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DESAFIOS DO FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA

ORGÂNICA NO BRASIL
LOPES DOS SANTOS, Felipe1
IRIAM ARTUZA, José Adolfo 2

Resumo
Segundo a legislação brasileira todo produto seja ele in natura ou processado
que é obtido em sistema orgânico de produção que o processo de extração ou
fabricação não seja prejudicial ao ecossistema local, este produto pode ser
considerado orgânico. O Brasil é um dos líderes nesse segmento, ele é o
quinto maior produtor de produtos orgânicos que vem crescendo no mercado
interno, onde a maior parte dessa produção destina-se à exportação. Sendo o
principal objetivo desta prática garantir qualidade dos alimentos e assegurar a
saúde dos consumidores em contraponto sem causar impacto na produção
rural. Esta que é um desafio por causa da falta de conhecimento e cultura que
defenda a disseminação dessa atividade agrícola. O Brasil é um país que vive
do lastro do agro, segundo a fundação Getúlio Vargas 25% do PIB brasileiro é
referente a esse meio econômico, porém se somado com as práticas industriais
e importação esse valor chega a aproximadamente 75%. Portanto por causa
desse peso econômico gerado qualquer modificação requer um estudo e um
levantamento para evitar mudanças bruscas no cenário econômico do país. E
por ter a agricultura ligada as práticas industriais onde quanto mais
produtividade maior o lucro que é uma das ferramentas do capitalismo, essa
prática dificulta expansão dessa cultura de plantio pelo país.

Palavras-Chave: Agroecologia. Agricultura. Alimentos. Organicos.

1
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2
(Fonte Arial 10, espaçamento simples).
Abstract
According to Brazilian legislation, any product, whether fresh or processed, that
is obtained in an organic production system where the extraction or
manufacturing process is not harmful to the local ecosystem, this product can
be considered organic. Brazil is one of the leaders in this segment, it is the fifth
largest producer of organic products that has been growing in the domestic
market, where the majority of this production is destined for export. The main
objective of this practice is to guarantee food quality and ensure the health of
consumers in contrast without impacting rural production. This is a challenge
due to the lack of knowledge and culture that supports the dissemination of this
agricultural activity. Brazil is a country that lives off agriculture, according to the
Getúlio Vargas Foundation, 25% of Brazilian GDP is related to this economic
environment, but if added to industrial practices and imports, this value reaches
approximately 75%. Therefore, because of this economic weight generated, any
modification requires a study and a survey to avoid sudden changes in the
country's economic scenario. And because agriculture is linked to industrial
practices where the more productivity the greater the profit, which is one of the
tools of capitalism, this practice makes it difficult to expand this planting culture
across the country.
Keywords: Agroecology. Agriculture. Foods. Organic.

1. INTRODUÇÃO
Em 1970 surgiu uma forte preocupação com a questão ambiental, e com
o desenvolvimento e a capacidade do planeta gerir seus recursos naturais
devido a crescente necessidade consumista das gerações presentes e futuras.
Governos, organizações e entidades não governamentais em parceria com
empresas públicas e privadas, começaram a procurar soluções para as
questões de degradação do planeta.
Esse enfrentamento à crise socioambiental que se apresenta requer
ações dos diversos setores da sociedade. Para tanto, os debates acerca da
sustentabilidade procuram identificar os papéis de cada setor. Nesse sentido,
evidencia-se a importância da agricultura, e, mais especificamente, da
agricultura familiar, tanto como propulsor da economia quanto para o
enfrentamento de problemas como a fome e a pobreza no mundo.
Nos anos 2000 no Brasil, através de políticas públicas voltadas a
agricultura familiar, foi feito um incentivo para que as famílias que plantavam
antes para sua própria subsistência pudessem produzir esses itens em caráter
produtivo, social e econômico, partir daí iniciou as primeiras práticas de
plantações orgânicas dentre outras tantas problemáticas presentes nas
dimensões social, econômica e ambiental da sustentabilidade.
Com o objetivo de potencializar as ações da agricultura familiar focado
no desenvolvimento sustentável, uma forma de resgatar as produções mais
sustentáveis por meio da produção orgânica e agroecológica. É válido ressaltar
que a produção orgânica está centrada na geração de alimentos livres de
agrotóxicos, enquanto a agroecologia está alinhada aos aspectos sociais e
culturais.
Portanto a agricultura familiar em linhas gerais, quanto ao aspecto dos
produtores que se dedicam a estas formas de produção mais sustentáveis,
contudo, necessitam de políticas públicas para se fortalecerem e alcançarem
seus objetivos. No Brasil, nos últimos anos, várias políticas públicas foram
instituídas com o foco na agricultura familiar, dentre elas a Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), que é destacada neste estudo.
Diante do exposto, procura-se refletir sobre a seguinte questão: Quais as
contribuições da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PNAPO) para o desenvolvimento da agricultura familiar sustentável?
2. REVISÃO DE LITERATURA
No ano de 2012 por meio da Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO) foi instituída com o objetivo principal de gerenciar
e adequar as diversas políticas públicas desenvolvidas pelo governo federal no
contexto que induzam a transição agroecológica e o fomento da produção
orgânica e de base agroecológica” (BRASIL 2012). Seu principal instrumento
de execução é o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PLANAPO). Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI
Congresso Brasileiro de Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2,
2020.

Agroecologia entendida como um estilo de agricultura pode ser mais ou


menos sustentável quando é capaz de atender, de maneira integrada, aos
seguintes princípios (REIJNTJES et al., 1992; GLIESSMAN, 2009): a) baixa
dependência de inputs externos e reciclagem interna; b) uso de recursos
naturais renováveis localmente; c) mínimo de impacto adverso ao meio
ambiente; d) manutenção em longo prazo da capacidade produtiva; e)
preservação da diversidade biológica e cultural; f) utilização do conhecimento
cultura da população local; g) satisfação das necessidades humanas de
alimentos e renda.

No Brasil, através do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e


Nutricional (CONSEA), Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e etc,
se intensificou o assunto acerca da comercialização dos produtos advindos
da agricultura familiar geralmente promove a agricultura orgânica, onde
esta vem ganhando grande dimensão nos últimos anos permitindo assim
discussões acerca da importância que refere o desenvolvimento
sustentável, ao tempo que contribui para a segurança alimentar e o
dinamismo econômico.
[...] A construção de redes alternativas passou a ser o foco
privilegiado da atenção de grupos sociais propondo que as
pessoas, as famílias, as comunidades, os territórios e o próprio
Estado reassumam a responsabilidade pelas práticas de
produção, distribuição e consumo [...] (NIEDERLE, 2013, p.05).
Outra forma que engrandece a agricultura orgânica e também a
familiar são as típicas feiras livre que é um mecanismo de comercialização
que coloca o agricultor em contato direto com o consumidor, acabando com
todas burocratizações e entremeios causados pela prática dos gigantes do
agronegócio. Assim, pode-se dizer que:

[...] percebe-se ainda hoje que as feiras livres têm desempenhado


um papel muito importante na consolidação econômica e social,
especialmente da agricultura familiar sob o ponto de vista do
feirante, representando também um espaço público, sócio-
econômico e cultural, extremamente dinâmico e diversificado sob
o ponto de vista do consumidor [...] (GODOY; DOS ANJOS, 2007,
p. 364).

Reportagem do g1 do globo que retrata bem o cenário brasileiro no


segmento de plantação orgânica. “Durante sabatina no Jornal Nacional, o ex-
presidente e atual candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou que o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é o maior produtor de
arroz orgânico da América Latina.”

3. METODOLOGIA

Foi realizado um estudo baseado em pesquisas bibliográficas em


artigos científicos e consulta das normas da ABNT. Foi utilizado também teses,
dissertações, livros, revistas, sites, dentre outros, relacionados como
fortalecimento e luta da implantação do plantio e venda de produtos orgânicos
no Brasil.

4. DESENVOLVIMENTO

Segundo a Embrapa o Brasil é o quinto maior produtor de produtos


orgânicos e a maior parte dessa produção destina-se a exportação. Sendo
assim comercializado com alto custo afastando o consumidor interno desse
nicho de produto. Esse segmento vem ganhando força no Brasil nessas últimas
décadas por causa do ganho de conhecimento da sociedade e a preocupação
com a qualidade do produto que está ingerindo.
A Revolução Verde baseada no uso de tecnologias de última geração e
focada no desenvolvimento técnico e científico e da biotecnologia objetivando
uma produção em massa de insumos aumentou significativamente a produção
agrícola e os índices econômicos. Com isso a tecnologia e o capital passou a
virar a moeda das grandes potências e passaram a subordinar, a natureza,
reproduzindo artificialmente muitas das condições necessárias à produção
agrícola, acreditando que as fontes primárias seriam inesgotáveis e que o
planeta assimilaria os resíduos indefinidamente (SANTOS; CÂNDIDO, 2013;
COELHO; BARROS; DAMASCENO, 2017; NOVAES SOUZA, 2018).

Tendo em vista o agronegócio é uma das mais importante atividades


econômica do Brasil, teve um crescimento alavancado nos últimos 30 anos e
sendo considerado um dos líderes mundiais na produção e exportação de
alimentos. A combinação dos fatores de extensão territorial cultivável e
qualidade dos produtos, sendo aprimorados desde meados da década de 1980
com o auxílio das inovações tecnológicas, são os motivos pelo qual o país se
encontra na liderança (DELGADO, 2012).

Por esse motivo relatado houve o uso discriminado de processos e


produtos que otimizassem e alavancasse a produção agrícola utilizando muitas
vezes de métodos que prejudicam o meio ambiente e provocam efeito
colaterais que é o exemplo de uso de agrotóxico em quantidades excessivas e
mutação genética a favor do agro em busca de produtos que atenda o conceito
do mercado que muitas vezes prejudica a saúde do consumidor e provoca
alteração e anomalia nos recursos naturais.

Promovendo assim, uma crise sócio ambiental agravada pelo uso


excessivo de agrotóxico na agricultura convencional que vem provocando
sérios danos à saúde da sociedade e do meio ambiente pelo fato também da
agricultura familiar está perdendo espaço para monocultura produtora de
commodities. Para Caporal (2009), a transição da agricultura tradicional para
agriculturas sustentáveis, por meio da agroecologia e da produção orgânica, é
uma forma de superar estes desafios e avançar em direção ao
desenvolvimento rural sustentável.
Portanto a agricultura Orgânica caracteriza-se pelo modelo de produção
que tem objetivo de reduzir impactos ambientais, uso de adubos químicos,
pesticidas ou organismos genericamente modificados conhecido como
transgênicos. Segundo o artigo 1º da Lei nº 10.831 de 23 de dezembro de
2003:

“Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele


em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos
recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade
cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade
econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização
da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível,
métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de
materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente
modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a
proteção do meio ambiente” (BRASIL, 2003).

Partindo destas ideias ressaltadas, o fortalecimento da agricultura


orgânica nos últimos anos se tornou essencial em busca de resgatar o meio
ambiente com práticas de preservação e cuidado com as formas de plantio e
administração dos produtos plantados. Tendo em vista que estes recursos e o
próprio solo são recursos finitos que devem ser preservados para evitar sua
extinção.

Porém ainda se encontra desafio para aumentar o crescimento desta


prática no Brasil, que na última década cresceu 4 vezes chegando a 20 mil
agricultores certificados. Apesar desses avanços os produtores rurais cobram
recursos para custear pesquisas nesse setor e esbarram no custo alto para se
produzir produto orgânico com pouco incentivo fiscal e falta de ajuda para
disseminar no mercado nacional e no exterior, sendo elas a simplificação de
tributos, a redução da burocracia, falta de insumos apropriados,
comercialização, assistência técnica e a logística.

Mesmo com esses desafios o que ainda fortalece a produção orgânica


nacional e sua expansão é a crescente demanda de consumidores cada vez
mais exigentes em termos de garantia de produtos e alimentos com alta
qualidade e livres de cancerígenos. O consumidor está cada vez mais
preocupado com que ingere devido a crescente doenças que atacam os
sistemas imunológico e outros tipos de doença provocadas pela alimentação
inadequada.

Portanto ainda é um desafio tornar a agricultura orgânica a principal


prática agrícola do país, para que isso ocorra é necessário que o país continue
investindo e dando incentivo aos produtores que são adeptos dessa prática e
também investir em pesquisas seja em universidades federais ou em
organizações da iniciativa privada.

Pois com dados bem fundamentados permitem mais embasamento para


convencer os produtores tradicionais que há práticas mais rentáveis para longo
prazo e que garante a oportunidade de plantio e colheita para gerações futuras
com mais qualidade de vida e sustentabilidade que agregada ao uso de
tecnologias garantem total eficiência sem perca de produtividade ou ganho
financeiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, é notório que no Brasil já há um avanço nos últimos 20


anos em relação ao crescimento da agricultura orgânica muito incentivada pela
prática de agricultura familiar e do movimento social MST. Porém ainda há
muito preconceito e falta de incentivo das entidades governamentais a essa
prática por isso é possível observar que a prática ainda é rudimentar de baixa
alcance produtivo.

Isso deve-se a grande hegemonia do agronegócio tradicional que foca


na produção em grande escala que tem como objetivo apenas fins lucrativos
sem revisitar as premissas da agroecologia que baseia a agricultura orgânica.
Mas em ressalva a todo esse cenário a criação de políticas de incentivo,
valorização das feiras livre e a abertura do mercado interno e externo a países
circunvizinhos permitirá o fortalecimento dessa atividade no Brasil.
REFERÊNCIAS

1. Brasil. Decreto no 7.794, de 20 de agosto de 2012. Institui a Política


Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Diário Oficial da União.
21 ago 2012.

2. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil).


Orgânicos: Projetos [internet]. Brasília (DF); 2015 [acesso em 13 nov.
2023]. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br.

3. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programas [internet].


Brasília (DF); 2015 [acesso em 13 nov. 2023]. Disponível
em: http://www.mda.gov.br.

4. BRASIL. Decreto nº 7.048 de 23 de dezembro de 2009. Dá nova


redação ao art. 115 do Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007,
que regulamenta a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que
dispõe sobre a agricultura orgânica. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
23 dez. de 2009b.
5. Assis RL. Desenvolvimento rural sustentável no Brasil: perspectivas a
partir da integração de ações públicas e privadas com base na
agroecologia. Econ. Apl. 2006;10(1):75-89.
6. CAPORAL, F. R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a
transição a agriculturas mais sustentáveis. In: CAPORAL, F. R. (Org.);
COSTABEBER, J. A.; PAULUS, G. Agroecologia: uma ciência do campo
da complexidade. Brasília, DF, 2009.
7. DELGADO, G. C. Do capital financeiro na agricultura à economia do
agronegócio: mudanças cíclicas em meio século (1965-2012). Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2012.
8. GODOY, W. I.; DOS ANJOS, F. S. A importância das feiras livres
ecológicas: um espaço de trocas e saberes da economia local.
Revista Brasileira de Agroecologia, v. 2, n. 1, 2007.
9. GLIESSMAN, S. R. Allelopathic interactions in crop-weed mixtures.
Journal of Chemical Ecology, v. 9, n. 8, p. 991-999, 1983. ______.
Agroecology: researching the basis for sustainable agriculture. New
York: Verlag, 1990.

10. G1-GLOBO. Agro.MST: maior produtor de arroz orgânico do Brasil,


movimento vive dificuldades para comercializar o grão. Disponivel
em:https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/09/01/mst-
maior-produtor-de-arroz-organico-do-brasil-movimento-vive-dificuldades-
para-comercializar-o-grao.ghtml. Acesso em 13 de nov. 2023.

11. NIEDERLE, P. A. Construção social de mercados e novos regimes de


responsabilização no sistema agroalimentar. Revista Agriculturas:
experiências em agroecologia, v. 10 - n. 2, p. 4-7 – jun. 2013.
12. REIJNTJES, C.; HAVERKORT, B.; WATERS-BAYER, A. Farming for the
future: an introduction to low-external-input and sustainable agriculture.
London: Macmillan Press, 1992.

13. SANTOS, J. G.; CÂNDIDO, G. A. Sustentabilidade e agricultura familiar:


um estudo de caso em uma associação de agricultores rurais. Rev. de
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