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AGRICULTURA

FAMILIAR

Prof. Luís Cláudio


Geografia
Agricultura Familiar

O conceito de Agricultura Familiar é recente. Em período anterior era


chamada de pequena produção, pequeno agricultor.

A agricultura familiar é a agricultura praticada pela família que ao


mesmo tempo é dona dos meios de produção e também trabalha no
local produtivo.
Segundo a Lei nº 11.326/2006, no seu art. 3º, a agricultura familiar é definida como uma
atividade rural, desde que possua os seguintes requisitos:
Um módulo fiscal no Brasil varia de 5 a 110 hectares. (1 equivale a 10 mil m²)
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II - utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
Quanto a atividade? * exceto garimpeiros e faiscadores; Pescadores artesanais;
Povos indígenas; Integrantes de comunidades
§ 2º São também beneficiários desta Lei:
remanescentes de quilombos rurais e demais povos de
I - silvicultores; IV - pescadores; comunidades tradicionais.
II - agricultores; V - povos indígenas;
III - extrativistas*; VI - integrantes de comunidades remanescentes de quilombos.
Incluem, ainda, nesse universo de agricultores/as familiares os Assentados
do Programa Nacional de Reforma Agrária*, ou seja, agricultores e
agricultoras que possuem um lote ou gleba, cedido pelo Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) ou por um órgão estadual,
como o Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo) no
caso do estado de São Paulo; e Beneficiários do Programa Nacional de
Crédito Fundiário, ou seja, agricultores e agriculturas que tiveram acesso a
terra (propriedade), via financiamento do governo federal.

*Reforma agrária é o termo utilizado para designar


a redistribuição fundiária (agrária ou de terras) em
um Estado. Quando há a concentração de terras
nas mãos de uma pessoa ou poucas pessoas,
temos a formação dos latifúndios (grandes
propriedades de terra que, por sua extensão, não
são devida e completamente exploradas).
Diferenciação entre agricultura patronal e familiar
Agricultura Patronal Agricultura Familiar
Completa separação entre gestão e Trabalho e gestão intimamente
trabalho relacionados
Organização centralizada Direção do processo produtivo
assegurada diretamente pelos
proprietários
Ênfase na especialização Ênfase na diversificação
Tecnologias dirigidas à eliminação Decisões imediatas, adequadas ao alto
das decisões de terreno e de grau de imprevisibilidade do
momento. Tecnologias voltadas processo produtivo. Tomada de
principalmente à redução das decisões in loco, condicionada pelas
necessidades de mão-de-obra especificidades do processo produtivo
Pesada dependência dos insumos Ênfase no uso de insumos internos
comprados
Ênfase em práticas agrícolas Ênfase na durabilidade dos recursos
padronizáveis naturais e na qualidade de vida
Fonte: adaptado de Abreu (2010 apud FAO/Incra 1995) Apud. ZANELLA 2016.
A importância
A agricultura familiar é responsável pela produção de quase 70% dos alimentos
básicos consumidos pelos brasileiros, sendo muito importante para o
desenvolvimento local, evita e/ou diminui o êxodo rural e tem como destino final a
comercialização da grande maioria de sua produção para o mercado local e
regional.
Pesquisadores apontam que houve um crescente incentivo à agricultura familiar
devido à sua importância para o desenvolvimento sustentável nacional em
decorrência do êxodo rural existente neste período e pelo motivo que as cidades
não conseguiam absorver a mão-de-obra vinda da agricultura.
Além disso, a agricultura Familiar é fundamental na produção de alimentos que
compõem a dieta alimentar básica da população brasileira e na geração de
empregos abastecendo os mercados locais e regionais. Pois o Brasil apresenta
uma baixa produção de alimentos em médias e grandes propriedades.
Participação da Agricultura Familiar na Produção Agropecuária brasileira (em %)

A Agricultura Familiar/Agroecológica apresenta ainda uma função ambiental/ecológica de


extrema importância, ligada a produção de bens públicos, ou seja, os bens de uso comum,
como preservação da biodiversidade, gerenciamento sustentável do uso dos recursos
naturais, conservação do solo, manutenção da paisagem agrícola.
FATORES CULTURAIS
Apesar de sua importância, atualmente, os agricultores
familiares no Brasil herdaram (e ainda herdam) os mais
variados nomes:
• em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, o
homem rural é conhecido como roceiro e caipira.
• no nordeste, denomina-se tabaréu/matuto sertanejo.
• na região norte do país encontra-se o caboclo.

Todas essas palavras atualmente possui duplo sentido.


Fazem referência ao agricultor, a quem vive no campo,
mas também indicam uma pessoa rústica, de pouco
conhecimento e ingênua. São palavras depreciativas,
ofensivas, muitas vezes relacionadas à preguiça, a
pouca disposição para o trabalho.
• na região Sul encontram-se os Gaúchos.
FATORES
ECONÔMICOS

O capitalismo industrial busca, acima de qualquer coisa, o aumento da


produtividade física da terra e a produtividade do trabalho dos agricultores,
introduzindo na agricultura os métodos da divisão do trabalho e o
desenvolvimento tecnológico da indústria.
capital financeiro foi o aumento da concentração do capital em grandes
empresas transnacionais que se constituíram em verdadeiros oligopólios,
controlando grandes setores da produção, do comércio, dos serviços e das
finanças concomitantemente.
As principais mudanças provocadas pelo capitalismo na agricultura:
No contexto da agricultura familiar, destacam-se, portanto as seguintes questões:

• As políticas públicas estão cumprindo seu papel no direcionamento da


modernização e conseguindo manter os pequenos agricultores no trabalho
agrícola?
• A esfera governamental oferece incentivos e políticas diferenciadas aos
pequenos agricultores?
• Os pequenos agricultores são valorizados pela sociedade?
• Como os adolescentes dos centros urbanos, muitos deles, descendentes de
pequenos agricultores, veem a agricultura familiar e o trabalho do agricultor?
• Quais as expectativas para os filhos dos agricultores?
• O trabalho no campo está tendo o devido valor pelos adolescentes que estão
nas escolas?
Ultimamente tem-se discutido muito sobre a Segurança Alimentar no Brasil, no qual
é posto em questão o aumento da produção de alimentos básicos de boa
qualidade, para atender a demanda da população, principalmente da classe
que vive em situação de vulnerabilidade social. A agricultura familiar tem
cumprido com seu papel na produção de alimentos bem como no fornecimento
de diversos produtos no mercado interno para a erradicação da fome. No
entanto, nas últimas décadas, tem enfrentando enormes problemas e desafios
para manter seu espaço produtivo frente à modernização agrícola tais como a
forte pressão exercida pelos latifundiários, a baixa sucessão rural, a falta de
valorização e de políticas públicas específicas para esse segmento.
Isso porque muito além da substituição de mão de obra humana e animal pelas
maquinarias cada vez mais potentes, a agricultura passou a ser organizada pela
lógica do lucro e a produção de alimento foi sendo substituída gradativamente
por “mercadorias” ou commodities. Produz-se para o mercado interno e para o
mercado externo, desde que seja lucrativo.

A subordinação da agricultura à
indústria.
Área Ocupada por Estabelecimentos Familiares
Segundo o Censo agropecuário 2017 – IBGE, as maiores concentrações de
estabelecimentos de agricultura familiar estão nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul, não
somente no litoral, mas também no interior. Destaque para os Estados da Bahia, Ceará,
Pernambuco, Piauí, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Adensamentos contínuos
vão do interior nordestino até Minas Gerais, do sudeste gaúcho até o oeste do Paraná, e,
na Região Norte, destacam-se no Pará e em Rondônia.

Quanto ao gênero, a participação


masculina nas atividades é maior que a
feminina, com destaque para as
Regiões Sudeste e Nordeste. As maiores
proporções de homens entre as
pessoas ocupadas nessas Regiões estão
nos Estados do Rio Grande do Norte,
Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe,
Maranhão e Minas Gerais.
Em relação a espacialização da
participação de pessoas
ocupadas em agricultura familiar
com até 14 anos de idade no
total de pessoas ocupadas
mostra que a maior parte dos
Municípios do País apresentam
baixas proporções. A Região
Norte se destaca com proporções
consideráveis, seguida das
Regiões Centro-Oeste e Nordeste.
Agricultora familiar no DF
Segundo a Companhia de Desenvolvimento e Planejamento do Distrito Federal
(Codeplan), o Df possui 11 mil produtores, do qual, 8,2 mil se enquadram na
definição de agricultura familiar. Esses dados representam 75% do total de
produtores rurais instalados na capital do país.
70% do território do DF é composto por área rural, as maiores estão em Planaltina,
Paranoá e Brazlândia, respectivamente. Também possuem grandes áreas rurais as
regiões de Sobradinho, Gama e São Sebastião.
Segundo dados da Seagri-DF, a produção de hortaliças fica 100% no DF e ainda é
preciso importar uma parte.

De acordo com a Seagri, os produtores da região são qualificados e


organizados, e investem em tecnologia para produzir cada vez mais, em
áreas menores e com o mínimo de água possível.

Muitos produtos do DF já ganharam reconhecimento nacional, a exemplo


da apicultura. O mel candango é detentor de vários títulos nacionais, como
o de mais puro e o de melhor pólen, sendo também bicampeão
internacional de qualidade.
BIBLIOGRAFIA
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Concentração geográfica da agricultura familiar no Brasil / Elena Charlotte Landau ... [et al.]. -- Sete Lagoas :
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