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AGROECOLOGIA BRASILEIRA NO MARCO DO PLANO NACIONAL DE

AGROECOLOGIA E PRODUÇÃO ORGÂNICA: CENÁRIO ATUAL,


PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Hélio Orlando Menegueli¹, Jéferson Luiz Ferrari², Haloysio Miguel de Siqueira³,


Wallace Luís de Lima², Atanásio Alves do Amaral²

1 Engenheiro Agrônomo com Especialização em Agroecologia, Alegre, ES, Brasil. E-


mail: helio@organicaconsultoria.com.br
2 Professor Titular-Livre, Curso de Pós-Graduação em Agroecologia, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre,
Alegre, ES, Brasil
3 Professor Doutor, Universidade Federal do Espírito Santo – Centro de Ciências
Agrárias, Alegre, ES, Brasil
4 Professor Doutor, Curso de Pós-Graduação em Agroecologia, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre, Alegre, ES,
Brasil
5 Professor Titular-Livre, Curso de Pós-Graduação em Agroecologia, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre,
Alegre, ES, Brasil

Recebido em: 08/09/2015 – Aprovado em: 14/11/2015 – Publicado em: 17/12/2015

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo contribuir para o entendimento do cenário
atual da Agroecologia no Brasil, a partir da análise das estruturas operacional e legal
da política de apoio à Agroecologia, e dos desafios identificados nos eixos temáticos
estratégicos definidos pelo Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PLANAPO). Constata-se que no Brasil há recursos humanos, financeiros e
tecnológicos, conhecimento dos benefícios ambientais e aprovação pelo consumidor,
e uma das melhores estruturas políticas mundiais relacionadas à agroecologia.
Entretanto faltam ferramentas para o monitoramento da implementação do
PLANAPO, para que os resultados sejam satisfatórios.
PALAVRAS-CHAVE: agricultura familiar, desenvolvimento rural, políticas públicas

BRAZILIAN AGROECOLOGY IN THE LANDMARK OF THE NATIONAL PLAN OF


AGROECOLOGY AND ORGANIC PRODUCTION: CURRENT SCENERY,
PROSPECTS AND CHALLENGES

ABSTRACT
This paper aims to contribute to the understanding of the current scenery of
agroecology in Brazil, based on the analysis of operational and legal structures of the
agroecology support policy, and challenges identified in the strategic themes defined
by the National Plan of Agroecology and Organic Production (PLANAPO). It appears
that in Brazil there are human, financial and technological resources, knowledge of
the environmental benefits, adoption by the consumer, and one of the best world's
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policy frameworks related to agroecology. However, lack the tools for monitoring the
implementation of PLANAPO so that the results are satisfactory.
KEYWORDS: public policies, familiar agriculture, rural development.

INTRODUÇÃO
Os impactos negativos provocados pelo uso inadequado dos recursos
naturais fizeram com que a humanidade se preocupasse com os efeitos do modelo
convencional de produção agropecuária. Problemas como a erosão, a desertificação
e a salinização dos solos, o aumento da incidência de pragas e doenças, a poluição
do ar e da água e a contaminação dos alimentos, entre outros, ligados ao modelo
convencional de agricultura são crescentes, no Brasil e no mundo, reduzindo a
qualidade de vida da população. Diante dessa realidade, surgiu a preocupação em
buscar formas alternativas de produção agrícola, capazes de torná-la mais
sustentável. A Agroecologia veio de encontro a esse problema, proporcionando as
bases científicas para o processo de transição dos modelos agrícolas convencionais
para modelos de base ecológica (AMARAL, 2011; FOLEY et al., 2011; KAMIYAMA,
2011; ADL, 2011; BARBOZA et al., 2012).
O processo de desenvolvimento e a modernização da agropecuária no Brasil,
conhecido como revolução verde, foi baseado na obtenção de altas produtividades
às custas de insumos químicos e da artificialização do processo produtivo
(OCTAVIANO, 2010), aumentando desordenadamente o custo de produção e
tornando o sistema agrícola convencional a cada ano menos sustentável, sobretudo
no equilíbrio entre produção, preservação e manutenção dos recursos naturais. Isso
sem contar a redução da capacidade econômica dos agricultores e a redução do
balanço energético, entre o que entra no sistema e o que é produzido,
comprometendo a sustentabilidade. Como exemplo, no Brasil gastam-se 2,6 kcal ao
produzir 1,0 kcal de alimentos. Nos países desenvolvidos já estão gastando mais de
5,0 kcal: os EUA gastam 9,0 kcal e o Japão, 12,0 kcal (ALMEIDA 2005, citado por
SOUZA et al., 2008). O gasto de toda essa energia, em sua maioria baseada em
combustíveis fósseis não renováveis, sustenta o lema “produzir a qualquer custo”.
Quanto mais a demanda energética aumenta, mais aumenta a necessidade do
emprego de agrotóxicos e adubos químicos, e vice-versa.
O uso dos agrotóxicos e adubos químicos, quando não respeita a legislação
pertinente, compromete não somente a saúde do agricultor, mas também a saúde
dos consumidores das cidades, ao consumirem a água e alimentos contaminados.
Toda a cadeia produtiva e também o agroecossistema ficam contaminados (SILVA et
al. 2014). Outra questão em discussão é a relação entre produção de alimentos-
consumo-recursos naturais, pondo em questionamento a sustentabilidade do atual
modelo, como também a capacidade de sistemas agroecológicos serem produtores
de alimentos em quantidade suficiente para o abastecimento das necessidades
humanas. Este tema nos remete a aprofundar o debate em torno da segurança
alimentar e nutricional, ou seja, é necessário prover alimentos para a humanidade,
não somente em quantidade, mas também com qualidade, sem comprometer o
fornecimento às gerações futuras (MALUF & MENEZES, 2015).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), a segurança alimentar é o fornecimento adequado de alimentos e da
disponibilidade alimentar. Isto significa estabilidade de mantimentos e acesso à
comida e ao consumo por todos. De acordo com a FAO, a segurança alimentar é
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conseguida “quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico e
econômico à comida nutritiva e segura, em quantidade suficiente e adequada às
suas necessidades dietéticas e preferências alimentares, para uma vida ativa e
saudável” (FAO, 2014, p. 16).
No Brasil, o termo segurança alimentar e nutricional está amparado na Lei nº
11.346 de 19/09/2006 (BRASIL, 2006), que, no Art. 3º, assim conceitua:

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito


de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade,
em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares
promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que
sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.

Como exposto anteriormente, a agropecuária, quando praticada do modo


convencional, não é sustentável, e nesse sentido, há necessidade de se ter uma
visão socioambiental, para que o aumento da produtividade não comprometa os
recursos naturais e a qualidade de vida.
O processo de crítica do modelo convencional, passando a considerar a
sustentabilidade e a manutenção dos recursos naturais na prática da agropecuária,
levou a novas definições sobre o desenvolvimento do sistema produtivo, que
culminaram no desenvolvimento da ciência agroecológica, fundamentada em
princípios de sustentabilidade ambiental, econômica e social. De acordo com essa
ciência, o desenvolvimento do sistema de produção está relacionado ao uso de
técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades
rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização
dos benefícios sociais e a minimização da dependência de energia não renováveis e
a inexistência da relação simplista entre produtividade e uso obrigatório de produtos
industriais como máquinas, adubos químicos e agrotóxicos (BAGIATIS & OXOUZI,
2011; SERPA, 2012).
É preciso repensar a base da agronomia, superando a lógica apenas química
e mecânica para a ecologia aplicada a produção agrícola, pois a sociedade
testemunha o fim da era do uso ilimitado dos recursos naturais, tornando-os a cada
dia mais escassos e menos viáveis para uso na agricultura. Dentre os recursos
naturais mais críticos podem ser citados as reservas de petróleo, de potássio, de
fósforo e de água doce, esta última tendo problemas de escassez e contaminação.
No entanto, para se efetuar as mudanças na base produtiva agropecuária, é
necessário que haja “mudança de paradigmas, e estes são reflexos de mudanças de
valores” (CAPRA, 1994). Para isso é necessário um trabalho de longo prazo, muitas
vezes por mais de uma geração.
Nos últimos anos, a agroecologia tem ocupado um espaço de destaque nas
mídias, sempre relacionada à qualidade de vida, alimentos sadios, inclusão
sociocultural, conservação ambiental, redução de impactos negativos da
agropecuária sobre os recursos naturais (AZEVEDO & PELICIONI, 2011), o que a
torna um importante instrumento de marketing de empresas privadas, organizações
não governamentais e poder público. Ter o nome relacionado a este segmento faz
bem para a imagem e aceitação pela opinião pública.
É importante frisar também que o entendimento do que é agroecologia e qual
o seu papel no desenvolvimento agropecuário ainda não é consensual, tendo
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diferentes interpretações do conceito, associando-a a um conceito de sistema de
produção e/ou produção ecológica e/ou tecnologia agrícola o que leva a uma visão
reducionista do arcabouço teórico e potencial, para fundamentar a promoção do
desenvolvimento rural sustentável, sem o comprometimento dos recursos naturais e
culturais para as futuras gerações.Segundo dados do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2014), a análise do Cadastro Nacional de
Produtores Orgânicos mostrou um incremento substancial do número de praticantes
desta modalidade. O número de unidades produtivas aumentou em 22%, tendo
também aumento do número de organismos de avaliação da conformidade orgânica,
credenciados e inscritos no MAPA, por meio das Organizações de Controle Social
(OCS), dos Sistemas Participativos de Garantia da Qualidade Orgânica (SPG) e da
Certificação por Auditoria. Credita-se este aumento à diversidade de mecanismos de
controle e avaliação, previstos na lei nº 10.831 de 23/12/2013 e no decreto de
regulamentação nº 6.323 de 23/12/2007 e demais instrumentos da legislação
brasileira que trata da regulamentação da agricultura orgânica no Brasil.
Em 2012, além dos produtores certificados por auditoria externa, o Brasil
contava com cerca de 5.500 produtores atuantes segundo as diretrizes dos sistemas
orgânicos de produção, organizados através de 79 Organizações de Controle Social
(OCS) e 04 (quatro) Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade
(OPAC). Em 2013, foram contabilizados 6.719 produtores orgânicos, organizados
em 163 OCS e 11 OPAC (MAPA, 2014). criação destes mecanismos facilitou o
acesso dos produtores aos mecanismos de avaliação de conformidade, porque
diminuiu a distância entre produtor e organismo avaliador e pode ocorrer a redução
dos custos monetários.
O presente trabalho teve como objetivo contribuir para o entendimento do
cenário atual da agroecologia no Brasil, incluindo os desafios e as perspectivas, a
partir da análise da estrutura operacional da política de apoio à agroecologia, da
estrutura legal e da regulamentação, e dos desafios identificados nos eixos
temáticos estratégicos definidos pelo PLANAPO.

AGROECOLOGIA: UMA BREVE REVISÃO CONCEITUAL


O termo agroecologia foi utilizado pela primeira vez em 1928, pelo agrônomo
russo Bensin, para descrever a utilização de métodos ecológicos na pesquisa sobre
plantas cultivadas comercialmente. O termo também foi utilizado pelo zoólogo
alemão Friederichs, em 1930, e pelo zooecólogo alemão Tischler, em 1965. Esses
três autores utilizaram o termo agroecologia para definir o uso da ecologia na
agricultura (WEZEL et al., 2009). Segundo GLIESSMAN (2005), após a segunda
guerra mundial, os ecologistas e os agrônomos mantiveram seus estudos
separados, até que, em 1969, o ecologista norteamericano Eugene P. Odum,
sugeriu o termo agroecossistema, referindo-se aos ecossistemas cultivados
(ALTIERI, 2012). A criação do termo agroecossistema fez com que os ecologistas e
os agrônomos se juntassem e o termo agroecologia voltou a ser utilizado, na década
de 1970 (WEZEL et al., 2009).
A agroecologia pode ser entendida como disciplina científica, como prática
agrícola ou como política ou movimento social. Na Alemanha, a agroecologia é
entendida apenas como ciência. Nos Estados Unidos e no Brasil, os três significados
são encontrados, predominando o primeiro, nos Estados Unidos, e os dois últimos,
no Brasil. Nos Estados Unidos, a agroecologia emergiu como ciência, no início da
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década de 1960, e se consolidou na década de 1970 (WEZEL & SOLDAT, 2009;
WEZEL et al., 2009; TITTONELL, 2015). No Brasil, a agroecologia emergiu como
modalidade de agricultura, na década de 1970 (GLIESSMAN, 2007; WEZEL et al.,
2009) e ganhou força, na década de 1980, devido aos movimentos sociais de
agricultores preocupados com os problemas gerados pela agricultura convencional
(WEZEL et al., 2009; AMARAL, 2011). No ano de 2006, a agroecologia foi
reconhecida oficialmente como ciência pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA, 2006; WEZEL et al., 2009).
A incorporação do conhecimento empírico, acumulado pelas comunidades
tradicionais ao longo dos anos, sobre o ambiente e o manejo dos recursos naturais
nos processos produtivos agropecuários, ao conhecimento científico, constitui a
base da ciência agroecológica (CAPORAL, 2011). Segundo Miguel Altieri, Stephen
Gliessman, Richard Noorgard, Eduardo Sevilla Guzmán, Victor Manuel Toledo e
Enrique Leff, todos citados por CAPORAL & COSTABEBER (2000), a Agroecologia é
uma ciência ou disciplina científica de caráter multidisciplinar, com uma série de
princípios, conceitos e metodologias que possibilitam estudar, analisar, dirigir,
desenhar e avaliar agroecossistemas.
Nesse trabalho, considerou-se a Agroecologia como uma ciência em
construção, com características multidisciplinares e relações complexas. Inclusive
com a incorporação do conhecimento tradicional, validado por metodologias
científicas, na maioria das vezes por meio de métodos não convencionais e de forma
participativa. A agroecologia oferece as bases teóricas para o redesenho dos
agroecossistemas, ampliando o enfoque para além do campo ecológico, ao também
considerar o social, cultural e econômico, encerrando-se numa estratégia de
desenvolvimento rural sustentável. Além disso, pressupõe que as transformações
almejadas no meio rural vão ocorrer como parte das lutas políticas dos agricultores
familiares.
No processo de transição agroecológica, entendido como a conversão de
sistemas agrícolas convencionais em agroecológicos, podem ser identificados três
níveis, conforme a concepção de GLIESSMAN (2005). No primeiro nível, ocorreria a
redução do uso de insumos externos, caros, escassos e ambientalmente
impactantes, que maximizam a eficiência das práticas convencionais. No segundo,
ocorreria a substituição de insumos químico-sintéticos por insumos orgânicos e
práticas alternativas. E no terceiro, seriam redesenhados os sistemas produtivos
para que passassem a funcionar com base em um novo conjunto de processos
ecológicos, sendo o expressivo aumento da biodiversidade um dos principais
indicadores.Esses passos correspondem ao que MATTOS (2006) designou de
transição interna ao sistema produtivo. Esse autor acrescenta a ideia da transição
externa, referindo-se a determinadas condições mais amplas a serem trabalhadas
pela sociedade e pelo Estado, as quais incluem:

a expansão da consciência pública, a organização dos mercados e


infraestruturas, as mudanças institucionais na pesquisa, ensino e
extensão, a formulação de políticas públicas com enfoque
agroecológico e as inovações referentes à legislação ambiental
(SIQUEIRA, 2011, p. 33).

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ESTRUTURA OPERACIONAL DA POLÍTICA DE APOIO À AGROECOLOGIA
No ano de 2012, foi definida a Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (PNAPO), através do Decreto nº 7.794 de 20/08/2012 (BRASIL, 2012),
onde foram estabelecidas as diretrizes, os instrumentos e as instâncias de apoio ao
setor. A política está sob a gestão da Câmara Interministerial de Agroecologia e
Produção Orgânica (CIAPO), composta por 10 ministérios e a Comissão Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), formada por 28 membros, sendo 14
representantes do poder público e 14 representantes da sociedade civil (Quadro 1).
A CNAPO tem também a função de contribuir com o processo de regulamentação do
setor, analisando e encaminhando ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), pareceres relacionados ao Sistema Brasileiro de Avaliação
da Conformidade Orgânica.
A CIAPO, juntamente com a CNAPO, fez uma ampla discussão e construiu o
Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), marcando o
compromisso do Governo Federal com a ampliação e a efetivação de ações que
devem orientar o desenvolvimento rural sustentável. O PLANAPO está inserido no
Plano Plurianual (PPA) e na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2013-2015 (CIAPO,
2013).
• Regra básica: Somente pode ser utilizado por agricultor familiar e suas
organizações representativas, atestada por órgão competente, comercializado
através de venda direta ao consumidor final ou atendimento aos Programas
Governamentais de aquisição de alimentos: Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A
propriedade tem que estar livre para receber visitas de consumidores e de
agentes do MAPA;
• Vantagem: Não há custo com certificadora externa.
• Desvantagem: Não poder utilizar o selo nacional e restringir a comercialização
dos produtos produzidos na unidade produtiva, através da venda direta.

Sistema brasileiro de avaliação da conformidade orgânica


No Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica há mais dois
mecanismos de controle da qualidade orgânica. A diferença é que nestes, os
produtos finais deverão obrigatoriamente receber o selo nacional de produção
orgânica, sendo facultativo o uso do selo do mecanismo de certificação utilizado. Os
mecanismos de avaliação da conformidade, reconhecidos pelo Sistema Brasileiro de
Avaliação da Conformidade, são os Sistemas Participativos de Garantia da
Qualidade Orgânica (SPG) e a Certificação por Auditoria (ABREU et al., 2004).

Sistemas Participativos de Garantia da Qualidade Orgânica


Este é o grande diferencial da regulamentação brasileira, pois ampliou o
conceito de avaliação de conformidade, antes desenvolvido por apenas um agente
de terceira parte independente – certificadora. Que no SPG, a garantia é fornecida
por um conjunto de agentes, quanto mais diversificado melhor e mais seguro,
portanto, permite-se a participação de produtores, consumidores, comercializadores,
entidades de apoio e fomento, enfim, todos que atuam na rede de produção
orgânica (ABREU et al, 2004; ROVER & LAMPA, 2013).

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QUADRO 1 – Composição da CIAPO e da CNAPO
CNAPO
CIAPO
SOCIEDADE CIVIL PODER PÚBLICO
Federação Nacional dos
Ministério do Secretaria Geral da
Trabalhadores e
Desenvolvimento Agrário Presidência da República
Trabalhadoras na Agricultura
(MDA) (SG/PR)
Familiar – FETRAFBRASIL
Secretaria Geral da Ministério da Agricultura,
Articulação Nacional de
Presidência da República Pecuária e Abastecimento
Agroecologia (ANA)
(SG/PR) (MAPA)
Movimento dos
Companhia Nacional de
Ministério da Fazenda(MF) Trabalhadores Rurais Sem
Abastecimento (CONAB)
Terra - MST
Ministério da Agricultura, Empresa Brasileira de
Associação Brasileira de
Pecuária e Pesquisa Agropecuária -
Agroecologia (ABA)
Abastecimento(MAPA) EMBRAPA
Confederação dos Ministério do
Ministério do Meio Ambiente
Trabalhadores na Agricultura Desenvolvimento Agrário
(MMA)
(CONTAG) (MDA)
União Nacional de
Ministério do Instituto Nacional de
Cooperativas da Agricultura
Desenvolvimento Social e Colonização e Reforma
Familiar e Economia
Combate a Fome(MDS) Agrária (INCRA)
Solidária (UNICAFES)
Rede Ecovida de
Ministério da Educação(MEC) Ministério da Saúde (MS)
Agroecologia
Agência Nacional de
Articulação Semiárido
Ministério da Saúde –(MS) Vigilância Sanitária
Brasileiro(ASA)
(ANVISA)
Ministério da Ciência,
Câmara Temática de Ministério da Educação
Tecnologia e Inovação
Agricultura Orgânica (CTAO) (MEC)
(MCTI)
Subcomissão Temática de Fundo Nacional de
Ministério da Pesca e
Produção Orgânica Desenvolvimento da
Aquicultura (MPA)
(STPOrg) Educação (FNDE)
Movimento de Mulheres Ministério da Ciência,
Camponesas do Brasil Tecnologia e Inovação
(MMC) (MCTI)
Ministério do
Movimento dos Pequenos
Desenvolvimento Social e
Agricultores (MPA)
Combate a Fome (MDS)
Ministério do Meio Ambiente
Rede Cerrado
(MMA)
Associação Brasileira das
Entidades Estaduais de Ministério da Pesca e
Assistência Técnica e Aquicultura (MPA)
Extensão Rural (ASBRAER)
Associação Brasileira de
Agricultura Familiar
Orgânica, Agroecológica e
Agroextrativista (ABRABIO).
Fonte: Decreto n.º 7.794, de 20/08/2012 (BRASIL, 2012), adaptado.

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Os SPG são implementados há décadas, principalmente, no sul do Brasil,
com a chamada certificação participativa, implementada pela Rede Ecovida de
Agroecologia, formada por agricultores familiares, técnicos e consumidores reunidos
em associações, cooperativas e grupos informais, que se juntam com pequenas
agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o
desenvolvimento da agroecologia (ABREU et al., 2004). A inserção dos SPG na
regulamentação foi uma demanda principalmente deste importante movimento. A
mudança do termo certificação participativa, para sistemas participativos de
avaliação da conformidade, vem de encontro ao atendimento aos requisitos
internacionais, sobretudo, os atuantes no movimento orgânico, como a Federação
Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM, 2004), que preconiza
a certificação como uma ação exercida por agente externo independente,
contrariando desta forma a certificação participativa, onde todos são
corresponsáveis pela geração da credibilidade (ABREU et al., 2004).
Regra básica: Ser pessoa jurídica; estar credenciada junto ao MAPA;
apresentar estatuto social ou declaração identificando o escopo de sua atuação;
apresentar o cadastro das unidades envolvidas; parecer favorável da Comissão de
Produção Orgânica da Unidade Federativa de sua atuação;
• Vantagens: Uso do selo nacional, podendo comercializar em todo o território
nacional e para todas as formas de comércio; redução do custo monetário
com avaliação da conformidade; maior possibilidade de intercâmbio de
tecnologias e de experiências; estimula a organização e o cooperativismo
entre os produtores; conhecimento sócio econômico da realidade e cultural do
produtor;
• Desvantagem: Sistema complexo exigindo um grande envolvimento e
comprometimento do agricultor; necessidade de entidades de apoio para a
organização e fomento; ainda não tem o reconhecimento internacional,
portanto, o mercado se restringe ao nacional.

Certificação por Auditoria


A Certificação por Auditoria consiste em um sistema de certificação
convencional reconhecido mundialmente, exercido por terceira parte independente,
chamada de certificadora. No sistema brasileiro, propositalmente, não há grandes
diferenças em relação aos exercidos por outros países, para facilitar um futuro
reconhecimento bilateral, possibilitando a comercialização de produtos certificados
pela legislação brasileira em países com legislações similares (ABREU et al., 2004).
• Regra básica: Ser pessoa jurídica; estar acreditada no Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e credenciada no MAPA,
identificando o escopo ou os escopos de atuação; apresentar equipe técnica
(auditores) e estrutura compatível com o escopo de atuação; apresentar
cadastro das unidades de produção já existentes ou declaração de
inexistência, caso esteja em início de atuação;
• Vantagens: Uso do selo nacional, podendo comercializar em todo o território
nacional e para todas as formas de comércio; possibilidade de exportar, caso
obtenha certificação internacional de acordo com o escopo de destino;
facilidade e agilidade na obtenção dos resultados, haja vista que, depende
apenas da certificadora e do produtor;

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• Desvantagem: Alto custo monetário; estimula o individualismo do produtor;
desconhecimento da certificadora e seu auditor das características locais e
culturais;
Vale ressaltar que as CPORG das unidades federativas (Figura 1), criadas
com o objetivo de organizar, fomentar, coletar as demandas da sociedade e
encaminhar aos órgãos competentes, tem tido uma atuação muito tímida e a cada
ano que passa, está tendo um desestímulo para a participação nessa importante
instância de governança da política de apoio à agroecologia (MAPA, 2015).

ANÁLISE DOS DESAFIOS IDENTIFICADOS NOS EIXOS TEMÁTICOS


ESTRATÉGICOS DEFINIDOS PELO PLANAPO
Para estar em consonância com a Política Nacional e seus instrumentos de
implementação, a análise e reflexões serão referentes aos quatro eixos definidos no
PLANAPO: produção, uso e conservação dos recursos naturais, conhecimento e
inovação tecnológica, e comercialização e consumo. Para a definição desses eixos,
levaram-se em consideração as questões prioritárias enfrentadas pelo agricultor na
tomada de decisão pelo processo de conversão agroecológica (CIAPO, 2013).

Produção
A FAO (CIAPO, 2013) aponta como um desafio para a agricultura o aumento
na produção de alimentos, como uma condição necessária, mas não suficiente, para
satisfazer as necessidades atuais e futuras. É preciso repensar a cadeia produtiva,
desde a redução dos impactos nos recursos naturais, até mesmo a redução e/ou
mudança da base produtiva e dos hábitos de consumo. Conhecer e respeitar as
características de uma planta ou a de um animal é mais importante do que a busca
de sua adaptação a qualquer custo, com o uso de altas doses de insumos químicos
sintéticos. A produção de alimentos seguros, limpos e com respeito à natureza é o
principal objetivo da agroecologia. Para alcançar esse objetivo é necessário não
somente repensar a base produtiva, mas também o resgate cultural de alimentos
adaptados a cada região (CIAPO, 2013).
.
Segundo os dados do IBGE (2011), a população rural foi reduzida em mais de
2,5 milhões de pessoas de 2000 a 2010, e destes, mais de 1 milhão são jovens, ou
seja, é necessário repensar a atuação da política agrícola voltada para o campo,
buscar inovações mais atrativas para os jovens e ações mais inclusivas e menos
penosas, que valorizem o agricultor. Nesse campo, a agroecologia tem se mostrado
uma excelente alternativa, pois busca o resgate e a valorização da condição de
agricultor.
Há um esforço de longa data dos movimentos sociais, principalmente das
Organizações Não Governamentais (ONG) para o incremento do número de
produtores e do volume produzido, mas os desafios relacionados à extensão do
conhecimento agroecológico e às dificuldades de acesso às políticas públicas
estabelecidas de apoio ao setor, não fornecem a segurança financeira, de
assessoramento, técnica e até mesmo emocional, necessárias para a conversão das
unidades produtivas (ROVER & LAMPA, 2013).
Os recursos previstos no PLANAPO somam mais de sete bilhões em três
anos. Entretanto, há muitas dificuldades de acesso, como a falta de preparo dos
agentes financeiros para análise e aprovação do crédito de projetos agroecológicos,
não há planilhas, matrizes, para a comparação, tornando o crédito burocrático e
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caro. Outro fator limitante, é o acesso a terra, às políticas públicas são omissas em
relação à questão do acesso a terra, em especial para os jovens rurais, não
contemplando mecanismos articulados com a política de reforma agrária (CIAPO,
2013).

FIGURA 1 – Representação esquemática do processo da Política Nacional de


Agroecologia e Produção Orgânica, abordada neste estudo
Fonte: Elaborado pelo primeiro autor.
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Uso e conservação dos recursos naturais
Talvez este seja o eixo mais fácil de ser justificado, pois, ao se aplicar de
forma correta os princípios agroecológicos, além da não agressão aos recursos
naturais existentes, promove-se um ambiente favorável à recuperação e à
recomposição do agroecossistema. No entanto, é necessário alertar que práticas
agroecológicas também podem impactar de forma negativa no ambiente, caso não
sejam implementadas de forma adequada (ASSIS & ROMEIRO, 2002).
O PLANAPO traz um conjunto de ações que visam a articulação com outras
iniciativas, como o Plano Nacional para Promoção das Cadeias de Produtos da
Sociobiodiversidade (PNPSB) e com o Programa Bolsa Verde (Instituto Florestal
Brasileiro e Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade) (CIAPO,
2013).
A agroecologia pode ser um instrumento para a adequação ambiental das
propriedades em produção, principalmente, no que se refere à água e ao solo. O
Novo Código Florestal instituído pela Lei nº 12.651 de 25/05/2012 (BRASIL, 2012),
traz o instrumento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que estabelece condições
diferenciadas para os diferentes perfis de agricultores, possibilitando o uso produtivo
das Áreas de Preservação Permanente (APP), por meio de sistemas agroflorestais,
desde que haja assistência técnica e sejam observados os critérios técnicos de
conservação do solo e da água.
No entanto, a conversão das unidades tem um primeiro desafio a ser
superado: a disponibilidade de material genético (sementes, mudas e raças
animais), que foram desenvolvidos, pesquisadas para uma realidade,
completamente contrária ao que se promove na agroecologia. Os materiais
genéticos disponíveis no mercado têm alto potencial produtivo. No entanto, não são
adaptados para serem produzidos em ambientes sem o uso de altas doses de
agrotóxicos, adubos químicos sintéticos e água. O agricultor, ao buscar a conversão
e utilizar estes materiais, muitas vezes tem problemas com ataque de pragas,
doenças e baixa produtividade, atribuindo o fracasso ao sistema agroecológico e
não ao uso inadequado da tecnologia. A construção do melhoramento genético
convencional associada a perda da autonomia genética pelos agricultores e ao uso
de insumos químicos, diante da formação de grandes oligopólios no setor das
sementes/agrotóxicos envolve processos de perda de variabilidade e diversidade
genética estabelecendo fortes processos de erosão genética e cultural (MACHADO,
2014).

Conhecimento e inovação tecnológica


Ao contrário do que se pensa, a prática da agroecologia exige um conjunto de
conhecimentos do agricultor, por se tratar de um sistema complexo e com diversas
interações, não se obtendo um padrão de comportamento linear e uniforme, como se
obtém na produção convencional. A necessidade do conhecimento da realidade do
agroecossistema, do histórico da propriedade, da região, do produtor, da família e da
comunidade é fundamental para o sucesso, tanto na conversão, quanto na
manutenção de sistemas agroecológicos (SIQUEIRA & SOUZA, 2013; MACHADO,
2014).
Há um conjunto de conhecimentos científicos que podem ser balizadores, na
conversão de um sistema produtivo. No Brasil, por exemplo, várias são as pesquisas
que apontam para a sustentabilidade dos sistemas agroecológicos (ALMEIDA et al.,
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 39 2015
2009; CASTRO et al, 2009; SOUZA et al. 2011; SOUZA & GARCIA, 2013). O
problema é que esses trabalhos estão sendo conduzidos em uma unidade de
pesquisa e a participação do agricultor nas inovações desenvolvidas é muito baixa.
Há muita informação e tecnologia sobre a aplicação da ciência agroecológica, no
entanto, ainda restritas aos centros de pesquisa, ficando pouco nas mãos do
agricultor.
Os movimentos agroecológicos, em sua maioria compostos por organizações
não governamentais, têm um papel crucial na adoção da pesquisa participativa,
onde a unidade do agricultor passa a ser o laboratório de pesquisa e passa a ser um
sujeito fundamental para o sucesso das pesquisas. Este trabalho é mais
desenvolvido no sul do Brasil, pela Rede Ecovida de Agroecologia, onde a ideia de
protagonismo do agricultor está mais consolidada (ABREU et al., 2004).
O PLANAPO traz um conjunto de ações para fortalecer as ações da
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), visando a enfrentar o desafio da
extensão e da pesquisa participativa. Desde 2003, já foi incorporada a temática da
agroecologia nos princípios, diretrizes e objetivos da Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (PNATER), sendo lançadas várias chamadas públicas
específicas para atendimento ao segmento. Os resultados deste trabalho são
tímidos, diante dos desafios apresentados, que resumidamente são: precariedade do
vínculo estabelecido (técnico-agricultor), devido a curto período de execução das
chamadas; foco excessivo nos produtos da chamada (resultado) e não no processo,
que pode demorar mais, devido à necessidade de assimilação, maturação e
implementação; descontinuidade da ATER; deficiências na formação dos
profissionais contratados; desarticulação com a pesquisa e com outras ações
estruturantes da propriedade e dos mercados (CIAPO, 2013).

Comercialização e consumo
Quando se trabalha com o conceito de comercialização direta (feiras livres,
mercados institucionais, agroturismo, etc.), há uma demanda maior do que a oferta
por produtos orgânicos e agroecológicos, ou seja, a comercialização deixou de ser
um problema, como no passado não muito distante em que esses produtos eram
discriminados. No entanto, o principal mecanismo de comercialização adotado é a
feira livre, que em muitos locais não são atrativas e não dão a devida segurança ao
consumidor final. Mesmo assim, nesses locais é possível a compra de produtos
orgânicos de qualidade, com preços mais acessíveis, pois, na maioria das vezes,
são comercializados diretamente pelo produtor, pela família e/ou pela organização
que o representa (ABREU et al., 2004; ROVER & LAMPA, 2013).
Na comercialização institucional, nos últimos anos, houve um grande avanço,
com a inserção dos produtos orgânicos nos programas de compras governamentais,
que são o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), os quais, além de priorizar a compra de produtos da
agricultura familiar, podem acrescentar até 30 % no preço especificado para os
produtos convencionais, se o produto for orgânico ou agroecológico (BRASIL, 2013).
No entanto, a implementação da legislação, principalmente quanto ao PNAE, tem
deixado a desejar. A legislação preconiza que os municípios devem utilizar no
mínimo 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Alimentação Escolar
(FNDE) na aquisição de produtos da agricultura familiar (BRASIL, 2009). Se essa
meta fosse cumprida, provavelmente toda a produção da agricultura familiar seria
escoada.
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 40 2015
No processo de comercialização indireto, a demanda é muito elitizada, porque
os envolvidos no processo esperam receber um prêmio pela qualidade orgânica e
que, quando a cadeia de envolvidos é muito longa, encarece de forma insustentável
os produtos. Não se deve descartar as possibilidades de exportação, pois o Brasil,
além de ser um país continental, com diversos climas, pode atender a mercados
especializados, com produtos orgânicos. Nesse caso, além de atender à legislação
do mercado de destino, tem-se que trabalhar para a agregação de valor ao produto.
O tema comercialização e consumo, descrito no PLANAPO, está em
conformidade com o processo de comercialização fomentado na agroecologia,
buscando a universalização do consumo, por meio de uma visão solidária,
progressiva com valores sociais/ambientais que fundamentam uma sociedade
sustentável. No PLANAPO, as ações estão inseridas no contexto de reforçar os
circuitos curtos de comercialização (mercados locais e regionais), mercados
institucionais e compras governamentais (CIAPO, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil tem uma das melhores políticas de apoio à agroecologia, mas a
inexistência de ferramentas de monitoramento da implementação nos deixa sem o
conhecimento da execução das mesmas. As políticas governamentais são
fundamentais para a expansão dessa atividade, especialmente nas unidades
familiares de produção, responsáveis pela oferta da maioria dos alimentos que
consumimos no nosso dia a dia, mas não estão sendo suficientes para atender aos
anseios dos agricultores, interessados na conversão para sistemas agroecológicos
de produção.
Outro fato que torna a agroecologia frágil na sua concepção prática são as
relações e interações complexas, não existindo modelos prontos, nem metodologia
fechada. Por isso, a pesquisa participativa, com o reconhecimento e a interação
entre o conhecimento popular e o conhecimento científico é primordial para sua
implementação.

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