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DA TRADIÇÃO À INOVAÇÃO: COMO AS TECNOLOGIAS

SUSTENTÁVEIS ESTÃO TRANSFORMANDO A AGRICULTURA


FAMILIAR NO PORTAL DA AMAZÔNIA

FROM TRADITION TO INNOVATION: HOW SUSTAINABLE


TECHNOLOGIES ARE TRANSFORMING FAMILY FARMING ON THE
AMAZON PORTAL
Angelina Maria de Oliveira Licório
Doutoranda em Administração, Mestra em Administração e em Direito.
Instituição: Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e Universidade Municipal de São
Caetano do SUL (USCS) - PPGA – Doutorado.
Endereço: Av. Governador Jorge Teixeira, 3146, Porto Velho - RO, 76821-00.
Email: angelina.licorio@ifro.edu.br

Avenilson Gomes da Trindade


Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação.
Instituição: FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado.
Endereço: R. Alagoas, 903 - Higienópolis, São Paulo - SP, 01242-902.
Email: avenilson@hotmail.com

Raquel da Silva Pereira


Doutora em Ciências Sociais.
Instituição: Universidade Municipal de São Caetano do SUL (USCS) - Programa de
Pós-Graduação em Administração – Doutorado.
Endereço: R. Santo Antônio, 50 - Centro, São Caetano do Sul - SP, 09521-160.
Email: raquel.pereira@online.uscs.edu.br

RESUMO

A pesquisa analisa a evolução da agricultura familiar em Rondônia, destacando a


transição de métodos tradicionais para práticas inovadoras, transição do método de
corte e queima que resulta em danos ao solo e desmatamento para práticas tecnológicas
sustentáveis, como agroecologia e agricultura de conservação. Essas mudanças têm
promovido o equilíbrio ecológico, a produtividade e a qualidade dos produtos, além de
fortalecer a economia local e regional. A pesquisa destaca a importância da preservação
dos ecossistemas da Amazônia Legal e o desafio de conciliar o desenvolvimento
econômico com a conservação ambiental. Conclui-se que a adoção de tecnologia
sustentável na agricultura familiar de Rondônia contribui para um modelo de produção

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resiliente, promovendo a segurança alimentar , a preservação ambiental e o
desenvolvimento regional. A pesquisa sugere que essas descobertas podem informar
políticas públicas e projetos futuros. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa,
com finalidade exploratória e descritiva que busca analisar a transformação ocorrida na
agricultura familiar de Rondônia a partir do procedimento de estudo de campo, pesquisa
documental e da observação participante, com dados coletados junto à Secretaria de Estado da
Agricultura de Rondônia, no período de 1916 a 1920.

Palavras-Chave: Agricultura Familiar. Tecnologias Sustentáveis. Rondônia. Amazônia


Legal.

SUMMARY

The research analyzes the evolution of family farming in Rondônia, highlighting the
transition from traditional methods to innovative practices, the transition from the slash
and burn method that results in soil damage and deforestation to sustainable
technological practices, such as agroecology and conservation agriculture. These
changes have promoted ecological balance, productivity and product quality, in addition
to strengthening the local and regional economy. The research highlights the importance
of preserving ecosystems in the Legal Amazon and the challenge of reconciling
economic development with environmental conservation. It is concluded that the
adoption of sustainable technology in family farming in Rondônia contributes to a resilient
production model, promoting food security, environmental preservation and regional
development. The research suggests that these findings can inform public policy and
future projects. This is a research with a qualitative approach, with an exploratory and
descriptive purpose that seeks to analyze the transformation that occurred in family
farming in Rondônia based on the field study procedure, documentary research and
participant observation, with data collected from the State Secretariat of Agriculture in
Rondônia, from 1916 to 1920.

Keywords: Family Farming. Sustainable Technologies. Rondônia. Legal Amazon.

1 INTRODUÇÃO

O Estado de Rondônia, localizado na região Norte do Brasil, abrange uma


extensão territorial de aproximadamente 237.576 mil quilômetros quadrados e abriga
uma grande variedade de ecossistemas. Com sua localização estratégica, seus ricos
recursos naturais e compartilhando suas fronteiras com países como Bolívia e Peru,
Rondônia desempenha um papel fundamental na Amazônia Legal, contando com os
rios Madeira, Jamari, Guaporé entre outros, florestas tropicais e áreas de preservação
ambiental, como os Parques Nacionais da Amazônia e Pacaás Novos.
No aspecto socioeconômico, Rondônia apresenta uma economia diversificada,
com destaque para o agronegócio. A agricultura familiar é um importante seguimento
desse setor, representando cerca de 80% das propriedades rurais do estado. Com
aproximadamente 110 milunidades dessa forma de agricultura, desempenha um papel

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relevante na geração de renda, no abastecimento e na conservação ambiental de
Rondônia (Oliveira, 2018).
A agricultura desempenha um papel fundamental na economia e no modo de
vida das comunidades locais. A agricultura familiar é uma prática tradicional e
disseminada no estado, enraizada na cultura agrária da região Norte do Brasil. Os
agricultores familiares de Rondônia cultivam uma variedade de produtos, desde café,
cacau, piscicultura, como pecuária de leite, aves e, até frutas tropicais e plantas
medicinais.
A evolução da agricultura familiar em Rondônia tem sido marcada tanto por
métodos tradicionais transmitidos de geração em geração quanto por abordagens
inovadoras impulsionadas pelos avanços tecnológicos. Tradicionalmente, os
agricultores familiares desta região utilizavam técnicas de corte e queima para
limpar a terra ou praticavam agricultura itinerante. Estes métodos resultaram
frequentemente na degradação do solo e contribuíram para o desmatamento das
florestas. No entanto, com a crescente sensibilização sobre a conservação ambiental
e práticas sustentáveis, os agricultores familiares começaram a adotar novas
tecnologias que promovem o equilíbrio ecológico e ao mesmo tempo garantem a
produtividade e a qualidade do produto, confirmados nos concursos nacionais de
qualidade, como foi o caso do café, amêndoa de cacau, queijo e a costela do peixe
Tambaqui (dados da pesquisa, 2023).
Assim, agricultura familiar de Rondônia tem se destacado
contemporaneamente por adotar práticas e tecnologias sustentáveis, adequadas ao
contexto amazônico (Pereira, 2019). São utilizadas técnicas como o cultivo
agroecológico, o manejo integrado de culturas, a agrofloresta, a compostagem, e a
agricultura de conservação, bem como o caminho do cooperativismo na produção e
comercialização direta destacando a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e
Economia Solidária do Estado de Rondônia - Unicafes; Cooperativa RECA; COPAMA
de Vilhena; COPAFARO, entre outras, que permitem conciliar o desenvolvimento
econômico com a preservação dos recursos naturais e a redução do impacto
ambiental.
Apesar de suas riquezas e potencialidades, Rondônia enfrenta desafios
socioeconômicos e ambientais. A expansão da fronteira agrícola, a demanda por
recursos naturais e as mudanças climáticas são questões cruciais que requerem uma
abordagem sustentável e equilibrada. A preservação e a conservação dos

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ecossistemas da Amazônia Legal são essenciais para garantir a sobrevivência das
espécies e a saúde do planeta como um todo, assim, o propósito desta pesquisa foi,
a partir de uma observação participante, analisar a transformação e o novo cenário da
agricultura familiar em Rondônia, a partir de tecnologias sustentáveis, como no caso
do café robustas amazônicos onde são utilizadas práticas sustentáveis de produção,
exploração do crédito de carbono e o plantio de cacau para recuperação de vazios
florestais.
A implementação desse conceito na agricultura familiar de Rondônia tem
contribuído para a construção de um modelo de produção mais resiliente e em
harmonia com o meio ambiente, além de fortalecer a segurança alimentar e promover
a valorização das comunidades rurais, suas tradições e culturas, em um ganho
sociocultural.
Essas práticas também ajudam a reduzir o desmatamento e a degradação
ambiental, promovendo a conservação dos recursos naturais e a proteção dos
ecossistemas locais. Além disso, o apoio à agricultura familiar e às tecnologias
sustentáveis impulsiona a economia local e regional, gera empregos e renda para as
comunidades rurais e promove a sustentabilidade e o desenvolvimento regional.
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, tem a finalidade
exploratória e descritiva e se caracteriza, quanto ao seu procedimento, como estudo
de campo em uma observação participante e pesquisa documental.
O presente artigo está estruturado com a parte introdutória que apresenta um
panorama geral do tema proposto, seguido do Referencial Teórico que se desdobra
em Agronegócio em Rondônia e Agricultura Familiar. Em sua terceira parte o artigo
traz a metodologia percorrida, apresentando, na quarta parte, os resultados da
pesquisa. Em sua parte final, tem-se a conclusão e as referências.
O estudo permite um olhar crítico para o cenário socioeconômico e ambiental do
Estado de Rondônia, a partir da lente da Agricultura Familiar, podendo contribuir para
o estabelecimento de políticas públicas e projetos que intensifiquem a prática de
tecnologias sustentáveis.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Governo do Estado de Rondônia por meio de suas secretarias entre elas a


Secretaria de Estado da Agricultura, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental tem desenvolvido

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políticas públicas e projetos de valorização da agricultura familiar e das tecnologias
sustentáveis adotadas para incentivar o uso de práticas agrícolas mais conscientes e
responsáveis, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento sustentável da
região e para a preservação da biodiversidade amazônica.

2.1 O AGRONEGÓCIO EM RONDÔNIA

O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global,


contribuindo para o fornecimento de alimentos, a geração de empregos e o
desenvolvimento sustentável. Ele tem participação significativa no PIB de muitos
países, impulsionando o crescimento econômico e a geração de renda para os
agricultores, sendo um dos principais motores da economia global (Zhang et. al. 2020).
Com a adoção das práticas e tecnologias sustentáveis o agronegócio pode ser
uma importante alavanca para o desenvolvimento sustentável (Gómez-Ruiz et a.l,
2019). Ressalta- se a importância de promover a produção agrícola de forma
ambientalmente responsável, considerando a conservação dos recursos naturais, a
redução do desperdício e a minimização dos impactos negativos no meio ambiente.
Estudos demonstram que o agronegócio desempenha um papel fundamental
na geração de empregos e no desenvolvimento de áreas rurais, proporcionando
oportunidades de trabalho e melhorando a qualidade de vida das comunidades
agrícolas (Conti et. al., 2018). A além de sua contribuição para a economia, o
agronegócio brasileiro tem um papel significativo na promoção do desenvolvimento
regional e para a redução das desigualdades sociais, gerando empregos e
promovendo a inclusão social (Mattos et. al., 2017).
Rondônia apresenta um crescimento médio de 6% nos últimos 5 anos,
representando 9,5% do PIB do estado. A produção de lavouras cresceu em média 8%
nos últimos 5 anos, representando 20,6% do PIB, enquanto a pecuária cresceu em
média 7%, representando 30,2% do PIB. O destaque de crescimento foram as culturas
de arroz, banana, café, milho e soja.

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Figura 1 - Valor Bruto da Produção Agropecuária

Fonte: SEAGRI, 2020.

Rondônia é um dos principais produtores de carne bovina do país, com um


rebanho de mais de 18 milhões de cabeça de gado, sendo o quinto maior rebanho do
país e assim, a carne bovina se destaca entre as principais exportações de Rondônia,
colocando o estado como quartomaior exportador brasileiro da proteína congelada, ao
lado do estanho, ouro, milho e outros. Além da pecuária, as principais culturas
agrícolas do estado são o café e a soja (ComexStat/MDIC, 2022).

Figura 2 - Ranking dos produtos de exportação de Rondônia

Fonte: SEAGRI, 2019.

O estado tem investido em tecnologia para melhorar a produtividade e a gestão


das propriedades rurais. Dentre as tecnologias utilizadas, destacam-se o uso de
Drones para mapear as áreas de plantio e monitorar o desenvolvimento das lavouras,
permitindo assim, uma gestão mais eficiente; de softwares de gestão para gerenciar
as atividades das propriedades rurais, desde o planejamento até a colheita,
permitindo uma gestão mais integrada e eficiente; de Irrigação por gotejamento,

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técnica utilizada para economizar água e aumentar a produtividade das lavouras.
O estado também tem investido em capacitação e treinamento dos produtores
rurais, para que possam utilizar as tecnologias de forma adequada e obter melhores
resultados. Nesse cenário, o estado direciona suas políticas para o pequeno produtor,
para o agricultor familiar.

2.2 A AGRICULTURA FAMILIAR

No Brasil, 70% do que é consumido é originário da agricultura familiar (IBGE,


2017), mesmo o segmento recebendo apenas 14% do crédito rural destinado para o
setor agropecuário brasileiro. A Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, define as regras
para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais estabelecendo em seu art. 2º. “[...] conceitos, princípios e
instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à Agricultura
Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais” (Brasil, 2006).
O projeto de colonização da Amazônia do governo federal a partir de 1968,
levou à distribuição de terras dos “espaços vazios”, pelo INCRA, e entre as décadas
de 1070 e 1980 trouxe para Rondônia migrantes do sul e do nordeste do país (Barrozo,
2017). Esse assentamento contemplava agricultores sem-terra ou com pouca terra.
Os projetos de distribuição de terras pelo INCRA, contemplados no Programa
de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste
(PROTERRA), permitiram acesso aos trabalhadores rurais, filhos de agricultores
familiares ou estudantes de Escolas Agrotécnicas no programa e no acesso à terra
(Santos, 2021).
Este fato contribuiu para o surgimento de uma relevante base familiar no campo
em Rondônia, portanto, a distribuição de terras do projeto de colonização da Amazônia
propiciou a formação de uma agricultura familiar robusta no estado tornando a
capacidade produtiva familiar um diferencial socioeconômico gerando 77% dos
empregos no campo (Santos, Silva, 2017).
A agricultura familiar em Rondônia se caracteriza por uma ampla variedade de
sistemas de produção, incluindo cultivos de alimentos básicos, frutíferas, hortaliças,
cacau, café, milho, leite, criação de animais e agroindústrias, desempenhando papel
fundamental na segurança alimentar e na redução dos níveis de pobreza no estado
que chegou a 31% da população após a pandemia de covid19 (Silva et. al., 2019).
Essa modalidade de cultivo tem se mostrado eficaz na conservação dos recursos

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naturais e para a promoção da sustentabilidade ambiental (Santos et. al. 2017). Porém,
a agricultura familiar em Rondônia também enfrenta desafios significativos como o
acesso à linhas de crédito, assistência técnica e infraestrutura adequada, se fazendo
necessárias, políticas públicas capazes de promover tal acesso, como exemplo, além
do baixo percentual de destinação do crédito rural em relação aos médios e grandes
produtores, a assistência técnica oficial atende somente cerca de 25% do total de
propriedades rurais da agricultura familiar no estado (Lima et. al. 2018).
Em Rondônia, a população de produtores rurais é composta, em sua maioria,
por agricultores familiares, por esta razão, o governo dedica a maior parte de seus
programas a esse segmento. Na tabela 3 é possível visualizar as estratificações de
áreas destinadas às atividades rurais por estratos de 50 hectares.

Tabela 1 - Estratificação de áreas agrícolas em Rondônia


Estratificação de Quantidade de propriedades Percentual por
áreas por por estratificação de estratificação de
hectares área área
Até 50 72.260 54,89%

De 51 a 100 30.871 23,45%

De 100 a 200 16.311 12,39%

De 200 a 300 4.818 3,66%

De 301 a 500 3.159 2,40%

De 501 a 2.251 1,71%


1000
Acima de 1.975 1,50%
1000
TOTAIS 131.645 100,00%

Fonte: Estratificação fundiária, INCRA, 2017. Quantidade de propriedades, IDARON,


2017. Elaboração: SEAGRI, 2018.

O Governo do estado, por meio da Lei Estadual nº 2.412, de 18 de Fevereiro


de 2011, cria o Programa de Verticalização da Pequena Produção Agropecuária do
Estado de Rondônia, denominado PROVE, destinado à valorização do pequeno
produtor rural (Rondônia, 2011). O programa busca incentivar a diversificação da
produção agrícola, agregação de valor aos produtos e a criação de canais de
comercialização direta entre produtores e consumidores.
Assim, por meio do Programa de Verticalização os agricultores familiares
podem agregar valor aos seus produtos, transformando-os em alimentos
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processados, como geleias, conservas, sucos, entre outros, e comercializá-los
diretamente aos consumidores.
Como estabelecido no art. 2º da lei supracitada, o PROVE-RO se baseia na
parceria entre instituições governamentais, organizações não-governamentais,
pequenos produtores rurais, cooperativas ou associações. De forma mais ampla, o
programa busca estabelecer parcerias entre produtores, consumidores, poder público
e instituições de pesquisa e extensão rural, visando a troca de conhecimentos e o
fortalecimento da cadeia produtiva da agricultura familiar aplicada à
agroindustrialização e a comercialização destes produtos com preços melhores.

Figura 3 – Programa de Verticalização da Pequena Produção Agropecuária

Fonte: SEAGRI, 2020.

A figura 3 apresenta um recorte temporal da evolução do programa onde as


agroindústrias familiares são fortalecidas melhorando o processo produtivo, qualidade
do produto, embalagens e a comercialização para o mercado consumidor, desde a
comercialização para o comprador privado quanto à participação nos programas de
compras públicas, tais como: PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE
(Programa Nacional Alimentação Escolar) que contribuem para a garantia de emprego
e renda para o setor. Com isso, foi possível alcançar um aumento de 149% na
regularização das agroindústrias em Rondônia nestes cinco anos.

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3 METODOLOGIA

Enquanto caminho reflexivo, crítico, sistemático e formal o uso do método


científico permite se conhecer a realidade e buscar novos conhecimentos avançando
assim no processo científico (ANDER-EGG, 1978).
Essa pesquisa de abordagem qualitativa, com finalidade exploratória e
descritiva busca analisar a transformação ocorrida na agricultura familiar de Rondônia
e, vivenciada por todos os seus atores sociais, para então, compreender o novo
cenário delineado no estado, que contempla, contemporaneamente, o uso de
tecnologias sustentáveis. Quanto ao seuprocedimento, a pesquisa se caracteriza como
estudo de campo, valendo-se também da pesquisa documental e da observação
participante, a partir de um plano de ação.
Como pesquisa exploratória os dados foram coletados junto ao Governo do
Estado de Rondônia, mais especificamente junto à Secretaria de Estado da Agricultura
no período de 1916 a 1920. A pesquisa exploratória busca desenvolver, esclarecer e
ou modificar conceitos e ideias com a finalidade de formular, com maior precisão,
problemas ou hipóteses para estudos posteriores (Gil, 2008).
A coleta de dados se deu a partir da observação participante junto à Secretaria
de Estado da Agricultura e na inter-relação com outros órgãos governamentais
pertinentes e a partir do estudo dos documentos relacionados ao tema de estudo.

3.1 A SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA DE RONDÔNIA

A Secretaria de Estado da Agricultura de Rondônia (SEAGRI) tem sede em


Porto Velho, capital do Estado e, está instalada no complexo administrativo do
Governo do Estado de Rondônia, denominado, Palácio Rio Madeira, não tendo
unidades no interior do Estado de Rondônia. Conta com 205 servidores públicos entre
efetivos da casa e cedidos de outros órgãos, além de comissionados com vínculo e
sem vínculo distribuídos nas áreas administrativas e finalísticas.
Nos termos do art. 87 da Lei Complementar nº 827, de 15 de julho de 2015, é
de competência da Secretaria de Estado da Agricultura, “formular, executar e
supervisionar a política voltada ao desenvolvimento agropecuário, pesqueiro, florestal
e agroindustrial” no Estado de Rondônia. Nos incisos do art. 87 a competência da
SEAGRI é subdividida em 17 atribuições que asseguram o desenvolvimento
agropecuário, pesqueiro, florestal, agroindustrial do Estado (RONDÔNIA, 2015).
A SEAGRI, a partir de seus principais programas e nos termos de seu Plano
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Plurianual busca os seguintes objetivos:
Desenvolvimento da atividade agropecuária: Melhorar a produção e produtividade
agropecuária do estado de Rondônia, implementando a adoção de tecnologias de
manejo e insumos, fomentando a organização da produção com qualidade
Agroecologia e produção orgânica: Ampliar e fortalecer a produção orgânica e de
base agroecológica, tendo como público prioritário Agricultores/as Familiares,
Assentados/as da Reforma Agrária, Povos e Comunidades Tradicionais; e também
aumentar a capacidade de geração e socialização de conhecimentos em agroecologia
e produção orgânica promovendo a valorização e o intercâmbio do conhecimento, da
cultura local e da internalização da perspectiva nas instituições e ambientes de ensino,
pesquisa e extensão;
Programa de acesso à terra crédito fundiário: Promover o acesso à terra para
famílias de agricultores sem terras, trabalhadores rurais, filhos de agricultores, jovens,
mulheres e negros que tenham vínculo com a agricultura familiar;
Desenvolvimento da agricultura familiar: Fortalecer a agricultura familiar.
Aumentar a participação dos produtores na comercialização de produtos
agropecuários, bem como, aumentar o percentual de produtos oriundos de
comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e demais populações que vivem da
agricultura, nos centros de comercialização; Cadeia produtiva da aquicultura e
pesca: Ampliar a produção de pescado do estado de Rondônia; e
Verticalização da produção agroindustrial - PROVE Rondônia: Alcançar índices
satisfatórios na produção, quanto a produtividade e qualidade, visando criar e ampliar
novas oportunidades de comercialização e a implantação e legalização de
agroindústrias.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A política empreendida para o desenvolvimento do agronegócio e do


fortalecimento da agricultura familiar, muito embora tenha a Secretaria de Estado da
Agricultura como mantenedora desta frente de atuação, recebe influência de outros
órgãos com ações complementares importantes como os licenciamentos ambientais,
fomentos, crédito rural, assistência técnica, pesquisa, inovação e comercialização.
O público alvo desta política pública tem em sua maioria a agricultura familiar
representando 85% do total de 156 mil propriedades que dentre as diversas ações
desta política, há programas setoriais, como a piscicultura que ao longo de 10 anos, a

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contar de 2011, Rondônia se tornou o maior produtor de tambaqui em cativeiro do país,
alcançando em seu ápice cerca de 100 mil toneladas em um ano com cerca de 5 mil
piscicultores, porém, houve significativo declínio reduzindo tanto a produção quanto o
número de produtores pela metade, e atualmente há esforço conjunto das instituições
que atuam setor para recuperar os melhores patamares.
Na pecuária de leite, as ações são incentivas com fomento do Fundo Proleite
que contribuiu com aquisição de animais geneticamente melhores, nutrição animal,
transporte de calcário para melhoria do solo, agroindústrias familiares e lacticínios,
onde beneficiou cerca de 25 mil propriedades, e em especial as agroindústrias
familiares de derivados de leite que chegam a representar cerca de 20% dos
empreendimentos do PROVE-RO.
Na cafeicultura, o resultado foi muito relevante, pois houve significativo
aumento na produção sem aumento a área plantada, com cerca de 17 mil
propriedades, café de Rondônia saiu de um baixo patamar de qualidade para ser
referência em qualidade sensorial e qualidade da bebida se destacando em diversos
concursos de qualidade. Fruto do investimento em pesquisa, inovação e ações
conjuntas, o café de Rondônia é a única indicação geográfica de canéfora do mundo,
registrado junto ao INPI e hoje alcança um valor bruto de produção na ordem de R$
2,4 bilhões, saindo da quinta para a terceira principal cadeia produtiva do agronegócio
do estado.
Para ajudar no fortalecimento destas cadeias produtivas, a SEAGRI incentivo
com distribuição de cerca de 3 milhões de mudas de café por ano para os agricultores
familiares e também com o transporte do calcário para melhoria do solo, com cerca
de 65 mil toneladas beneficiando 26 mil famílias rurais.
Uma outra ação estruturante muito importante foi o programa de mecanização
que investiu cerca de R$ 170 milhões na aquisição de 1553 equipamentos agrícolas
e caminhões para melhoria da infraestrutura produtiva e logística da produção nos
municípios, que foi deste a mecanização na propriedade quanto na melhoria dos
acessos para escoamento da produção, beneficiando os 52 municípios, onde o uso
era exclusivo para a zona rural.
Uma etapa muito importante que possibilitou melhores condições de mercado
para a agricultura familiar foi o processo de agroindustrialização que contribuiu para a
melhoria do preço do produto e da participação no mercado, desde a participação em
feiras de negócios para apresentá-los quanto para atender ao mercado nas condições

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adequadas.
Desta forma, a polícia de desenvolvimento do agronegócio, sobretudo, do
fortalecimento da agricultura familiar em Rondônia está em forte processo de
aceleração, o que em muito contribui para a economia de forma quanto na geração de
renda no meio rural.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto estadual, o agronegócio ostenta a mais alta importância, como


evidenciado pelo crescimento médio superior a 6% no valor bruto da produção tanto
agrícola quanto pecuária nos últimos cinco anos, representando aproximadamente
30% do Produto Interno Bruto (PIB) de Rondônia. É perceptível que a pecuária de corte
lidera com 57% do Valor Bruto da Produção, seguida pela soja com 13% e o milho
com 6,6%. Adicionalmente, vale ressaltar o incremento de 4% na produção de café e
a impressionante elevação de 30% na produção de cacau. Nesse contexto, em que a
demanda global por alimentos persiste em ascensão, o agronegócio emerge como
uma oportunidade crucial para contribuir para o desenvolvimento econômico, não
apenas regional, mas também nacional.
A agricultura familiar em Rondônia desempenha um papel fundamental na
economia local, na segurança alimentar e na preservação ambiental. No entanto, essa
atividade enfrenta desafios significativos, como a inacessibilidade a tecnologias
inovadoras e a falta de reconhecimento político. Para superar esses desafios e
garantir o progresso da agricultura familiar, é necessário investir em pesquisas e
políticas públicas adequadas.
Essas medidas devem promover o acesso a tecnologias sustentáveis, o
reconhecimento da relevância da agricultura familiar e a formulação de políticas
públicas que incentivem a atividade. A implementação de tecnologias sustentáveis é
uma promissora alternativa para a agricultura familiar em Rondônia.
Essas tecnologias podem contribuir para o aumento da produtividade, a
preservação ambiental e a segurança alimentar. Recomendações Com base nas
considerações finais, recomenda-se que os seguintes passos sejam tomados para
promover o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar em Rondônia: Investir
em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis
O desenvolvimento de tecnologias sustentáveis é essencial para aumentar a
produtividade da agricultura familiar sem comprometer o meio ambiente. O governo e

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a iniciativa privada devem investir em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias
que sejam adaptadas às condições do Estado. Reconhecimento da relevância da
agricultura familiar A agricultura familiar é um setor importante da economia de
Rondônia.
O governo deve reconhecer a relevância desse setor e formular políticas
públicas que o incentivem. Formulação de políticas públicas que incentivem a
agricultura familiar O governo deve formular políticas públicas que incentivem a
agricultura familiar, como o acesso a crédito, assistência técnica e seguro agrícola.
Essas políticas devem ser orientadas para o desenvolvimento sustentável da
atividade. A implementação dessas recomendações contribuiria para o
desenvolvimento sustentável da agricultura familiar em Rondônia, promovendo o
crescimento econômico, a segurança alimentar e a preservação ambiental.

REFERÊNCIAS

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agricultura familiar. Revista Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia, 14(3),
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Lima, D. M. et. al. Desafios e perspectivas da agricultura familiar na Amazônia.


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Mattos, L. A., et. al. Agronegócio, Desenvolvimento Regional e Redução das


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Rondônia. Lei ordinária nº 2.412, de 18 de Fevereiro de 2011. Cria o Programa


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denominado PROVE.

RONDÔNIA Lei Complementar nº 827, de 17 de julho de 2015. Dispõe sobre a


estruturação organizacional e o funcionamento da Administração Pública Estadual,
extingue, incorpora órgãos do Poder Executivo Estadual e dá outras providências.
Sec. IX, art. 87. Estabelece a competência de atuação da Secretaria de Estado da
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