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RESUMO
O propósito desta pesquisa consiste em averiguar o perfil rurais, empenhadas na manutenção e proliferação dos
sustentável vigente nas atividades agrícola e apícola do agroecossistemas, na erradicação da fome e na edificação
Perímetro Irrigado de Pau dos Ferros, Rio Grande do de economias sustentáveis e solidárias, visou-se por
Norte. Em prol disso, utilizou-se como fonte de análise visibilizar as necessidades, inovações e empecilhos que
as declarações, vivências e saberes dos camponeses dessa afligem esse grupo, interligados de forma unitária ao
comunidade, culturalmente e socialmente diversificada. meio rural, e vinculados intimamente à natureza, fonte
Ademais, tendo em vista as problemáticas modernas que primordial das rendas e subsistência das famílias. Esse
afligem transversalmente tanto o universo social como o trabalho visa contribuir para a visibilização da classe de
ambiental, visou-se por averiguar as alternativas opostas trabalhadores rurais, cujos direitos e a própria cidadania
ao padrão de avanço destrutivo e antiecológico, vigoram em comunhão com a natureza, enaltecendo em
responsável pela defasagem dos ecossistemas e a conjunto a importância da agricultura e apicultura para o
fomentação da desigualdade. Assim, levando em meio ambiente.
consideração o papel fundamental das comunidades
The purpose of this research is to investigate the current realms, the aim was to examine alternatives to the
sustainable profile in the agricultural and apicultural standard of destructive and anti-ecological progress
activities of the Irrigated Perimeter of Pau dos Ferros, responsible for the depletion of ecosystems and the
Rio Grande do Norte. For this purpose, the declarations, promotion of inequality. Thus, taking into account the
experiences, and knowledge of the peasants in this fundamental role of rural communities committed to the
culturally and socially diverse community were used as a maintenance and proliferation of agroecosystems, the
source of analysis. Furthermore, considering the modern eradication of hunger, and the building of sustainable and
issues that affect both the social and environmental solidarity-based economies, the goal was to highlight the
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needs, innovations, and obstacles affecting this group, whose rights and citizenship are in communion with
united in a unitary way with the rural environment and nature, collectively emphasizing the importance of
closely linked to nature, the primary source of income agriculture and apiculture for the environmental
and subsistence for families. This work aims to awareness of professionals in these fields.
contribute to the visibility of the rural working class,
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo de todo desenvolvimento humano, a natureza esteve presente como uma fonte de
recursos e trabalhos primordiais para a formação e o avanço social. A agricultura e a apicultura são
duas atividades que refletem essa relação, práticas agropecuárias essenciais para a transformação da
identidade humana. Além da importância econômica, ambas as profissões estabelecem uma relação
mútua entre natureza e sociedade, na qual, o ambiente se torna uma tecnologia rentável e
sustentável para seus investidores (LIMA; ROCHA, 2012). Estas práticas se fazem presentes nas
zonas rurais e carregam uma mutualidade de saberes.
A partir disso, percebe-se como é fundamental compreender e analisar as perspectivas de seus
profissionais, refletindo quanto ao papel que estes trabalhadores desempenham. Para isso, a
pesquisa redigida neste artigo preza pelo estudo dos saberes e experiências interligadas entre as
práticas agrícolas e apícolas. Além disso, é necessário salientar quanto às formações e contextos nos
quais essas profissões se estabelecem, comparando as semelhanças e diferenças de cada trabalho e
profissional.
Desse modo, a criação de abelhas se torna uma atividade profissional e sustentável basilar
para o equilíbrio da natureza. Além de um meio de produção e renda, a apicultura perfilha aspectos
cruciais ao meio ambiente, como o cultivo e a proliferação de espécies através da polinização.
Sendo assim, a natureza se torna uma fonte de conhecimento ambiental basilar para a
conscientização dos profissionais que trabalham com ela, construindo, portanto, uma relação
harmônica entre sociedade e ecossistema (SANTOS; RIBEIRO, 2009).
De acordo com Iracema Graef (2011, p.13), pesquisadora do papel ecológico, social e
ambiental da apicultura para sociedade, a atividade apícola é uma intensa formadora técnica e
prática de profissionais conscientes. Em suas palavras: "Hoje, a apicultura é considerada a atividade
agrícola mais sustentável e grande aliada na preservação ambiental [...] transforma o apicultor em
'ecologista prático'".
Outrossim, a agricultura apresenta causas e efeitos similares. Sua prática está relacionada à
produção de recursos essenciais para a humanidade, tendo como destaque o abastecimento e a
coleta de materiais, sejam alimentos primários ou matérias-primas usadas para o consumo ou
comércio. Em meio a essa ambivalência entre a capitalização e o meio natural, faz-se necessário
atingir uma mutualidade entre os fatores sociais e ambientais. Para isso, a educação ecológica se
torna um alicerce determinante, formando profissionais conscientes e atuantes contra os prejuízos
irreversíveis ao ecossistema, e consequentemente, à humanidade.
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Além do papel ecológico, a agricultura é uma atividade fundamental para infraestrutura
brasileira. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, efetuado em 2017, a agricultura familiar foi
responsável por 70% dos produtos alimentícios cultivados e importados em todo Brasil. Desse
modo, a valorização profissional de famílias e comunidades agrícolas é uma necessidade social e
ecológica, pois estes cidadãos empenham, de modo plural, a erradicação da fome e dos impactos
ambientais.
Através deste artigo, torna-se perceptível como a conjuntura das práticas agrícolas e apícolas
ramificam uma protocooperação entre sociedade e meio ambiente. Em razão disso, compreender
seus papéis e influências é primordial para a sobrevivência humana e a preservação ambiental,
tendo em conta que ambas configuram meios sustentáveis para a autorregulação do mundo sócio-
natural. Assim, a construção de um elo entre essas atividades e o ensino ecológico produz um
caminho para formação e valorização de profissionais conscientes.
Com base nisso, as análises e estudos efetuados nesta pesquisa visam identificar as
perspectivas e transformações das atividades rurais no contexto socioambiental. Ademais, procura-
se analisar através das ações e opiniões destes trabalhadores, as capacidades que a agricultura e a
apicultura têm de expandir o ensino ecológico. Em suma, a primazia é comparar as visões ativas e
teóricas de seus correlacionados, agricultores e apicultores, quanto ao papel ecológico, educacional
e social de suas profissões.
2. OBJETIVOS
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Descrever o contexto socioeconômico da agricultura familiar na comunidade do perímetro
irrigado - Pau dos Ferros-RN.
3. MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi executado através das visitas de campo e entrevistas semiestruturadas
destinadas aos agentes agrícolas e apícolas da Vila Perímetro Irrigado, localizada no município de
Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte. Primeiramente, é preciso caracterizar a comunidade rural,
suas características geográficas e sociais para que em seguida se adentre nos perfis de cada
participante. A zona rural onde se desenvolveu a pesquisa foi fundada em 1979 (COSTA, 2014),
tendo sido criada com o objetivo de combater a seca e a fome que perduraram nesse período
(SILVA, 2010).
Ademais, a Vila Perímetro Irrigado está situada nas coordenadas 6°07’ de latitude Sul e
38°13’ de longitude Oeste, disposta 190 metros acima do nível do mar (DNOCS, 2012 apud
SOUZA et al., 2014). A mesma consiste em uma comunidade rural localizada na mesorregião Oeste
Potiguar. Especificamente a cerca de 9,2 km da Prefeitura Municipal de Pau dos Ferros, na Rodovia
226, mediando a conexão entre Pau dos Ferros e Antônio Martins.
A pesquisa tem como fundamentação metodológica a abordagem qualitativa, baseada nas
perspectivas subjetivas, opiniões e saberes dos camponeses do perímetro irrigado. Por se tratar de
uma abordagem qualitativa, realizou-se uma pesquisa de campo, utilizando entrevistas
semiestruturadas como técnica de coleta dos dados (Manzini, 2004). As entrevistas foram realizadas
com auxílio de três questionários utilizados como roteiro para os diálogos.
Tendo em vista a quantidade de informações coletadas a partir das declarações de cada
agricultor e apicultor, e visando mantê-las de forma congruente e sem desvios de sentido, isto é,
fiéis às visões de cada entrevistado, todos os questionários foram gravados e posteriormente
transcritos. Para que esse viés tivesse continuidade foram dispostos termos de consentimento afim
de esclarecer aos participantes todos os benefícios e riscos provenientes da pesquisa, gerando uma
maior transparência e um fortalecimento de vínculo profissional entre camponeses e pesquisadores.
A pesquisa foi realizada com dez (10) camponeses, divididos em duas categorias, cinco
agricultores e cinco apicultores. Todas as entrevistas foram executadas em campo, nos domicílios
dos camponeses, sem um padrão de tempo, tendo como principal variável de duração a construção
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do processo de interação pesquisador/sujeitos entrevistados. Os três questionários configuram focos
distintos. O primeiro caracteriza o universo social da comunidade, sua população, rede de ensino e
as relações profissionais desenvolvidas no âmbito da agropecuária, cultivo e criação de animais,
estabelecidas no campo de estudo. Assim, a entrevista primária aborda os aspectos identitários dos
entrevistados, analisando a dinâmica entre os agentes rurais e a realidade em que se encontram
inseridos, o meio ambiente.
Os outros dois questionários, diferentemente do primeiro, enfatizam não somente os saberes
profissionais e ambientais, mas representam também as singularidades e diversidades presentes no
campo. Nesse intuito, cada questionário reflete distintos perfis identitários, deliberados com base na
etnia, gênero, grau de ensino e renda dos pesquisados (RICHARDSON, 2017). Ademais, foram
abordados os saberes laborais adotados por cada apicultor e agricultor – métodos de manejo e
cultivo – juntamente com suas concepções quanto ao papel ambiental destas práticas.
Por intermédio das pesquisas de campo, entrevistas e diálogos efetuados, foi possível
estabelecer as semelhanças e singularidades dos agricultores e apicultores. Os questionários
semiestruturados englobaram idade, sexo, etnia, escolaridade, renda, moradia e profissão,
características que contribuem para a compreensão da visão de mundo de cada indivíduo. Assim, a
presente pesquisa buscou relacionar os perfis sociais com as realidades em que se fazem inseridos,
trabalhando suas mútuas influências.
Por fim, através dos dados coletados e designados pelos moradores do Perímetro Irrigado,
será efetuada uma análise de conteúdo fundamentada nos posicionamentos, posturas e concepções
enfatizadas por cada entrevistado (SEVERINO, 2014). Assim, as mensagens e significados obtidos
em campo permitirão estruturar, com base nos conhecimentos e perfis dos sujeitos pesquisados, as
interpretações sobre a realidade desses camponeses acerca da relação: sustentabilidade, agricultura e
apicultura.
4. QUADRO TEÓRICO
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desenvolvimento ecológico deixe de ser uma alternativa contra as condutas da realidade moderna, e
se torne uma projeção desta. Em síntese, é preciso questionar o modelo insustentável que configura,
segundo Guimarães (2001, p.51) apud Jacobi (2005): “um estilo de desenvolvimento
ecologicamente predador, socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e
eticamente repulsivo”. Nesse sentido, a sustentabilidade abrange tanto o meio natural, biomas e
climas, como os contextos humanos, direitos e liberdades, conjugando-os em uma relação
mutuamente benéfica. Esse “mutualismo socioambiental” é produto de uma equidade entre os
meios humanos e naturais.
Contudo, o oposto dessa relação se projeta nos padrões de consumo difundidos pela
economia capitalista e suas políticas de exploração ambiental. Estas, além de fragilizarem a
estrutura democrática, pois debilitam os direitos e difundem desigualdades, afetam a funcionalidade
de ecossistemas, afinal, priorizam o lucro e negligenciam as necessidades humano-ambientais. Um
exemplo é o racismo ambiental, o abandono de grupos vulneráveis expostos há mazelas
socioambientais (FILGUEIRA, 2021), sem saneamento, em terras degradadas e poluídas, como
lixões e barrancos. A exclusão de grupos socioeconomicamente fragilizados, dispersos em
realidades ambientais degradadas, infere uma profunda relação entre ambiente e indivíduo
(CIDREIRA-NETO; RODRIGUES, 2017 apud GOMES; MARTINS, 2020).
Os atingidos são, em sua grande maioria, grupos excluídos ou marginalizados, quilombolas,
indígenas e agricultores familiares. Nitidamente, todos estabelecem uma relação íntima com a
natureza, pois adotam desta, não como mero produto cujo fim é o lucro, mas como uma base para
sobrevivência, dependendo deste como fonte sustentável e renovável para suas vidas. A existência
dessas sociedades é uma expressão verídica de como a sustentabilidade ambiental conecta o bem-
estar dos ecossistemas com o fortalecimento da cidadania. Ademais, são os quilombolas, indígenas
e agricultores familiares um impasse contra a atividade capitalista, mecanizada e moderna, mas
exauridas de qualquer relação mútua com a natureza, sua principal fonte de recursos. Essas minorias
configuram subpolíticas que surgem perante a letargia das instituições contra os problemas
socioecológicos (BECK, 1997 apud JACOBI, 2005).
Em contraste com a sustentabilidade institucionalizada, o desenvolvimento sustentável
adotado pelas minorias gera a conscientização cidadã e ecológica estruturada a partir de suas
experiências. Percebe-se então o papel transformador que as práticas sustentáveis inferem sobre a
identidade de seus agentes, gerando qualidade de vida, independência, trabalho e liberdade
juntamente com a preservação de zonas ambientais e a valorização de seus recursos. Assim, o
desenvolvimento dessas sociedades reflete uma contrapartida ao avanço imprudente da
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industrialização e capitalização de terras e bens naturais. Ademais, percebe-se o paralelismo entre
ecologia e justiça existente dentro da sustentabilidade, (REDCLIFT, 2005), visto que ambos os
contextos sofrem prejuízos equivalentes e consecutivos. Um exemplo são as economias industriais
que fomentam a exploração indevida dos ecossistemas, incentivam a mão de obra barata e a
necropolítica (MBEMBE, 2011), instaurada por essas práticas as quais marginalizam inúmeros
grupos dependentes do meio natural e, em sua maioria, excluídos do centro político.
Logo, nota-se a polivalência da sustentabilidade ambiental, responsável por aliar as lutas
sociais com a valorização das necessidades humano-ecológicas (JACOBI, 1997 apud JACOBI,
2005). Além disso, a sustentabilidade foi por muito tempo um tema negligenciado pelos poderes
políticos, tendo sido pautada tardiamente em 1970, quando uma possível finitude dos recursos
ambientais e a degradação dos biomas, problemas advindos pelo capitalismo, foram
institucionalizados (JACOBI, 2005). Assim, sua real matriz se faz presente e ativa nas realidades
integradas à natureza, como os quilombos, reservas indígenas e zonas de agricultura familiar.
Estas e outras dimensões concentram uma diversidade de saberes fundamentais para a
reestruturação das políticas vigentes. A degradação ambiental e humana são fatores mútuos e
inseparáveis propagados pela atual “sociedade de risco”, uma modernidade autodestrutiva, reflexo
de uma população não consciente, individualizada e omissa às crises ecológicas (Ulrich Beck, 1992
apud Jacobi, 2005, p.240). Assim, a sustentabilidade se torna um interconector de saberes e
experiências identitárias, proativas e coletivistas (Jacobi, 2003). Para isso, o contato direto com os
agentes socioambientais, agricultores, apicultores e demais profissionais, é um passo fundamental
para essa mudança.
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Nessa perspectiva, seguindo o mesmo pensamento de Sachs, 2009, apud Lourenço e
Cabral, 2016, o aumento no Produto Interno Bruto (PIB) é uma necessidade crucial, entretanto, sua
consecução deve ser realizada de maneira ambientalmente responsável, adotando métodos que
sejam simultaneamente amigáveis ao meio ambiente. Em lugar de favorecer uma incorporação
predatória do capital natural ao PIB, é imperativo implementar estratégias que respeitem os
princípios da sustentabilidade ambiental.
Nesse contexto, Lourenço e Cabral (2016) ressaltam que as formas convencionais de
agricultura estão sendo repensadas, e abordagens inovadoras alinhadas com os princípios do
desenvolvimento sustentável estão sendo incorporadas. Um dos exemplos mais concretos disso, é a
atividade da apicultura, visto que é uma prática econômica comprovadamente sustentável e
rentável.
Ademais, Alcoforado Filho (1998) salienta que a atividade apícola se destaca como uma
das raras práticas agropecuárias que atendem integralmente aos pilares da sustentabilidade. No
aspecto econômico, é uma fonte de renda para os agricultores, seja ela, a principal fonte de renda ou
renda extra; no âmbito social, promove a ocupação da mão-de-obra familiar no campo, reduzindo o
êxodo rural; e no contexto ecológico, destaca-se por não requerer desmatamento para a criação de
abelhas.
Entendendo a apicultura como uma atividade sustentável, ela também possui a capacidade
de ensinar a preservar a natureza de uma forma natural. Os agricultores apicultores relatam que a
partir do primeiro contato com a apicultura, conseguiram desenvolver uma perspectiva quanto a
importância da natureza. De acordo com que criam e manejam as abelhas, eles começam a entender
que esse animal é completamente dependente da natureza, das floras e árvores, para produzir seus
principais produtos, como a cera, mel e própolis, produtos esses, que são comercializados e
consumidos pela população. Portanto, preservar a natureza é preservar as abelhas e sua
produtividade.
Portanto, a apicultura e a sustentabilidade são dois termos que se relacionam muito bem no
papel de manter o ecossistema vivo e saudável, promovendo o bem-estar ecológico e
consequentemente, o bem-estar social. Além de ser uma atividade econômica, social e ecológica,
desempenha uma função importante na educação ambiental.
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A agricultura familiar conjuga, dentro de um espaço ecológico, diversos perfis sociais que
dependem da regulamentação ambiental para sua subsistência. Nesse contexto, a natureza se torna
um instrumento basilar para a vida dos agricultores, além de edificar e sustentar faunas, floras e
famílias inteiras que necessitam da oferta de seus bens. Logo, os indivíduos inseridos nessa
realidade aderem a uma perspectiva mais atuante, tendo em vista que suas ações e conhecimentos
refletem diretamente na preservação e transformação do mundo natural (ZAKRZEVSKI;
VARGAS; DECIAN, 2020 apud GOMES; MARTINS, 2020).
Averiguar o conhecimento desses profissionais quanto ao papel sustentável de suas ações é
uma forma de analisar o perfil educacional dessa atividade. Aprofundar-se no modo como cada
campesinato internaliza a atividade de campo em suas vidas, relacionando-a com sua saúde, renda e
alimentação, também confere um modelo de nturez ambiental e conscientização político-social
inerentes à prática. Ainda segundo Rodrigues et al., (2012) apud Gomes e Martins (2020), a
percepção dos agricultores é um suporte para institucionalização de novas gestões ambientais.
Além disso, apesar das adversidades financeiras, os agricultores familiares desempenham
um importante papel – tanto para a economia interna quanto para a agropecuária nacional. Sua
participação no mercado interno, através do fornecimento de alimentos e empregos para nação
brasileira reflete o impacto social desse modelo. Sua atividade produtiva, embora pouco
remunerada, é tão significativa quanto o agronegócio, tendo em vista que, a sua produção por
hectare alcança em média R$104/ha/ano, enquanto a agricultura patronal estabeleceu uma produção
de R$44/ha/ano (GUANZIROLI; CARDIM, 1999 apud ASSAD; ALMEIDA, 1999).
Não obstante, a partir dos dados supracitados, percebe-se certo sucateamento da agricultura
familiar, invisibilizada pelo Estado e inserida em um mercado de trabalho excludente e desigual.
Esses fatores, no entanto, não reduzem seu perfil sustentável, afinal, sua execução se dá por meio do
manejo de policulturas, que geram a manutenção e diversificação dos agroecossistemas
(GONÇALVES et al., 2020). Assim, os pequenos produtores detêm 75% dos insumos agrícolas,
produzem 80% dos itens alimentícios e abastecem 70% da população brasileira (FAO, 2020 apud
GONÇALVES et al., 2020). Essa congruência entre a preservação dos recursos ambientais e a
erradicação da fome, espelha uma face sustentável intrínseca na agricultura familiar.
Para Rodrigues et. al (2012) a atividade agrícola projeta relações de manejo e gestão
ambiental, o que fomenta a integração entre comunidades e natureza. Ainda assim, a realidade rural
se faz composta por diversas identidades e visões que influenciam as práticas sustentáveis, como
escolaridade, renda, etnia e vivência, basilares para formação de cada agricultor. Ademais, a
acessibilidade aos saberes e ferramentas ecológicas é crucial para a conversão da agricultura
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convencional, que perdura com insumos nocivos e tecnologias hostis, em um sistema eficiente para
os produtores e resiliente à natureza.
Ademais, a incidência de problemas ambientais intensificados pelo uso exponencial de
agrotóxicos e a mecanização dos campos, culminou no presente modelo insustentável que gera
vicissitudes aos agroecossistemas (GONÇALVES et al., 2020). Em conjunto com as transfigurações
físicas das paisagens, a mutação genética e química dos alimentos e seus mananciais, houve a
defasagem da mão de obra rural devido a intensificação da utilização de tecnologias, além da
insegurança alimentar e do êxodo rural causados pela marginalização dos agricultores mais pobres,
desamparados com a desigualdade fundiária (WANDERLEY, 2014).
Nesse sentido, percebe-se como a natureza e a agricultura familiar são universos
tangenciados pelos mesmos problemas e unidos em uma transformação mútua. A luta sindical dos
camponeses, a constante cobrança por uma reforma agrária e o desenvolvimento de práticas não
convencionais, como a agroecologia e a agricultura orgânica, geram benefícios para o meio
ambiente, junto com o fortalecimento da cidadania e autonomia dos agricultores (JACOBI, 2005).
Assim, a sustentabilidade vigora na luta social e ambiental dos campesinos.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
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“Trabalho desde criança, minha infância foi agricultura.”
(agricultora 2).
Os dados coletados apresentam um padrão comum aos agentes do campo, um vínculo entre
natureza, trabalho e lazer, unificados pelos laços familiares. Essa relação se consolida,
principalmente, através da produção para autoconsumo, que transforma os trabalhos agrícola e
apícola em fontes de renda e subsistência para quem os efetua (GRISA; SCHNEIDER; GAZOLLA,
2010 apud. GONÇALVES et al., 2020).
Com relação ao nível de educação formal, dos 10 entrevistados: 5 não concluíram o ensino
fundamental; 2 fizeram ensino médio incompleto; 2 finalizaram a segunda etapa do ensino básico
brasileiro, Ensino Médio; e 1 terminou o ensino superior, sendo formado em Agronomia. Em
relação a formação técnica, isto é, sobre a realização de algum curso profissional agrícola: Somente
um trabalhador teve acesso ao ensino técnico, os demais desenvolveram suas experiências e saberes
através da prática e da relação familiar, práticas essas que começaram a ser despertadas ainda na
infância dos participantes, tendo em conta que muitos já lidavam com a cobrança do trabalho,
dedicando seu tempo para auxiliar a família, gerando alimento e renda.
Essa caracterização não consiste em uma particularidade do universo analisado, mas trata de
um padrão dos espaços rurais brasileiros (WANDERLEY, 2015). Os dados apresentados pelo
Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, ajudam a materializar essa realidade. A
pesquisa efetuada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística retratou a baixa escolaridade
que aflige as populações do campo, cujo ensino é inviabilizado pela pobreza e omissão estatal.
Segundo os dados, 23% dos produtores brasileiros eram analfabetos, 15,5% nunca frequentaram a
escola e 43,4% (2.913.348) frequentaram até o fundamental, sendo que 66,5% destes não o
concluíram.
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autônomos inseridos em um mercado excludente (GONÇALVES et al., 2020). Desse modo,
apresenta-se essa questão social e política nos espaços rurais que, apesar de estrutural para a
sociedade, tem seus atores marginalizados em várias dimensões da cidadania.
Já com relação à faixa etária, foi predominante acima dos 50 anos, havendo indivíduos já
aposentados, mas ainda inseridos no trabalho do campo. De acordo com a coleta de dados, dos dez
entrevistados, cinco pertencem à faixa dos 62 aos 67 anos, três dos 42 aos 50, e apenas dois com 22
e 29 anos. Tendo em vista os aspectos do trabalho agrícola e apícola, os quais exigem o desgaste
físico e a exposição ao calor cotidianos, a prevalência da população idosa significa uma força de
trabalho mais vulnerável para desenvolver as atividades (FERREIRA et al., 2012 apud GOMES;
MARTINS, 2020).
Para entender como essas influências se articulam entre os camponeses e seus contextos
sociais e ambientais, primeiramente se questionou sobre as propriedades onde cada família trabalha.
O tamanho das propriedades variou entre 9, a menor propriedade, e 22,5 hectares, a maior
registrada. Apenas 2 agricultores e 2 apicultores desempenham seus trabalhos nas propriedades dos
familiares, sogros (as), mães e avós. Os 6 restantes têm a posse das terras onde realizam o plantio
ou o manejo dos apiários. Assim, o contingente de trabalhadores rurais do Perímetro Irrigado, que
se dedicam integralmente ao cuidado das terras, têm seu alcance produtivo sumarizado em
pequenos lotes.
Essa caracterização se evidencia na população negra do campo, tendo em vista que dos 3
agricultores negros somente 1 declarou ser proprietário de terras agrícolas, enquanto os demais
alegram trabalhar para donos de latifúndios, produzindo e coletando suas lavouras. Não obstante, os
agricultores brancos tiveram uma média de terras entre 16 e 20 hectares, o que retrata uma
desigualdade fundiária entrelaçada ao racismo estrutural. Já em relação aos 5 apicultores, que em
sua grande maioria eram homens brancos, os que se autodeclararam pardos tinham à sua disposição
loteamentos extensivos, entre 17 e 22,5 hectares.
Todos esses dados são um reflexo do histórico de expulsão e isolamento que afligi essa
população. Ao longo da história brasileira a instrumentalização das vidas negras e mestiças
perdurou através do sistema de produção fundiária instaurada ainda no Brasil Colônia, o Plantation,
estruturada com base na mão de obra escravizada e na monocultura em grandes latifúndios,
empossados pelos Chefes de Capitania, homens europeus que dispunham da violência e litigância
para dominar e enriquecer a base da escravidão. Essas características se enveredam no corpo social
e econômico do brasil moderno, tendo face e voz principalmente nas zonas rurais.
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A partir dos dados coletados pelo Censo Agropecuário do IBGE, em uma pesquisa de campo
que abrangeu mais de 5 milhões de terras em 2017, e posteriormente analisados pela Agência
Pública, inferiu-se que cerca de 2,6 milhões de produtores agrícolas são negros, enquanto 2,2
milhões são brancos (FONSECA; PINA, 2019). Apesar de formarem a maioria, quando averiguado
o campo de produção por hectare, os produtores negros se sobressaem nas terras de 5 hectares ou
menos, sendo ultrapassados nas terras de maior porte.
Em contrapartida, os agricultores brancos têm sob sua posse mais de 60% dos
estabelecimentos agrícolas, principalmente a partir dos 10 mil hectares. Em suma, consoante ao
levantamento realizando pelo grupo de jornalismo investigativo, Agência Pública, as terras de 10
mil hectares estão à disposição de 4 produtores brancos e 1 negro, enquanto as menores que 1
hectare pertencem a 3 produtores negros e 1 branco. Infere-se, com base nisso, as raízes de um país
agrícola fundado sobre a escravidão e exclusão das vidas pretas, tidas como a principal mão de obra
agropecuária, mas também a menos favorecida.
Para entender como essas influências se articulam entre os camponeses e seus contextos
sociais e ambientais, primeiramente se questionou sobre as propriedades onde cada família trabalha.
O tamanho das propriedades varia – entre 9, a menor propriedade; e 22,5 hectares, a maior
registrada. Apenas 2 agricultores e 2 apicultores desempenham seus trabalhos nas propriedades dos
familiares (sogros (as), mães e avós). Os 6 restantes têm a posse das terras onde realizam o plantio
ou o manejo dos apiários. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, embora 77% dos
estabelecimentos agrícolas pertencessem aos agricultores familiares, apenas 23% da área agrícola
total estava em posse dos mesmos. Seguindo esse padrão, o contingente de trabalhadores rurais do
Perímetro Irrigado, que se dedicam integralmente ao cuidado das terras, têm seu alcance produtivo
sumarizado em pequenos lotes. Ademais, as relações desenvolvidas entre os agricultores/
apicultores com os recursos e territórios disponíveis, são de grande importância para uma produção
sustentável e proveitosa.
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Por conseguinte, visando determinar a sustentabilidade que vigora no campo de estudo,
questionou-se sobre as fontes de renda de cada trabalhador e seus consecutivos salários. Essa
caracterização é determinante para definir a existência de uma sustentabilidade no Perímetro
Irrigado, e se a mesma vigora apoiada em 2 dos três pilares fundamentais: equidade social e
eficiência econômica (GRO-BRUTLAND, 1998). De acordo com as respostas coletadas, 4 dos 5
agricultores recebem uma renda mensal de um salário-mínimo (R$1360,00), variando de acordo
com a produção e comercialização de seus produtos. Desses quatro agricultores, três se dedicam
unicamente ao campo, tendo como fonte de renda a produção e venda de seus cultivos, sem a
criação de animais. O único agricultor em que a receita atinge dois salários-mínimos (R$2640,00),
considera a agricultura uma renda extra.
Em contrapartida, a caracterização econômica dos apicultores sofre com discrepâncias, mais
visíveis. Dos 5 entrevistados, 2 possuem um rendimento de quatro salários-mínimos (R$5280,00), 1
recebe dois salários-mínimos (R$2640,00), 1 tem uma renda mensal mínima (R$1360,00), e apenas
1 encontra-se abaixo de uma renda salarial mínima. Os apicultores mais bem remunerados, com 4
salários, executam profissões externas ao campo apícola, comércio e consultoria técnica, sendo
ambas as principais fontes de renda para cada entrevistado. Assim, o universo de análise se mostra
categorizado em dois perfis: aqueles que se integram unicamente no trabalho rural, e outros que
encontram um apoio externo.
Além disso, é importante destacar a relação entre a renda média familiar com a etnia
declarada pelos agricultores e apicultores. Segundo os dados da pesquisa, 60% se autodeclararam
pardos(as) e negros(as) e 40% brancos(as), mostrando assim a presença majoritariamente
predominante dessa população no cenário da agricultura. Ademais, os dados coletados apresentaram
que aproximadamente 67% dos pardos(as) e negros(as) possuem uma renda média familiar de
menos de 1 a 1 salário-mínimo (R$1360,00), enquanto os outros aproximadamente 33% se dissipam
em dois (R$2640,00) e até quatros salários-mínimos (R$5280,00). Já acerca dos entrevistados
autodeclarados brancos(as), 50% afirmaram receber até 1 salário-mínimo (R$1360,00) e a outra
metade, até dois (R$2640,00) e até quatro (R$5280,00) salários-mínimos.
Com base nas rendas citadas, é perceptível a desigualdade social que prevalece entre ambos
os grupos e aflige, principalmente, os agentes do campo. A ausência de uma rede de apoio capaz de
estabelecer equilíbrio entre a força de trabalho, agricultores e apicultores, e o comércio, retrata uma
dissociação das atividades rurais com as bases da sustentabilidade, tendo em vista a desvalorização
dos profissionais e a baixa eficiência econômica, que gera disputas e exclusividades entre os
trabalhadores, culminando na desigualdade social. Segundo Gomes e Martins (2020), a integração
15
das práticas sustentáveis e a consolidação de economias solidárias, podem aumentar a obtenção de
lucro através da cooperação e troca de experiências, gerando a preservação ambiental e valorização
profissional.
“Tem um agrotóxico usado no feijão contra uma praga que prejudica a flora. Não
faço uso de nenhum material sustentável nem natural.”
(Agricultor 1).
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Ao analisar a fala do agricultor 1, pode-se perceber uma compreensão de que o uso de
agroquímicos acarreta determinados danos ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que afirma uma
preocupação não muito forte com a sustentabilidade ambiental. Essa postura retrata as mudanças
lógicas e práticas decorrentes da industrialização do campo, causadas pela introdução dos
agroquímicos e a adequação dos pequenos produtores a estes insumos. Com base nisso, nota-se a
transformação dos laços agricultor-natureza, a adoção da agricultura tecnificada e mudanças nos
saberes e práticas familiares.
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à compatibilidade entre a natureza e os insumos industriais. Segundo Peres, Moreira e Dubois
(2003) apud Wachekowski et al., (2020, p. 2), os agrotóxicos são agentes químicos usados para
“prevenir, destruir ou expulsar, direta ou indiretamente, qualquer agente patogênico, de vida animal
ou vegetal, que seja prejudicial às plantas.” Porém, quando aplicados às lavouras, seus efeitos
desencadeiam comorbidades à saúde dos trabalhadores e deturpam a cadeia alimentar, humana e
ambiental.
Consonante Silva et al., (2005), o manejo destes produtos químicos causam a exposição
ocupacional e contaminação ambiental. Além disso, quando mal manuseados podem causar uma
contaminação em cadeia, dispersando-se por solos e aquíferos ou atingindo familiares e vizinhos. A
presença desses produtos se intensificou entre os anos de 1975 e 1979, quando o Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND) passou a incentivar o uso de químicos, postulando-os como instrumentos
rentáveis e adequados para a plantação (WACHEKOWSKI et al., 2020). Essa perspectiva vigora até
os dias de hoje, estando presente nas falas dos seguintes participantes que, embora cientes dos
perigos, aderem ao uso:
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“Não uso agrotóxicos, mas utilizo adubos e faço a produção de um inseticida com
materiais orgânicos, sabão, esterco, óleo, é inclusive um pulverizante comum aqui
na comunidade, é melhor que os venenos porque protege e não danifica, têm alguns
venenos muito pesados para as vegetações.”
(Agricultor 3).
Com base nas visões e práticas analisadas, nota-se como a cultura agrícola permanece sujeita
às influências econômicas e políticas estabelecidas pela Revolução Verde, a qual preza
majoritariamente pelo lucro sem visibilizar as necessidades sociais e ambientais do campo. Ainda
assim, muitos agricultores reconheceram o vínculo entre natureza e agricultura, embora poucos
tenham de fato desenvolvido técnicas sustentáveis. Não obstante, para se aprofundar na perspectiva
ambiental, as questões consecutivas exploram o desenvolvimento sustentável da comunidade.
Todos esses aspectos são assimilados pela agricultura familiar e se expandem para a
natureza, tendo em vista a sinergia entre o meio ambiente e os agricultores, unidos de forma social,
nas famílias e comunidades, econômica, renda e profissão, e ecológica, subsistência, os três pilares
da sustentabilidade (ELKINGTON, 1994). Em vista disso, o esfacelamento dos ecossistemas gera
um retrocesso na qualidade de vida dos camponeses, cuja saúde, renda e direitos imperam através
do manejo ambiental. Assim, a atividade agrícola acaba por formar agentes ambientais interligados
aos agroecossistemas e atuantes na manutenção de seus recursos. Essas características se
manifestam nas declarações seguintes:
“Utilizamos folhas e galhos como adubo para fertilizar a terra, então acaba sendo
um método sustentável ao meio ambiente.”
(Agricultora 2).
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“Com certeza, eu tomo cuidado com o lançamento de resíduos e os retiro da terra,
mas infelizmente uns tomam cuidados e outros não fazem nada. Não deveria ter
desmatamento na agricultura, essa condição de seca, pouquíssima chuva e muito
calor é reflexo dessa prática.”
(Agricultor 3).
“Eu tiro um dia na semana, para organizar, para acompanhar e fazer o manejo.”
(apicultor 2).
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Além disso, os entrevistados citaram a técnica da alimentação artificial com xarope de água
e açúcar em épocas de seca, a utilização de caixas iscas para capturar as abelhas e a limpeza e
manutenção dos quadros e caixas:
“Eu limpo as caixas, troco a cera dos quadros, faço caixa isca para capturar
abelhas.”
(apicultor 3).
Com base nos dados obtidos, é evidente que a apreensão dos conhecimentos relativos à
apicultura ocorre por meio de diversas formas. Predominantemente, a aquisição de saberes acontece
mediante a experiência prática direta no campo, em sua maioria, orientada por familiares e/ou
amigos com maior experiência no setor, estabelecendo assim uma transmissão intergeracional de
conhecimento. No contexto do contato direto com o ambiente de trabalho e as abelhas, os
apicultores desenvolvem uma compreensão acerca das práticas apícolas, comportamentos das
abelhas, logística organizacional das caixas e quadros, assim como técnicas fundamentais para a
proliferação e manutenção das colônias, a exemplo da alimentação artificial utilizando xarope à
base de açúcar e água, e a metodologia empregada na captura de enxames, mediante o uso da caixa
isca.
21
Alternativamente, a aquisição de conhecimentos pode se dar por intermédio de profissionais
técnicos, participação em palestras, cursos e outras iniciativas formativas. Tais modalidades de
aprendizado proporcionam informações mais estruturadas e técnicas, abarcando uma gama mais
ampla de conhecimentos e tecnologias aplicadas à prática da apicultura. Isso implica na
compreensão da importância da preservação ambiental para otimizar a produção agrícola e apícola,
destacando a interdependência entre a atividade humana e o ecossistema.
“Sim. Eu trabalho a muito tempo nesse ramo da apicultura, e eu vejo essa atividade
como uma fonte de renda extra, que melhora muito minha renda. Além de ajudar a
natureza.”
(apicultor 5).
Com base nas declarações dos apicultores, evidencia-se que os entrevistados não apenas
reconhecem a importância da apicultura para o meio ambiente, mas também ressaltam sua
significância como uma prática essencial de subsistência, visto que, pode proporcionar efeitos
22
consideráveis no incremento da renda dos agricultores que dependem da agricultura familiar
(PASCHOAL; PASCHOAL, 2013).
“Acho importante, porque se não cultivar a natureza não tem como praticar a
apicultura, já que as abelhas dependem da natureza.”
(apicultor 1).
“Sim. Porque nós que estamos a mais tempo nesse ramo da apicultura, muitas
vezes, aparece pessoas mais novas que não possuem tanto conhecimento, servimos
para ensinar e ajudar nessa atividade. Então é um aprendizado que passamos de
pessoa em pessoa.”
(apicultor 3).
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Adentrando na análise do impacto da atividade apícola sobre seus praticantes, foi
questionado aos agricultores apicultores acerca de suas experiências na apicultura e se estas
propiciaram conhecimentos relativos à preservação ambiental, bem como quais foram esses
conhecimentos. Como será elucidado a seguir, todos os entrevistados responderam afirmativamente.
No que refere aos motivos e à natureza dos aprendizados adquiridos nesse ramo, os apicultores,
predominantemente, adotaram uma abordagem objetiva em suas respostas, apresentando distintos
contextos que evidenciam seus saberes adquiridos, como nas declarações abaixo.
“Quanto mais plantação e flora, mais as abelhas têm capacidade de produzir mel.”
(apicultor 3).
Nesse contexto, a relação entre a quantidade de néctar e pólen na vegetação apresenta uma
proporcionalidade direta com a capacidade de produção de mel pelas abelhas. Consequentemente, o
aumento da disponibilidade desses recursos naturais consiste em uma alta correlação na capacidade
produtiva das colmeias. Em contrapartida, a diminuição dessa disponibilidade de néctar e pólen
resulta em uma diminuição proporcional na capacidade de produção melífera das abelhas.
24
“Quando comecei a estudar sobre Biologia da Abelha, quando comecei a
compreender o comportamento das abelhas foi fascinante, a partir disso adquiri
interesse pela apicultura e desenvolvi uma visão técnica do ambiente e da
preservação.”
(apicultor 4).
Com base na declaração apresentada, é possível inferir que a apicultura ainda é uma prática
amplamente "desconhecida" em termos técnicos. Os conhecimentos comumente associados à
apicultura são percebidos como vagos e escassos. À medida que essa atividade é introduzida no
contexto educacional e o conhecimento técnico é disseminado, torna-se evidente que a apicultura é
uma prática de grande interesse e importância no âmbito social, econômico e ambiental. Conforme
(FREITAS, 1999 apud AMARANTE, 2019) a prática da apicultura, por sua vez, pode oferecer
alternativas ecologicamente conscientes e autossustentáveis para explorar ambientes naturais ainda
não degradados.
Por fim, a análise mostra que a apicultura possui potencial significativo como objeto
educacional para promover a compreensão do meio ambiente e sua preservação, fornecendo
conhecimentos abrangentes em diferentes esferas. Contudo, a presença de saberes práticos sem uma
vinculação técnica foi notada em alguns casos, indicando uma lacuna nesse aspecto. Isso implica
dizer que a prática e o ensino da atividade apícola podem acontecer e ser transmitidas de maneiras
diversas, mas a inclusão de conhecimento técnico é crucial para o desenvolvimento da
25
conscientização ambiental do indivíduo, permitindo a realização de um manejo adequado e seguro,
além de proporcionar uma base sólida em técnicas e métodos essenciais para o melhoramento da
produção apícola.
Em relação às ações ativas praticadas pelos apicultores em suas propriedades agrícolas para
a manutenção da natureza, ou atitudes que os mesmos não realizam para não causar danos ao meio
natural, as respostas mais frequentes envolvem desmatamento e queimadas. Os entrevistados
relatam que evitam ao máximo derrubar as árvores, com exceção em necessidades pessoais, como a
produção de cercas produzidas a partir da madeira.
No que se refere às queimadas, foi mencionado por um dos apicultores, uma norma exigida
na comunidade do Perímetro Irrigado que diz respeito à proibição de queimadas nas áreas da vila.
Além disso, uma prática muito eficiente e necessária para evitar os incêndios no campo, foi
exemplificada por um dos entrevistados, o mesmo relatou que em épocas de seca, a qual o mato
habitualmente fica seco, e consequentemente, muito vulnerável a queima, ele manda fazer uma
limpeza na mata presente ao redor da propriedade do mesmo.
26
“Na vila é proibido queimadas, os cuidados são mínimos.”
(apicultor 5).
“Sempre que chega o período da seca, eu mando fazer uma limpeza ao redor da
propriedade para evitar queimadas''.
(apicultor 2).
Além disso, foi destacado a emergente necessidade de recursos essenciais para a execução
proveitosa de atividades agropecuárias e apícolas, como a carência de matas nativas, sombreamento
suficiente para a prática das tarefas, floras ricas e diversas, fonte de água próximo e entre outros.
Complementando com a significativa diferença que a implantação de projetos ambientais faria para
os ambientes de trabalho que carecem de espaços adequados para realizar suas tarefas de forma
eficiente, como projetos de reflorestamento e cultivo de floradas que tenham a capacidade de
adaptação do clima do semiárido.
Baseado na análise das falas obtidas com a questão abordada, é possível notar que, a integra
dos entrevistados, reconhecem a conservação do meio ambiente como uma necessidade
incontestável, porém em termos relacionados às práticas executadas pelos menos em prol de manter
a vegetação viva, percebe-se que os apicultores adotam critérios básicos de preservação da natureza,
ainda que, em diferentes níveis. Foram relatados apenas questões relacionadas a manutenção das
árvores já existentes e cuidados com as queimadas, mas não temas mais abrangentes, como
poluição, reciclagem, descarte correto e entre outros. Com isso, a apicultura em si é reconhecida
como “a atividade agrícola mais sustentável e grande aliada na preservação ambiental” (GRAEF,
2011, p. 13), porém, é importante adotar outros meios e práticas cruciais para a preservação da
natureza. Tendo em vista que, (SANTOS; RIBEIRO, 2009, p. 4) argumenta: “A conservação e o
27
uso racional destas áreas representam a manutenção da vida na região, motivo pelo qual a
implementação da atividade apícola é tão importante”.
Frente a isso, indagou-se aos entrevistados sobre a compatibilidade percebida, em sua visão,
entre o uso de agrotóxicos no cultivo agrícola e a prática da apicultura. Adicionalmente, foi
questionado se esses apicultores utilizam agroquímicos, e em caso afirmativo, quais são eles, e se
refere-se a produtos de natureza industrial ou inseticidas derivados de substâncias naturais.
De acordo com as respostas obtidas, todos os entrevistados reconhecem que o uso desses
produtos não é compatível com a atividade apícola, justificando que, são muito prejudiciais para a
natureza, e especialmente, para as abelhas, ressaltando que são animais muito sensíveis a esse tipo
de substância.
“Não, prejudica muito a natureza. Porque as abelhas são muito sensíveis a esses
produtos químicos, qualquer veneno mata a abelha”
(apicultor 5).
28
utilização habitual de defensivos agrícolas derivados de produtos naturais em seu ambiente de
produção vegetal.
29
Além das respostas expostas, é importante destacar a opinião do agrônomo e apicultor
entrevistado em prol dessa pesquisa:
“Eu não sou desfavorável pois sei das necessidades que os produtores possuem
para determinadas culturas agrícolas que necessitam de uma conservação maior,
contudo também sou favorável à agricultura orgânica com materiais de base
ecológica”
(apicultor 4).
30
(apicultor 3).
A partir dos resultados supracitados, os quais se referem a percepção dos agricultores e dos
agricultores, que também são apicultores, sobre o meio ambiente, é possível estabelecer
semelhanças e diferenças no que se relaciona aos entendimentos adquiridos, com as práticas em
campo, sobre o meio ambiente e sustentabilidade. Tendo em vista que, a efetivação da prática
apícola dentro da agricultura é um fator de alta relevância em aspectos ambientais.
A partir dessa ideia, os questionários destinados para cada um dos grupos analisados,
agricultores não apicultores e agricultores apicultores, possuem questões muito semelhantes, no
intuito de identificar características parecidas nas duas práticas, e o que se assemelha e se difere em
relação a associação das duas atividades realizadas, o impacto da apicultura imposta na agricultura
sobre a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade ambiental.
31
Diante disso, foi questionado aos apicultores e agricultores não apicultores, sobre o uso de
agrotóxicos no plantio, identificando esses produtos, se são industriais ou feitos a base de produtos
naturais, e se essa prática é compatível ou não com a natureza.
De acordo com os dados coletados, percebe se que no grupo dos agricultores, existem
exceções que alegam renunciar o uso desses produtos nocivos, optando por alternativas mais
sustentáveis e que não agrida potencialmente a natureza. Entretanto, como foi analisado no tópico:
“A percepção dos agricultores sobre o meio ambiente”, majoritariamente existe sim uma
preocupação em relação aos danos causados pelos agroquímicos, mesmo que minimamente, porém
a influência econômica e política imposta pela Revolução Verde continua a moldar a cultura
agrícola, priorizando predominantemente o lucro sem considerar de maneira evidente as demandas
sociais e ambientais do meio rural.
“Não, eles são prejudiciais à natureza. Nós usamos porque é preciso, se não
perdemos as colheitas e os legumes para as pragas. Mas, eu não acredito que seja
bom não, eu acredito que prejudica o meio ambiente.”
(Agricultora 5).
Adentrando no grupo dos apicultores, observa-se que a utilização de agroquímicos por esses
profissionais também decorre de uma concepção e necessidade relacionada às mencionadas pelos
agricultores. Ambos discorrem sobre os produtos químicos, como um categórico essencial para a
manutenção do plantio, entretanto reconhecem os malefícios causados por estes ao meio ambiente.
Isso mostra que os conhecimentos em relação a alternativas e práticas sustentáveis na agricultura,
essas que não necessitem dos agroquímicos, é pouco conhecida no âmbito dos agricultores
familiares, a única alternativa vista por eles, é o uso dos defensivos agrícolas.
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Ambos os grupos admitem a utilização de agroquímicos em suas práticas, embora as
motivações e a intensidade variem. Como é percebido, enquanto alguns agricultores manifestam
uma compreensão dos danos ambientais causados pelos agroquímicos, ainda optam por utilizá-los
devido a influências econômicas e práticas estabelecidas. Em contrapartida, os apicultores
demonstram uma postura mais cautelosa, muitas vezes evitando ou utilizando agroquímicos de
forma moderada, com um foco específico nas culturas que necessitam dessa prática.
Além disso, é possível notar a diferença entre as duas coletividades em relação a origem dos
agroquímicos, enquanto os agricultores se referem, predominantemente, ao uso de agroquímicos de
procedência industrial, os apicultores variam em suas fontes, com alguns utilizando produtos
industriais e outros optando por defensivos agrícolas derivados de produtos naturais.
“Tem um agrotóxico usado no feijão contra uma praga que prejudica a flora. Não
faço uso de nenhum material sustentável nem natural.”
(Agricultora 2).
Contudo, com base nos dados apresentados anteriormente, embora ambos os grupos
enfrentam desafios relacionados ao uso de agroquímicos, suas posturas e abordagens indicam
diferenças significativas nas práticas agrícolas e na conscientização sobre alternativas sustentáveis.
A partir disso, é possível concluir que tanto os agricultores quanto os apicultores compartilham uma
compreensão, mesmo que mínima, dos impactos adversos dos agroquímicos no meio ambiente,
reconhecendo os riscos associados a essas substâncias.
33
implantação da apicultura, nos assentamentos rurais os produtores tendem a reduzir o uso de
agrotóxicos para evitar mortalidade das abelhas, e a contaminação do mel” (SOUSA, 2013, p. 14).
Evidenciando assim, a influência da apicultura na formação de agentes ambientais, que preservam e
diversificam a natureza, além de salientar a necessidade de promover conhecimentos sobre
alternativas sustentáveis, ainda pouco difundidos entre os agricultores familiares.
6. CONCLUSÃO
Por fim, espera-se que esta pesquisa contribua para aumentar a visibilidade da apicultura
em seu papel ambiental. A atividade não apenas atua como uma forma prática de educação no meio
agrícola, mas também destaca sua função essencial na conservação ambiental, dada sua significativa
capacidade sustentável.
7. REFERÊNCIAS
34
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2019.
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37