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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

CAMPUS DE GUAJARÁ-MIRIM
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

LUANA LEITE DE ASSUNÇÃO


ROSA MARIA LEITE COELHO

ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO


DE CRIANÇAS ACOMETIDAS PELO TEA

GUAJARÁ-MIRIM - RO
2022
LUANA LEITE DE ASSUNÇÃO
ROSA MARIA LEITE COELHO

ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO


DE CRIANÇAS ACOMETIDAS PELO TEA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento
Licenciatura em Pedagogia da
Fundação Universidade Federal de
Rondônia – Campus Guajará-Mirim,
como requisito parcial para obtenção do
Grau de Licenciada em Pedagogia, sob
a orientação do Prof. Hilter Gomes
Videira.

GUAJARÁ-MIRIM - RO
2022
LUANA LEITE DE ASSUNÇÃO
ROSA MARIA LEITE COELHO

ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO


DE CRIANÇAS ACOMETIDAS PELO TEA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento Licenciatura em Pedagogia da
Fundação Universidade Federal de Rondônia –
Campus Guajará-Mirim, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Licenciada em
Pedagogia, sob a orientação do Prof. Hilter
Gomes Videira.

Nota:
Data: /____/________

BANCA EXAMINADORA

Orientador
Prof. Hilter Gomes Videira
Universidade Federal de Rondônia - UNIR
Campus de Guajará-Mirim-RO

Examinador (a)
Prof. Ms. Jacinto Pedro P. Leão
Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Campus de Guajará-Mirim-RO

Examinador (a)
Profa. Ms. Walmor Pereira Da Silva
Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Campus de Guajará-Mirim-RO
4

RESUMO

O presente artigo aborda sobre alfabetização das crianças com Transtorno do Espectro
Autista - TEA com o objetivo de destacar aspectos teóricos e práticos que devem ser observados
e seguidos por professores, escola e família no processo de alfabetização de crianças acometidas
pelo TEA. Neste sentido caracteriza o TEA, faz breves abordagens sobre o processo de
alfabetização, destacando as suas especificidades na perspectiva das crianças com TEA, por
fim, destaca os aspectos que devem ser observados na alfabetização escolar de crianças autistas.
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de natureza exploratória do tipo
bibliográfica, realizada no período de fevereiro a novembro de 2022. A base teórica esta
ancorada em estudos Serra (2018), Capovilla (2020), Soares (2011), Muniz (2013), Marcondes
(2014) e outros, além de produções acadêmicas recentes, como artigos científicos, monografia
e dissertações. O acervo bibliográfico selecionado ofereceu suporte para a construção do
referencial teórico da pesquisa e análise qualitativa dos dados. Os resultados demonstram que
cerca de 10% da população mundial é acometida, em menor ou maior grau, por este transtorno;
que do ponto vista da aprendizagem, professores, escola e família de modo geral, não estão
aptos a lidar com essa realidade, contribuindo para insucesso escolar e social da crianças
autistas. Foi possível concluir que o êxito da alfabetização está diretamente atrelado à utilização
de metodologias e práticas que considerem e respeitem à condição da criança com TEA e os
ritmos e velocidade de aprendizagem de cada uma, individualmente.

Palavras-chave: Alfabetização. Transtorno do espectro autista. Aspectos didáticos-


pedagógicos.

INTRODUÇÃO

A alfabetização pode ser genericamente entendida, como o estágio no qual a criança é


introduzida no espaço escolar a fim de desenvolver o aprendizado formal das habilidades de
leitura e escrita oficiais. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN,s (1997,
p. 38), dependendo da qualidade escolar deste processo, o aluno construirá uma percepção
positiva ou negativa de si próprio. Caso a experiência de aprendizagem seja negativa, “o ato de
aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia necessária se transformará em medo,
para o qual a defesa possível é a manifestação de desinteresse”.
5

Além destas questões intraescolares levantadas pelos PCN’s (1997), é necessário


considerar a existência de fatores extraescolares que interferem no trabalho pedagógico do
professor e dificultam o processo de aprendizagem do alfabetizando, a exemplo do Transtorno
do Espectro Autista, doravante TEA, um transtorno complexo do desenvolvimento que envolve
atrasos e comprometimentos nas áreas da interação social, da linguagem e da comunicação,
incluindo uma ampla gama de sintomas emocionais, cognitivos, motores e sensoriais
(WIEDER; GREENSPAN, 2006).
Estudos de Carvalho et al., (2015), destacam que os desafios e a complexidade do
processo de alfabetização são maiores, quando envolve a criança especial com TEA. Em
consequência dos comprometimentos citados, a aprendizagem ocorre de forma mais lenta e de
maneira diferente entre indivíduos com o mesmo acometimento, visto que suas necessidades
são particulares, o que requer procedimentos pedagógicos condizentes com as necessidades de
cada indivíduo.
Nesta perspectiva, a escola e seus profissionais precisam estar atentos e comprometidos
com posturas profissionais que favoreçam o aprendizado da criança autista, e ter em mente que
a apropriação da linguagem culta por meio da aquisição formal da leitura e da escrita oficiais,
consiste naturalmente, em tarefa carregada de desafios, e que no caso do aluno autista, estes
desafios são potencializados.
Tendo como pressuposto que escola é a instituição social específica e apropriada para
promover a aprendizagem escolar de todos, independente das características individuais, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional preconiza em seu artigo 59, inciso I, que “Os
sistemas de ensino deverão assegurar a estes alunos, currículos, métodos, técnicas, recursos
educativos e organização, específicos às suas necessidades”. (BRASIL, 2012).
No entanto, apesar da existência de leis e teorias científicas que orientam o atendimento
educacional de pessoas com necessidades especiais, percebe-se, que a escola brasileira, com
raras exceções, não está apta para assumir esta demanda de forma efetiva. como assinala Freire
(2001):
Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse uma
obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem fontes de
alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável conhecimento com
que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices melhor reveladores da
qualidade de nossa educação (FREIRE, 2001, p. 267).

Nesta perspectiva, o presente estudo tem como tema a alfabetização vinculada a


aprendizagem formal da leitura e da escrita de crianças com Transtorno do Espectro Autista -
TEA. Para nortear a investigação considera-se a seguinte questão: Quais aspectos didáticos-
6

pedagógicos são essenciais para orientar as ações do professor, da escola e da família no


processo de alfabetização de crianças acometidas pelo TEA? Vinculado a este problema, o
objetivo geral visa refletir sobre aspectos didáticos-pedagógicos que devem ser observados e
seguidos por professores, escola e família no processo de alfabetização de crianças com TEA.
Para viabilizar este objetivo, foram delineados os seguintes objetivos específicos: a) abordar
sobre o processo de alfabetização destacando as suas especificidades na perspectiva da
alfabetização de crianças com necessidades especiais – TEA; b) caracterizar o TEA; c)
Descrever aspectos didáticos-pedagógicos que devem ser observados por professores, escola e
família no processo de alfabetização de crianças com TEA.

2. METODOLOGIA

Este estudo classifica-se como pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, com


estudos e análises bibliográficas. Segundo Severino (2007, 122) “A pesquisa bibliográfica é
aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em
documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias
teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados”.
A partir da concepção de Gil (2008, p. 27), a pesquisa exploratória, é aquela cujo foco
é “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”, `a exemplo deste
trabalho, que ao abordar a alfabetização na perspectiva do aluno com TEA, esclarecerá que o
processo de alfabetização destas crianças tem suas peculiaridades, não devendo ser realizado
nos mesmos parâmetros tradicionalmente utilizados para alfabetizar crianças, sem este tipo de
acometimento e comprometimentos.
Como procedimento metodológico, a pesquisa aconteceu por meio de uma revisão da
literatura, abordando em momentos distintos as duas variáveis do tema: Transtorno do Espectro
Autista e Alfabetização de crianças autistas. Inicialmente levantou-se livros em bibliotecas
físicas, artigos, monografias e acadêmicas em bancos de teses e dissertações dos portais
7

CAPES1, CIELO2 e GOOGLE ACADÊMICO3, através dos descritores “Transtorno do


Espectro Autista”; “Alfabetização”; “Alfabetização de autistas”; “Métodos de alfabetização de
autistas”.
Em seguida o material levantado foi analisado por meio da leitura exploratória e seletiva
a qual possibilitou identificar a relevância do material levantado para o estudo, posteriormente,
ocorreu a leitura crítica e reflexiva com a finalidade de responder às indagações e objetivos
deste estudo. Como resultados espera-se que os profissionais da área escolar, em especial os
professores, sintam-se motivados à discutir sobre este assunto, com vistas ao aprofundamento
dos seus conhecimentos.

3 ALFABETIZAÇÃO: Breve caracterização


3.1 Breve caracterização
São muitas as formas de alfabetizar, e cada uma delas destaca um aspecto do
aprendizado. Desde o método fônico, adotado na maioria dos países, que faz a associação entre
as letras e sons, passando pelo método da linguagem total, que não utiliza cartilhas, e o
alfabético, que trabalha com a soletração, todos contribuem de uma forma ou outra, para o
processo de alfabetização.
O modelo escolar de alfabetização nasceu há pouco mais de dois séculos, precisamente
em 1789, na França, após a Revolução Francesa. A partir de então, crianças são transformadas
em alunos, aprender a escrever se sobrepõe a aprender a ler. (KLEIMAN 1995)
Na contemporaneidade temos um processo de alfabetização, impactado por mudanças
significativas, o que não implica obrigatoriamente mudanças substanciais na qualidade da sua
oferta.

1
Portal de Periódicos CAPES - Criado para possibilitar o acesso à produção científica mundial, atualizada e de
qualidade, o Portal de Periódicos da CAPES disponibiliza bases de dados textuais e referenciais em todas as áreas
do conhecimento. Com mais de 50.000 títulos de periódicos nacionais e internacionais, o Portal oferece à
comunidade universitária (alunos, docentes, pesquisadores e técnicos) um dos maiores acervos bibliográficos do
mundo, incluindo artigos, teses, patentes, trabalhos publicados em eventos, livros eletrônicos, entre outros
documentos.
2
Scielo - Scientific Electronic Library Online é uma biblioteca virtual de revistas científicas brasileiras em formato
eletrônico. Ela organiza e publica textos completos de revistas na Internet / Web, assim como produz e publica
indicadores do seu uso e impacto.
3
O Google Acadêmico é uma ferramenta de pesquisas do Google feita para encontrar artigos acadêmicos na web.
Criado em 2004, permite que qualquer pessoa busque referências e citações em milhares de artigos científicos
publicados em fontes confiáveis de literatura acadêmica mundo afora. É o favorita de muitos universitários
buscando por bibliografias para enriquecer seus trabalhos de conclusão de curso e pesquisadores em geral que
precisam de uma fonte confiável de informação sobre ciências Exatas, da Natureza e Humanas.
8

Partindo-se do princípio de que toda forma de atuação pedagógica assume,


conscientemente ou não, uma concepção de aquisição de conhecimento, torna-se oportuno rever
as distintas correntes teóricas que têm informado as práticas de alfabetização no Brasil.
O processo de alfabetização corresponde a ler e escrever, enquanto que letramento além
de saber ler e escrever o indivíduo consegue interpretar (CARVALHO, 2009).
Conforme Soares (2011), aprender a ler e escrever consiste em voltar quantas vezes
forem necessárias para adquirir e reconhecer símbolos impressos que representem palavras.
Paciência e perseverança ajudarão a criança neste processo de aprendizagem. Ao auxiliar a
criança a aprender a ler, “o professor deve certificar-se de que a criança não apenas lê as letras,
mas também entende o que está lendo. Há crianças que têm grande facilidade para aprender e
memorizar letras e palavras sem realmente entender o que dizem. É por isso que às vezes é
melhor ir devagar" (SOARES, 2011, p.67).
De acordo com LEITE (2001),
É fundamental destacar que o modo como é concebido o processo de
alfabetização pode fazer a diferença de todo o encaminhamento metodológico
em sala de aula, pois a alfabetização, entendida como simples aquisição do
código gráfico (letras, sílabas, palavras), fica dissociada da situação real
vivida pelo aluno, bem como de seu significado ao contrário, para que se
ampliem as possibilidades de leitura e escrita basta ultrapassar esse
entendimento restrito e limitado (LEITE, 2001, p. 47).

Neste mesmo viés Carvalho (2002) e Soares (2016) criticam o método de ensino que
busca gerar aprendizado da leitura e da escrita de forma mecânica, desconexa e repetitiva, sem
a necessária vinculação com a compreensão do conteúdo estudado, pois o processo de
alfabetização na perspectiva do aprender a língua escrita por repetição, cópia, reprodução de
letras, palavras e frases isoladas, leitura em coro, não garante que o aluno aprenda a linguagem
escrita, mas somente a escrita das letras, desta forma o termo alfabetização não ultrapassa o
significado de levar à aquisição do alfabeto, ou seja, será um mero aprendizado das habilidades
de ler e escrever. Assim, Soares (2016, p. 38) propõe:
[...] ampliar o conceito de alfabetização proposto [...], definindo-a mais
amplamente como a aprendizagem de um sistema de representação que
se traduz em um sistema de notação que não é um “espelho” daquilo
que representa, uma vez que é arbitrário – a relação entre as notações
(as letras) e aquilo que representam (os fonemas) não é lógica nem
natural – e é um sistema regido por normas – por convenções e regras.
(SOARES, 2016, p. 38).

A aquisição da leitura e da escrita é um dos fatores mais significativos na história do


desenvolvimento sociocultural do ser humano. Essa aquisição acontece gradativamente, e de
9

modo geral inicia-se pela aprendizagem da leitura, seguida da linguagem oral, após as crianças
internalizarem os princípios e normas sociais e entrarem em contato com os sinais gráficos, ao
iniciar seu processo de alfabetização. (FONSECA, 1995).
É de extrema importância retratar a leitura, no sentido de aprender a ler, em um mundo
repleto de informações e diversificações de culturas. Neste sentido, o ato da leitura é
imprescindível, pois o indivíduo pode ter acesso a diversas informações por meio de textos
variados, ou seja, no momento em que a pessoa ler está obtendo informações e, além disso,
desenvolvendo seu senso crítico, aprimorando, assim, sua aptidão em diferenciar, dominar
situações diversas em seu cotidiano.
Soares (1995, p. 8 e 9) “ler é um processo de relacionamento entre símbolos escritos e
unidades sonoras, e é também um processo de construção da interpretação de textos escrito.”.
A autora interpreta o ato de ler para além da interpretação dos códigos escritos e vinculam a
leitura à construção de sentidos do texto, cabendo observar que para o êxito do processo o
professor deve considerar os potenciais e as limitações do alfabetizando
Numa perspectiva freireana leitura é concebida como:
[...] uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante.
Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou
do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito
da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em
que se acha. Ler é procurar buscar criar a compreensão do lido; daí,
entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino correto da
leitura e da escrita. (FREIRE, 2001, p. 261).

Quando Freire destaca a importância da correção do processo de ensino, é por considerar


que aprendizagem da leitura e da escrita está condicionada a diversos fatores, que poderão
contribuir para o êxito ou fracasso do desempenho da aprendizagem leitora e para o
desenvolvimento eficaz da linguagem escrita, por isso uma série de estratégias devem ser
empregadas na sua prática.
Muniz (2013) afirma que linguagem escrita, em qualquer língua, apresenta sempre
aspectos da fala, à medida que a leitura assume outro viés, pois representa a compreensão e
entendimento da expressão escrita, devendo, portanto, ultrapassar a simples representação
gráfica e decodificação de símbolos.
A escrita é uma forma de representação da linguagem oral; como tal, escrever também
diz respeito a um ato de significar, de representar ideias, conceitos ou sentimentos, por meio de
símbolos, mas de origem gráfica e não sonora.
10

As experiências ocorridas no primeiro ano de escolarização trazem reflexos tanto no


processo de alfabetização como todos os outros anos escolares no tocante à confiabilidade neste
espaço escolar. Avaliar como a criança pensa sobre a escrita, suas hipóteses, mesmo que ainda
não saiba convencionalmente as regras da linguística, da ortografia, são os pontos de partida
para a realização do trabalho para um alfabetizador.
O processo de leitura e escrita emprega uma série de estratégias, isto é, um amplo
esquema para obter, avaliar e utilizar informação, por isso a leitura e a escrita, como qualquer
atividade humana, são uma conduta inteligente (TEBEROSKY, 2013). As pessoas não
respondem simplesmente aos estímulos do meio; encontram ordem e estrutura no mundo de tal
maneira que podem aprender com base em suas experiências, antecipá-las e compreendê-las.
O professor que trabalha com o ensino de leitura e escrita deve, primeiramente,
reconhecer a estruturam e organização do sistema gráfico para criar estratégias de ensino, de
acordo com sua visão profissional e também pensando nos alunos e suas particularidades e
necessidades, só assim, pode auxiliar seus alunos na superação de eventuais dúvidas de leitura
e ortografia.
Segundo Soares (2003),
A leitura e a escrita é a união de habilidades, de comportamentos e de
conhecimentos que compõem o processo de produção do conhecimento.
Indivíduo letrado é aquele que aprende a ler e a escrever e que passa a fazer
uso da leitura e da escrita, a envolver-se em práticas sociais de leitura e de
escrita, ou seja, que faz uso frequente e competente dessas atividades.
(SOARES, 2003, p. 49)

É de extrema importância que o educando saia do Ensino Fundamental I4, para os anos
mais avançados de escolarização, dominando as habilidades básicas de leitura e escrita, no
entanto, não são raras às vezes em que os próprios educadores, que deveriam ser os parceiros
de seus alunos nesse processo de aprendizagem, são os próprios causadores desse fracasso
escolar. Muitas vezes, por não conhecerem a realidade geral da criança, julgam-na, dizem que
não são capazes de ler um livro, menosprezam, impõem dificuldades e inúmeras barreiras em
qualquer modo de atividade estimuladora na prática de leitura no ambiente escolar.
Ao abordarmos a respeito da alfabetização de crianças precisamos compreender um
pouco como a criança se desenvolve seu comportamento nos seus primeiros anos de vida e

4
De acordo com o Ministério da Educação - MEC, o ensino fundamental I ou Anos iniciais é o período que vai
do 1º. ao 5º. Anos e deve atender crianças de 6 a 10 anos de idade, sendo que a alfabetização do aluno deve
ocorrer obrigatoriamente no 1º ano do ensino fundamental, ou seja, aos seis anos ele deve aprender a ler e
escrever.
11

como ela desenvolve a escrita nos anos iniciais. Este cuidado deve ser redobrado em relação às
crianças com algum tipo de necessidade especial.
No decorrer do processo de alfabetização é imprescindível que as crianças entrem em
contato, manipulem, utilizem e criem diferentes textos, que circulem em sua comunidade de
maneira não simulada, mas real com sentido para elas.
Piaget acredita que o indivíduo consegue adquirir o conhecimento através do contato
com o mundo exterior. O contato com o mundo exterior tem um movimento contínuo entre
equilíbrio e desequilíbrio. Magda Soares (2016) comenta assim “quando o equilíbrio se
restabelece, tem-se a uma adaptação. A adaptação é, dessa forma, constituída de dois processos
diferentes, porém indissociáveis: assimilação e acomodação” (2010. p. 11).
Para Vygotsky;
O homem é um ser que se forma em contato com a sociedade, “na ausência
do outro, o homem não se constrói homem”. Sua compreensão é a de que a
formação se dá na relação entre o sujeito e a sociedade a seu redor. Assim, o
indivíduo modifica o ambiente e este o modifica de volta. Segundo o teórico,
grande parte do desenvolvimento infantil ocorre pelas interações com o
ambiente, que determinam o que a criança internaliza (VYGOTSKY, 1984, p.
103).

4. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: Breve histórico, conceitos, características

4.1 Breve histórico e conceitos

Segundo a Revista da Associação de Neuropsiquiatria (2017), o termo autista foi


introduzido pela primeira em estudo de Bleuler5 para se referir à auto-absorção que as pessoas
afetadas pela esquizofrenia apresentavam. Essas pessoas exibiam comportamentos que hoje
seriam reconhecidos como tipicamente autistas.
Três décadas depois, no ano de 1943, o termo foi falado nos Estados Unidos através de
um conceito do psiquiatra austríaco Leo Kanner, para identificar crianças com atrasos no
desenvolvimento e com dificuldades de manter um relacionamento interpessoal (TCHUMAN:
RAPIN, 2009, p.17).
Kanner (14) apresentou um trabalho no qual descreveu vários casos de meninos e
meninas com características peculiares em termos de comportamento social, desenvolvimento
da linguagem e processos cognitivos. Ele determinou que eles sofriam de uma forma grave

5
Paul Eugen Bleuler , segundo Wikipédia (2022) foi um psiquiatra suíço notável pelas suas contribuições para o
entendimento da esquizofrenia, esquizoide e autismo
12

de autismo, estabelecendo a diferenciação com os diagnósticos que haviam recebido até então,
principalmente retardo mental e esquizofrenia.
Simultaneamente, Hans Asperger, um psiquiatra austríaco, relatou vários casos de
crianças semelhantes às descritas por Kanner e a quem chamou de psicopatas autistas, dando
especial ênfase às particularidades da comunicação verbal e não verbal e domínio de temas
pelos quais demonstraram forte interesse.
No entanto, levou quatro décadas para que as descobertas apresentadas por Asperger
fossem apresentadas à comunidade científica de língua inglesa. Isso foi possível graças ao
trabalho de Lorna Wing, uma psiquiatra inglesa e mãe de uma menina com autismo que realizou
um estudo de acompanhamento de várias crianças com autismo que haviam sido diagnosticadas
erroneamente com transtornos do espectro da psicose, entre outros. Ela desenvolveu o que é
conhecido como a tríade Wing: comunicação verbal e não-verbal prejudicada, interação social
prejudicada e padrões restritos de comportamento, interesses e atividades. Introduziu o
termo síndrome de Asperger, em relação a casos que apresentavam as mesmas características
descritas por Hans Asperger há quase meio século.
Uma década depois, o diagnóstico de síndrome de Asperger foi incluído no DSM IV
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. da Associação Americana de
Psiquiatria. Tal atraso não é surpreendente, pois até a terceira edição do manual, o autismo era
considerado uma forma infantil de esquizofrenia.
Na terceira edição revisada, o espectro de síndromes foi ampliado, estabelecendo três
grupos de critérios diagnósticos que coincidiam com os propostos por Wing. Na quarta edição,
assim como em sua revisão posterior, quase não houve mudanças, além do estabelecimento de
cinco grandes grupos dentro do espectro do autismo: "transtorno autista", "transtorno de Rett",
"transtorno desintegrativo da infância", síndrome de Asperger", e "Transtorno invasivo do
desenvolvimento não especificado de outra forma".
Esta classificação foi eliminada na última revisão do manual, estabelecendo-se um
construto dimensional sob o conceito geral de "Transtornos do Espectro do Autismo", em que
se diferenciam diferentes níveis de gravidade com base, principalmente, no nível intelectual e
na individualidade desenvolvimento da linguagem. Da mesma forma, dois dos critérios da
tríade de Wing (déficits de comunicação e interação social) são unificados em um único,
mantendo intacto o critério referente a interesses restritos.
Atualmente, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) também conhecido como autismo,
encontra-se contido na Classificação Internacional de Doenças (CID 10 – F84), pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), por referir-se de um tema de sanidade mental, que
13

evidencia as alterações cerebrais na pessoa que a possui, podendo afetar também a


aprendizagem. Conforme o grau diagnosticado na criança, o tratamento deverá ser feito de
acordo com seu nível de dificuldade apresentada.

4.2 Principais Características do TEA

Segundo a Organização Mundial da Saúde 70 milhões de pessoas aproximadamente no


mundo vivem com algum tipo do transtorno do espectro autista, que podem se revelar em
vários níveis de intensidades grave ou suave, e afetando a comunicação e a socialização
principalmente.
No passado foram cogitadas várias hipóteses para a causa do autismo, algumas delas
faziam com que as crianças fossem penalizadas, rejeitadas muitas vezes pelos seus próprios
familiares. Eram submetidas a viverem em um mundo solitário.
Somente com a quebra de paradigmas por parte dos autistas, foi possível mostrar ao
mundo a importância deles mesmo com suas capacidades limitadas em alguns casos.
As principais características apresentadas nas crianças autistas nos primeiros meses de
vida precisam ser informadas ao pediatra pelos pais, nas consultas médicas. Por meio da
observação os pais podem perceber alguns dos sinais:
- Não estende os braços para seus pais;
- não se socializa com outras crianças;
- não gosta de brincar com seus brinquedos;
- Gosta de ficar isolada;
- Não olha diretamente nos olhos de outra pessoa;
- não esboça alegria, sentimentos;
- não aponta com os dedos;
- não chora quando se fere ou cai, são resistentes à dor;
- não fala;
- Seus movimentos são repetitivos e frequente, dentre outros.

Ao identificar algumas dessas características o ideal é que os pais ou responsáveis


procurem confirmá-la, e em seguida buscar a ajuda profissional, pois a criança recebendo um
acompanhamento adequado, esses sintomas serão amenizados, em especial aqueles relativos às
dificuldades de comunicação.
14

Vale ressaltar que as crianças com esse tipo de transtorno [TEA], não demonstram todas
essas características, mas em média apenas dois ou três deles, ou alguns isoladamente. O
diagnóstico é clínico, ou seja, pela observação do comportamento do paciente, e não existe um
exame laboratorial ou de imagem para confirmar o distúrbio.
É muito complexo e delicado diagnosticar uma criança autista só pelos indícios
apresentados por elas. É necessária toda uma investigação familiar envolvida nesse processo de
diagnóstico, um dos profissionais a detectar essa deficiência e o neuropediatra, que dependerá
do auxílio de outros profissionais, clínicos, como: psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo,
etc.
Quanto à complexidade do diagnóstico Silva (2012, p. 78), “a maioria dos autistas tem
aparência física de uma criança normal, porém seu comportamento é diferente”. Por não ser
considerada uma doença, em geral é muito enigmático identificar o autismo até mesmo pelos
especialistas.

5. ASPECTOS DIDÁTICOS-PEDAGÓGICOS PARA A ALFABETIZAÇÃO DA


CRIANÇAS COM TEA

Esta pesquisa foi norteada pela seguinte questão: Quais aspectos didático-pedagógicos
devem ser observados pelos professores, escola e família no processo de alfabetização de
crianças com autistas? .
Para respondê-la, recorreu-se a matrizes teóricas que favorecem a análise e
caracterização da alfabetização e do Transtorno do Espectro Autista nos seus aspectos
históricos, conceituais e pedagógicos e psicopedagógicos, a fim de descrever estes
procedimentos, pois nele consiste o objetivo deste estudo.
A base teórica consultada revelou que o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é
um distúrbio do neurodesenvolvimento, combinado por uma seleção de déficits de habilidades
sociais, comunicativos e comportamentais, inclusive interesses reservado, comportamentos
repetitivos e estereotipados, que embora não se possa vislumbrar cura, um diagnóstico seguro,
realizado por profissionais da educação e saúde com apoio da família, contribui para a definição
de estratégias interventivas que estimularão a criança a aperfeiçoar o seu desenvolvimento
global, comportamento social e cognitivo, tornando-a mais comunicativa, sociável e apta a se
desenvolver pedagogicamente.

Como observa Silva (2012, p. 1),


15

A alfabetização na Educação Especial [TEA] é um processo complexo, que


além de ter como parâmetro educacional o currículo pedagógico, esta deve
permitir nova adequação do processo de ensino-aprendizagem as necessidades
do aluno, exigindo do professor conhecimento e dedicação. (SILVA, 2012, p.
11)

Da fala do autor é possível inferir que além da família e dos profissionais da área clínica,
como psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e médicos, cabe ao professor uma
responsabilidade especial, visto que a criança estará cotidianamente aos seus cuidados
necessitando de procedimentos pedagógicos que estimulem a sua aprendizagem e
desenvolvimento.
A literatura pesquisada explicitou diversos aspectos que devem ser seguidos no processo
de alfabetização de crianças especiais e particularmente aquelas acometidas pelo TEA, no
entanto percebeu-se que as implicações mais requeridas na atualidade como condição para a
alfabetização da criança especial com TEA estão relacionadas à dois aspectos centrais,
formação docente – inicial e continuada, e o reconhecimento e o respeito à realidade e
necessidades específicas destas crianças.
Pode-se avaliar a relevância destes aspectos no texto da principal lei do ensino dos país,
a LDB 9394/1996 e nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. A
LDB determina no seu artigo 59, que os sistemas de educação devem elaborar seus currículos,
métodos, técnicas, recursos educativos e organização escolar compatíveis com as necessidades
individuais das crianças com necessidades especiais [TEA], devendo a docência dessas crianças
estar à cargo de professores com a devida especialização na área.
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial segue o mesmo princípio, no sentido
de garantir às pessoas com necessidades especiais [TEA] um atendimento escolar diferenciado
que respeite as suas peculiaridades e necessidades específicas de aprendizagem escolar, e
portanto define que:
Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um
processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure
recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os
serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e
promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que
apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e
modalidades da educação básica (BRASIL, 2001).

Desta forma, como analisa Marcondes (2014), a alfabetização de crianças com


necessidades especiais [TEA], não pode estar focada em paradigmas tradicionais de
alfabetização. Assim, escola e professor devem reconhecer e respeitar as características
16

individuais da criança, e promover experiências de ensino baseadas em aspectos que garantam


a sua adequação ao nível de desenvolvimento de cada criança, podendo estar baseada em
atividades regularmente planejadas e curricularizadas para crianças de salas regulares, sem as
limitações do TEA.
Destas orientações foi possível inferir que conhecendo as especificidades de cada aluno
o professor e a escola podem propiciar novas práticas que possibilitarão novas aprendizagens.
Portanto, propor métodos de ensino para o aluno com [TEA] requer do professor, identificar os
seus traços individuais para então propor estratégias pedagógicas que consigam atender as
demandas por ele requeridas.
Constatou-se que o processo de alfabetização de uma criança autista está envolta em
uma gama de preocupações e desafios que se irradiam para além do ambiente escolar,
envolvendo esforços e etapas distintas que exigem dos envolvidos, criança, família, professores
e escola competências e habilidades muito particulares.
Alfabetizar na perspectiva do autismo é deparar-se como uma ampla diferença de
características que cada criança pode oferecer. Umas terão interesses por temas específicos que
nada terá a ver com o interesse de outros, pois suas peculiaridades e necessidades são
específicas, assim para que as atuações pedagógicas voltadas à alfabetização possam ser
realizadas com êxito, é imprescindível que o professor conheça profundamente cada criança.
No entendimento de Serra (2018), a questão primeira e mais importante, diz respeito ao
professor saber quem é o sujeito à sua frente, o seu aluno; quais são as suas características, suas
limitações e potenciais a fim de entender se é o momento de iniciar o processo ou não, e como
iniciá-lo.
Tendo está visão ampla e segura do sujeito e do contexto que o cerca, será possível o
professor ter visibilidade em relação àquele que já pode iniciar o trabalho, abordando os
fonemas de imediato, “mas em outros tem que se percorrer um longo caminho, construindo
uma história até chegar à fase onde vai ser possível decodificar a leitura”. (SERRA, 2018, p.2)
Neste sentido, percebe-se a importância e necessidade do professor alfabetizador
conhecer quais são as habilidades possíveis de serem trabalhadas com o aluno para que ele
possa avançar em sua aprendizagem, tendo consciência e paciência de que a aprendizagem
ocorrerá de forma gradual, sendo mais rápida e perceptível em uns, e mais lentas e menos visível
em outros.
Importante ressaltar que o professor não deve gerar expectativas ou comparações do
ritmo de aprendizagem entre alunos com TEA, e principalmente destes, com alunos que não
apresentam limitações. Serra (2018, p.2), alerta que no processo de alfabetização de qualquer
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criança, devemos ter ciência das habilidades prévias de cada uma e na criança com TEA não é
diferente.
O TEA tem como uma das suas caraterísticas marcantes a dificuldade relativa à
comunicação e a linguagem, dois elementos essenciais no processo de alfabetização. Este fato
indica que para a escola por em prática o processo de alfabetização, terá que primeiramente
mobilizar os recursos terapêuticos necessários à estimulação do desenvolvimento de
precursores da linguagem como: a vocalização, imitação espontânea, atenção, movimento
antecipatório e o uso do apontar e do olhar que não ocorreram no naturalmente momento
adequado, visto que são essenciais para aprendizagem escolar.
Para Serra (2018) além do permanente trabalho de resgate da afetividade e da
sociabilidade, é fundamental que a criança seja avaliada e diagnóstica de forma segura, pois
assim, as intervenções pedagógicas e as atividades escolares podem ser efetivamente planejadas
com base na sua realidade, e direcionadas às suas necessidades reais.
É sabido no meio educacional escolar que não há um ritmo de aprendizagem único para
todas as pessoas, ao contrário, como afirma Beck (2020) cada pessoa possui um ritmo próprio
de aprendizagem, um movimento regular cadenciado de tempo que se repete com a mesma
velocidade. Uns são mais rápidos, outros mais detalhistas, outros preferem anotar, assim como
têm aqueles que gostam de rever todas as informações absorvidas, este é um dos motivos
fundamentais da existência de diversos métodos de alfabetização. Assim, é equivoco grotesco,
imaginar que por serem autistas, estes alunos possuem o mesmo ritmo e tempo para serem
alfabetizados.

É indispensável para o êxito da aprendizagem da criança autista que escola, professor


e família conheçam e principalmente, aprendam a mediar cada um destes ritmos e velocidades
de aprendizagem.
Beck (2020, p.1) fala que é preciso ter empatia, entender que a aprendizagem está
relacionada à diferentes circunstâncias. Se o professor alfabetizador “observa que o João leva
um pouco mais de tempo para anotar, que o Erick precisa de algo mais visual, que a Regina tem
um ritmo mais acelerado e que a maioria da turma gosta de pesquisar os dados que você
apresenta, mude o seu ritmo, adapte-se aos aprendizes”.
São muitas as formas de alfabetizar, e cada uma delas destaca um aspecto no
aprendizado. Desde o método fônico, adotado na maioria dos países, que faz a associação entre
as letras e sons, passando pelo método da linguagem total, que não utiliza cartilhas, e o
alfabético, que trabalha com a soletração, todos contribuem de uma forma ou outra, para o
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processo de alfabetização. Segundo Emília Ferreiro6, nenhum desses métodos pedagógicos é


neutro, pois estão sempre fundamentados no modo de conceber o processo de aprendizagem e
o objeto dessa aprendizagem.
Na perspectiva da alfabetização de autistas um método muito usado por escolas e
professores especializados na educação especial, é método fonético, considerado no meio
científico, a exemplo do Instituto de Neurociências de Stanford, como um dos mais eficazes
para o desenvolvimento e aprendizagem desta clientela. No Brasil, o Instituto Neurosaber
avalia que as práticas pedagógicas originadas no interior deste método, são alternativas eficazes
na alfabetização TEA, porque respeitam o desenvolvimento cerebral de cada criança, sendo o
desenvolvimento do aspecto cognitivo o mais favorecido nesse processo. No entanto, orienta
que o método fônico não deve ser entendido como exclusivo ou mágico no processo de
alfabetização de crianças com TEA, e algumas de suas particularidades precisam ser
considerada, a exemplo do som das letras:
[...] no caso das vogais, o nome das letras já é o som que elas têm, por exemplo: A, E,
I, O, U. Quando vamos para as consoantes, temos não só o nome delas, mas fazemos o som que
exprimem. Aqui temos a letra “F”, mas o som é “ffff”. Por outro lado, quando juntamos “F”
com “A” a situação muda e a sonoridade se transforma em “FA”.
O mesmo ocorre com “L”. O som é “lll” (com a língua posicionada atrás dos dentes
superiores). Se acrescentarmos a letra “E” teremos “LE”. Esse passo a passo de construção é
muito importante durante a alfabetização no autismo. (neurosaber, 2021, p.3)
Percebe-se que apesar das inestimáveis contribuições do método fônico para a eficácia
da alfabetização no autismo, reconhecido inclusive na literatura médica especializada como
ideal por mapear a fala, outras metodologias devem ser utilizadas, pois como salienta Capovilla
“cada criança deve receber um tipo de tratamento adequado à sua necessidade”.
Serra (2018, p.40) expõe que nas realizações de atividades para essas crianças, há
funções específicas que ajudam no melhor desenvolvimento. Algumas delas são: evitar dar pré
comandos como: marque, circule, sublinhe, pinte. O importante é apenas perguntar “quais?”;
pronunciar as palavras de forma lenta e enfática, para que a criança identifique o som; falar
direcionando a boca para os olhos da criança, depois abaixar a cabeça para que ela repita

6
Emilia Beatriz María Ferreiro Schavi nasceu em Buenos Aires, em 5 de maio de 1936, psicóloga e pedagogo
argentina, doutora pela Universidade de Genebra sob orientação de Jean Piaget. Em 1971, retornou ã Argentina e
forma um grupo de pesquisa sobre alfabetização publicou a sua tese de doutorado - Les relations temporelles dans
le langage de l'enfant. No ano seguinte, recebe uma bolsa da Fundação Guggenheim (EUA).
19

olhando nos 30 seus olhos; sempre que for pulando as etapas, ter a certeza que a criança
aprendeu a etapa anterior do processo.
No entanto, independente de quando e como realizar a alfabetização, é preciso refletir e
considerar as concepções de pensadores como Vygotsky , Piaget, Visca7 e outros que
investigaram o desenvolvimento do sujeito e especificidades que caracterizam o ato de
aprender, os campos que mobilizam, a articulação entre aspectos da cognição,
afetivo/emocional, social, cultural, nos quais estão imersos cada individuo, permitindo inferir
que o ato de aprender, em si, é um fenômeno da individualidade de cada sujeito.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo abordou o tema a alfabetização escolar na perspectiva da


aprendizagem das crianças com Transtorno do Espectro Autista - TEA. Considerou-se que
escola enquanto instituição responsável pela promoção da aprendizagem escolar de todos, não
está apta para assumir esta demanda de forma efetiva, pois dentre o estes, estão alunos autistas,
e via de regra o currículo e as práticas pedagógicas, fundados em ideias homogeneizadoras de
ser humano, não reconhecem as especificidades e necessidades destes alunos.
Assim, buscou-se responder quais aspectos didático-pedagógicos são essenciais para
orientar as ações do professor, da escola e da família no processo de alfabetização de crianças
acometidas pelo TEA, com o objetivo de destacar, com base na literatura pesquisada, os
aspectos didático-pedagógicos essenciais para o êxito do processo de alfabetização de crianças
autistas.
A fim de atingir o objetivo geral foram delineados três objetivos específicos que foram
satisfatoriamente atingidos. Por intermédio do primeiro objetivo específico, caracterizou-se a
alfabetização, permitindo perceber a complexidade e desafios que afetam todos os atores
envolvidos neste processo.
Constatou-se que o método fonético, predominante no ensino regular, é considerado
pelos mais respeitados institutos científicos internacionais, como o método mais eficaz na

7
Jorge Pedro Luis Visca foi um psicólogo social argentino, o divulgador da Psicopedagogia no Brasil, Argentina
e Portugal. É o criador da Epistemologia Convergente. Atuou como consultor e assessor na formação de
profissionais em diversos centros de estudos psicopedagógicos em universidades do Brasil e da Argentina.
Em 24 de setembro de 2001 foi homenageado pela Câmara Municipal de Curitiba que sancionou a lei nº 10247
que denominou PRAÇA PROFESSOR JORGE VISCA a um dos logradouros públicos da cidade, em função de
suas contribuições à Psicopedagogia e a comunidade carente com a criação da clínica comunitária. Em 2008 foi
nomeado pela ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia como Associado Honorário, in memorium, pelas
valiosas contribuições deixadas como legado à Psicopedagogia no Brasil.
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alfabetização de crianças autistas, e também o mais usado por escolas e professores


especializados na educação especial, porque segundo os especialistas na área, este método
respeita o desenvolvimento cerebral de cada criança. No entanto, embora reconheçam sua
pertinência e eficácia, especialistas como Capovilla, recomenda que este não deva ser entendido
como único ou mágico.
O segundo objetivo especifico caracterizou o Transtorno do Espectro Autista e
demonstrou que o termo autista foi cunhado por Bleuler (1910) e mais tarde Leo Kanner (1943),
utilizou o mesmo termo para identificar crianças com atrasos no desenvolvimento e com
dificuldades de manter um relacionamento interpessoal. Este objetivo revelou que no passado
crianças autistas eram segregadas e afastadas do convívio social pelas próprias famílias, sendo
considerada uma forma infantil de esquizofrenia. Atualmente, sabe-se por fontes oficiais
(OMS) que o TEA atinge em média 10% da população mundial, e que além de outros
acometimentos, pode afetar a aprendizagem.
O terceiro objetivo específico destacou vários aspectos didático-pedagógicos a serem
observados pela escola e professores, com apoio da família no processo de alfabetização de
crianças acometidas pelo TEA, evidenciando importantes pontos de vistas, orientações legais e
teóricas referentes ao processo de atendimento escolar e alfabetização de crianças autistas.
Estes pressupostos permitiram inferir com segurança, que a educação escolar de
crianças autistas deve estar alicerçada em concepções e práticas pedagógicas que reconheçam
e respeitem as suas características e necessidades educativas específicas, e que sejam
executadas por intermédio de práticas docentes adequadas, definidas com o auxílio de equipe
multiprofissional, e executada por profissionais da educação e professores com formação inicial
e continuada à nível de graduação e especialização em áreas da Educação Especial [TEA]. Por
fim, pode-se concluir que um aspecto fundamental é o educador entender que o ato de aprender,
é um fenômeno da individualidade de cada sujeito.
Não obstante as limitações impostas pelas medidas de afastamento social no período de
execução deste estudo, em função da pandemia da Corona vírus, os resultados apresentados
respondem satisfatoriamente ao problema da pesquisa, permitindo afirmar que o objetivo geral
foi plenamente atingido, no entanto, pela relevância, atualidade e escassez de pesquisas nesta
temática, sugere-se o aprofundamento deste estudo e a realização de outros com o objetivo de
explicitar novos aspectos favoráveis ao processo de alfabetização e aprendizagem escolar de
crianças com Transtorno do Espectro Autista – TEA.
21

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