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A viabilidade comprovada de Outra

Agricultura
A ambiguidade do sistema industrial de produção também pode ser observada nos resultados sociais
e econômicos da crise em curso. O relatório O Estado de Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI,
sigla em inglês), divulgado pela FAO em setembro, informa que existem 805 milhões de pessoas
com fome no planeta. Petersen salienta que o número de famintos e subnutridos iguala-se ao de
pessoas sujeitas à epidemia de sobrepeso e obesidade – que muito frequentemente acompanha a
subnutrição. A insegurança alimentar é o elo mais evidente na articulação entre a crise econômico-
social e a crise ecológico-climática.
Essa análise do coordenador da AS-PTA soma-se aos dados do sociólogo Jean Ziegler ao informar
que a produção alimentar atual já é suficiente para alimentar cerca de 20 bilhões de pessoas num
planeta com sete bilhões de habitantes. Para Petersen, o paradoxo da fome e da abundância indica
“a existência de uma única crise, de caráter sistêmico complexo e multidimensional”.
A produção agrícola local, de base familiar, é o elo vital na conexão campo-cidade devido à
capacidade de ampliar o acesso ao alimento de qualidade e em quantidade; preservar a cultura; e
promover o desenvolvimento ambiental, social e econômico. O documento SOFI demonstra qual
modelo tem sido mais eficiente no enfrentamento dos desafios contemporâneos. O Brasil é
apontado como referência no combate à fome e se destaca a importante contribuição da Agricultura
Familiar para essa realidade. O diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa
Mundial de Alimentos (PMA), Daniel Balaban, ressalta que 70% do consumo interno do país é
proveniente dos pequenos agricultores. Ele afirma que esses trabalhadores largavam suas terras em
busca de emprego na cidade. Hoje, por meio de políticas de incentivo, permanecem no campo,
recebem capacitação técnica e têm garantia de venda dos seus produtos.
Francisco Caldeira, de 56 anos, é agricultor familiar em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de
Janeiro e vem participando do Projeto Alimentos Saudáveis nos Mercados Locais, realizado pela
AS-PTA, com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, na região
metropolitana do Rio de Janeiro. Francisco acompanha de perto a efetivação dessas políticas, entre
elas, a Lei Federal de Alimentação Escolar (11.497/2009) para o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), que abriu novos caminhos ao determinar que 30% da compra para as
refeições escolares seja adquirida da agricultura familiar local. Existem ainda muitos desafios para
efetivar essa legislação num município como Rio de Janeiro. Entretanto, após cinco anos de
aprovação da referida lei, os esforços para ampliar a oferta de alimentos locais e saudáveis na escola
– uma articulação da Rede Carioca de Agroecologia (RCAU), composta por mais de 30 entidades e
grupos – são uma das principais motivações dos agricultores da Zona Oeste da cidade que já
acessam essa política.
...

A Agricultura Familiar liga o cidadão ao seu alimento local, sua origem, identidade e memória.
Exercer um novo olhar sobre essa atividade é essencial para o desenvolvimento da cidade, com sua
complexidade e multidimensionalidade. Há a necessidade de preservar os recursos hídricos para
prover água de boa qualidade; proteger a fauna e a flora, servindo como atrativos para educação
ambiental e o lazer.

Esta matéria foi publicada originalmente no site da AS-PTA (http://aspta.org.br/)


http://outraspalavras.net/destaques/a-viabilidade-comprovada-de-outra-agricultura/

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