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1 Introdução
A agricultura familiar sustenta uma mudança cultural no meio rural, é altamente
dependente de políticas que promovam o seu desenvolvimento e sua viabilidade
econômica está relacionada a acesso a créditos de custeios e investimentos bem como
novas oportunidades de negócio, com necessidade de inclusão social e acesso a
informações e tecnologias.
A expansão agrícola exerce pressão econômica sobre a agricultura familiar,
pratica métodos e atividades de produção agrícola de maneira intensiva e de escala, com
a utilização de grande quantidade de insumos agropecuários, sendo responsável nos
últimos anos pelo aumento dos padrões de produção e produtividade. Seus avanços
tecnológicos marcam uma revolução histórica na agricultura brasileira, porém somente
ao alcance dos produtores mais capitalizados e com danos inestimáveis ao meio
ambiente pelo uso indevido da terra e recursos hídricos, grande utilização de insumos,
defensivos e alterações genéticas nas culturas.
Nesse contexto, estão inseridos os agricultores familiares, com técnicas menos
eficientes em suas propriedades do que as ditadas pelo padrão do agronegócio, com
dificuldades mercadológicas de integração e competitividade, pela sua baixa
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Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015
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capitalização e maior custo de produção, as vezes considerados como atrasados,
incapazes e ineficientes. Esses agricultores familiares, por terem estabelecimentos com
tamanho médio inferior aos organizados de forma patronal, podem ter maiores custos
em virtude da escala de produção, assim como de comercialização, tanto de insumos,
como da colheita. (IBGE, 2010)
Atualmente o Brasil enfrenta uma recessão econômica, com diminuições de
postos de trabalho desde o início de 2015, perda de poder aquisitivo da moeda, redução
de consumo e previsões pessimistas para o segundo semestre, afetando diretamente a
agricultura familiar, que representa um papel importante na segurança alimentar do país,
pelo fornecimento de alimentação básica a população. As incertezas também estão
relacionadas a crise política e ao cumprimento da meta fiscal 2015, com cortes no
orçamento que podem vir a prejudicar os investimentos governamentais no setor.
Diante desse contexto atual e como base para este estudo, será analisado o
relatório “Perspectivas Agrícolas 2015-2024” publicado pela Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em conjunto com a Diretoria de
Comércio e Agricultura da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). O documento dedica um capítulo à produção agropecuária
brasileira e este artigo tem como objetivo geral analisar as perspectivas apontadas no
documento com enfoque principal às necessidades voltadas a agricultura familiar,
demonstrando pontos relevantes que contribuem para o seu desenvolvimento rural
sustentável.
2 Agricultura familiar
É notória a importância da agropecuária no desenvolvimento econômico
brasileiro, o país é um dos maiores fornecedores de produtos agrícolas do mundo, capaz
de atender a crescente demanda, principalmente dos países asiáticos, porém a busca
pelos retornos financeiros originados pelo agronegócio vem pela contra mão da
agricultura familiar e a utilização dos recursos naturais.
O Estatuto da Terra pela Lei nº 4.504/64 define em seu artigo 4º parágrafo
segundo a agricultura familiar:
II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho,
garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área
máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente
trabalho com a ajuda de terceiros; (Lei nº 4.504/64)
Dentre as commodities agrícolas mais exportadas pelo Brasil está a soja, o milho
e o café, e de acordo com os dados do censo agropecuário 2006 a participação dos
estabelecimentos não familiares nesse mercado é bem superior a agricultura familiar, na
cultura da soja 24% dos estabelecimentos não são familiares, que concentram 83% da
área colhida e 84% da quantidade produzida, a quantidade de produção é de 2.651 kg/ha
contra 2.365 kg/ha da agricultura familiar; o milho aparece com 12% de
estabelecimentos não familiares, concentrados em 45% da área colhida e 54% da
quantidade produzida, com produção de 4.302 kg/ha contra 3.029kg/ha da agricultura
familiar; o café arábica apresenta produção em 20% de estabelecimentos não familiares,
concentrados em 60% da área colhida e 66% quantidade produzida, produção de 1.598
kg/ha contra 1.256 kg/ha da agricultura familiar.
Quanto ao trigo, o Brasil é tradicionalmente importador, pois há grande demanda
no mercado interno para a fabricação de farinha para panificação, exportando em
algumas épocas do ano o excedente, na sua cultura 31% de estabelecimentos não
familiares concentram 75% da área colhida e 79% da quantidade produzida, produzindo
1.821 kg/ha contra 1.479 kg/ha da agricultura familiar.
O arroz é uma dos cereais mais consumidos no mundo, o Brasil é auto-suficiente
em arroz, exportando atualmente 5% de sua produção, necessita de clima e tecnologia
específicos em seu cultivo, ou arroz irrigado, ou pré-germinado ou de sequeiro, sua
produção em 11% de estabelecimentos não familiares, concentra em 52% da área
colhida e 66% quantidade produzida, produção de 5.029 kg/ha contra 2.740 kg/ha da
agricultura familiar.
É verificada na produção de feijão a grande participação dos estabelecimentos
familiares, concentrando na cultura do feijão preto , 90% dos estabelecimentos são
familiares, com 84% da área colhida e 77% da quantidade produzida, produção de 831
kg/ha contra 1.288 kg/ha dos estabelecimentos não familiares; na cultura do feijão de
cor, 89% são estabelecimentos familiares, com 71% da área colhida e 54% da
quantidade produzida, produção de 686 kg/ha contra 1.459 kg/ha dos estabelecimentos
não familiares e o feijão fradinho com 84% de estabelecimentos familiares envolvidos
na sua produção, representando 87% da área colhida, produção de 506 kg/ha contra 643
kg/ha dos não familiares.
A cultura da mandioca é uma das mais comuns no território brasileiro, em vários
regiões é considerada de subsistência, porém apresenta importante papel econômico
pela produção de farinha, amido, consumo de mesa e seu uso na alimentação animal.
Não é uma cultura que exige um grande aparato tecnológico e cuidados excessivos,
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devido a estas características está presente massivamente em estabelecimentos
familiares, estes representam 91% dos estabelecimentos produtores, com área colhida de
89% e 87% da quantidade produzida, com produção de 5.770 kg/ha contra 7.541 dos
estabelecimentos não familiares.
Para Chiavenato (1994) todas as organizações devem ser analisadas sob o
aspecto de eficácia e eficiência, ao mesmo tempo:
Tabela 4 – Estabelecimentos que não obtiveram financiamento, por motivo da não obtenção, segundo a
agricultura familiar - Brasil - 2006
Falta de
Falta de Não sabe pagamento Medo de
Outro Não
garantia como Burocracia do contrair
motivo precisou
pessoal conseguir empréstimo dívidas
anterior
Familiar - Lei 11. 326 3.586.365 68.923 56.205 301.242 116.861 783.741 462.701 1.796.692
Não familiar 668.443 9.061 5.528 54.509 16.558 94.882 75.667 412.238
3 Metodologia
O presente trabalho classifica-se como pesquisa bibliográfica e descritiva.
Bibliográfica, pois buscou referências a fim de fundamentar os elementos base da
pes uisa e descritiva, em un o da análise e etuada no relatório “Perspectivas
Agrícolas 2015-2024” publicado pela FA em conjunto com a CD , em seu capítulo
destinado à produção agropecuária brasileira.
Quanto a abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa, visto que analisa os
dados publicados no relatório para a caracterização da agricultura familiar e sua
importância econômica para o país. A seleção dos materiais bibliográficos foi realizada
por meio da consulta às bases de dados do Spell (http://www.spell.org.br/), Portal de
Periódicos da CAPES e Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br/), mediante
uso de palavras-chave relacionadas ao tema estudado, como: agricultura familiar,
sustentabilidade, economia, FAO, entre outros. A forma de registro e sistematização de
dados em condições de interpretação por parte do pesquisador decorre da técnica de
analise de conteúdo, que faz descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas,
ajudando a reinterpretar as mensagens e a atingir uma nova compreensão de seus
significados (SILVA, 2003).
4 Considerações finais
Os dados analisados contribuem para a caracterização deste setor quem tem
importância econômica e social para o país. A agricultura familiar sofre a pressão
econômica do modelo do agronegócio, sua eficácia, ou seu potencial de produção a
nível nacional é desproporcional aos estabelecimentos não familiares, dependendo de
uma análise local ou regional dos ambientes onde estão inseridos.
Esta eficácia está relacionada aos meios necessários para a produção agrícola,
onde os agricultores familiares são menos eficientes, com maior dificuldade na gestão
dos recursos e tecnologias, também pode-se relacionar a característica destes
estabelecimentos, como consolidados, em transição ou periféricos, sendo estas
informações não objeto de análise dentro dos dados colhidos.
Para o desempenho da agricultura familiar, é necessária a visão do Estado nas
suas várias condições, sua inserção socioeconômica, a sua disponibilidade de recursos
(terra, água, capital e tecnologia), sua localização geográfica, suas oportunidades de
acessos a mercados, insumos e informações e a conjuntura econômica do país que vão
influenciar na capacidade produtiva.
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Dentro das perspectivas agrícolas do país, os estabelecimentos familiares
encontram-se atrelados a políticas governamentais que possam fornecer apoio suficiente
para o aumento do potencial de renda agrícola, alem dos benefícios fornecidos a curto
prazo através dos programas de suporte ao preço e crédito, fomentar políticas a longo
prazo, que sirvam de alicerce para o desenvolvimento apoiado na produção rural.
É necessário para isso criar parcerias público privadas que estimulem a prática
de gestão nas pequenas propriedades, embasadas em capital humano, estimulando o
espírito empreendedor para que possam ser inseridos nas oportunidades de negócios,
tenham capacidade inovadora através de pesquisas e extensões relacionadas ao
desenvolvimento agrícola.
Todo esse envolvimento do estado é necessário para que a renda agrícola destes
estabelecimentos seja maior que o custo de oportunidade de trabalhos não agrícolas,
garantindo o espaço para a agricultura familiar no Brasil, que é parte significativa do
setor rural brasileiro, ter uma visão geral do problema e definir estratégias de
desenvolvimento de acordo com as necessidades locais.
Referências
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Editora Cultrix: São Paulo, 1996. Tradução de
Newton Roberval Eichemberg.