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Agricultura

Objetivo

Estudar os principais agrossistemas, suas características e a relação com o


desenvolvimento da agricultura brasileira e a concentração fundiária.

Se liga

Esse assunto apresenta grande inter e intradisciplinalidade com tópicos como


urbanização, impactos ambientais, transportes e globalização.

Curiosidade

Para se inteirar mais no assunto, veja a linha do tempo da Trajetória Agrícola


Brasileira. Para complementar, fica a sugestão de um filme: “O Veneno está
na mesa”. Além disso, no Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE, é
possível obter os mais diversos dados da agricultura brasileira.

Teoria

Pode - se entender a agricultura como o conjunto de técnicas que


permitem controlar a produção vegetal. Dito isso, pode - se inferir que o
cenário ideal para a produção de alimentos seria plantar mais em menos
tempo, com os melhores índices de rendimento na colheita. Desde a
mudança na forma de ocupação da superfície terrestre, do nomadismo para
o sedentarismo, o homem começou a dominar a natureza com a finalidade
de produção agrícola.
Se antes, no nomadismo, o homem precisava se deslocar em busca de
recursos, agora, plantando e armazenando alimentos, ele pode se assentar,
formando as primeiras aldeias, que futuramente se transformariam nas
primeiras cidades. A história da agricultura remete às primeiras civilizações
que se assentaram próximas às margens de grandes rios e seus solos
férteis.

Os modelos produtivos

Existem três erros bastante comuns quando se pensa em agricultura. O


primeiro deles é pensar em agricultura como produção de alimentos.
Agricultura também tem a ver com isso, porém a produção agrícola encontra
mais mercado, no mundo contemporâneo, na alimentação de animais de
abate e no abastecimento fabril. O segundo é considerar a agricultura como
uma atividade econômica do mundo subdesenvolvido ou em
desenvolvimento. Os maiores produtores de alimentos são alguns dos países
mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e os países da União Europeia.
Isso ocorre devido à menor aplicação e disponibilidade de tecnologia, bem
como de incentivos do governo. O terceiro é pensar na agricultura como algo
único e simples, sem diversidade. Na realidade, existem diversos modelos
produtivos, com diversas características únicas que os diferenciam. A seguir,
iremos estudar alguns desses modelos.

Agricultura tradicional

Forma de produção bastante influenciada pelos limites do clima e do solo,


com baixa produtividade e extensiva (necessita de grandes áreas). Dentro
da concepção de agricultura tradicional, podem existir subdivisões como o
Plantation, a agricultura familiar e a de subsistência. Alguns livros separam e
outros unificam essas divisões. O importante é entender que, em todas,
predomina o baixo nível técnico e a pouca aplicação de capital. De resto, eles
se diferenciam por uma ou outra característica.

 Plantation

Comum desde os tempos europeus, é um modelo que utiliza grandes


extensões de terras (latifúndio) e é caracterizado por um conjunto de
técnicas arcaicas. É uma produção do tipo monocultora, voltada para o
mercado externo. O plantation antigo também apresentava como
característica histórica o uso de mão de obra escravizada. Hoje, usa - se
“plantation” para designar o modelo produtivo agroexportador de alguns
países da América Latina, como o Brasil, no caso da cana de açúcar, e
alguns países da África, no cultivo de cacau, com uma mão de obra que não
é escravizada, mas que ainda apresenta baixo grau de modernização
tecnológica. É possível também observá-lo na China e na Índia.

 Agricultura familiar

Esse modelo de agricultura se caracteriza por uma gestão familiar da


propriedade e da atividade produtiva agropecuária, que é a principal fonte
de renda. Essa definição é dada pelo Decreto nº 9.064, de 31 de maio de
2017. É um modelo tradicional, que não conta com técnicas modernas e
grande volume de capital, desenvolvendo - se em pequenas e médias
propriedades.
Esse modelo pode anotar métodos produtivos modernos e obter uma maior
produtividade, porém o vínculo familiar com a terra ainda existe. A
policultura faz parte desse núcleo produtivo e corresponde ao cultivo de
diferentes produtos agrícolas. A agricultura familiar pode ser entendida como
um pequeno ou médio negócio, voltado para abastecer os mercados
regionais. Esse tipo de agricultura também é denominado por alguns como
agricultura familiar consolidada, quando possui uma base em estudos do
solo, alimentos mais saudáveis e erradicação de defensivos agrícolas.
A agricultura familiar também está relacionada ao conceito de agricultura de
subsistência (plantio e consumo próprios) e é marcada pelo predomínio de
técnicas tradicionais, como as queimadas localizadas para abrir espaço para
as roças e o pousio de terra.
Outro conceito vinculado à agricultura familiar é o de agricultura itinerante.
Geralmente, esse tipo de agricultura é caracterizado pelas seguintes etapas:
derrubada da vegetação existente, queima das raízes (coivara) e, então, o
cultivo tradicional. Essa queimada pode ser consciente e, se corretamente
realizada, não resulta em grandes impactos. Todavia, com o passar do
tempo, e com a redução da fertilidade do solo, o agricultor migra para novas
terras, realizando essas mesmas etapas. Alguns livros agrupam a agricultura
itinerante e a de subsistência como um único tipo de agricultura.

 Agricultura Moderna

Esse modelo de agricultura moderna é, muitas vezes, também denominado


de agricultura empresarial ou patronal (em oposição à agricultura familiar).
Isso ocorre, pois, enquanto a última usa predominantemente mão de obra
familiar, a primeira usa mão de obra assalariada. Essa é uma das possíveis
formas de classificara agricultura empresarial, mas também é importante
destacar que ela é caracterizada pela alta produtividade, com muito capital e
tecnologia aplicada à produção. Geralmente, é integrada ao setor de
pesquisa e desenvolvimento, aumentando vertiginosamente sua capacidade
de produção. Sendo intensivo, esse tipo de agricultura pode aumentar sua
produção sem incorporar novas terras, porém é capaz de gerar diversos
impactos, devido à maior utilização de agrotóxicos e produtos químicos no
solo.
A Revolução Verde foi um processo que levou à passagem de agricultura
tradicional, caracterizada pelo plantation e uso intensivo de mão de obra,
para a agricultura moderna, através de inovações tecnológicas
(desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização do solo, utilização
de agrotóxicos e mecanização do campo), que foram capazes de aumentar a
produtividade agrícola. Muitas das tecnologias utilizadas aqui foram
inventadas ou adaptadas nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra
Mundial. O discurso da Revolução Verde para o resto do mundo, inclusive
repetido pela ONU, é que ela acabaria com o problema da fome no mundo.
Porém, já vimos no material sobre “População” que não é a falta de alimentos
que causa o problema da fome, e sim o acesso.
É importante destacar que, a partir dessas mudanças, novas atividades se
desenvolvem no meio rural, como o turismo, o lazer e a moradia. Esse novo
aspecto das atividades definem um novo modelo de organização social para
o campo, denominado pluriatividade. Nesse modelo, o agricultor não obtém
sua renda apenas do cultivo, mas a partir de diferentes atividades
desenvolvidas em sua fazenda.
No caso americano, essa agricultura moderna reorganizou o espaço
agrícola do país em torno dos cinturões agrícolas (Belts). Estes são
extensas áreas caracterizadas pelo emprego de tecnologias na produção
agrícola de monoculturas, por isso, exigem mão de obra qualificada. O
espaço agrícola americano pode ser identificado a partir desses cinturões,
conforme observado no mapa abaixo.
Técnicas agrícolas famosas - rotação de cultura, pousio e
plantio direto

A rotação de culturas é uma técnica agrícola tradicional de cultivo,


associada ao continente europeu. No entanto, só foi difundida com a
colonização. A terra é dividida em unidades, e cada uma delas é produzida
uma determinada cultura. A alternância de cultivo pode ocorrer em uma
escala anual. A cada safra, as unidades rodam, o que permite que os
nutrientes do solo tenham tempo para se recuperar e não se esgotem. Além
disso, uma unidade de terra pode ser deixada sem cultivo, condição
denominada “pousio”. Seu objetivo é recuperar os nutrientes do solo.
Ainda nesse sentido, existe o plantio direto. Essa técnica de manejo do solo
consiste em aproveitar os restos do cultivo anterior, deixando-os sobre o solo
e plantando imediatamente acima destes. Assim, a decomposição desses
restos repõe alguns nutrientes do solo, e ainda diminui o processo erosivo
causado pelas máquinas ou pela chuva. Na imagem abaixo, é possível
observar um exemplo dessa técnica.

A estrutura fundiária brasileira

A estrutura fundiária corresponde à forma como a terra está distribuída. No


Brasil, é possível observar uma enorme concentração nessa distribuição, o
que chamamos de concentração fundiária. Segundo dados do IBGE,
aproximadamente 1% dos proprietários agrícolas detém cerca de 46% das
terras usadas para produção agropecuária no país. Somado a isso, é
possível observar também, a participação do Estado na criação de políticas
públicas que beneficiam os latifundiários, para manter o rendimento na
produção de monoculturas para exportação, o que agrava mais ainda a
situação. Essa concentração fundiária possui razões históricas. Entre elas
podemos destacar:

 Capitanias hereditárias: Recurso administrativo escolhido por


Portugal para gerenciar as gigantescas porções de terras de suas
colônias, especialmente as do Brasil. As capitanias eram
administradas pelos donatários, pessoas próximas e de confiança da
Coroa portuguesa. Eles poderiam escolher outras pessoas para
ajudar nesse processo. Essas pessoas, os beneficiários, recebiam
porções de terra em forma de doação. Para regular esse sistema,
foram criadas as sesmarias. Assim, o acesso à terra dependia da
proximidade com a Coroa de Portugal.
 Lei de Terras de 1850: Essa lei é responsável por transformar a terra
em propriedade no Brasil. Em outras palavras, institui a compra e
venda de terras, que antes só podiam ser doadas. No Brasil do
século XIX, aqueles que tinham capacidade para isso já eram
proprietários de terras, o que ocasionou no aumento da
concentração. Além disso, a Lei de Terras declarou públicas as terras
desocupadas, gerando apropriações sem documento legal, gerando
disputas por terra, que acontecem até os dias atuais, através da
grilagem (falsificação do título de propriedade de uma terra).
 Modernização conservadora: Já no século XX, o processo de
modernização conservadora (isto é, de mecanização do campo
sem alteração da sua estrutura fundiária) intensificou a concentração,
pois diminui a competitividade do pequeno e do médio produtor,
forçando-os a migrar para a cidade em busca de emprego. Esse fluxo
populacional é denominado êxodo rural.

Agricultura brasileira

Com o passar dos séculos, o Brasil não perdeu sua vocação


agroexportadora, apenas aperfeiçoou o processo. A partir da Revolução
Verde (conjunto de novas tecnologias no campo, como sementes
geneticamente modificadas, agrotóxicos, fertilizantes, entre outros) o
Brasil começou a transformar sua agricultura tradicional em uma
agricultura moderna. O primeiro passo foi a correção dos solos ácidos
do Cerrado e a adaptação da Soja ao clima do Centro - Oeste. Com isso,
o espaço rural brasileiro foi intensamente transformado. Desde a década
de 1960, observou - se um grande avanço do agronegócio, com
características bem definidas, como uma produção majoritariamente
voltada para a exportação, monocultura com emprego de muitos
insumos, como fertilizantes e agrotóxicos, além dos maquinários
agrícolas.
Essa expansão significou a incorporação de novas terras, muitas vezes já
ocupadas por outros grupos, como populações indígenas, quilombolas e
posseiros. Com isso, a expansão do agronegócio também é marcada
pelo aumento dos conflitos no campo, principalmente nas regiões do
MAPITOBA (acrônimo de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). No
Sudeste, também é possível encontrar esses conflitos por terra,
principalmente na região do Pontal do Paranapanema, em São Paulo.

Cabe destacar que o agronegócio é muito importante para a economia


brasileira, e está organizado, principalmente em torno do complexo
agroindustrial (CAI) - agricultura mais indústria. Esse complexo pode ser
dividido em três etapas:

 Primeira etapa - indústria de insumos: tudo que é necessário para


desenvolver a atividade agrícola, como maquinário, irrigação,
adubação, correção do solo, agrotóxico e Organismos Geneticamente
Modificados (OGM);
 Segunda etapa - agricultura e pecuária: atividade típica do campo;
plantação e criação de animais. O Brasil se destaca muito nos dois,
tanto na agricultura, quanto na pecuária, pois investe em tecnologia e
pesquisas;
 Terceira etapa - indústria de beneficiamento: consiste na
adaptação dos produtos agrícolas para os moldes do trabalho, ou
seja, a etapa final não é mais a colheita agrícola. Cabe destacar que
o beneficiamento agrega valor ao produto.

Porém, essa é uma divisão feita para simplificar, e o CAI é muito mais
complexo que isso. No diagrama abaixo, é possível observar a
esquematização do complexo agroindustrial de centeio no Brasil. Veja
como existem diferentes atores nesse processo em cada etapa, da
indústria de serviços de apoio até o consumo.
Soja - expansão do agronegócio e sua evolução espacial

A soja é um grão de clima frio, cujo cultivo era praticado principalmente


na região Sul do Brasil. A partir de inúmeras pesquisas, a Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) adaptou seu cultivo para
áreas de clima tropical. Somada a essa adaptação, surgiram alguns
métodos (calagem) que permitem a correção dos solos ácidos do
Cerrado. Tais condições possibilitam a expansão da soja para o Centro -
Oeste, ocupando áreas nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso
e Goiás, além de outros estados do Brasil, como São Paulo, Minas
Gerais, Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia.
Ao mesmo tempo que essa expansão gera um desenvolvimento
econômico, ela também está associada a impactos ambientais, devido a
utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que podem contaminar
o solo, o lençol freático e os rios. No caso da utilização do agrotóxico,
destaca - se também a destruição da fauna de insetos. No mundo, o
impacto do uso de agrotóxicos sobre os insetos é tão grande que põe em
risco a existência das abelhas. É consenso entre técnicos e ambietalistas
que sem estes insetos polinizadores, 80% dos vegetais conhecidos não
produziram sementes ou frutos. Dessa forma, a utilização indiscriminada
desses venenos pode comprometer a produção mundial de alimentos,
levando até mesmo à extinção da espécie humana.
Uma outra problemática, que decorre da utilização de organismos
geneticamente modificados, é a formação de monopólios técnicos -
produtivos associados aos protocolos de patentes. Isso ocorre, pois
muitas vezes, as grandes corporações são as responsáveis pelo
desenvolvimento das sementes geneticamente modificadas, bem como
dos agrotóxicos e fertilizantes usados no mesmo cultivo. É como se fosse
uma compra casada. Determinada semente é geneticamente modificada
para desenvolver a propriedade que lhe for mais interessante, ao mesmo
tempo que só funciona com o agrotóxico da mesma empresa, E isso
acaba criando grandes monopólios, além de que o uso desses produtos
ameaça a biodiversidade dos próprios cultivos.
Desmatamento e o avanço da fronteira agrícola

O desmatamento do Cerradi e da Amazônia está diretamente associado à


expansão da fronteira agrícola. Esse avanço corresponde à expansão das
atividades agropecuárias sobre o meio natural, isto é, uma área ainda não
incorporado ao circuito da produção capitalista. Devido a essa expansão da
fronteira agrícola, o Cerrado, hoje, é considerado um hotspot da
biodiversidade, isto é, uma área que possui uma vegetação diferenciada,
marcada por espécies endêmicas e com 75%, ou mais, de sua vegetação
destruída. Esse processo ocorreu pela expansão do cultivo da soja pela
região.
A Amazônia sofre com um processo de desmatamento bem similar,
relacionado à soja e à pecuária, embora seja mais recente. A atual
expansão da fronteira agrícola caminha no sentido norte do País. Hoje, é
proibido cultivar soja em solo florestal; assim, o desmatamento na região
ocorre, principalmente, para a abertura de campos de pastagem, voltados
para a criação de gado bovino. Com solos pobres, lixiviados e lateralizados, o
desmatamento leva à rápida perda de fertilidade. O elevado custo para
incrementar a produtividade do solo para pastagens induz os pecuaristas a
buscarem novas áreas para o desmatamento. Com isso, esses solos não
mais florestados dão lugar à soja, ao milho e ao feijão, cujo cultivo justifica a
recuperação dos solos.

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