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VILOMAH – O LUTO DOS PAIS: NEOLOGISMO LEXICAL1

PAICHECO, Cleonice Gomes Ferreira2


LAUFER, Albertina3

RESUMO
Este trabalho analisa 7 (sete) estudos de linguagens de 2018 a 2021 de terminológos
e linguistas para compreensão ampla do campo da lexicografia e neologia, além de
produções digitais internacionais do movimento de pais enlutados na busca do
registro formal do léxico: Vilomah, palavra adotada informalmente por cientistas e
pais para atribuir a dor e luto ao perderem um filho, assim como, nomear o que os
pais se tornam após a perda do filho. O termo possui origem do sânscrito, que
significa contra a ordem natural. Pois não é natural enterrar pessoas mais jovens. A
problemática consiste em apoiar a oficialização do termo no vocabulário e obter
como empréstimo para popularizar no Brasil visto que não há na nossa cultura.
Justifica pela necessidade humana de nomear a dor e ser compreendido, definir a
sua identidade, auxiliar o encontro de grupo de pertencimento, dar sentido e
legitimar a experiência que não é uma fase temporária, pois, transforma e marca a
historia destas pessoas. Portanto, concluiu-se sobre a urgência no registro oficial do
termo nos dicionários internacionais, da influência da tecnologia e globalização na
integração do léxico na cultura, assim como da importância de trabalhar o
neologismo na educação formal para desenvolvimento da escrita criativa e
disseminação do movimento de pais enlutados.

Palavras-chave: Neologismo. Léxico. Vilomah. Luto. Empréstimo.

1. Introdução

O presente artigo é uma pesquisa de estágio no modelo iniciação científica -


Intersecções: Língua, cultura, história e tecnologias. Foi realizada com intuito de
abordar sobre o neologismo lexical Vilomah.
A língua, a cultura e história se entrelaçam no jogo entre significante e
significado, pois, ela não é estática. Como um produto social, a língua é um
instrumento vivo que passa por constantes adaptações para atender as

1
Trabalho aprovado no dia 21 de Junho de 2022. Revisado e corrigido para publicação no dia 30 de
Agosto de 2022.
2
Autora: Psicóloga Clínica CRP/MG 04/45940; Pós-graduada em Gestão em Saúde Pública; Segunda
graduação em Formação Pedagógica com habilitação em Letras no Centro Universitário
Internacional Uninter, conclusão em Agosto de 2022.
3
Orientadora: Psicóloga Clínica CRP/PR 08/29582; Graduação em Pedagogia; Letras; Teologia; Pós-
graduada em Psicologia Analítica e Religião Oriental e Ocidental; Pós-graduanda no curso de
Produção e Revisão Textual e Mestre em Teologia.
necessidades de seus usuários, inevitavelmente os itens lexicais, expressos nos
discursos sofrem modificações para o contexto inserido na mesma medida em que
a sociedade muda (OLIVEIRA, 2019).
Da mesma forma, a cultura é dinâmica e instável principalmente no mundo
tecnológico e globalizado em que vivemos, portanto, uma cultura é resultado de
outras culturas e estas se misturam, formam novas e múltiplas culturas no tempo e
no espaço (TIMBANE E COELHO, 2018).
Vilomah é um termo de origem do sânscrito que significa contra a ordem
natural, escolhido por Karla Holloway em 2009 para descrever o luto dos pais ao
perder um filho. “Há um ditado chinês que diz: “cabelo grisalho não deve enterrar
quem tem cabelo preto” Se o fizerem, seremos vilomalizados” (HOLLOWAY, 2022).
É comum o uso de palavras e expressões que até o momento não existiam e
começaram a existir simplesmente pelo fato de possibilitar o ato da comunicação. O
acesso a pesquisas, sites e blogs possibilita a investigar e a interação entre os
membros, formação de grupo, consequentemente, à ocorrência de neologismos
lexicais (TIMBANE E COELHO, 2018).
O léxico é o patrimônio de cada indivíduo, da comunidade linguística e da
academia que o estuda. A terminologia e a lexicologia constituem como campo de
estudo do léxico e desenvolvimento de neologismos (MACHADO, 2018).
Portanto, o objetivo principal desta pesquisa consiste em analisar trabalhos
científicos e conteúdos digitais de grupos de pais enlutados para integrar o
neologismo lexical Vilomah no vocabulário. Realizada por meio da pesquisa
bibliográfica de cunho qualitativo para compreensão com mais profundidade do
desenvolvimento à linguagem quanto ao neologismo; À etimologia, cadeia de
sentidos, introdução na história e cultura à utilização do léxico: Vilomah; Averiguar a
influência da tecnologia e globalização na aceitação e popularização de novos
termos, importância de trabalhar a criatividade em sala de aula.
Com isso, propõem-se a linguística, a literatura, as licenciaturas, as ciências
humanas e sociais e aos pais enlutados no Brasil - a adoção do termo Vilomah.
Assim como o debate e ensino de neologismo em sala de aula para incentivo a
pesquisas e desenvolvimento integral, consideração no âmbito dinâmico e criativo
da cultura.
2 Metodologia

A abordagem desta pesquisa foi de cunho qualitativo que não visa à


quantificação e mensuração, mas a qualidade da informação e interpretação do
leitor (Godoy, 1995). Realizada como critério de cientificidade por meio de uma
análise bibliográfica, conforme Matta (2008) uma das fontes mais tradicionais de
pesquisa recorre a textos teóricos, artigos, teses, dissertações, outros documentos
impressos e eletrônicos disponíveis online.
Houve um levantamento quanto ao termo: Vilomah que abrange conteúdos
internacionais, estes conteúdos passaram por um processo de tradução própria
com auxílio do Google tradutor. Ao colocar o léxico Vilomah no Google Scholar
foram encontrados 32 artigos internacionais, foram escolhidos 5 (cinco)4.
1. ICHIPRO é uma revista digital japonesa, divulgada em várias línguas
com projetos sociais e conteúdo relativo à compreensão das
necessidades humanas. A revista possui uma matéria sobre a palavra
Vilomah.
2. Karla Holloway, africana, nascida em 1949, graduada em Linguística na
Universidade de Harvard, estudou literatura, política e economia. Foi
membro da universidade Duke (Estados Unidos) até 2017 quando se
aposentou.
3. Robert Frost - um poeta americano que após a perda da esposa e de
quatro filhos escreveu um poema em um dos seus primeiros livros, o
poema “Enterro em casa” (Home Burial - original).
4. Cake é uma empresa criada por médicos formados no MIT e Havard
que auxiliam as pessoas em processo de luto, possuem uma biblioteca
de profissionais, publicam conteúdos e documentos relacionados à morte.
A Dra. Vasquez, bacharel em Ciência Politica, publicou o artigo - Vilomah:
Origin & What It Mens for Parents who lost a child. Atualizada no dia 18 de
Janeiro de 2022.
5. No Reino Unido há uma instituição de caridade sediada com objetivo
de fornecer apoio a pais enlutados em todo o mundo: Our Missing

4
De origem brasileira havia apenas uma tese de doutorado em Psicologia em São Paulo, do autor
Leonardo Goldberg (2019), portanto, citado aqui e referenciado, mas não utilizado.
Peace <https://www.ourmissingpeace.org/>. No site há artigos que podem
ser utilizados. O país é um grande precursor do movimento: A Bereaved
parent (Um familiar enlutado) criaram um abaixo-assinado para pressionar
Oxford English Dictionary a introduzir Vilomah no dicionário. Disponível em:
<https://www.change.org/p/oxford-english-dicsonary-get-vilomah-into-the-
dictionary>. Data de acesso e assinatura: 09 de Novembro de 2021.
Quanto ao estudo dos neologismos (período de 2018 a 2022) foram
encontradas: 4.410 pesquisas (2.740 em português). Destes, 912 com as palavras
chave: Neologismo. Lexical. Empréstimo. Linguística. Cultura. Por meio da pesquisa
das palavras chave foram escolhidos 31 (trinta e um) trabalhos acadêmicos e/ou
artigos que favorecem o desenvolvimento da pesquisa, dentro do campo de
intersecções: Língua, cultura, história e tecnologias. Destes, 7 (sete) foram pré-
selecionados de 2018 a 2021 para leitura e fichamento por contemplar todas as
palavras chave.
2018:
1. FARGETTI, Cristina Martins. Léxico em pesquisa no Brasil.

2. MACHADO, Amanda. Propostas de Dicionário e de outros materiais


didáticos na língua Wapichana.

3. SILVA, Renaldo César Bueno Alves da. Eis que, Posto que de Vez que como
conectivos causais [manuscrito]: Variação e padronização no Português do
Brasil.
4. TIMBANE, Alexandre Antônio; COELHO, Dayanny Marins. Os neologismos e
a ampliação lexical nas redes sociais.
2019:
5. OLIVEIRA, Antônio Marcos Vieira de. A Neologia semântica presente
em capas de revista: um estudo à luz da abordagem cognitiva.
2020:
6. BARBOSA, Carlos Daví Alves. A história da língua latina e seu processo de
mudança lexical na língua portuguesa e sua abordagem no livro didático do
1º ano do ensino médio.
2021:
7. TIMBANE, Alexandre Antônio; ROCHA, Fabiana Ferreira da. A Criatividade
Lexical do Português Brasileiro na Imprensa Escrita Catalana.
Com relação às palavras chave, os artigos escolhidos que repetem a autoria,
conforme Lattes (2022) foi: TIMBANE, Alexandre António: Doutor em Linguística
e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP, Mestre em Linguística e
Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane –
Moçambique (UEM). É Licenciado e Bacharel em Ensino de Francês como Língua
Estrangeira (2005) pela Universidade Pedagógica-Moçambique (UP). Atualmente
atua como professor titular na Universidade Academia de Ciências Policiais de
Moçambique (ACIPOL). É pesquisador em Linguística Forense aplicada às ciências
policiais. É membro do Grupo de Estudos de Linguística Forense da Universidade
Federal de Santa Catarina e membro da International Association of Forensic
Linguists (IAFL).

3. Neologismo lexical

O léxico é um acervo de palavras utilizadas pelos falantes, portanto, se


insere na oralidade, na informalidade, tão amplo que nem o dicionário consegue dar
conta dele. Esta amplitude está em constante remodelação e reconstrução
(TIMBANE E COELHO, 2018).
Neste processo de evolução, o léxico acompanha o desenvolvimento
humano e as transformações ao longo das gerações, deixam de ser usuais e novas
unidades lexicais surgem (OLIVEIRA, 2019).
Pode ser compreendido como o estudo da etimologia das palavras que
permite a apropriação cultural, estrangeirismo e criatividade lexical, geralmente
ensinado nas aulas de literatura. Portanto, neologismo lexical consiste na
capacidade de inovação da língua na criação de palavras novas (FARGETTI, 2018).
Timbane e Rocha (2021) resumem o neologismo lexical como o estudo da
formação de palavras que geralmente se manifestam numa dada língua. Enquanto,
para diferenciação, o neologismo semântico se inscreve no âmbito do sentido e
significado da palavra.
Conforme aponta Oliveira (2019), a utilização de neologismo reflete o mundo
extralinguístico do usuário que o utiliza para integrar o seu pensamento, identidade
e imaginação, carrega um traço ideológico, desencadeia discursos e novas maneiras
de pensar e agir. Timbane e Rocha (2021) dão ênfase na tendência humana
consciente ou instintiva em nomear tudo.
Em sala, enquanto profissionais da área linguística, terminologia, lexicografia
e literatura, temos que estimular a criação de neologismos para ampliação da
competência lexical do aluno com a brincadeira de produção de neologismos. Essas
criações lexicais na escola podem ajudar o aluno a compreender que o léxico é uma
estrutura dinâmica (MACHADO, 2018).
O desenvolvimento da linguagem quanto aos neologismos lexicais ocorre
por intermédio da literatura, âmbito da escrita, onde há mais possibilidade de
improvisar, criar, inventar e apresentar estilo nos textos, autoria, identidade e
sentimento de pertença cultural (FARGETTI, 2018).
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o léxico e a cultura, são parceiros
fidelíssimos no processo de comunicação, uma vez que ambos estão ligados à
identidade do sujeito, já que cada indivíduo tem liberdade para proferir quaisquer
palavras de acordo com as situações de comunicação ou ainda, de acordo com os
contextos em que acontece o discurso (TIMBANE e COELHO, 2018).
O processo descritivo muitas vezes é motivado por áreas de atividade
técnica, científica e profissional, recorrem à utilização do vocabulário comum a eles
e ao uso de termos específicos, a recursos linguísticos peculiares e expressões não
dicionarizadas, como no caso da linguagem jurídica - o juridiquês (SILVA, 2018).
Pois, conforme Timbane e Coelho (2018), a língua está intimamente ligada à
cultura e às mudanças culturais, facilitado por meio das novas tecnologias da
informação, programas, aplicativos e redes sociais, etc. Este cenário evolutivo criou
uma espécie de “mundo comunicativo globalizado” no qual as pessoas se sentem
perto umas das outras, estando distantes apenas por um simples clique. Desta
forma, o acesso à informação é rápido e eficaz, desafiam a linguística para inovação
em qualquer parte do mundo, inclusive, há sua própria linguagem - o internetês que
possuem abreviaturas, siglas e acrônimos para além de reduzir frases.
Os autores também salientam que as mensagens de texto tendem a imitar a
linguagem oral e desviam das normas padronizadas pela ortografia, apresentam
formações novas de palavras, de ideias e de significados (neologismos formais,
semânticos e empréstimos) vindas, majoritariamente, da língua inglesa.
Timbane e Rocha (2021) também apontam a influência da língua inglesa na
entrada de novas palavras, pouco expressivas do espanhol, apesar de estarmos
rodeados por países latinos.
Fargetti (2018) atribui como um dos motivos para o pouco desenvolvimento
da escrita criativa no Brasil, o fato de o país valorizar mais a oralidade, possuir
poucos recursos para aquisição de livros e pouca aderência à cultura da leitura.

3.1 Neologismo Vilomah: O luto dos pais

No Brasil e alguns países ainda não há um termo para os pais que perderam o
filho. Entretanto, a necessidade de um léxico para descrever este luto é uma
demanda já marcada na história.
Sabe-se que em 1962 um poeta americano, Robert Frost (2022) após a perda
da esposa e de quatro filhos escreveu um poema em um dos seus primeiros livros,
denominado “Enterro em casa” (Home Burial - original), nele expõe uma discussão
de um casal para decidir onde enterrar o filho, em um trecho, há o confronto entre
o homem e a mulher: “um homem não pode falar do próprio filho que perdeu?”,
“Conte-me sobre isso se for algo humano”. “Deixe-me entrar em sua dor”.
Portanto, o poema gira em torno da dor inconsolável e inominável, na qual gostaria
de saber nomear para ser compreendido e tentar compreendê-la, o luto como a
perda do próprio coração e a inevitabilidade da solidão.
No livro publicado em 1976, intitulado “An Orphan's Tale” do escritor e
romancista Jay Neugeboren, salienta:

A esposa que perdeu o marido é chamada de viúva. O marido que perdeu


a esposa é chamado de viúvo. Uma criança que perdeu os pais é chamada
de órfã. Não há palavra para um pai que perde um filho. A perda é terrível
(ICHIPRO, online, 2022).
Em 1988, Ronald Reagan declarou outubro como o Mês Nacional da
Conscientização sobre a Gravidez e a Perda Infantil.
Karla Holloway sobre Vilomah publicou: A name for a parent whose child has
died no dia 26 de maio de 2009, quando cunhou o termo Vilomah, após anos de
pesquisa sobre a perda de um filho, situação que vivenciou em 1999 (VASQUEZ,
2022).
Vilomah, portanto, é a palavra mais apropriada que ela encontrou para
descrever o luto do pai ou mãe que perdeu o filho. O termo possui origem em
sânscrito que significa contra a ordem natural. Pois, não é natural um filho morrer
antes dos pais (ICHIPRO, online, 2022).
Desta forma, podemos considerar como neologia por empréstimo, por ser
um item lexical de uma língua estrangeira sendo adaptada à língua receptora com
semelhança semântica (OLIVEIRA, 2019).

Um dos aspetos linguísticos que mais se evidencia na língua porque ele se


desloca de uma língua para a outra, desaparece e reaparece ganha ou
perde sentidos semânticos, adapta-se aos novos contextos na língua em
que é emprestada (TIMBANE e COELHO, 2018, p. 02).

Ferreira (2000) salienta que o sânscrito é uma língua pouco explorada de


origem indiana, incorpora diversos léxicos na língua portuguesa, por:
● Reiteração (reprodução do significado e vocabulário, traço simbólico e
cultural do colonizador aos colonizados);
● Reconfiguração (empréstimo e reiteração das relações vernáculas com o
significante do significado);
● Dispersão semântica (empréstimos para além da reorganização do sentido
do signo) responsável pelo desdobramento das potencialidades do mundo
manifesto.
Em seu artigo, Ferreira postula exemplos de elementos do mundo vegetal,
animal, mineral, mensuração, objetos, profissões, rituais, dentre outros léxicos que
foram reiterados ao nosso vocabulário e normatizados nos discursos, nem foram
considerados estrangeirismos.
Timbane e coelho (2018) apontam que palavras estrangeiras são utilizadas na
comunicação ou são inventadas por necessidade ou luxo. Ainda, Timbane e Rocha
(2021) que todas as linguagens no mundo possuem registros de empréstimos de
outras línguas, pois, toda cultura é resultado de culturas, línguas e hábitos.
O exemplo mais próximo de Vilomah foi à adoção do léxico: Viúva, que
também possui origem em sânscrito, significa “vazia” (ICHIPRO, online, 2022).
Vilomah é um nome para a dor da perda do filho, pode parecer estranho no
início, mas nos acostumamos com a palavra "viúva" que devido à aceitação, foi
integrada ao nosso uso diário e vocabulário sem considerá-la estrangeirismo.
Vilomah não é muito diferente e compartilha a mesma etimologia, também pode ser
integrado (HOLLOWAY, 2022).
As línguas que já possuíam um termo, são: Em alemão, mãe enlutada é uma
Verwaiste Mutter. Em árabe, uma mãe enlutada é uma takla. Em hebraico, uma
família que perdeu um filho é uma shakula (ICHIPRO, online, 2022). Para os demais
lugares, Vilomah poderia ser universal. Fomos vilomizados,

Quando uma criança é encontrada empoeirada sob os escombros de um


terremoto ou para crianças que morrem de fome. Nossos números que
crescem diariamente – com atropelamentos e descuidos, com genocídios
e acidentes, doenças e suicídio. Um pai cujo filho morreu é um vilomah.
Assista ao noticiário da noite e você verá um vilomah. Examine as notícias
na web e você lerá sobre um vilomah. Ande pelo seu bairro, há casas com
vilomahs dentro. A diferença entre a dor de hoje e a de amanhã é que
agora há um nome: Vilomah - Um pai cujo filho morreu (HOLLOWAY,
2022, online).

Profissionais da empresa Cake, criada por médicos formados no MIT e


Harvard que auxiliam as pessoas em processo de luto, desenvolvem matérias
digitais, dentre eles, Vasquez (2022) publicou o artigo - Vilomah: Origin & What It
Mens for Parents who lost a child. Nele, Vasquez aponta que a perda de um filho é
uma das experiências mais dolorosas, traumáticas e insuperáveis que um pai pode
passar; agravado quando é repentina, inesperada e trágica. A não existência de uma
palavra na língua inglesa ou outra língua amplamente conhecida faz com que os pais
precisem de longas explicações para relatar o sofrimento, leva a revivência do luto
ao repetirem a frase “Eu tive um filho que já morreu”.
Vilomah é uma palavra nova e antiga (escrituras), conforme aponta Vasquez
(2022), mas que não estava presente na língua inglesa, foi introduzida
informalmente por diversos autores e movimentos de pais para auxiliar a
comunicação sobre o luto e a dor de perder o filho.
No Reino Unido há uma instituição de caridade sediada com objetivo de
fornecer apoio a pais enlutados em todo o mundo: Our Missing Peace
<https://www.ourmissingpeace.org/>. O país é um grande precursor na utilização e
para introduzir o termo vilomah no vocabulário.
Há um abaixo assinado criado por “A Bereaved parent” Um familiar enlutado
para tornar oficial a palavra Vilomah no Oxford English Dictionary. Disponível em
<https://www.change.org/p/oxford-english-dicsonary-get-vilomah-into-the-
dictionary>5 com meta de 2.500 (duas mil e quinhentas) assinaturas necessárias
para que o léxico seja mais divulgado na mídia.
Timbane e Rocha (2021) salientam que a dicionarização de palavras não traz
garantia de que o termo usado ou consultado por parte da comunidade linguística,
mas, garante que o registro formal permite a patrimonialização, a conservação e
utilização em algum momento da história.
Ichipro (2022) salienta que dar nome auxilia a reflexão e legitima a dor.
Vasquez (2022) salienta que dar um nome é dar identidade aos pais que perderam
um filho, reduzir o tabu sobre a morte e morrer, possibilita falar sobre o sentimento
e não sofrer em silêncio, encontrar grupos semelhantes, dar e receber conforto e
consolo. Ainda, considera que os pais podem buscar uma forma de encerramento e
a cura de sua perda. No artigo sugerem formas de honrar a memória que possuem
sobre o filho e homenageá-lo.
A tecnologia influencia na variação linguística, principalmente quando os
interlocutores identificam interesses, histórias em comum e temas para
compartilhar. Estas variações correspondem às necessidades de grupos específicos
ou não, cuja população possui um mesmo sentimento de inovação, criação ou
adoção (TIMBANE e COELHO, 2018).
O uso de palavras e expressões que até o momento não existiam e
começaram a existir pode facilitar o ato da comunicação. Os movimentos

5
Data do primeiro acesso da autora desta pesquisa e assinatura: 09 de Novembro de 2021. Acessado
novamente no dia 18 de Maio de 2022, 2.329 alcançadas. No dia 14 de Junho de 2022 às 11h e 25min,
assinado por 2.384. No dia 30 de Agosto de 2022 as 00h e 56min, havia 2.413 assinaturas.
internacionais em blogs, sites, dentre outros, facilitam a interação e formação de
membros em grupos, influenciam no uso do termo e tentativas de incluir a
linguagem formal (TIMBANE e COELHO, 2018).
Barbosa (2020) afirma que a incorporação de neologismo por empréstimo na
língua portuguesa acontece de forma natural, sem necessitar de intervenções de
leis, decretos ou especialistas sobre o assunto. Pois, quando há necessidade do
vocábulo e não há outro equivalente, os falantes encontram o que merece destaque
e introduz, mesmo se antes precisar ser aportuguesado.

4. Considerações finais

Vilomah é um termo de origem do sânscrito que significa contra a ordem


natural, escolhida por Karla Holloway em 2009 para nomear o luto dos pais ao
perder um filho, portanto, o método de escolha foi um processo de atribuição
semântica e por semelhança metafórica com o conceito que buscava, recorreu ao
empréstimo.
Trata-se de um léxico que ainda não foi aderido no vocabulário oficial
internacional de países que pretendem registrá-lo, portanto, pretendem tornar uma
nova palavra da cultura deles, sem considerar estrangeirismo, devido à influência do
sânscrito em vários termos por reiteração, desta forma também poderia ser o
processo de inclusão no Brasil.
Infelizmente, não precisamos procurar muito para encontrar uma história de
alguém que sofreu a morte de um filho. As produções internacionais para integrar o
neologismo Vilomah no vocabulário evidenciam o empenho de pais enlutados e
demonstram a importância da aceitação do termo, pois esta deveria ser um desafio
também para os profissionais nas ciências humanas e sociais na adoção do termo.
Considerando que para se tornarem pais, as pessoas passam por um
processo de transformação subjetiva e objetiva que os modificaram
biopsicossocialmente. Portanto, a perda de um filho - não deveria transformá-los
em não pais ou apenas pais enlutados, como se o luto fosse uma condição
permanente ou se a morte do filho fosse algo indiferente.
Há de considerar as tentativas de gestação, organização do lar, trauma do
parto, apresentação da gravidez e posteriormente da prole aos íntimos e a
comunidade, as expectativas sobre a criança, medo, incerteza, angústia, aceitação,
conformidade, desejos e projeções para o futuro, amor, afeto, tristezas e alegrias,
mobilização para educação informal e formal, tudo isso e muito mais que pode ter
acontecido na vida destas pessoas.
Neste contexto, a necessidade de um termo faz-se urgente, pois, aqueles
que foram pais de apenas um filho que morreu: Como eles diriam aos outros que já
foram pais, mas agora não são? Perder o filho os torna não pais? Sabe-se que seu
mundo e quem eles eram antes mudam para sempre (VASQUEZ, 2022).
Este é o principal motivo que impulsiona o termo Vilomah e deveria justificar
no Brasil o apoio aos movimentos internacionais, acesso ao conhecimento
possibilitado pela influência da tecnologia e globalização na disseminação da
informação.
Ao longo dos anos após a perda do filho (a), é normal que os pais calculem a
idade que o filho teria, imaginem com quem pareceria, o que faria no futuro; Falar
sobre o luto pode contribuir para estabilidade e manutenção da saúde mental, visto
que sublimar é um mecanismo eficiente de elaboração psíquica que pode
possibilitar a aceitação e continuidade da vida apesar do acontecimento. Este
processo não precisa ser doloroso, pode ser mais contemplativo se a elaboração da
perda for adequada com apoio de grupos e profissionais. O que permanece é o
amor e a saudade do filho, aquele que os transformou em pais. Portanto, conclui-se
constatada a importância de nomear e aderir ao registro oficial do léxico Vilomah
nos dicionários internacionais.
Desenvolver novos estudos, citar e referênciar são ações importantes para
popularização e aceitação do termo no Brasil. Este debate sobre o neologismo
vilomah pode corroborar novas pesquisas e o surgimento de outros termos,
inclusive, pode ser um conteúdo discutido nas escolas no ensino médio e superior,
incentivando a literatura, a leitura, as pesquisas, o desenvolvimento de palavras e a
criatividade.
Referências

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lexical na língua portuguesa e sua abordagem no livro didático do 1º ano do ensino
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Silva. Monografia (Licenciatura em Letras Língua Portuguesa) UFCG/CFP, 2020.

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MACHADO, Amanda. Propostas de Dicionário e de outros materiais didáticos na


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