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RESUMO

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

Como encaminhar uma pesquisa


Pesquisa: Procedimento racional e sistemático que objetiva responder os problemas propostos
(informação insuficiente ou desordenada). É desenvolvida em fases, com métodos, técnicas e
outros procedimentos científicos.
Por que se faz pesquisa: Razões de ordem intelectual (pura - para conhecer) e razões de
ordem prática (aplicada - aprimoramento de um fazer). Não são mutuamente exclusivas.
O que é necessário para se fazer uma pesquisa: Dentre as qualidades pessoais do
pesquisador, incluem-se conhecimento do assunto, curiosidade, criatividade, integridade
intelectual, atitude autocorretiva, sensibilidade social, imaginação disciplinada, perseverança e
paciência, confiança na experiência. Quanto aos recursos: humanos (deve-se ter noção do
tempo, para valorização em termos pecuniários), materiais e financeiros, para elaboração de
orçamento adequado.
Por que elaborar um projeto de pesquisa: A pesquisa exige que suas ações sejam
efetivamente planejadas, sendo que o planejamento interessa ao pesquisador, à equipe, ao
contratante dos serviços de pesquisa, aos potenciais beneficiários de seu efeito. Sua primeira
fase inclui formulação do problema, objetivos, hipóteses, operacionalização dos conceitos, etc.
Deve envolver também os aspectos referentes ao tempo, recursos humanos, financeiros,
materiais.
(Teoria geral dos sistemas: Processo, eficiência, prazos e metas)
“O planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaboração de um projeto, que é o
documento explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa. O
projeto deve, portanto, especificar os objetivos da pesquisa, apresentar a justificativa de sua
realização, definir a modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e análise
de dados (...) cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a
indicação dos recursos humanos, financeiros e materiais necessários para assegurar o êxito da
pesquisa.” (p. 22)
Elementos de um projeto de pesquisa: Não há regras fixas, a estrutura do projeto é
determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e pelo estilo dos autores. É necessário
que contenha: Como será feita a pesquisa, etapas e recursos, com detalhes que proporcionem
sua avaliação. Os Elementos habituais incluem formulação do problema; construção de
hipóteses ou especificação de objetivos; Identificação do tipo de pesquisa; operacionalização
das variáveis; Seleção da amostra; Elaboração dos instrumentos e determinação da estratégia
de coleta de dados; Determinação do plano de análise dos dados; Previsão da forma de
apresentação dos resultados; Cronograma de execução da pesquisa; Definição dos recursos
humanos, materiais e financeiros. Problema claramente formulado, objetivos bem
determinados, plano de coleta e análise de dados
Como esquematizar uma pesquisa: É usual a apresentação de um fluxo de pesquisa sob a
forma de diagrama (etapas não são rígidas), que é mutável e adaptável.

Formulação do problema de pesquisa


Um problema é um questão não solvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do
conhecimento (não são problemas científicos: Como fazer algo; Questões de valor - bom, mau,
melhor, pois sua correção ou incorreção não é passível de verificação empírica) “(...)um
problema é de natureza científica quando envolve variáveis que podem ser tidas como
testáveis”(p.27). Os fatores mais importantes que determinam os interesses pela escolha do
problema são os valores sociais do pesquisador e os incentivos sociais.
Formular um problema não é uma tarefa fácil, pois sua formulação não se faz mediante a
observação de procedimentos rígidos e sistemáticos, e sim por imersão sistemática no objeto,
estudo da literatura existente, discussão com pessoas com experiência no campo de estudo. O
problema deve ser formulado como pergunta, pois, ao formular perguntas sobre um tema,
provoca-se a sua problematização; Deve ser ainda claro e preciso, para isso, um artifício útil é
definir operacionalmente o conceito (como é medido); Deve ser empírico, objetivo, ou seja, não
deve se referir a valores, nem a julgamentos morais e considerações subjetivas; Deve ser
suscetível de solução: possível de coletar os dados necessários, havendo domínio da
tecnologia adequada à solução. Por fim, o problema deve ser delimitado a uma dimensão
viável, ou seja, não ser formulado em termos muito amplos, sendo relacionado aos meios
disponíveis para investigação.

Hipótese
A hipótese trata-se de uma solução possível ao problema, uma expressão verbal suscetível de
ser declarada verdadeira ou falsa. Pode ser classificada em:
- Casuísticas: se referem a algo que ocorre em determinado caso.
- Referentes à frequência de acontecimentos: antecipam que determinada característica
ocorre com maior ou menor frequência em determinado grupo, sociedade ou cultura.
- Referentes à relação de associação entre variáveis (variável: tudo aquilo que pode
assumir diferentes valores ou diferentes aspectos conforme as circunstâncias). Não se referem
a causa, dependência ou influência entre variáveis.
- Referente à relação de dependência entre duas ou mais variáveis - uma variável
interfere na outra. Geralmente se busca associações assimétricas: os fenômenos não são
independentes entre si e não se relacionam mutuamente, mas que um exerce influência sobre
o outro. Classificação das relações assimétricas: Associação entre um estímulo e uma
resposta; Associação entre uma disposição (hábito, valor, impulso, traço de personalidade…) e
uma resposta; Associação entre uma propriedade e uma disposição; Associação entre
pré-requisito indispensável e um efeito; Relação imanente entre duas variáveis; Relação entre
meios e fins (dificulta verificação empírica).
Para chegar a uma hipótese, é necessário experiência na área. Não há regras, trata-se de
natureza criativa, sendo que as principais fontes são Observação, Resultados de outras
pesquisas, Teorias, Intuição.
Características da hipótese aplicável: Nem todas as hipóteses são testáveis. Alguns
requisitos mediante os quais se torna possível decidir acerca da testabilidade: Deve ser
conceitualmente clara (conceitos claramente definidos), deve-se preferir as definições
operacionais; Deve ser específica (não muito ampla), podendo-se dividir a hipótese ampla em
sub-hipóteses mais precisas; Deve ter referências empíricas (hipóteses que envolvem
julgamento de valor não podem ser adequadamente testadas); Deve ser parcimoniosa,
preferível hipótese simples a complexa, se possui o mesmo poder explicativo; Deve ser
relacionada com as técnicas disponíveis, não basta ser bem elaborada, deve haver técnicas
adequadas para coleta de dados (examinar relatórios de pesquisa sobre o assunto para
conhecimento das técnicas, se não houver, convém estudar a descoberta de novas técnicas);
Deve estar relacionada com uma teoria.
As hipóteses são necessárias em todas as pesquisas, mas em muitas pesquisas elas não
são explícitas. Nestas, é possível determinar as hipóteses subjacentes, mediante a análise dos
instrumentos adotados para a coleta de dados. “Geralmente, nos estudos em que o objetivo é
descrever determinado fenômeno ou as características de uma grupo, as hipóteses não são
enunciadas formalmente. Nesses casos, as hipóteses envolvem uma única variável e o mais
frequente é indicá-la no enunciado dos objetivos da pesquisa” (p.43). Nas pesquisas que visam
verificar relações de associação ou dependência entre variáveis, o enunciado claro e preciso
das hipóteses constitui requisito fundamental.

Classificação das pesquisas


As pesquisas se classificam com base em seus objetivos gerais, em três grandes grupos:
A. Pesquisas exploratórias: Objetiva proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (aprimoramento de ideias ou
descoberta de intuições). Planejamento flexível que considera mais variados aspectos relativos
ao fato estudado, envolvendo levantamento bibliográfico, entrevistas, análise de exemplos que
estimulem a compreensão. Maioria dos casos: pesquisa bibliográfica ou estudo de caso.
B. Pesquisas descritivas: Objetiva descrever as características de determinada população
ou fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis, podendo buscar determinar a natureza
destas relações .Utiliza técnicas padronizadas de coleta de dados (ex.: questionário,
observação sistemática). Maioria: Levantamento.
C. Pesquisas explicativas: Objetiva identificar os fatores que determinam ou que
contribuem para a ocorrência dos fenômenos, é o tipo que mais aprofunda o conhecimento da
realidade, porque explica a razão das coisas, sendo por isso o mais complexo e delicado (risco
maior de erros). Valem-se quase exclusivamente do método experimental, recorrendo-se a
outros (ex. observacional). Maioria: Experimental e ex-post-facto.
Com base nos procedimentos técnicos utilizados: Para analisar os fatos do ponto de vista
empírico, confrontar a visão teórica com os dados da realidade, torna-se necessário traçar um
modelo conceitual e operativo de pesquisa, o delineamento (modelo, sinopse e plano - inglês
design). Delineamento: Planejamento amplo, envolve tanto a diagramação quanto a previsão
de análise e interpretação de coleta de dados, considerando o ambiente de coleta de dados e
as formas de controle das variáveis. O elemento mais importante para identificação do
delineamento é o procedimento para coleta de dados. Assim, divide-se em: fontes de “papel”
(pesquisa bibliográfica e documental) ou fontes “pessoas” (experimental e ex-post-facto,
levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa participante).

COMO CALCULAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO


A viabilização de uma pesquisa necessita da consideração de sua dimensão administrativa,
pois ela implica em tempo e dinheiro para realização.
Cronograma: Deve definir com clareza a previsão do tempo necessário para passar de uma
fase para outra, ou de seu desenvolvimento simultâneo (gráfico de Gannt). O cronograma
corresponde apenas a uma estimativa, pois podem haver imprevistos, que são minimizados
com a experiência e a organização.
Orçamento: Deverá considerar os custos referentes a cada fase, podendo ser agrupados em
custos de pessoal e custo de material. Deve se apoiar em bases realistas e com a precisão
possível, sendo conveniente acrescer ao orçamento um suplemento para despesas
imprevistas.
COMO REDIGIR O PROJETO DE PESQUISA
Como estruturar o projeto
Ante-projeto: projeto provisório, que apresenta as intenções da pesquisa, antes de todo o
planejamento estar concluído (objetivos, plano de coleta e análise de dados, previsão de
recursos, etc.)
- Partes (abrange a maioria dos tópicos que habitualmente aparecem nos projetos de
pesquisa): apresentação, objetivos, justificativa, sistema conceitual, teoria de base,
metodologia, suprimentos e equipamentos, custos e origem dos recursos, cronograma,
anexos, bibliografia.
- Identificação (página de rosto) - Título e subtítulo, entidade à qual se destina, entidade
executora, coordenador, equipe técnica, local, data.
- Objetivos - Resultados pretendidos. Na pesquisa científica e acadêmica, cabe identificar
claramente e apresentar a delimitação do problema e apresentar as hipóteses. Nos
projetos destinados à resolução de problemas mais práticos, apresenta-se o objetivo
geral e os específicos.
- Justificativa - Apresentação de forma clara e sucinta das razões de ordem teórica e/ou
prática que justificam a realização da pesquisa. Em pesquisas científicas ou
acadêmicas, deve indicar o estágio de desenvolvimento dos conhecimentos referentes
ao tema, as contribuições que a pesquisa pode trazer nas respostas aos problemas ou
na ampliação das formulações teóricas a respeito, a relevância social e a possibilidade
de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema. Em pesquisas de
natureza prática, deve considerar os objetivos da instituição e os benefícios do
resultado da pesquisa.
- Sistema conceitual - Exigido quando se trata de temas complexos, define de forma clara
os conceitos contidos no problema e suas hipóteses. Não é sempre necessário.
- Teorias de base - Indicações da/s teoria/s que fornecem a orientação geral da pesquisa,
se sua definição for possível.
- Metodologia - Sua especificação é complexa e se dá conforme a extensão e a
complexidade da pesquisa. Exemplo: tipo de delineamento, operacionalização das
variáveis, amostragem, técnicas de coleta, tabulação, análise dos dados, forma do
relatório, etc.
- Suprimentos e equipamentos - Indicação detalhada. Exemplo: questionários,
formulários, manuais de instrução, equipamentos de registro, pastas, brindes, etc.
- Custo do projeto e origem dos recursos - Estimativa dos custos (gastos com pessoal e
com material). É conveniente indicar sua proveniência (próprios/externos).
- Cronograma - Tempo necessário ao desenvolvimento da pesquisa, a cada fase,
simultâneas ao não.
- Anexos: Modelos dos instrumentos a serem utilizados, de outros materiais impressos…
- Bibliografia: Livros, artigos e outras publicações consultadas, fontes de potencial
interesse para o desenvolvimento da pesquisa.
Como apresentar o projeto
A forma de apresentação varia conforme o pesquisador. Institutos de pesquisa tendem a adotar
formas padronizadas. Isso em excesso pode ser prejudicial, em casos, por exemplo, de
pesquisas de cunho exploratório ou de projetos de natureza estritamente científica que
possuem características muito específicas.
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

É a pesquisa desenvolvida a partir de material já elaborado. Ainda que faça parte de quase
todos os estudos, há pesquisas exclusivamente bibliográficas. Suas fontes são classificadas
em Livros de leitura corrente (gêneros literários e obras de divulgação), livros de referência
(rápida obtenção das informações - enciclopédias, almanaques), que pode ser informativa
(informação direta) ou remissiva (remete a outras fontes), Publicações periódicas (vários
autores - jornais e revistas) e Impressos diversos. A pesquisa bibliográfica é indispensável nos
estudos históricos, sendo que muitas vezes pode ser a única maneira de conhecer fatos
passados. Suas vantagens incluem a possibilidade de cobertura muito mais ampla do que a
pesquisa direta, mas, em contrapartida, as fontes podem ter tido seus dados coletados ou
processados de forma equivocada. Para reduzir o risco de reproduzir e/ou ampliar os erros, o
pesquisador deve assegurar-se das condições de coleta dos dados, analisar profundamente as
informações e utilizar fontes diversas
Delineamento:
- Determinação dos objetivos: Os principais costumam ser 1) redefinição do problema
(esclarecimento e delimitação); 2) Obtenção de informações acerca de técnicas de
coleta de dados; 3) Obtenção de dados em resposta ao problema formulado
(bibliografia sendo ou não complementar de outra técnica); 4) Interpretação de
resultados.
- Elaboração do plano de trabalho: É conveniente que esteja razoavelmente elaborado.
mas pode ser provisório e passar por reformulações; Geralmente constitui-se de uma
coleção de itens ordenados em seções, capítulos ou índices correspondentes ao
desenvolvimento pretendido da pesquisa.
- Identificação das fontes: Procura de catálogos de livros e outras publicações,
publicados por editoras ou bibliotecas, consulta à bibliografia citada em livros e revistas.
- Localização das fontes e obtenção do material.
- Leitura do material: identificação das informações e dados constantes no material,
estabelecimento de relações entre as informações e os dados obtidos com o problema
proposto, análise da consistência das informações e dados apresentados pelos autores.
Tipos de leituras: Leitura exploratória - leitura rápida, visa verificar em que medida a
obra interessa à pesquisa; Leitura seletiva - seleção e determinação do material de
interesse de fato, com os objetivos da pesquisa em mente, é mais profunda que a
exploratória, mas não definitiva; Leitura analítica - feita a partir dos textos selecionados,
ordenando e sumariando as informações para obtenção das respostas. Deve ser
objetiva e imparcial, procurando-se compreender antes de relutar. Uma leitura analítica
adequada passa pelos seguintes momentos: Leitura integral do material, identificação
das ideias-chave, hierarquização das ideias, sintetização das ideias; Leitura
interpretativa - Última etapa, relaciona o que o autor afirma com o problema para o qual
se propõe uma solução, procurando ampliar os significados dos resultados obtidos na
leitura analítica, relacionando-os com outros conhecimentos significativos, originados de
pesquisas empíricas ou teorias comprovadas.
- Tomada de apontamentos: Anotações, levando em conta o problema da pesquisa (para
evitar excesso de notas), feitas na fase da leitura analítica. Não é conveniente acumular
grande número de anotações, e sim ideias principais e dados potencialmente
importantes, utilizando-se de termos próprios (separar claramente material citado das
anotações pessoais).
- Confecção de fichas: As fichas têm o objetivo de identificar as obras consultadas,
registrar seu conteúdo e os comentários acerca, ordenar os registros. Quanto maior o
trabalho, maior a necessidade de confecção de fichas. São de dois tipos: as
bibliográficas (referências bibliográficas) e de apontamentos (ideias, hipóteses…),
podem ser de tamanhos variados, e são compostas de cabeçalho (contendo elementos
de identificação - título genérico, título específico e número de classificação, obtidos a
partir do plano de trabalho), referências bibliográficas e texto (varia segundo a
finalidade)
- Redação do trabalho: Embora não haja regras fixas, há alguns aspectos a considerar,
que são: 1) Conteúdo - introdução apresentando o problema, hipóteses, objetivos e
trabalhos já publicados; contexto onde consta o desenvolvimento, discussão ou
demonstração das teses propostas, sendo a parte mais extensa e podendo ter divisões
- capítulos - e subdivisões; e conclusões, que evidenciam as conquistas alcançadas
com o estudo, recapitulando momentos significativos do contexto, lembrando o
problema e demonstrando como os achados da pesquisa fornecem respostas
adequadas; 2) Estilo do relatório - Não precisa ser agradável ao ponto de vista literário,
mas há qualidade que são importante, tais como impessoalidade (3ª pessoa), clareza
(sem ambiguidades), precisão (terminologias técnicas específicas), concisão (frases
simples, períodos curtos, objetividade); 3) Aspectos gráficos do relatório - Os mais
importantes são organização das partes e titulação (ex. sistema progressivo),
disposição do texto (elementos preliminares, texto e referências), citações, notas de
rodapé, tabelas, gráficos e ilustrações, bibliografia.

PESQUISA DOCUMENTAL

Confundindo-se muitas vezes com a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental vale-se de


materiais que não receberam ainda tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de
acordo com os objetos de pesquisa, ao invés de utilizar o material produzido por autores. Suas
fontes são mais diversificadas e dispersas que na pesquisa bibliográfica: Documentos de
instituições públicas e privadas, diários, fotografias, gravações, correspondências, etc. Há
ainda os documentos de segunda mão, que já foram analisados (relatórios de pesquisas,
tabelas estatísticas, etc.). Suas vantagens incluem a riqueza e estabilidade dos documentos
como fonte, custo significativamente baixo, não exigência de contato direto com os sujeitos da
pesquisa. Já suas limitações provém da possibilidade de não-representatividade e da
subjetividade dos documentos, o que pode ser contornado pelo pesquisador com a
metodologia correta (seleção pelo critério de aleatoriedade dentre grande número de
documentos, e consideração das mais diversas implicações relativas aos documentos antes da
formulação de uma conclusão definitiva). Ainda, quanto à questão da subjetividade, algumas
pesquisas documentais são importantes porque proporcionam uma visão melhor sobre
problemas ou hipóteses que conduzem à sua verificação por outros meios, e não
necessariamente respostas definitivas.
Delineamento:
- Determinação dos objetivos, elaboração do plano de trabalho, identificação e
localização das fontes e obtenção do material: Apresenta objetivos mais específicos,
obtenção de dados em resposta a um problema, não raro envolvem teste de hipóteses;
além da pesquisa em bibliotecas, pode exigir consulta a arquivos públicos e
particulares, imprensa, etc. de obtenção por procedimentos diversos (fotografias, filmes,
etc.)
- Tratamento dos dados: É necessária a análise dos dados dos documentos, a partir das
exigências do plano de estudos e da observância dos objetivos, podendo utilizar
técnicas sofisticadas. A técnica de análise de conteúdo possibilita a descrição do
conteúdo manifesto e latente das comunicações.
- Confecção das fichas e redação do trabalho: Podem ser utilizadas fichas, mas, quando
esse procedimento não é o mais adequado, faz-se o uso de tabelas, que serão
analisadas e interpretadas.

PESQUISA EXPERIMENTAL

Consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de


influencia-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que as variáveis
produzem no objeto (Ex.: Pesquisa científica). As possibilidades de limitações são maiores
quando os objetos de estudo são seres humanos ou instituições do que com entidades físicas
(líquidos, bactérias, ratos), em função de considerações éticas e humanas. As modalidades
mais comuns de pesquisa experimental incluem:
- Experimentos “apenas depois”- com “grupo experimental” e “grupo de controle”, sendo
que os grupos devem apresentar a maior homogeneidade em relação a todas as
características relevantes a que possa ser possível controlar. Somente o grupo experimental
recebe um estímulo e mede-se as características de ambos. Considerando a homogeneidade
inicial, infere-se que as variações devem-se ao estímulo.
- Experimentos “antes-depois” com um único grupo - O mais simples, consiste de um
grupo (geralmente reduzido), previamente definidos quando a suas características
fundamentais. É realizada medição antes e depois de um estímulo.
- “Antes-depois” com dois grupos - O grupo experimental e o de controle são medidos no
início e no fim do período experimental. Alguns autores consideram somente este rigidamente
experimental (os demais seriam “pré-experimentais”).
Nas ciências humanas, o delineamento experimental é o procedimento que possibilita o mais
elevado grau de clareza, precisão e objetividade aos resultados, assim suas vantagens são
indiscutíveis. Porém, nas ciências sociais, a pesquisa experimental torna-se muitas vezes
inviável, por exigir previsão de relações entre as variáveis a serem estudadas, bem como seu
controle.
Delineamento:
- Formulação do problema - Deve ser colocado de maneira clara, precisa e objetiva.
- Construção de hipóteses - Referem-se geralmente ao estabelecimento de relações
causais entre variáveis (fórmula “se… então”). Geralmente envolve uma única hipótese.
- Operacionalização das variáveis - Devem possibilitar o esclarecimento do que se
pretende investigar e sua comunicação de forma não ambígua, a partir da definição
operacional. Exige que se considerem as condições de mensuração, para a seleção dos
instrumentos apropriados.
- Definição do plano experimental - Os planos são definidos a partir do número de
variáveis e da forma de designação dos sujeitos, há dois básicos: plano de uma única
variável ou mão única, que implica a manipulação de uma única variável independente,
e planos fatorias, que envolvem uma ou mais variáveis independentes e duas ou mais
condições experimentais, independentes, estudando os efeitos conjuntos ou separados
em uma variável dependente, possibilitando o teste de hipóteses mais complexas e a
elaboração de teorias mais abrangentes.
- Determinação dos sujeitos - É necessário determinar com grande precisão a população
a ser estudada, considerando as características que são relevantes para a clara e
precisa definição desta.Caso a população seja muito ampla, deve-se estudar alguns
sujeitos, escolhidos por técnica de randomização. Após a determinação da amostra, é
necessário dividi-la nos grupos que serão utilizados no experimento, randomicamente
ou por par igualado (caso haja um grupo experimental e um de controle).
- Determinação do ambiente - O ambiente deverá proporcionar as condições para que se
possa manipular a variável independente e verificar seus efeitos (pode ser laboratório -
maior controle - ou campo - controle reduzido), cuidando-se para que o fenômeno
ocorra de forma suficientemente pura ou notável, e que o pesquisador disponha de
autoridade e perícia para dispor o ambiente de forma adequada.
- Coleta de dados - É feita a partir da manipulação de certas condições e observações
dos efeitos produzidos, a partir de técnicas, recursos e aparelhos variados.
- Análise e interpretação dos dados - Geralmente se usa a análise estatística, tendo
como procedimento básico o teste da diferença entre as médias. Convém que todo o
processo de análise estatística seja planejado antes de conduzir o experimento. Os
resultados obtidos devem ser associados ao conhecimento sobre o objeto de estudo e à
fundamentação teórica.
- Apresentação das conclusões - Relatórios apresentados devem deixar claro em que
medida as conclusões derivam exclusivamente da vinculação dos dados coletados com
as hipóteses ou se também levam em conta dados de outros estudos, bem como
esclarecer acerca da extensabilidade das conclusões.

PESQUISA EX-POST-FACTO

É a pesquisa cujo “experimento” (embora os procedimentos lógicos de delineamento sejam


semelhantes aos experimentos, não se trata rigorosamente de um, por não haver controle
sobre as variáveis) é realizado depois dos fatos. Trabalha-se sobre situações que se
desenvolveram naturalmente como se estas estivessem submetidas a controles. As ciências
sociais valem-se muito deste tipo de pesquisa, sendo que esse delineamento é insubstituível
em casos que envolvem a sociedade global.
Delineamento:
- Formulação do problema, construção das hipóteses, operacionalização das variáveis -
Semelhante à pesquisa experimental
- Localização dos grupos para investigação - Como a manipulação das variáveis
independentes não é possível, é necessário localizar grupos cujos indivíduos sejam
bastante semelhantes entre si.
- Coleta de dados - No primeiro momento, identificam-se as “variações” da variável
independente nos grupos (após a localização dos mais adequados), por meio de
levantamento de dados dos sujeitos, por observação, questionários, entrevistas,
registros documentais e o controle das variáveis intervenientes, e, no segundo
momento, mensuram-se as variáveis dependentes.
- Análise, interpretação dos dados e apresentação das conclusões - A análise e
interpretação dos dados deve ser feita de forma lógica, com sólido apoio em teorias e
mediante comparação com outros estudos, pois, como muitas das variáveis
intervenientes só podem ser submetidas a algum tipo de controle na fase de análise dos
dados, essa etapa torna-se determinante para a definição do valor da pesquisa. A
apresentação se dá por relatório, da mesma maneira que a pesquisa experimental.

LEVANTAMENTO

É a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer, com a solicitação
de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema, seguida de análise
quantitativa para obtenção dos dados. Se a pesquisa engloba todos os integrantes do universo
pesquisado, tem-se um censo (feito somente por governos ou instituições de amplos recursos
em função do custo), que é extremamente útil. Na maioria das vezes, a pesquisa engloba uma
amostra significativa do universo pesquisado (mediante procedimentos estatísticos), e as
conclusões são projetadas para a totalidade, levando em consideração a margem de erro
(obtida por cálculos estatísticos).
Muito popular entre os pesquisadores sociais, o levantamento possui dentre suas vantagens o
conhecimento direto da realidade (informação obtida diretamente das pessoas), economia e
rapidez (com equipe treinada, pode-se obter grande quantidade de dados em pouco tempo, e
questionários têm custos relativamente baixos), e quantificação (agrupamento dos dados em
tabelas possibilitando análises e procedimentos estatísticos). Já entre suas limitações,
incluem-se a Ênfase nos aspectos perceptivos (dados sobre a percepção que as pessoas têm
acerca de si mesmas, que pode ser subjetiva - parcialmente contornada evitando-se algumas
perguntas ou utilizando perguntas indiretas); Pouca profundidade no estudo da estrutura e dos
processos sociais, pois a coleta é individual; e Limitada apreensão do processo de mudança,
por oferecer uma visão estática do fenômeno estudado, não indicando suas tendências à
variação e a possíveis mudanças estruturais (têm sido desenvolvidos levantamentos do tipo
painel, com coletas ao longo do tempo, buscando contornar essa limitação, o que também
sofre com a redução da amostra). Os levantamentos têm se mostrado mais adequados para
estudos descritivos do que explicativos, eficazes para a análise de problemas menos delicados
e para o estudo de opiniões e atitudes superficiais.
Delineamento:
- Especificação dos objetivos: Objetivos gerais são somente pontos de partida (conceitos
mais ou menos abstratos), e sua delimitação é necessária (objetivos específicos -
características observáveis e mensuráveis), identificando todos os dados a serem
recolhidos e as hipóteses a serem testadas, sendo que, em levantamentos, há mera
associação, e não relação causal entre as variáveis.
- Operacionalização dos conceitos e variáveis: Definição teórica e operacional dos
conceitos e variáveis, tornando-os passíveis de observação empírica e mensuração.
- Elaboração do instrumento de coleta de dados: Instrumentos usuais - técnicas de
interrogação (questionário - resposta por escrito, mais rápido e barato; entrevista - “face
a face”, mais flexível e abrangente; e formulário - prático e eficiente) possibilitam a
obtenção de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados, o que confere certas
limitações no estudo de relações sociais mais amplas. Perguntas sobre fatos são de
mais fácil obtenção do que perguntas sobre sentimentos, crenças, razões e padrões de
ação. Elaboração do questionário - traduzir os objetivos específicos em itens bem
redigidos (questões preferencialmente fechadas mas que abriguem ampla gama de
respostas, relacionadas especificamente ao problema, somente que não possam ser
obtidas de forma mais precisa por outros procedimentos, não íntimas, claras, concretas
e precisas, que considerem as referências e in/formação do entrevistado, com
interpretação única, que não sugiram respostas, que refiram-se a uma única ideia de
cada vez, em número limitado, iniciando pelas mais simples, dispersadas se
possibilitarem “contágio”, que não provoquem respostas defensivas ou estereotipadas e
que não sejam diretamente personalizadas, que não incluam palavras estereotipadas
ou menção a personalidades, com apresentação gráfica eficaz; questionário deve
conter introdução com informações sobre patrocinador, suas razões e importância, e
instruções destacadas sobre o preenchimento correto). Condução da entrevista -
Informal, focalizada (tema específico), parcialmente estruturada (pontos de interesse),
totalmente estruturada (perguntas fixas). Estrategicamente, são fundamentais a
especificação dos dados e a formulação das perguntas (questões diretas ou indiretas,
elaboradas previamente ou livres, verificar importância dos aspectos a que se referem,
se os entrevistados têm conhecimentos para responder, se não sugerem ou direcionam
respostas ou respostas em contexto demasiado pessoal, se não provocam resistência,
antagonismo ou ressentimento, se a ordem não exige demasiado esforço mental, se o
vocabulário é claro e preciso) e uma tática que depende das habilidades do
entrevistador (sem problemas de dicção, sem opinião apaixonada sobre o problema,
timidez), que deve passar por treinamento, estar informado sobre os objetivos da
pesquisa e saber formular as perguntas, não devendo discutir opiniões emitidas,
registrando as respostas habilmente e com exatidão, completas e suficientes, bem
como as reações não verbais. Aplicação do formulário - Situa-se entre o questionário e
a entrevista, com recomendações referentes a ambos. Mais adequado em pesquisas de
opinião pública e de mercado. Tem alcance limitado, mas pode ser aplicado em
condições não muito favoráveis. O pesquisador é quem registra as respostas a
perguntas pré-elaboradas, evitando explicações pessoais.
- Pré-teste dos instrumentos: Avaliação exclusivamente dos instrumentos enquanto tais,
visando garantir que meçam exatamente aquilo que pretendem medir. Com grupo
restrito de indivíduos do grupo que se pretende estudar, dispostos a dedicar mais tempo
a responder às questões. Há contagem do tempo, questionário é analisado e indivíduos
são entrevistados sobre o processo de preenchimento. Os aspectos mais importantes
no pré-teste são a clareza e a precisão dos termos, sem necessidade de explicações
adicionais, a quantidade de perguntas, sem causar cansaço ou impaciência, a forma
das perguntas, experimentando diferentes formas para a mesma pergunta, a ordem das
perguntas, analisando a influência que uma exerce sobre outra, seleção da melhor
forma de introdução, a partir das indagações e inquietações que surgirem.
- Seleção da amostra - Se a amostra é rigorosamente selecionada, os resultados tendem
a representar a totalidade do universo pesquisado, sendo que, com o auxílio de
procedimentos estatísticos, torna-se possível calcular a margem de segurança dos
resultados. Tipos de amostragem: Aleatória simples (a cada elemento é atribuído um
número único e seleciona-se alguns desses elementos de maneira casual);
Amostragem sistemática (ordenação da população de tal forma que um de seus
elementos possa ser unicamente identificado pela posição, selecionando itens em
intervalo N. de elementos da população/N. de elementos da amostra); Amostragem
estratificada (seleção de uma amostra de cada subgrupo da população considerada,
podendo ser proporcional ou não-proporcional); Amostragem por conglomerados (Em
situações de difícil identificação dos elementos, referem-se a espaços - bairros,
edifícios, famílias, etc.); Amostragem por cotas (a partir da classificação da população
em função de propriedades relevantes para o fenômeno estudado, a determinação da
proporção da população a ser colocada em cada classe com base na constituição
conhecida ou presumida da população, e fixação de cotas para cada entrevistador, a
amostra total é composta em observância à proporção das classes consideradas).
Determinação do tamanho da amostra: Para que a amostra seja constituída por um
número adequado de elementos, são realizados cálculos diversos, ou consultadas
tabelas estatísticas.
- Coleta e verificação dos dados - A equipe coletora de dados deve ser devidamente
treinada e supervisionada rigorosamente, garantindo a coleta honesta e não enviesada
de dados; Os dados devem ser examinados à medida que são coletados, podendo ser
reaplicados instrumentos já pesquisados e, no caso de discrepâncias, é conveniente
discuti-las com o primeiro pesquisador, para determinar se houve lapso ou
incapacidade, para possibilitar o controle de muitas deformações passíveis de ocorrer.
- Análise e interpretação dos dados - Análise: codificação das respostas, tabulação dos
dados e cálculos estatísticos, deve ser minuciosamente planejada antes da coleta,
dentro do possível; Interpretação: estabelecimento de ligação entre os resultados
obtidos com outros já conhecidos (teorias ou estudos).
- Apresentação dos resultados - É conveniente que durante o planejamento se defina a
forma de apresentação dos dados, pois esta pode demandar recursos humanos e
financeiros. Geralmente é por meio de relatório, cuja forma varia em função dos
objetivos da pesquisa.

ESTUDO DE CASO

Estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, com seu amplo e detalhado


conhecimento, pode ser visto como técnica psicoterápica, método didático ou método de
pesquisa, sendo que no último é definido como um conjunto de dados que descrevem fase ou
totalidade de processo social de uma unidade (pessoa, grupo, instituição…) em suas relações
internas e fixações culturais. Sua maior utilidade é verificada nas pesquisas exploratórias, é
recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para construção
de hipóteses ou reformulação do problema, ou em situações em que o objeto de estudo já é
suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal. Suas
vantagens principais são o estímulo a novas descobertas, em função dos desdobramentos da
pesquisa; a ênfase na totalidade, pois são consideradas as múltiplas dimensões de um
problema; a simplicidade dos procedimentos, além do uso de uma linguagem bastante
acessível nos relatórios. Já suas limitações incluem a dificuldade de generalização dos
resultados obtidos.
Delineamento:
- Delimitação da unidade-caso - É necessária certa dose de intuição para perceber quais
dados são suficientes para compreender o objeto como um todo. Recomenda-se o
estudo de certa variedade de casos, que são selecionados buscando-se casos típicos
(pareçam ser a melhor expressão do tipo ideal da categoria), casos extremos (podem
fornecer uma ideia dos limites dentro dos quais as variáveis podem oscilar), casos
marginais (casos atípicos, marginais, para por contraste conhecer as pautas dos casos
normais e as possíveis causas do desvio).
- Coleta de dados - Os procedimentos mais comuns são observação, análise de
documentos, entrevista, história de vida (geralmente utiliza-se mais de um). No caso de
informações obtidas na história de vida, é importante analisa-las apoiando-se em outras
fontes e em pesquisas científicas.
- Análise e interpretação de dados - Para evitar a simples apresentação dos dados, sem
análise, e sua interpretação equivocada, convém definir antecipadamente o plano de
análise, que deve considerar as limitações dos dados obtidos, e, caso esses não
tenham qualidade, suas conclusões devem ser apresentadas em termos de
probabilidade. Também é importante na análise utilizar categorias analíticas, cujo
estabelecimento derive sempre que possível de teorias razoavelmente aceitas.
- Redação do relatório - Ainda que, como regra geral, o relatório deva ser conciso, não
existem regras precisas do que e quanto dos dados devem ser inseridos no relatório,
porém recomenda-se que haja neste clareza da forma de coleta dos dados, e de sua
fidedignidade, bem como, caso sua caracterização e interpretação se vinculem a
alguma teoria, esta seja esclarecida e fundamentada.

PESQUISA-AÇÃO

É a pesquisa com base empírica estreitamente associada com ação ou resolução de problema
em que os pesquisadores e participantes estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo. Supõe geralmente uma forma de ação planejada, de caráter social, educacional,
técnico, etc. Suas fases podem variar de ordem constantemente.
Delineamento:
- Fase exploratória - Objetiva determinar o campo de investigação, expectativas dos
interessados, de que forma esses auxiliarão. Privilegia o contato direto com o campo
em que é desenvolvida (reconhecimento visual, consulta a documentos, discussão com
representantes das categorias envolvidas);
- Formulação do problema - Problemas referentes a como fazer as coisas são
privilegiados. Ainda que bastante voltada a aspectos práticos, a pesquisa-ação é
mediada pelo aspecto teórico-conceitual ao longo de toda sua realização.
- Construção de hipóteses - Devem ser expressas em termos claros, concisos, sem
ambiguidade gramatical e que possibilitem a verificação empírica. Frequentemente as
hipóteses são de natureza qualitativa e pouco envolvem nexos causais entre variáveis.
- Realização do seminário - Discussão a partir da qual são elaboradas as diretrizes e
pesquisa e ação, reúne os principais pesquisadores, especialistas convidados e
membros significativos dos grupos interessados na pesquisa, recolhe suas propostas e
contribuições.
- Seleção da amostra - Se o universo é concentrado e pouco numeroso, convém serem
pesquisados todos os elementos. Se não, seleciona-se uma amostra, baseada em
critérios mais qualitativos que quantitativos (seleção a partir de características tidas
como relevantes pelos pesquisadores e participantes)
- Coleta de dados - Em função da redefinição constante dos objetos e do baixo nível
argumentativo de técnicas padronizadas e fechadas, tende a adotar preferencialmente
procedimentos flexíveis. A técnica mais usual é a entrevista aplicada individual ou
coletivamente, além do questionário, observação participante, história de vida, análise
de conteúdo e sociodrama.
- Análise e interpretação dos dados - Pode ser semelhante à pesquisa clássica (passos:
categorização, codificação, tabulação, análise estatística, generalização), ou se
privilegiar a discussão sobre os dados e sua interpretação, por pesquisadores,
participantes e especialistas.
- Elaboração do plano de ação - A concretização da pesquisa constitui-se do
planejamento de uma ação para enfrentar o problema investigado. O plano de ação
deve indicar: objetivos, população a ser beneficiada, natureza desta com as instituições
afetadas, identificação de medidas que poderão contribuir para melhorar a situação,
procedimentos que assegurem a participação e engajamento da população, e
determinação das formas de controle do processo e de avaliação de seus resultados.
- Divulgação dos resultados - Confunde-se com a elaboração do plano de ação, mas
esses resultados podem ser divulgados para os setores interessados por congressos,
conferências, meios de comunicação ou elaboração de relatórios.

PESQUISA PARTICIPANTE

Caracteriza-se pela interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas.


Envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante, sendo muito utilizada para
pesquisas voltadas para a ação comunitária, comprometendo-se com a minimização da relação
entre dirigentes e dirigidos, voltando-se sobretudo a grupos desfavorecidos. Determinar com
precisão suas etapas é uma tarefa muito difícil, o que torna o planejamento bastante flexível.
Não se encerra com a elaboração de relatórios, mas com plano de ação que pode ensejar nova
pesquisa: seus resultados não são tidos como conclusivos, mas tendem a gerar novos
problemas, assim a pesquisa se processa em espiral (as fases se repetem, mas em nível
superior)
Delineamento (sugestão):
- Montagem institucional e metodológica da pesquisa participante - Pesquisadores e
membros da população determinam as bases teóricas da pesquisa (objetivos,
conceitos, hipóteses, etc), definem as técnicas de coleta de dados, delimitam a região a
ser estudada, organizam o processo de pesquisa participante (colaboradores, tarefas,
decisões), preparam os pesquisadores, elaboram o cronograma.
- Estudo preliminar da região e da população pesquisada - Identificação da estrutura
social da população (diferenças sociais dos membros, posições dos grupos e conflitos),
descoberta do universo vivido pela população (compreender o ponto de vista dos
indivíduos e dos grupos acerca das situações que vivem, numa perspectiva interna, a
partir de técnicas qualitativas de coleta de dados e de uma atitude positiva de escuta e
empatia, utilizando técnicas estruturadas e análise teórica para evitar a subjetividade), e
recenseamento dos dados sócio-econômicos e tecnológicos (podem ser agrupados em
categorias, como dados geográficos, demográficos, econômicos, sanitários,
habitacionais, viários, educacionais, etc.)
- Análise crítica dos problemas - Os dados obtidos geram a formulação dos problemas,
que passam a ser discutidos pelos participantes, com a constituição de grupos de
estudo que analisam criticamente os problemas prioritários, para que o grupo tenha um
conhecimento mais objetivo destes. Após as discussões, passa-se à reformulação mais
objetiva do problema, com descrição, identificação das causas e formulação de
hipóteses de ação.
- Elaboração do plano de ação - Elaborado a partir das hipóteses, envolve ações que
possibilitem a análise mais adequada do problema, a melhoria imediata da situação em
nível local e a melhoria a médio ou longo prazo em nível local ou mais amplo.
Frequentemente propõe-se o rompimento com a dominação da escrita, incentivando a
utilização dos próprios meios de expressão dos pesquisados.

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