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CARACTERIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR E SUA IMPORTÂNCIA PARA SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR EM CABO

VERDE

Erik Augusto da Cruz Sequeira


Vladmir Antero Delgado Silves Ferreira
Introdução/ Caracterização do pais
 País pequeno e árido,
Com uma população residente de 491571 indivíduos distribuídos por 4. 033 km 2 .
A precipitação média anual não ultrapassa 300 mm para as zonas situadas a menos de 400 m de
altitude, com tendência de redução desde a década de 60 do século passado.

 As zonas situadas a mais de 500 m de altitude são expostas aos ventos alísios e as precipitações
podem ultrapassar 700 mm.

As temperaturas máximas no país ocorrem entre agosto e outubro, enquanto as mínimas ocorrem
entre dezembro e fevereiro. O período chuvoso coincide com o período mais quente no arquipélago .
Contexto da agricultura familiar em Cabo Verde
A agricultura cabo-verdiana é essencialmente de base familiar e de pequena
dimensão.
Os dados preliminares do RGA (2015) indicam que a população agrícola do país
é composta por 182.369 indivíduos (17.9% a menos que em 2004) distribuídos
por 45399 explorações agrícolas familiares.

A área dedicada à agricultura em Cabo Verde é de 36456 ha, sendo a maior


parte composta por culturas de sequeiro (87%); o restante é ocupado por
regadio (13%) ou explorado em regime misto.

 A porcentagem da área dedicada à agricultura representa cerca de 9% do


território nacional.
Principais sistemas produtivos da agricultura familiar cabo-verdiana: sequeiro e regadio

Cultura de Sequeiro

A agricultura de sequeiro é um sistema de exploração


agrícola que se desenvolve sob influência direta da
pluviometria.

É caracterizada pela utilização extensiva dos terrenos,


mão-de-obra diversificada e é, geralmente, praticada nas
encostas de declives acentuados.

Os produtos predominantes são o milho, feijões e


tubérculos.
.
• Na agricultura de regadio as parcelas dispõem de água e estão geralmente situadas nos vales.
• As culturas praticadas são constituídas por tubérculos, legumes, cana sacarina, banana, entre
outros.

•O aumento da área dedicada à agricultura de regadio justifica-se pelo incremento de


investimento quer nas infraestruturas de armazenamento de água (barragens de retenção de
água, diques, sistemas de adoção etc.), quer na substituição da rega por alagamento para o
sistema de rega gota-a-gota na última década

A maioria das terras agrícolas (87.4%) é de propriedade privada.


O Estado e os municípios são proprietários de 6% das parcelas cultivadas pelos
agricultores; a igreja católica (1.3%) e outros proprietários (5.4%) são detentores do
restante das terras agrícolas do país
Organização e participação social
• A organização da sociedade civil é ainda frágil e incipiente em Cabo Verde. No entanto, muito tem sido feito
no sentido de alterar tal visão e sensibilizar para as vantagens da organização da produção e da transformação
dos produtos agrícolas com vistas à garantia da segurança alimentar da população.

• Além da participação dos agricultores em um pequeno número de cooperativas constituídas, eles compõem
também Associações Comunitárias Locais voltadas ao desenvolvimento rural e comunitário, sendo estas
frequentemente associações multissetoriais.

• Existe ainda uma Plataforma das ONGs, que se configura como uma organização chapéu da qual fazem parte
um grande número das ONGs de Cabo Verde.

• Embora haja a percepção de que a organização social no país seja ainda incipiente, os participantes do
seminário realizado no âmbito do estudo consideram que na medida em que a sociedade civil se fortalecer e
ocupar espaços nas instâncias de governança, melhor poderá contribuir para o desenvolvimento do mundo
rural.

• O único espaço formal existente no país para discussão sobre a agricultura familiar é o Conselho Nacional de
Segurança Alimentar.
Construção e gestão do conhecimento

• As atividades de investigação aplicada em Cabo Verde são desenvolvidas essencialmente pelas instituições públicas

orientadas a esse fim, nomeadamente o INIDA e o Instituto Nacional do Desenvolvimento das Pescas (INDP).

• A universidade pública, por sua vez, vem paulatinamente se envolvendo em programas de pesquisas conjuntos com
universidades estrangeiras. Contudo, ainda se nota a ausência de mecanismos internos de apoio e financiamento da

investigação endógena.

• A extensão rural é assegurada pela Direção de Serviços de Extensão Rural e Economia Agrária do MAA
• Em termos da educação formal na área de agricultura, em 2011 foi criada a Escola de Ciências Agrárias e Ambientais
(ECAA), enquanto Unidade Orgânica da Universidade de Cabo Verde, com o objetivo de ministrar cursos nas áreas

agroalimentares e ambientais. Por ser uma instituição recente, encontra-se ainda no processo de sedimentação

institucional.

• Contudo, já se vislumbram resultados de alguns trabalhos de pesquisa ao nível da inserção da agricultura local nos
mercados institucionais (Triches, Schneider & Simões, 2013; Ferreira & Simões, 2018) e de análise das especificidades

e lógicas de ocupação do território num quadro de seca e de exiguidade de terras aráveis (Ferreira, 2016).
Gênero e juventude

• No que toca à faixa etária, os dados demonstram que 50% dos indivíduos ativos na
agricultura têm menos de 36 anos. Portanto, o setor agrícola em Cabo Verde conta com
uma forte presença de jovens e de mulheres.
Soberania e segurança alimentar
•A agricultura cabo-verdiana encontra-se longe de assegurar as
necessidades do país revelando-se, ainda, uma agricultura de subsistência,
cobrindo apenas de 10% a 13% do consumo alimentar nacional .

• Por essa razão, a segurança alimentar foi sempre considerada uma


prioridade nas orientações políticas de desenvolvimento do país pelos
sucessivos governos.
2.6. Importância da agricultura familiar para a soberania alimentar

O papel desempenhado pela agricultura familiar para a segurança alimentar é fundamental, tanto pela
produção de alimentos em si, quanto pelo efeito distribuidor de renda desse setor da agricultura, que cria
condições para o acesso aos alimentos (Soares, 2001).

Em termos de soberania e contribuição para a segurança alimentar e nutricional, a agricultura de sequeiro


possibilita aos agricultores um quadro de maior autonomia na decisão sobre o que cultivar, como
comercializar e o que destinar ao mercado.

Sendo uma agricultura de base artesanal, os utensílios utilizados são simples e rudimentares e as sementes
são selecionadas e conservadas pelos próprios agricultores.
• O sequeiro mantem práticas de relação ser humano/natureza com base em saberes transmitidos de geração em
geração e que se apoiam em princípio de reciprocidade, cooperação e entreajuda.

• Não se recorre ao uso de agrotóxicos e a assistência técnica das autoridades apenas se resume ao combate às
pragas. As principais limitações do sequeiro reside na insegurança jurídica relativa à posse dos terrenos agrícolas e

na irregularidade das chuvas.

• O regadio tem sido alvo de uma forte aposta do governo através de programas de mobilização de água e incentivos
à instalação de sistema de rega gota-a-gota.

• Apesar de também ser praticado em pequena escala, depende do acesso a insumos provenientes do exterior
(sementes, fertilizantes, pesticidas, por exemplo) e da assistência técnica do MAA.

• Esse sistema coloca a agricultura em plano secundário, introduzindo uma série de agentes econômicos que

crescentemente passam a ter um papel relevante nas relações mercantis e de produção (Ferreira, 2015a; Almeida,

1999). Portanto, por via da modernização da agricultura- através do incremento do regadio

• - há uma gradual perda de soberania dos agricultores, que passam a depender de uma cadeia de fluxos de capital,
tecnologias e matéria-prima gerados, por vezes, a uma escala planetária, reduzindo sua autonomia com relação ao
3. Potencialidades da agricultura familiar no país

Os atores-chave da sociedade civil, do setor governamental e da


universidade participantes do estudo acreditam que a agricultura familiar
em Cabo Verde contribui para a segurança e soberania alimentar, bem como
para a redução dos níveis da pobreza no país.

Reconhecem seu papel no desenvolvimento da economia, na redução do


desemprego, na diversificação produtiva, na manutenção dos jovens no
campo e na diminuição da importação dos produtos agrícolas, em especial
para o mercado turístico.

.
• Tem o potencial de garantir a preservação do meio ambiente, da
agrobiodiversidade e de alimentos tradicionais, para além de impulsionar tanto
o mercado nacional e o abastecimento dos programas de compras
institucionais, quanto o turismo no país.

• Contudo há que se desenvolver estudos acerca do sistema fundiário do país, a


revisão da Lei dos Solos, o cadastro e o registro das propriedades rurais.

• Ainda, foi apontada como oportuna a criação de estratégias de formação e


assistência técnica em temáticas como organização, gestão associativa,
administração e contabilidade da propriedade
Considerações finais

A família é um elemento fundamental em todos os modelos e sistemas de


produção identificados.

Nesse sentido, o conceito de agricultura familiar se evidencia mais como


um elemento unificador que diferenciador das várias dinâmicas e
particularidades existentes nas ilhas e regiões do país.
Os dados levantados permitem indicar os seguintes aspectos como
fundamentais para se proceder à identificação de variantes no âmbito da
categoria da agricultura familiar em Cabo Verde:

tipo de mão de obra;

tamanho da propriedade;

regime de posse da terra e tipo de gestão da exploração;

sistemas de produção;

nível de inserção no mercado;

participação da agricultura no rendimento familiar;

e distância da residência da família em relação à exploração agrícola.


De modo mais geral, no que diz respeito às particularidades dos sistemas de
produção, parece ser imprescindível que se conduzam estudos que
aprofundem o conhecimento acerca da agricultura de sequeiro que, apesar
da falta de incentivos e programas de apoio, tem um importante papel na
segurança e soberania alimentar, sobretudo das populações mais
vulneráveis.
OBRIGADO PELA VOSSA ATENÇÃO

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