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Os saberes e práticas dos camponeses para conservação das sementes crioulas no

Brasil: perspectivas de autonomia e resistência camponesa1


Viviane Camejo Pereira2
Fábio Kessler Dal Soglio3

Na agricultura industrial as sementes têm sido apropriadas pela indústria fazendo com
que os camponeses dependam do mercado e sejam vulneráveis a mudanças no sistema
produtivo, acarretados pelas mudanças climáticas. A mobilização e resgate dos
conhecimentos dos agricultores camponeses permitem a resiliência dos
agroecossistemas. São necessárias iniciativas de resgate dos saberes sobre a
conservação in situ das sementes crioulas que atuam na resistência camponesa. São
trazidos casos brasileiros: Sementes da Paixão na Paraíba e Guardiões de Sementes
Crioulas do Rio Grande do Sul em que os camponeses se mobilizaram, buscaram
formas de enfrentamento às alterações climáticas, autonomia e resistência camponesas.

Introdução
Atualmente, as formas como as tecnologias e os conhecimentos chegam até o
meio rural se dá de várias maneiras. Porém, muitas delas visam certa homogeneização
da construção de conhecimentos em torno da gestão dos recursos da propriedade rural.
Esta homogeneização é fortemente influenciada pela ciência positivista dos centros de
pesquisas e pelas universidades bem como pela agricultura industrial expressa pelas
grandes empresas que estudam e produzem sementes transgênicas e insumos químicos.
Essa homogeneização responde às demandas do mercado, porém, se perde a diversidade
dos conhecimentos específicos a cada cultivo, a cada clima, a cada contexto e a cada
propriedade rural. Foi essa diversidade de conhecimentos que permitiu o
desenvolvimento das práticas agrícolas desde a dominação humana sobre a produção de
alimentos.
Desde o início da prática da agricultura, os bens naturais como a terra, a água, a
luz solar tiveram seus sistemas de funcionamento observados e integrados a

1
Este trabalho faz parte de tese de doutorado em construção no PGDR/UFRGS. Agradecemos ao CNPq
que por meio da chamada 81/2013 está viabilizando esta pesquisa.
2
Bióloga. Mestre e Doutoranda em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brasil. Correo: vivianecamejop@gmail.com
3
Ph.D., Professor Faculdade de Agronomia e Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural,
UFRGS. Coordenador da Rede de Núcleos de Agroecologia do Sul do Brasil. Correo: fabiods@ufrgs.br

1
manipulação das sementes em processos heterogêneos. No Brasil, a modernização da
agricultura iniciada no século XIX e vivida até hoje, integra as sementes neste processo
a partir da industrialização. A indústria de sementes tem operado em escala global e o
Brasil apenas reflete a situação mundial. As sementes industriais estão presente em
vários âmbitos da agricultura brasileira seja por meio das sementes híbridas ou
transgênicas. O uso dessas sementes compromete a soberania alimentar e nutricional do
povos ignorando os conhecimentos camponeses sobre as sementes crioulas resistentes e
incorporando a realidade rural sementes que carregam consigo toda tentativa de
homogeneização tecnológica da agricultura capitalista.
As sementes são essenciais na alimentação humana, tanto a semente em si que
alimenta seres humanos e animais, quanto às plantas que elas geram. Diferentes grupos
sociais almejam o domínio das sementes, seja no âmbito da conservação e da soberania
alimentar e nutricional quanto no âmbito do comércio industrial. O fato é que dominar
as sementes significa dominar a humanidade, pois sem elas e outros bens naturais como
a água e a terra não há alimento saudável e consequentemente há a vulnerabilidade dos
grupos humanos que ficaram de fora deste processo.
Essa vulnerabilidade pode-se agravar ainda mais com as atuais mudanças do
clima que cada vez mais são perceptíveis em todo o mundo. Nesse sentido é preciso
buscar a resiliência das sementes, a partir da seleção de sementes resistentes e
adaptáveis à instabilidade climática. Neste processo de resiliência, as sementes crioulas,
cultivadas a partir dos conhecimentos dos camponeses têm respondido a esta demanda.
As sementes atualmente carregam consigo conhecimentos advindos dos erros,
acertos e compartilhamento de práticas e saberes entre agricultores em que os processos
de manipulação obedecem à lógica e aos conhecimentos dos agricultores. Outras formas
de conhecimentos advindos de experimentos científicos e cruzamentos genéticos feitos
em laboratório obedecendo a lógica homogeneizante produtivista do mercado em
universidades e centros de pesquisa também compõem a atualidade da produção de
sementes.
Como forma de traçar uma trajetória que culmine na importância dos saberes e
práticas dos camponeses para conservação das sementes crioulas no Brasil como
mecanismos de autonomia e resistência camponesa optou-se por dividir este trabalho
em cinco partes além da introdução e considerações finais. A primeira seção A
modernização da agricultura no Brasil, traz elementos para a compreensão do contexto
em que a discussão acerca das sementes está inserida. Contextualiza-se o processo de

2
modernização da agricultura brasileira apontando para lógica produtivista da agricultura
industrial que viabilizará a industrialização das sementes. Na segunda seção tratar-se-á
sobre a industrialização das sementes a partir do contexto mundial que refletirá no
Brasil. Na terceira parte A insustentabilidade da agricultura industrial de commodities
em tempos de mudanças climáticas infere-se que a agricultura industrial baseadas nos
pacotes tecnológicos e produção de commodities não pode dar respostas às mudanças do
clima sendo incapazes de assegurar a resiliência. Na quarta parte traz-se a necessidade
do resgate dos saberes e práticas dos camponeses para a resiliência criando
possibilidade para a autonomia e a resistência camponesa. Na quinta seção é trazida a
experiência das sementes da paixão na Paraíba, Brasil em que os agricultores
camponeses buscam mecanismos de autonomia e resistência por meio da valorização e
resgate dos seus conhecimentos a fim de obter a resiliência do agroecossistema na
predominância da seca. Em seguida, na sexta seção demonstra-se a iniciativa dos
guardiões de sementes crioulas no sul do Brasil também como exemplo de autonomia e
resistência camponesa. Por fim, são trazidas algumas considerações finais.

1 A modernização da agricultura no Brasil


A fim de aumentar a produtividade, a rentabilidade agrícola, e a
homogeneização e expansão dos domínios das nações consideradas desenvolvidas, o
setor agrícola nos anos 60, empregou grandes somas em créditos agrícolas,
incorporando insumos considerados modernos, tecnificando e mecanizando o processo
produtivo integrando-se aos processos internacionais de comercialização. (Palmeira,
1989). Estes processos acompanharam as tendências tecnológicas internacionais. No
que se refere à mudança tecnológica, a modernização da agricultura no Brasil na visão
de Tambara (1985), é a concretização das concepções dualistas e difusionistas na matriz
tecnológica na agricultura. A concepção do dualismo tecnológico ou multiplicidade
tecnológica são estágios de modernização em que existiria a co-existência na produção
comercial de agricultores, de tecnologias tradicionais e modernas. Já o enfoque
difusionista de acordo com Tambara (1985), defende a necessidade de transferência de
tecnologia e de padrões culturais de regiões que se encontrariam mais “adiantadas” ou
desenvolvidas para as mais “atrasadas” ou em desenvolvimento.
A mudança da base tecnológica da agricultura em direção a um processo
crescente de integração com a indústria transformou o cenário da agricultura brasileira.
A modernização da agricultura embora consolidada nos anos 60 passou por um

3
planejamento de décadas, preparando o cenário nacional. As discussões acerca de uma
mudança na matriz tecnológica na agricultura brasileira foi iniciada na República Velha
brasileira (1889- 1930) a partir do diagnóstico do atraso da agricultura. Nesse período o
governo brasileiro tinha por meta “construir produtores capazes de responderem aos
estímulos do mercado, racionalizando e atualizando a vocação agrícola do país.”
(Mendonça, 1995: 79). Os projetos educacionais e racionalizadores da produção, de
acordo com Mendonça (1995), perpassaram toda República Velha com o intuito de
“regenerar o homem e elevar ao máximo a produtividade tornando-a cada vez mais
tecnificada, parecem ter sido as metas da preconizada agricultura científica.” (1995: 83).
A industrialização iniciada na República Velha toma força na Era Vargas4 (1930- 1945)
e com os incentivos da ditadura militar (1964- 1985) a fim de fomentar a Revolução
Verde no Brasil nas décadas de 60 e 70 e, intensifica-se o uso intensivo de insumos
industriais. Abriu-se a agricultura brasileira ao uso de sementes híbridas e as
geneticamente modificadas, para a mecanização e a diminuição dos custos de transação.
Este processo culminou na chamada “modernização conservadora5” em que a
desestruturação dos complexos rurais deu lugar aos complexos agroindustriais (CAIS).
(Mielitz- Netto, et al., 2010).
De acordo com Palmeira (1989), a modernização da agricultura no Brasil se deu
sem que houvesse uma mudança na estrutura fundiária brasileira mantendo e
aumentando a concentração de terras. Segundo Guimarães: “Como a concentração
agroindustrial passou a exigir capitais centralizados em tão grande vulto que as
organizações individuais não eram capazes de mobilizar, as empresas individuais e
familiares deram lugar a empresas societárias, em que as sociedades anônimas
constituem a forma típica.” (Guimarães, 1979: 85). Além da transformação das
propriedades que possuíam caráter empresarial familiar em sociedades anônimas,
verificam-se outros processos descritos por Palmeira (1989) que reforçam a noção de
modernização conservadora: “(...) a propriedade tornou-se mais concentrada, as
disparidades de renda aumentaram, o êxodo rural acentuou-se, aumentou a taxa de
exploração da força de trabalho nas atividades agrícolas, cresceu a taxa de auto-

4
Era Vargas é o período da história do Brasil entre 1930 e 1945, quando o país estava sob a liderança do
ex- presidente Getúlio Vargas.
5
Modernização conservadora- termo adotado por analistas da economia brasileira para designar a
modernização da agricultura imposta pela ditadura militar no Brasil em 1964. De acordo Pires e Ramos
(2009), os economistas designaram assim este período em que no Brasil houve uma maior intensidade da
penetração das forças produtivas capitalista na agropecuária brasileira.

4
exploração nas propriedades menores e piorou a qualidade de vida da população
trabalhadora do campo. “(PALMEIRA, 1989: 87).
Estes processos, na visão do autor, configuram-se na expropriação do
campesinato, caracterizada pela pressão modernizadora que atuou de forma a
desvalorizar o saber- fazer camponês. Sobre o termo expropriação do campesinato, de
acordo com o autor: “Trata-se menos de despojamento dos trabalhadores rurais de seus
meios de produção, pois destes, de alguma maneira, já haviam sido ou sempre
estiveram expropriados, mas de sua expropriação de relações sociais, por eles vividas
como naturais, que tornam viável sua participação na produção e sobre as quais, por
isso mesmo, exercem algum controle que se traduz num certo saber- fazer.” (Palmeira,
1989: 89).
A expropriação dos saberes camponeses trazida por Palmeira em 1989
constituem um conjunto de transformações na agricultura que até hoje possuem reflexos
na constituição do agrário brasileiro. As consequências dos processos de modernização
da agricultura desde a República Velha consolidou-se por meio do projeto de
modernização do Brasil e de integração internacional culminando na abertura da
economia agrícola brasileira às corporações internacionais, no aumento da concentração
fundiária6 e na agricultura capitalista de commodities, sendo as sementes um destes
produtos agrícolas destinados à exportação.

2 A industrialização das sementes


A industrialização das sementes foi um processo que se tornou possível a partir
das experiências científicas do monge austríaco Gregory Mendel no século XIX.
Mendel, a partir de experimentos genéticos com ervilhas, descobriu a capacidade de
transferência de características genéticas das plantas. Assim, por meio de cruzamentos
em laboratório obteve plantas híbridas, que mantém características genéticas das
distintas variedades de plantas que lhe deram origem. Estas também sofrem mutações
descontroladas que podem acarretar até mesmo na esterilidade da planta. Essa
descoberta possibilitou o início de experimentos genéticos, as sementes VAR
(Variedade de Alto Rendimento) com fins industriais - o processo de industrialização
6
“A concentração de terra no Brasil é uma das maiores do mundo. Menos de 50 mil proprietários rurais
possuem áreas superiores a mil hectares e controlam 50% das terras cadastradas. Cerca de 1% dos
proprietários rurais detêm em torno de 46% de todas as terras. Dos aproximadamente 400 milhões de
hectares titulados como propriedade privada, apenas 60 milhões de hectares são utilizados como lavoura.
O restante das terras está ociosas, sub-utilizadas, ou destinam-se à pecuária. Segundo dados do Incra,
existem cerca de 100 milhões de hectares de terras ociosas no Brasil.” (DHNet, 2010: 1).

5
das sementes. (Shiva, 2003). Esta manipulação das sementes VAR permite selecionar
características desejáveis às plantas como maior produtividade ou resistência a um
determinado estado climático, desde que estável. Porém apresentam características
prejudiciais à agricultura camponesa. De acordo com Cordeiro (2004), as plantas
híbridas na primeira geração costumam a se reproduzir com eficiência, já nas seguintes
gerações, não fazendo com que os agricultores não possam guardar suas sementes tendo
que comprá-las a cada safra.
No século XX, foi fundada a Pioneer Hi- Bred nos Estados Unidos, primeira
indústria de sementes de milho híbrido. (Cordeiro, 2004). Em seguida constrói-se a
proposta de Revolução Verde da Fundação Rockfeller7 com o apoio do Banco Mundial,
impondo pacotes tecnológicos e agendas de pesquisa para a “modernização da
agricultura”. A Revolução Verde foi imposta à sociedade como forma de garantir
alimentos em quantidade e baratos que pudessem alimentar o mundo em quanto as
potencias mundiais se recuperavam do pós II guerra mundial. Esta política foi planejada
como uma ação estratégica pensada pela Fundação Rockfeller a partir da visita de
Nelson Rockfeller ao México em 1946, o mesmo fundador das empresas Pionner Hi-
Bred, como já comentado, a primeira indústria de milho híbrido. Em 1971 este projeto
teve o apoio do empresariado mundial com a participação de 18 empresas
multinacionais como a Ford, Kellogs e principalmente da Fundação Rockfeller. Este
apoio consolidou-se com a criação da CGIAR- Consultative Group for International
Agricultural Research, contanto também com o apoio da Organização das Nações
Unidas FAO (Food and Agriculture Organization), Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento). Atualmente a CGIAR possui 54 membros e 15 centros de pesquisa.
(CGIAR, 2013, Gutiérrez, 2003). No entanto, tanto nos países considerados ricos
quanto nos países considerados mais pobres economicamente, houve a marginalização
das práticas e saberes dos agricultores camponeses em todo o mundo.
No Brasil as pesquisas genéticas com plantas foram incentivadas por Dom Pedro
II em meados de 1859, mas só em 1920, por influência da discussão sobre agricultura na
Europa e Estados Unidos, é fundado pelo Ministério de Agricultura brasileiro o Serviço
de Sementes. Conforme Cordeiro (2004), os primeiros experimentos brasileiros com

7
A Fundação Rockfeller em conjunto com a Monsanto Corporation, a Fundação Syngenta e o governo da
Noruega, Fundação Bill e Melinda Gates da Microsoft Corporation, a Dupont e a Pioneer Hi- Bred
criaram em 2006 o banco de sementes para o fim do mundo, cujo nome oficial é Svalbard Global Seed
Vault localizado na ilha Spitsbergen no arquipélago de Svalbard, no ártico.

6
sementes híbridas foram feitos nos anos 30. Em 1945 fundou-se a Agroceres com o
apoio da Universidade Federal de Viçosa e em 1965 instala-se no Brasil a primeira
empresa multinacional, a Cargill. A partir daí, outras multinacionais vão sendo
instaladas no Brasil a partir da compra de outras empresas menores. A Agroceres
fundada em 1945 foi incorporada a Monsanto em 1997. (Cordeiro, 2004; França-Neto,
1998). Em 2007, a Monsanto se torna uma das 3 maiores empresas multinacionais que
atuam no ramo da biotecnologia e com sementes seguida da Dupont, Syngenta. (Quadro
1).
Quadro 1- Top 10 Seeds Company- “As 10 maiores companhias de sementes em 2007”.
% of global proprietary
Company – 2007 Seed sales (US$ millions)
seed market

Monsanto (US) $4,964m 23%

DuPont (US) $3,300m 15%

Syngenta (Switzerland) $2,018m 9%

Groupe Limagrain (France) $1,226m 6%

Land O' Lakes (US) $917m 4%

KWS AG (Germany) $702m 3%

Bayer Crop Science (Germany) $524m 2%

Sakata (Japan) $396m <2%

DLF-Trifolium (Denmark) $391m <2%

Takii (Japan) $347m <2%

67% [of global proprietary seed


Top 10 Total $14,785m
market]
Fonte: ETC Group In: GM Watch. Disponível em:< http://www.gmwatch.org/gm-firms/10558-the-
worlds-top-ten-seed-companies-who-owns-nature>. Acesso em: 24 out. 2013.

O principal ramo da biotecnologia em que atuam essas empresas é na


transformação genética- os OGM’s – Organismos Geneticamente Modificados. Dentro
desta área da engenharia genética está a produção de sementes transgênicas (1983)-
conhecidos por PGM’s- Plantas Geneticamente Modificadas. (Testart, 2011). No Brasil
atualmente existem quatro cultivos transgênicos destinados a exportação: soja, milho,
algodão e canola. Estas sementes são manipuladas geneticamente para conferirem
resistência a certos agrotóxicos, sendo assim, é possível utilizar herbicidas em uma
plantação de soja sem danificá-la. (Londres, 2000). Comumente estas plantas também
passam a ter sua estrutura genética (re)combinada, inclusive com estruturas de DNA de

7
outras plantas que não cruzariam no ambiente natural, a fim de conferir tamanho,
formato ou cor que esteja sendo solicitada pelo mercado.
Atualmente, o debate a acerca dos transgênicos, está centralizado nos riscos em
torno da manipulação genética das plantas e suas relações com o ecossistema. Dentro
desta relação podemos inserir a relação com a sociedade e a natureza. Existem diversos
debates quanto aos riscos à saúde humana e de outros animais, como por exemplo, em
relação à recombinação do DNA de células animais com material genético da planta
transgênica, à resistência animal a antibióticos, à potencialidade de deformação de fetos.
Também debate-se entre os movimentos sociais e a academia a biosegurança em relação
às interações entre as espécies na medida em que sementes transgênicas acabam por
cruzar com plantas não transgênicas transferindo seu material genético. De acordo com
Nodari e Guerra (2001: 81):

A adição de um novo genótipo no ecossistema ou de sua transferência e expressão


em outras plantas pode proporcionar vários efeitos indesejáveis, como o
deslocamento ou a eliminação de espécies não domesticadas, a exposição de
espécies a novos patógenos ou agentes tóxicos, a geração de plantas daninhas ou
pragas resistentes, a poluição genética, a erosão da diversidade genética e a
interrupção da reciclagem de nutrientes e energia.

O debate acerca da sustentabilidade ambiental coloca em questão as sementes


transgênicas que além dos riscos relacionados à saúde humana, colocam em risco a
autonomia dos agricultores, já que as sementes transgênicas são patenteadas e por sua
utilização são cobrados royalties.
A crescente industrialização da sociedade originou uma séria de transformações
nas relações sociais econômicas e políticas desconsiderando as relações humanas e o
ambiente. O processo de modernização da agricultura e a industrialização das sementes
são projetos políticos e econômicos que não visam à adaptação à mudança dos
contextos ambientais mundiais, cabendo a sociedade repensar alternativas que
assegurem a alimentação saudável e ecológica como formas de garantir a segurança
alimentar e nutricional. Sendo assim, as comunidades rurais criam seus próprios
mecanismos de resiliência e possuem capacidades para isso por meio dos saberes e
práticas desenvolvidos ao longo de seus acertos e erros, de suas experiências.

8
3 A insustentabilidade da agricultura industrial de commodities em tempos de
mudanças climáticas
De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC,
2007), as mudanças climáticas se tratam de qualquer mudança no clima ao longo do
tempo, seja ocasionada por ação antrópica ou causa natural independente da ação
humana. Já a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima
(CQNUMC) define as mudanças climáticas como sendo as mudanças no clima
ocasionadas pela ação humana, seja de forma direta ou indireta influenciando a
alteração da composição atmosférica (IPEA, 2010). Nesse sentido as mudanças
climáticas teriam por agente causador a ação antrópica, sendo a ideia de natureza
perpassada direta ou indiretamente pelas atividades da sociedade. O quarto relatório de
avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que a
agricultura será afetada pela instabilidade climática como a alteração da temperatura
média, precipitação, ventos e aumento da variabilidade climática associada com maior
frequência à gravidade dos eventos extremos como secas e inundações. (Campbell et al.,
2011). Essas alterações influenciarão especificamente a produção de alimentos. Ainda
de acordo com Campbell et al., (2011), até 2050 na África Subsaariana 56% das
colheitas serão afetadas negativamente enquanto na Ásia será em torno de 21%. A
mudança climática poderá afetar a distribuição e fornecimento de alimentos, como
também alterar os preços e a produção agrícola, mudando também as dinâmicas do
mercado agropecuário global.
Para Santilli (2009), ao longo da história do planeta já ocorreram várias
alterações climáticas independentes de fatores antropogênicos, como por exemplo, os
ciclos de glaciações. Porém, há poucas divergências entre os pesquisadores que
contestem o atual aquecimento global como uma mudança climática potencializada
pelas atividades humanas. Dentre as atividades, tem-se a queima de combustíveis
fósseis que contribui com cerca de 80% dos gases emitidos na atmosfera- os gases do
efeito estufa e os 20% restantes oriundos dos desmatamentos e queimadas entre outras
atividades que desgastam os solos. De acordo com Pinto et. al., (2010), o Brasil gera 5%
das emissões globais de carbono (aproximadamente 2,2 bilhões de toneladas de CO2)
que contribuem para o efeito estufa, em decorrência na maior parte, de queimadas e
desmatamentos. (Pinto et al., 2010). Em relação às emissões de gases que contribuem
para o efeito estufa, no Brasil as principais atividades poluidoras estão relacionadas à

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mudança no uso da terra, de uma atividade extrativista, por exemplo, para a criação de
gado (59,3%) seguido da agricultura (23,7%). (IPAM, 2010).
O aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera poderá elevar
a temperatura e uma maior precipitação está prevista para os próximos anos. As
mudanças climáticas poderão impactar significativamente as atividades econômicas
brasileiras, em especial a produção de alimentos. (Féres et al., 2007).
Para Margulis e Dubeux (2010), o Norte e o Nordeste do Brasil são as regiões
com maior vulnerabilidade às mudanças climáticas no Brasil. Na região nordeste, as
chuvas tenderiam a diminuir 2-2,5 mm/dia até 2100, o que acarretaria a diminuição de
cultivos agrícolas e das pastagens, e consequentemente, dificultaria o pastoreio e a
criação de animais. Enquanto as previsões apontam para um clima mais seco e quente
para a região norte e nordeste, no sul do país a tendência seria de temperaturas mais
amenas. (Margulis e Dubeux, 2010). Por meio destas informações, pode-se inferir que
em alguma medida, poderia ser favorecido o cultivo de espécies adaptadas a climas
mais amenos e, em contra partida, desfavorecer os cultivos que atualmente já estão
adaptados às temperaturas mais baixas, configurando uma mudança na atual geografia
alimentar.
Ao mesmo tempo em que setores da sociedade buscam alternativas que
poderiam ser mais viáveis ambientalmente, também se pode estar fomentando
problemas ambientais, econômicos e sociais ainda mais graves na medida em que a
racionalidade das formas de produção não se alteram. A manipulação genética e a
mecanização da maneira como são empregadas nos métodos convencionalizados pela
Revolução Verde mundial têm-se mostrado insustentáveis, porém em relatórios como
do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) ainda defende-se e recomenda-se
uma racionalidade de uma agricultura capitalista industrial.
De acordo com Margulis e Dubeux (2010), as modificações genéticas e a
mecanização seriam alternativas altamente viáveis para amenizar as consequências das
mudanças no clima na produção de alimentos. Porém, sobre esta afirmação, há de se
considerar que as modificações genéticas, os transgênicos, por exemplo, e a
mecanização já são empregadas pelo agronegócio brasileiro, sendo a mecanização uma
das metas de desenvolvimento do governo federal desde os anos 1930. Em todos estes
anos, observa-se a elevação da produtividade do agronegócio brasileiro e o aumento da
sua participação no PIB, dados estritamente econômicos que não contabilizam os
prejuízos sociais e ambientais gerados. Diante deste crescimento, não são considerados

10
os danos irreversíveis, os problemas sociais e ambientais irreparáveis que este modelo
de agricultura sugerido por Margulis e Dubeux (2010) tem ocasionado, principalmente
aos agricultores familiares.
O aumento da produtividade do agronegócio brasileiro não vem acompanhado
pelo aumento da sustentabilidade socioambiental, ao contrário, as principais atividades
agrícolas que alavancam os dados de produtividade estão relacionadas à exportação de
commodities agrícolas. Por sua vez, a produção e exportação de commodities agrícolas,
como; milho, trigo, arroz, algodão, soja, farelo de soja, óleo de soja, carne bovina,
frango e carne suína, sujeitam-se à financeirização do mercado capitalista, à
especulação e ao grande agronegócio, a um cassino global e não à alimentação das
populações mais carentes (Shiva, 2012). O aumento da representatividade do
agronegócio brasileiro no PIB do país8 tende a aumentar, fomentando a participação de
investidores nacionais e internacionais, segundo a revista Valor Econômico (2012).
Segundo Lopes (2012) em 2022 o Brasil deve se consolidar como líder mundial em
commodities agrícolas.
O capital que gira em torno das commodities, não contabiliza também os
prejuízos sociais, como a exclusão de milhares de pessoas que não acessam a uma
alimentação saudável e com qualidade nutricional, ou que nem mesmo acessam
alimentos. Pode-se citar ainda os prejuízos prováveis relacionados a privação de renda e
de liberdade, de condições que assegurem expandir as capacidades humanas (Sen,
2000). Neste contexto os agricultores camponeses se tornam cada vez mais dependentes
do mercado, bem como do pacote tecnológico de commodities como o fumo e a soja. O
monocultivo da soja está em expansão no sul do Brasil, principalmente em regiões de
agricultura familiar fazendo com que estes agricultores se sujeitem a produzir conforme
as negociações que faça com as empresas, com a obrigatoriedade do uso de sementes
geneticamente modificadas e uso de agrotóxicos. Este modelo suscita a dependência à
agricultura capitalista contribuindo para a perda de autonomia dos agricultores, seja no
âmbito produtivo e econômico como em relação ao gerenciamento da propriedade e do
seu tempo.
Segundo o dossiê de alerta ao uso de agrotóxicos no Brasil desenvolvido pela
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), em 2011, a média do consumo

8
Segundo dados do CEPEA, a participação do agronegócio no PIB nacional teve um aumento de
21,78% em 2010 para 22,74% em 2011, ou seja, em 2010 e 2011 houve um crescimento acumulado do
PIB do agronegócio nacional em 13,51%. (RURALBR, 2012).

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de agrotóxicos no Brasil foi de 4,5 litros por habitante. (Carneiro, 2012). O trabalho do
Centro Estadual de Vigilância em Saúde de acordo com as projeções baseadas em
informações coletadas acerca da safra 2009/2010, indicou que o estado do Rio Grande
do Sul na época consumiu 85 milhões de litros de agrotóxicos no Estado, cerca de 8,3
litros de agrotóxicos a cada ano.
Os gastos com pesticidas agrícolas no Brasil superaram a casa dos US$ 2,7
bilhões por ano. No Brasil, entre 1993 e 1998 esta taxa foi de 6,7% ao ano. Dados da
ANDEF – Associação Nacional dos Defensivos Agrícolas (que atualmente trocou o
nome para Associação Nacional de Defesa Vegetal) dão conta de que em 1999 as
vendas totais de agrotóxicos no Brasil foram superiores a 288.000.000 de kg de
produtos comerciais, o que significou um valor total de vendas na casa dos US$
2.329.067.000 (ANDEF, 2003).
Do ponto de vista ambiental, um dos graves problemas causado pelos
agrotóxicos está relacionado com a quantidade de embalagens contaminadas que
acabam sendo jogadas em mananciais aquáticos e ao solo. Segundo a ANDEF, mais de
300 milhões de embalagens de agrotóxicos foram consumidas entre 1987 e 1997. Em
média, seriam 30 milhões por ano. Outro dado que é bastante conhecido no meio rural,
inclusive no Rio Grande do Sul, é a probabilidade de relação entre intoxicação por
pesticidas (ditiocarbamatos, por exemplo) e a ocorrência de casos de suicídio, incluindo
a relação do uso de agrotóxicos com a ocorrência de malformações de fetos humanos.
Sendo assim, a problemática ambiental é apenas um dos aspectos da lógica que permeia
o uso intensivo de agroquímicos e sementes transgênicas. Os dados anteriores
apresentados demonstram a insustentabilidade. O modo como a agricultura vem sendo
desenvolvida tem causado danos tanto ambientais quanto a própria sociedade, não
conseguindo preservar e nem conservar o ambiente, gerando uma instabilidade de
perspectivas futuras de continuidade dos bens ou recursos naturais, dos quais a
humanidade depende para sobreviver. A noção de insustentabilidade ambiental do
desenvolvimento atrelado ao crescimento econômico teve início nos anos 70 com
Primeira Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
promovida em 1972 pela ONU, em Estocolmo. (Freitas et al., 2012). O conceito de
desenvolvimento sustentável foi apresentado pela primeira vez de forma institucional,
pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) criada
pela Assembleia Geral da ONU nos anos 80. Esta comissão apresentou em 1987, o
relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland. (Freitas

12
et al., 2012). Nele o desenvolvimento sustentável foi conceituado como o [...] o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade
das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991: 7). Os
Estados Unidos e outros países considerados desenvolvidos, mantém níveis de consumo
e de degradação ambiental que necessitaria de vários planetas Terra para poder sustentá-
los sem acabar com os bens ou recursos ambientais dos quais necessitam para
sobreviver.
O modelo insustentável da tecnologia agrícola poderia responde a alterações
pontuais do clima, porém, em meio à insegurança das mudanças climáticas que poderão
ainda ocorrer, a agricultura baseada em insumos industriais e sementes geneticamente
modificadas não será capaz de assegurar a soberania alimentar dos povos, já que, esta
agricultura não obedece ao processo natural de evolução e consequentemente não há a
adaptação das espécies às alterações climáticas e sim, a resolução de problemas de
ordem imediata. Dessa forma este modelo traz insegurança alimentar ao pressupor as
tecnologias e os insumos sob o controle das empresas e da lógica produtiva da
agricultura capitalista. As mudanças climáticas estão associadas ao aumento das
ameaças à segurança alimentar (Beddington et al. 2012). Nesse sentido, a FAO em seus
relatórios recentes incorporou medidas relacionadas a criação de políticas públicas e a
readequação dos padrões de consumo como forma de enfrentar a instabilidade do clima
com vistas a segurança alimentar (Beddington et al, 2012: 21). Conforme as
recomendações acima da FAO pode-se inferir a necessidade de valorização dos saberes
e práticas dos camponeses a fim de fomentar a conservação dos recursos genéticos a
partir dos conhecimentos dos agricultores.

4 As práticas e saberes camponeses como alternativa de resiliência


De acordo com Belussi e Pilotti (2000) o conhecimento prático tende a ser
altamente tácito em sua natureza enquanto o conhecimento codificado ou conhecimento
científico está relacionado à compreensão teórica e os princípios científicos. O
conhecimento tácito diz respeito ao conhecimento construído socialmente por meio de
mecanismos objetivos e subjetivos. Os mecanismos objetivos podem ser exemplificados
pelo estudo, pela incorporação de verdades científicas e práticas conscientes em que o
agricultor racionaliza determinados saberes e práticos com o intuito de aprendizado,
podendo se dar por meio de um dia de campo com um técnico ou extensionista rural,
por exemplo. O conhecimento subjetivo é racionalizado a partir das experiências e

13
práticas cotidianas e pode se tornar objetivado. Os agricultores camponeses estão
imersos em um conjunto de fatores que permitem a construção de conhecimento de
forma cotidiana, por meio de suas experiências de vida e seus experimentos com acertos
e erros permitindo uma construção coletiva em que os conhecimentos são
compartilhados e aprimorados durante as gerações. Os agricultores camponeses utilizam
estratégias que permitem mobilizar conhecimentos a fim de lhes permitir a resiliência de
seus sistemas produtivos em tempos de vários climáticas consecutivas, em um curto
espaço de tempo.
De acordo com Altieri e Nicholls (2013) como estratégias camponesas podem-se
citar a manutenção da diversidade genética, os policultivos e pluriatividades e
agroflorestas, o aproveitamento da água, a conservação do solo. Ainda pode-se citar no
caso brasileiro a pluriatividade em que os agricultores combinam atividades agrícolas e
não agrícolas a fim de manter a renda familiar e a conservação dos recursos locais
permitindo a regeneração do agroecossistema por meio das dinâmicas ecológicas e de
sazonalidade, permitindo o não-uso intensivo da terra. A mobilização dos
conhecimentos locais abarcam a coletivização dos saberes e práticas camponeses que
são úteis principalmente nas comunidades em que a extensão rural é escassa ao mesmo
tempo em que as respostas precisam ser rápidas, o que ocorre em diversas regiões do
Brasil.
Segundo Altieri e Nicholls (2013: 9), a resiliência pode ser definida como a
“propensalidad de um sistema de retener su estructura organizacional y su productividad
trás uma pertubación”. No Brasil, os agricultores camponeses mobilizam seus
conhecimentos em torno da conservação de suas sementes, o que contribui para a
resiliência ao clima. Dar-se-á dois exemplos em que a mobilização de conhecimentos
tácitos contribui para a conservação das sementes crioulas ou tradicionais. As sementes
da paixão na Paraíba demonstram que apesar das dificuldades climáticas enfrentadas
pelos agricultores é possível na região, a garantia da soberania alimentar dos
agricultores por meio do cultivo de suas próprias sementes e pela utilização de seus
próprios recursos. Já no Rio Grande do Sul, tem-se a experiência dos guardiões de
sementes crioulas em que os agricultores camponeses agem como guardiões da
agrobiodiversidade sendo responsáveis pela manutenção, perpetuação e dispersão de
sementes crioulas essenciais a soberania e a segurança alimentar e nutricional.

14
5 As sementes da paixão na Paraíba, PB, Brasil
As sementes da paixão foi uma iniciativa de agricultores paraibanos em conjunto
com a AS-PTA em 1993, junto ao projeto de desenvolvimento local do Agreste da
Paraíba em uma região de alta biodiversidade e agricultura familiar. O termo sementes
da paixão foi criado pelos agricultores, para designar as sementes nativas, e o termo
paixão se refere à semente desejada para cultivar, e que expressam o equilíbrio e a
harmonia com o ambiente e a cultura regional. (Almeida e Cordeiro, 2002).
O agreste Paraibano é uma área entre a Zona da Mata e o Sertão no nordeste do
Brasil. É uma região semi- árida com predominância do bioma caatinga com vegetação
de savana estépica. Predominam as altas temperaturas, regiões de chuvas escassas e
pequenas áreas úmidas e brejos nas regiões baixas em que se desenvolve a agricultura.
A mesorregião do Agreste paraibano é uma das quatro mesorregiões do estado da
Paraíba e é formado pela união de 66 municípios.
A agricultura no semiárido nordestino é bastante diversificada. Os agricultores
desta região utilizam-se dos bens ambientais locais e por meio da observação
desenvolvem estratégias de manejo da biodiversidade, criando estratégias que diminuem
os riscos da instabilidade climática. A maior adversidade ambiental enfrentada pelos
agricultores camponeses da região é a limitação da água. A região do agreste paraibano
possui duas estações bem definidas: o inverno com períodos de chuva e o verão com
longos períodos sem chuva. A região também pode ser caracteriza pelas secas, em que
os períodos de escassez de chuvas podem durar mais de 2 anos. De acordo com Almeida
e Cordeiro (2002) as secas geram problemas relacionados à alimentação, pois os longos
períodos sem chuva diminuem drasticamente a produção agropecuária não havendo em
certas regiões, alimentos para consumo humano e nem para consumo animal. É comum
nesta região, observar a migração das famílias em busca de água que levam consigo
sementes para alimentação. De acordo com as autoras “isso coloca em xeque o plantio
da safra seguinte e aumenta os riscos de erosão genética das variedades locais”
(Almeida e Cordeiro, 2002: 25).
A conservação das sementes crioulas para plantio e alimentação se dá por meio
de conhecimentos transmitidos através das gerações e com o apoio das políticas
governamentais locais de incentivo ao resgate dos conhecimentos sobre conservação das
sementes. De acordo com Almeida e Cordeiro (2002: 21), os agricultores camponeses
ao longo das décadas guardam suas próprias sementes e possuem práticas de
conservação da diversidade agrícola “como adaptação e seleção de materiais, troca e

15
experimentação de recursos genéticos. Aliada aos materiais há a mobilização e a
perpetuação do conhecimento sobre a biodiversidade, sem o qual não seria possível o
uso”.
A manutenção da tradição neste caso, mantém a autonomia dos agricultores
propiciando ações de resistência à entrada de técnicas e insumos externos nas
propriedades camponesas como previa a modernização da agricultura no Brasil e a
Revolução Verde. A conservação in situ e o manejo ecológico adequado às
especificidades do semiárido garantem sementes resistentes às secas e altamente
produtivas, a estocagem de sementes garantem a alimentação da família e o excedente é
voltado à comercialização em feiras locais. A estratégia do mercado das feiras locais
garante que os agricultores comercializem pequenas quantidades de seus produtos.
(Almeida e Cordeiro, 2002).
A modernidade discutida na academia, principalmente no que tange ao meio
urbano, também gera consequências no campo. Não só devido às políticas de
modernização da agricultura no Brasil, mas também pelas dinâmicas atuais que o
Estado tem adotado a fim de fortalecer o controle dos recursos naturais e evitar o
agravamento de uma “crise” ambiental e alimentar brasileira. Os agricultores paraibanos
comumente não possuem a propriedade da terra trabalhando de arrendatários ou
agregados nas terras dos “patrões”. Esse fator fragiliza a autonomia dos agricultores
visto que a produção gerada, nesses casos, precisa ser destinada ao pagamento pelo uso
da terra, sendo assim, as sementes são plantadas e colhidas para alimentação e também
como moeda de troca, muitas vezes sem sobrar sementes para uso no próximo ano.
Assim, alguns agricultores se vêm na dependência das sementes dos seus “patrões”. De
acordo com Almeida e Cordeiro (2002), as políticas governamentais que são
implementadas pelos setores de pesquisa, extensão e crédito rural, não exercem uma
contribuição significativa para transformar essa situação. As políticas vêm em forma de
normatização, fazendo com que os agricultores sejam obrigados a adotar certas
tecnologias a fim de estarem aptos ao pagamento do crédito, contrapondo as formas
tradicionais de conservação que tem contribuído para o estabelecimento das famílias
rurais no campo.
A padronização genética legitimada pelas leis desvalorizam a cultura local por
meio de um apelo a garantias de qualidade e normas sanitárias, muitas vezes criando
situações em que os agricultores são obrigados a aderir o uso de sementes
geneticamente modificadas. Essas sementes não passam pelo processo de seleção

16
natural que permite a colheita de sementes aptas aos ecossistemas específicos dos
municípios paraibanos. Os laboratórios de centros de pesquisa, como da Embrapa
conveniada ao governo brasileiro, destinam recursos que não precisariam ser utilizados
caso as políticas orientassem outro modelo de desenvolvimento, em que as estratégias
de conservação in situ dos agricultores fossem protagonistas. De acordo com
Almekinders e Louwaars (1999), a seleção da semente in situ, realizada manualmente
pelos agricultores, complementa a seleção natural no sentido de selecionar as espécies
com maior resistência a algumas doenças e a fatores climáticos. A seleção de algumas
características, realizada através dos conhecimentos empíricos dos agricultores ano a
ano auxilia para uma maior eficácia do que apenas a pressão da seleção natural.
A presença da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) nos
grupos de conservação de sementes crioulas é recorrente em todo o Brasil. No Rio
Grande do Sul, a Embrapa atua na catalogação genética das sementes crioulas e na sua
distribuição aos agricultores. No Brasil discute-se acerca da propriedade intelectual das
sementes e inclusive existem Leis que favorecem a apropriação privada, mas que
encontram dificuldades de implementação devido às pressões populares.
Existem as Leis de Sementes e de Cultivares que são oriundas de acordo
internacionais de 1994, na Rodada do Uruguai, em que o Acordo GATT previa uma
seção específica sobre propriedade intelectual. Por meio deste acordo, os países são
obrigados a aprovar leis para proteção de cultivares, sendo as discordâncias penalizadas
pela Organização Mundial do Comercio. As leis brasileiras criadas nos anos 90 são: a
Lei de Patentes (Lei nº 9.279 de 15.05.96); Lei de Cultivares (Lei nº 9.456 de 28.04.97)
e a Lei de Sementes (Lei nº 10.711 de 05.11.2003). No Brasil, as iniciativas dos
movimentos sociais, alguns políticos e organizações, garantiram a produção, a troca e a
comercialização de variedades de sementes crioulas sem precisarem ser registradas.
A Lei de Sementes brasileira privilegia o sistema formal de sementes (sistema
industrial comercial) em detrimento dos sistemas informais (sistemas locais e
tradicionais). De acordo com Santilli (2012), a Lei de Sementes brasileira exclui os
agricultores não têm condições de adquirir sementes ou que optam por usar suas
próprias sementes, adaptadas às condições ambientais e resilientes às variações
climáticas. As espécies e variedades que não são interessantes para a produção
industrial comercial também são marginalizadas.
O privilégio ao sistema industrial de sementes caracterizado principalmente
pelas restrições ao uso, conservação e acesso das sementes pelos agricultores. Porém, as

17
sementes transgênicas, por exemplo, tem tido seu uso fomentado por meio de políticas
públicas como o Troca- troca de sementes no Rio Grande do Sul. Atualmente, os
guardiões de sementes têm sofrido pressões tanto por questões geográficas, em que as
propriedades vizinhas que usam sementes de milho transgênico acabam por contaminar
as sementes crioulas por meio da dispersão e polinização do milho; tanto pelas políticas
como o Troca- troca. Políticas públicas como essa em vigor no Rio Grande do Sul ao
disseminarem as sementes transgênicas acabam por contaminar as lavouras suscitando a
necessidade de mecanismos de autonomia na produção de sementes e resistência em
manter a produção das variedades locais ou crioulas.

6 Os guardiões de sementes crioulas no Rio Grande do Sul, Brasil: o


fortalecimento de mecanismos de resistência e autonomia camponesa.
O Rio Grande do Sul é um estado ao extremo sul do Brasil. Faz divisa com a
Argentina e o Uruguai e com o estado de Santa Catarina. O estado caracteriza-se pelo
clima subtropical, com as quatro estações bem definidas e chuvas regulares a exceção
dos períodos de seca e estiagem no verão, que atualmente são cada vez mais frequentes
e duradouros, assim como por outro lado no inverno as enchentes provocadas pelo
aumento das precipitações das chuvas.
No evento Conferência sobre Mudanças Climáticas da Assembléia Legislativa
do RS em 2011, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, colocou
que o Rio Grande do Sul faz parte dos cinco estados mais afetados pelas mudanças do
clima no Brasil. Segundo o pesquisador, as ondas de calor são cada vez maiores e mais
frequentes no estado (Hendges, 2011).
De acordo com Castro et al, (2003) há diferenças em relação às estiagens e secas
embora no senso comum as duas palavras signifiquem longos períodos de falta de
chuvas. Para Castro et al (2003),
Nas estiagens, ocorre uma queda dos índices pluviométricos para níveis
sensivelmente inferiores aos da normal climatológica, comprometendo
necessariamente as reservas hidrológicas locais e causando prejuízos a agricultura e à
pecuária. (...) a seca é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma
redução sustentada das reservas hídricas existentes. (Castro et al, 2003: 55, 59).

Sendo assim, as estiagens seriam menos intensas que as secas por terem menor
intensidade e devido ao menor período de duração. Embora as estiagens serem menos
intensas elas ocorrem com maior frequência no campo tendo consequências na

18
produção agropecuária perceptíveis pelos aumentos dos preços dos alimentos ao
consumidor bem como a escassez de alguns causando mudanças na economia regional
(Souza Junior et. al, 2012).
Frente a essas variações climáticas ocorridas no Rio Grande do Sul, a
experiência dos guardiões de sementes permite a descoberta e a manutenção de
inovações produzidas pelos agricultores camponeses no sentido de permitir mecanismos
de resistência a agricultura capitalista e suas formas de agronegócio. Os guardiões de
sementes crioulas são experiências que exemplificam o que Scott (1985) vai chamar de
formas cotidianas de resistência camponesa. A resistência se dá de diferentes maneiras e
também diferentes níveis. Ela é política, mas nem sempre é racionalizada no sentido de
ser pensada com este propósito ou planejada. Os agricultores familiares camponeses
possuem distintas práticas e atitudes que ao serem subjetivados todos os dias lhes
permitem resistir frente aos modelos de agricultura capitalista. Muitos agricultores não
conseguem inserir-se no mercado capitalista, porém, no caso dos agricultores que
resistem a consolidação de práticas e conhecimentos em torno da produção e
comercialização de alimentos, por exemplo, não se dá pela necessidade devido a não
inserção, mas pelas formas alternativas que estes agricultores desejam, pelo sentimento
da não necessidade de comercializar com intermediários, por exemplo. A resistência
cotidiana se dá inclusive quando os agricultores camponeses possuem um leque de
opções e de forma consciente, muitas vezes a partir de mecanismos subjetivos, como a
coesão social, optam por formas alternativas de comercialização como o comércio
direto em feiras e práticas ambientalmente e socialmente sustentáveis de manejo dos
recursos naturais na propriedade. Este é o caso dos guardiões de sementes crioulas que
apesar do assédio das grandes empresas de comércio de sementes convencionais e
transgênicas, e da falta de incentivo governamental e de políticas públicas de crédito
para produção de sementes crioulas, ainda assim as cultivam, reproduzem, guardam e
trocam sementes com outros agricultores. De acordo com Bevilaqua (2014: 101), “os
guardiões são os principais atores na funcionalidade da agrobiodiversidade,
principalmente nesse período de mudanças climáticas acentuadas pelo qual estamos
passando”. Nesse sentido, os guardiões ao resistirem a agricultura capitalista, estão
construindo mecanismos de autonomia ao desenvolverem práticas agroecológicas
resilientes às mudanças do clima.
A autonomia se dá como consequência da resistência, e também em um processo
retroalimentado, em que resistência e autonomia se complementam. As tecnologias e

19
práticas cotidianas construídas a partir dos conhecimentos tácitos dos agricultores
camponeses promovem autonomia diminuindo a dependência da agricultura capitalista.
Almeida (2009) remete a autonomia camponesa no sentido da auto- organização
no campo da produção. Verifica-se nos casos de Guardiões de Sementes mapeados no
Rio Grande do Sul, que de fato, a auto- organização produtiva, tendo a autonomia total
ou parcial em relação a produção e conservação das sementes tradicionais locais
contribui para todo processo da organização produtiva.
Em estudo sendo realizado pelos autores deste trabalho no Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Brasil, verificou-se até o momento (maio, 2014), a partir de entrevistas realizadas com
entidades que trabalham no fortalecimento dos Guardiões, a confirmação dos seguintes
pressupostos de Almeida (2009) sobre algumas condições que permitem aos
agricultores camponeses um ganho de autonomia: a) o domínio de um saber camponês
específico; b) o domínio de certos instrumentos próprios de produção; c) a possibilidade
de melhor organizar o tempo de trabalho; d) um maior espaço de manobra na
diversificação das atividades da família no contexto da produção. Estas condições
trazidas por Almeida (2009) remetem às motivações que fazem com que os agricultores
continuem a resgatar e conservar suas sementes crioulas.
O espaço de manobra, principalmente frente às mudanças do clima, como a
estiagem no Rio Grande do Sul, varia conforme os distintos contextos políticos e
econômicos. No entanto, as sementes crioulas agregam maleabilidade ao processo
produtivo, visto a resistência das sementes e a resiliência dos agroecossistemas; a não
necessidade de compra das sementes e dependência do pacote tecnológico empresarial;
a diminuição das despesas; a não submissão dos agricultores à tecnologia das empresas
de sementes e a qualidade nutricional da família e dos animais da propriedade.
O domínio do saber acerca da produção de sementes de variedades tradicionais
ou locais permite ao agricultor por meio da conservação in situ, ter a autonomia na
organização do seu trabalho e também a resiliência dos agroecossistema a partir de
práticas tradicionais e do uso de sementes locais, mais adaptáveis e resistes às mudanças
do clima. Sob a perspectiva da conservação, os agricultores que lidam com as sementes
através dos saberes e prática agroecológicos, além de terem uma maior autonomia em
relação às indústrias de sementes convencionais, adquire também maior independência
do mercado de insumos selecionando sementes com variabilidade genética cada vez
mais vigorosa e adaptada ao solo e ao clima locais. (CS, 2000).

20
De acordo com Almekinder e Niels (1999), a seleção da semente in situ,
realizada manualmente pelos agricultores, apóia a seleção natural no sentido de
selecionar as espécies com maior resistência a algumas doenças e a fatores climáticos. A
seleção de algumas características, realizada através dos conhecimentos empíricos dos
agricultores ano a ano auxilia para uma maior eficácia do que apenas a pressão da
seleção natural. Segundo Altieri (2003), a diversidade genética que resulta das práticas
dos conhecimentos tradicionais: “[...] aumenta a resistência contra doenças que atacam
certas variedades de cultivo e possibilitam que os agricultores explorem diferentes
microclimas e obtenham múltiplos usos nutritivos ou outros da variação genética das
espécies (Altieri, 2003: 162).
Nesse sentido, as práticas e saberes agroecológicos dos agricultores camponeses
sobre a produção de sementes crioulas podem cumprir o papel de resistência na medida
em que reafirmam os conhecimentos tradicionais auxiliando na manutenção do fluxo
genético e das peculiaridades destas plantas resistentes às mais diversas condições
climáticas aos quais estão adaptadas.

Considerações finais
Este trabalho teve por intenção chamar atenção para a valorização dos saberes e
práticas dos camponeses para a conservação da agrobiodiversidade para a resiliência dos
agroecossistemas em tempos de mudanças climáticas. No Brasil já são possíveis de serem
visualizados alguns eventos que ainda estão sendo discutidos se corroboram ou não no
contexto das mudanças do clima. No nordeste se agravam as estiagens, secas e enchentes
que são percebidos há muitos anos fazendo com que os agricultores tenham buscado seus
mecanismos de sobrevivência. No sul do Brasil as estiagens e as secas têm ocorrido de
formas mais frequentes e a experiência dos guardiões de sementes crioulas no estado são
mecanismos de autonomia e resistência camponesa como também essenciais à resiliência
dos agroecossistemas.
A figura 1 a seguir expressa a resistência biológica do milho crioulo em meio ao
clima seco no Rio Grande do Sul. Mesmo em meio à falta de água e de solo adequado as
sementes se mostram aguerridas e tem nos agricultores e agricultoras familiares camponeses
e nos seus conhecimentos o respaldo à continuidade da vida.

21
Figura 1: Milho crioulo brotando em beira de estrada em Maquine, RS.
Fonte: Foto de Viviane Camejo. Verão/2014.

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