem e da cultura regional (MAFRA & ARENHARDT, 2005).
O extrativismo do pinhão e da erva mate justifica a preferência dos agricultores
tradicionais por que não resulta em custos externos. A resistência dos agricultores
tradicionais à “modernização” da agricultura imposta nas últimas décadas e a aversão ao
risco, que se observa em praticamente toda população da região, é reflexo do risco real. A
produção pode variar devido à baixa fertilidade dos solos e clima, com geadas fortes e
presença de cerração, pela altitude entre 900 a 1300 metros acima do nível do mar. Assim,
propiciam a incidência de doenças nas culturas.

Uso terapêutico e culinário da biodiversidade


O uso das espécies da flora nativa na culinária tradicional, medicina, benzedura,
decoração e outras simbologias são comuns e representam elementos de interesse para
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contribuição na conservação e manutenção de espécies nativas e crioulas adaptadas através


de seleção e domesticação através das gerações.
Nos quintais e hortas domésticas observa-se abundância de plantas medicinais. Os
saberes sobre o uso terapêutico para as principais doenças são reproduzidos principalmente
pelas mulheres idosas.
A culinária tradicional relaciona-se com a riqueza cultural ainda presente nas
comunidades tradicionais. Dessa diversidade cultural nasceu a festa nacional do pinhão,
que é o produto mais tradicionalmente consumido pela população.
A caça é proibida, mas são relatados diversos tipos de prato feitos com tatu. Entre
todos, “tatu com farofa” parece que é o predileto e não é qualquer um que “faz bem feito”.
Mas hoje, segundo eles, não estão caçando mais.

Experiência das famílias camponesas no uso e conservação da biodiversidade


Uma das principais características das propriedades das famílias camponesas é a
grande biodiversidade, que combina culturas anuais com florestas formando sistemas
agrosilvipastoris com diferentes graus de complexidade. Destoando do latifúndio que
geralmente é composto pela monocultura de pinus ou a pecuária extensiva com a paisagem
de áreas de pasto rasteiro. A diversificação presente nas propriedades tradicionais é
definida pelos agricultores como sendo uma estratégia que minimiza riscos, estabiliza
rendimentos em longo prazo, promove a diversidade, autonomia e segurança alimentar e
maximiza os retornos com níveis tecnológicos baixos e poucos recursos. A horta doméstica
é uma forma de uso da terra fortemente eficiente onde se combinam frutíferas, hortaliças,
ornamentais, medicinais, aromáticas e temperos formando verdadeiros mosaicos dinâmicos
e produtivos.
Nas propriedades tradicionais observa-se a horta próximo da casa, geralmente com
diversidade abundante, e áreas de cultivo de milho, feijão e batata. Os produtos colhidos
são também para o consumo humano ou animal, o excedente é comercializado. Estes
sistemas se estabeleceram evoluindo ao longo da história através das experiências
acumuladas pelos agricultores tradicionais em sua interação com a natureza sem a presença
de insumos, capitais externos e conhecimentos científicos externos. Confiando em sua
capacidade criativa, experiência e recursos locais disponíveis, desenvolveram sistemas de
produção eficientes e sustentáveis. As hortas, nas propriedades mais tradicionais, podem
chegar a compor metade do que é gasto na alimentação familiar. Os agroecossistemas
tradicionais funcionam como bancos de germoplasmas in situ.
Muitos pomares possuem variedades de frutas trazidas pelos primeiros
colonizadores locais, readaptadas e novamente selecionadas pelo rigor climático da região.
Talvez o maior desafio para a compreensão do modo em que os camponeses mantém,
preservam e manejam a biodiversidade é o reconhecimento que sua complexidade de
produção está estreitamente ligada ao sofisticado conhecimento local.
O conhecimento tradicional com relação ao meio ambiente em que se relacionam é
bastante amplo. Muitos agricultores tradicionais desenvolveram calendários mentais para
programar as atividades agrícolas, outros se orientam segundo as fases da lua e acreditam
que em determinadas fases há tendência para mais chuvas e outros ainda plantam as suas
culturas ligando a época com dia de santo. Para alguns, o que conta é a estacionalidade
climática utilizando também indicadores baseadas na fenologia da vegetação local.
Sob o ponto de vista do conhecimento local, os homens geralmente dominam os
conhecimentos sobre espécies florestais, principalmente as madeiráveis, conhecem bem as
melhores raças de gado para a pecuária, cavalos, enfim todos os aspectos que tem por fim
geração de renda ou como se diz entre os agricultores “dinheiro no bolso”. Subentendendo-
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se que a capacidade e o grau de conhecimento dos homens são superiores à capacidade e


ao conhecimento das mulheres. O homem é capaz de gerar renda, por isso ele pode decidir
sobre o destino da renda. Neste viés percebe-se uma forte questão de poder entre gênero.
Os conhecimentos da mulher estão voltados para as tarefas domésticas, de cuidar da
família. À mulher compete cuidar da alimentação e saúde da família. Preparar a comida é a
responsabilidade que pesa mais para a mulher. A responsabilidade de prover o almoço de
cada dia trouxe uma outra necessidade e responsabilidade da mulher, cultivar o que a renda
não supre. Geralmente, no meio rural, frutas e verduras não entram no rol de produtos
comprados. Assim, a produção e manejo da horta doméstica são da competência da
mulher. Cultivar a horta nem sempre foi uma tarefa prazerosa e que ela fez por escolha e
vontade própria. A mulher então, historicamente, se aperfeiçoou na arte de cultivar na
proximidade da casa os produtos que são necessários para satisfazer as necessidades de
consumo da família.

Caracterização da propriedade Sra. Marli e do Sr. Sebastião


A propriedade da Sra. Marli Melo de Liz (58 anos) e do Sr. Sebastião Vitorino de
Liz (62 anos), foi selecionada, por representar um exemplo de família que pratica a
agricultura tradicional, técnicas que foram passadas de geração em geração e trabalham
numa lógica de sobrevivência do caboclo. A propriedade possui 50 ha (Figura 2).

Figura 2. Aspecto da propriedade familiar e uso da terra com sua biodiversidade.


Entre as dificuldades enfrentadas para sobrevivência da família estão a falta de
estradas e hospitais próximos, a distância do comércio e o difícil acesso. A família não
possui carro, sendo a forma de locomoção, a pé ou a cavalo. A área da propriedade é toda
cercada na qual hoje há 17 cabeças de gado e algumas poucas ovelhas, porcos e cavalos,
somando ao todo 34 animais de criação. A casa com quintal e horta está cercada com
lascas de madeira e taipas de pedra e a lavoura de milho é cercada com arame farpado para
impedir a entrada do gado. A área mais produtiva é a ‘lavoura’ ao redor da casa, onde
Dona Marli cultiva uma enorme diversidade de espécies e variedades para diversas
finalidades em todas as épocas do ano. Foi feito um levantamento etnobotânico onde se
encontrou 157 espécies e variedades de plantas utilizadas para as mais variadas finalidades.
A área da propriedade é composta por pastos e floresta nativa em vários estágios. A
lavoura de milho é semeada na primavera após roçada e queimada. Nos dois ou três anos
seguintes procedem a capina e queima de toda vegetação, inclusive a palha do milho que
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sobrou da cultura anterior, para então plantar na roça “limpa”. A área da lavoura tem cerca
de um hectare, cultivado com milho crioulo, batata doce (não mais que 20 m2), batatinha e
feijão no meio do milho. Quando considera que a terra da área já não corresponde em
produtividade, parte-se para nova área, iniciando com roçada da vegetação alta do tipo
capoeirão, composto por vassoura, bracatingas e araucárias. Enquanto isso a área
abandonada fica em pousio, a vegetação se regenera e em cinco ou seis anos a “gordura”
da terra “volta”, segundo o agricultor. Durante a regeneração inicial se limita a presença de
bovinos que voltam para a área após o terceiro e quarto ano quando as plantas pioneiras
como as bracatingas, vassouras e pinheiros não são mais comidos pelo gado. As atuais
restrições legais para o corte do capoeirão podem coibir estas práticas agrícolas.
O sistema produtivo é fundamentalmente de extrativismo. Apesar da grande
biodiversidade, a família passa por necessidades. Os produtos vendíveis ou que tem valor
monetário são gado e pinhão que se concentram em uma época do ano. A família
desconhece formas de aumentar a renda dentro da propriedade. A única saída que vêm é o
trabalho assalariado e “benefícios” políticos para melhorar a vida.

Propriedade do Sr. Edson José Wiggers e Sra. Marilda Wiggers


Em Bocaina do Sul, pesquisou-se a propriedade do Sr. Edson Wiggers (47 anos) e
da esposa Sra. Marilda (45). O casal tem dois filhos, um de 19 anos e outro de 13 anos,
ambos estudam. A Sra. Marilda, além de cursar Pedagogia em Lages, é funcionária pública
numa escola municipal próxima, faz as atividades domésticas, cuida da horta e na época da
colheita do mel ajuda na atividade. A horta está menos diversificada por falta de tempo,
mas já foi objeto de estudos etnobotânicos da Universidade do Estado de Santa Catarina.
A família tem tradição de preservar variedades que fazem parte da culinária
própria. O excedente das frutas e verduras é transformado em conservas e compotas que
facilitam a cozinha nas horas de aperto (Figura 3). O sonho de Dona Marilda é ter a própria
renda “no dia que eu tiver renda na propriedade eu volto a trabalhar na propriedade, do
contrário continuo como funcionária pública”.

Figura 3. Conservas da Sra. Marilda.


A propriedade possui 50 hectares e se caracteriza pela presença de grande
biodiversidade, o plantio das lavouras em faixas e maciços de mata nativa entremeada com
áreas de pastagem manejada, lavoura de milho, pomar, horta, sede da moradia, formando
um mosaico interessante manejado com grande racionalidade. A produção é integrada de
forma que os animais da pecuária leiteira são alimentados com o milho produzido na
propriedade, a produção apícola se beneficia das áreas de conservação da mata nativa
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presente em toda a área, seja nas áreas de conservação permanente como nos topos de
morro, nascentes, mata ciliar, na área de preservação legal, como no meio das pastagens.
A propriedade manejada pelo Senhor Edson é composta por três áreas (Figura 4), as
áreas 1 e 2 são de propriedade dele, e a área 3 é arrendada. A área 1 possui 20 ha, com
sede, áreas de floresta nativa, pastagem nativa, lavoura, vime, pomar e uma horta
diversificada. Próximo à sede é mantida área de floresta nativa e pastagem na qual os
animais bovinos têm acesso e permanecem na maior parte do tempo. A lavoura é manejada
com pastagem no inverno e grãos durante o verão. Mais para o extremo da área tem-se
mata nativa e vime próximo ao Rio Faxinal. O vime é uma renda extra, o preço varia
muito, mas é um componente da diversificação que ajuda a diluir os riscos: “As vezes o
vime tem preço ruim, mas o leite ou o mel estão com preço bom, ou o contrário, assim um
compensa o prejuízo do outro e dá mais estabilidade financeira”.
A área 2 é pobre em recursos hídricos, possui 29 ha, é coberta de floresta em
estágio adiantado que fornecerá no futuro madeiras e lenha e, além disso, possibilitou a
expansão da apicultura. As abelhas se beneficiam da vegetação nativa e como o gado tem
acesso restritivo, a floresta não sofre pressão de seleção e conseqüente degradação como é
comum na maioria das propriedades da região. A bracatinga, principal árvore que fornece a
matéria prima para produção de mel, está presente em toda a área. Mas ao longo do ano as
abelhas se beneficiam de muitas espécies florestais, e quanto maior a diversidade, maiores
são as chances de suprir alimentação para as colméias durante todo o ano.
A área 3 tem a maior parte das 400 colméias produzidas na propriedade além de
uma área de produção de grãos no verão e pastagem no inverno, manejada no sistema
convencional. Mas revela “gostaria de transformá-la em agroecológica, preciso mais
informações, ainda não estou preparado, sei que demanda mais mão-de-obra e eu sempre
ando apertado no tempo”. A produção de mel já está toda certificada como orgânica e por
isto recebe até 30 % a mais pelo produto.
Seu Edson se preocupa com as grandes áreas de monocultura de pinus que já estão
inviabilizando a atividade apícola de muitos vizinhos que não tem a preocupação pela
regeneração e conservação de espécies melíferas que fornecem alimento e néctar ao longo
do ano. Muitos apicultores perderam grande parte das suas colméias devido à falta de
alimento e falta de conhecimento para o manejo.
A família do Sr. Edson tem acesso à educação formal e centros para formação e
tecnologias em agricultura. Seu Edson faz parte da Associação dos apicultores, já foi
presidente da associação. Participou de muitos cursos e gosta de inovar. Segundo ele: “hoje
plantamos tudo na tecnologia, fazemos plantio direto, e estou sempre disposto a melhorar”.
Buscou financiamentos bancários para custeio das máquinas da casa de mel. E
desenvolveu projeto para plantio e manejo de mais floresta nativa. A Sra. Marilda
igualmente participou de muitos cursos e foi por algum tempo agente da pastoral da saúde.
O casal cursou a escola para adultos, concluindo o ensino médio e a Sra. Marilda iniciou o
curso de Pedagogia: “Em pouco tempo irei fazer um concurso e passar a ser professora”.
Hoje o Sr. Edson se considera realizado: “tenho uma casa de mel decente, bem equipada, a
propriedade está bem estruturada, tenho reconhecimento e prestigio social quanto a minha
profissão de agricultor apicultor e tenho uma família equilibrada, é tudo que eu queria”.
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Floresta
Pastagem sem gado
Lavoura

Área 2
Área 1
Floresta
com gado

Colmeias
s

Fonte de água
protegida
Vime
Rio Faxinal
Rio Ponte Alta Rio Lavapé sede

Floresta
sem gado Lavoura

Área 3

Figura 4. Croqui da propriedade do Sr. Edson e família. Alta complexidade de


planejamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os agricultores familiares tradicionais na região do planalto catarinense em suas
práticas produtivas baseadas no conhecimento étnico vêm utilizando a biodiversidade local
em razoável equilíbrio entre a apropriação dos recursos e a manutenção da atividade
produtiva. Com base nas comparações/confrontos entre o pensar popular e o conhecimento
científico é possível estabelecer pontos comuns. É necessário adequar a extensão e a
pesquisa a uma melhor interlocução entre agricultores e técnicos, uma vez compreendidos
os processos cognitivos do produtor, o que possibilita ações participativas eficazes. Na
pesquisa identificaram-se diferentes questões relativas ao uso e manejo da biodiversidade,
imersas na história das comunidades e presentes nos sonhos dos atores envolvidos.
A região constitui-se um dos principais remanescentes da mata atlântica na região
sul do Brasil, com relevante interesse ecológico especialmente por constituir cabeceiras de
importantes rios da região e uma vasta biodiversidade ainda presente, principalmente onde
se concentra a agricultura tradicional. Para que a biodiversidade florestal ainda existente da
região seja conservada é fundamental o desenvolvimento de programas de valorização dos
seus produtos e o saber local. A valorização deve prever a possibilidade de usufruir. O
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camponês cuida daquilo que ele precisa para viver e para reproduzir seu estado de humano,
sua identidade, seu ethos ao longo das gerações.
Na agricultura tradicional a floresta tem importância que vai além da economia,
além de ser a base dos sistemas de produção apícola, e é um elemento importante na
pecuária tradicional. A floresta fornece inúmeros produtos demandados pela agricultura
tradicional, de caráter econômico, cultural, religioso e espiritual que fazem parte do ethos
de cada grupo ou sociedade. Assim o etnoconhecimento depende da biodiversidade do
ecossistema e este depende do etnoconhecimento local das populações que a manejam e a
perpetuam com seus costumes, tradição, religião e moral. Fato este comprovado pelos
cemitérios das antigas comunidades de camponeses que hoje se perdem no meio de
monoculturas de soja ou pinus.
Quanto à conservação da agrobiodiversidade pode-se considerar que os agricultores
familiares tradicionais preservam ou selecionam a biodiversidade local. Historicamente os
agricultores tradicionais selecionaram espécies mais adaptadas e com características
desejadas, deixando de reproduzir as que não interessavam. Na diversidade cultural dos
diferentes ecossistemas encontram-se as espécies que cada família preserva e reproduz
aquilo que o identifica como tal, com seus valores simbólicos, sociais e religiosos. Além
do que, os agricultores estão sempre trocando sementes gerando redes informais de troca
de material genético. Estas redes são responsáveis pelo sucesso da agrobiodiversidade
existente até hoje, apesar das perdas de muito material por conta de promessas de
“milagres genéticos” das variedades comerciais “melhoradas” que muitas vezes se
caracteriza como o ponto de cisão de uma cadeia de seleção que vinha sendo realizada por
gerações.
Os técnicos devem conhecer as práticas populares tradicionais para a partir daí
buscar o fortalecimento destas e a valorização do conhecimento étnico e local relacionado.
Esforços inter e multi-institucionais devem ser buscados para potencializar ações que
envolvam todos os atores sociais, passando a entender os fenômenos, por meio de um
processo que incorpora o saber local através da pesquisa-ação-participativa e de co-
investigação de um tema que interesse tanto aos agricultores como aos técnicos. A partir da
qual a objetividade da racionalidade científica e a subjetividade da visão e crenças do senso
comum de agricultores (mas também de técnicos e pesquisadores) devem ser consideradas
na avaliação da realidade dos sistemas de manejo.
Ainda que tenha se observado em ambas as propriedades alto nível deconservação
da biodiversidade natural agrícola e florestal, elas se contrastam na capacidade de geração
de renda e na qualidade de vida entre as duas famílias. As políticas governamentais,
visando capacitação e formação, as pesquisas e a legislação ambiental devem favorecer
uma melhor irradiação de tecnologias e o desenvolvimento criativo nos programas de
extensão rural.
O desenvolvimento de pesquisa através da pesquisa-ação e co-investigação tem
sido fundamental para qualificação das avaliações dos problemas e oportunidades da
região, descobrindo, sistematizando e potencializando os elementos de resistência locais
frente ao processo de modernização, para, através deles, desenhar, de forma participativa,
estratégias de desenvolvimento definidas a partir da própria identidade local do etno-
ecossistema concreto em que se inserem. Enfim, tornando possível uma melhor tomada de
decisão por parte dos envolvidos em projetos, bem como na proposição de políticas
públicas. A análise antropológica, com perspectiva etnoecológica, visou o contraste e
valorização do saber local e das possibilidades de mediação sociotécnica para a construção
e difusão participativa de sistemas produtivos mais coerentes com a agricultura familiar
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tradicional e a possibilidade de conciliar a conservação da biodiversidade com geração de


renda.
A avaliação desta experiência demonstrou que na agricultura tradicional é
conservado e reproduzido o que tem identidade com o saber local, com a cultura, seus usos
e suas simbologias. A agrobiodiversidade presente em cada propriedade é resultado de
seleção constante. Por isso essa biodiversidade é fortemente relacionada e dependente do
etnoconhecimento local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIEGUES, A.C. (Org.) Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos
trópicos. NUPAUB – USP SP 2000.
DIEGUES, A.C. O mito da natureza intocada. Ed. Edusp. São Paulo. 1998. 215p.
DIEGUES, A.C; ARRUDA, R.S.V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.
Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001.
FLORIANI, G. dos S. Diagnóstico Rural Participativo para Gestão Sócio-Ambiental da
Araucária. Anais II Congresso Nacional de Agroecologia, Porto Alegre, 2004.
FRANZON, R.C.; CORREA, E.R.; RASEIRA, M.C.B. Resumos do II Simpósio Nacional
do Morango e do 1o Encontro de Pequenas Frutas e Frutas Nativas do Mercosul Pelotas,
RS, 2004 disponível em: <www.cpact.embrapa.br> acesso em 10 fev. 2006.
MAFRA, A.L.; ARENHARDT, V. P. Indicadores de sustentabilidade no uso do solo em
Sistemas Agroflorestais na Região da Mata Atlântica de Santa Catarina. Relatório de
projeto de pesquisa em execução, 2005. 11p.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, Cortez, 2004. 108p.

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