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Agregação de valor no agronegócio familiar

Módulo 3

Agregação de valor no agronegócio familiar

Você sabia que o negócio familiar, embora ocupe uma área menor
quando comparada com a patronal, envolve um grande contingente de
estabelecimentos rurais e é responsável pelo emprego no setor rural?

Toda essa importância econômica se mescla à importância social, uma


vez que, se inseridos economicamente em suas regiões de origem, os
produtores rurais querem se manter no campo.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Fonte: Shutterstock.

Crescimento e desenvolvimento econômico se aproximam quando


iniciativas ligadas ao agronegócio familiar são fomentadas. Saber
rastrear esses custos da comercialização é importante para que o
produtor consiga maximizar seu lucro, uma vez que este deve ser
incorporado ao preço do produto ao consumidor.

Este módulo é composto das aulas:


• Aula 1: Gestão eficiente e sustentável na agricultura familiar
• Aula 2: Avanço tecnológico no negócio rural

Siga em frente e bons estudos!

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Aula 1

Gestão eficiente e sustentável na agricultura

familiar

Experimente conversar com alguns produtores rurais numa feira livre,


aquela que tradicionalmente acontece aos sábados pela manhã, em
qualquer que seja a cidade brasileira (ou em qualquer parte do mun-
do). Pergunte a eles sua história, qual a origem de seus negócios,
quais as metas futuras.

É muito provável que o produtor rural entrevistado


faça parte do grande universo de produtores familia-
res. Eles são muitos, e são fortes, e são dispersos.

Nesta aula você estudará o conceito de agricultura familiar, sua impor-


tância social e econômica e discutirá algumas formas de ampliação
desse negócio.

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Fonte: Shutterstock.

Ao final desta aula, você será capaz de:


• Analisar a contribuição da agricultura familiar na economia e
também nas questões sociais.
• Discutir formas de ampliação do negócio.

Siga em frente e bons estudos!

A contribuição socioeconômica da agricultura familiar

Você sabia que não basta ter pais e filhos trabalhando numa mesma
produção rural para que ela seja considerada agricultura familiar?
Para que uma propriedade rural seja considerada como agricultura
familiar, ela precisa apresentar algumas características, como você
verá a seguir.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Formulada com a Lei n.º 11.326, de 24 de julho de 2006, a agricultura


familiar tem o seguinte enunciado:

“Artigo 3.º – Para fins desta lei, considera-se agricultor familiar e em-
preendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural,
atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I - não detenha a qualquer título, área maior que 4 módulos fiscais;

II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas


atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha percentual mínimo de renda familiar originada de ativida-


des econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na
forma definida pelo Poder Executivo; (Lei 12.512, de 2011);

IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.


(BRASIL, 2006).”

Módulo fiscal (MF) é uma unidade de medida agrária que


representa a área mínima necessária para as propriedades
rurais poderem ser consideradas economicamente viáveis. Foi
instituída pela Lei n.º 6.746, de 10 de dezembro de 1979. O
tamanho do módulo fiscal varia de 5 a 110 hectares, conforme
o município. O tamanho dos módulos fiscais foi fixado inicial-
mente pela Instrução Especial n.º 20, de 1980, do Incra.

Fica claro que, além de contar com membros da mesma família, para
ser considerada familiar a agricultura tem que ser desenvolvida em

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Agregação de valor no agronegócio familiar

uma área predefinida por lei, ser gerenciada pela família e esta deve
ter a agricultura como sua fonte de renda.

Em outros países, esse conceito se modifica em aspectos relaciona-


dos ao tamanho da propriedade e aos níveis de renda, o que torna ain-
da mais difícil a compreensão desse universo da agricultura familiar.

Atenção

Algumas características, no entanto, tornam esse conceito entendido em


qualquer país do mundo. Uma delas é o fato da agricultura familiar desen-
volver culturas variadas e em pequena escala. Ao contrário do que o senso
comum possa entender, esse fato não desqualifica a produção.

Pelo contrário, os produtos advindos da produção familiar possuem


qualidade. Por serem muitos produtores e dispersos geograficamen-
te, geralmente produtores e consumidores estão muito próximos. E
essa é uma grande vantagem! Além de entenderem mais rapidamente
as demandas do mercado consumidor, geram renda na comunidade
onde estão inseridos e ajudam a manter as famílias na zona rural, mi-
nimizando, assim, o êxodo rural.

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Fonte: Shutterstock.

Do ponto de vista ambiental, a agricultura familiar também pode ge-


rar boas soluções. Como a produção se dá em pequena escala, suas
práticas são mais sustentáveis. Entre as formas de agregação de va-
lor, alimentos orgânicos são comumente produzidos por esse tipo de
agricultura, o que confere um grande diferencial e, ao mesmo tempo,
importância na economia e na sociedade onde são produzidos.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Saiba Mais

O Censo Mundial da Agricultura (2014) mostra que existem 570 milhões de


unidades produtivas dedicadas à agropecuária, em todo o mundo. Mais de
500 milhões podem ser consideradas típicas do modelo de base familiar.

Fonte: Shutterstock.

A maioria das unidades agrícolas mundiais é muito pequena, e a produção


que realizam não é expressiva em volume, mas de alta relevância social e
cultural. Ainda, dados da FAO mostram que em 111 países 72% das proprie-
dades têm menos de um hectare; 12% possuem entre 1 e 2 hectares e 10%
têm entre 2 e 4 hectares. As propriedades com mais de cinco hectares repre-
sentam apenas 6%.

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A realidade brasileira não é diferente da do restante do mundo. Dados


do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006 mos-
traram que, em um universo de 5.175.489, as propriedades típicas de
agricultura familiar somavam 4.367.902, enquanto a não familiar che-
gava ao total de 807.587. Apesar de a agricultura familiar ter 84,4% do
total de estabelecimentos, ocupa apenas 24,3% da área das proprie-
dades agropecuárias do país (ou 80,25 milhões de hectares). Embora
ocupe pouca área para produção agrícola, a agricultura familiar em-
prega sete de cada dez pessoas ocupadas no campo. Confira alguns
dados nos gráficos a seguir.

16%
Agricultores
NÚMERO DE Familiares
ESTABELECIMENTOS 84%
AGROPECUÁRIOS Demais
(EM MILHÕES) 84%
produtores
16%

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26%
Agricultores
NÚMERO DE PESSOAS Familiares
QUE EXERCEM 74%
ATIVIDADE NO CAMPO Demais
(EM MILHÕES) 74% produtores
26%

Agricultores
24,3%
ÁREA OCUPADA PELOS Familiares
ESTABELECIMENTOS 24,3%
AGROPECUÁRIOS Demais
(EM MILHÕES/HA) 75,7% produtores
75,7%

Percebe-se que a agricultura familiar não compromete grandes exten-


sões de terra, mas implica grande contingente de pessoas trabalhan-
do. Mesmo em pequena escala, contribui fortemente para a produção
de alimentos tradicionais e adota como valor a utilização sustentável
dos recursos naturais.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Você sabia que em 2014, no Brasil, a agricultura familiar produziu 87%


da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do arroz, 58% do lei-
te, 59% da carne suína e 50% das aves produzidas no campo? Esses
dados reforçam a importância da produção familiar como fornecedora
de alimentos básicos (HEBERLÊ, 2014).

Siga em frente para saber como ampliar o negócio familiar.

Como ampliar o negócio familiar?

O fato de serem produtores de produtos básicos os condena à produ-


ção exclusiva de bens sem diferenciação e sem agregação de valor?
De que forma o negócio rural familiar pode se expandir? A utilização
das técnicas de agregação de valor é uma boa solução para a expan-
são do negócio rural familiar.

Exemplo
O agricultor familiar pode, por exemplo, optar por desenvolver produ-
tos para serem consumidos num nicho de mercado específico.

É claro que qualquer decisão pode implicar investimento em pes-


quisas, busca de apoio governamental e ações associativas, mas o
pequeno produtor pode procurar alternativas menos burocráticas de
agregação de valor, como embalagens, logística etc. O importante é
que o diferencial agregue valor ao cliente, ao negócio e à sociedade.

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Reflexão

Sabemos que uma das formas de agregação de valor é a produção orgâni-


ca. Mas você está realmente familiarizado com esse conceito? Sabe o que
significa agricultura orgânica?

Feedback da reflexão: A agricultura orgânica é aquela proveniente de


práticas de cultivo que excluem ou evitam a utilização de fertilizantes
solúveis e pesticidas químicos nas operações de cultivo (ZYLBERSZ-
TAJN; NEVES, 2005).

Como princípios básicos da agricultura orgânica, podem ser citadas:


a) a redução do uso de produtos químicos;
b) a valorização de processos biológicos e vegetativos nos siste-
mas produtivos.

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Saiba Mais

Você sabia que, para impedir a disseminação de doenças, outras culturas


são utilizadas durante o cultivo ou alternadas com a produção? Plantas con-
sideradas daninhas para muitas lavouras são usadas na agricultura orgânica
por atraírem para si as pragas e enriquecerem o solo, fortalecendo as planta-
ções e evitando doenças.

A agricultura orgânica se aproxima da familiar pelo seu conjunto de va-


lores. Assim como a agricultura familiar, a orgânica busca a produção
sustentável em todos os aspectos – econômico, ambiental e social.
Por esse motivo, os números no Brasil impressionam pela tendência
de aumento.

A seguir, leia o trecho de artigo para entender o panorama do mercado


de orgânicos.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Leitura Complementar

Número de produtores orgânicos cresce 51,7% em um ano

[...] Cresceu a adesão dos produtores brasileiros ao mercado de orgânico,


que, além de alimentos mais saudáveis, promove a conservação e a recom-
posição dos ecossistemas. Entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, a quan-
tidade de agricultores que optaram pela produção orgânica passou de 6.719
para 10.194, um aumento de cerca de 51,7%.

As regiões onde há mais produtores orgânicos são o Nordeste, com pouco


mais de 4 mil, seguido do Sul (2.865) e Sudeste (2.333). As Unidades de
Produção também tiveram um aumento significativo. Passaram de 10.064
em janeiro de 2014 para 13.323 em janeiro deste ano, ou seja, um acréscimo
de 32%. É importante ressaltar que cada produtor orgânico pode ter mais de
uma unidade de produção.

É uma área contínua, de tamanho variável, identificada por um


ponto georreferenciado, plantada com uma única espécie e
mesmo estágio fisiológico, tratos culturais e controle fitossanitá-
rio. Uma unidade de produção pode ser um sítio, uma fazenda,
uma lavoura, um pomar, uma chácara. Pode ser pequena ou
grande. É recomendável que a unidade de produção seja orga-
nizada em glebas, piquetes, talhões ou parcelas.

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Fonte: Shutterstock.

Por região, o Nordeste é o que mais possui unidades de produção, com 5.228,
seguido do Sul (3.378) e do Sudeste (2.228). No Norte, foram contabilizadas
1.337 unidades de produção e no Centro-Oeste, 592.

A área total de produção orgânica no Brasil já chega a quase 750 mil hectares,
sendo o Sudeste a região com maior área produtiva, chegando a 333 mil hec-
tares. Em seguida, estão as regiões Norte (158 mil hectares), Nordeste (118,4
mil hectares), Centro-Oeste (101,8 mil hectares) e Sul, com 37,6 mil hectares.
Fonte: Brasil (2015a).

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Os dados desse trecho apontam para uma alavancagem da produção


de orgânicos no Brasil, com destaque para a região Sudeste. A grande
motivação para o aumento dessa produção está no mercado consu-
midor. A preocupação dos consumidores com a saúde associada aos
movimentos ambientalistas são grandes propulsores desse mercado.
Há grande esforço de marketing investido, em especial pelas cadeias
de supermercado que têm como objetivo a indução do consumo de
orgânicos.

Quais seriam os custos mais significativos para o


agricultor familiar que decidir optar por essa forma de
agregação de valor?

O primeiro é a certificação. Para serem comercializados, os produtos


orgânicos precisam ser certificados, comprovar que respeitam as nor-
mas de produção. Toda essa certificação é feita por agências e há um
custo financeiro. O segundo é o da transição entre a produção conven-
cional e a orgânica. O solo deve passar por um período de “desintoxi-
cação”; é necessário investimento e também há risco para o produtor.

Atenção

Outra coisa a ser analisada é que a produtividade do produto orgânico é me-


nor quando comparada à produção convencional. Além disso, há uma maior
demanda de mão de obra, pois, em alguns casos, torna-se inviável economi-
camente a mecanização.

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Certificação Exportação

Processamento
primário

Produção de Produção
insumos agropecuária Distribuição Consumidor

Processamento
secundário

Na figura fica clara a importância da certificação em todos os elos da


cadeia produtiva de orgânicos, desde a produção de insumos até a
chegada da produção ao consumidor final.

Com todos esses custos, ainda é viável para o produtor familiar esco-
lher esse caminho? Sim! E os números confirmam essa tendência. É
crescente o número de famílias que decidem por essa agregação de
valor. Os preços cobrados são mais altos e, pelo fato de o consumi-
dor ter uma disposição maior a pagar pelos atributos relacionados à
saúde, à moda, ao meio ambiente e à sociedade, a possibilidade de
alcançar lucros extraordinários é maior.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Fonte: Shutterstock.

Esse é o único caminho para a agregação de valor em empreendimen-


tos rurais familiares? Claro que não! Nos próximos tópicos abordare-
mos também a agroindustrialização familiar.

Siga em frente e bons estudos!

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Aula 2

Avanço tecnológico no negócio rural

No próprio entendimento da agricultura orgânica, vista na primeira aula


deste módulo, percebemos que não há necessidade de grandes trans-
formações tecnológicas ou das características do produto para se ob-
ter agregação de valor. No entanto, fica claro também que essa é uma
possibilidade a ser estudada em todos os segmentos da agricultura
familiar, inclusive no que diz respeito à produção de orgânicos.

Fonte: Shutterstock.

No caso dos orgânicos, a produção tem se expandido. Inicialmente


era muito vinculada à produção de frutas e verduras, mas com o tem-

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Agregação de valor no agronegócio familiar

po passou a expandir para a produção de leite e seus derivados, mel,


vinho, café, cerveja, entre outros.

E o que dizer de outras tendências mercadológicas,


como a de hortaliças higienizadas ou mesmo pré-cozi-
das, que vêm tomando conta das gôndolas dos super-
mercados? Há como a agricultura familiar se apropriar
desse movimento?

Nesta aula, discutiremos alguns aspectos do processamento da pro-


dução que podem agregar valor à agricultura familiar.

Ao final desta aula, você será capaz de:


• Analisar as etapas do processamento mínimo.
• Definir os produtos minimamente processados e princípios do
processamento mínimo.
• Identificar os requisitos tecnológicos para otimizar o processa-
mento mínimo.

Siga em frente e bons estudos!

A agroindustrialização é uma opção para a agregação de valor


na agricultura familiar?

O que é agroindústria? Trata-se do beneficiamento e/ou transformação


dos produtos provenientes de explorações agrícolas, pecuárias, pes-
queiras, aquícolas, extrativistas e florestais, abrangendo desde pro-
cessos simples, como secagem, classificação, limpeza e embalagem,
até processos mais complexos, que incluem operações física, química
ou biológica, por exemplo, a extração de óleos, a caramelização e a
fermentação. Inclui, também, o artesanato em geral no meio rural.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Se agroindústria se refere a estabelecimentos que


transformam a produção agrícola, o conceito se esten-
de a estabelecimentos de qualquer tamanho, estejam
eles localizados no meio urbano ou rural.

O que dizer sobre a agroindustrialização familiar? Nesse conceito, en-


tende-se uma organização que possibilita aos agricultores produzir, pro-
cessar ou transformar as matérias-primas provenientes da exploração
agrícola, visando incrementar a renda dos produtores rurais por meio da
agregação de valor aos seus produtos, mesmo que em pequena escala
e com procedimentos simples (IMLAU; GASPARETTO, 2014).

Olá! Tudo bem?

Espero que você esteja aproveitando bem a sua


caminhada aqui no curso! Você está surpreso com
as possibilidades da agroindustrialização familiar?

Eu também fiquei bem surpreso quando descobri


essa possibilidade como agregadora de valor ao
negócio rural.

Neste momento você deve estar se perguntado: “E


por qual motivo os agricultores familiares deveriam
considerar essa opção?”

E eu lhe digo, por experiência própria, que os pro-


dutos que vêm da produção familiar carregam em

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Agregação de valor no agronegócio familiar

si uma competitividade embutida no seu processo de produção e por inserir


características ecológicas, sociais, culturais e nutricionais nos seus produtos. É
uma forma de materializar a diferenciação dos produtos da agroindústria familiar.

Nós, produtores rurais, precisamos lutar pela expansão e consolidação das


agroindústrias familiares no meio rural. Assim, buscaremos formas de reduzir
os efeitos de diferentes fatores, relacionados à situação econômica e social da
agricultura brasileira, por meio da agregação de valor aos produtos primários.

Por meio da agroindústria familiar, a renda do produtor pode ser incrementada,


uma vez que diversifica a sua produção, além de industrializar e comerciali-
zar seus produtos. Imagine o impacto dessa transformação nas comunidades!
Renda e emprego sendo gerados!

Até logo!

Luiz.

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Agregação de valor no agronegócio familiar

A agroindustrialização, por envolver uma maior complexidade nas suas


atividades, não deve ser a única solução para a agricultura familiar,
tampouco inserida de forma imediata. Caso as iniciativas de agroin-
dustrialização sejam feitas sem o planejamento e o apoio adequados,
pode desmotivar todos os agricultores familiares envolvidos.

Há que se pensar na viabilidade econômica do empreendimento, no


alcance de economias de escala, nas formas adequadas de comercia-
lização, na vocação da região em termos de mão de obra, de maté-
ria-prima, de equipamentos, na qualidade do produto a ser produzido,
entre tantos outros aspectos que podem comprometer os resultados
positivos. Boas e bem-sucedidas iniciativas não faltam!

A seguir, conheça o caso do Programa Sabor Gaúcho, selo criado em


2012 pelo Governo do Rio Grande do Sul e que incluiu 499 agroindús-
trias familiares.

Leitura Complementar

O programa foi criado em 2012 com objetivo de


fomentar as agroindústrias gaúchas. Mais de duas
mil agroindústrias já estão cadastradas e prontas
para serem certificadas e outros 8 mil produtores
que comercializam seus produtos e podem ser
incluídos no programa.

Por meio da Emater os agricultores familiares recebem incentivo para forma-


ção e capacitação nas áreas de gestão, processamento e boas práticas de
fabricação. O selo “Sabor Gaúcho” certifica a procedência e a qualidade dos
produtos da agroindústria familiar localizada no Rio Grande do Sul.
Fonte: Governo do Estado do Rio Grade do Sul (2012).

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Fica evidente que qualquer tipo de iniciativa, seja ela individual ou em


grupos, necessita de apoio institucional e financeiro para que dê cer-
to. E, diante das possibilidades positivas de agregação de valor via
agroindústria familiar, percebe-se que essas iniciativas podem ser op-
ções duradouras de desenvolvimento regional.

A seguir, conheça os pontos de vista econômico, social e ambiental.

Do ponto de vista econômico, as agroindústrias familiares geram a


possibilidade de aumento sustentável na renda, no PIB, na produção,
na produtividade e no alcance dos mercados.

Do ponto de vista social, a agroindustrialização no meio familiar gera


renda mais igualmente distribuída entre os produtores familiares. Nes-

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Agregação de valor no agronegócio familiar

se sentido, a participação dos governos, em todas as suas dimensões,


ganha importância.

Do ponto de vista ambiental, a agroindustrialização pode se apro-


priar da cultura de boa utilização dos recursos naturais, presente na
agricultura familiar, e transformá-la no “carro-chefe” da produção. Esse
conceito favorece a produção para nichos específicos de mercado,
como o de alimentos orgânicos e do emprego de técnicas e de manejo,
como para o tratamento adequado de dejetos e resíduos das ativida-
des agropecuária e agroindustrial.

A dimensão institucional, igualmente importante, des-


taca a necessidade da criação de um ambiente institu-
cional favorável ao desenvolvimento. Parcerias deve-
rão ser estimuladas entre todos os governos e com a
sociedade.

Geograficamente, a agroindústria familiar potencializa a utilização das


forças da região e faz com que o produtor tenha o desejo de perma-
necer no campo. Siga em frente para conhecer o que são produtos
minimamente processados.

O que são produtos minimamente processados?

Analise as duas figuras a seguir. Todas elas mostram frutos e hortaliças


organizados para a venda num supermercado qualquer. O que há de
diferente entre uma imagem e outra? Qual tem maior valor agregado?

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Agregação de valor no agronegócio familiar

Você acertou caso tenha respondido que na figura da direita o mesmo


produto da esquerda está sendo apresentado, mas com maior valor
agregado. Dentro das possibilidades identificadas para a agroindús-
tria, há uma que se revela importante para frutos e hortaliças: os pro-
dutos minimamente processados.

Que tipos de benefícios estão associados ao consumo de produtos


minimamente processados?
1) Redução do tempo de preparo da refeição.
2) Maior padronização.
3) Maior acesso a frutos e hortaliças frescos e mais saudáveis.
4) Menor espaço para estocagem, uma vez que as embalagens
facilitam o armazenamento.
5) Redução do desperdício.

Como desafio às agroindústrias familiares, surge a


necessidade do desenvolvimento de máquinas des-
cascadoras e picadoras capazes de maximizar a
produção.

Módulo 3 - Agregação de valor no agronegócio familiar // 98


Agregação de valor no agronegócio familiar

Na prática, como são produzidos os produtos minimamente processa-


dos? O processamento mínimo de produtos hortícolas inclui as ativi-
dades de seleção e classificação da matéria-prima, operações de la-
vagem, processamento (corte, fatiamento, descasque), sanitização,
embalagem, entre outras, dependendo das especificidades do produto.

A seguir, você acompanhará o processo de processamento mínimo da


abóbora. No caso específico da abóbora, as etapas de processamento
mínimo consistem nas seguintes operações (SASAKI, 2005):

a) Corte e descascamento

Tipos de cortes

Retalhos obtidos
com processadora
Corte em meia-ro- Cubos (3,0 cm x 3,0
industrial, com disco
dela cm x 3,0 cm)
de corte de 7 mm
de espessura

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Agregação de valor no agronegócio familiar

b) Lavagem e sanitização

c) Enxágue

d) Drenagem

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Agregação de valor no agronegócio familiar

e) Pesagem e embalagem

Em virtude da alteração dos hábitos de consumo dos brasileiros em


relação à qualidade dos produtos que consome, os produtos minima-
mente processados vêm obtendo crescente participação no mercado
de produtos frescos e servem como oportunidade interessante àque-
les que queiram agregar valor às suas produções.

Ao longo do Módulo 3 você estudou o que é a agricultura familiar e


qual a sua importância para a economia brasileira. Percebeu que a
agregação de valor pode ser um caminho econômica e socialmente
importante para a agricultura familiar e que exemplos de sucesso não
faltam no Brasil.

Siga em frente para concluir o seu curso!

Módulo 3 - Agregação de valor no agronegócio familiar // 101

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