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Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 1

Nós acreditamos
na agricultura familiar.
Nós acreditamos no Brasil.
Porque onde tem produtor rural
tem Banco do Brasil.

Somos o maior parceiro


da agricultura familiar
e reconhecemos a importância
do seu negócio. Com o Pronaf,
já são mais de 1,2 milhão
de famílias atendidas. É por isso
que o Banco do Brasil
é bom para quem produz
e bom para o país. Bom pra todos.

2 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 3
EDITORIAL

Consolidado como um material de informação e pes-


quisa, o Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar chega
Sumário
a sua quarta edição. 6 Cenário da Agricultura Familiar
Estamos orgulhosos de estar contribuindo na divulga- 36 MDA
ção e defesa da agricultura familiar que é responsável
por mais de 70% da produção de alimentos no Brasil, 164 Fruticultura
formando uma rede que proporciona segurança alimen-
tar e garantia de renda ao pequeno produtor, contri- 180 Pesquisa
buindo para o enfrentamento da pobreza e da fome.
O relatório global da Organização das Nações Unidas
182 Criações
para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado no final 218 Orgânicos
de 2014, aponta que o Brasil saiu do Mapa da Fome. O
ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, 226 Políticas Públicas
definiu essa, como uma conquista histórica, que está
ligada às políticas sociais de combate à pobreza e de 242 Tecnologia
segurança alimentar, e também às políticas de apoio à
agricultura familiar. 246 Irrigação
O Brasil tem se tornado exemplo em políticas públicas 262 Capacitação
de incentivo ao setor da Agricultura Familiar, com linhas
de crédito, assistência técnica, programas para comer- 270 Sucessão Rural
cialização institucional e agregação de valor.
A valorização do setor ainda beneficia outras cadeias 272 Mulheres Rurais
produtivas, como a de implementos agrícolas, mo-
vida pelas linhas de crédito que facilitam a aquisição
276 Previdência
dos equipamentos. Neste sentido, as indústrias estão 278 Energia
preocupadas em desenvolver equipamentos destinados
ao pequeno produtor, com as mesmas tecnologias dos 282 Biodiesel
grandes, que favorecem o aumento da produtividade e
da qualidade de vida dos produtores. 286 Habitação Rural
O sistema cooperativista está sendo fundamental na
organização dos agricultores, na produção e comercia-
292 Crédito Rural
lização. As entidades de pesquisa, assistência técnica e 294 Cooperativismo
extensão rural, como a Embrapa e a Emater, entre outras,
tem papel preponderante na cadeia produtiva em todo 320 Turismo Rural
o país, levando as inovações tecnológicas, também aos
agricultores familiares. No entanto, precisamos continuar 332 Solos
avançando e cuidar do que sustenta o trabalho no cam-
po: o solo, a água e os nossos agricultores familiares. 344 Troca-Troca

Hélio Rubem Corrêa da Silva 354 Embrapa


520 Itaipu

Expediente: Anuário da Agricultura Familiar Colaboração: Ascom MDA, Ascom Embrapa


Editora Bota Amarela Ltda. Editora: Paola Seibt – MTE 13253 Circulação: Março de 2015 a março de 2016
CNPJ: 07.361.916/0001-16 Textos: Paola Seibt e Rosa Liberman Não é permitida a reprodução, cópia, transcrição, trans-
Marketing: Érica Farias crita ou transmitida por meios eletrônicos ou gravações
Diretor presidente: Hélio Rubem Corrêa da Silva
Projeto gráfico e diagramação: Mariah Carraro Smaniotto sem a referida citação da fonte.
Diretora administrativa: Solange Leal da Silva
- Copydesk Jornalismo & Marketing Ltda
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Capa: IN HEAVEN
Centro – Erechim – RS
Impressão: Edelbra
CEP: 99700-458
Fotografias: Paola Seibt, Rosa Liberman, Ascom MDA,
Fone/Fax: 54 3520 8500
Ascom Embrapa e divulgação de empresas e entidades.

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DIVULGAÇÃO MDA
Cenário da Agricultura Familiar

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Atividade gera mais de 80% da ocupação no setor rural e responde, no Brasil, lho atrativos; além de promover a gestão inteligente dos VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO
recursos naturais, econômicos e humanos.
por sete de cada 10 empregos no campo e por 40% da produção agrícola
Representatividade
A agricultura familiar gera mais de 80% da ocupa-

A
agricultura familiar é uma forma de produ- Conforme pesquisa desenvolvida pela entidade em ção no setor rural e responde no Brasil por sete de cada
ção em que predomina a interação entre ges- 93 países, os agricultores familiares representam em mé- 10 empregos no campo e por cerca de 40% da produção
tão e trabalho. São os agricultores familiares dia mais de 80% de todas as explorações. agrícola. A maior parte dos alimentos que abastecem a 34.6%
que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na di-
versificação e utilizando o trabalho familiar, que even-
O material da Secretaria de Agricultura Familiar
(SAF/MDA) ‘Agricultura Familiar no Brasil atuação
mesa dos brasileiros vem das pequenas propriedades. A
agricultura familiar favorece o emprego de práticas pro-
65.4%
tualmente é complementado pelo trabalho assalariado. e avanços 2014’, destaca entre as qualidades da classe: dutivas ecologicamente mais equilibradas, como a diver-
Mais de 70% dos alimentos vem da agricultura fami- controle de recursos (grau de autonomia); produção, sificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais
liar, exercendo assim, papel fundamental na erradicação manutenção e reprodução (força de trabalho); nexo fa- e a preservação do patrimônio genético.
da fome e pobreza, contribuindo com a segurança ali- mília e estabelecimento; unidade de produção e repro- Em 2009, cerca de 60% dos alimentos que compu-
mentar e nutricional, na melhoria dos meios de subsis- dução; lugar de produção e lar da família; fluxo e cultura seram a cesta alimentar distribuída pela Companhia
tência, na gestão dos recursos naturais, na proteção do de gerações; local de experiências acumuladas; lugar de Nacional de Abastecimento (Conab) originaram-se da
meio ambiente e no desenvolvimento sustentável, espe- vivência e acumulação da cultura; integrantes da eco- agricultura familiar.
cialmente nas áreas rurais. nomia rural; paisagem, beleza, interação, equilíbrio e A participação da agricultura familiar representa
De acordo com a Organização das Nações Unidas conservação da biodiversidade. mais de 84% do total de estabelecimentos em uma área
para a Alimentação e Agricultura (FAO) são mais de 500 O estudo ainda cita entre as qualidades da agricultu- de pouco mais de 24%, além disso, a produção desta ca- 109 bilhões
milhões de propriedades agrícolas familiares no mundo, ra familiar: liberdade e autonomia; a criação de práticas tegoria representa 34,6% do Valor Bruto da Produção.
incluindo pequenos e médios agricultores, camponeses, agrícolas sustentáveis, soberania e segurança alimentar; O número total de pessoas ocupadas na agricultu-
povos indígenas, comunidades tradicionais, pescadores, o fortalecimento do desenvolvimento econômico e a re- ra familiar em 2006 - segundo dados do último censo 54 bilhões
pequenos pecuaristas, coletores, e muitos outros grupos. siliência social e ecológica; a geração de postos de traba- agropecuário do IBGE -, é mais de duas vezes superior
ao número de ocupações geradas pela construção civil.
Conforme os dados, mais de 12 milhões de pessoas estão
ÁREA TOTAL TOTAL DE ESTABELECIMENTOS ocupadas com a agricultura familiar, contra 4,2 milhões
com a agricultura.
Ainda conforme dados do MDA, 36 milhões de brasilei-
ros saíram da pobreza em 10 anos e 42 milhões de brasileiros
ascenderam de classe, o que mostra que o país melhorou.

Dificuldades
Em entrevista veiculada no site da FAO, em 17 de de-
zembro de 2014, a embaixadora especial do Ano Interna-
cional da Agricultura Familiar, Estrella Penunia, afirma
que depois de 2014, a expectativa é de que haja uma Dé-
cada Internacional da Agricultura Familiar. “Afinal, pre- os programas de agricultura, segurança alimentar e nutri-
cisamos alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050 em meio ção.
a mudanças climáticas, e como os agricultores familiares Ela explica que a principal missão da AAA é forta-
alimentam o mundo e cuidam da terra, precisamos con- lecer os pequenos agricultores da ‑Ásia, para que eles
tinuar cuidando dos agricultores familiares,” diz. possam influenciar de forma efetiva os governos e outras
Penunia ocupa ainda o cargo de secretária-geral da As- instituições. “Fazemos isso com nossos programas de
sociação de Agricultores Asiáticos (AAA), e segundo ela, os defesa de políticas, gestão de conhecimento, desenvolvi-
agricultores familiares deveriam estar no centro de todos mento de empresas e governança,” acrescenta.

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PESSOAL OCUPADO (em milhões de pessoas) PESSOAL OCUPADO (em %) Definição de agricultura familiar nar as economias locais, especialmente quando combi-
Conforme definição baseada na Lei 11.326, de 24 de nada com políticas específicas destinadas a promover a
julho de 2006, compreende-se por agricultura familiar proteção social e o bem-estar das comunidades.
as atividades desenvolvidas no meio rural, que utilizam O documento ‘Perspectivas da Agricultura e do De-
mão de obra da própria família, com área que não ul- senvolvimento Rural nas Américas 2014: um olhar para
trapasse mais do que quatro módulos fiscais. Também a América Latina e o Caribe’, afirma que a agricultura
são beneficiários desta lei silvicultores que atendam si- familiar é uma das principais atividades geradoras de
multaneamente a todos os requisitos, produtores que novas fontes de trabalho na América Latina e Caribe. Na
cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam América do Sul, a participação da atividade nos empre-
o manejo sustentável daqueles ambientes; aquicultores gos agrícolas é significativa, oscilando nos países analisa-
que atendam simultaneamente a todos os requisitos e dos entre 53% (Argentina) e 77% (Brasil).
explorem reservatórios hídricos com superfície total de O documento foi lançado durante o Encontro de Mi-
até 2 hectares ou ocupem até 500m³ de água, quando a nistros da Agricultura das Américas em Buenos Aires,
exploração se efetivar em tanques-rede; extrativistas que Argentina, e produzido pela Comissão Econômica para
atendam aos requisitos previstos e exerçam essa ativi- a América Latina e o Caribe (CEPAL), pela Organiza-
dade artesanalmente no meio rural, excluídos os garim- ção das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
peiros e faiscadores; pescadores que exerçam a atividade (FAO) e pelo Instituto Interamericano de Cooperação
pesqueira artesanalmente. para a Agricultura (IICA).
A agricultura familiar e de pequena escala estão vin- O relatório também observou aumento nas exporta-
culados à segurança alimentar mundial, pois preservam ções de milho no Brasil em 2012 – 20 milhões de tonela-
para as áreas urbanas em busca de melhores oportuni- os alimentos tradicionais, e contribuem para uma ali- das, quase o dobro em comparação a 2011. A Argentina
dades, especialmente os jovens. Às vezes, aqueles que mentação balanceada, para a proteção da agrobiodiversi- exportou pouco mais de 16 milhões no mesmo período,
querem ficar na agricultura sofrem com a ameaça de ex- dade e para o uso sustentável dos recursos naturais. Sem e pela primeira vez foi superada pelo Brasil no envio
Na entrevista, Estrella Penunia, ainda falou sobre os pulsão, por conta da falta de políticas claras sobre o uso dúvida, ela representa uma oportunidade para impulsio- desse produto.
principais desafios enfrentados pela classe atualmente. da terra e a garantia de posse.
Afirma que na Ásia estão 70% dos agricultores familia- A superação dos desafios seria possível com mais in-
res do mundo, que trabalham em terras de não mais que vestimentos nos pequenos agricultores. “Deveria haver po-

Eduardo Aigner / MDA


cinco hectares. Nessa região, as mulheres agricultoras líticas públicas e investimentos nas seguintes áreas especí-
realizam de 50 a 90% do trabalho no campo. ficas: direitos dos agricultores familiares sobre os recursos
Mesmo as propriedades sendo pequenas, os agricul- básicos de produção, como terra, água, florestas, sementes;
tores da Ásia e do Pacífico produzem 80% do total de ali- políticas que ajudem a promover e difundir a agricultura
mentos necessários para garantir a segurança alimentar sustentável, integrada, diversificada, resiliente e ecológica;
da região. No entanto, acrescenta, naquela região estão políticas que ajudem a estabelecer agroempresas viáveis,
63% das pessoas mais pobres e famintas do mundo, par- dos próprios agricultores ou voltadas para eles, e a desen-
ticularmente nas áreas rurais do sul e do leste asiáticos. volver um espírito de empreendedorismo e autonomia nos
Para ela, outra preocupação é com o acesso limitado à agricultores; políticas que atraiam jovens para a agricul-
terra ou a existência de sem-terras. tura; políticas que garantam a infraestrutura necessária,
Enumera também a falta de acesso a serviços básicos, como estradas para os mercados, locais para armazenar as
como água, saneamento e eletricidade. Além disso, ou- colheitas, irrigação, crédito, seguros, informações precisas
tros fatores afetam os agricultores familiares, como falta e em tempo hábil sobre as condições do tempo, seguro con-
de informação sobre os mercados e limitação das habi- tra riscos; políticas que fortaleçam as mulheres agricultoras
lidades empreendedoras e do poder de barganha, o que e promovam a igualdade de gênero na agricultura familiar;
os deixa vulneráveis e menos competitivos. O declínio políticas que reconheçam as propriedades agrícolas fami-
contínuo da renda proveniente da agricultura e a con- liares; e que institucionalizem a participação e o envolvi-
sequente pobreza estão provocando o desaparecimento mento significativos dos agricultores familiares nos proces-
da agricultura familiar, já que muitos optam por imigrar sos decisórios relativos à agricultura,” pontua.

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De acordo com o relatório, o Brasil se manteve como Pronaf

87 PRODUÇÃO VEGETAL
principal exportador de carne de ave na América Latina
e Caribe em 2012, ao gerar quase 89% das transações, e
A oferta de crédito rural também cresceu, resultan-
do em uma mecanização da agricultura familiar, o que
é previsto que em 2021 aumente seu domínio para quase favoreceu o aumento da produção de alimentos. Na safra
70 DE ALIMENTOS DA 92%. O país também lidera as exportações de carne de 2002/2003 foram ofertados 2,3 bilhões, enquanto que na
87 AGRICULTURA FAMILIAR.
PRODUÇÃO VEGETAL porco e bovina – 71,6% e 51,7%, respectivamente. safra 2014/2015 este número subiu para 24,1 bilhões,
crescendo 10 vezes em 12 anos.
70 DE ALIMENTOS DA
Produção de alimentos O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul-
AGRICULTURA FAMILIAR. Em 2014, 83% da produção de mandioca era de tura Familiar (Pronaf) também cresceu, sendo que hoje
responsabilidade da agricultura familiar, bem como de conta com operações em 5.454 municípios e um milhão
46 70% da produção do feijão, 46% do milho, 38% do café, de famílias a mais no crédito do Pronaf desde 2002.
46 38 34% do arroz, 21% do trigo e 14% da soja. Ainda repre-
38 34 34 senta 58% da produção de leite, 50% da de aves, 59% da
de suínos e 30% da de bovinos. Apesar de cultivar uma
Programa de Aquisição de Alimentos
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) pro-
21 21 área menor com pastagens – 36,4 milhões de hectares move o acesso a alimentos às populações em situação de
-, a agricultura familiar é importante fornecedora de insegurança alimentar e a inclusão social e econômica
16
16 proteína animal.
A produção de leite cresceu 55, 5%, um crescimento
no campo por meio do fortalecimento da agricultura fa-
miliar. Também contribui para a formação de estoques
de 12,3 bilhões de litros. Com mais renda, os brasileiros estratégicos e para o abastecimento de mercado institu-
IOCA FEIJÃO MILHO CAFÉ ARROZ TRIGO SOJA
passaram a consumir mais e melhores alimentos. O con- cional de alimentos, que compreende as compras gover-
MANDIOCA FEIJÃO MILHO CAFÉ ARROZ TRIGO SOJA sumo de leite, por exemplo, cresceu 54,5% em 11 anos. namentais de gêneros alimentícios para fins diversos, e
O governo federal lançou diversos programas que in- ainda permite aos agricultores familiares que estoquem
centivam a produção de alimentos a partir dos pequenos seus produtos para serem comercializados a preços mais
agricultores, facilitando a aquisição de maquinário com justos.
acesso a linhas de crédito, além de outros que incentivam De 2003 a 2013 foram investidos 5,3 bilhões e adqui-
PRODUÇÃO ANIMAL

DIVULGAÇÃO
a comercialização institucional. A seguir destacaremos ridos mais de quatro milhões de toneladas de alimentos.
DE ALIMENTOS DA alguns destes programas. Foram mais de 20 mil entidades beneficiadas e mais de
AGRICULTURA FAMILIAR.
PRODUÇÃO ANIMAL EVOLUÇÃO DO PRONAF
DE ALIMENTOS DA
59
58 Em Bilhões (R$)

50 AGRICULTURA FAMILIAR.

59
58 30
50

LEITE AVES SUÍNOS BOVINOS

30
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EVOLUÇÃO DE RECURSOS APLICADOS NO PAA VOLUME DE RECURSOS POR REGIÃO PAA De acordo com a FAO, o Brasil está entre os países
R$ 1.000,00 que tiveram melhor desempenho na redução do número
de famintos. Em 1990, 14,8% dos brasileiros passavam
R$ 885,54 4% 6%
R$ 900,00 fome, percentual que caiu para 1,7%, conforme o rela-
tório. Com esse índice, o Brasil sai do Mapa Mundial da
R$ 800,00
Fome, que inclui países em que o problema afeta pelo
R$ 667,32
R$ 675,13
22% menos 5% da população.
R$ 700,00
Em reportagemNORTEpublicada no Portal do FNDE,
R$ 591,03
R$ 600,00 Adoniram Sanches, oficial de Segurança Alimentar
NORDESTE
da FAO para América Latina e Caribe, afirma que:
R$ 492,09 R$ 509,47
R$ 500,00 R$ 461,06 R$ 437,77
47% “O Brasil não sóSUDESTE
superou a meta, estabelecida no ano
2000, de reduzir pela metade o percentual de pessoas
R$ 400,00 SUL
R$ 333,06 desnutridas até 2015, como bateu a meta em números
R$ 300,00 21% absolutos, o queCENTRO-OESTE
é mais complicado, pois houve cres-
cimento da população”.
R$ 200,00 R$ 180,00
R$ 144,92 O documento aponta o Pnae como um dos pilares da
política de segurança alimentar e nutricional no Brasil.
R$ 100,00
% de Agricultores participantes no PAA de 2003 a
Combate a fome
R$ 0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2013, por Região Geográfica O relatório 2014 - O Estado da Segurança Alimentar
VOLUME DE RECURSOS POR REGIÃO PAA% DE AGRI-
CULTORES PARTICIPANTES NO PAA DE 2003 A 2013, e Nutricional no Brasil, um retrato multidimensional
EVOLUÇÃO DA COMPRA PAA damental, ensino médio e educação de jovens e adultos POR REGIÃO GEOGRÁFICA - mostra que a implementação de políticas estruturan-
% de Municípios que estão comprando da Agricultura Familiar - matriculados em escolas públicas, filantrópicas e em en- tes como o fortalecimento da agricultura familiar, em
tidades comunitárias, conveniadas com o poder público, paralelo com os programas de transferência de renda,
81%
por meio da transferência de recursos financeiros. 4% 8% como o Bolsa Família, tem sido abordagens exitosas
58% Conforme a legislação que dispõe sobre a alimenta- na diminuição da fome no Brasil. A agricultura fami-
51% ção escolar, do total dos recursos financeiros repassados liar está crescendo e hoje é responsável por 70% dos
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 24% alimentos consumidos internamente no país. Os inves-
(FNDE), no âmbito do PNAE, no mínimo 30% deverão timentos em políticas para apoiar os agricultores fami-
ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios dire- liares somaram R$ 17,3 bilhões em 2013; o orçamento
tamente da agricultura familiar e do empreendedor fami- do programa de crédito rural do Programa Nacional de
2010 2011 2012
liar rural ou de suas organizações, priorizando os assenta- 44% Fortalecimento da Agricultura Familiar aumentou dez
mentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais vezes entre 2003-2013.
indígenas e comunidades quilombolas. Esta medida esti-
duas mil organizações da agricultura familiar fornecedo- mula o desenvolvimento econômico e sustentável das co- Estrutura produtiva da agricultura familiar
ras. Neste período, o programa esteve presente em 3.915
4% 6%
munidades. O mercado é de R$ 1 bilhão aos agricultores
20% Segundo o Censo Agropecuário Brasileiro, realiza-
municípios brasileiros. familiares, que proporciona alimento de qualidade a 47 do pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
milhões de alunos da rede pública de ensino. (IBGE), a agricultura familiar é responsável por grande
Programa Nacional de Alimentação Escolar 22% de política pública eficaz
O Pnae é um dos exemplos parte da produção de alimentos no país.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) de combate à fome, de acordo com relatório divulgado Norte Nordeste
NORTE Sudeste Sul Centro-Oeste
De acordo com o estudo, 85% dos estabelecimen-
contribui para o crescimento, o desenvolvimento, a apren- em 2014 pela Organização das Nações Unidas para a Ali- tos brasileiros são da agricultura familiar. Entretanto,
dizagem, o rendimento escolar dos estudantes e a forma- mentação e a Agricultura (FAO). O Estado da Inseguran-
NORDESTE a área ocupada pela agricultura familiar era de 80,25
ção de hábitos alimentares saudáveis, por meio da oferta ça Alimentar no Mundo 2014 estima que 805 milhões de 47% SUDESTE milhões de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada
da alimentação escolar e de ações de educação alimentar pessoas sofrem de fome no mundo, mas mostra também pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Estes
SUL
e nutricional. São atendidos pelo programa os alunos de que esse número diminuiu em mais de 100 milhões na resultados mostram uma estrutura agrária ainda con-
toda a educação básica - educação infantil, ensino fun- última década. 21% CENTRO-OESTE centrada no Brasil: propriedades não familiares, apesar

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CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM RELAÇÃO ÀS TERRAS, SEGUNDO A AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL - 2006 UTILIZAÇÃO DAS TERRAS NOS ESTABELECIMENTOS, POR TIPO DE UTILIZAÇÃO, SEGUNDO A AGRICULTURA
FAMILIAR - BRASIL - 2006
Agricultura Condição do produtor em relação às terras
familiar
Assentados sem titula- Produtor Agricultura familiar Total de Área total Utilização das terras nos estabelecimentos
Proprietários Arrendatário Parceiro Ocupantes
ção definitiva sem área estabeleci- (ha)
Lavoura
mentos
Estabele- Área Estabele- Área Estabele- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci-
cimentos (ha) cimentos (ha) cimentos (ha) mentos (ha) mentos (ha) mentos Permanentes Temporários Área plantada com forra-
geiras para corte
Total 3 946 276 306 847 605 189 191 5 750 283 230 110 9 005 203 142 531 1 985 085 412 357 6 353 218 255 024
Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área
Agricultura 3 263 868 70 346 453 170 391 4 065 596 196 111 2 093 567 126 795 708 852 368 668 3 035 985 242 069 mento (ha) mento (ha) mento (ha)
familiar - Lei
n 11.326 Total 5 175 489 329 941 393 1 480 243 11 612 227 3 127 255 44 019 726 3 313 322 4 114 557

Não familiar 682 408 236 501 18 800 1 684 687 33 999 6 911 635 15 736 1 276 234 43 689 3 317 233 12 955 Agricultura familiar - Lei n 11.326 4 367 902 80 250 453 1 233 614 4 290 241 2 719 571 12 012 792 2 851 616 1 338 027
152 Não familiar 807 587 249 690 940 246 629 7 321 986 407 684 32 006 933 461 706 2 776 530
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.
Agricultura familiar Utilização das terras nos estabelecimentos
Lavouras Pastagens
de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos A pesquisa ainda identificou que pessoas experien-
Área para cultivo de flores Naturais Pastagens plantadas Pastagens plantadas
ocupavam 75,7% da área. A área média das proprieda- tes com 10 anos ou mais de direção nos trabalhos eram (inclusivehidroponia e plas- degradadas em boas condições
des familiares era de 18,37 hectares, e a dos não fami- a maioria (62%) na condução da atividade produtiva da ticultura), viveiros de mudas,
estufas de plantas e casas de
liares, de 309,18 hectares. agricultura familiar. Os estabelecimentos dirigidos por vegetação
pessoas com menos de cinco anos de experiência repre- Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área
Mão de obra sentam apenas 20% da agricultura familiar. mentos (ha) mento (ha) mento (ha) mento (ha)

Pouco mais de 13% dos estabelecimentos, ou seja, De acordo com os dados, 909 mil ocupados da agri- Total 11 075 100 109 1 672 328 57 316 457 313 141 9 842 925 1 510 734 91 594 484

600 mil eram dirigidos por mulheres. Na agricultura não cultura familiar possuíam menos de 14 anos de idade, Agricultura familiar - Lei n 11.326 7 119 18 378 1 361 035 14 575 542 248 086 2 762 803 1 171 043 19 052 869

familiar, a participação não chegava a 7%. sendo 507 mil homens e 402 mil mulheres. Entre os 12,3 Não familiar 3 956 81 730 311 293 42 740 915 65 055 7 080 122 339 691 72 541 615

O Censo ainda registrou 12,3 milhões de pessoas vin- milhões de pessoas ocupadas na agricultura familiar, 11 Agricultura familiar Utilização das terras nos estabelecimentos
culadas à agricultura familiar, ou seja, 74,4% do pessoal milhões, ou seja, 90% tinham laços de parentesco com Matas e/ou florestas Sistemas agroflorestais
ocupado, com uma média de 2,6 pessoas, de 14 anos ou o produtor. A união dos esforços em torno de um em- Matas e/ou florestas naturais Matas e/ou florestas Florestas plantadas com Área cultivada com espécies
mais, ocupadas. Os estabelecimentos não familiares ocu- preendimento comum é uma característica importante destinadas à preservação naturais (inclusive área de essências florestais florestais também usafa
permanente ou reserva legal preservação permanente e para lavouras e pastejo de
pavam 4,2 milhões de pessoas, o que corresponde a 25,6% da agricultura familiar. Os dados ainda mostram que dos as em sistemas agroflo- animais
da mão de obra ocupada. Entre as pessoas da agricultura 11 milhões de pessoas ocupadas na agricultura familiar restais)

familiar, a maioria eram homens (dois terços), mas o nú- e com laços de parentesco com o produtor, 8,9 milhões Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área
mentos (ha) mento (ha) mento (ha) mento (ha)
mero de mulheres ocupadas também era expressivo: 4,1 residiam no próprio estabelecimento (81%), enquanto
Total 1 097 574 50 163 102 975 307 32 621 638 188 951 4 497 324 305 826 8 197 564
milhões de mulheres (um terço dos ocupados). outros 2,1 milhões de pessoas se ocupavam no estabe-
Agricultura familiar - Lei n 11.326 795 670 8 119 041 794 732 10 618 764 148 076 592 998 250 252 2 898 493
Em média, um estabelecimento familiar possuía 1,75 lecimento, mas residiam fora deste, provavelmente em
Não familiar 301 904 42 044 061 180 575 25 002 874 40 875 3 904 326 55 574 5 299 071
homem e 0,86 mulher ocupados de 14 anos ou mais. vilas ou centros urbanos próximos.
Agricultura familiar Utilização das terras nos estabelecimentos
PRODUTOR NA DIREÇÃO DOS TRABALHOS DO ESTABELECIMENTO, POR SEXO E GRUPOS DE ANOS DE DIREÇÃO,
Tanques, lagos, açudes e/ou Construções, benfeitorias Terras degradadas Terras inaproveitáveis para
SEGUNDO A AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL - 2006 área de águas públicas para ou caminhos (erodidas, desertificadas, agricultura ou pecuária (pân-
exploração de agricultura salinizadas, etc.) tanos, areais, predeiras, etc.)
Agricultura Produtor na direção dos trabalhos do estabelecimento, por sexo e grupos de anos de direção
familiar Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área Estabeleci- Área
Homens Mulheres mentos (ha) mento (ha) mento (ha) mento (ha)
Menos de 1 De 1 a menos De 5 a menos De 10 anos Menos de 1 De 1 a menos De 5 a menos De 10 anos Total 439 892 1 319 492 2 193 760 4 689 700 71 891 789 238 466 927 6 093 185
ano na direção de 5 anos na de 10 anos na e mais na ano na direção de 5 anos na de 10 anos na e mais na
dos trabalhos direção dos direção dos direção dos dos trabalhos direção dos direção dos direção dos Agricultura familiar - Lei n 11.326 307 770 301 752 1 751 522 1 731 164 53 880 237 728 361 053 1 726 424
trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos Não familiar 132 122 1 017 740 442 238 2 958 536 18 011 551 510 105 874 4 366 760
Total 132 730 817 681 832 868 2 735 982 16 248 103 745 109 290 426 945 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.
Agricultura 100 878 654 887 686 234 2 325 341 14 764 93 573 98 580 393 645
familiar - Lei
nº 11.326
Não familiar 31 852 162 794 146 634 410 641 1 484 10 172 10 710 33 300
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

16 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 17
AGRICULTURA FAMILIAR, SEGUNDO AS VARIÁVEIS SELECIONADAS – 2006 PESSOAL OCUPADO NO ESTABELECIMENTO EM 31.12, POR SEXO, SEGUNDO A AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL – 2006
Variáveis selecionadas Ag fam - Lei nº 11.326 Não familiar Variáveis selecionadas Ag fam - Lei nº 11.326 Não familiar Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 1
Produção vegetal Valor da produção (R$) 5 344 665 578 017 976 565 Total Sexo
Arroz em casca Soja
Homens Mulheres
Estabelecimentos 354 677 41 951 Estabelecimentos 164 011 51 966
Quantidade produzida (kg) 3 199 460 329 6 247 796 383 Quantidade produzida (kg) 6 404 494 499 34 308 188 589 Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais
Área colhida (ha) 1 167 376 1 242 213 Área colhida (ha) 2 707 649 12 939 342
Valor da produção (R$) 1 414 740 013 2 615 404 728 Valor da produção (R$) 2 891 786 309 14 249 698 227 Total 16 567 544 15 505 243 11 515 194 10 919 257 5 052 350 4 585 986
Feijão-preto Trigo
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 12 322 225 11 412 590 8 174 002 7 666 373 4 148 223 3 746 217
Estabelecimentos 242 398 26 620 Estabelecimentos 23 542 10 485
Quantidade produzida (kg) 531 637 055 160 899 824 Quantidade produzida (kg) 479 272 647 1 778 325 050 Não familiar 4 245 319 4 092 653 3 341 192 3 252 884 904 127 839 769
Área colhida (ha) 639 512 124 911 Área colhida (ha) 323 922 976 086 1
Inclusive produtor.
Valor da produção (R$) 378 617 041 116 504 973 Valor da produção (R$) 187 652 912 716 790 517 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.
Feijão de cor Café arábica em grão (verde)
Estabelecimentos 411 963 50 417 Estabelecimentos 193 328 48 309
Quantidade produzida (kg) 697 231 567 597 074 955 Quantidade produzida (kg) 645 340 928 1 244 377 597 PESSOAL OCUPADO NO ESTABELECIMENTO EM 31.12 COM LAÇO DE PARENTESCO COM O PRODUTOR, POR IDADE E
Área colhida (ha) 1 015 718 409 130 Café canephora (robusta, conilon) em grão (verde) PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PESSOAL OCUPADO EM RELAÇÃO AO TOTAL, SEGUNDO A AGRICULTURA FAMI-
Valor da produção (R$) 557 814 212 508 988 359 Área colhida (ha) 513 681 778 611 LIAR - BRASIL – 2006
Feijão-fradinho, caupi, de corda ou macáçar em grão Valor da produção (R$) 2 231 728 778 5 124 878 374
Estabelecimentos 706 323 75 711 Estabelecimentos 82 185 15 523 Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 com laço de parentesco com o produtor 1
Quantidade produzida (kg) 939 931 471 182 207 996 Quantidade produzida (kg) 259 180 331 211 857 088 Total Principais características em relação ao total do pessoal ocupado
Área colhida (ha) 1 855 299 283 126 Área colhida (ha) 253 437 142 125 Residiam no estabelecimento Sabiam ler e escrever
Valor da produção (R$) 780 120 429 156 704 791 Valor da produção (R$) 624 106 515 586 220 783
Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais
Mandioca Pecuária
Estabelecimentos 753 524 78 665 Bovinos Total 12 801 179 11 792 283 10 122 098 9 196 863 8 236 795 7 718 971
Quantidade produzida (kg) 13 952 605 062 2 141 336 546 Estabelecimentos 2 151 279 521 897 Agricultura familiar - Lei nº 11.326 11 036 701 10 135 724 8 933 708 8 105 709 6 984 632 6 524 084
Área colhida (há) 2 418 155 283 947 Número de cabeças em 31.12 51 991 528 119 621 809 Não familiar 1 764 478 1 656 559 1 188 390 1 091 154 1 252 163 1 194 887
Valor da produção (R$) 3 254 035 260 432 596 260 Leite de vaca
Milho em grão Estabelecimentos 1 089 413 259 913 Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 com laço de parentesco com o produtor 1
Estabelecimentos 1 795 248 234 874 Quantidade produzida (litros) 11 721 356 256 8 436 325 272 Principais características em relação ao total do pessoal ocupado
Quantidade produzida (kg) 19 424 085 538 22 857 714 137 Valor da produção (R$) 4 975 619 521 3 841 916 092
Recebiam salário Tinham qualificação profissional Trabalhavam somente em atividade
Área colhida (ha) 6 412 137 5 312 225 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. não agropecuária
Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais
Uso da terra e produção
Total 537 964 533 420 286 729 285 634 223 671 211 747
A utilização das terras dos estabelecimentos, segun- boa parte da segurança alimentar do país, como impor-
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 341 015 337 475 170 089 169 333 169 910 159 937
do a classificação das agriculturas, mostra que dos 80,25 tante fornecedora de alimentos para o mercado interno.
milhões de hectares da agricultura familiar, 45% eram
Não familiar 196 949 195 945 116 640 116 301 53 761 51 810
destinados a pastagens, enquanto a área com matas, flo- Condição do produtor 1
Inclusive produtor.
restas ou sistemas agroflorestais ocupavam 28% das áre- O estudo desenvolvido pelo IBGE demonstra que dos Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.
as, e por fim as lavouras que ocupavam 22%. 4,3 milhões de propriedades de pequenos agricultores,
A agricultura não familiar também seguia esta or- 3,2 milhões tinham acesso às terras na condição de pro- ESTABELECIMENTO EM QUE O PRODUTOR DECLAROU TER ATIVIDADE FORA DO ESTABELECIMENTO, POR TIPO DE
dem, mas a participação de pastagens, matas e florestas prietários, representando 74,7% dos estabelecimentos ATIVIDADE, SEGUNDO AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL - 2006
era um pouco maior - 49% e 28%, respectivamente -, en- familiares e abrangendo 87,7% das suas áreas. Outros
Agricultura familiar Estabelecimento emque o produtor declarou ter atividade fora do estabelecimento
quanto a área para lavouras era menor 17%. Destaca-se a 170 mil produtores declararam acessar as terras na con-
Tipo de atividade
participação da área das matas destinadas à preservação dição de “assentado sem titulação definitiva”. Entretanto,
Estabelecimento Agropecuária Não agropecuária Agropecuária e não agropecuária
permanente ou reserva legal de 10% em média nos esta- outros 691 mil produtores tinham acesso temporário ou
belecimentos familiares, e de outros 13% de áreas utili- precário às terras, seja na modalidade arrendatários (196 Total 1 479 362 686 659 745 594 47 109
zadas com matas e/ou florestas naturais. mil produtores), parceiros (126 mil produtores) ou ocu- Agricultura familiar - Lei n 11.326 1 113 992 557 155 524 855 31 982
Apesar de cultivar uma área menor com lavouras e pantes (368 mil produtores). Os menores estabelecimen- Não familiar 365 370 129 504 220 739 15 127
pastagens - 17,7 e 36,4 milhões de hectares, respectiva- tos eram os de parceiros, que contabilizaram uma área
mente -, a agricultura familiar é responsável por garantir média de 5,59 hectares.

18 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 19
Educação apenas 169 mil pessoas na agricultura familiar e 53 mil nos produtores familiares declararam ter obtido alguma re- declaradas pelo produtor, e não consideram os demais
As informações sobre educação na agricultura fami- estabelecimentos não familiares. Entretanto 26% das pro- ceita no seu estabelecimento durante aquele ano, ou seja, integrantes da família, o que explica o reduzido número
liar revelam avanços, mas também desafios: entre os 11 priedades familiares não tinham seu produtor com dedi- quase um terço da agricultura familiar declarou não ter de produtores familiares (644 mil) que declararam rece-
milhões de pessoas da agricultura familiar e com laços de cação exclusiva, porque dedicavam parte do seu tempo em obtido receita naquele ano. ber receitas de programas como o Bolsa Família.
parentesco com o produtor, quase sete milhões, ou seja, a atividades fora do seu estabelecimento, tanto agropecuárias Os três milhões de agricultores familiares que decla- Quando são considerados os valores de toda a produ-
maioria sabia ler e escrever (63%), segundo o IBGE. Mas como não agropecuárias. A ocupação dos produtores em raram ter obtido alguma receita de vendas dos produtos ção, e não somente as receitas de vendas, foram contados
por outro lado, existiam pouco mais de quatro milhões atividades fora do seu estabelecimento é comum nos países dos estabelecimentos, tinham uma receita média de R$ em 3,9 milhões o número de estabelecimentos familia-
que declararam não saber ler e escrever, principalmente desenvolvidos, e estes resultados apontam para sua impor- 13,6 mil, especialmente com a venda de produtos vege- res que declarou algum valor de produção. A agricultura
acima dos 14 anos (3,6 milhões de pessoas). tância entre os estabelecimentos da agricultura familiar. tais que representavam mais de 67,5% das receitas ob- familiar foi responsável por 38% do valor total da pro-
Ainda relacionado com o grau de escolaridade e qua- tidas. A segunda principal fonte da agricultura familiar dução dos estabelecimentos. A exemplo das receitas, a
lificação da mão de obra, o que chama a atenção é o bai- Receitas e valor da produção eram as vendas de animais e seus produtos, que repre- produção vegetal era a principal produção (72% do valor
xo número de pessoas que declarou possuir qualificação Em 2006, ano do último Censo Agropecuário reali- sentam mais de 21% das receitas obtidas nos estabele- da produção da agricultura familiar), especialmente com
profissional: apenas 170 mil pessoas na agricultura fami- zado pelo IBGE, a agricultura familiar respondia por um cimentos. Entre as demais se destacavam a “prestação as lavouras temporárias (42% do valor da produção) e
liar, e 116 mil na não familiar. terço das receitas dos estabelecimentos agropecuários de serviço para empresa integradora” e de “produtos da permanentes (19%). Em segundo lugar no valor da pro-
O número de pessoas ocupadas em atividades não brasileiros. Esta participação menor nas receitas, em agroindústria” familiar. dução, o destaque ficou com a atividade animal (25%),
agropecuárias no interior do estabelecimento era reduzido: parte, é explicada porque apenas três milhões (69%) dos Mais de 1,7 milhão de produtores familiares decla- especialmente com animais de grande porte (14%).
raram ter percebido outra receita além daquela obtida O valor médio da produção anual da agricultura fa-
RECEITAS OBTIDAS PELOS ESTABELECIMENTOS NO ANO, POR TIPO, SEGUNDO A AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL - 2006 no estabelecimento, especialmente as advindas de apo- miliar foi de R$ 13,99 mil, tendo a criação de aves o me-
sentadorias ou pensões (65%) e salários com atividade nor valor médio (R$ 1,56 mil), e a floricultura o maior
Agricultura familiar Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
fora do estabelecimento (24%). O valor médio anual des- valor médio (R$ 17,56 mil).
Venda
tas receitas foi de R$ 4,5 mil para a agricultura familiar, A agricultura não familiar apresentou maior valor de
Animais criados em cativei-
Estabeleci- Valor Produtos vegetais Animais e seus produtos ros (jacaré, escargô, capivara fortemente influenciado pelas aposentadorias e pensões, produção na maioria das atividades, mas em algumas
e outros)
mento (1 000 R$) com valor médio mensal de R$ 475,27. Mais de R$ 5,5 destas, a agricultura familiar era majoritária, exprimin-
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mento (1 000 R$)
Estabeleci- Valor
mento (1 000 R$)
bilhões chegaram aos produtores familiares por meio de do 56% do valor da produção de animais de grande por-
mento (1 000 R$)
aposentadorias, pensões e programas especiais dos go- te, por 57% do valor agregado na agroindústria, por 63%
Total 3 620 670 121 833 136 2 306 576 91 165 433 2 096 110 20 058 611 12 611 461 296
vernos em 2006. Estes resultados são referentes às rendas da horticultura e 80% da extração vegetal no país.
Agricultura familiar - Lei n 11.326 3 031 170 41 322 443 1 970 265 27 883 780 1 729 341 8 693 506 9 802 121 293
Não familiar 589 500 80 510 693 336 311 63 281 653 366 769 11 365 105 2 809 340 633
OUTRAS RECEITAS OBTIDAS PELO PRODUTOR NO ANO, POR TIPO, SEGUNDO A AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL - 2006
Agricultura familiar Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
Venda
Salários obtidos pelo pro- Doações de ajudas voluntá-
Atividade de turismo rural Recursos de aposentado-
Humus Esterco Exploração mineral dutor com atividades fora rias de parentes ou amigos
no estabelecimento Agricultura familiar Estabeleci- Valor rias ou pensões
do estabelecimento
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor mento (1 000 R$)
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$)
mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$)
Total 1 195 10 500 33 901 128 672 3 551 53 102 5 812 121 468 Total 2 044 976 12 707 879 976 146 5 797 186 647 518 5 664 421 44 597 87 055
Agricultura familiar - Lei n 11.326 878 6 716 25 124 34 266 2 188 13 546 4 411 28 653 Agricultura familiar - Lei n 11.326 1 710 751 7 763 150 887 912 5 063 925 388 418 1 878 093 37 995 59 478
Não familiar 317 3 784 8 777 94 406 1 363 39 556 1 401 92 815 Não familiar 334 225 4 944 729 88 234 733 262 259 100 3 786 327 6 602 27 577

Agricultura familiar Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo


Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
Prestação de serviço Outras atividades não
Receitas provenientes de programas especiais dos gover-
de beneciamento e/ou Prestação de serviços para agricolas realizadas no Desinvestimentos Pescado (capturado)
Produtos da agroindustria Agricultura familiar nos (Federal, Estadual ou Municipal)
transformação de produtos empresas integradoras estabelecimento (artesanato,
agropecuários por terceiros tecelagem, etc.) Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$)
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) mento (1 000 R$) Total 713 883 631 758 31 325 433 233 33 955 94 226
Total 314 298 3 034 861 44 300 570 304 49 295 6 109 143 33 227 119 116 Agricultura familiar - Lei n 11.326 644 257 544 211 24 383 160 328 30 914 57 115
Agricultura familiar - Lei n 11.326 279 443 1 474 487 37 101 130 610 38 342 2 867 954 28 797 67 632 Não familiar 69 626 87 547 6 942 272 905 3 041 37 111
Não familiar 34 855 1 560 374 7 199 439 694 10 953 3 241 189 4 430 51 485 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

20 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 21
Baldan aposta no programa Mais Alimentos desde 2008
A Baldan tem orgulho em ter fabricado os primeiros discos específicas na faixa de potência do Programa para oferecer pro-
no país e ter contribuído ao longo destes 87 anos para cres- dutos com a mesma tecnologia das máquinas da agricultura de
Financiamento da produção cimento da agricultura no Brasil, com significativa contribui- grandes áreas de plantio, para melhorar o rendimento e a pro-
O estudo também apresenta números referentes à ob- ção da agricultura familiar. A empresa acredita no potencial dutividade dos pequenos agricultores.
tenção de financiamento no ano de 2006: 781 mil estabe- do produtor rural familiar, que hoje representa cerca de 12 mi- A empresa possui uma linha ampla e diversificada com mais
lecimentos familiares praticaram a captação de recursos, lhões de pessoas por todo o país, ocupa 74% da mão de obra de 120 produtos, em mais de 2.500 versões, com oferta de pro-
sendo o custeio a principal finalidade (405 mil estabe- no campo, o que a torna responsável por 70% dos alimentos dutos para atender as necessidades e peculiaridades de pro-
consumidos pelos brasileiros, atingindo atualmente 33% do dutores de todo o país. São arados, grades, subsoladores, se-
lecimentos), seguido da finalidade de investimento (344
PIB agropecuário do País. meadoras, cultivadores, aplicadores de fertilizantes, sulcadores,
mil propriedades) além da comercialização (8 mil) e ma- Por acreditar na agricultura familiar e na oportunidade distribuidores de fertilizantes, raspadores agrícolas, roçadeiras,
nutenção do estabelecimento (74 mil estabelecimentos). do pequeno agricultor em adquirir suas máquinas e moder- plainas, plataforma para colheita de milho.
Por outro lado, o Censo registrou mais de 3,5 milhões de nizar sua produção, a Baldan desde 2008, participa do Pro- “A agricultura familiar cada vez mais está utilizando tecno-
estabelecimentos da agricultura familiar que não obtive- grama Mais Alimentos, linha de crédito do Pronaf que finan- logia.“ Nós da Baldan, investimos em máquinas e implementos
ram financiamento, especialmente porque “não precisa- cia investimentos para a modernização da propriedade rural para melhorar o rendimento e a produtividade dos pequenos
ram” ou por “medo de contrair dívidas”. ◆ familiar através do Ministério do Desenvolvimento Agrário. agricultores. Nossa expectativa é sempre atender as demandas
A Baldan participa das caravanas Mais Alimentos em todas do campo e contribuirmos cada vez mais com a agricultura fa-
as regiões do país. A indústria ampliou sua linha de máquinas miliar do país”, ressalta Celso Ruiz, superintendente da Baldan.

OLDRA ÓRFÃ

Produção agroecológica reduz a contaminação ambiental

22 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 23
Agricultura Familiar:
e colocar o País na direção da liderança no abastecimen- 2013, a produtividade agrícola brasileira avançou 267%,
to mundial de alimentos. O crescimento da agricultura enquanto a dos Estados Unidos aumentou em 75%.
tem sido estimulado quase exclusivamente pelos acrésci- Se não houver compensações da sociedade pelas
mos de produtividade. Esta tem sido a principal fonte de transferências recebidas do agronegócio, o setor fatal-
crescimento. Brasil, China e Estados Unidos são os países mente tenderá à estagnação ou regressão. Essas com-

sustentáculo do dinamismo econômico com maior crescimento da produtividade”, salienta.


A demanda de insumos tem crescido de forma ace-
lerada no País, com taxas anuais médias de expansão de
pensações não se restringem ao perdão de dívidas, mas,
sim, proporcionar condições que ao mesmo tempo
aproxime o setor da sustentabilidade privada e amplie
5,5% para os fertilizantes de 11,5% para os agroquími- os benefícios que a sociedade pode auferir do setor. Tais

S
em exceção, todos os países desenvolvidos têm rurais já representam cerca de 50% do mercado nacional cos. 68% do crescimento da produção agrícola brasileira compensações podem se dar de variadas formas. Uma
na agricultura familiar um sustentáculo do de tratores”, afirma. nos últimos 40 anos estão relacionados ao emprego de prioridade é fortalecer os investimentos em ciência e
seu dinamismo econômico e de uma saudável Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário tecnologia, enquanto 9% correspondem ao fator terra tecnologia agropecuária, educação e saúde rural, pré-
distribuição da riqueza nacional. Todos eles, em algum (MDA) mostram que, só nos três primeiros meses da (aumento de área ou terra mais produtiva) e 2% a mão de -condições para que o setor retome o padrão de cres-
momento da história, promoveram a reforma agrária e safra 2014/2015, os agricultores familiares contrataram obra. A terra não é mais fator significativo para o aumen- cimento de produtividade que ocorria até o início dos
a valorização da agricultura familiar. A discussão sobre R$ 8,3 bilhões em crédito rural através do Programa to de produção. O fundamental é a tecnologia. De 1975 a anos 2000. ◆
a importância e o papel da agricultura familiar no desen- Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
volvimento brasileiro vem ganhando força nos últimos (Pronaf). O valor é 33% superior quando comparado
anos, impulsionada pelo debate sobre desenvolvimento ao mesmo período de 2013. Em outubro de 2014, o
sustentável, geração de emprego e renda, segurança ali- MDA e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veí-

DIVULGAÇÃO
mentar e desenvolvimento local. A elevação do número culos Automotores (Anfavea), assinaram um acordo de
de agricultores assentados pela reforma agrária e a cria- cooperação para viabilização das vendas de máquinas
ção do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da agrícolas, até 2017, a produtores que se enquadrem ao
Agricultura Familiar) refletem e alimentam este debate programa Mais Alimentos.
na sociedade. “Ao partir da premissa que a agricultura familiar é
Segundo o consultor agroeconômico, Carlos Cogo, a focada na produção de alimentos, trata-se de um seg-
propriedade da terra não é o único elemento a ser con- mento que não sofre pela instabilidade de preços como o
siderado em relação à necessidade da reestruturação das commodities, por exemplo, e a comercialização dos
fundiária no Brasil. Entre os agricultores familiares que equipamentos não se restringe às grandes regiões pro-
são proprietários, muitos possuem menos de 5 hectares, dutoras. Esse segmento cresceu em 2014, sobre 2013,
o que, na maioria dos casos, inviabiliza sua sustentabi- porque é um mercado mais estável. Não flutua tanto.
lidade econômica através da agricultura, com exceção Além disso, são produtos que vendem no Brasil inteiro,
de algumas atividades econômicas, sua localização e/ou desde o Rio Grande do Sul até a nova fronteira agrícola
seu grau de capitalização. No Brasil, 39,8% dos estabe- do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e tem
lecimentos familiares possuem, sob qualquer condição, condições de avançar”, diz. Dentre as culturas que mais
menos de 5 ha, sendo que outros 30% possuem entre 5 a demandam para a empresa neste segmento, se destaca a
20 ha e 17% possuem entre 20 e 50 ha. Ou seja, 87% dos fruticultura e as produções de café, laranja, arroz, feijão,
estabelecimentos familiares possuem menos de 50 ha. batata, cebola e tomate, ou seja, produtos que compõe a
Quanto mais elevado é o nível de renda dos agriculto- mesa do brasileiro.
res familiares, maior é o percentual de estabelecimentos “A produtividade média tem crescido acima da área,
que utilizam força mecânica ou mecânica e animal nos requisitando menos superfície para expansão da produ-
trabalhos agrários. “Na lacuna deixada por um decrés- ção. Graças aos ganhos de produtividade proporcionados
cimo nas vendas de máquinas a grandes propriedades, a pelo avanço tecnológico, a produção agrícola brasileira
agricultura familiar entrou em destaque neste ano, com aumentou 244% de 1990 para cá, enquanto a área plan-
a geração de demandas por equipamentos de alta tecno- tada expandiu-se em apenas 50%. Com um aumento de
logia. Este nicho é de extrema importância para a estra- 130% da produtividade agrícola neste período, precisa-
tégia de crescimento do setor. Os pequenos produtores mos menos áreas para expandir nossa produção de grãos Carlos Cogo

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Roberto Stuckert Filho
Palavra da Presidente
Agricultura familiar:
quem não vive
dela, depende
dela para viver

28 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 29
N
os relatos a seguir, a presidente do Brasil, do agronegócio, dos trabalhadores rurais, dos ambien- gundo mandato. Não faltarão condições, nem recursos diesel foi lançado, um dos objetivos era inserir a agricultu-
Dilma Rousseff, destaca ações com o com- talistas, de todos eles, sem exceção e sem considerar as adequados para continuarmos expandindo a produção. ra familiar na cadeia de produção do biocombustível.
promisso de ampliar e fortalecer as políticas diferenças políticas ou ideológicas. É também a bandei- Vamos manter e fortalecer as políticas para setores es- “Esse foi um dos objetivos que nós perseguimos. E
públicas lutando pela erradicação da miséria, incentivan- ra de um governo que não pode discriminar quem gera pecíficos, como é o caso do financiamento dos médios acredito que a agricultura familiar, teve um papel signifi-
do o uso de tecnologia, visando o aumento da produção e alimentos e divisas para um Brasil comprometido com produtores, o programa ABC, o financiamento à pecuá- cativo nesse processo, auxiliada pelo selo social, chegan-
renda dos pequenos agricultores. Os textos foram editados a segurança alimentar do seu povo. Digo, sem medo de ria, as medidas de apoio aos produtores de cana, de café do a gerar 31% da receita aferida na comercialização. E
através de pronunciamentos oficiais em diversos eventos errar, que um dos fatores de prosperidade do Brasil está e de laranja, para citar apenas algumas; vamos fortalecer eu acredito que tanto as cooperativas que organizam a
relacionados à agricultura e agricultura familiar. representado pelos produtores rurais da CNA e em to- os programas de inovação e modernização tecnológica agricultura familiar, quanto a agricultura familiar por si
das as instituições que representam, também, a pequena do processo produtivo; vamos melhorar o seguro agrí- - e nós hoje temos 83 mil agricultores e 77 cooperativas
Agropecuária: orgulho para nosso país agricultura familiar, os médios empreendedores do cam- cola e buscar, de forma sistemática e determinada, sua de agricultores familiares -, vão ser reforçados pelo B6
No discurso da presidente Dilma Rousseff, duran- po, nas diferentes áreas, os que lutam pela terra como universalização; vamos continuar apoiando a expansão e o B7. Daí porque por todos os lados que a gente olhe,
te solenidade de posse da diretoria e conselho fiscal da meio de vida. A esses bravos e bem-sucedidos brasileiros de nossa capacidade de armazenagem; continuaremos esse é um programa muito bem-sucedido. E eu acho que
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e brasileiras de todas as áreas, do algodão, passando pela investindo no redesenho do mapa da logística de esco- seria importante dizer para uma outra questão: nós não
ela afirma que a agropecuária é “sem sombra de dúvida, laranja, pelo café, enfim, por todos os produtos, venho amento da produção brasileira; continuaremos melho- podemos, de maneira alguma, desconhecer que cada vez
um orgulho para o nosso país”. oferecer a continuidade de uma parceria que, para meu rando nossas rodovias, mas que afirmo a centralidade, que a gente introduz combustível na matriz, nós temos
“Ela produz alimentos, produz proteína animal, pro- governo, é fundamental, pois está na base do desenvolvi- no novo mandato, dos investimentos, tanto em ferrovias de avaliar o efeito sobre os preços, sobre a inflação, por-
duz cereais, enfim, produz aquilo que alimenta os povos mento do país, um desenvolvimento que queremos forte, como em hidrovias; manteremos nossa determinação de que senão seríamos inconsequentes. Nós temos certeza,
de outras nações e, sobretudo, o povo brasileiro. Gera inclusivo e sustentável.” implantar canais de escoamento mais eficientes e de me- por todos os dados, que nesta conjuntura presente, na
emprego, gera riqueza no Brasil. Estimula cadeias pro- nor custo na direção norte, dando ao Brasil uma logística situação que estamos vivendo nos últimos anos, não há
dutivas industriais de importância inquestionável para Apoio do governo ao produtor é um compro- de transportes, a partir do paralelo 16, compatível com um impacto significativo nos preços. Aliás, o impacto
o nosso crescimento. O sucesso de nossa agropecuária misso com o país o dinamismo da nossa produção agrícola; vamos dar é muito, é muito remanescente, é muito residual, e isto
é fácil de ser mensurado. Na safra de 2001/2002, nós “Na atual safra, por exemplo, garantimos aos produ- continuidade aos investimentos na expansão da produ- também mostra que, pelo lado do uso do biodiesel, nós
produzimos 96,8 milhões de toneladas em 40,2 milhões tores o maior e mais completo plano agrícola da história ção de fertilizantes no Brasil, algo que é tão importante, não estamos onerando o conjunto da população brasilei-
de hectares. Na safra atual devemos ultrapassar os 200 do Brasil. Maior e mais completo para aquele ano. Nós na medida em que se constitui em um dos fatores que ra, o que é muito relevante.”
milhões de toneladas em 58 milhões de hectares, mais sempre somos capazes de fazer, a cada ano o maior e o mais oneram o custo da produção e queremos reduzir a
que dobramos a produção, com o crescimento de 44% na mais completo plano agrícola. Neste são R$ 156 bilhões dependência que hoje temos da importação desses im- AF: Quem não vive dela, depende dela para
área plantada. Eu cito esses dados porque eles mostram para o agronegócio, além dos R$ 24 bilhões destinados à portantes insumos.” viver
que estamos oferecendo a melhor resposta possível a um agricultura familiar. Estes recursos chegam aos produto- Na cerimônia de lançamento do Plano Safra da Agri-
dos desafios da humanidade: alimentar o mundo sem res com juros adequados e tão generosos quanto a nossa Biodiesel cultura Familiar 2014/2015, Dilma Rousseff, pontua que o
destruir o planeta.” capacidade permite. Em outro pronunciamento, desta vez durante a Cúpu- Brasil tem na agricultura familiar um compromisso que o
Buscamos garantir especial atenção a alguns elos da la do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), governo brasileiro considera estratégico. “Por isso eu gos-
Produzir preservando cadeia produtiva por serem prioritários ou porque, até em Nova Iorque, Dilma disse que o país adotou planos tei tanto da frase do [Alberto] Broch: quem não vive dela,
“Por meio do aumento da produtividade, estamos então, não haviam recebido o apoio suficiente do esta- setoriais para a redução do desmatamento no chamado depende dela para viver. A visão estratégica é a visão que
mostrando que é possível produzir - vale dizer, plantar, do. Foi assim que demos importantes saltos na oferta de Cerrado brasileiro; para o aumento das energias renová- percebe esse aspecto da agricultura familiar, que é um as-
colher, exportar e gerar riquezas - sem abrir mão da pro- crédito ao investimento em máquinas e implementos. veis e a promoção da Agricultura de Baixo Carbono. pecto essencial para o Brasil. É o aspecto da produção de
teção e da preservação do meio ambiente. Devemos isso Aprimoramos o financiamento à pecuária de corte, am- “O Brasil é um grande produtor de alimentos. Temos alimentos saudáveis. E por isso, de uma certa forma, eu
aos grandes, aos médios e aos pequenos produtores ru- pliamos a oferta de assistência técnica em extensão rural. consciência que as técnicas agrícolas de baixo carbono, penso o futuro, e olho para o futuro e penso: um dia nós
rais brasileiros. Devemos isso aos nossos pesquisadores, Implantamos e fortalecemos um bem sucedido pro- ao mesmo tempo em que reduzem emissões, elevam a não vamos precisar ter um plano específico para o Semi-
aos nossos agrônomos, ao trabalho de instituições como grama de fomento a Agricultura de Baixo Carbono. Am- produtividade do setor agrícola. árido, porque o Semiárido vai estar tão desenvolvido que
a Embrapa, às empresas privadas que atuam na área, às pliamos uma política da qual tenho muito orgulho, que Por sua vez, na pequena agricultura familiar, as práti- ele poderá estar junto do Plano da Agricultura Familiar, e
nossas universidades, a todos aqueles que defendem a é o apoio ao médio produtor, que antes ficava bloqueado cas agroecológicas, ajudam a reduzir a pobreza no cam- o Brasil ou terá vários planos regionais e ao mesmo tem-
agropecuária em todas as esferas: no Executivo, no Le- entre o pequeno e o grande, sem ter uma política especí- po. Ambos programas são decisivos para a segurança po um plano nacional. Mas um dia também não terá um
gislativo e no Judiciário. fica pra ele. Não fugimos, nem nos omitimos na questão alimentar e nutricional de milhões de brasileiros.” plano de agroecologia. Agricultura familiar será igual a
A bandeira da produtividade e da preservação está da transgênica e da sua aplicação responsável e correta. Em outra manifestação, durante a cerimônia de anún- produção agroecológica sustentável.”
nas mãos de todos. Por isso, eu digo que nós temos um Além de preservar e consolidar o que já conquista- cio de medidas de fomento à produção e ao consumo de Na ocasião foi lançado o plano de 24,1 bilhões em
imenso conjunto aqui representado: dos empresários mos, temos prioridades importantes a atender nesse se- biodiesel, a presidente disse que em 2004, quando o bio- créditos, previstos para essa safra. “Eu queria dizer que

30 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 31
esses 24 bilhões são 10 vezes mais do que foi aplicado seguro para o produtor. E, o que é bom também, o agri- dizer que do meu ponto de vista, nós precisamos avançar Iorque, Dilma Rousseff pontuou que o Brasil não tem
na safra 2002/2003 e isso mostra a força de vocês. Que cultor vai continuar pagando 2% sobre o valor agregado. mais, porque ser capaz de uma agricultura sustentável, ser só o agronegócio. “Uma parte expressiva da produção
mostra além do fato do governo estar sensível e atento à Essa contratação do seguro vai ser obrigatória para capaz de produzir respeitando o meio ambiente de forma de alimentos no Brasil é feito pela agricultura familiar,
importância da agricultura familiar, à importância dos evitar as sistemáticas necessidades de fazer renegociação agroecológica, não significa deixar de ter acesso ao que a pequena agricultura. Na pequena agricultura, está
assentados da reforma agrária, é o fato de que nós todos de dívida. O intuito é cercar a produção de todas as ga- tem de mais moderno em termos de máquina, pelo con- sendo extremamente relevante a chamada agroecologia,
aprendemos, o governo aprendeu, vocês aprenderam. rantias para que ele não tenha situações emergenciais no trário, a agricultura agroecológica é uma agricultura mo- que é a produção agroecológica de vários produtos para
Nesse processo, todos nós aprendemos.” qual ele seja obrigado a não pagar.” derna, é uma agricultura tecnológica, é uma agricultura consumo domiciliar no Brasil, considerando que a agri-
Neste sentido, a presidente completa que o diálogo e a “O Brasil inteiro conhece a capacidade da produção que exige assistência técnica. É por isso que ela é de outra cultura familiar responde, junto com as cooperativas,
importância das conferências foram importantes para a da agricultura familiar. Ela está nas nossas mesas, ela qualidade. E isso é algo que nós temos de garantir e asse- junto com toda uma política de incentivo a expansão
construção de um plano que correspondesse aos anseios nos alimenta e nós consumimos essa produção todos os gurar como sendo um dos valores da agricultura familiar.” dela, ela responde por uma parte fundamental da nossa
do conjunto de agricultores da agricultura familiar e da dias. Eu tenho certeza que vai ser importante no futuro, Em entrevista coletiva concedida pela presidente, alimentação, está entre 60, 70% de muitos dos produtos
reforma agrária. e disse isso aqui no início, que a marca da agricultura após a Cúpula do Clima 2014, na sede da ONU, em Nova produzidos.” ◆
Segundo ela, esse é um fato decisivo para o Brasil, familiar seja uma marca diferenciada, pautada pela qua-
pois mostra que com participação social se produz resul- lidade dos produtos. Já é diferenciada, mas eu acho que o
tados. “Eu quero também destacar esse aspecto porque Brasil vai ter no futuro, um compromisso entre agricul-

Roberto Stuckert Filho


ele mostra uma grande maturidade desta relação entre tura familiar e agroecologia. Eu acho que esse é o nosso
governo e os movimentos sociais no sentido de formu- caminho.”
lação de uma política para a agricultura familiar. E por
isso nós sabemos que as grandes conquistas, elas só são Mais tecnologia, mais produção, mais renda
grandes quando construídas pelo diálogo entre nós. Sa- “A cada Plano Safra, nós estimulamos o investimento
bemos disso e foi por esse diálogo que nós conseguimos pela agricultura familiar em máquinas e equipamentos e
várias alterações sucessivas nos planos, que vêm desde adoção de novas tecnologias para aumentar ainda mais
2003. Atendendo demandas históricas do setor, como a produção e a produtividade no setor. Nessa safra estão
seguro, a Garantia de Preços para Agricultura Familiar, previstos R$ 12 bilhões do Pronaf para as linhas de in-
o PGPAF, as compras institucionais do PAA, o acesso à vestimento. Esse montante é 15 vezes maior que o execu-
mercado, assistência técnica, que foi fruto desse debate tado no início, quando nós chegamos ao governo com o
que deu origem à Anater. presidente Lula. E os juros dessa linha variam de 0,5% a
Eu acredito que nós tivemos um processo de avanço 2%. São taxas extremamente baixas, pois nós queremos
nesse Plano Safra. Nós asseguramos taxas de juros inal- que os agricultores desse país, os pequenos agricultores
teradas. Mesmo quando a gente sabe que houve um au- desse país, tenham acesso às melhores condições possí-
mento das taxas Selic, nós garantimos as mesmas taxas veis para investir, para adquirir máquinas e equipamen-
de juros para a agricultura familiar. E isso significa que na tos que melhorem a produtividade da sua propriedade
prática nós ampliamos o subsídio ao custeio e ao investi- e, ao mesmo tempo, e por isso, gerando mais emprego e
mento. Além disso, eu considero fundamental a criação renda. Mais emprego para quem? Mais emprego na cida-
da nova linha de crédito com assistência técnica garanti- de, porque essas máquinas, esses equipamentos revolu-
da, o Pronaf Produção Orientada para apoiar a produção cionam também e melhoram a situação de emprego nas
sustentável de alimentos nas regiões que nós considera- cidades. E mais renda para quem? Para os agricultores e
mos essenciais, que tenham suporte de assistência técni- para os nossos companheiros das cidades.
ca: Norte, Nordeste e regiões e do Centro-Oeste.” “Esse ano, aliás, eu queria dizer isso para vocês: sabe
“O Proagro Mais, o Seguro da Agricultura Familiar, quanto que cresceu o investimento em máquina e equipa-
também vai permitir que o ambiente no qual o agricultor mento agrícola? Eu achei esse número fantástico. Nos últi-
e o assentado produz, seja um ambiente mais seguro, com mos 12 anos passou de R$ 80 milhões para R$ 4,5 bilhões.
mais tranquilidade. Nessa safra, é importante a gente su- É um número muito significativo. E aí, gente, é bom saber:
blinhar, que nós passaremos a garantir 80% da receita o Mais Alimentos financiou, nas últimas seis safras, 47 mil
bruta esperada, com limite de cobertura até R$ 20 mil. veículos de transporte de carga; 1,4 mil colheitadeiras e 75
Isso é muito importante porque cria um meio ambiente mil tratores. Nós conseguimos esse patamar, mas eu quero

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MDA MDA

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MDA MDA

Anuário Brasileiro da Agricultura Fami- atenção especial aos seguros agrícolas, à agroecologia, e
liar - Quais as perspectivas para a agricultura familiar também às iniciativas que promovam a igualdade entre
no Brasil? homens e mulheres no campo, a permanência do jovem
Patrus Ananias - Nós queremos fortalecer ainda no campo e à reforma agrária.
mais a agricultura familiar. Queremos que ela seja au- Para potencializar todas essas ações, vamos trabalhar
tossuficiente e que também seja mecanizada. Também de forma integrada com os demais ministérios e órgãos
queremos levar o Pronaf (Programa Nacional de For- federais, e ampliar as parcerias com setores produtivos,
talecimento da Agricultura Familiar) para um número entidades da sociedade civil e os movimentos sociais.

MDA
maior de produtores, como quilombolas, geraizeiros,
indígenas, assentados da reforma agrária e agricultores Anuário - Por falar nisso, o senhor concentrou a sua
familiares do semiárido. agenda nessas primeiras semanas no comando do MDA
Além de ampliar ainda mais esse acesso, um grande para intensificar esse diálogo com a sociedade civil or-

Ministro fala das perspectivas da desafio é avançarmos nas condições tecnológicas para
que essa produção seja competitiva, rentável para o pro-
dutor, e, ao mesmo tempo, agroecológica, que ofereça
ganizada.
Patrus Ananias - Sim. Nos primeiros dois meses de
mandato, eu procurei receber e ouvir o maior número

agricultura familiar para 2015 alimentos saudáveis, que promovam a vida. E acredito
que temos condições para isso.
Outro ponto importante é que estamos consolidando
de representantes dos movimentos sociais, associações
e cooperativas, de todas as regiões do País. Acho funda-
mental a participação da sociedade na construção e no
a Anater. Será um órgão para prestar serviços de assis- aperfeiçoamento das políticas para um País mais justo e
Em entrevista, Patrus Ananias, enfatiza ainda que a agricultura familiar pode tência técnica e extensão rural para os agricultores fa- igualitário para todos. E o que é mais notório é o anseio
miliares. Pretendemos fortalecer a rede de parceria com por uma reforma agrária efetiva e pela aplicação do prin-
contribuir para o enfrentamento da fome e da pobreza no mundo as universidades e estudos de pesquisa, para aperfeiçoar cípio constitucional da função social da propriedade.
esse conhecimento.
Também estou cada vez mais convencido de que o Anuário - Em seus discursos públicos, a reforma
cooperativismo nos ajuda muito em todo esse processo, agrária tem sido tema constante. Ela é prioridade do seu

PAULO HENRIQUE CARVALHO / ASCOM MDA


ao criar sinergia para agregar valor à produção e viabili- mandato?
zar o acesso aos mercados, especialmente aos institucio- Patrus Ananias - Dentro do nosso planejamento es-
nais, como o Programa de Aquisição de Alimentos e o de tratégico, temos duas questões muito importantes. A pri-
Alimentação Escolar. meira é que estamos determinados a assentar, de forma
digna, as famílias que estão acampadas no Brasil. Para
Anuário - O senhor acredita que a agricultura fami- isso, vamos alinhar uma ação integrada com o Ministé-
liar pode contribuir para o enfrentamento da pobreza e rio do Desenvolvimento Social, para identificarmos to-
da fome? das as famílias acampadas e, a partir deste levantamento,
Patrus Ananias - No fim do ano passado, o Brasil assentarmos. Vamos identificar quem são essas famílias
saiu do Mapa da Fome. Uma conquista notável, histórica, para termos uma ideia concreta do tipo de apoio, dentro
que está ligada às políticas sociais de combate à pobreza de todas as políticas públicas de inclusão social, que elas
e de segurança alimentar, e também às políticas de apoio precisam receber.
à agricultura familiar. O segundo passo é melhorar os assentamentos, para
Mais do que manter esse patamar alcançado, o desa- garantir autonomia produtiva e financeira aos assenta-
fio é continuarmos avançando e isso também está asso- dos. Queremos levar mais infraestrutura, cultura, lazer,
ciado ao desenvolvimento das políticas voltadas para a educação, atividades esportivas e de inclusão social. Es-
produção agrícola e para a manutenção da estabilidade tas ações contribuem para a manutenção dos jovens no
de preços dos alimentos. campo. Finalmente, queremos que os assentamentos se-
Em relação à agricultura familiar, além do crédi- jam não apenas focados na produção, mas um legítimo
to e da assistência técnica, como falei antes, vamos dar espaço de vivência, cultura e lazer. ◆

36 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 37
MDA MDA

SAF Técnica e Extensão Rural, com Formação e Capacitação


continuadas; Crédito, Seguro e Garantia de Preços Mí-

Albino Oliveira / Ascom MDA


nimos, e Organização Econômica e Social para inclusão

“A expressividade e a importância nos mercados e o Abastecimento Alimentar e Energéti-


co. A partir desses eixos estruturantes, dezenas de pro-
gramas e ações chegam a todos os municípios do País

da agricultura familiar no Brasil


para as mais de 4 milhões de famílias rurais, contribuin-
do, decisivamente, para o abastecimento das cidades e
dinamização da economia local.
A estratégia fundamental para a execução das políti-

são incontestáveis,” diz secretário cas está nas parcerias com instituições públicas e priva-
das, que executam na ponta os programas e ações, desde
a produção até o abastecimento.
Em entrevista, Onaur Ruano, fala sobre o papel da agricultura familiar no Além da continuidade, aperfeiçoamento e fortale-
cimento das ações já em andamento, neste ano foram
país e no mundo eleitos temas prioritários, que a SAF tem o objetivo de
consolidar em 2015, tais como ampliar e fortalecer o

A
Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) ram que 84% dos estabelecimentos rurais no Brasil eram cooperativismo; ampliar e fortalecer a agroindústria fa-
implementa políticas públicas voltadas à da Agricultura Familiar, mas que ocupavam apenas 24% miliar; ampliar e fortalecer as capacidades locais para
agricultura familiar, de forma continuada, da área agrícola do País. Responderam por 74% dos pos- produção, multiplicação e acesso a sementes e mudas;
visando contribuir para a promoção de seu fortaleci- tos de trabalho no campo, com geração de 38% do va- fomentar a agroecologia como modelo de produção; vo-
mento econômico e social, de um modelo de produção lor bruto da produção agropecuária nacional. A grande cacionar a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER
amigável com o meio ambiente, e para um desenvolvi- maioria dos alimentos presentes na mesa dos brasileiros para aprofundar orientação prioritária a temas como o
mento rural sustentável. Para tanto, atua potencializan- é oriunda da Agricultura Familiar. Tem-se aí 83% da acesso ao crédito, à inovação e a modelos de produção
do a produção, a organização econômica, a qualidade mandioca, 70% do feijão, 69% das hortaliças, 59% dos sustentáveis, e regularização e restauração ambiental nos
de vida das famílias rurais, sua inserção nos mercados, suínos, 58% do leite, 51% das aves, 45% do milho e 30% estabelecimentos assistidos; e ampliar e aperfeiçoar os
gerando emprego e renda. dos bovinos,” define. instrumentos de comercialização para o abastecimento
Para o secretário da Agricultura Familiar (SAF), do Para atingir resultados como esses, a Secretaria da alimentar.
MDA, Onaur Ruano, “a expressividade e a importância Agricultura Familiar, do Ministério do Desenvolvimento Segundo ele, no cooperativismo, o papel da assistên-
da agricultura familiar no Brasil são incontestáveis. Os Agrário, se estrutura em três pilares fundamentais de po- cia técnica e extensão rural e do crédito na melhoria da
dados do último Censo Agropecuário (2006) demonstra- líticas públicas para a Agricultura Familiar: Assistência gestão e eficiência das cooperativas, incluído aí as asso-

38 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 39
MDA

Tramontini:
ciações de agricultores familiares, será aperfeiçoado com A respeito de melhorar o seguro agrícola no senti-
a melhoria dos instrumentos e ampliação da alocação do de proteger ainda mais o agricultor familiar, Ruano
de recursos. Acrescenta que na agroindústria familiar, afirma que está sendo criado um novo modelo de se-
a qualificação dos processos de produção; a adequação guro de renda para esta categoria. Ele explica que, nas

máquinas com
do marco regulatório da Vigilância Sanitária para as condições atuais do Proagro Mais, o valor segurado é
suas especificidades, escala e tamanho; o apoio para o definido a partir do valor financiado, o que nem sem-
fortalecimento dos Sistemas de Inspeção Municipais; a pre se ajusta às necessidades de cobertura da lavoura.
inserção nos mercados; e a valorização da identidade dos “Esse modelo atual gera muitas distorções, fornecendo
produtos agroindustrializados da agricultura familiar ao cobertura excessiva para alguns e insuficiente para ou-

a essência da
público consumidor, com a elaboração e distribuição de tros,” pontua.
catálogos dos produtos, campanhas de esclarecimento e Segundo ele, no novo modelo, a base de cálculo parte
distinção dos seus aspectos culturais e tradicionais, e a da renda: o valor segurado será de 80% da receita bruta
consolidação do Selo de Identificação da Participação da esperada da lavoura, limitado a financiamento mais R$

agricultura
Agricultura Familiar (SIPAF) também são prioridades 20 mil. O novo seguro foi aprovado pelo Conselho Mo-
da Secretaria. netário Nacional (CMN) e o início das operações está
Conforme o secretário será lançado um Programa previsto para julho deste ano.
Nacional de Sementes e Mudas para a Agricultura Fami-
liar, com parcerias governamentais e com organizações Ano Internacional da Agricultura Familiar

familiar
da sociedade civil, fortalecendo as capacidades locais 2014 foi instituído como o Ano Internacional da
de conservação, produção, multiplicação e organização Agricultura Familiar. O secretário de Agricultura Fa-
da demanda e distribuição de sementes e mudas para a miliar do Brasil, acredita que esta declaração da FAO
agricultura familiar, tendo a modalidade Sementes do é um reconhecimento da importância desse segmento

A
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Sementes, para o mundo. “Não é possível medir o impacto disso Tramontini Maquinas, com sede no município de Venâncio Aires, no
como um instrumento importante de compras locais e na agricultura familiar brasileira, mas é claro que a pro- Rio Grande do Sul, acompanhou de perto a evolução da tecnologia vol-
distribuição no território. “O Abastecimento Alimentar, jetou mundialmente, dando maior visibilidade,” acredi- tada à agricultura familiar. Fundada em 1984, a empresa iniciou suas
como conceito, deverá articular o conjunto de programas ta. E acrescenta: “o que pudemos constatar é que nossas atividades com a produção de carretas agrícolas. Em 2003, passou a fabricar um
e ações, na perspectiva de que as cadeias produtivas não políticas públicas para a Agricultura Familiar são hoje trator transportador agrícola, passo importante para a produção de microtratores
sejam tratadas de forma segmentada e apenas tecnica- referência para o mundo como sinônimo de criativida- e, posteriormente, tratores de quatro rodas, seguindo o desenvolvimento do produ-
mente nos seus fatores, mas que os sujeitos envolvidos, de, de vontade política do Governo Federal, de interse- tor na pequena propriedade rural.
da roça à mesa, possam ter seus papéis reconhecidos e torialidade e articulação de políticas, e como modelo Os tratores de maior porte chegaram em 2011, evoluindo até o 1680, de uso
respeitados,” diz. inspirador para o desenvolvimento rural sustentável e geral com motor de 80cv. Com tradição na fabricação de máquinas voltadas aos
No que se refere à participação da agricultura fami- para a segurança alimentar e nutricional.” pequenos e médios produtores, a Tramontini destaca-se por modelos que aliam
liar nas aquisições para a alimentação escolar nos muni- A articulação da política de Educação (MEC/FNDE) produtividade e economia nas operações de cultivo, com grande versatilidade de
cípios, a cota de 30% prevista pela lei para aquisição de com a política agrícola para a Agricultura Familiar aplicação.
alimentos desse segmento representou, em 2013, R$ 1,46 (MDA/SAF) é um exemplo. O Programa Nacional de Dos microtratores aos tratores de quatro rodas, a companhia também é co-
bilhões. A participação nessa cota tem evoluído desde o Alimentação Escolar (PNAE), a partir da sanção da Lei nhecida por levar ao mercado opções projetadas para culturas específicas, como
início das aquisições, com participação de 17% em 2010, N° 11.947, de 26 de junho de 2009, que estabeleceu no o premiado 1640, considerado o melhor trator do Brasil para o cultivo de uva. Sua
26% (2011), 37% (2012) e 43% em 2013. seu Art. 14 que do total dos recursos financeiros repas- estabilidade e segurança em terrenos acidentados, além do menor raio de giro do
É possível, de acordo com Ruano, encontrar na sados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% mercado, somam-se a duas características que o tornam ainda mais atrativo: é o
alimentação dos alunos da rede pública de ensino deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimen- modelo mais compacto e com melhor economia de combustível em sua faixa de
do País alimentos orgânicos e agroecológicos produ- tícios diretamente da agricultura familiar, passa a mu- potência.
zidos por agricultores familiares. São 43 milhões de dar de maneira expressiva a qualidade da alimentação A alma dos projetos da Tramontini está no contato direto com o produtor. O
estudantes se alimentando adequadamente. É o maior escolar, assim como a diversificação do perfil de produ- 1640, ideal também para a cultura do café, é fruto de dois anos de pesquisas e tes-
restaurante do mundo. “Ganha quem produz e ganha ção da agricultura familiar, com melhorias importantes tes junto aos próprios agricultores, que influenciaram diretamente na definição de
quem consome.” nos dois segmentos. ◆ suas características, baseadas nas necessidades do homem do campo. Por tudo isso,
os modelos da marca carregam a essência da agricultura familiar. ◆

40 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015


MDA MDA

Diretor confirma
sucesso do programa
Mais Alimentos
Lucas Ramalho diz que nos últimos seis anos, mais de 835 mil agricultores
acessaram um crédito barato e com boas condições de pagamento
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar endividamento a ser contratado pelo agricultor fami- carência de até três anos, a depender do projeto. Além
- O Programa Mais Alimentos é o carro- chefe e o gran- liar no ano safra 2013/2014 de R$ 200 mil para R$ 300 disso, houve o aumento no limite do valor máximo de
ALBINO OLIEVEIRA / ASCOM MDA

de sucesso do MDA, desde sua implantação. Quais foram mil; e aumento no número de contratos por ano-safra, endividamento a ser contratado por produtor, passando
as principais conquistas desse importante programa? saindo de 208,6 mil em 2012/2013 para 404,4 mil em de R$ 200 mil para R$ 300 mil.
Lucas Ramalho - Destaco a melhoria do maquiná- 2013/2014. Com o Programa Mais Alimentos Internacional, o
rio e da infraestrutura nas propriedades da agricultura Anuário - Quais estados brasileiros que mais con- Brasil passou a conceder crédito para países em desen-
familiar. Nos últimos seis anos, mais de 835 mil agricul- trataram crédito do Pronaf/Mais Alimentos? volvimento comprarem máquinas e equipamentos agrí-
tores acessaram um crédito barato e com boas condições Lucas Ramalho - Embora todos os estados se be- colas produzidos no nosso País, o que estimulou signifi-
de pagamento. Para exemplificar a dimensão do progra- neficiem com o programa, são os estados de Minas Ge- cativamente nosso parque industrial.
ma, vale dizer que 10% de todos os tratores do Brasil fo- rais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Pau- A iniciativa de estabelecer uma linha de crédito para
ram adquiridos por agricultores familiares por meio do lo, Espírito Santo, Mato Grosso, Rondônia e Goiás, nesta a exportação de maquinário e equipamento agrícola pro-
Mais Alimentos. ordem, que acessam a maior parte dos recursos. Em duzido no Brasil para agricultores familiares de outros
Isso tudo foi possível porque o crédito cresceu dez número de contratos, os estados que mais acessaram o países foi lançada durante o “Diálogo Brasil – África em
vezes nos últimos doze anos. Neste Plano Safra, foram programa foram Bahia, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvi-
R$ 24,1 bilhões voltados para a agricultura familiar. Minas Gerais, Piauí e Rio Grande do Sul. mento Rural” em março de 2010, no qual foi estabelecido
Hoje, há operações do Pronaf em 98% dos municípios Anuário - Quais sãos os principais fatores para o um diálogo permanente entre a África e o Brasil em ma-
brasileiros. Esses recursos permitiram ao agricultor fa- crescimento de financiamentos através do Pronaf/Mais téria de segurança alimentar e nutricional e de desenvol-
miliar acesso a novas e modernas tecnologias que, por Alimentos, e a implantação do Programa Mais Alimen- vimento rural. A partir desse compromisso, o programa
sua vez, resultaram na geração de milhares de empre- tos Internacional? inicialmente batizado como Mais Alimentos África, foi
gos na indústria brasileira. Lucas Ramalho - Com relação ao Programa Mais posteriormente alterado para Mais Alimentos Interna-
Vale destacar que, para continuar o processo de Alimentos Nacional, destaca-se a facilidade na contra- cional, de forma a atender as solicitações de cooperação
aperfeiçoamento do programa, o MDA empreendeu tação e na forma de pagamento do financiamento. São técnica e de apoio a projetos de desenvolvimento agrário
importantes mudanças para melhor atender os agricul- taxas de juros reduzidas, que variam de 1% a 2% ao ano; e incremento da produção da agricultura familiar reali-
Lucas Ramalho
tores familiares: aumento no limite do valor máximo de prazos de pagamento que variam de 10 a 15 anos com zadas por países localizados fora do continente africano.

42 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 43
MDA MDA

Anuário - De que maneira o Programa Mais Ali- tura familiar. Em suma, o programa promoveu a melho-
mentos contribui com a indústria brasileira de máquinas ria na qualidade de vida.
e implementos agrícolas? Anuário - Com qual objetivo o Programa Mais Ali-
Lucas Ramalho - Ao fornecer condições acessí- mentos Internacional foi criado e quais são os benefícios
veis para os agricultores familiares satisfazerem suas que ele trará para o Brasil?
demandas, o programa insere no mercado consumidor Lucas Ramalho - O Programa Mais Alimentos In-
de máquinas e implementos agrícolas 835 mil agricul- ternacional tem dois objetivos: estabelecer uma linha de
tores familiares. Havia muita demanda reprimida no crédito concessional para o financiamento de exporta-
Brasil. Hoje, os agricultores conseguem financiar seus ções brasileiras de máquinas e equipamentos destinados
maquinários por meio de um crédito acessível. Isso à agricultura familiar; e fornecer apoio a projetos de de-
aumentou exponencialmente a quantidade de consu- senvolvimento rural para o fortalecimento da produção
midores, gerando oportunidades de negócios para a da agricultura familiar e combate à insegurança alimen-
indústria nacional. tar por meio da cooperação técnica e do intercâmbio de
Anuário - Após a implantação do Programa Mais políticas públicas.
Alimentos, a indústria brasileira desenvolveu tecnologia Além de fomentar a reaproximação estratégica com
destinada ao pequeno produtor? o mercado externo, o programa possibilita transferência
Lucas Ramalho - Sim. O Brasil é referência de tecnologia desenvolvida no Brasil através da exporta-
mundial na produção de máquinas adequadas à rea- ção de máquinas e equipamentos com alto valor agrega-
lidade da agricultura familiar. São máquinas menores do, portanto, torna-se um item importante da balança
e mais leves, que aumentam a curva de produção dos comercial brasileira.
estabelecimentos da agricultura familiar. Além do de- Anuário - Quais são as expectativas para 2015?
senvolvimento de novas tecnologias, houve também Lucas Ramalho - A expectativa para 2015 é am-
adaptação dos produtos para atender esse público, pliar e aprimorar o programa. Fazer com que o Mais Ali-
como colheitadeiras, tanques de resfriamento de leite mentos alcance uma quantidade ainda maior de agricul-
e silos menores. tores familiares, dando especial atenção aos municípios
Anuário - O MDA/Mais Alimentos está sempre do semiárido e da região amazônica. No âmbito interna-
presente nas feiras/eventos de agronegócio de todo País. cional, a perspectiva é concluir os primeiros tranches de
Qual é o objetivo da participação nessas feiras, e em que exportação para os países participantes e possibilitar o
isso beneficia o agricultor familiar e as indústrias? ingresso de novos países no programa.
Lucas Ramalho - Esses eventos são oportuni- Anuário - Na sua avaliação, como o Mais Alimentos
dades para divulgar o programa Mais Alimentos. É a contribui para a economia brasileira?
oportunidade para os pequenos agricultores conhece- Lucas Ramalho - A política de crédito, por meio do
rem o que as indústrias de máquinas e equipamentos Mais Alimentos, equipa a agricultura familiar e a trans-
estão oferecendo como novidades tecnológicas, parti- forma em um vetor ainda mais importante de promoção
ciparem de palestras e aproximarem-se do setor finan- do desenvolvimento rural brasileiro. O programa contri-
ceiro. As indústrias têm espaço para exporem e divul- bui tanto para o aumento da produção de alimentos e
garem seus produtos. ampliação da renda da agricultura familiar quanto para
Anuário - Em que o Programa Mais Alimentos mu- ampliar as oportunidades de negócio e do estímulo ao
dou na vida do agricultor familiar? parque industrial brasileiro. Ou seja, o programa gera
Lucas Ramalho - Ao permitir o acesso a novas e empregos no campo e na cidade. Em outras palavras:
modernas tecnologias, o programa facilitou a lida no promove a inclusão produtiva e o desenvolvimento eco-
campo, aumentou a produtividade e a renda da agricul- nômico e social do País. ◆

44 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 45
MDA MDA

Nova Ford Série F


O caminhão mais tradicional do
Brasil volta renovado e já está
disponível no Pronaf-Mais Alimentos
C
om o lançamento da Nova Série F, a linha de perto de completar 60 anos. Desde então, a linha passou O F-350 tem rodado simples, peso bruto total de Lançado no ano passado, o Cargo 1119 é outra op-
caminhões mais tradicional do Brasil, os agri- por diversas modernizações e aprimoramentos, que aju- 4.500 kg e capacidade de carga útil de 2.128 kg. É ideal ção oferecida pela Ford no Pronaf-Mais Alimentos.
cultores familiares passaram a ter a opção de daram a construir a imagem da marca e a reputação de para transporte de hortifrútis, entregas fracionadas, ser- Caminhão leve com a maior potência e capacidade de
três novos veículos para aquisição dentro do Pronaf- caminhões fortes, com baixo custo de manutenção e de viços de manutenção e distribuição comercial. carga do mercado, conquistou rapidamente a preferên-
-Mais Alimentos. A família formada pelo modelo semi- confiança, acompanhando o produtor rural em todas as O F-4000 tem rodado duplo, peso bruto total de 6.800 cia de vários transportadores. Equipado com motor
leve F-350 e pelos leves F-4000 e F-4000 4x4 traz aprimo- fases do seu trabalho. kg e capacidade de carga útil de 3.949 kg. É indicado para Cummins 4.5 de 189 cv com gerenciamento eletrônico,
ramentos no motor, câmbio, freios e equipamentos, que Os três modelos da Nova Série F se destacam pela ro- o transporte de hortifrútis, insumos agrícolas, materiais freios ABS e controle de tração de série, conta com um
aumentam a potência, economia, conforto e segurança bustez e versatilidade tanto para uso urbano como rural, de construção e animais vivos, além de entregas fracio- chassi robusto, desenvolvido especialmente para facili-
para diversas aplicações. Tudo isso, com as característi- unindo potência e capacidade de carga superior. Eles vêm nadas, manutenção de serviços públicos e aplicações fora tar a instalação dos implementos e otimizar o transpor-
cas únicas de cabine, robustez e versatilidade da Série F equipados com o novo motor 2.8 da Cummins, de 150 cv, e de estrada. te. Tem peso bruto total de 10.510 kg e capacidade de
que todos conhecem. uma nova transmissão de cinco velocidades da Eaton. En- O F-4000 4x4 tem peso bruto total de 6.800 kg e ca- carga líquida de 7.164 kg.
Outra novidade da Ford no Pronaf em 2015 é o cami- tre outras vantagens, esse conjunto é cerca de 6% mais eco- pacidade de carga útil de 3.810 kg. Seu ângulo de entrada O Cargo 1319, incluído este ano na carteira de pro-
nhão médio Cargo 1319. Com isso, a marca agora ofere- nômico no consumo de diesel, conta com tecnologia SCR de 26 graus e ângulo de saída de 27 graus facilitam a ro- dutos da Ford para o Pronaf-Mais Alimentos, é equipado
ce seis modelos dentro do programa, incluindo o Cargo para redução de emissões e tem um nível reduzido de ruído dagem em terrenos de difícil acesso. Único do segmento com motor Cummins ISB 4.5 de 189 cv e oferece peso
816 e o Cargo 1119, que estão entre os mais vendidos do e vibrações na cabine. O freio ABS com distribuição eletrô- com tração 4x4, pode ser utilizado em serviços especiais bruto total de 13 toneladas para os agricultores que pre-
mercado. “Com essa variedade, queremos dar ao agricul- nica de frenagem (EBD) garante paradas mais seguras. como manutenção de redes elétricas, telefonia, água e cisam capacidade maior de carga para transportar seus
tor familiar a possibilidade de escolher o caminhão que Outra característica que diferencia a Série F no merca- esgoto, além de aplicações rurais diversas, suporte na produtos com segurança e economia.
melhor se adapta às suas necessidades”, diz Rodrigo Ata- do é a cabine convencional, com o mesmo padrão de con- mineração, construção civil e militar. Todos os novos caminhões Ford já vêm preparados
manchuk, consultor de Negócios da Ford Caminhões. “A forto das picapes. Ela tem espaço para o motorista e dois O Ford Cargo 816, caminhão leve mais vendido do Bra- para uso do biodiesel B20, como opção sustentável. Ou-
Ford tem uma forte ligação com esse setor, que tem uma passageiros, fácil acesso e posição confortável de dirigir. sil em 2014, também continua a ser um dos campeões de tra vantagem é a assistência pós-venda oferecida pela
importância estratégica na produção de alimentos e no Também traz ar-condicionado de série e, com o desenvol- vendas do Pronaf-Mais Alimentos. Com peso bruto total de rede de concessionárias da marca, com 140 pontos dis-
desempenho da economia brasileira.” vimento feito no novo motor, oferece um nível ainda me- 8.250 kg, capacidade máxima de tração de 11.000 kg e três tribuídos pelo Brasil. Além de técnicos treinados e esto-
A Série F tem um significado histórico para a Ford nor de ruído e vibração. Por isso, além de parceiro de tra- opções de distância entre-eixos, ele permite a adequação a que de peças, ela está preparada para oferecer o suporte
no Brasil. O primeiro veículo produzido pela marca no balho, para muitos agricultores também é o veículo usado várias necessidades de transporte. O seu motor Cummins necessário ao produtor para a manutenção do veículo
País foi um F-600, caminhão da mesma família que está para transportar a família nos fins de semana. de 4.5 litros tem potência de 162 cv e torque de 550 Nm. durante toda a sua vida útil. ◆

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MDA MDA

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MDA MDA

ALBINO OLIEVEIRA / ASCOM MDA


milhões de unidades familiares de produção. A linha de captação, armazenamento e distribuição de água e irri-
crédito de investimento do Pronaf contribui para melho- gação, de sistemas de produção de base agroecológica ou
rar a renda, aumentar a oferta de alimentos, aumentar a orgânicos, dentre outros.
produtividade, gerar e/ou manter ocupações produtivas A linha Pronaf Produtivo Orientado ou simples-
e empregos no campo. mente PPO, financia investimentos entre R$ 18 mil e
R$ 40 mil, com taxa de juros de 1% ao ano, com prazo
Anuário - Do lançamento do Pronaf Investimen- de até 10 anos para pagar, incluída a carência de três
to até o momento, quais foram as principais mudan- anos. Além disso, dá bônus de adimplência para aquele
ças e novidades? agricultor que pagar em dia, ou seja, não deixar atrasar
João Luiz Guadagnin - A redução nas taxas de juros sua prestação do financiamento.
foi uma conquista para a agricultura familiar. Nos finan-
ciamentos da safra 1995-1996 a taxa de juros era de 16%, Anuário - Quais outras informações o senhor gos-
tanto para custeio quanto para investimento. Já nas safras taria de destacar?
2013-2014 e 2014-2015 a taxa máxima para custeio era João Luiz Guadagnin - O Pronaf possui as mais
3,5% ao ano, destinada aos agricultores, e de 4% ao ano baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, varian-
para as cooperativas de agricultores familiares. No caso do de 0,5 a 2 % ao ano para as operações de investimento
dos financiamentos de investimento, a taxa de juros teve e de 1% a 3,5 % para as de custeio.
redução de 14 %, quando comparado com o início da ope- A inadimplência média nas operações realizadas

SAF/MDA João Luiz Guadagnin


ração do Pronaf, hoje a taxa máxima é de 2%.
Diversas linhas foram criadas ao longo dos quase
20 anos do Pronaf, como o Pronaf Agroindústria para
com risco para os agentes financeiros está abaixo de
1,5%, uma das menores taxas de inadimplência de todo
o sistema financeiro nacional.

Pronaf comemora 20 anos levando


promover a agregação de renda e os ganhos de esca- O Pronaf apresenta uma trajetória de crescimento ao
la para os agricultores familiares, na safra 1997-1998. se observar o montante contratado ao longo das safras.
Outras linhas podem ser destacadas como crédito para Por exemplo, quando se compara o que foi contratado na

desenvolvimento ao campo
investimento em Energia Renovável e Sustentabilidade safra 2013-2014 em relação a 1999-2000, verifica-se um
Ambiental (Pronaf Eco), criada na safra 2007-2008, o aumento de 246% em termos reais. Na safra 1999-2000
Pronaf Mulher e o Pronaf Jovem, que surgiram na safra financiou-se R$ 6,4 bilhões em valores reais para um
2004-2005. pouco mais de 933 mil contratos. O montante de R$ 22,3
Diretor de Financiamento e Proteção Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar Cabe ressaltar uma linha nova, da safra 2014-2015, bilhões contratados na safra 2013-2014 correspondeu a
- O senhor tem algum parâmetro de avaliação de como denominada Crédito Produtivo Orientado de Investi- mais de 1.903 mil contratos.
à Produção da SAF/MDA, João Luiz o Pronaf Investimento (Mais Alimentos) tem ajudado os mento ou Pronaf Produtivo Orientado (PPO). Essa A expansão do valor contratado no Pronaf nas últi-
Guadagnin, fala sobre o Pronaf agricultores familiares? linha possibilita aos agricultores familiares contrata- mas quinze safras é em parte explicada pela elevação dos
João Luiz Guadagnin - Desde o surgimento do rem financiamentos de investimento com assistência limites de financiamento nas operações de custeio e in-
Investimento. Ele afirma que a linha Pronaf, em 1995, o Programa foi muito bem aceito pelos técnica e extensão rural, nas regiões de atuação dos vestimento do programa.
de crédito contribui para melhorar agricultores familiares, técnicos da extensão rural, lide- Fundos Constitucionais. Em síntese, a expansão do Pronaf entre a safra 1999-
ranças dos movimentos sociais e agentes financeiros. Ao Com o PPO é possível investir em inovação tecno- 2000 e 2013-2014, especialmente do montante financia-
a renda, aumentar a oferta de longo dos anos, o Pronaf se transformou e trouxe efeitos lógica da unidade familiar de produção, facilitando a do, está diretamente relacionado ao aumento das opera-
alimentos, a produtividade, gerar positivos ao desenvolvimento da agricultura familiar e convivência com o bioma, aumentando a produtividade, ções de investimento, quando se observa o número de
do rural brasileiro. A linha de investimento do Pronaf melhorando a gestão e elevando a renda. Outros inves- contratos, que supera os 60% do total nas últimas safras
e manter ocupações produtivas e permitiu a adoção de tecnologias produtivas que per- timentos também estão contemplados como a implan- do período em análise, seja com relação ao valor contra-
empregos no campo mitiram a modernização e o crescimento sustentável de tação de sistemas agroflorestais, de infraestrutura de tado, ao superar os 50%. ◆

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MDA MDA

Vila Lângaro
Família adquire trator pensando
no aumento da produtividade
V
isando aumentar a produtividade de leite e
grãos na propriedade de 60 hectares, loca-

PAOLA SEIBT
lizada na Linha Schendler, interior de Vila
Lângaro/RS, o proprietário Nédio Antônio Genário ad-
quiriu há dois anos o trator Farmall 80, da Case IH. Dos
60 hectares, pouco mais de 18 são próprios e o restante
arrendados.
A família planta soja e milho, porém o carro-chefe é a
produção de leite. Atualmente, a família possui 65 vacas
em ordenha, com uma produção que gira em torno de
1.500 litros por dia. A expectativa é aumentar o plantel,
chegando a 100 vacas em ordenha.
Genário, já tinha dois outros tratores um do ano de
1978 e outro de 1995. “Para o meu trabalho que tenho
lavoura e vacas de leite, eles já estavam ultrapassados.
Este que peguei é moderno. Fiz várias pesquisas antes
da aquisição e escolhi este da Case, pois é de uma marca
consagrada. Ele é um trator mais forte, robusto, ágil, tra-
çado e tem comando bom,” descreve.
A aquisição foi feita através do Mais Alimentos. “Este
é um programa que a vantagem é um juro mais barato,
se comparado a outros. Como um trator tem um valor
alto o financiamento facilita, pois seria bem mais difícil
reunir todo o dinheiro para comprar o bem. Assim, você
parcela com boas condições de pagamento,” esclarece.
Genário afirma que já adquiriu outros equipamentos
através do Mais Alimentos, inclusive vacas holandesas. Ago-
ra, está buscando mais uma vez conseguir o financiamento
para a construção de um galpão visando abrigar o rebanho.
“A atividade do leite é bastante desgastante, pensando nisso
e lembrando o inverno vou dar um conforto para elas e para
nós que lidamos com o leite. Também vamos procurar este
financiamento pensando no meu filho mais novo, visando
a melhoria da lida no campo. Ele quer ficar aqui, por isso
até estou ampliando os galpões, expandir sem ter sucessão
familiar não vale a pena o investimento,” diz.

52 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 53
MDA MDA

PAOLA SEIBT
FARMALL 80 CABINADO. VOCÊ VAI PRECISAR
DE MAIS POTÊNCIA PARA PRODUZIR
MAIS ALIMENTOS. ESTEJA PREPARADO.

O agricultor vê a propriedade rural como um em- mundial Case IH de identificação de seus equipamentos,
preendimento e tem consciência de que é preciso estudo os tratores Farmall contam com um novo visual, mais
aplicado na propriedade para desenvolver. “Anos atrás fiz moderno e arrojado. Pela alta versatilidade, os tratores
o segundo grau no Colégio Agrícola, depois voltei para a da linha poderão ser utilizados nas mais variadas aplica-
propriedade. Gostaria que meu filho fizesse a mesma coi- ções - por pecuaristas, produtores de grãos, na cafeicul-
sa, que ele buscasse algum estudo e voltasse para aplicar tura e cultura de cana, bem como por hortifrutigranjei-
aqui. Antigamente quando a pessoa não queria estudar, ros -, e diferentes tamanhos de propriedades. Os tratores
ficava na agricultura. Hoje você tem que estudar se não, Farmall são especialmente feitos para cultivos, pastos e
não consegue tocar,” afirma. tarefas especiais. Os três modelos, Farmall 60 (60 cv),
Farmall 80 (80 cv) e Farmall 95 (95 cv), são perfeitos
Produção para o agricultor que precisa de uma máquina de alto
A soja foi plantada em 30 hectares, com recorde de desempenho e totalmente confiável que possa atendê-lo
produção, já que a colheita foi de 72 sacos do grão por em uma variedade de aplicações.
hectare. Na propriedade o milho foi plantado em 25 hec- O motor é mais potente, econômico e menos poluen-
tares e é todo utilizado para silagem. te. Essa nova linha de motores diesel de alto desempenho
oferece toda a potência que o produtor precisa em um
Sobre o trator trator para diversas aplicações. Os novos motores não
O produtor brasileiro tem mais uma opção para são somente mais silenciosos e menos poluentes, como
melhorar o desempenho e a produtividade com a linha também consomem menos combustível e têm uma ma-
Farmall de tratores de 60, 80 e 95 cv. Os tratores são re- nutenção de baixo custo. Sem abrir mão da potência e da
conhecidos mundialmente pela robustez, simplicidade durabilidade, os tratores Farmall oferecem um desempe-
de operação e flexibilidade de uso. Seguindo o padrão nho inigualável em qualquer atividade na fazenda. ◆

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Eduardo Aigner Ascom MDA
MDA MDA

*Valores parciais referentes aos seis primeiros meses da safra.


**Valores corrigidos pelo IGP-DI
Bilhões R$ **
intenção de obter o financiamento. O agricultor também As condições de acesso ao crédito do Pronaf, formas
pode solicitar a visita de um técnico de Ater para elabo- de pagamento e taxas de juros correspondentes a cada
rar um Projeto Técnico de Financiamento. Este projeto linha são definidas, anualmente, a cada Plano Safra da
será encaminhado para análise de crédito e aprovação do Agricultura Familiar, divulgado entre os meses de junho
agente financeiro. e julho. Na safra 2014/2015, o programa possibilita o
acesso a financiamentos rurais com taxa de juros entre
Exemplo 0,5% e 3,5% para agricultores familiares e entre 1% e 4%

Mais renda e qualidade de vida: Desde quando a produtora Maria Cleusa de Barros,
56 anos, e os três filhos decidiram investir na produção
para cooperativas.

Pronaf bate recorde safra após safra


de morangos e verduras em Brazlândia, a 50 quilômetros Linhas de financiamento
de Brasília (DF), eles contaram com o crédito do Gover- Os créditos de custeio financiam o produtor indivi-
no Federal para impulsionar a produção. Ao todo, foram dualmente ou cooperativas, por meio de recursos des-
três financiamentos, no valor de R$ 10 mil cada, para o tinados ao custeio das atividades agropecuárias e não

O
Programa Nacional de Fortalecimento da capacidade de produção dos agricultores familiares e o custeio da plantação e, em setembro do ano passado, eles agropecuárias e ao beneficiamento, industrialização ou
Agricultura Familiar (Pronaf) é um marco bom relacionamento que esses trabalhadores mantêm adquiririam um veículo para transportar o fruto aos cen- comercialização da produção, como, por exemplo, des-
dos programas do Estado voltados ao fortale- com os agentes financeiros, segundo afirma o diretor tros de comercialização. pesas das atividades agrícolas e pecuárias; aquisição de
cimento da agricultura familiar brasileira: representan- de Financiamento e Proteção à Produção da Secretaria “O nosso resultado é positivo porque investimos o insumos; realização de tratos culturais e colheita; bene-
do, para muitos, a incorporação efetiva dos agricultores de Agricultura Familiar (SAF/MDA), João Luiz Guadag- recurso integralmente na nossa produção. O Pronaf é ficiamento ou industrialização do produto financiado;
familiares às políticas para o meio rural. nin. “Os agricultores familiares têm credibilidade junto importante e vale muito a pena contar com esse crédito”, produção de mudas e sementes certificadas e fiscaliza-
Ao longo da história, o Pronaf vem se modificando aos bancos. Hoje as pessoas comem mais e melhor, é conta a agricultora. Atualmente, ela e a família fornecem das, entre outras atividades.
para se adequar às necessidades das famílias de agri- um mercado favorável para a agricultura familiar, ainda diariamente a produção para a Central de Abastecimento Já os créditos de investimento são restritos a itens de
cultores, das especificidades regionais e produtivas. O mais quando os produtores são estimulados a produzir”. do Distrito Federal (Ceasa). implantação, ampliação ou modernização da estrutura
resultado, é que nos dois últimos anos agrícolas, o valor O primeiro passo é procurar o sindicato rural ou a das atividades de produção, de armazenagem, de trans-
contratado foi superior ao total anunciado pelo Governo empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema- Requisitos porte ou de serviços agropecuários ou não agropecuá-
Federal. Na safra atual, nos seis primeiros meses, de ju- ter) para obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). A DAP é obrigatória. Para conceder o crédito, o rios, no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias
lho de 2014 a dezembro de 2014, os agricultores familia- Os assentados da reforma agrária devem procurar o Ins- banco vai analisar também alguns requisitos como, por rurais próximas. São exemplos máquinas agrícolas; tra-
res brasileiros aplicaram R$ 15,3 bilhões, 23% acima do tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (In- exemplo, se a família está em dia com as contas, se possui tores; colheitadeiras; animais; implantação de sistemas
que foi contratado no mesmo período da safra anterior cra) e os beneficiários do crédito fundiário podem ser condições para assumir novas dívidas e se a atividade a de armazenagem e de irrigação; projetos de melhoria
em mais de 1,1 milhão de contratos. atendidos pela Unidade Técnica Estadual (UTE). ser desenvolvida vai gerar renda suficiente para honrar genética; adequação e correção de solo; recuperação de
Os números positivos do programa estão ligados Em seguida, o trabalhador deve procurar um agen- com compromissos assumidos nos prazos definidos. pastagens; ações de preservação ambiental.
ao aumento da demanda por alimentos de qualidade, a te financeiro que atua com o Pronaf para apresentar sua

56 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 57
MDA MDA

Há ainda linhas especiais direcionadas, por exemplo, com o diretor de Financiamento e Proteção à Produção da
à agroindústria, agroecologia, sistemas agroflorestais, se- Secretaria de Agricultura Familiar (SAF/MDA), João Luiz
miárido, mulher e jovem. Os agricultores de mais baixa Guadagnin, os tomadores de crédito do Pronaf são exce-
renda podem contar com o microcrédito rural que per- lentes pagadores de seus compromissos; a inadimplência
mite o financiamento das atividades agropecuárias e não média no Pronaf é de cerca de 1%, uma das menores de
agropecuárias geradoras de renda. todas as políticas e programas de crédito do Brasil.
Para obter mais informações basta consultar as de- “Os aperfeiçoamentos em suas linhas de crédito e
legacias estaduais do Ministério do Desenvolvimento seguro de clima e de renda são frutos do amplo e per-
Agrário (MDA) e a Secretaria da Agricultura Familiar do manente diálogo que o MDA mantém com as repre-
MDA (SAF). sentações dos agricultores familiares e dos agentes fi-
nanceiros, rede de assistência técnica e extensão rural,
Pronaf 20 anos lideranças dos três níveis de governo e Ministérios da
O Pronaf completa 20 anos em 2015. A agricultura fa- área econômica e do desenvolvimento, especialmente os
miliar demonstrou nesse período que é técnica e econo- Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão, da
micamente viável, que sabe produzir alimentos a preços Fazenda, da Integração Nacional e do Desenvolvimento
acessíveis e garantir um nível de vida equitativo aos agri- Social e Combate à Fome. O trabalho de parceria é a mar-
cultores com a geração de renda e manutenção de mais de ca do Pronaf. Essa ação perdurará e fortalecerá o Progra-
12 milhões de ocupações produtivas no campo. De acordo ma”, completa Guadagnin. ◆

ALBINO OLIEVEIRA / ASCOM MDA

58 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 59
MDA MDA

Programa garante descontos


passou a amparar as produções de maracujá, manga, ba- Decreto nº 5.996

2006
tata e batata-doce. Instituindo o PGPAF
Na safra 2013/2014, cacau e feijão caupi foram os
produtos incluídos no programa. Além disso, nessa sa-

em financiamentos do Pronaf

2007
fra, foi instituído o PGPAF Mais, que traz a possibilidade 6 Produtos (mais financiados)
de conceder preços garantidores mais elevados, com in-
tuito de estimular a produção de determinadas culturas.

2008
P
+ 5 Produtos (regionalização)
ara trazer mais segurança aos agricultores e O programa tem como objetivo garantir a sustenta- Lista dos produtos com bônus
fortalecer a produção no campo, o Progra- ção de preços da agricultura familiar, estimular a diversi- Confira a lista dos produtos com cobertura do PGPAF

2009
ma de Garantia de Preços para a Agricultura ficação da produção agropecuária e articular as diversas para contratos de custeio e investimento do Pronaf:
Familiar (PGPAF) garante às famílias que acessam o políticas de crédito e de comercialização agrícola. Abacaxi, açaí (fruto), algodão em caroço, alho,
+ 18 Produtos (regionalização)

2010
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura amendoim, arroz longo fino em casca, babaçu (amên-
Familiar (Pronaf), tanto para custeio quanto para in- Produtos com desconto doa), banana, batata, batata-doce, baru (fruto), borra-
+ 5 Produtos (sociobiodiversidade)
vestimento, um desconto no pagamento do financia- Os primeiros produtos abrangidos pelo PGPAF, na cha natural cultivada (heveicultura), borracha natural
+ 8 Produtos (fruticultura, sociobidiversidade

2011
mento (bônus). Assim, os produtores estão ampara- safra 2006/2007, foram o arroz, feijão, mandioca, milho, extrativa, cacau, café, cana-de-açúcar, cará, carne de
dos quando os preços no mercado estiverem abaixo do leite (inicialmente indexado ao preço do milho) e a soja, caprino, carne de ovino, castanha de caju, castanha do e cana-de-açúcar)
valor de garantia do programa, definido com base no que representavam o maior número de operações de cré- Brasil (em casca), cebola, feijão, girassol, inhame, juta,
custo de produção. dito no âmbito do Pronaf. laranja, leite, maçã, malva, mamona em baga, manga,

2012
+ 2 Produtos (fruticultura)
Mensalmente, o Ministério do Desenvolvimen- No ano safra seguinte, 2007/2008, com o objetivo de mangaba (fruto), maracujá, milho, pequi (fruto), pia-
to Agrário (MDA) publica uma portaria com valor do ampliar a segurança aos agricultores familiares, foram çava (fibra), pimenta do reino, carnaúba, pó cerífero de
bônus por produto e estado, de acordo com as variações selecionados novos produtos. Com base no montante carnaúba e cera de carnaúba, raiz de mandioca, sisal,

2013
do mês anterior. Com isso, agricultores familiares que financiado e considerando a valorização de produtos de soja, sorgo, tangerina, tomate, trigo, triticale, umbu + 4 Produtos (regionalização)
têm parcelas de operações de investimento do Pronaf importância regional, foram selecionados também o to- (fruto) e uva.
têm desconto correspondente à média do valor dos pro- mate, o inhame, o cará, o café arábica e o café conillon e A linha temporal ao lado apresenta o número de pro-
Decreto nº 8.026 Instituindo o PGPAF MAIS

2014
dutos definidos pela portaria. Atualmente, a lista de pro- a castanha de caju. dutos inseridos em cada ano agrícola. ◆ + 2 Produtos (regionalização)
dutos que possuem cobertura do programa tem 50 itens, Para valorizar a diversidade regional foram inclu-
além da cesta de produtos, composta por leite, raiz de ídos mais 18 produtos. A caprinovinocultura foi in-
mandioca, milho e feijão. cluída na safra 2008/2009, que atende especialmente a
O bônus do PGPAF é calculado pela Companhia Na- região Nordeste.

Rômulo Serpa / Ascom MDA


cional de Abastecimento (Conab) e divulgado pela Se- No ano agrícola de 2009/2010, para valorizar as ações
cretaria da Agricultura Familiar (SAF/MDA). A Conab de conservação do meio ambiente e fomentar formas al-
faz um levantamento nas principais praças de comer- ternativas de produção e manutenção da biodiversidade,
cialização dos produtos da agricultura familiar e que foram inseridos os produtos amparados pelo Programa
integram o PGPAF. Para as operações de investimento, de Garantia do Preço Mínimo (PGPM), com foco no
cujo principal produto gerador de renda não atenda pelo cultivo extrativo. Foram contemplados o açaí, babaçu
menos 35% da renda obtida com o empreendimento fi- (amêndoa), borracha natural extrativa, pequi (fruto) e
nanciado, será concedido o bônus referente à cesta de piaçava (fibra).
produtos, composto pela média aritmética dos bônus do Em 2010/2011 foram inseridas as culturas do aba-
leite, milho, feijão e raiz de mandioca. caxi, banana, maçã e uva, mais três produtos da socio-
O agricultor familiar que possui financiamento do biodiversidade (barú, mangaba e umbu) e a cana-de-
Pronaf participa automaticamente, do programa, sem -açúcar, para a Região Nordeste, contribuindo para a
custo de adesão. É necessário apenas manter as parce- diversificação produtiva da agricultura familiar.
las do financiamento em dia, já que o bônus só pode ser O programa foi ampliado em 2011/2012, com a in-
concedido para os produtores adimplentes. clusão da laranja e da tangerina. Em 2012/2013 o PGPAF

60 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 61
MDA MDA

Massey Ferguson oferece equipamentos


mais modernos por meio do Mais Alimentos
Tratores, colheitadeiras e implementos integram o portfólio da marca para o Programa

H
á aproximadamente dois anos, o agricultor 5650 e os implementos como plantadeiras de arrasto MF
Adelar Riva, de Teotônia (RS), comprou um 200, MF 400 e MF 500, plantadora para culturas de inverno
trator Massey Ferguson modelo MF 4275 pelo MF 600 e plataforma de colheita da cultura de milho MF
programa Mais Alimentos junto à concessionária Samaq. O 3000. “Agora temos um portfólio completo que permite ao
equipamento, escolhido por ser um velho conhecido graças agricultor mecanizar sua atividade com equipamentos mo-
à utilização por amigos e também por prestadores de servi- dernos, melhor aproveitando assim as janelas agronômicas”,
ço da região, ajudou o agricultor a aumentar a produtivida- destaca Oliveira. Para 2015, Leonel Oliveira aposta na alta
de, diminuir custos com aluguel de máquinas e a triplicar o tecnologia, na inovação e no pioneirismo da marca para
serviço do dia a dia. continuar sendo a primeira opção na hora da compra dos
Segundo Adelar, o trator faz praticamente tudo dentro produtores rurais brasileiros.
da propriedade rural. “Utilizo para silagem, carregamento
de adubo orgânico e tudo que envolve a pecuária. Sem as Sobre a Massey Ferguson
facilidades oferecidas pelo governo, acredito que seria im- A marca Massey Ferguson é líder no mercado brasilei-
possível adquirir o equipamento”, afirma o produtor. ro de tratores há mais de 50 anos ininterruptos. É fabricada
A Massey Ferguson participa do programa desde o seu pela AGCO, maior fabricante de tratores da América Latina
lançamento, em 2008. Para Leonel Oliveira, gerente regional e a maior exportadora do produto do Brasil. Os tratores, co-
de vendas da marca, a aquisição de novos tratores pelos agri- lheitadeiras e implementos Massey Ferguson são exporta-
cultores familiares, que antes investiam em máquinas usadas dos para mais de 80 países, com atuação destacada nos Es-
ou até mesmo no aluguel das mesmas, significará em 2015 tados Unidos, Argentina, Venezuela, Chile e África do Sul.
um aumento nas vendas de implementos e colheitadeiras As fábricas, no Brasil, ficam no Rio Grande do Sul: Canoas
também. “Ao adquirir máquinas mais eficientes e econômi- (tratores), Santa Rosa (colheitadeiras) e Ibirubá (implemen-
cas o pequeno e médio agricultor aumenta produtividade, tos). Mais: www.massey.com.br
reduz custos e, com isso, consegue investir em outros pro-
dutos, além de melhorar a sua qualidade de vida.”, ressalta. Sobre a AGCO
Além dos tratores MF 4265 e MF 4275, sinônimos de AGCO (NYSE: AGCO) é uma das líderes mundiais em
rentabilidade operacional, inovação, robustez, baixo custo, concepção, fabricação e distribuição de equipamentos agrí-
alto desempenho e fácil operação, a Massey Ferguson colo- colas. Para apoiar a maior produtividade no campo a AGCO
ca a disposição dos pequenos e médios produtores, clientes oferece uma linha completa de produtos que inclui tratores,
do Programa Mais Alimentos, as colheitadeiras MF 32 e MF colheitadeiras, equipamentos para fenação e forragem, pul-
verizadores, equipamentos para preparo de solo, implemen-
tos, peças de reposição e sistemas de armazenagem de grãos
e produção de proteína. Os produtos AGCO são vendidos
por meio das cinco marcas Challenger®, Fendt®, GSI®, Massey
Ferguson® e Valtra® e distribuídos globalmente por uma rede
de 3.070 concessionárias e distribuidores independentes, em
mais 140 países. A AGCO tem sua sede em Duluth, Georgia,
USA. Em 2014, a AGCO teve vendas líquidas de US$9,7 bi-
lhões. Para mais informações, visite www.AGCOcorp.com.◆

62 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 63
Ascom MDA
MDA MDA

perdas de safra, quando o produtor não consegue gerar Fundo Garantia-Safra de acordo com o número de agri-
renda com a comercialização do produto cultivado. cultores participantes.
Em quatro anos, 3,7 milhões de agricultores fami- Os procedimentos para verificação de perda da safra
liares receberam o benefício Garantia-Safra. Na safra ocorrem de acordo com que preceitua a Lei que criou o
2014/2015, cerca de 1,3 milhão de famílias devem ser Garantia-Safra e a Portaria nº 42/2012, da Secretaria de
beneficiadas pela ação. Agricultura Familiar do Ministério de Desenvolvimento
“O Garantia-Safra pretende, ainda, estimular formas Agrário (SAF/MDA). Esta portaria estabelece que, a par-
de convivência com o Semiárido, a fim de diminuir a tir da safra 2012/2013, os municípios aderidos ao Fundo
vulnerabilidade das famílias de agricultores nos perío- Garantia-Safra que apresentarem indícios de perda de
dos de seca. Essa perspectiva objetiva a redução quanto à safra em razão dos fenômenos da estiagem ou excesso
necessidade de compensações por perdas de produção”, hídrico, que sejam igual ou superior a 50% das lavouras
destaca a coordenadora do Garantia-Safra da Secretaria cobertas, devem solicitar a vistoria das lavouras e proce-
da Agricultura Familiar do MDA, Dione Freitas. der a indicação do técnico para realizar a vistoria.
A solicitação de vistoria deve ser apresentada, for-
Como acessar malmente, à SAF/MDA, via sistema informatizado de-
O agricultor deve verificar se sua cidade participa da nominado Sistema Garantia-Safra - Verificação de Per-
ação. Podem participar agricultores familiares, com ren- da. O técnico vistoriador deve ter formação superior em
da familiar mensal de, até, um salário mínimo e meio, e agronomia ou ser técnico de nível médio com formação
que possuem área total a ser plantada de, no mínimo, 0,6 em curso técnico agrícola ou técnico em agropecuária,
hectares e, no máximo, cinco hectares. com registro no conselho Regional de Engenharia, Ar-

Garantia-Safra:
A inscrição no programa deve ser realizada no es- quitetura e Agronomia (CREA) e ser do quadro próprio
critório local de assistência técnica ou no Sindicato dos da administração municipal.
Trabalhadores Rurais do município. A Declaração de Ap- Os indicadores utilizados no cálculo de perda são:
tidão ao Pronaf (DAP) permite o acesso ao Garantia-Sa- dados históricos da Pesquisa da Produção Agrícola Mu-

benefício que estimula a convivência fra e serve como mecanismo de controle dos Conselhos
Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDRS).
Os agricultores inscritos e homologados pelos con-
nicipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); informações dos laudos amostrais; penalização
hídrica com informações edafoclimáticas calculadas pelo

com o semiárido
selhos municipais devem procurar a prefeitura para re- Instituto Nacional de Meteorologia (INMET); Pesquisa
ceber um boleto e fazer a adesão ao Garantia-Safra. O do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola feita
pagamento do boleto deve ser feito em uma agência da pelo Grupo de Coordenação de Estatística Agropecuária
Caixa Econômica Federal ou correspondente bancário, e Prognóstico da Produção Agrícola. ◆

D
evido à estiagem ou excesso de chuvas, agri- dário de benefícios sociais da Caixa Econômica Federal. dentro do prazo definido para seu município. A adesão
cultores familiares acabam sofrendo com a A cada mês, uma nova portaria é publicada incluindo deve ser antes do plantio.
perda de safras. Para amenizar o prejuízo, novos beneficiários. O valor é de R$ 850,00, por agricul- Caso seja confirmada perda de safra de, pelo menos,

Ascom MDA
milhares de famílias que vivem no Nordeste e Semiá- tor, dividido em cinco parcelas de R$ 170,00. 50% da produção agrícola (feijão, milho, arroz, mandioca
rido brasileiro, contam com o apoio do Garantia-Safra, O Benefício Garantia-Safra é pago pelo Governo Fede- e algodão) e os estados e municípios tenham realizado os
uma ação do Programa Nacional de Fortalecimento da ral com recursos do Fundo Garantia-Safra, composto por aportes ao Fundo Garantia-Safra, os agricultores receberão
Agricultura (Pronaf), do Ministério do Desenvolvimento contribuições do agricultor, do município, do estado e da o pagamento do benefício por meio de cartões com Núme-
Agrário (MDA). União. Na safra 2013/2014, a contribuição do agricultor ro de Identificação Social (NIS) nas agências e correspon-
Mais de 1,7 milhão de produtores aderiram ao progra- foi de 1,5% do valor do benefício (R$ 12,75), o município dentes bancários da Caixa Econômica Federal (CEF).
ma na safra 2013/2014. Em função da irregularidade climá- contribuiu com 4,5% (R$ 38,25 por agricultor); o estado
tica, mais de 730 mil agricultores familiares de 693 municí- com 9% do valor ao Fundo (R$ 76,50) e a União com 30% Responsabilidade
pios receberam o benefício de agosto a dezembro de 2014. (R$ 255,00 por agricultor que aderir ao Garantia-Safra). Ao assinar o Termo de Adesão, os estados e municí-
Atualmente, os pagamentos do Garantia-Safra são O programa, criado em 2003, garante, a partir do pa- pios se comprometem a coordenar a implementação do
relativos à safra 2013/2014 e começaram a ser pagos em gamento do Benefício Garantia-Safra, condições de so- Garantia-Safra, promover a divulgação e a operacionali-
agosto de 2014, nas mesmas datas definidas pelo calen- brevivência para os agricultores durante os períodos de zação das fases e destinar parcela de seu orçamento ao

64 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 65
MDA MDA

Linhas de produtos Grazmec


A
Grazmec, indústria de máquinas agrícolas, priedades de grande porte e UBS (unidades de beneficia-

Política de garantia de apresenta neste ano de 2015 três segmentos


em sua linha de produtos. A “Grazmec on
farm” contempla as já tradicionais máquinas para trata-
mento de sementes)
A terceira linha é apresentada como “Grazmec Agrí-
cola”, que conta com uma ampla linha de produtos que

preço beneficia mais de


mento de sementes, realizado na lavoura, dos quais a in- auxiliam o homem no campo, essa linha possui carre-
dústria tornou-se conhecida, como por exemplo, a Nova tos para transporte de plataforma, no qual transportam
GE que possui capacidade de tratamento de até 2.250 kg plataformas de 20 a 45 pés, classificadores rotativos de
de soja por hora, através do sistema de copinho sendo a sementes, guinchos traseiros, niveladora hidráulica, em-

7 mil famílias extrativistas


mais econômica de sua categoria. Na mesma linha pos- butidora de grãos, roçadeira química e outros.
suímos a MTS 120 Spray System, máquina que realiza Para maiores informações sobre nossos produtos,
o tratamento através do já conceituado sistema spray, pontos de venda, representantes comerciais e eventos,
dando uma maior homogeneização à semente tratada, acessem o nosso site: www.grazmec.com.br. ◆

em 2014 e a TS5 Spray System, carreta graneleira que realiza o


tratamento no momento do plantio com capacidade de
tratamento de até 140 sacos por hora de soja.
Na linha “Grazmec industrial”, apresentamos a

O
Brasil tem uma das maiores biodiversidades Somente em 2014, mais de sete mil famílias extrativistas GV240 e a GV500i, ambos equipamentos realizam o tra-
do mundo. A manutenção dessa riqueza natu- foram beneficiadas pelo PGPM-Bio. A intervenção da Co- tamento de sementes em larga escala, ideais para pro-
ral está associada ao trabalho das populações nab auxilia na preservação do meio ambiente oferecendo
extrativistas, agroextrativistas e silvicultoras e outras co- garantia de renda à coleta e comercialização de produtos
munidades que, com seus conhecimentos tradicionais, florestais não madeireiros (extrativistas). Neste mesmo ano,
contribuem para a preservação dessa diversidade. a maior parte dos recursos destinados à política de garantia
A Política de Garantia de Preços Mínimos para Pro- de preços, quase 100%, foi aplicada em atividades extrativis-
dutos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) foi criada, tas situadas no bioma Amazônico e no Maranhão.
em 2008, para apoiar as atividades extrativistas. De São responsáveis pelo programa o Ministério do
2009 a 2014 foram mais de 56 mil acessos à política, Desenvolvimento Agrário (MDA), do Meio Ambiente
com execução de cerca de R$ 19 milhões em operações (MMA), e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
direcionadas aos produtos: amêndoa de babaçu, borra- (MDS) e representantes da sociedade civil.
cha natural extrativa, castanha do Brasil, piaçava, pequi
e macaúba nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Tecnologia
Bahia, Ceará, Maranhã, Mato Grosso, Minas Gerais, Para ampliar cada vez mais o acesso dos produtores
Pará, Piauí e Rondônia. extrativistas à política, foi desenvolvido um novo sistema
Atualmente, a PGPM-Bio, contempla quinze produ- operacional, o SISBIO. A partir dele, todos os procedimen-
tos, são eles: açaí, andiroba, babaçu, baru, borracha e tos internos da PGPM-Bio estão sendo informatizados,
cacau extrativos, carnaúba, castanha do Brasil, juçara, gerando maior agilidade e segurança a todo o processo.
macaúba, mangaba, pequi, piaçava, pinhão e umbu. Outra iniciativa foi a realização de sete painéis de di-
Dentre esses produtos, a borracha apresenta o melhor vulgação e capacitação da PGPM-Bio, em parceria com
desempenho, com apoio financeiro a 6,5% da produção o MDA. As oficinas foram realizadas no Pará, Amazo-
extrativista localizada na região amazônica. nas, Santa Catarina, Paraíba, Maranhão, Bahia e Ceará. E
A Conab é responsável por elaborar a proposta de mais dois novos produtos foram incluídos na PGPM-Bio
preços mínimos e a execução das ações de sustentação em 2014. Agora, os extrativistas de macaúba e pinhão
de preços para os produtos. também podem se beneficiar com a política. ◆

66 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 67
MDA
NÃO É SÓMDAA COR
QUE FAZ A DIFERENÇA
John Deere oferece soluções NUM TRATOR.

para a agricultura familiar


A
John Deere acredita no pequeno produtor e A empresa possui uma linha de máquinas que pode
em uma agricultura mecanizada e moderna, ser financiada pelo programa Mais Alimentos: os tra-
para que assim, o Brasil possa contribuir cada tores 5055E, 5065E, 5075E e 5078E (também na versão
vez mais com a produção agrícola mundial, ajudando a cabinado), que contam com motores de 55 cv até 78 cv, e
suprir a demanda global por alimentos, que, devido ao a colheitadeira 1175, equipada com plataforma de corte
crescimento populacional, deve aumentar 70% até 2050, de 16 pés, flexível e com controle automático de altura e
segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a inclinação lateral, além de motor turbo com 6 cilindros e
Alimentação e a Agricultura). potência de 180 cv.
Dessa maneira, para a John Deere, o programa O programa proporciona uma linha de crédito acessí-
Mais Alimentos é de vital importância, pois con- vel, com limite de R$ 130 mil, que pode ser paga em até dez
tribui com o crescimento dos agricultores e vai ao anos, com até três anos de carência e juro de 2% ao ano. Os
encontro do compromisso da empresa com a agri- tratores da linha de agricultura familiar são vendidos com
cultura familiar. desconto médio de 15%, podendo chegar a 17,5%. ◆

Divulgação John Deere


• Menos trocas de óleo
• Custo de manutenção até 55% menor
• Alta reserva de torque. Economia de até 11% de combustível
• Apoio da maior e melhor rede de concessionários do país
Testes de campo realizados com o modelo 5075E. Estimativa baseada em preços de tabela de
dezembro/2014, nas primeiras duas mil horas, comparando-se os intervalos de manutenção dos
Tratores John Deere versus a concorrência. Economia de combustível em hectares por hora.

Tratores John Deere. Da pequena à grande


lavoura, a safra inteira com você.
68 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 69
0800 891 4031
MDA MDA

10 anos do seguro da
uma verdadeira catástrofe agroclimática – uma seca se
agravou, sendo a maior dos últimos 60 anos. Mais de 240
mil agricultores receberam cobertura do seguro naquele
ano. Grande parte desses agricultores já havia sofrido

agricultura familiar
perdas em anos anteriores à criação do SEAF, tinham
dívidas prorrogadas pendentes nos bancos e teriam di-
ficuldades de obter novas prorrogações. Sem o seguro,
não teriam recursos para plantar na safra seguinte e mui-
tos deles estariam na contingência de ter que abandonar
José Carlos Zukowski 1 suas atividades rurais e vender a propriedade para pagar
Fonte: Bacen. Posição em 11/02/2015. as dívidas.

E
m maio de 2005, começaram a ser realizados Um dos desafios era atender a diversidade de cultu- O seguro proveu instrumentos para administrar a si-
os primeiros pagamentos de indenização do ras existente na agricultura familiar. Somente podem O gráfico abaixo apresenta os pagamentos de inde- tuação, evitando uma grave crise social. Ajudou a evitar
Seguro da Agricultura Familiar. Era o primei- ser seguradas culturas contempladas no Zoneamento nização do SEAF. Nesses dez anos de operação, foram o êxodo rural, viabilizou recursos para o agricultor con-
ro ano de operação do Seguro e, naquele ano agrícola, a Agrícola de Risco Climático (ZARC), o qual abrangia atendidos mais de 700 mil pedidos de cobertura, com tinuar plantando, se recompor e voltar a ter perspectivas
região Sul do País foi atingida por uma forte estiagem, apenas sete culturas em 2003. Além disso, o ZARC es- um valor total superior a R$ 3,5 bilhões. de investimento na produção rural.
gerando grandes perdas nas lavouras. tava mais voltado para a região Centro-Sul, enquanto o Esse tipo de situação ocorre todos os anos em menor
O SEAF foi criado pelo Governo Federal atendendo SEAF tem a missão de operar em todo o País. Assim, escala. Não se espera que catástrofes de grande abran-
uma antiga reivindicação da agricultura familiar por começou a ser desenvolvido um extenso trabalho en- gência territorial ocorram com frequência. Mas em
um seguro com garantia de renda. Inicialmente, o valor volvendo MDA, MAPA e Embrapa para incluir novas anos normais, mesmo com recordes de safra no País, é
segurado ficou definido como financiamento mais uma culturas e regiões, o que possibilitou ultrapassar a mar- comum ocorrer eventos agroclimáticos localizados que
parcela de renda líquida limitada a R$ 1,8 mil. Esse limi- ca de 40 culturas no zoneamento. configuram verdadeiras catástrofes em uma microrre-
te de renda líquida foi sendo gradualmente elevado até Também foram incluídas no SEAF condições es- gião. O espaço geográfico é menor, mas para os agricul-
atingir R$ 7 mil, conforme mostra o gráfico abaixo. pecíficas para atender características da agricultura tores atingidos a tragédia é a mesma. Nessas situações,
familiar, com destaque para questões relacionadas à a maior contribuição do seguro é renovar os horizontes
agroecologia, que tradicionalmente sofrem vedação no do agricultor, viabilizando sua continuidade na atividade
Proagro Tradicional e nos seguros privados. Em um rural para produção de alimentos e geração de renda. ◆
Fonte: Bacen. Posição em 11/02/2015.
primeiro momento, foi admitido no SEAF o enqua- * Dados parciais. Processamento de sinistros em curso.
dramento de lavouras consorciadas. Posteriormente
também foi autorizado o uso de insumos de produção

ALBINO OLIVEIRA / ASCOM MDA


própria e de cultivares crioulas. Neste último caso, a Analisando os números do SEAF, verifica-se que o
medida somente foi consolidada após a criação do Ca- seguro tem apresentado bons indicadores técnico-finan-
dastro Nacional de Cultivares Locais, Tradicionais ou ceiros. Ainda há processos de sinistro da safra 2013-2014
Crioulas na Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), em análise, mas as projeções indicam que a relação en-
Fonte: MDA por meio da Portaria MDA 51/ 2007. tre pagamentos de cobertura e valor segurado, na média
O SEAF já nasceu como um grande programa de se- desses dez anos, deve situar-se próximo de 7,8%. Como
Em 2010 foi criada uma cobertura adicional, de até guro, atingindo mais de R$ 2,5 bilhões de valor segurado os custos operacionais do Proagro são muito baixos, isso
R$ 5 mil, para amortização de prestações de financia- no mesmo ano agrícola em que foi criado. Os quadros projeta um prêmio médio de seguro da ordem de 8%, o
mento de investimentos do Pronaf previstas para serem apresentam, em grandes números, a evolução do SEAF que é compatível com a realidade do mercado de seguro
pagas com a renda da lavoura segurada. A medida foi em seus dez primeiros anos de operação. Pode-se ver agrícola. O Governo Federal está subvencionando cerca
mais um estímulo ao investimento em tecnologia para que o valor segurado cresceu rapidamente atingindo R$ de 75% do valor do prêmio, o que é algo razoável consi-
transformação das condições de produção no campo. 7,9 bilhões na safra 2013-2014. derando tratar-se de pequenos agricultores.
1
Coordenador-geral de Gestão de Riscos e Seguro Rural no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Membro do Comitê Gestor Interministerial Altos valores de indenização como os da safra 2004-
do Seguro Rural, da Câmara Temática do Seguro Rural no Ministério da Agricultura e da Comissão Especial de Recursos do Proagro. Economista,
com mestrado pela Unicamp e Especialização em Agronegócios pela FIA/USP. Foi Gerente de Divisão na Diretoria do Banco do Brasil nas áreas 2005 naturalmente chamam a atenção. Logo no primei-
de agronegócios e cooperativismo. ro ano do seguro a região Sul do País foi atingida por
José Carlos Zukowski

70 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 71
SAC CAIXA – 0800 726 0101
(informações, reclamações, sugestões e elogios)
Para pessoas com deficiência auditiva
ou de fala – 0800 726 2492

RÉDI O URAL CAIXA.


Ouvidoria – 0800 725 7474
caixa.gov.br | facebook.com/caixa

AO LADO DO PRODUTOR RURAL,


DO PLANTIO À COMERCIALIZAÇÃO.

Os produtores rurais contam com a força da CAIXA ao seu lado em todas as fases de produção.
Com o Crédito Rural, eles podem comprar insumos, equipamentos e aumentar a produtividade do seu
agronegócio. As linhas de crédito que a CAIXA oferece – Custeio, Investimento e Comercialização – têm as
melhores soluções para produtores rurais e também para cooperativas.
72 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 73
Acesse www.creditoruralcaixa.com.br e encontre
as agências da CAIXA que disponibilizam o Crédito Rural.
ASCOM MDA

EDUARDO AIGNER / ASCOM MDA


MDA MDA

so aos serviços. Foi com o auxílio dos técnicos que ela


transformou a pequena horta da família em fonte de ren-
da e qualidade de vida para a família. “Sem a ajuda dos
extensionistas, eu não saberia nem por onde começar.
Além de avaliar o solo e nos orientar sobre o modo cor-
reto de cultivar os produtos, eles nos ajudam a pensar na
melhor forma de comercializar: se em mercados, feiras
ou por meio do PNAE (Programa Nacional de Alimenta-
ção Escolar), por exemplo”.
Diálogo com os movimentos
Anualmente, o Departamento de Assistência Téc-
nica e Extensão Rural (Dater/MDA) faz a programação
e lançamento de chamadas públicas, previstas na Lei
12.188/2010, mediante a demanda apresentada e dis-
cutida com o Comitê de Ater do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Rural Sustentável e levantamento de
informações e programações em relação a políticas pú-
blicas para os agricultores familiares. tos”, ressalta o coordenador de Fomento à Ater da Secre-
As chamadas públicas são elaboradas e discutidas taria da Agricultura Familiar do MDA, Everton Ferreira.
com a sociedade civil na forma de Grupos de Trabalho Para atender melhor às demandas de públicos especí-
Operacionais (GTO) onde são definidas as diretrizes, ficos, o serviço foi diversificado e ampliado. Foram cria-
premissas e definições gerais de cada chamada. das assistências técnicas direcionadas para: Inovação,
Somente entidades já previamente credenciadas no Gestão, Quilombola, Indígena, Plano Brasil Sem Miséria,

Assistência técnica beneficia


MDA podem enviar propostas nas chamadas públicas, Sustentabilidade, Agroecologia, Aquicultura e Pesca Ar-
cada qual em sua unidade da federação. A proposta me- tesanal, Diversificação da Cultura do Tabaco, Juventude
lhor pontuada em cada lote será considerada a vencedo- Rural, Territórios da Cidadania, dentre outros.

700 mil agricultores familiares e


ra e será encaminhada para contratação. Desde 2013, 50% dos serviços de Ater devem ser des-
tinados às mulheres rurais.
Assistência ampliada e diversificada

assentados da reforma agrária


“A Ater é uma das políticas públicas de maior desta- Agência Nacional de Assistência Técnica e
que para a agricultura familiar. Desde 2003, o MDA for- Extensão Rural (Anater)
talece esse serviço de forma a torná-lo cada vez mais de- A Agência Nacional de Assistência Técnica e Exten-
mocrático e gratuito, oferecendo novas ferramentas para são Rural (Anater) visa levar mais produtividade, renda

A
cada ano, milhares de famílias de agriculto- A iniciativa garante assistência de profissionais ex- potencializar, sustentavelmente, o desenvolvimento fora e desenvolvimento sustentável para o campo. Integrada
res familiares e assentados da reforma agrá- tensionistas, que vão até às propriedades rurais para tro- da área urbana. O resultado retorna em mais geração de à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra-
ria melhoram a produção com os serviços de car experiências com os agricultores sobre planejamento renda e segurança alimentar, além de melhores condições pa), a agência atua na promoção e coordenação de pro-
Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). A troca de e modernização dos processos de produção, do plantio de vida para quem produz e para quem consome alimen- gramas de Assistência Técnica em parceria com órgãos
conhecimento e tecnologia resulta em aumento de renda à colheita. “Nossa função é ajudar os trabalhadores ru- de pesquisa. O objetivo é incorporar novas tecnologias
e melhoria da qualidade das famílias contempladas. rais a produzir de forma segura e moderna. Durante o Recursos às propriedades rurais.
Em 2014, os recursos para Ater chegaram a 1,1 bi- processo, existe uma troca de experiência e conhecimen- Em 2014, o Governo Federal começou a operaciona-
lhão e beneficiaram mais de 279 mil famílias de agricul- to entre o agricultor e o profissional. Assim, não existe O MDA tem investido recursos específicos para lizar a lei que autoriza a criação da agência. Foram defi-
tores familiares e 412 mil assentados da reforma agrária. dependência”, explica o engenheiro agrônomo e exten- a prestação de serviços de Ater para agricultores nidos os órgãos de direção da Agência, a formação de seu
A assistência técnica também atingiu a marca de maior sionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão familiares do Brasil. Estes recursos têm crescido Conselho Assessor Nacional, as atribuições, presidência
cobertura na história da reforma agrária, destacando-se Rural (Emater), André Müller. significativamente. Saltaram de cerca de R$ 56 e membros do Conselho de Administração e do Conse-
que 79% dos assentamentos criados entre 2011 e 2014 A produtora Inês Ferrari, 45 anos, atribui os êxitos milhões em 2003 para R$ 1,1 bilhão em 2014. lho Fiscal, bem como a forma de funcionamento do con-
têm Ater garantida. alcançados em onze anos de agricultura familiar ao aces- trato de gestão entre a Agência e o Governo Federal. ◆

74 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 75
MDA MDA

Agritech Lavrale
completa 45 anos
O
s últimos meses estão sendo de muita come- possui pontos de vendas e de serviços em todo o Brasil e
moração e alegria para a Agritech Lavrale. em diversos países da América Latina e África.
A fábrica de implementos, que foi fundada Suas equipes, sempre atentas ao mercado e as suas
em Caxias do Sul, no ano de 1969, por Francisco Stedile, transformações, estão preparadas para atender as necessi-
completou no dia 18 de setembro, 45 anos de tradição e dades comerciais e técnicas das regiões ondem atuam, pla-
sucesso. Uma importante e vasta trajetória que foi cons- nejando a melhor estratégia para atender todas as deman-
truída com muito trabalho e dedicação na fabricação de das e garantindo aos clientes soluções seguras e eficazes.
implementos agrícolas, cabinas para tratores, autopeças Entre as linhas de implementos agrícolas fornecidos
e componentes, além da linha militar. pela Lavrale, encontram-se Enxadas Rotativas, Plainas
Com diversos certificados de qualidade e prêmios Agrícolas, Pulverizadores, Roçadeiras, Segadeiras, Tritu-
conquistados no decorrer do tempo, a Agritech Lavrale radores, entre outras. ◆

76 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 77
MDA MDA

Agritech possui a maior linha de tratores


voltados para a Agricultura Familiar
A Agritech é pioneira, no Brasil, no desenvolvimento de linhas de tratores e
microtratores agrícolas voltadas especialmente para a agricultura familiar

A
Agritech, empresa fabricante dos tratores e Um exemplo desta incessante busca é o modelo 1185
microtratores Yanmar Agritech, é pioneira S, trator de 85 cv, que chegou com objetivo de, mais
na indústria brasileira ao fabricar linhas de uma vez, alçar a empresa para novos mercados, e que
tratores, microtratores e implementos agrícolas volta- traz como grandes diferenciais o câmbio sincronizado,
das especialmente para a agricultura familiar. A empresa o sistema de direção hidrostática e com grande precisão,

Gênia
sempre buscou levar tecnologia para o pequeno produtor, o eixo dianteiro mais robusto e com maior eficiência de
responsável por grande parte da produção nacional, setor tração, o sistema de refrigeração de água e óleo integra-
que emprega mais de 70% da mão de obra agrícola do do e o levantador hidráulico com Sistema Autolift e o
Brasil e é responsável por 60% de todo o alimento que motor Turbo de 85 cv, que proporciona mais torque e
chega à mesa dos brasileiros. operações silenciosas e econômicas.
A empresa possui a maior linha de produtos voltados
ao pequeno produtor graças as máquinas com versões Sobre a Agritech
personalizadas para cada cultura. A Agritech desenvolveu A Agritech Lavrale – Divisão Agritech faz parte do
linhas específicas de tratores para culturas como a do café, Grupo Stedile e surgiu com a cisão da Yanmar do Brasil.
uva e frutas, por exemplo, o que permitiu levar ao produtor O Grupo Stedile, de Caxias do Sul (RS) é um dos mais
uma máquina que suprisse exatamente sua necessidade. respeitados conglomerados industriais do Brasil e englo-
A empresa acredita que a evolução dos tratores pro- ba as empresas Agrale S.A., Germani Alimentos, Fazen-
duzidos é uma consequência direta da evolução do mer- da Três Rios e a Fundituba Indústria Metalúrgica. ◆
cado. A maior prova disso são os prêmios conquistados
ao longo do tempo pela empresa. A maior premiação da
América do Sul para o setor de máquinas e equipamen-
tos agrícolas, o Prêmio Gerdau Melhores da Terra, reco-
nheceu as qualidades dos produtos desenvolvidos pela
Agritech cinco vezes, por exemplo.
Outra conquista foi, no final de 2014, o 100.000º tra-
tor produzido pela fábrica da Agritech, em Indaiatuba
(SP). Em 1973 foi produzido o primeiro microtrator, ain-
da pela Yanmar do Brasil, e 41 anos depois, a Agritech,
que assumiu as operações agrícolas da empresa vinda do
Japão, chega a histórica marca com a fabricação do
modelo 1185 S.
Para 2015 a companhia pretende con-
tinuar investindo na agricultura familiar,
produzindo máquinas exclusivas para as
mais diversas culturas e levando tecno-
logia e desenvolvimento para o homem
do campo.

78 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 79
MDA MDA

Agrale faz a primeira


o nome de Ano Internacional da Agricultura Familiar, O diretor de vendas da Agrale, Flavio Crosa, salienta
Indígena e Camponesa (Aiaf). O MDA foi o responsável que a participação da empresa no Mais Alimentos In-
por coordenar o comitê brasileiro da Aiaf e foi uma das ternacional contribuiu nas exportações em 2014. “Ti-
primeiras instituições a se associar à campanha interna- vemos a primeira venda do programa de tratores para

entrega para Zimbábue


cional. Atuou, ainda, para ampliar os espaços da agricul- Zimbábue, na África. Foram 320 unidades e outros
tura familiar nos fóruns internacionais e nos projetos de para Cuba, na questão de tratores e motobombas. Essas
integração regional, como na Comunidade de Estados vendas foram significativas na parcela de exportações
Latinoamericanos e Caribenhos. da Agrale”, diz.
E para encerrar do Ano Internacional da Agricultu- O ano de 2014 fechou com cerca de 55.500 mil má-
ra Familiar, a Reunião Especializada sobre Agricultura quinas vendidas no mercado interno. “Foi um ano bom,

O
Programa Mais Alimentos Internacional tem Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Familiar no Mercosul (Reaf) criou os Selos Nacionais de mas os negócios caíram quase 15% em relação a 2013.
dois objetivos: estabelecer uma linha de cré- Agrário (MDA), o programa tem a participação de mais Identificação da Agricultura Familiar. O ano de 2015 será No ano passado também houve antecipação de compra
dito concessional para o financiamento de de 500 empresas brasileiras que exportam para seis países: de desafios associados aos avanços alcançados. A princi- em função do ano eleitoral”, declara Crosa.
exportações brasileiras de máquinas e equipamentos Zimbábue, Moçambique, Senegal, Gana, Quênia e Cuba. pal pauta será a consolidação do Plano Nacional de De- Para 2015, se espera um período de retração no mer-
destinados à agricultura familiar e fornecer apoio a pro- O ano de 2014 foi instituído pela Organização das senvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PNDRSS), cado de tratores. “Talvez, em alguns segmentos isso não
jetos de desenvolvimento rural para o fortalecimento da Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da com a construção dos planos estaduais e sua incorpora- aconteça e o trator médio tenha um desempenho me-
produção da agricultura familiar por meio da coopera- Agricultura Familiar para destacar a importância da área ção pelas demais áreas do governo. lhor. Mas acreditamos que essa retração chegue entre
ção técnica e do intercâmbio de políticas públicas. na produção de alimentos no mundo. No Brasil ganhou E, dezembro de 2012, o Desenvolvimento Agrário 15% a 20%”, salienta.
publicou a portaria n° 112 que dispõe sobre os crité- Diante deste cenário, o diretor de vendas diz que os
rios e procedimentos relativos à habilitação e seleção de fabricantes nacionais estão atuando de acordo com o
fornecedores brasileiros, de máquinas e implementos mercado. “Além disso, precisamos claras definições sobre
agrícolas, no programa Mais Alimentos Internacional. as linhas de crédito. Também esperamos que o programa
Nela estão descritas todas as etapas para que as em-
presas possam se habilitar. Ela define as regras para a
seleção das indústrias que participarão do programa
Internacional e habilita as empresas com interesse em
vender para o programa.
O conteúdo das portarias foi uma construção conjun-
ta do MDA com entidades representativas das indústrias,
que participaram de discussões, principalmente sobre as
regras para qualificar a melhor indústria. Metodologias,
procedimentos e critérios de habilitação foram discuti-
dos com a Associação Nacional dos Fabricantes de Ve-
ículos Automotores (Anfavea), a Associação Brasileira
da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e o
Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrí-
colas do Rio Grande do Sul (Simers).
Para o funcionamento do programa, a portaria es-
tabelece uma padronização importante, determinando,
por exemplo, que no preço do produto estará incluído o
valor dos serviços de assistência técnica no país; há tam-
bém um valor que implica custo de montagem da má-
quina e capacitação para uso da máquina.
A metodologia para a seleção da empresa avalia duas
questões: os potenciais de exportação da empresa e de
Entrega de tratores pelo programa Mais Alimentos Internacional
assistência técnica. Diretor de Vendas da Agrale, Flavio Crosa

80 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 81
MDA MDA

Mais Alimentos Internacional se mantenha nos mesmos “O Mais Alimentos tem o objetivo de
moldes para continuarmos participando”, pontua.
No que tange as novidades e lançamentos de má-
promover a segurança alimentar e nu-
quinas e implementos agrícolas, o diretor de vendas da tricional, por meio de implementação,
Agrale enfatiza que sempre se referem que a parte ergo-
nômica do trator seja adequada quanto à questão de pro-
ampliação ou modernização da estrutura
dutividade. “Nosso mercado está cada vez mais exigente. das atividades de produção, de arma-
E procuramos fazer isso. A linha 500, lançada em 2013
está resultando numa surpresa, e abrange a ergonomia,
zenagem, de transporte ou de serviços
conforto, o trator de média potência que é a agricultura agropecuários ou não agropecuários,
universal, mas com boa produtividade. O inversor é di-
reto de fábrica, sendo um adicional já, com lanternas de
no estabelecimento rural ou em áreas
LED”, conclui. ◆ comunitárias rurais próximas, de acordo
com projetos técnicos específicos” - Art
1° da portaria 97.

82 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 83
MDA MDA

Agritech exporta tratores


e implementos para a
República do Senegal
Por meio do Programa Mais Alimentos Internacional, a República do
Senegal, país situado na parte ocidental da África, adquiriu 59 tratores, 80
microtratores e 249 implementos agrícolas da Agritech

A
Agritech, pioneira na indústria brasileira ao de exportações brasileiras de máquinas e equipamentos
fabricar linhas voltadas especialmente para destinados à agricultura familiar e fornecer apoio a pro-
a agricultura familiar, realizou sua primeira jetos de desenvolvimento rural para o fortalecimento da
venda por meio do programa Mais Alimentos Interna- produção da agricultura familiar por meio da coopera-
cional. A República do Senegal receberá 59 tratores mo- ção técnica e do intercâmbio de políticas públicas.
delo 1175 (75 cv), 80 microtratores modelo TC 14 (14 cv) Coordenado pelo MDA, o programa tem a participa-
e 249 implementos agrícolas, entre roçadeiras, encateira- ção de mais de 100 empresas brasileiras, que exportam
dores e sulcadeiras, com o objetivo de ajudar no desen- para seis países: Zimbábue, Moçambique, Senegal, Gana,
volvimento agrícola do país, que tem mais de 70% de sua Quênia e Cuba.
população economicamente ativa empregada no setor. O governo brasileiro já aprovou R$ 1,2 bilhão em ex-
“Realizar uma operação como esta é muito impor- portação de tecnologia de máquinas agrícolas, área em
tante para a empresa. Primeiro porque nos permite que o Brasil é referência mundial. A previsão é de que
alavancar as vendas, que passam por um momento de mais de 2,5 mil tratores sejam comercializados pelo pro-
estabilidade no Brasil, e segundo porque nos abre novos grama. Além disso, mais de 60 mil equipamentos e má-
mercados e nos dá novas perspectivas de negócios”, co- quinas agrícolas também serão usados nas lavouras dos
menta o Gerente da Divisão de Vendas da Agritech, Nel- países cooperantes.
son Watanabe.
O primeiro embarque dos produtos para o país africa- Sobre a Agritech
no ocorre nesta quinta-feira, dia 05 de março, quando se- A Agritech Lavrale – Divisão Agritech faz parte do
rão enviados ao país 36 tratores modelo 1175, 30 microtra- Grupo Stédile e surgiu com a cisão da Yanmar do Brasil.
tores modelo TC 14 e 10 roçadeiras. O restante do pedido A Agritech é a empresa fabricante dos tratores e micro-
será embarcado no dia 16 de abril. “Esta é a primeira etapa tratores Yanmar Agritech no Brasil e pioneira na indús-
da negociação que vem sendo realizada com a República tria brasileira ao fabricar linhas de tratores, microtrato-
do Senegal. Se os produtos adquiridos nesta fase forem res e implementos agrícolas voltadas especialmente para
bem aceitos pelos agricultores, novos pedidos serão reali- a agricultura familiar. No final de 2014 a empresa atingiu
zados. Nossa expectativa é muito boa”, finaliza Watanabe. a marca de 100 mil tratores produzidos pela sua fábrica,
O Programa Mais Alimentos Internacional estabelece em Indaiatuba (SP).
uma linha de crédito concessional para o financiamento Para saber mais: www.agritech.ind.br ◆

84 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 85
MDA MDA

GOVERNOS ESTADUAIS GOVERNOS MUNICIPAIS INSTITUIÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS

Ater no Brasil
Recursos de pessoal, custeio e investimento das 1042 municípios com atuação própria em ATER; 636 ONGs credenciadas para atuar em ATER;
instituições estaduais de ATER de cerca de R$ 2,1 1744 atuando em ATER em parcerias com estados 4033 técnicos no sistema cooperativista nas UFs
bilhões; e 752 com outros financiadores; do S, SE e CO e 5.500 no total;
16 mil extensionistas envolvidos; 5 mil técnicos; Atendimento para cerca de 500 mil AFs.
Algum atendimento de cerca de 2 milhões de Algum atendimento a 500 mil AFs;
agricultores em mais de 5 mil municípios.

tiva a atuação das instituições não governamentais e dos de assistência técnica aos agricultores. A tabela abaixo
Everton Augusto Paiva Ferreira, Coordenador-geral de Fomento à Ater da serviços privados de Ater no Brasil. aponta a disponibilidade de pessoal técnico nas oito uni-
Secretaria de Agricultura Familiar no Ministério do Desenvolvimento Infraestrutura, recursos, pessoal e atendimento de dades da federação que dispõem dos maiores quantitati-
Agrário. Economista com pós-graduação em planejamento e gestão
Ater pelas esferas executoras: vos de técnicos, representando73% do total.
e extensionista na EMATER MG entre 1997 e 2011
Recursos orçamentários das organizações estaduais Há que se considerar, também, o Serviço Nacional de
de ATER alocados no ano de 2011, por região geográfica: Aprendizagem Rural (Senar), que tem um papel de des-

O
serviço de Assistência Técnica e Extensão da capacidade do Estado em prestar serviços de Ater A maior parte destes recursos é destinada ao paga- taque para a capacitação de mão de obra no meio rural e
Rural (Ater) é essencial para o processo de para a agricultura familiar. Os objetivos foram amplia- mento de pessoal, uma vez que estimativas apontam que que apresenta importante capacidade de atuar em ativi-
desenvolvimento rural sustentável e o forta- dos, novas diretrizes desenhadas, contando com a par- os órgãos estaduais de Ater dispõem de um quadro per- dades coletivas de qualificação.
lecimento da agricultura brasileira. A institucionalização ticipação da sociedade civil. Os investimentos crescentes manente de mais de 25 mil funcionários, compreenden- Atualmente, no âmbito do Governo Federal, a atri-
efetiva de um serviço de Ater no Brasil ocorreu a partir da possibilitaram dar curso a um processo de reestrutura- do 16 mil extensionistas. Dos valores totais aplicados, buição da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater)
década de 50, com a criação das Associações de Crédito e ção da prestação destes serviços, mediante a construção mais de 70% correspondem a custos de pessoal, algo em pertence ao MDA. Para a sua execução, foi estruturado
Assistência Rural (ACAR), entidades civis, sem fins lucra- de parcerias com os governos estaduais e abertura para a torno de 20% se destinam para gastos de custeio e menos o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural
tivos, que prestavam serviços de extensão rural e elabora- contribuição de organizações da sociedade civil. de 10% são recursos aplicados em investimentos.
ção de projetos técnicos, para obtenção de crédito. A ênfase dada pelo Governo Federal às políticas para Segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Mu-
Durante as décadas de 60 e 70, o Sistema Brasilei- a agricultura familiar ao longo dos últimos 10 anos; o nicípios, 3.030 municípios possuem algum serviço de Ater
ro de Extensão Rural (Siber) experimentou importante profícuo processo de parcerias dessa esfera com os go- sendo que 1.042 o fazem com recursos próprios, 1.744 via

ASCOM MDA
crescimento, com a expansão da estrutura da ACAR para vernos estaduais na sua implementação, bem como os convênios com os governos estaduais, e 752 buscam ou-
vários estados, com o consequente aumento dos muni- esforços empreendidos para a reestruturação dos órgãos tras fontes de recursos para prover Ater para seus agricul-
cípios e agricultores atendidos e dos planos de crédito estaduais de Ater, são alguns dos elementos que justifi- tores. Estima-se que os municípios que atuam nesta área
rural implantados. cam a ampliação dos recursos alocados atualmente pelos agregam aproximadamente cinco mil extensionistas.
A partir de 1974, o Siber começou a ser estatizado com governos federal, estaduais, municipais, cooperativas e As instituições não governamentais também possuem
a instituição da Empresa Brasileira de Assistência Técnica organizações não governamentais na implantação, apri- atuação significativa na prestação de serviços de Ater. As
e Extensão Rural (Embrater), tendo como atribuição prin- moramento e manutenção de estruturas capazes de rea- bases de dados do Dater registram mais de 600 instituições
cipal fomentar e integrar o Sistema Brasileiro de Assistên- lizar essa prestação de serviços. credenciadas com cerca de 10 mil técnicos e capacidade
cia Técnica e Extensão Rural (Sibrater), que agregava as Todas as unidades da federação dispõem de estru- para atender meio milhão de estabelecimentos rurais. Há
organizações estatais de Ater, mediante a capacitação de turas voltadas para a prestação dos serviços de Ater, um espectro amplo de organizações não governamentais
extensionistas e repasse de recursos de programas federais dotadas de quadro técnico e capilaridade para se fazer que prestam serviços de Ater, compreendendo: as organi-
de apoio ao setor rural. Na década de 70, o Sibrater con- presente na quase totalidade dos municípios, mesmo zações dos agricultores familiares; as cooperativas de pro-
solidou os serviços públicos de Ater no país, assumindo aqueles mais distantes dos grandes centros e desprovidos dução, de comercialização ou de técnicos e de agricultores;
importante protagonismo no processo de modernização de infraestrutura. A estrutura operacional já existente estabelecimentos de ensino que executem atividades de
da agropecuária brasileira. Na década de 80, a Embrater nas 27 unidades da federação e no conjunto de municí- Ater na sua área geoeducacional; as CFR (Casas Familia-
redirecionou sua atuação, passando a apoiar ações volta- pios implica na mobilização de mais de R$ 2,1 bilhões res Rurais), EFA (Escolas Família Agrícola) e outras enti-
das prioritariamente para os pequenos produtores rurais. anuais. O dimensionamento da estrutura existente deve dades que atuem com a Pedagogia da Alternância; redes e
No início da década de 90, a Embrater foi definiti- considerar, além da capacidade dos órgãos estaduais, a consórcios de organizações não governamentais; e outras
vamente extinta e os governos estaduais assumiram a Ater executada pelos municípios, quer isoladamente, organizações não governamentais.
responsabilidade pelo serviço de Ater. Em 2003, diante quer em parceria com os estados, uma vez que, quase a Segundo pesquisa realizada em abril de 2010 pela
do quadro de desestruturação existente, os esforços go- metade daqueles que executam essa prestação de servi- Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o siste-
vernamentais foram direcionados para a reconstrução ços o faz mediante parceria com os estados. É significa- ma cooperativo possui 5.500 técnicos prestando serviços Everton Ferrreira

86 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 87
MDA MDA

A Agricultura Familiar no Brasil representa


TABELA 2. NÚMERO DE TÉCNICOS DO SISTEMA COOPERATIVISTA, PARA Culminando essa trajetória, em 2010 foi editada a Lei
AS PRINCIPAIS UFS. 4,3 milhões de unidades produtivas, 84%
12.188, também conhecida como “Lei de Ater”, que insti- do total. São 14 milhões de pessoas
Estado PR RS GO SP MS MG SC ES Total
tucionalizou a Pnater, definiu seus objetivos e beneficiá- trabalhando a terra.* Foi pensando nessa
Técnico 1.450 550 112 600 100 533 603 85 4.033
rios, trazendo uma inovação importante na contratação gente que a Mahindra trouxe para Dois
Fonte: Sistema OCB.
da prestação desses serviços para a agricultura familiar. Irmãos - RS a fábrica dos tratores mais
vendidos do mundo. Os tratores Mahindra
O marco principal desta legislação foi a contratua- são feitos sob medida para a agricultura
(Dater), por meio do Decreto nº 5.033, de 5/04/2004, que lização da relação com as entidades executoras. As ati- familiar porque se adaptam a uma grande
aprovou a estrutura regimental do MDA, integrando a vidades desenvolvidas foram ajustadas às necessidades variedade de cultivos, são fortes e robustos,
estrutura da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF). dos agricultores e empreendimentos familiares, de acor- além de consumirem pouco e terem baixo
Como passo inicial do desempenho dessas atribui- do com seu perfil socioeconômico, desde a elaboração de custo de manutenção.
ções, foi formulada a Política Nacional de Ater (Pnater), diagnósticos, planos e projetos, até um conjunto de ati-
que além de definir princípios, objetivos e diretrizes de vidades para apoiar as famílias rurais em todo o sistema
atuação, trouxe outros aspectos como a organização de produção e gestão do estabelecimento. A sistemática
do serviço na forma de um sistema descentralizado, de chamadas públicas e a celebração de contratos estabe-
de âmbito nacional, autônomo, com objetivos, estru- leceram um novo patamar de qualidade na prestação de
turação, orientações estratégicas e metodologias para serviços de Ater brasileiro. Atualmente, no 4º ano da Lei
as instituições e organizações integrantes, visando a 12.188, essa vem possibilitando o atendimento de Ater
prestação de serviços com qualidade. A consolidação a mais de 560 mil agricultores familiares em todo país
das bases da Pnater foi se dando gradativamente, prin- mediante contratos.
cipalmente, mediante a reestruturação das entidades Contudo, os desafios persistem e são ainda maiores.
estaduais, como também com a construção de Redes de Mesmo com todo esforço governamental e da sociedade
Ater, o suporte a formação de técnicos e o incentivo à civil, o Brasil possui mais de 4,6 milhões de agricultores
inovação tecnológica. familiares e grande parte não recebe os serviços de Ater.
Sob a égide desta concepção, o Sistema Brasileiro Expandir o sistema de Ater capaz de articular as estrutu-
Descentralizado de Assistência Técnica e Extensão Ru- ras por toda sociedade e nas diversas esferas de governo
ral (Sibrater) foi instituído em 28 de março de 2006, é uma necessidade imediata. A história e conquistas da
mediante a edição da Portaria 025/2006 do MDA, com a Ater no país merecem um novo “salto histórico” capaz de
finalidade de discutir, operacionalizar e monitorar a Po- consolidá-la com a grande política de desenvolvimento
lítica Nacional de ATER. do rural brasileiro. ◆

*FONTE: www.embrapa.br/embrapa-no-ano-internacional-da-agricultura-familiar

SAC: 0800.7225482
88 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 www.mahindra.com.br/tratores Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 89
/mahindrabrasil
MDA MDA

Programa de Diversificação desenvolver estratégias de diversificação produtiva em


propriedades de agricultores familiares que produzem
fumo e criar novas oportunidades de geração de renda e
qualidade de vida às famílias.
vidamento dos agricultores que produzem tabaco, em
especial àqueles com maior dependência econômica
com esta cultura, que tem causado o empobrecimento
e consequentemente o êxodo rural, principalmente dos

em Áreas Cultivadas com Tabaco O Programa foi lançado em outubro de 2005, com
a ratificação pelo Senado brasileiro à Convenção-Qua-
dro para o Controle do Tabaco (CQCT), da Organização
jovens. A partir de ações de diversificação nas áreas de
olericultura, fruticultura, bacia leiteira e culturas de sub-
sistência em parceria com o Programa de Diversificação

garante renda e mais qualidade de vida Mundial da Saúde (OMS) e é coordenado pela Secretaria
da Agricultura Familiar do MDA, que busca articular as
políticas públicas para subsidiar o processo de diversi-
em Áreas Cultivadas com Tabaco do MDA, o município
tenta melhorar e fortalecer a produção agropecuária e as
rendas não-agrícolas dos agricultores, além de reduzir os
ficação da produção e renda em áreas fumicultoras. A altos custos com a saúde dos plantadores de fumo, como

I
nvestir na produção de alimentos e na comercia- fumo, a renda é anual, tínhamos que ter muito controle medida surgiu de uma ação conjunta de seis ministérios: consequências desta atividade.
lização de conservas orgânicas. Esta foi a oportu- para não ficar devendo”, complementa o ex-fumicultor. do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Agricultura, Pe- Depois de 17 anos plantando fumo, Regina Lúcia
nidade que Valdecir Murceski, 26 anos, e Cristina Com o abandono do fumo, Valdecir conta que a saúde cuária e Abastecimento (MAPA), da Saúde (MS), da Casa Bortolatti, 46 anos e Luciano Bortolatti, 39 anos, que
Will Murceski, 24 anos, encontraram para diversificar do casal também melhorou. “Na colheita, éramos obri- Civil, das Relações Institucionais e da Fazenda. moram em uma propriedade de 17 hectares em Sertão
as atividades e abandonar o plantio do fumo. O jovem gados a trabalhar com o fumo molhado que dava intoxi- Santana, decidiram abandonar a atividade e investir no
casal, de Nova Trento, em Santa Catarina, vive numa cação. No fumo, a gente virava noites trabalhando. Hoje Chamadas Públicas plantio de uva. Em 2008, plantaram 200 pés, logo depois
propriedade de 22 hectares, e, hoje, mantém um plantio não, temos um horário mais liberado”, relata. Desde que O Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas aumentaram para 1,7 mil pés. O investimento garantiu
altamente diversificado. “Não precisamos comprar ali- iniciaram a transição do plantio de fumo para a produção com Tabaco tem ação orçamentária de apoio a projetos na primeira safra de 2011 a colheita de seis mil quilos da
mentos fora, temos tudo em casa”, relata Cristina. Além de alimentos orgânicos, eles procuram manter um plantio de capacitação e pesquisa para apoio a alternativas eco- fruta. Já na safra de 2012 a produção dobrou, chegando a
do plantio, eles garantem a subsistência da família com a diversificado para garantir renda durante todo o ano. nomicamente viáveis, bem como apoio a investimentos 12 mil quilos. O filho do casal, Igor Fernando Bortolatti,
criação de vacas, porcos e galinhas. em projetos de agregação de valor, em parceria com or- 18 anos, ajuda os pais na lavoura, mas hoje, pode dividir
Todo sábado eles seguem para uma feira que ocorre Estratégias ganizações públicas e privadas. A iniciativa já atendeu seu tempo entre as tarefas no campo e os estudos.
no município para comercializar conservas e produtos in Para diversificar a produção, Valdecir e Cristina re- mais de 45 mil famílias em ações de capacitação, Ater Com a construção de uma cooperativa de sucos com
natura. “Estou feliz. Agora, só planto verduras, a renda ceberam auxílio do Programa de Diversificação em Áre- e investimentos em projetos para a agricultura familiar. apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),
melhorou e é garantida”, comemora Valdecir. “Com a ver- as Cultivadas com Tabaco, que auxilia a implementação A primeira chamada pública para Assistência Técnica em parceria com a prefeitura, a família conseguiu garan-
dura a gente tem renda mensal e também semanal. No de projetos de extensão rural, formação e pesquisa para e Extensão Rural (Ater) para Diversificação foi lançada em tir renda com a venda do produto. Além da uva, a família
2011 e atendeu 10 mil famílias dos estados do Paraná, San- Bortolatti produz arroz e olerícolas diversificadas. Ainda
Diversificação do tabaco
ta Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Bahia e Sergipe. criam peixes, ovelhas e gado de corte. A diversidade de
Em 2013, a segunda Chamada, com duração de três anos, produtos garante renda para a família o ano todo.
atendeu 11.200 famílias de Santa Catarina, Paraná e Rio O arroz é vendido para engenhos próximos ao mu-

ASCOM MDA
Grande do Sul, municípios com produção de tabaco. nicípio. As mais de 100 cabeças de ovelha são vendidas
Dados preliminares levantados junto a uma amostra a R$ 14 o quilo. A ovelha completa (matriz e reprodu-
de cerca de duas mil famílias atendidas por essa chama- tor) é vendida em média por R$ 400,00 a peça. “A di-
da, indicam que em torno de 90% tem renda líquida do versificação dá mais dinheiro que o fumo. Sempre entra
tabaco e renda agropecuária total da propriedade abaixo dinheiro, se não é da uva é do arroz ou da carne de ove-
de dois salários mínimos. Juntas, as Chamadas Públicas lha. Não tinha mais como depender apenas do fumo”,
de Ater com foco em agroecologia, diversificação, sus- enfatiza o agricultor.
tentabilidade, e leite, atendem mais de 26 mil famílias A família também conta com um açude na pro-
produtoras de tabaco. priedade para criação de peixes. Em 2011, vendeu 600
quilos de carpa para a população que busca o produto
Incentivo à agricultura familiar direto na propriedade.
O município de Sertão Santana, no Rio Grande do
Sul, está incentivando a diversificação de produção e Contribuição brasileira
renda da agricultura familiar, como forma de minimi- Em outubro de 2014, durante a 6ª Conferência das
zar os efeitos negativos oriundos do alto grau de endi- Partes (COP 6), a comitiva brasileira, da qual o MDA

90 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 91
MDA MDA

integra, conseguiu a aprovação das propostas que con-


templam a agricultura familiar. Na conferência, os re-

ASCOM MDA
presentantes brasileiros defenderam a promoção e di-
versificação da cultura do tabaco e a proteção do meio
ambiente e da saúde dos trabalhadores. A conferência é
realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
envolve delegações de vários países. As propostas apro-
vadas fazem parte do relatório elaborado pelo Grupo de
Trabalho da CQCT, formado por 35 países.
De acordo com o representante do MDA na COP 6,
coordenador de Inovação e Sustentabilidade da Secreta-
ria da Agricultura Familiar do MDA, Hur Ben Corrêa da
Silva, a comitiva brasileira tem tido uma atuação forte nas
deliberações em defesa da agricultura familiar. “A nossa
ação é garantir a participação dos produtores na formula-
ção e implementação das soluções e fazer com que a con-
venção adote a diversificação como o caminho para a me-
lhoria das condições de vida dos fumicultores”, afirmou.
As políticas públicas do Governo Federal como crédi-
to rural, seguros, garantia de preços, assistência técnica e
extensão rural e de comercialização como o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de
Alimentação Escolar (Pnae) têm orientado o debate entre
os países na construção de opções de políticas públicas. ◆
Casal troca a produção de fumo por cultivo de alimentos orgânicos

ASCOM MDA

Imagem meramente ilustrativa.


Produção de uva e fabricação de vinho como alternativa economicamente viável em área de tabaco
muda realidade de família

92 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 93
DIVULGAÇÃO
MDA MDA

relata com orgulho Edson, que há quatro anos é presi- A história do produtor rural com a Valtra começa em
dente da Associação dos Produtores de Leite do Municí- 1977, quando seu pai, hoje com 89 anos, comprou o pri-
pio de Iraí e há 12 está no comando da Patrulha do Trator meiro Valmet 65. “Este modelo foi um xodó, marcou épo-
e da Retroescavadeira da Localidade de Barra Grande. ca”, relembra. Ele depois adquiriu mais dois deste modelo
Ele possui o segundo grau completo e fez cursos de usados, em 1989 e 1991, e, em 2005, com a ajuda da mu-
datilografia e contabilidade. “Eu encaro a nossa pro- lher Iliana, comprou um Valtra 685 novo. Depois trocou
priedade como uma empresa”, destaca, complementan- este último por um A750 GI, em 2011. “Com o trator, hoje
do que a família se reúne todos os dias no almoço e no eu faço sozinho o que fazíamos os três juntos. Nós lavráva-
jantar para planejar o trabalho que será realizado no mos a terra e colhíamos milho no braço”, enfatiza.
turno seguinte.
“Eu sou fã da Valtra, não troco de marca”
Trabalho entre irmãos O agricultor Neuri Tesser, 66 anos, divide com os fi-
Outro cliente da Valtra que investiu no trator A750 lhos Carlos Eduardo, 43, e João Carlos, 44, o trabalho em
Geração II foi João Carlos Pesamosca, 55 anos, do dis- suas terras localizadas em David Canabarro (RS) e a pai-
trito de Vila Salete, em Frederico Westphalen. Ele, que xão pela Valtra. “Se a Valtra se conservar assim, eu não
tinha um A750 GI, conheceu a máquina nova na Expo- troco de marca”, declara Neuri, que é cliente da Razera de
Marlene, Edson, Geriel, Eduardo, Vilma e José Folle
direto Cotrijal, feira realizada em Não-me-toque (RS). Casca (RS), comprou um A750 GII e está muito satisfeito

Revolução nas pequenas propriedades “O Série A Geração II me chamou atenção por ser mais
pesado do que o modelo que eu usava, mais comprido.
Ele melhorou muito, possui desempenho superior”, con-
com o seu desempenho. O primeiro trator dele foi um
Valmet 65 usado, adquirido em 1980. Depois, em 1989,
comprou um Valmet 68 novo e, em 2002, um BM 110,
Com design arrojado, a Série A Geração II da Valtra proporciona versatilidade, ta João Carlos, que também destaca o novo sistema de que faz o serviço pesado. Com o Valmet 65, ele fez uma
injeção da máquina, com bomba em linha, que permite aposta com um vizinho, que possuía um trator de outra
economia de combustível e baixo custo de manutenção. Conheça abaixo uma economia de combustível. marca, para mostrar que o dele tinha um desempenho
histórias de famílias que tiveram suas lavouras transformadas com os novos O produtor rural trabalha em conjunto com os ir- superior, o que foi comprovado. E, desde então, o vizinho
mãos Jair, 50 anos, e Roque, 38. Cada um possui uma se converteu em cliente da Valtra.
maquinários adquiridos por meio do crédito do Programa Mais Alimentos propriedade, mas cultivam as lavouras e cuidam do gado O A750 GII foi financiado com crédito do Programa
juntos como uma forma de diminuírem custos. João Car- Mais Alimentos em maio de 2014. Ele é utilizado para


O trator veio fazer uma revolução nas pequenas vel pelas máquinas. Ele afirma que os equipamentos da los tem 30 hectares, nos quais planta soja, milho e trigo, pulverizar, distribuir fertilizantes e carregar produtos. Os
propriedades”, resume o produtor rural Edson marca são fortes, fáceis de operar, têm baixo custo opera- com uma média de 40 sacas por hectare, e uma base de Tesser possuem uma área total de 110 hectares, nos quais
Luiz Folle, 49 anos. Ele trabalha junto com os pais, cional e não estragam. A primeira máquina da marca ad- 50 bois. Ele utiliza o A750 GII para puxar plantadeira, plantam soja, milho e aveia branca e preta, e 20 vacas de
Arlindo José e Vilma Lídia Folle, ambos de 69 anos, a es- quirida pelos Folle foi um Valmet 78, em 2006, que eles pulverizador e pé de pato. leite e 30 gados de corte. ◆
posa, Marlene, 46, e o filho, Geriel Eduardo, 20, em seus entregaram neste ano. “O freio da Valtra é um dos me-
40 hectares de terra em Iraí, onde cultivam fumo (70 mil lhores do mercado”, frisa o jovem, que não trocou a zona
pés por safra) e milho e tratam 50 vacas de leite e 14 bezer- rural pela cidade em função de seu fascínio pelo trabalho
ros confinados. A família Folle, cliente da concessionária com os tratores. Geriel e Edson ressaltam o atendimento

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
Volkweis, de Frederico Westphalen (RS), conta com a aju- da Volkweis, concessionária da Valtra no Rio Grande do
da de dois tratores Série A da Valtra, sendo um A750 Ge- Sul: “Nós trabalhamos há anos com eles. Se precisamos
ração II (78 cv), comprado em maio de 2014, e outro A750 de uma peça, eles vêm nos trazer. Não deixam a desejar
Geração I, em fevereiro de 2011, para preparar o solo, fa- para ninguém”.
zer a pastagem, plantar, aplicar veneno e ureia e tratar as Edson e Marlene investiram em conhecimento para
vacas. Entre as melhorias do modelo novo, Edson destaca agregar mais qualidade e rendimento no trato com o
a economia de combustível: menos 1 litro por hora traba- gado e na lavoura. Eles fizeram cursos do Sebrae e do
lhada. “O trator é simples, sendo perfeito para a pequena Senar, disponibilizando inclusive a residência da família
propriedade, além de valente.” para a realização de algumas aulas, que foram assistidas
Cada familiar tem a sua função na propriedade. Ge- por cerca de 40 famílias da região. “A nossa região, Barra
riel, apaixonado por trator e fã da Valtra, é o responsá- Grande, é a que mais produz leite do município de Iraí”,
João Carlos Pesamosca Neuri Tesser e o filho João Carlos
94 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 95
MDA
A BUDNY
Em nome da boa saúde, o retorno Budny espera POSSUI UMA
COMPLETA
dos velhos hábitos na lavoura aumento de 15%
Implemento produzido na década de 70 pela Agrimec volta a ser fabricado LINHA DE
em função dos cultivos orgânicos
nas vendas em 2015 PRODUTOS
F AGRÍCOLAS,
oi a partir dela, na década de 70, que o setor de

A
implementos agrícolas inovou-se no Rio Grande Budny Indústria e Comércio, fundada em 1990, tem sua matriz localizada em Içara/

FUMAGEIROS
do Sul. A Capinadeira Rotacarp, primeiro produ- SC. Conta com filiais em solo catarinense, além do Rio Grande do Sul e Paraná.
to desenvolvido pela Agrimec, empresa de Santa Maria, RS, O objetivo da empresa é facilitar e agregar qualidade no processo de produção
considerada hoje a maior fabricante de implementos para a familiar agrícola, seguindo a ideia de desenvolver equipamentos com a função de proporcionar
lavoura arrozeira da América Latina, chegou como a solu-
ção para um problema que afetava boa parte dos produtores
de soja: o inço na lavoura. Até que a partir de 1978, uma
comodidade e bons resultados na produção.
A logística de produção, venda e distribuição é altamente integrada e dinâmica, já que os
produtos são distribuídos através de frota própria de veículos e caminhões, garantindo ao clien-
E TRATORES.
outra estratégia foi difundida, o uso de herbicidas, ocasio- te um atendimento rápido e com qualidade.
nando o encerramento na produção da capinadeira. Dentro da linha de produtos da Budny, estão disponíveis para comercialização, através da
36 anos depois, o implemento voltou a ser fabricado te no plantio de soja no município de Formosa do Rio linha de crédito Pronaf/Mais Alimentos, tratores, arados, carretas, distribuidores de adubo e
em função do cultivo orgânico, despertando o interesse Preto, na Bahia foram os primeiros clientes desta nova calcário, secadores de grãos, grades, plainas niveladoras, pulverizadores, resfriadores, orde-
de muitos produtores. Um grupo de coreanos que inves- edição do implemento. Conforme Odilo Pedro Marion, nhas, caçamba carregadeira, raspo transportador, roçadeiras e distribuidor de esterco líquido.
Diretor-Presidente da Agrimec, o funcionamento da Ro- A empresa disponibiliza a venda destes equipamentos através desta linha de crédito desde 2012.
tacarp dispensa o uso de agentes químicos: “Ela tritura a Com diferenciais que prezam pela qualidade, pontualidade na entrega, serviço de pós-ven-
maioria dos inços nas entrelinhas, cobrindo o inço rema- das e assistência técnica, o maquinário é comercializado especialmente para os estados de Santa
nescente, aterra o pé da planta e desmancha os torrões. Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, quando se trata do Pronaf. No entanto, a Budny exporta
A Rotacarp pode ser utilizada, além da soja, para as cul- para os países que compõem o Mercosul. Atua em todo o território nacional e conta com 534
turas de feijão, milho, sorgo, batata, amendoim, enfim, funcionários. Tem uma produção mensal de 2 mil equipamentos e 838 produtos que compõem
qualquer cultura plantada em linha”, explica. o catálogo de vendas.
Além da Rotacarp, a Agrimec ainda oferece outros A expectativa de vendas é de um crescimento para 2015 de 15%.
implementos agrícolas voltados para a agricultura fami- A Budny já está cadastrada no programa Mais Alimentos Internacional e, automaticamente,
liar. Você pode conferir a linha completa em www.agri- todos os produtos cadastrados na linha de crédito Pronaf/Mais alimentos. O Mais Alimentos
mec.com.br. ◆ Internacional foi criado pelo Governo Federal em 2010 para financiar a compra de máquinas e
equipamentos agrícolas para outros países, em especial os do continente africano e da América
Latina e Caribe. ◆

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Conheça nossos
equipamentos:
www.budny.com.br

96 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015


MDA MDA

Programa ajuda a aperfeiçoar


gestão de cooperativas da
agricultura familiar
O
cooperativismo é uma atividade estratégica Também está previsto o atendimento de questões es-
para o fortalecimento da agricultura familiar. pecíficas, tais como:
A organização facilita o acesso dos agriculto- –– Ampliar o acesso a produtos e serviços de apoio dis-
res aos mercados institucionais e contribui para agregar poníveis nas instituições de governo e setor privado;
valor à produção, o que resulta em mais renda às famí- –– Ampliar o acesso e a comercialização das cooperativas
lias. Para aprimorar a gestão das cooperativas, o Minis- nos mercados institucionais, especialmente Programa
tério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e PAA;
de sua Coordenação de Cooperativismo e Organização –– Introduzir melhorias técnico-gerenciais e tecnológi-
Econômica, criou, em 2012, o Programa Mais Gestão. cas nos empreendimentos;
Atualmente, mais de 160 profissionais acompanham 450 –– Incrementar o desempenho dos empreendimentos;
cooperativas, em 18 estados do Brasil. –– Contribuir para a elevação dos níveis de emprego e
“O Mais Gestão é um programa de assistência técnica renda;
para cooperativas da agricultura familiar e tem como me- –– Promover a capacitação para a inovação;
tas principais o fortalecimento da gestão da organização –– Promover o protagonismo dos empreendedores fa-
e a inserção nos mercados institucionais, convencionais miliares na interação entre os empreendimentos e
e diferenciados”, explica a coordenadora-geral substituta instituição de apoio e cooperação;
do Departamento de Geração de Renda e Agregação de
Valor do MDA, Mariana Carrara. Como acessar o programa
Existem 1,3 mil cooperativas com a Declaração de A atuação do Programa Mais Gestão é feita por
Aptidão ao Pronaf (DAP) aptas a participarem de cha- meio de chamadas públicas e atende cooperativas que
madas do programa. As perspectivas para 2015 são tenham a DAP Jurídica. As chamadas selecionam a
atender mil empreendimentos e ainda ampliar o público entidade que executará assistência a esses empreen-
beneficiário, com a inserção do atendimento de assistên- dimentos. Esses profissionais buscam desenvolver um Cooperativismo Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias,
cia técnica gerencial para outros tipos de organizações, plano de aprimoramento de qualificação da gestão das Além do Mais Gestão, a Coordenação de Coopera- entre outras); e Mobilização e coordenação de espaço de
como associações e centrais de cooperativas. cooperativas nas áreas de comercialização, organização tivismo e Organização Econômica desenvolve outras debate e formulação de políticas públicas para o coo-
O programa visa a prestação de assistência técnica e administração. ações que visam o fortalecimento do cooperativismo e perativismo da agricultura familiar, através do Comitê
direcionada aos empreendimentos coletivos da agricul- Dentre as prioridades, estão a elaboração e o acom- associativismo da agricultura familiar. Entre elas desta- Permanente de Cooperativismo do CONDRAF compos-
tura familiar. Os serviços são baseados em ferramentas panhamento de projetos técnicos de financiamento para ca-se a formação de uma Rede de Universidades, que to por 24 representações de entidades e movimentos
de apoio à tomada de decisão, visando o aprimoramento a cooperativa, o acesso e ampliação da participação do tem como objetivo desenvolver estudos e pesquisas na que atuam com o tema.
das diferentes áreas funcionais dos empreendimentos: empreendimento nos mercados institucionais e a organi- área de gestão de cooperativas e produzir dados relativos Além desses três pontos, a Coordenação também
organizacional, comercial, industrial, ambiental, finan- zação interna para atendimento dos ritos legais e fiscais à avaliação e desenvolvimento das cooperativas acom- atua na difusão das linhas e formas de acesso de crédito
ceira e de pessoas. A metodologia prevê várias fases, das cooperativas. panhadas pelo Mais Gestão; formulação e concretização para cooperativas, participação e mobilização em pro-
como mobilização, diagnósticos, matriz de identificação O Mapa abaixo demonstra a abrangência atual do de parcerias institucionais para ampliação de oferta de jetos e editais especiais como (PLANAPO, TERRASOL,
estratégica, estudo de mercado, plano de aprimoramento programa, considerando as cooperativas atendidas nas serviços e produtos para cooperativas (Unicafes, Con- TERRAFORTE, outros) e apoio ao acesso e divulgação
e visitas de implementação do plano. chamadas abertas até o momento. crab, Unisol que, juntas, formam a Unicopas - União das DAP Jurídicas. ◆

98 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 99
MDA MDA

100 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 101
MDA MDA

Selo de Identificação da
Participação da Agricultura
Familiar comemora cinco anos
O
que poderia ser apenas um detalhe na em- o Selo de Identificação da Participação da Agricultura comercialização e produção. Cooperativas e associações
balagem, na verdade, é a diferenciação e um Familiar (Sipaf). com DAP Jurídica passam pelo mesmo processo. Já as
conceito de produto, que cumpre o objetivo de “Para nós, tem dado muito certo. O selo mostra que cooperativas e associações que não têm DAP jurídica as-
identificação da produção vinculada à mão de obra fami- o produto é da agricultura familiar, mostra que tem sus- sim como as empresas, precisam comprovar uso de mais
liar, com resgate cultural dos valores regionais, fortalecen- tentabilidade e valoriza o produtor rural. Temos o selo há de 50% de matéria-prima oriunda da agricultura fami-
do a economia local e reduzindo a desigualdade social. cinco anos e acabamos de renovar o uso. Percebemos que liar nos produtos.
É dessa forma que o Selo de Identificação da Par- as vendas cresceram naturalmente”, conta o assessor de A validade do selo é de cinco anos, podendo ser reno-
ticipação da Agricultura Familiar (Sipaf) fortalece a Comercialização da Coopcerrado, Abidoran Barros. vado por igual período.
identidade social da agricultura familiar perante os con- São mais de 30 produtos, com matérias-primas O interessado deve estar em dia com a documentação ficação do Mercosul. A imagem do Sipaf também será
sumidores, informando e divulgando sua presença signi- cultivadas por 1,3 mil agricultores familiares de três (jurídica, no caso de empreendimento, e pessoal, no caso acrescida da identificação do bloco.
ficativa na produção de alimentos, bebidas e artesanato. estados – Goiás, Minas Gerais e Bahia. Na linha, há pi- de pessoa física).
Além disso, o selo pretende dar visibilidade às empresas mentas em conserva, barra de cereais, cookies, granola, Em 2015, o Ministério do Desenvolvimento Agrá- Promoção Comercial da Agricultura Familiar
e aos empreendimentos que promovem a inclusão eco- castanha de baru e mel. Segundo Abidoran, a credibili- rio deve aprimorar seu instrumento normativo para Em continuidade a estratégia de prospecção nacional
nômica e social dos agricultores. dade que o selo agrega aos produtos garante mais renda permissão de uso do selo, a fim de dar maior qualidade e internacional da Agricultura Familiar para os próximos
Criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário para esses produtores. “A partir do momento em que ao processo. anos será formalizada parcerias com estados, Selo Fair
(MDA), a marca valoriza e fomenta o crescimento da as pessoas sabem o que é o selo e como ele impacta na Trade, Identificação Geográfica, Orgânicos, Sloow Food,
produção familiar. O selo completou cinco anos em 2014. vida das famílias de agricultores, começam a selecionar SIPAF e Mercosul além da participação em feiras e eventos. Nesta perspec-
Nesse período, cerca de 950 permissões de uso foram re- o produto nas prateleiras dos mercados”, avalia o asses- Em 2014, durante a XXII Reunião Especializada tiva, destaca-se a presença da Agricultura Familiar, nos
gistradas e mais de 9,5 mil produtos foram identificados. sor da Coopcerrado. sobre Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf), foram quiosques do Brasil Orgânico Sustentável – BOS nas olim-
O consumidor pode encontrar disponível nas pra- criados os Selos Nacionais de Identificação da Partici- píadas de 2016 no Rio de Janeiro, seguindo a experiência
teleiras do varejo as mais variadas opções de produtos Como obter o selo pação da Agricultura Familiar para o Mercosul. Cada exitosa dos quiosques durante a Copa do Mundo de 2014.
com o Sipaf, oriundos de todas as regiões do Brasil. Para obter o Selo de Identificação da Participação país membro da Reaf, utilizando como modelo a ex- Os produtos vinculados ao SIPAF adquirem valores
Como exemplo, temos a Cooperativa Mista de Agricul- da Agricultura Familiar, o agricultor familiar deve ter a periência do Sipaf, desenvolverá sua própria marca e significados únicos, não apenas para os agricultores,
tores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e os produtos de identificação social para os produtos de origem da mas para os consumidores que desejam estar integrados
e Guias Turísticos do Cerrado (Coopcerrado), que têm precisam estar de acordo com as exigências legais de agricultura familiar na qual constará também a identi- a uma atitude comprometida socialmente. ◆

102 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 103
MDA MDA

Assistência Técnica e Extensão


Rural combatem a extrema
pobreza no meio rural
O
s serviços de Assistência Técnica e Extensão O público do PBSM historicamente não era público participativa e de qualidade, há maior interação entre realidade vivenciada pelo Agente de Ater. Os eixos temá-
Rural (Ater) são uma das ações importantes da ATER, pois encontram-se em situação de extrema po- as famílias e os projetos ganham em qualidade em sua ticos propiciaram a revisão das concepções pedagógicas
no Plano Brasil sem Miséria (PBSM). Foi breza, entendida pelo Plano como sendo a insuficiência construção, execução e em alternativas de comerciali- e na abordagem de Ater, a construção de conteúdos com-
criado em 02 de junho 2011 pelo Governo Federal por de renda, falta de acesso aos serviços públicos (saúde, zação. “A inclusão da família na decisão das atividades patíveis com as demandas locais e o aperfeiçoamento de
meio do Decreto nº 7.492, com a finalidade de superar educação, água, esgoto, energia elétrica, documentação, produtivas a serem desenvolvidas e suas atribuições métodos para as atividades contidas no projeto e nos tra-
a situação de extrema pobreza da população em todo o entre outros) e ausência de oportunidades de inclusão nas atividades do projeto, numa construção conjunta, balhos de campo.
território nacional, por meio da integração e articulação social e produtiva. Considera-se em extrema pobreza são pontos determinantes tratados nas ações de forma- Ao longo desses quatro anos foram ministrados 114
de políticas públicas, programas e ações. aquela família com renda per capita mensal de até R$ ção”, afirmou. cursos e 3.312 Agentes de Ater foram orientados pela Co-
Para a efetivação do PBSM foram contratados servi- 70,00 (setenta reais). O objetivo da formação do PBSM foi orientar e envol- ordenação de Formação do Departamento de Assistên-
ços de Ater, através de Chamadas Públicas e Acordos de Para Aline Gomes da Silva da Comunidade de fa- ver técnicos de Assistência Técnica e Extensão Rural de cia Técnica e Extensão Rural para atuação nas Chamadas
Cooperação Técnica pelo Departamento de Assistência zenda Buritis em Taquara no Distrito Federal, o PBSM nível médio e superior, visando sua atuação no combate Públicas e Acordos de Cooperação Técnica no Plano Bra-
Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura abriu portas e trouxe a oportunidade de retomar sua à pobreza rural dentro dos princípios estabelecidos pela sil sem Miséria, gerando oportunidades de acesso a ren-
Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, vi- vida “eu estava sem renda e desanimada”, afirmou. Ela Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Ru- da, por meio de ações de inclusão produtiva e a garantia
sando atender às famílias em situação de extrema pobre- cultiva maxixe e vagem e faz a comercialização dos seus ral (PNATER) em trabalhos de orientação aos diversos da segurança alimentar. ◆
za, com vistas à inclusão produtiva e social, e a promoção produtos na feira de Planaltina. segmentos da agricultura familiar situados na faixa da
Ano Quantidade de Cursos Quantidade de Técnicos Orientados
da segurança alimentar e incremento da renda. A agricultora já faturou R$ 3 mil com o investi- extrema pobreza.
2011 13 473
O Plano Brasil sem Miséria está estruturado de forma mento das duas primeiras parcelas. Com o recurso da
2012 26 736
a permitir a inclusão produtiva através do fomento e do 3ª parcela está com ideia de ampliar a produção, para Formação de Agentes de ATER
2013 58 1.626
serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural, o acesso isso solicitou do técnico um estudo para financiar O processo formativo se baseou nos princípios e di-
2014 17 477
a políticas públicas de inclusão social e produtiva. Que duas estufas. retrizes da Política Nacional de Ater (PNATER) e na con-
TOTAL 114 3.312
está proporcionando a elevação da renda per capita, a se- Para o Coordenador geral de Inovação e Sustentabi- cepção dialética da educação, em que a aprendizagem
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
gurança alimentar e nutricional e a melhor condição de lidade da SAF/MDA, Hur Ben Corrêa da Silva, o Plano resulta do processo dialógico da ação/reflexão sobre a
bem-estar das famílias. Brasil Sem Miséria quando acompanhado de uma Ater

104 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 105
DIVULGAÇÃO
MDA MDA

estamos 33% acima desse crescimento”, compara o minis-


tro do MDA, Patrus Ananias, , ressaltando que o número
de acordos efetivados entre julho e setembro de 2014, em
todo o país, foi de 612.708, o que representou um aumento
de 6,5% no número de contratos assinados em relação ao
mesmo período do ano anterior, quando foram efetivados
575.226 financiamentos.
José Clemente Donadelli está entre os agricultores bra-
sileiros que passaram a contar com a ajuda do Pronaf para
ampliar seus rendimentos no campo. Este ano, ele tomou
coragem, foi até uma concessionária da Rede Iveco conhe-
cer as vantagens do Programa Mais Alimentos, que é coor-
denado pelo MDA. Desenvolvido pelo Pronaf, o programa
existe desde 2008, e oferece uma linha de financiamento
com prazo de até dez anos para pagar, três anos de carên-
cia e juros de 0, 5% a 2% ao ano. “É sensacional, porque o
veículo da Iveco é excelente e as condições de pagamento
cabem no meu bolso!”, comemora o agricultor que saiu da
concessionária Mercalf com as chaves do seu primeiro ca-
minhão 0km, um Vertis HD na versão 9 toneladas.
Aos 49 anos, esse agricultor da cidade paulista de Li-
meira hoje administra a propriedade do pai, que por sua
vez passou anos tocando o sítio do avô, com mais dois ir-
mãos. Com muito trabalho e dedicação compraram mais
três chácaras e, em 1983, fizeram a divisão. “Com a morte
de meu avô, o sítio foi vendido e o dinheiro dividido entre
os filhos. Meu pai, Aristides, investiu na chácara e como
Limeira era considerada a Capital Brasileira da Laranja,
ele optou por cultivar esse cítrico”, lembra José. “Limeira
sempre teve fama de cultivar boas laranjas.”

Ele fez da laranja, uma grande florada!


Conta a história que a tradição de plantar laranjas,
limões e limas no interior de São Paulo chegou junto com

E vejo flores em você! E


m todo o Brasil, os agricultores familiares con- os portugueses, no início da colonização do Brasil. As
trataram R$ 8,3 bilhões nas diversas linhas de primeiras mudas começaram a ser plantadas em 1502,
crédito rural do Programa Nacional de Forta- e logo renderam frutos, devido a excelente adaptação
lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) durante os climática das árvores cítricas nas terras brasileiras. Por
três primeiros meses da safra 2014/2015. De acordo com volta de 1700, durante as missões , onde os jesuítas cate-
o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o valor quizavam os indígenas, a prática era reservar uma área
Graças ao Programa Mais Alimentos, o agricultor José Clemente Donadelli é 33% superior ao contratado no mesmo período da sa- para cultivo de um pomar de laranjeiras, pessegueiros,
fra passada. “A agricultura familiar está investindo mais limoeiros, figueiras, romeiras, abacaxis e marmeleiros.
agora conta com a ajuda de um caminhão Vertis HD para transportar suas porque está contratando mais crédito. Com isso, esses Mas foi somente a partir de 1800 que a laranja passou a
mudas de flores e plantas ornamentais pelo interior de São Paulo pequenos agricultores estão conseguindo comprando ter valor comercial.
mais máquinas e modernizando suas plantações. No ano Com a crise do café, em 1929, muitos cafezais da re-
passado crescemos 30% (em valor contratado). Agora, já gião de Limeira foram erradicados e substituídos por la-

106 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 107
MDA MDA

ranjais, fazendo com que houvesse maior capital e maior comenta o agricultor. Todas elas tem dois pontos em co-
número de postos de trabalho disponíveis no município. mum: a beleza de suas flores e o sabor de seus frutos.
Assim, por mais de três décadas toda a economia de Li-
meira esteve voltada para o cultivo, comércio e indústria Época de colheita farta
de embalagens de cítricos. De 1932 a 1936, Limeira foi É como costumava afirmar a escritora Clarice Lispec-
a maior exportadora de laranjas do Estado de São Pau- tor: “Gosto das cores, das flores, das estrelas, do verde
lo. E foi assim que, na década de 1960, a cidade paulis- das árvores, gosto de observar. A beleza da vida se escon-
ta ganhou o título de “Capital da Laranja” e ainda hoje de por ali, e por mais uma infinidade de lugares, basta
destaca-se como a maior produtora de mudas cítricas do saber, e principalmente, basta querer enxergar.”
mundo, com cerca de 200 viveiristas, com uma média de José soube enxergar essa beleza da vida! Há sete anos,
4 milhões de mudas por ano. ele precisava de um trator, mas não tinha dinheiro. Acon-
Para a felicidade dos apaixonados por flores e plan- selhado por um amigo, buscou o Mais Alimentos e conse-
tas ornamentais, José Clemente Donadelli não é um guiu financiar um trator com todos os implementos por
desses produtores de mudas cítricas. “Cultivo todo tipo R$ 98 mil. Este ano, ele precisava aumentar seu lucro, sem
de muda, só não mexo com cítricos, porque aqui já tem gerar mais despesa para o empreendimento. A solução foi
muitos especialistas trabalhando nesse ramo. Só aqui investir na diversificação de seus canais de vendas. “Com-
em Limeira, tem mais de 300 produtores de mudas, que prei um boxe no Ceasa de Campinas e passei a vender mi-
abastecem boa parte do Brasil”, assegura o agricultor, que nhas mudas no local. Como lá é visitado por pessoas de
já trabalhou com plantação de cereais, cana de açúcar e todo o Brasil, hoje tenho clientes no Rio Grande do Sul, no
laranja, mas na década de 1990 deixou a propriedade ru- Paraná e até em Goiás”, comemora.
ral da família para tentar a vida na cidade. “Cheguei a Ainda assim, era preciso solucionar outro proble-
abrir um comércio no centro de Limeira, mas não me ma gerado pela tentativa de ampliar as vendas. Sem
adaptei muito bem e acabei voltando para o campo. Na um equipamento adequado, ele era obrigado a rodar 60
época, como o negócio de mudas estava rendendo um lu- quilômetros de Limeira a Campinas, em um veículo pe-
cro bom para os fazendeiros da região, eu resolvi apostar queno. “As mudas chegavam destruídas ao Ceagesp de
nessa prática que faz parte do meu DNA, pois nasci no Campinas. Então, decidi procurar o Programa Mais Ali-
sítio e gosto de mexer com terra.” mentos para tentar um novo financiamento, visando a
Ao retornar para o campo, ele resolveu seguir a risca compra de um caminhão toco. E... consegui!”, comemora
o que poeta William Shakespeare imortalizou em um de José, que escolheu o Vertis HD, da Iveco. “Além de ser
seus versos: “O tempo é algo que não volta atrás. Por isso mais em conta do que os veículos oferecidos pela concor-
plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar rência, ele é o único caminhão toco que conseguiu entrar
que alguém lhe traga flores.” no programa Mais Alimentos.”
Não demorou para esse agricultor aprender que, Um mês depois, ele comemora a aquisição: “Estou
como disse o poeta brasileiro Augusto Branco, “as pesso- muito satisfeito com o seu desempenho. Ele tem um espa-
as são como as flores: você pode cuidar de todas as tuas ço interno excelente e é supereconômico.” Entre os pontos
flores, oferecendo sempre a mesma água diariamente. de destaque, José cita também o implemento do novo ve-
Por que não é exatamente o que você faz que às deixará ículo. “Agora, tenho um baú isotérmico, que faz com que
felizes. Mas o tempo que você se dedica a elas.” as 2 mil mudas transportadas cheguem em perfeito estado
“Troquei o estresse de um comércio na cidade pela no ponto de venda. Esse caminhão é nota 10!”
tranquilidade e a beleza da vida no campo”, avalia José, A história de José ainda não terminou, mas como nos
que atualmente trabalha com a irmã Maria Cecília Dona- contos de fadas, já tem um final feliz. É como diz aquela
delli Polatto na produção de aproximadamente 20 espécies famosa música do Ira: “De todo o meu passado, boas e
de mudas de flores e plantas ornamentais, como a Prima- más recordações. Quero viver meu presente e lembrar
vera, o Jasmim, a Sete-Léguas, a Tumbergia, a Ipoméia, a tudo depois... Nessa vida passageira, eu sou eu, você é
Alamanda e o Hibisco. “Também produzimos mudas de você. Isso é o que mais me agrada. Isso é o que me faz
pitanga, acerola, jabuticaba, romã, araçá e cajá-manga”, dizer... Que vejo flores em você!” ◆

108 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 109
MDA MDA

P
romover espaços de qualificação profissional e agentes de Ater. Nesta perspectiva, o Pronatec Campo
de agricultores e agricultoras, integrando às representa uma oportunidade estratégica de ampliar o
demais políticas de desenvolvimento rural sus- acesso dos povos do campo à formação profissional e
tentável e solidário. Este é o objetivo do Pronatec Campo. tecnológica para o fortalecimento da agricultura familiar
Entre 2012 e 2014, o programa matriculou mais de 27 e o desenvolvimento rural e sustentável em bases terri-
mil agricultores familiares. Durante o período, ocorre- toriais e agroecológicas”, destaca o coordenador de For-
ram 175 cursos, que formaram 1,5 mil turmas de estu- mação da Secretaria da Agricultura Familiar do MDA,

Pronatec Campo:
dantes que se profissionalizaram para atender as deman- Cássio Trovatto.
das de trabalho no campo.
Em 2015, o programa deve alcançar um número ain- Cursos Pronatec
Objetivos PronatecCampo
Campo
da maior de agricultores que buscam qualificação. So-
mente para o primeiro semestre, são esperadas 35 mil Qualificar o acesso às políticas públicas de inclu-

Qualificação profissional promove matrículas para os cursos do Pronatec Campo. Serão


ofertados diversos cursos, em todos os estados e no Dis-
trito Federal.
são social e produtiva no meio rural;

Oportunizar a inclusão socioprodutiva e econô-

fortalecimento da agricultura familiar


mica dos agricultores familiares, priorizando as
A indígena Maria Liberdade Kawinawá, de 34 anos,
juventudes do campo e focando na integração da
foi umas das contempladas pelo programa. Casada e mãe
formação com as estratégias de desenvolvimento
de oito filhos, ela participou do curso de agricultura fa-
rural sustentável e solidário;
miliar e aprendeu como melhorar a produção e comer-
cialização de banana, farinha, abacaxi e mamão, realiza- Estimular intercâmbios visando construir conhe-

DELEGACIA DA MULHER - AC
da na Aldeia Caucho, no município de Tarauacá, no Acre. cimentos para aprimorar a produção, adotando
“Aprendemos técnicas que não conhecíamos e colocamos princípios e práticas de matrizes tecnológicas
em prática. Eu não sabia como cuidar de hortaliças, por agroecológicas;
exemplo. Agora eu sei”, comemora a agricultora.
O Pronatec Campo integra o Programa Nacional de Apoiar o desenvolvimento de metodologias para
Acesso à Formação Profissional, Técnica e Tecnológica e promover processos de diversificação da produ-
Emprego e é executado em parceria com o Ministério da ção e a transição agroecológica;
Educação (MEC). A iniciativa possui, entre suas ações, a
Priorizar a produção para garantir a segurança
Bolsa-Formação, que fomenta a expansão da formação
alimentar e nutricional da família e comunidade;
profissional de nível básico para trabalhadores, por meio
dos Cursos de Qualificação ou Formação Inicial e Conti- Agregar valor às produções para a melhoria da
nuada (FIC) e os Cursos Técnicos para jovens ingressos renda familiar;
ou egressos do Ensino Médio.
O público-alvo são agricultores familiares, assenta- Criar oportunidades para o jovem permanecer
dos e acampados da reforma agrária, assalariados rurais, no campo e fortalecer os processos de sucessão
jovens, indígenas e povos e comunidades tradicionais. A na agricultura familiar;
metodologia do Programa intercala um período de con- Melhorar a gestão nas Unidades Familiares
vivência na sala de aula e outro no campo. de Produção e das Organizações Econômicas
“O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Familiar, e;
em sua trajetória, tem participado de forma efetiva na
construção das políticas públicas para a Educação do Promover a organização social, produtiva e o
Campo. O ministério tem desenvolvido políticas de for- acesso a mercados institucionais e privados.
Maria Liberdade Kawinawá mação de agricultores e agricultoras familiares, jovens

110 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 111
MDA MDA

Os cursos são ofertados por Institutos Federais (IFs),


Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), Es-
colas Técnicas vinculadas às Universidades Federais e
sistemas de aprendizagem como o Senar, Senai e Senac,
além de instituições privadas.
Para facilitar o acesso dos alunos, os cursos podem
ser realizados fora das sedes dessas instituições, como,
por exemplo, em escolas municipais ou estaduais, cen-
tros de formação dos movimentos sociais e centros de
pastoral de igrejas.
A pré-matrícula é realizada nas Delegacias Federais
do Desenvolvimento Agrário (DFDA) em todos os esta-
dos. Os interessados também podem obter informações
nos sindicatos rurais do município ou órgãos que pres-
tem assistência técnica. Também podem procurar a Se-
cretaria Municipal de Agricultura; Secretaria Municipal
de Assistência Social, Conselho Municipal de Desenvol-
vimento Rural Sustentável e Superintendências Regio-
nais do Incra.
O Pronatec Campo disponibiliza mais de 30 cursos.
Entre os cursos mais ofertados, estão o de agricultor fa-
miliar, horticultor orgânico, avicultor, fruticultor, auxi-
liar agroecológico, agricultor orgânico, operador de má-
quinas e implementos agrícolas, bovinocultor de leite,
piscicultor e apicultor.

Mais qualificação no campo


As regiões mais alcançadas pelo Pronatec Campo fo-
ram a Nordeste e a Norte, com, respectivamente, 39% e
35%, seguidas pela Sul, com 11%, Centro-Oeste, com 8%
e Sudeste, com 7%.

Matrícula por Gênero


Do total de matrículas, 60% foram mulheres e 40%
homens, demonstrando assim o avanço na educação
profissional de mulheres no campo.

Matrícula por Faixa Etária


Entre os beneficiados pelo programa, 52% são jo-
vens, entre 15 e 29 anos. Um dos fatores da evasão dos
jovens do campo é o conflito de gerações, que exclui o
jovem do processo decisório e dirime suas possibilida-
des. O Pronatec Campo qualifica o jovem e o prepara
para a sucessão. ◆

112 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 113
MDA MDA

Programa do governo federal NEW HOLLAND.


facilita aquisição de máquinas PARA AJUDAR A CONSTRUIR
Colheitadeira e trator, adquiridas pelo Programa Mais Alimentos, proporcionam O BRASIL, A GENTE NUNCA SE
CANSA DE ENTRAR EM CAMPO.
rendimento e alta performance na lavoura da família Mohler no sul do Brasil

P
rodutores rurais em Linha Nova, 87 quilôme- trabalhar nas várias atividades que temos na lavoura”,
tros de Porto Alegre (RS), Enio Mohler e o filho completa ele.
Diego operam duas máquinas New Holland As colheitadeiras TC têm o consagrado sistema de
adquiridas pelo Programa Mais Alimentos no cultivo de debulha Maxitorque, a última palavra em processamento
soja, milho e trigo. “O programa nos facilitou a compra de grãos. A linha é configurada para colher, com grande
das máquinas pela taxa de juros baixa e pelo prazo maior aproveitamento, nas mais diversas culturas ou condições
de pagamento”, conta Diego. de terreno. Possui dispositivos que a tornam eficiente em
A colheitadeira TC5070 e o trator TL75, adquiridos campo, como o exclusivo sistema de separação de palha
pelo programa com a concessionária Líder Tratores, es- e grãos, Rotary Separator, que age por força centrífuga.
tão em operação na propriedade da família e, segundo Já a linha de tratores TL foi criada para atender aos
Diego, as máquinas garantem produtividade. “Estamos grandes produtores de grãos e à pecuária, mas também é
muito satisfeitos com o rendimento das máquinas que usada na citricultura e na agricultura familiar. Os tratores
estão dando um show no campo”. Por atender com efi- possuem baixo consumo de combustível, facilidade de ma-
ciência as atividades na lavoura, a família já está ne- nutenção, tecnologia acessível, rendimento operacional e
gociando outro trator com maior potência, o T7.175. sistema hidráulico de grande capacidade. Com as exclusi-
“A colheitadeira é a melhor que já encontramos no vas versões cabinadas climatizadas, as máquinas unem, a
mercado nesta categoria. Com o trator, conseguimos estas características, maior conforto durante as operações.◆

Enio Mohler e o filho Diego recebem a colheitadeira TC5070 pelo Programa Mais Alimentos

Na agricultura ou na construção, a New Holland está sempre


presente para impulsionar o Brasil rumo ao desenvolvimento.
E é assim, de portas abertas para o futuro e investindo em novas
tecnologias e equipamentos de ponta, que seguimos em frente para
fazer a diferença e ajudar a construir um país melhor, para cada um
dos brasileiros.

Esse é o nosso compromisso.


Isso é New Holland.
114 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 115
ALBINO OLIVEIRA / ASCOM MDA
MDA MDA

Essa ação deu origem ao Plano Nacional de Inovação e em parceria com os governos de estado e a sociedade civil:
Sustentabilidade na Agricultura Familiar, cuja construção de uma Ater adequada para atender as demandas da agri-
se dá no ambiente do Comitê Nacional de Ater do Condraf, cultura familiar, da questão ambiental e sustentabilidade.
e conta com ações a campo, permitindo a participação dos Atualmente, a Ater se constitui num pilar funda-
diversos segmentos envolvidos na promoção da inovação mental para a implementação das políticas públicas, tais
junto à Agricultura Familiar. Para isso foi adotada uma como Pronaf, PAA, PNAE, de conhecimento e tecnolo-
metodologia que promove a concertação dos atores, visan- gia, entre outras. A atualização dos agentes de Ater em
do organizar a gestão da inovação nos estados; a constru- tecnologias apropriadas para a diversidade da agricultu-
ção e compartilhamento de conhecimento e tecnologias, ra familiar, assim como em metodologias participativas,
e a capacitação de agentes. Essas ações se dão de forma agroecologia, cooperativismo, etc., certamente irá con-
articulada com o Plano Nacional de Produção Agroecoló- tribuir para qualificar a oferta da Ater, e consequente-
gica e Orgânica (Planapo), com a participação da Cnapo. mente para o aumento da renda e a melhoria das condi-
Um dos pilares desse trabalho é o esforço para inte- ções de vida das famílias rurais.
gração ensino - pesquisa - extensão - agricultura familiar. No ano de 2014 foram realizadas oficinas de concer-
Isso envolve a articulação dos 42 Centros da Embrapa, 17 tação em nove estados, as quais originaram grupos ges-
OEPAs, que reúnem cerca de 5 mil pesquisadores, e mais tores estaduais, com a participação dos diversos atores
de 100 Núcleos de Agroecologia, que desenvolvem proje- envolvidos na inovação no meio rural. Cerca de 1 mil
tos de pesquisa, ensino e extensão. agentes de Ater foram formados em políticas públicas,

Atualização de Agentes de Ater para O Plano de Inovação prevê beneficiar, em 2015 e 2016,
mais de 20 mil agentes de Ater que atuam com agricultu-
metodologia de Ater, e tecnologias adequadas para os
sistemas de produção dos agricultores atendidos pelos

Inovação na Agricultura Familiar


ra familiar no País. Esse esforço visa também pavimentar contratos de Ater do MDA. A meta para 2015 é de for-
um caminho a ser trilhado e ampliado pela Agência Na- mar 4 mil agentes de Ater que atuam junto as 250 mil fa-
cional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). mílias beneficiadas pelos contratos de Ater e 3 mil agen-
O qual considera a construção que o MDA vem liderando tes de entidades que têm alguma parceria com o MDA.◆
Hur Ben Corrêa da Silva é engenheiro agrônomo, doutor em Desenvolvimento pela
Universidade de Londres, extensionista da Emater Paraná, coordenador de Inovação e
Sustentabilidade do DATER, presidente da Academia Brasileira da Extensão Rural.
METODOLOGIA DA INOVAÇÃO

D
esde 2003, a formação de agentes de Assis- Os principais temas das formações promovidas pelo
• Identificar e integrar sujeitos
tência Técnica e Extensão Rural (Ater) vem MDA incluem tecnologias para as principais cadeias
e capacidades
sendo uma das principais políticas do Minis- produtivas da agricultura familiar, tais como leite, feijão, CONCERTAÇÃO EVENTOS TEMÁTICOS
• Construir agenda e Espaço
tério do Desenvolvimento Agrário, implementada pelo milho, mandioca, frutas, oleaginosas, e pequenos ani- de gestão
Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural mais, entre outros. Outro tema importante é a Política
(DATER), da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF). Nacional de Ater (PNATER), que inclui principalmente
As ações foram realizadas, em grande parte, em parceria as metodologias de Ater, pedagogia construtivista, parti-
• Identificar, organizar e
com as entidades executoras de Ater e com universida- cipação, agroecologia e sustentabilidade. Conhecimento compartilhar
des públicas, por meio de cursos de extensão, aperfeiço- Mais recentemente o DATER iniciou uma ação es-
amento e especialização. pecífica de atualização tecnológica dos 4 mil agentes de
e • Articular redes temáticas
• Compartilhar e • Articular Mídias impressas e
Em 2010 essas iniciativas haviam assegurado pelo Ater, que atuam em contratos de Ater do MDA. Para isso Construir Tecnologia digitais, espaços virtuais
menos dois eventos de capacitação para cerca de 20 mil inovou ao estabelecer parceria com a Empresa Brasileira • Identificar Demanda
agentes, que atuavam em entidades estatais e não gover- de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio da Dire-
namentais conveniadas com o Ministério do Desenvolvi- toria e do Departamento de Transferência de Tecnologia,
mento Agrário (MDA). Com isso foi retomada a atualiza- o Conselho Nacional de Sistema Estaduais de Pesquisa • Eventos presenciais e a
ção de agentes de Ater, o que havia deixado de acontecer Agropecuária (Consepa) e os Núcleos de Agroecologia distância, dias de campo, FORMAÇÃO
desde a extinção da Empresa Brasileira de Assistência das Instituições Públicas de Ensino Superior, que o MDA ATER intercâmbios, oficinas, fóruns, CONTINUADA
Técnica e Extensão Rural (Embrater), em 1990. apoia em parceria com o CNPq. encontros, caravanas, etc

116 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 117
DIVULGAÇÃO
MDA MDA

Com matéria-prima da
agricultura familiar,
programa incentiva a
produção de 6,8 bilhões
de biodiesel por ano
118 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 119
MDA MDA

O
Programa Nacional de Produção e Uso do NÚMERO DE COOPERATIVAS BENEFICIÁRIAS QUANTIDADE DE MATÉRIA-PRIMA ADQUIRIDA DA AGRI- VALORES ADQUIRIDOS DA AGRICULTURA FAMILIAR
Biodiesel (PNPB) completa 11 anos levando CULTURA FAMILIAR NO PNPB (1.000 TONELADAS) NO PNPB (MILHÕES DE R$)
mais emprego, renda, sustentabilidade e in- 74 77
clusão social para o campo. Atualmente, a iniciativa do 65
59 2.855,19
2.792,99
Governo Federal contempla 41 usinas que, em parceria
42
com agricultores familiares, produzem 6,8 bilhões de
litros de biodiesel por ano – que representam 91% da 20 2.205,12 2.110,48
capacidade brasileira. São 83 mil estabelecimentos e 77 1.911,28
cooperativas da agricultura familiar beneficiadas. Os re-
1.652,56
cursos em aquisições de matéria-prima somam cerca de 2008 2009 2010 2011 2012 2013 1.519,16
R$ 3 bilhões e em assistência técnica R$ 35 milhões.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) 1.058,70
tem papel importante nos resultados alcançados pelo A mistura compulsória do biodiesel ao diesel, no Bra- 857,01
programa, que também conta com o envolvimento de sil, foi baseada na experiência brasileira de mistura de 677,34
outros ministérios. A pasta põe em prática a estratégia etanol na gasolina, e é um mecanismo importante para a 361,58 276,54
social do programa, por meio do Selo Combustível So- criação de demanda e para os investimentos privados no
cial. Com ele, o agricultor familiar tem sua atividade setor. A mistura de X% de biodiesel no óleo diesel mine-
reconhecida como ferramenta de desenvolvimento eco- ral é chamada de BX. 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2008 2009 2010 2011 2012 2013
nômico. Já o consumidor, ganha um instrumento para As metas referentes à mistura compulsória da Lei
certificar a qualidade do combustível. 11.097/2005, que dispõe sobre a introdução do biodiesel Como contrapartida, o produtor assume algumas zoneamento agroclimático ou recomendação técnica para
O coordenador-geral de Biocombustíveis do MDA, na matriz energética brasileira, foram antecipadas pelo obrigações descritas na Portaria n° 81/2014 como ad- a sua região. Atendendo essas questões iniciais, devem
André Machado, ressalta a importância do programa. Conselho Nacional de Política Energética. Já em janeiro quirir um percentual mínimo de matéria-prima dos entrar em contato com suas entidades representativas ou
“Quanto mais biocombustível, mais benefícios para o de 2010, a mistura obrigatória era de 5%. Recentemente, agricultores familiares no ano de produção de biodiesel; empresas de biodiesel que participam do programa.
meio ambiente, menos importação de óleo diesel e mais a Lei nº 13.033/2014 estabeleceu a mistura obrigatória de celebrar previamente contratos de compra e venda de O Selo Combustível Social é um componente de iden-
inclusão social”, afirma. 6% a partir de julho de 2014 e, finalmente, 7% a partir de matérias-primas com os agricultores familiares ou com tificação criado a partir do Decreto Nº 5.297, de 6 de de-
novembro de 2014. suas cooperativas; e assegurar a capacitação e assistência zembro de 2004, concedido pelo MDA ao produtor de
Aumento de indicadores técnica aos agricultores familiares contratados. biodiesel que cumpre os critérios descritos na Portaria
Com o recente aumento da mistura obrigatória de Mistura Compulsória de Biodiesel ao Diesel Para participar do programa, o estabelecimento e/ou n° 81 de 26 de novembro de 2014. O Selo confere ao seu
biodiesel ao diesel para 7% em todo território nacional, a cooperativa deve possuir a Declaração de Aptidão ao possuidor o caráter de promotor de inclusão social dos
o Governo Federal prevê aumento significativo na de- Como obter o selo Pronaf (DAP) e produzir matérias-primas que possuam agricultores familiares enquadrados no Pronaf. ◆
manda pelo biocombustível renovável. A expectativa é A concessão de uso do Selo Combustível Social feita
que os indicadores aumentem cerca de 40%. Com essa pelo MDA permite às empresas produtoras de biodiesel
medida, o Brasil passa a ser o segundo maior produtor ter acesso as alíquotas de PIS/Pasep e Cofins com coe-
e o terceiro maior consumidor mundial de biodiesel. A ficientes de redução diferenciados para o biodiesel, que
mesma lei dispõe ainda que a adição obrigatória deverá variam de acordo com a matéria-prima adquirida e a
ser atendida preferencialmente a partir de matérias-pri- região da aquisição, além dos incentivos comerciais e
mas produzidas pela agricultura familiar. de financiamento.

2014 2014
Julho Novembro

6% 7%

120 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 121
MDA MDA

Agricultores familiares acessam A


nualmente, mais de 80 mil agricultores fa-
miliares acessam linhas de crédito rural,
custeio e investimento do Programa Nacio-
Como acessar
Para acessar as linhas de crédito do Pronaf dispo-
níveis para implementar projetos de irrigação, é neces-

crédito para implantar sistemas nal de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf),


do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para
financiar a implantação, ampliação e modernização de
sário que o agricultor familiar tenha a Declaração de
Aptidão ao Pronaf (DAP) ativa. Além disso, é preciso
apresentar um projeto técnico que demonstre a viabi-

de irrigação
sistemas de irrigação. lidade do sistema.
A técnica é uma mais adotadas para otimizar o pro- A DAP é emitida por órgão autorizado, como o escri-
cesso produtivo e é utilizada por mais de 350 mil agri- tório de uma empresa de assistência técnica e extensão
cultores para garantir a qualidade do produto cultivado, rural ou os sindicatos de trabalhadores rurais. A emissão
principalmente quando a água da chuva não é suficiente do documento é gratuita.
para o desenvolvimento da produção. Para a elaboração do projeto de implantação do sis-

UBIRAJARA MACHADO / ASCOM MDA


Os sistemas utilizados vão desde irrigação por inun- tema de irrigação, o agricultor conta com os serviços de
dação, como no caso dos produtores de arroz do sul do Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA (Ater/
Brasil e de outros estados, a sistemas mais modernos e MDA). O programa, que consiste na inclusão produtiva,
mais eficientes no uso da água, como as tecnologias de promoção da segurança alimentar e na melhoria da ren-
irrigação localizada, utilizada principalmente na produ- da, oferece orientação, acompanhamento e supervisão
ção de frutas, flores e hortaliças. das atividades desenvolvidas pelas famílias agricultoras.
Com o crédito do Pronaf, o agricultor consegue gerar A linha de crédito de investimento do Pronaf Mais
mais renda, já que passa a utilizar os recursos naturais de Alimentos tem como limite até R$ 150 mil por safra/
maneira mais eficiente, potencializando a mão de obra e agricultor, encargos de 1 ou 2% ao ano, prazo de carência
ofertando produtos de maior qualidade, inclusive na en- de até 3 anos e até 10 anos para pagar.
tressafra. O valor destinado ao crédito, disponibilizado na
linha Mais Alimentos, ultrapassa R$ 1,6 milhão, a cada ano. Crédito Rural
“O MDA está constantemente buscando a melhoria O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul-
das condições de vida e de produção dos agricultores tura Familiar financia projetos que tem como objetivo
familiares e para isso estamos sempre dispostos ao diá- gerar renda aos agricultores familiares e assentados da
logo com os agricultores e seus representantes a fim de reforma agrária. O programa tem as mais baixas taxas de
adequar os nossos programas às necessidades dos entes juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas
envolvidos no sistema de produção”, ressalta o diretor de de inadimplência entre os sistemas de crédito do País.
Financiamento e Proteção à Produção da Secretaria da Nas safras de 2012/2013 e 2013/2014, o programa bateu
Agricultura Familiar do MDA, João Luiz Guadagnin. recorde de acesso e recursos investidos. ◆

122 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 123
MDA MDA

Turismo rural
cosméticos, produtos alimentícios, artesanato, manifesta-
ções culturais e artísticas, couros e calçados, moda e joias.

DIVULGAÇÃO
“Acolhida na Colônia”

garante renda para


O desenvolvimento da atividade agrícola associa-
da ao turismo no meio rural encontra-se em expansão
no Brasil. Já são vários os exemplos de sucesso no País,
como, por exemplo, o projeto “Acolhida na Colônia”.

agricultores familiares
A Acolhida na Colônia foi implantada no Brasil em
1999, nas Encostas da Serra Geral, no estado de Santa Ca-
tarina, e atualmente conta com 180 famílias de agriculto-
res associadas e integrada à Rede Accueil Paysan, atuante
na França desde 1987. Sua proposta é valorizar o modo de

A
presença predominante da agricultura fami- vida no campo através do agroturismo ecológico. lônia, que ingressam nos cursos superiores de Agronomia,
liar no meio rural brasileiro e o expressivo Na América Latina, o Brasil foi o primeiro País a ade- Agroecologia, Hospitalidade em Turismo, dentre outros.
número de empreendimentos e atividades rir a esta Rede. As famílias associadas iniciaram na ati- A Acolhida da Colônia também articula com insti-
DIVULGAÇÃO

turísticas vinculadas ao setor proporcionou o surgimen- vidade de agroturismo atuando na prestação de serviços tuições públicas de educação para formar educadores
to de uma forma complementar de renda para os pro- de hospedagem, alimentação, venda de produtos, lazer, para atuar de forma especial em escolas do meio rural.
dutores. O Turismo Rural ganhou forças na década de educação ambiental e turismo de conhecimento. A ideia é aproximar a educação superior dos jovens, que
1980 no Brasil e representa uma alternativa para a com- Esses agricultores familiares praticam e promovem não podem deixar as propriedades rurais, E assim, depois
plementação da renda de agricultores familiares. a agricultura orgânica como base do seu trabalho, ga- de formados, eles vão atuar como multiplicadores de uma
Desde 2003, o Ministério do Desenvolvimento Agrá- rantindo com isso uma alimentação saudável para suas proposta curricular diferenciada que prestigia aspectos
rio (MDA) fomenta essa atividade, que ao mesmo tempo famílias e para seus visitantes. da vida rural e cultural. Como no caso da Universida-
em que representa uma vantagem ao agricultor familiar, Duas das atividades ofertadas pelos Agricultores Fa- de Federal de Santa Catarina (UFSC) que, por exemplo,
com a oferta de serviços e produtos, proporciona ao tu- miliares da Acolhida na Colônia se destacam: o Turismo atendendo a esta e à demanda de desenvolvimento do ter-
rista, especialmente àqueles acostumados com a rotina Pedagógico e o Cicloturismo. A prática dessas duas ativi- ritório, criou no município de Santa Rosa de Lima, uma
das grandes cidades, o compartilhamento de um modo dades, além de cumprir com o objetivo de proporcionar turma do curso de Licenciatura de Educação no Campo.
de vida diferente, ao conhecer experiências culturais e diversão, consciência de preservação ambiental e com-
naturais próprias do meio rural. partilhar conhecimento com crianças, jovens estudantes Talentos do Brasil Rural
O turismo rural, além de ser uma nova forma de em- e esportistas que visitam as propriedades, tem assumido Aproveitando a oportunidade dos grandes even-
prego, ocupação e ampliação de rendas das famílias, é também importante papel na construção de valorização tos internacionais sediados no Brasil, o Ministério do
também um meio de diversificação da economia e da do homem do campo, tanto junto à sociedade em geral, Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com o
valorização do patrimônio cultural local. Assim, o estilo quanto do agricultor em relação a sua autoestima, de for- Ministério do Turismo (Mtur) e o Serviço Brasileiro de
e a cultura do campo, com seus costumes e tradições re- ma especial os jovens agricultores. Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), qualifi-
gionais específicas, devem manter suas peculiaridades, Nessa dimensão, e a partir do desafio que é o acesso à cou, por meio do Projeto Talentos do Brasil Rural, rotei-
pois é, exatamente, o modo de ser das famílias rurais, educação pelos trabalhadores do campo, o trabalho rea- ros turísticos com foco no entorno das cidades-sede da
integradas ao meio ambiente e ao patrimônio rural, um lizado pela Acolhida na Colônia visa incentivar os jovens Copa do Mundo de 2014.
dos maiores atrativos dessas regiões. a buscarem qualificação e a buscar parcerias com insti- Os roteiros turísticos e os empreendimentos da agri-
No turismo existe um amplo mercado nacional e in- tuições de ensino para aproximar a educação da juven- cultura familiar foram qualificados com o objetivo de
ternacional para o consumo sustentável de produtos e tude rural. ser uma alternativa ao turista interessado em belezas
serviços da agricultura familiar. A inserção de produtos O trabalho realizado pela Acolhida na Colônia estimu- naturais, conhecimentos tradicionais e alimentação sau-
e serviços da agricultura familiar no mercado turístico, la os jovens a buscarem qualificação para continuarem no dável. Ao todo, 23 roteiros turísticos foram trabalhados,
compreendendo meios de hospedagem, restaurantes, ba- campo, sem abrir mão de educação, saúde e moradia de buscando obter maior aproveitamento dos produtos da
res, lojas de artesanato e souvenires favorece o fortaleci- qualidade. E, além disso, terem a oportunidade de exercer agricultura familiar e o envolvimento das cooperativas.
mento da economia local dos agricultores. Muitos setores atividades que gerem renda. Com isso, cresce o número de Um dos roteiros contemplado pelo projeto está no Pa-
são beneficiados com o fomento da atividade, como o de jovens, filhos de agricultores familiares da Acolhida na Co- raná: “O Caminho do Vinho”, em São José dos Pinhais, re-

124 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 125
MDA

gião metropolitana de Curitiba. Lá, a Colônia Mergulhão


conta com mais de 29 propriedades de descendentes da
colonização italiana. Eles oferecem aos turistas ativida-
serva de Mata Atlântica do Sudeste brasileiro e a terceira
maior área de planície alagada do País.
Além de desfrutar dos atrativos turísticos, o visitante Sollus: 19 anos
desenvolvendo soluções
des de lazer, hospedagem e produtos coloniais. São canti- acessa produtos diferenciados; produtos com identidade
nas, adegas, restaurantes, e cafés coloniais, chácara de la- regional; produtos saudáveis; produtos com responsabi-
zer, colhe-pague, minhocário, pesque-pague e pousadas. lidade social e ambiental; e produtos com baixa emissão
Ainda no Sul, o roteiro “Agroturismo de Gramado” de carbono.
é feito a bordo do Princesinha, um ônibus de 1958. Um
dos percursos leva aos cenários que deram origem ao fil-
me brasileiro “O Quatrilho”, e termina com um belo café
colonial. O outro percurso, “Raízes Coloniais”, passa por
Roteiros contemplados pelo Talentos do Brasil Rural:
Tucorin: Turismo Comunitário no Baixo Rio Negro (AM);
Trilha do Visgueiro (AL); Roteiro Ecoétnico (BA); Cultu-
ra e Ecologia em Busca do Futuro (CE); Trekking Traves-
para área agrícola
A
áreas rurais nas localidades de Bonita e de Linha Nova , sia (GO); Circuito na Vivência da Agricultura Familiar do Sollus foi fundada em agosto de 1996 e, desde então, trabalha no desenvolvi-
com visitação a propriedades centenárias e à produção Serras de Minas (MG); Caminhos Rurais da Mata Atlântica mento de soluções para área agrícola, através de suas máquinas e implementos,
de erva-mate. Já o percurso “Mergulho no Vale” segue de Minas (MG); Circuito Rural e Ecológico do Vale do Rio sempre com o objetivo de oferecer aos clientes produtos e serviços da mais alta
pela localidade da linha 28 passando por uma proprie- Preto (MG); Roteiro Serras Rurais (MG); Natureco Pantanal qualidade e que principalmente atendam suas necessidades.
dade de produtos orgânicos, um alambique e casa de co- Remoto (MT); Circuito Eco-Rural Caminhos do Brejal (RJ); Atualmente, a Sollus está presente em todo território nacional e alguns países da Amé-
lonos italianos. Caminho dos Engenhos (PB); Uma Viagem à Civilização rica do Sul e continente africano.
Na região Sudeste, o roteiro “Caminhos Rurais da dos Potiguara (PB); Em Terras Quilombolas (PB); Cami- A empresa possui 250 funcionários, tem uma produção mensal de 170 unidades e co-
Mata Atlântica”, em Minas Gerais, abrange propriedades nhos Históricos da Serra (PR); Caminho do Vinho (PR); Se- mercializa seus produtos através do Pronaf Mais Alimentos. Além disso, já estuda a pos-
rurais das cidades de Ipatinga, São Domingos do Prata, ridó (RN); Porto Alegre Rural (RS); Vale dos Vinhedos (RS); sibilidade de integrar o Mais Alimentos Internacional, programa que pretende estimular
Marliéria, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Açu- Agroturismo Gramado (RS); Caminhos da Colônia (RS); o parque industrial de máquinas e equipamentos agrícolas brasileiros. O Mais Alimentos
cena, além do Parque Estadual do Rio Doce, a maior re- Caminhos de Pedra (RS); Caminhos da Roça (SP). ◆ Internacional criado pelo Governo Federal, em 2010 visa financiar a compra de máquinas
e equipamentos agrícolas para outros países, em especial os do continente africano e da
América Latina e Caribe.
Na Sollus são fabricados implementos para três segmentos de mercado: linha de cereais,

DIVULGAÇÃO
com distribuidores de calcário e fertilizante, carretas graneleiras, varetas abastecedoras de
adubo, carreta tanque, transportadores de grãos, transportadoras de plataforma, guincho, pá
traseira e plataforma traseira; linha canavieira: com plantadora de cana, sistema de abasteci-
mento, distribuidores de torta de filtro, distribuidor para caminhão, subsolador, cultivador,
cobridor e sulcador; além da linha florestal com carreta tanque e distribuidor de fertilizante
em filete. ◆

Eduardo Green

126 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015


EDUARDO AIGNER / ASCOM MDA
MDA MDA

das alternativas econômicas para a permanência dos A partir da experiência, observa-se que a consolida-
agricultores familiares no meio rural” e para a “constru- ção dos empreendimentos agroindustriais da agricultura
ção de um novo modelo de desenvolvimento sustentá- familiar se fundamenta na qualidade dos produtos, atra-
vel”, que pensa o rural como um todo e não mais apenas vés de ações que garantam as características e padrões
ligado à produção agrícola. físicos, químicos e bacteriológicos de acordo com as nor-
As agroindústrias constituem-se em alternativas de mas “higiênico-sanitárias”, na gestão das unidades pro-
desenvolvimento rural, na medida em que possibilitam dutivas e apresentação dos produtos no mercado com
que a agricultura familiar enfrente os desafios de acesso embalagens e rótulos que valorizem suas características
a mercados tradicionalmente abastecidos pelo agrone- transmitindo informações que evidenciem a qualidade e
gócio, que por terem uma lógica da produção em larga a natureza do produto em si, sobretudo sua origem. As-
escala e articulada com grandes cadeias de comercializa- sim, é fundamental que o consumidor reconheça e acre-
ção, acabam tendo maior inserção mercadológica local e dite nas especificações dos produtos como sendo da agri-
internacional. Nesse sentido, as agroindústrias familia- cultura familiar, incorporando à qualidade do produto
res surgem como um processo de valorização do modo seu significado social, intrínseco a esse tipo de produção.
de vida rural, de agregação de valor às próprias matérias- Dentre as estratégias do Governo Federal voltadas à
-primas produzidas na propriedade, de qualidade dife- ampliação das políticas públicas para o fortalecimento
renciada e com especificidades territoriais, respondendo da agricultura familiar, o Ministério do Desenvolvimen-
à demanda de um determinado público de consumido- to Agrário, por meio da Secretaria da Agricultura Fami-
res em expansão. liar, busca alternativas de geração de renda e agregação
Segundo Censo Agropecuário do IBGE 2006, 800 mil de valor. Uma dessas alternativas é a diversificação da
famílias declararam que fazem algum tipo de processa- produção e da renda familiar.
mento. Dados da DAP registraram 143.596 agricultores A participação em feiras e eventos comerciais, no
familiares agroindustrializando sua produção e gerando Brasil e no exterior, tem sido uma grande oportunidade

Agroindústria
R$ 1,8 bilhão em valor bruto de produção. O processo de para geração de renda, acesso a tecnologias apropriadas
agroindustrialização favorece, ainda, um desenvolvimen- à agricultura familiar, agregação de valor, intercâmbios
to local e regional mais equilibrado, com o aumento da de experiências e, cada vez mais, a maior profissionali-
arrecadação de impostos, especialmente, nos pequenos zação na inserção de empreendimentos familiares nos

da produção à comercialização
municípios. Nestes locais, o estímulo para a melhoria da mercados convencionais e diferenciados. O Ministério
economia está condicionado ao surgimento de iniciativas do Desenvolvimento Agrário vem fomentando ações
que favoreçam o aumento, a permanência e a (re) aplica- que promovam a diversificação econômica e agregação
ção da renda da agricultura no próprio município e ar- de valor na agricultura familiar por meio da atividade
redores. Uma consequência imediata é o surgimento e/ turística; do apoio à comercialização de produtos e servi-

A
agricultura familiar no Brasil destaca-se pela e que depois, em 1995, foi aplicado no Distrito Federal; ou fortalecimento do comércio local, estimulado pelo au- ços da agricultura familiar; dos produtos e serviços orgâ-
produção de alimentos e, aliada à atividade em 1998, surgiu o Programa de Desenvolvimento da mento do consumo de alimentos, de vestuário e calçados, nicos/agroecológicos; das plantas medicinais e produtos
agroindustrial, desempenha um importante Agricultura Familiar Catarinense pela Verticalização da de eletrodomésticos, de pequenos equipamentos, ferra- fitoterápicos; do processamento agroindustrial; do co-
papel para o desenvolvimento rural local das diversas Produção (DESENVOLVER); em 1999, o PROVE PAN- mentas e materiais de construção e de outros insumos mércio justo e solidário; das cadeias produtivas; da bio-
regiões brasileiras. O conceito de rural não está mais as- TANAL, implementado no Mato Grosso do Sul e, em usados na produção e na industrialização agropecuária. diversidade, agrobiodiversidade e sociobiodiveridade; da
sociado somente à dimensão agrícola, pelo contrário, a 1999, o Programa da Agroindústria Familiar (PAF) no Em uma sociedade cada vez mais ávida por informa- organização produtiva e econômica.
visão de rural e de ruralidade se destaca positivamente Rio Grande do Sul. ções a respeito da origem dos produtos, do processo, do A promoção comercial dialoga com as políticas pú-
pela diversidade e multifuncionalidade do espaço rural e A partir dessas experiências, em 1999, é criado o respeito ao meio ambiente e suas interfaces, de qualida- blicas da SAF, uma vez que possibilita a promoção de
possui papel importante para o desenvolvimento do País. PRONAF Agroindústria, através da Secretaria de Desen- de, categorização dos produtos, configura-se um merca- produtos da agricultura familiar nos mercados interno e
Na década de 90, o Brasil passa a considerar a Agroin- volvimento Rural (SDR/MDA), e em 2003 o Ministério do consumidor crescentemente mais consciente de seu externo, visando novas oportunidades de negócios e ren-
dústria Familiar Rural como uma eficiente estratégia de de Desenvolvimento Agrário (MDA) criou o Programa papel social. É nesse contexto que são constituídas e for- da para os agricultores familiares e o desenvolvimento
desenvolvimento rural, iniciado com alguns incentivos de Agroindustrialização da Produção de Agricultores Fa- talecidas marcas locais da agricultura familiar, associa- social no meio rural.
públicos pioneiros, como o Programa de Verticalização miliares, que atenta para a importância da implantação das como estratégia para o desenvolvimento regional e Inúmeras ações referem-se à promoção dos empre-
da Pequena Produção Rural (PROVE) em Blumenau/SC de agroindústrias, uma vez que estas representam “uma fortalecimento da agricultura familiar. endimentos da agricultura familiar nos mercados in-

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MDA MDA

terno e externo, visando impulsionar a comercialização produção de vegetais orgânicos em parceria com uma meio de diversos engenhos movidos por tração animal, era uma condição inviável para a Agreco, dada a distân-
de seus produtos, com agregação de valor e melhoria da rede de supermercados de Florianópolis. Naquela épo- se especializaram, em produzir o açúcar mascavo e o cia entre produtores e consumidores finais.
renda e das condições das famílias. Nesse intuito o Mi- ca, um grupo de 12 famílias, formado principalmente melado, para adoçar um pouco a vida, além de alambi- A solução para o problema da venda de hortaliças foi
nistério tem promovido e/ou apoiado a participação dos por emigrantes alemães, mas que não haviam perdido ques para a produção de cachaça. As conservas de legu- converter a maioria das unidades para o processamento
empreendimentos familiares em diversas feiras e eventos o vínculo com o território, começou uma reflexão sobre mes eram produzidas para estocar legumes nas épocas de alimentos não perecíveis. A nova estratégia adotada
de promoção comercial, através da participação em Fei- os rumos do desenvolvimento na sua terra natal. O ce- de safra e serviam para preparar as refeições rápidas no permitiu manter a estrutura geográfica de produção da
ras nacionais e Internacionais e da realização de inúme- nário era desolador: dificuldades para geração de renda retorno do trabalho da roça. Depois de duas gerações, os cooperativa, sem ocasionar prejuízos em função da lo-
ras edições da Feira Nacional da Agricultura Familiar e nas atividades ligadas à agricultura familiar, devastação descendentes mantêm as tradições e os sabores produ- calização das agroindústrias nas comunidades remotas,
Reforma Agrária (FENAFRA). ambiental e utilização excessiva de agrotóxicos. zindo em agroindústrias que compõem a rede Agreco. e os produtos não perecíveis, ou com prazo de validade
Nesta direção, foram feitos acordos de cooperação do O escopo de atuação estava focado na produção, be- prolongado, passaram a permitir armazenamento. Além
Governo Federal com redes de varejo e entidades repre- neficiamento e comercialização de alimentos orgânicos. Transição do In Natura para o Processado de ser uma estratégia que admitiu maior flexibilidade à
sentativas e se desenvolveram articulações para o acesso Ao mesmo tempo em que começavam a aparecer os re- Várias adequações foram sendo realizadas ao longo comercialização, também propiciou a agregação de valor
das agroindústrias familiares nos mercados privados, sultados positivos, especialmente no que diz respeito à dos primeiros anos. Talvez a mais significativa esteja aos produtos, desta forma, absorvendo maior quantida-
criando alternativas de comercialização, em comple- geração de trabalho e renda com uma atividade produ- relacionada às necessidades de adaptação ao mercado de de mão de obra nas unidades produtivas familiares.
mento às políticas de compras institucionais do PAA e tiva saudável e respeitosa do meio ambiente, a entida- consumidor e ao surgimento de outras iniciativas que A Agreco tem sua produção estruturada em uma
PNAE. Esta ação complementar tem gerado ampliação de foi desenvolvendo estratégias para a organização do passaram a concorrer com os produtos da Agreco. As rede de 26 agroindústrias de pequeno porte. Procuran-
de demanda para novas agroindústrias que estejam con- processo produtivo e de espaços para garantir a partici- agroindústrias que operavam hortaliças minimamen- do obedecer ao princípio da diversidade, as agroindús-
solidadas, promovendo autossuficiência econômica da pação dos agricultores. Em 1997, o número de famílias te processadas tornaram-se inviáveis rapidamente. Um trias operam com várias atividades. Frutas, hortaliças,
agricultura familiar e abrindo oportunidades para que ampliou-se de doze para vinte, envolvendo cerca de cin- dos motivos para essa situação foi a distância média até grãos, mel, cana-de-açúcar, frango, praticamente tudo
outros novos agricultores possam se tornar beneficiários. quenta associados e se expandiu para outros municípios o principal mercado consumidor, Florianópolis, de 120 que se produz nas propriedades que fazem parte da rede
O espaço privado é importante, entretanto há dificul- das Encostas da Serra Geral. Atualmente, mais de 100 km. Além disso, no comércio de hortaliças, geralmente, pode ser aproveitado através do processamento. Parte
dades para atuação de pequenos fornecedores de produ- famílias participam da Agreco sendo que 35% são jo- os mercados devem ser abastecidos diariamente, e isso da matéria-prima produzida nas propriedades é desti-
tos oriundos da agricultura familiar em sua inserção no vens, filhos ou netos de agricultores, 50% tem formação
livre comércio empresarial, pois apresentam limitação universitária e decidiram continuar sendo agricultores.
de recursos para promoção comercial que são requeridos A área de produção da Agreco fica situada entre o Par-
no varejo, com investimentos e custos adicionais compa- que Nacional de São Joaquim e a Serra do Tabuleiro. Este
rados ao mercado institucional: embalagens comerciais, é um dos territórios mais ricos e promissores da Mata
vendedores, promotores no ponto de venda, repositores Atlântica Brasileira. Local onde está situado parte sig-

ANDRÉA FARIAS / ASOCM MDA


nas gôndolas, degustadores, estratégias promocionais de nificativa do Aquífero Guarani (maior depósito de água
preço e material de comunicação, entre outros. A escala doce da América do Sul). A região é detentora de fontes
menor de produção e a menor margem de negociação (mais do que de habitantes) e nascentes de rios como o
também influem neste processo para a sustentabilidade Itajaí do Sul, Tijucas, Cubatão e Tubarão. As águas das
dos contratos. Encostas da Serra Geral abastecem as principais cidades
Portanto, a efetivação da agroindustrialização de do litoral sul catarinense, destacando a Grande Floria-
pequeno porte depende do apoio de programas que in- nópolis. Preservar este grande patrimônio é tarefa que a
corporem um conjunto de ações e serviços públicos. Isto produção orgânica cumpre naturalmente e que pode ser
pode contribuir para um ambiente institucional favorá- ampliada com o seu estímulo.
vel à implantação e à consolidação das pequenas agroin- Os imigrantes alemães que chegaram às Encostas
dústrias no meio rural, superando as atuais restrições, da Serra Geral em meados do século XIX criaram uma
principalmente as de ordem legal. diversidade de pequenas fábricas artesanais de consti-
tuição familiar. A criatividade surgiu da necessidade de
Associação dos Agricultores Ecológicos produzir alimentos para a família, numa época em que a
das Encostas da Serra Geral Mata Atlântica ainda era soberana. Por meio das atafo-
A Agreco foi fundada em 1996, em Santa Rosa de nas movidas, na sua grande maioria, por rodas d’água,
Lima, sul de Santa Catarina, Brasil. Tudo começou a par- nossos primeiros colonos italianos se especializaram no
tir da articulação e envolvimento de algumas famílias na preparo da farinha de milho. Os colonos alemães, por

130 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 131
MDA MDA

nada ao beneficiamento nas agroindústrias, cujo foco


de comercialização é o mercado formal. Outra parte é
destinada à venda in natura, atendendo especialmente
mento da Agreco tem certificação orgânica pela Ecocert.
Os produtos são elaborados com matéria-prima própria.
Os vegetais são processados frescos, logo após a colheita
Plano fomenta a produção orgânica
ao mercado institucional.
Pioneiros em Alimentação Escolar Orgânica
Em junho de 2001, em uma reunião para formação
para preservar as propriedades e sabor dos alimentos.
A área de produção da Agreco fica integrada com a
Mata Atlântica preservada, garantindo um ambiente
e de base agroecológica nas políticas
do Fórum da Economia Solidária, foi elaborado um pré-
-projeto que previa a compra, pelo Estado, de produtos
da Agreco para a alimentação escolar. Imediatamente
favorável para a prática da Agroecologia. São diversas
atividades desenvolvidas de forma integrada para dina-
mizar o resultado das criações e lavouras e produzir ali-
voltadas para a agricultura familiar
aceito pelo Governo do Estado de Santa Catarina, dois mentos saudáveis e saborosos, como:

C
meses depois, 1.075 alunos (90% deles do Maciço do –– Açúcar orgânico e melado de cana orgânico om o objetivo de ampliar e efetivar ações para Conceitos
Morro da Cruz) da Escola Básica Lauro Muller recebiam –– Atomatados orgânicos orientar o desenvolvimento rural sustentável,
na escola as refeições elaboradas com os produtos orgâ- –– Conservas orgânicas impulsionado pelas crescentes preocupações Sistema orgânico de produção é aquele em que se
nicos da Agreco. –– Doces e geleias orgânicos das organizações sociais do campo e da floresta e da so- adotam técnicas específicas, conforme as normas
A escola de Educação Básica Lauro Muller foi pionei- –– Frango orgânico ciedade em geral, a respeito da necessidade da produção estabelecidas pela Lei nº 10.831/2003.
ra na adoção de alimentação escolar orgânica em agosto –– Linha de alimentos prontos para servir de alimentos saudáveis com a conservação dos recursos
Produção de base agroecológica é aquela que
de 2001 e, nos dois dias por semana em que é servida, –– Linha Institucional Orgânica naturais, o Governo Federal lançou, em 2013, o Plano
busca otimizar a integração entre capacidade
os resultados se verificam na brusca queda da evasão –– Mel orgânico Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Brasil
produtiva, uso e conservação da biodiversidade e
escolar e no rendimento social e didático de alunos que –– Sucos orgânicos Agroecológico. Até este ano, deverão ser executadas 125
dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológi-
tinham problemas de subnutrição. iniciativas que contemplem a produção; o uso e conser-
co, eficiência econômica e justiça social, abrangi-
O sucesso desta parceria entre o Fórum do Maciço do Da Agreco à Cooperagreco vação dos recursos naturais; o conhecimento; a comer-
das ou não pela Lei nº 10.831/2003.
Morro da Cruz, Secretaria Estadual de Educação e a Agre- Um dos entraves encontrados pelos agricultores fa- cialização e o consumo – um total de R$ 8,8 bilhões que
co foi tão grande que, em três meses, outras oito escolas miliares quando iniciam atividades de transformação serão investidos até o final de 2015. Transição agroecológica é o processo gradual de
do Maciço entraram no programa. Até dezembro de 2002, ou industrialização de seus produtos relaciona-se à le- Nas últimas décadas, importantes avanços no cam- mudança de práticas e de manejo de agroecossis-
a alimentação escolar orgânica era servida em 26 escolas galidade do processo de comercialização. O uso da Nota po do conhecimento agroecológico e orgânico foram temas, tradicionais ou convencionais, por meio
da rede estadual da capital catarinense, 15 de Criciúma e Fiscal de Produtor Rural é restrito à comercialização de conquistados, integrando a ciência aos saberes tradicio- da transformação das bases produtivas e sociais
20 de Itajaí. Elas recebiam os produtos das Encostas da produtos in natura e a relação com os compradores da- nais dos agricultores, assentados da reforma agrária, e do uso da terra e dos recursos naturais, que
Serra Geral para preparar a alimentação escolar. va-se entre cada agricultor e o comprador, e não entre dos povos e comunidades tradicionais. Isso refletiu em levem a sistemas de agricultura que incorporem
Atualmente a Agreco comercializa para 182 institui- este e a Agreco. diversas ações de políticas públicas nas áreas do ensino princípios e tecnologias de base ecológica.
ções, distribuídas em 12 municípios do Estado de Santa Com a verticalização da produção e a necessidade de superior e profissionalizante, no direcionamento da pes-
Catarina, destacando-se o Restaurante Universitário da fortalecer a organização, esse modelo de comercialização quisa e nos métodos e metodologias da extensão rural,
Universidade Federal de Santa Catarina e a rede pública passou a ser inadequado, e a Agreco buscou novas es- bem como na ampliação das técnicas e tecnologias de Formação
de ensino do município de São José/SC, que adquire cer- tratégias para a realização desse processo. Inicialmente suporte à transição agroecológica. A escassez de profissionais com conhecimento em
ca de 50% dos alimentos consumidos pelos estudantes. criou-se uma microempresa, porém a demanda do mer- O Brasil Agroecológico é, então, fruto de uma am- agroecologia e na produção orgânica dificulta que os
Em 2014, no PNAE com prefeitura de Florianópolis cado institucional – que vinculou a aquisição de alimen- pla discussão entre governo e sociedade civil e responde agricultores tenham acesso a assistência técnica necessá-
foram comercializados 12 toneladas de filé de peito e 15 tos à existência de uma cooperativa – e o aumento da como as diretrizes iniciais para o desenvolvimento da ria a este tipo de produção.
de sobrecoxa, mais 50 toneladas de hortaliças e frutas e cultura cooperativista entre os associados, levou então à produção orgânica e agroecológica no País, tendo como “A inclusão e o incentivo à abordagem da agroecolo-
produtos não perecíveis como doce e molho de tomate. criação da Cooperagreco. base a Política Nacional de Agroecologia e Produção gia e dos sistemas orgânicos de produção, nos diferentes
No PAA Compra Institucional, com o no Grupo Hos- Atualmente são produzidas grande variedade e quan- Orgânica (Pnapo), instituída pelo Governo Federal, em níveis e modalidades da educação e ensino, represen-
pitalar Conceição do RS, em uma chamada publica de tidade de alimentos orgânicos que são comercializados agosto de 2012. tam alguns dos principais desafios a serem superados
compra de vegetais minimamente processados. pela Cooperagreco na Alimentação Escolar, restaurantes Dos R$ 8,8 bilhões que serão investidos no Brasil no Plano. Há necessidade de ampliação dos processos
e lojas nos Estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Distri- Agroecológico, R$ 7 bilhões vão ser utilizados na garan- de formação de professores e educadores; de orientação
Agreco Produtos Orgânicos to Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, tia de crédito para o financiamento da produção, quer nos projetos pedagógicos dos cursos para os princípios e
A linha Agreco tem mais de 65 produtos orgânicos Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, seja por meio do Programa Nacional de Fortalecimento diretrizes da agroecologia para a produção orgânica e de
com garantia de origem. Toda a produção e processa- Rondônia, Santa Catarina e São Paulo. ◆ da Agricultura Familiar (Pronaf) quer seja pelo Plano base agroecológica; de ampliação de acesso aos cursos,
Agrícola e Pecuário. permitindo a inclusão das populações do campo e da

132 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 133
MDA MDA

floresta; de integração dos cursos de agroecologia com a dação de tecnologias inovadoras, no ensino contex- Mapa demonstrando as Chamadas de Ater Sustentabilidade e agroecologia Mapa demonstrando as Chamadas de Ater Agroextrativismo
educação do e no campo; e de iniciativas concretas para tualizado e na assessoria aos agricultores familiares,
reconhecimento dos cursos profissionalizantes em agro- assentados da reforma agrária, povos e comunidades Água ainda ser ampliados.Já as compras governamentais têm
ecologia por conselhos profissionais,” Cássio Trovatto, tradicionais em todo país, se coloca hoje como uma A garantia do acesso à água para todos também é tido um crescimento sistemático da participação de pro-
coordenador-geral de Formação do MDA. vantagem significativa na ampliação dos sistemas or- uma das metas previstas no plano, por meio do progra- dutos de base agroecológica, permitindo o pagamento de
Pensando nisso, o Brasil Agroecológico trouxe, ainda, gânicos e de base agroecológica.” ma Segunda Água, que capta a água da chuva em pro- até 30% de prêmio para esses produtos, como acontece
investimentos em educação, totalizando R$ 97 milhões priedades familiares para uso agroecológico. Ao todo, no PAA e Pnae. No PAA, houve ainda um aumento no
de recursos executados em 2013/2014, com 45.295 ma- Mulheres serão implantadas 60 mil unidades de tecnologias sociais limite de vendas. Só para a modalidade Compra Institu-
trículas em cursos relacionados à agroecologia ou pro- A Política Setorial de Ater para Mulheres é parte da de acesso à água. cional, o limite passou de R$ 8.000,00 para R$ 20.000,00
dução orgânica. Pnater que, a partir de 2010, lançou oito chamadas públi- Veja os resultados da universalização do acesso ao por órgão comprador/ano,” afirma Trovatto. ◆
cas de Ater específicas para mulheres, com foco no for- programa:
Redes de Ater talecimento da produção agroecológica. Ao todo, 6.300
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) mulheres foram beneficiadas. Regulamentação da produção orgânica
vem integrando novos conceitos e diretrizes nos serviços Quando do lançamento do Brasil Agroecológico, ou- A regulamentação da produção de orgânicos no Bra-
de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), direcio- tras quatro foram lançadas resultando em 4.960 mulhe- sil teve avanços significativos a partir da publicação da
nando o foco para a agricultura familiar e à promoção res beneficiadas em 19 Territórios da Cidadania, totali- Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, e do Decreto
do desenvolvimento rural sustentável. Desde 2003, a te- zando investimento no montante de R$ 15 milhões. nº 6.223, de dezembro de 2007, que dispõem sobre a pro-
mática de agroecologia foi incorporada nos princípios, dução orgânica. O documento estabeleceu um grande
normas e objetivos da Política Nacional de Assistência Ecoforte avanço sobre o ponto de vista dos mecanismos de con-
Técnica e Extensão Rural (Pnater), sendo capacitado um O programa Ecoforte também integra o Brasil Agro- trole necessários para assegurar ao consumidor a qua-
conjunto significativo de técnicos para atuarem com en- ecológico. O objetivo é desenvolver ações conjuntas que lidade do produto orgânico. Ele prevê três mecanismos
foque sustentável. fortaleçam e ampliem redes, cooperativas e organiza- para garantir a qualidade orgânica.
Entre 2013 e 2014, foram realizadas chamadas de ções socioprodutivas e econômicas de agroecologia,
Ater específicas para agroecologia, sustentabilidade, ex- extrativismo e produção orgânica, em complementação Comercialização Mapa com a quantidade de Unidades Produtivas familiares beneficiadas por município
trativismo e pesca. às ações previstas no Plano Nacional de Agroecologia e A produção orgânica e de base agroecológica tem
Para Trovatto, “as redes de Ater já estruturadas no Produção Orgânica. sido comercializada por intermédio de diversos canais
Brasil constituem importante patrimônio para a con- Um total de R$ 46 milhões estão previstos para am- de distribuição, entre eles as feiras locais e as compras
solidação e expansão da agroecologia. O conjunto de pliar e fortalecer a produção, manipulação e processa- institucionais, por meio dos programas de Aquisição de
organizações governamentais e não governamentais mento de produtos orgânicos e de base agroecológica, Alimentos (PAA) e o de Alimentação Escolar (Pnae).
do campo agroecológico, que desenvolve importantes por meio de financiamentos e subvenções econômicas “Uma parte significativa da expansão da distribuição
trabalhos de construção do conhecimento e de vali- bancarizadas ou não. desses produtos tem sido feita em feiras locais, das quais
não se tem informação sobre número de produtores en-
Chamada Agroecologia Chamada Sustentabilidade Chamada Extrativismo Chamada Pesca Total volvidos, quantidade e valor da produção comercializa-
Famílias atendidas 42.610 63.340 26.054 740 132.744 da. O apoio sistemático que tem sido dado aos grupos
Recursos executados (R$) 130 milhões 189 milhões 4,33 milhões 1,25 milhões 324 milhões organizados em torno desses equipamentos que devem

134 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 135
MDA MDA

MDA investe em parceria para


levar inovação tecnológica
para agricultores familiares
I
ncentivar projetos de inovação tecnológica para a liares, 10 mil técnicos e 13,5 mil estudantes que participa- Agronomia da UFRGS. A proposta era desenvolver junta- va de Citricultura Ecológica (Ecocitrus) e à Associação
construção e socialização de conhecimentos em ram destes, além do uso de metodologias participativas e mente com os agricultores, estudantes e pesquisadores uma Companheiros da Natureza, também de citricultura eco-
agroecologia. Com esse objetivo o Ministério do o desenvolvimento e a validação de tecnologias baseadas metodologia de adequação da tecnologia de controle de lógica. Contou com a participação direta de seis bolsistas
Desenvolvimento Agrário (MDA) através da Secretaria de nos princípios da agroecologia e do desenvolvimento rural fungos, ou seja, trabalhar o controle biológico. A pesquisa de graduação, dois de mestrado e um de doutorado, e in-
Agricultura Familiar (SAF), do Departamento de Assis- sustentável, de forma integrada com as políticas do MDA. participativa focou, especialmente, nos cultivos de berga- direta de outros seis estudantes ligados a outros grupos
tência Técnica e Extensão Rural (DATER), e da Coorde- Foram proponentes nos editais as instituições públi- mota montenegrina, variedade de principal valor econômi- de agroecologia da Faculdade.
nação de Inovação e Sustentabilidade em parceria com o cas de ensino superior, de pesquisa e assistência técnica co para os agricultores e com maior incidência da doença. Participaram, ainda, professores pesquisadores da
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- e extensão rural. O processo refletiu na comercialização dos frutos e Faculdade de Agronomia e da pós-graduação em Desen-
nológico (CNPq), está fomentando três editais (Edital Nº resultou em melhores preços no mercado. Além disso, volvimento Rural e Fitotecnia. Também envolveu como
81/2013, 38 e 39/2014) que têm como público prioritário Perspectivas para 2015 e 2016 promoveu outros ganhos para os agricultores como o instituições parceiras a Empresa de Assistência Técnica
os agricultores familiares. O investimento em pesquisas e Para o CNPqt, a prioridade é a sistematização dos Nú- empoderamento dos processos de experimento de novas e Extensão Rural do estado, (Emater/Ascar) e a Empresa
em estudos está sendo de R$ 17 milhões para 100 projetos. cleos de Agroecologia dos Editais Nº 81/2013, 38/2014, tecnologias, capacitação em diversos temas relacionados de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
As ações de inovação tecnológica e formação dos editais 39/2014, que será realizado pelo projeto Nacional de Sis- à agroecologia e apropriação dos resultados dos estudos O projeto atendeu seus objetivos iniciais de desen-
estão integradas ao Programa Nacional de Inovação e Pro- tematização da UFV. realizados pelo Grupo de Citricultura Ecológica da Uni- volvimento e adequação de inovação tecnológica para
grama Nacional de Formação de agentes de Ater do MDA. As ações fomentadas com o CNPq estão em diálogo versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). a agricultura familiar. O retorno para os agricultores
A expectativa de formação nestes três editais é de com o Programa Nacional de Inovação e Programa Na- Um dos beneficiados pela pesquisa foi o agricultor e bi- aconteceu por meio da adaptação do controle biológico
aproximadamente 30 mil agricultores familiares, 2 mil cional de Formação de Agentes de Ater e são extrema- ólogo Luís Carlos Laux. Para ele, é essencial que a informa- no combate a pinta preta do citros.
técnicos e 2,5 mil estudantes participantes nos 100 pro- mente importantes para a formação de Agentes de Ater, ção esteja onde há problemas. “O projeto inovou trazendo Para a universidade, pode ser percebido tanto nos
jetos de extensão, ensino e pesquisa. estudantes e professores e, fomento a inovações tecnoló- o estudante para pesquisar e discutir na propriedade, e relatos dos estudantes bolsistas do projeto, que afirma-
Os editais têm suas bases na Política Nacional de gicas e metodológicas para a agricultura familiar. levou o agricultor para a universidade, para o laboratório ram que o projeto despertou-os não somente para o tra-
Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) e na para entender os processos e os limites dos experimentos, balho com a agricultura familiar como também formou
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica Manejo Agroecológico da Pinta Preta dos e assim eles também começam a ajudar na pesquisa. Essa um profissional diferenciado, criativo e interessado em
(PNAPO) e no Plano Nacional de Agroecologia e Produ- Citros transparência que levou ao envolvimento”, explica. novas metodologias de pesquisa e em novos meios de
ção Orgânica (PLANAPO). O trabalho desenvolvido pelo projeto “Desenvolvimento fazer ciência.
De 2004 a 2010 o MDA fomentou sete editais englo- Participativo do Manejo Agroecológico da Pinta Preta dos Panorama Além disso, houve a consolidação do núcleo de pes-
bando 572 projetos e os resultados encontrados foram a Citros em Comunidades do Vale do Caí-RS”, surgiu em 2007 A pesquisa envolveu diretamente 114 agricultores quisa e extensão denominado Rede Orientada ao Desen-
formação de aproximadamente 160 mil agricultores fami- dentro do Grupo de Citricultura Ecológica, da Faculdade de familiares produtores de citros, associados à Cooperati- volvimento da Agroecologia (Roda). ◆

136 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 137
MDA MDA

DIVULGAÇÃO
Ainda de acordo com Kasper, os contratos foram
renovados para este ano e novos estão previstos. “A Bio-
fach é o espaço de continuidade e melhoria nas possibi-
lidades de negócios, já que boa parte das empresas nos
procura na Biofach”.

Organização
As geleias, doces, sucos e cerveja feitos com frutas da
Caatinga e produzidos por uma cooperativa baiana tam-
bém são exemplos de como a organização produtiva alia-
da às políticas públicas pode render bons frutos. Com
o incentivo do Programa Nacional de Fortalecimento

Cooperativas da
da Agricultura Familiar (Pronaf), o PAA e a Assistência
suco concentrado tem venda garantida aos mercados Técnica e Extensão Rural (Ater), do Governo Federal, a
institucionais. Para o gerente de Relações Institucionais Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá
da cooperativa, Ernesto Kasper, as políticas públicas fo- e Curaçá (Coopercuc) utiliza frutas da vegetação nativa
ram muito importantes para o aumento de renda dos baiana para melhorar a qualidade de vida e aumentar a

agricultura familiar
cooperados. “São programas muito estratégicos e que renda dos produtores.
atendem perfeitamente a agricultura familiar. No come- A sede da Coopercuc fica em Uauá, município do
ço, tínhamos muita dificuldade em comercializar para as nordeste baiano, mas conta com 18 unidades de bene-
grandes redes de supermercado, que exigiam um volume ficiamentos espalhadas também em Canudos e Curaçá

investem na
de produção muito grande. Por isso, focamos nossa pro- (BA). Maria Leide Rodrigues da Silva, conhecida como
dução de frutas no PAA e PNAE e tivemos um excelente Leda, é uma dessas cooperadas. Aos 43 anos, ela nasceu
retorno”, destaca. e se criou no campo, onde mora com o marido e um casal
A Ecocitrus já participou sete vezes da Biofach, a de filhos. “Todas fazem de tudo, mas a gente reveza o

fruticultura
maior feira de produtos orgânicos do mundo. Por meio trabalho. Num dia, uma fica dentro da cozinha e a outra
dos negócios iniciados no evento, já firmou contratos fica do lado de fora mexendo com os potes e por aí vai.
para a exportação de sucos cítricos e óleos essenciais Dependendo da produção no período das safras das fru-
para empresas europeias. No ano passado, comercia- tas, as cooperadas conseguem tirar, no total, cerca de R$
lizou R$ 1.8 milhão em óleos essenciais e sucos con- 3,5 mil”, revela a agricultora familiar.
centrado e integral. “As empresas que temos relações Para o presidente da Coopercuc, Adilson Ribeiro, a

C
oloridas, saudáveis e com aroma de dar água compras governamentais do Governo Federal, como o comercias, estão sediadas na França e Alemanha, mas criatividade aplicada no campo é um dos diferenciais da
na boca. Com a atuação de cooperativas da Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Nacional como fazem a distribuição, os produtos podem estar cooperativa. Atualmente, o produto de maior destaque é a
agricultura familiar, a fruticultura tem con- de Alimentação Escolar (PNAE). em vários países, principalmente em relação aos óleos cerveja de umbu. “Estamos em fase de teste, mas a aceita-
quistado novos mercados e ganhado a mesa dos brasi- Um bom exemplo é a Cooperativa dos Citricultores essências, pois são ingredientes para muitas possibili- ção é muito boa. Já apresentamos em algumas feiras e pre-
leiros. Quando os agricultores familiares se organizam Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus), do Rio Grande do dades como cosméticos, limpeza, bebidas, farmacêuti- tendemos exportar. Tem tudo pra dar certo”, acredita. Eles
em cooperativas em associação têm mais facilidades em Sul. A cooperativa comercializa parte da produção dos ca”, afirma Ernesto Kasper, gerente de Relações Institu- já apresentaram a cerveja na Itália e estão em negociação
agregar valor à produção e acessar aos programas de sucos integrais e reconstituídos para supermercados. O cionais da Ecocitrus. para levar esse e outros produtos para a Alemanha. ◆

138 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 139
MDA MDA

mais cooperativa e solidária”, afirma o diretor do progra- Sobre o programa


ma do MDA, Lucas Ramalho. O Mais Alimentos Internacional foi criado pelo Go-
O Zimbábue foi o primeiro a receber as máquinas verno Federal em 2010 para financiar a compra de má-
do programa, em 2014. Foram 320 tratores e mais de quinas e equipamentos agrícolas para outros países, em
7 mil implementos e equipamentos agrícolas, expor- especial os do continente africano e da América Latina
tados pela indústria brasileira, para ajudar os agricul- e Caribe. Dessa forma, o programa ajuda no combate à
tores familiares do país africano. Para o embaixador fome e no desenvolvimento rural dessas nações. As con-
do país, Thomas Bvuma, a parceria é um exemplo a dições de crédito são facilitadas. Os países têm até 15

Mais Alimentos
ser seguido em todo o mundo. “O programa é muito anos para pagar os empréstimos, com três anos de ca-
importante para nós, porque a agricultura é a base da rência e juros de 2% ao ano.
nossa economia. É o setor que emprega a maioria da

Internacional:
população”, destaca. Países que participam do programa:
O programa conta com a participação de mais de 500 Zimbábue
empresas brasileiras, destas, 30 já estão exportando para Moçambique

contribui para
os países parceiros (Zimbábue, Moçambique, Senegal, Senegal
Gana, Quênia e Cuba). Em 2015, o programa ampliará Gana
a quantidade de empresas exportadoras e aumentará o Quênia

desenvolvimento
número de países participantes, tanto no continente afri- Cuba
cano quanto na América Latina e Caribe.

da agricultura
familiar de
outros países e
aquece indústria
nacional
A
lém de promover o desenvolvimento de etapa das exportações, cerca de 3 mil tratores sejam
outros países, o Mais Alimentos Interna- comercializados. Além disso, mais 63 mil equipamen-
cional estimula significativamente o par- tos e máquinas agrícolas também serão usados em la-
que industrial de máquinas e equipamentos agrícolas vouras de países cooperantes.
brasileiros. Em 2014, o governo brasileiro aprovou “O interessante dessa iniciativa é que o Brasil assume
120 milhões de dólares em exportação por meio do o protagonismo, na condição de sétima maior economia
programa. A previsão é de que, apenas na primeira do mundo, de uma nova forma de inserção mundial,

140 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 141
MDA MDA

Piccin é uma A
Piccin Máquinas Agrícolas atua no mercado como fornecedor do Brasil,” explica o responsável pelas
de implementos, com foco no preparo do exportações da empresa, Mike Garcia. Os equipamentos
solo há mais de 50 anos. Localizada em São foram entregues em outubro de 2014 no Zimbábue, sen-
Carlos/SP, a empresa possui um núcleo administrativo do que uma equipe técnica da Piccin acompanhou o pro-

das primeiras a
familiar e está presente em 27 estados brasileiros e ex- cesso a fim de prestar uma capacitação técnica às pessoas
porta para 42 países. que iriam manipular os implementos junto ao Ministério
Na linha de produtos estão grades aradoras, nivela- da Agricultura daquele país.
doras, subsoladores, distribuidores de adubo orgânico e “Nossas expectativas para este ano são grandes, pois

comercializar pelo Mais


granulado, carretas transportadoras e arruadores para fomos os primeiros a embarcar e acreditar no projeto.
café. A produção média é de 650 produtos por mês. Temos um grande potencial para 2015,” diz.
A empresa foi uma das primeiras a comercializar Mesmo assim, Garcia acredita que o programa saiu
pelo Mais Alimentos Internacional, programa do gover- da incubadora, mas que precisa mais dinamismo para
no federal, desenvolvido com o intuito de incentivar as impulsionar ainda mais as exportações brasileiras. “So-

Alimentos Internacional exportações das indústrias brasileiras da área de imple-


mentos agrícolas. Até o momento participam do progra-
ma países da África e Cuba.
A primeira venda internacional realizada pelo pro-
grama foi para Zimbábue, na África, quando foram en-
mos um país que fabrica os melhores implementos agrí-
colas do mundo, pela durabilidade e precisão, só que
agora precisamos de mais dinamismo dos órgãos gover-
namentais e associações de indústrias de máquinas para
nos apoiar para que estes implementos venham a atingir
tregues 80 grades aradoras de controle remoto (GACR) e outros países,” explica. Ele acrescenta que nas maiores

DIVULGAÇÃO
30 distribuidores de calcário (MASTER 2500) que bene- feiras do ramo realizadas no Brasil – Agrishow, Show Ru-
ficiaram mais de 200 famílias. ral Coopavel e Expodireto Cotrijal – cada vez mais apa-
Inicialmente as delegações dos países interessados recem clientes internacionais, quando são conhecidas as
conhecerem as fábricas brasileiras, que puderam apre- necessidades que eles têm.
sentar suas propostas para oferecer seus produtos. Nos países que adquiriram os produtos brasileiros, os
“Posteriormente fomos escolhidos dentro do processo equipamentos são financiados para os pequenos e mé-
para uma exportação que englobava US$ 98 milhões, dos dios agricultores pelos seus governos com baixo custo,
quais tivemos uma participação do valor bastante consi- já que o objetivo é o desenvolvimento agrário e da cadeia
derável. Fomos escolhidos para fazer o primeiro tranche alimentar daquelas nações. ◆

Delegação do Zimbábue em visita à fábrica

142 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 143
MDA MDA

O tamanho
do Brasil Cláudio Affonso Amoretti Bier, Presidente do SIMERS - Sindicato da Indústria de Máquinas e
Implementos Agrícolas no estado do Rio Grande do Sul.

P
ara nós, brasileiros, o Brasil é grande por nova área equivalente de 69 milhões de hectares de terra Mas não apenas no mercado dessas commodities nós base diversificada de produtos compatíveis com a escala
muitas razões, o sabemos com orgulho da agricultável, caso fossem mantidos os mesmos padrões nos destacamos mundialmente. A própria produção das de produção dos pequenos agricultores.
nossa história. tecnológicos de 1990. nossas máquinas e equipamentos agrícolas se tornou No segmento de Máquinas e Implementos Agrícolas,
Particularmente, para nós que fabricamos máqui- Produzir mais preservando o meio ambiente. Isso é também objeto da demanda mundial: hoje somos con- o Rio Grande do Sul concentra 54% do valor em vendas
nas e equipamentos agrícolas, a grandeza do Brasil nos coisa para poucos. siderados a maior potência tecnológica em agricultura de tratores agrícolas, inclusive motocultivadores, comer-
é também plausível pela pujança do nosso agronegócio, Naturalmente que os ganhos de produtividade têm a tropical do mundo! cializados no País, se colocando como o principal estado
que além de garantir a segurança alimentar da nossa ver com o avanço tecnológico alcançado por nossas en- Neste contexto de desenvolvimento do agronegócio da Federação. Detém 460 estabelecimentos (27%) de um
população gera excedentes para abastecer o mundo de tidades de pesquisa, a EMBRAPA à frente, seja nos cam- brasileiro, emergiu com muita força, especialmente a total de 1.678 no Brasil.
comida e matérias primas. Inda mais se pensarmos a de- pos da biotecnologia, quanto nos campos da química partir da década passada, um segmento que tem mar- O SIMERS, Sindicato da Indústria de Máquinas e Im-
manda futura no planeta, no horizonte de 2050, quando fina e também na indústria de base mecânica. cado a evolução da nossa indústria de máquinas agrí- plementos Agrícolas no estado do Rio Grande do Sul, é
a terra comportará nove bilhões de pessoas. Particularmente nessa última, os avanços também colas: a agricultura familiar. Detentora de um acervo porta-voz de um quadro de associados com 172 unida-
Exemplos não nos faltam: o Brasil é grande porque é foram primorosos. produtivo de mais de 4,3 milhões de estabelecimentos des industriais. Com mais de 35 anos de fundação, re-
o primeiro produtor mundial em suco de laranja, açúcar, A inovação tecnológica produzida por nossas indús- agropecuários, cerca de três quartos do total no País, presenta fabricantes tanto para agricultura, tais como:
café; o segundo em soja, carne bovina, o terceiro em mi- trias permitiu uma competição equilibrada do agronegó- ocupando 24% da área produtiva, respondendo por equipamentos para plantio, tratos culturais, colheita,
lho, em carne de frango, etc. cio brasileiro com os grandes players do mercado inter- 74% do número de ocupações no campo e 38% do valor beneficiamento, armazenagem; como para a pecuária,
Acresça-se que o nosso agronegócio, além de repre- nacional de commodities agrícolas. bruto da produção. tais como: equipamentos para bovinocultura de leite, de
sentar 22% do nosso PIB, assegura 33% nos empregos Um exemplo concreto é a incorporação permanente Essa agricultura familiar é também responsável por corte, avicultura, suinocultura, etc.
formais. Nos últimos cinco anos até 2013, ampliaram-se de novas tecnologias como a da agricultura de precisão, 69% do Feijão, 88% da mandioca, 44% da batata, 56% do E através, especialmente, da adesão ao progra-
os seus saldos comerciais, passando de US$ 55 bilhões que hoje está embarcada em seus produtos, independen- leite, 47% do milho, 49% do tomate, 70% do frango, 62% ma Mais Alimentos do Governo Federal, criado e
para US$ 83 bilhões, alcançando 227 países e um mon- temente da escala de produção em que se dá a sua apli- da banana, 75% da cebola, 62% da uva, 51% dos suínos, implantado em 2008, o SIMERS é parceiro de pri-
tante exportado de US$ 100 bilhões. cação. Outro exemplo, já reconhecido mundialmente, é o 30% do café, 35% do arroz, 21% do trigo, 17% dos ovos e meira hora da agricultura familiar, emprestado toda
É lugar comum disser-se que o Brasil será celeiro do da tecnologia do Plantio Direto na Palha, que preconiza a da soja, de tudo que é produzido no Brasil. sua experiência em apoio aos pequenos agricultores,
mundo. E, de fato, o será! manutenção do solo coberto o ano todo com palhada ou Que outro país tem um segmento de pequenos agri- que garantem a comida diária na mesa de milhões
E isso terá sido possível, graças aos ganhos de produ- plantas vivas. Isso exigiu o desenvolvimento de máqui- cultores com tanta força? de brasileiros.
tividade: nos últimos vinte e cinco anos, a produção da nas de plantio que superasse esse material, rompendo-o, E para servir tecnologicamente a toda essa força re- Modestamente, assim, podemos dizer que as nossas
agricultura brasileira cresceu 223% contra apenas 41% e propiciasse a aplicação de sementes e adubos nas quan- presentada pela agricultura familiar, a indústria de má- fábricas contribuem para a grandeza do Brasil, indepen-
da área plantada. Significa que se deixou de “abrir” uma tidades necessárias. quinas e equipamentos gaúcha está presente, com uma dente das conjunturas. ◆

144 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 145
MDA MDA

AGCO A Jacto Agrícola e o Mais


Empresa presente na continuidade
do Mais Alimentos Internacional Alimentos Internacional
C
om a filosofia de jamais abandonar, a própria “A Jacto exporta efetivamente para mais de 100 paí-
sorte, o agricultor que utiliza seus produtos, ses. A habilitação da empresa no Mais Alimentos Inter-

A
AGCO é referência na comercialização de Delamare ressalta que o Mais Alimentos Internacio- a Jacto que é uma empresa comprometida e nacional foi um grande desafio e conseguir pedidos dos
tratores e outros maquinários agrícolas para nal representa a oportunidade de conhecer mais e melhor parceira do homem do campo, atende as necessidades países participantes do programa é uma resposta positi-
o Programa Mais Alimentos por meio de suas as necessidades do continente africano no setor agrícola, do pequeno ao grande agricultor. va ao direcionamento de empresa,” diz o gerente regional
marcas que oferecem experiência, conquista tecnológica, bem como participar do crescimento do agronegócio. A empresa possui uma profunda ligação com a agri- Latino América, José Emilio de Castro Filho.
mais eficiência em trabalhos pesados e baixo custo ope- “Estamos oferecendo todo o suporte técnico (treinamen- cultura familiar. Durante anos liderou o mercado com a No atual momento, os produtos exportados para o
racional - fatores essenciais para a agricultura familiar. to, assistência ao pós venda) aos nossos produtos com polvilhadeira, que por muito tempo foi o principal pro- Zimbábue e Moçambique, segundo o coordenador regio-
A iniciativa de levar o programa Mais Alimentos para a finalidade de ver esse programa também vitorioso na duto da Jacto. Além do modelo costal, havia o modelo nal para a Ásia, África, Europa e Oceania, Clóvis Basta
Gana, Senegal e outros países, resultou do sucesso desse África”, acrescenta. motorizado sobre rodas. Eram destinadas a inseticidas Beraldo, são os pulverizadores costais e o Arbus 200.
programa no Brasil. Para 2015, a empresa tem a 2ª etapa do programa e em pó para o combate de pragas e doenças do algodão, O Mais Alimentos Internacional representa um reco-
O tipo de agricultura praticada nos outros países é tam- serão contemplados os seguintes países: Zimbábue, Mo- amendoim, café, feijão, milho, soja e trigo. nhecimento da marca Jacto, como especialista em pulve-
bém familiar e, muitas vezes, de subsistência. O programa, çambique, Gana, Senegal e Quênia. A AGCO, por meio Hoje, com 67 anos de mercado a Jacto possui uma rização. “Significa que estamos no caminho certo, e isso
viabilizando que estes produtores obtenham equipamen- de suas marcas, Valtra e Massey Ferguson, estará presen- ampla linha de produtos: de pulverizadores cotais à au- nos motiva a buscar ainda mais qualidade e tecnologia
tos, oferece capacidade de produzir mais e em maior área, te na continuidade do Mais Alimentos Internacional. ◆ tomotrizes, colhedoras de café, adubadoras automotri- para seguir representando o Brasil no cenário interna-
além de erradicar a fome no país e no mundo. zes e a linha Otmis, com produtos para agricultura de cional,” afirma Beraldo.
Conforme o gerente de exportação AGCO, Francis- precisão. Produtos que conquistaram o mercado, nacio- A expectativa da empresa é exportar em 2015, den-
co Delamare, o que motiva a AGCO, por meio de suas nal e internacional. tro do Mais Alimentos Internacional para outros países

DIVULGAÇÃO
marcas Valtra e Massey Ferguson, a participar do Mais Habilitada nos programas governamentais Mais Ali- da África que já estão cadastrados no programa. ◆
Alimentos Internacional são vários aspectos, como a mentos e Mais Alimentos Internacional, a Jacto vem ex-
abrangência mundial, ou seja, o Brasil juntamente com portando seus produtos dentro do programa para países
seus fabricantes estará ajudando a África a produzir ali- como Zimbábue e Moçambique.
mentos em escala e, consequentemente, diminuindo a
fome. Além disso, os produtos em razão da similaridade
climática com a África estão preparados e adequados a
essa região não necessitando desenvolvimento especial.
“Estar na África, considerada o próximo celeiro mundial
na produção de alimentos, é estratégico para o futuro da
empresa. A AGCO, por meio de sua experiência nesse
continente e, em parceria com o governo federal MDA,
está ajudando a expandir o bem sucedido programa
Mais Alimentos nacional, no âmbito externo”, diz.
Através do programa, para Gana são disponibilizados
288 tratores Valtra A750 e 150 MF4265, da Massey Fer-
guson. Já para o Senegal, são disponibilizados 116 trato-
res A750 e três colheitadeiras BC4500, ambos da Valtra.
Mas além disso, a empresa também está em fase de ne-
gociação para o envio de seus produtos para o Quênia. Gerente de exportação AGCO, Francisco Delamare

146 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 147
MDA MDA

L
ançado pelo governo federal, o Plano Safra da Pronaf agroecologia
Agricultura Familiar 2014/2015 – Alimentos Possibilita crédito para custeio de sistemas de produ-
Para o Brasil está há mais de uma década con- ção agroecológica e orgânica, com taxas diferenciadas de
solidando as políticas públicas que estão mudando a vida 1% ao ano para produtores que querem investir na tran-
de quem mora no campo. sição agroecológica.

Plano Safra da
Nesse período, a agricultura familiar passou a contar
com recursos cada vez maiores para financiamento, as- Pronaf Jovem
sistência técnica qualificada e mecanismos de segurança Ampliação do limite de acesso de uma operação de
e proteção da produção e da renda. A qualidade de vida R$ 15 mil para três operações de até R$ 15 mil. Micro-
de agricultores hoje é maior, a produção aumentou e crédito Produtivo Orientado (Pronaf B) com ampliação
mais alimentos chegam à mesa dos brasileiros. do limite de R$ 3,5 mil para R$ 4 mil por operação, com

Agricultura Familiar
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento bônus de adimplência de 25%. Oferece ainda bônus de
Agrário, nesta safra, o crédito ofertado para a agricultu- 40% para agricultores familiares dos municípios em situ-
ra familiar é dez vezes maior do que o contratado há 12 ação de emergência pela seca do Semiárido.
anos. Saltou de R$ 2,3 bilhões, em 2002/2003, para R$
24,1 bilhões – 14,7% superior ao da safra passada. Mais produção nos assentamentos
O Plano, de acordo com a Cartilha do MDA, estimula Nos assentamentos da reforma agrária vive uma
O crédito ofertado é dez vezes maior do que o contratado há 12 anos. ainda mais a produção de alimentos, busca a garantia de parcela significativa da agricultura familiar: cerca de
renda ao produtor e a estabilidade de preços ao consumi- 1 milhão de famílias. A qualificação dessas áreas e sua
Saltou de R$ 2,3 bilhões, em 2002/2003, para R$ 24,1 bilhões – 14,7% dor. Além disso, insere milhares de assentados da refor- integração na dinâmica produtiva da agricultura fami-
superior ao da safra passada ma agrária em novas rotas produtivas, cria medidas de liar dos territórios em que estão inseridas é prioridade
crédito que consideram as diversidades regionais e ga- para o Governo Federal. Recentemente, a publicação da
rante apoio a sistemas agroecológicos. A assistência téc- Medida Provisória nº 636/2013 trouxe novas condições e
nica será ampliada ainda mais como instrumento para possibilidades concretas para que mulheres e homens as-

DIVULGAÇÃO
alavancar a produção de alimentos. sentados trilhem um novo caminho de desenvolvimento
sustentável em seus assentamentos.
Mais crédito A solução para o endividamento do passado: rene-
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul- gociação das dívidas de cerca de 1 milhão de famílias da
tura Familiar (Pronaf), principal política pública de fi- reforma agrária, permitindo-lhes acessar novos créditos
nanciamento da produção familiar, aumentou dez vezes produtivos; liquidação das dívidas do Pronaf A com des-
ao longo de 12 anos-safra. conto de 80% e renegociação com bônus de 50% na Região
O total de recursos disponibilizado foi de R$ 24,1 bi- Norte, e 45% nas demais regiões. As operações de liqui-
lhões (14,7% maior que a safra 2013/2014) e, também dação e renegociação podem ser feitas pela internet, por
houve a manutenção das condições e taxas de juros do meio da Sala da Cidadania Digital; remissão das dívidas de
Plano Safra 2013/2014. crédito instalação, concedido aos assentados da reforma
As novas medidas do Pronaf Produção Orientada são agrária, até o valor de R$ 10 mil por beneficiário. Acima
linha de crédito voltada para produção sustentável de de R$ 10 mil até R$ 12 mil, descontos de 80% para liqui-
alimentos, com foco nas regiões Norte, Nordeste e Cen- dação; e 50% para cada parcela paga até a data de venci-
tro-Oeste; direcionado para projetos de sistemas agro- mento pactuada.
florestais, convivência com o Semiárido, agroecologia e
produção de alimentos para abastecimento de centros Modelo sustentável de crédito
urbanos. A assistência técnica é garantida e financiada A nova sistemática de crédito para famílias da refor-
pelo crédito, com bônus de adimplência para pagamento ma agrária prevê ciclos progressivos e orientados de es-
de Ater no valor de R$ 3.300, a ser pago em três anos. O truturação produtiva, com assistência técnica em todas
limite de investimento é de até R$ 40 mil. as fases, agilidade na operacionalização (recursos rece-

148 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 149
MDA MDA

bidos diretamente pela família, por meio de um cartão) e necedores do Pnae, assim como as organizações produti- Pronaf mulher Pronaf jovem
articulação com outras políticas públicas. vas de mulheres rurais. O orçamento é de R$ 1,1 bilhão. Ampliação da operacionalização do microcrédito Ampliação do limite de acesso de uma operação de
Infraestrutura rural orientado para mulheres pelos agentes financeiros. R$ 15 mil para três operações de até R$ 15 mil.
Mais renda O Programa de Infraestrutura para Territórios Rurais
Segurança para quem produz (Proinf) apoia iniciativas de beneficiamento, armazena- Ater Gestão territorial
A agricultura familiar conta com programas e políti- mento e de comercialização de produtos. Além disso, 50% de atendimento para as mulheres, com a am- Plano Safra Territorial
cas que garantem renda, trazendo mais segurança para estruturação e qualificação de serviços públicos locais pliação das ações de divulgação sobre o crédito buscan- Gestão social do Plano Safra nos territórios, para
investir e aumentar a produção. ou estaduais de armazenamento, transporte, comercia- do efetivar 30% do total de contratos do Pronaf para as efetivação de políticas públicas e promoção da inclusão
lização e outros, sendo que o valor disponibilizado é de mulheres. produtiva, com ênfase em assistência técnica, financia-
Novo seguro agrícola R$ 84 milhões. mento, infraestrutura e comercialização. Abrangência:
Mecanismo de proteção para agricultores familiares Acesso à cidadania para as mulheres 239 Territórios Rurais e da Cidadania.
que contratam financiamentos de custeio agrícola no Agroecologia Programa Nacional de Documentação da Traba-
âmbito do Pronaf. Passa a garantir 80% da receita bruta Para fortalecer a produção sustentável da agricultu- lhadora Rural: 220 mil documentos e 84 mil mulheres Convivência com o semiárido
esperada, com limite de cobertura da renda líquida até ra familiar, o Governo Federal apresenta medidas para atendidas e inclusão da Sala da Cidadania do Incra nos O Plano Safra da Agricultura Familiar 2014/2015
R$ 20 mil. Garantia-Safra Segurança para agricultores incentivar a transição agroecológica e contribuir para a mutirões de documentação. apresenta um conjunto de medidas focadas na promo-
de baixa renda que vivem em localidades atingidas por efetividade do Plano Brasil Agroecológico. ção da Convivência com o Semiárido e que compõem o
adversidades climáticas, especialmente o Semiárido. Juventude no campo segundo Plano Safra Semiárido.
Em caso de perda de pelo menos 50% da produção Pronaf agroecologia Acesso a terra
agrícola, as famílias recebem o benefício no valor de Garantia de custeio para sistemas de produção As mudanças nas regras do Programa Nacional de Crédito
R$ 850. Ampliação de 1,2 milhão para 1,35 milhão de agroecológica e orgânica, com taxas diferenciadas de Crédito Fundiário favorecem o acesso a terra para a ju- R$ 4,6 bilhões para o Nordeste e juros mais baixos na
agricultores beneficiários. 1% ao ano para produtores que querem investir na ventude, com a possibilidade de financiamento entre região semiárida; microcrédito Rural com aumento do
transição agroecológica. herdeiros e a revisão do perfil de renda, patrimônio e limite de R$ 3,5 mil para R$ 4 mil e bônus de adimplên-
PGPAF Mais prazo de financiamento, facilitando a sucessão rural. cia de 40% para municípios em situação de emergência;
Nesta safra, serão incluídas novas culturas na prote- PGPAF agroecologia novo Pronaf Produção Orientada para Convivência com
ção ampliada de preços do Programa de Garantia Preços Quando a produção for agroecológica, haverá adicio- Ater para juventude o Semiárido, investimento de até R$ 40 mil com Ater
para Agricultura Familiar (PGPAF): batata, batata-doce, nal de 30% sobre o valor do produto. Nova linha de Ater exclusiva e individualizada para gratuita financiada pelo crédito. Garantia-Safra para
cará, erva-mate, inhame, mandioca, mel, tomate e car- qualificação da produção e estímulo à permanência da 1,350 milhão de famílias R$ 1,3 bilhões disponibiliza-
ne de caprino e ovino. No Nordeste, a proteção também Mais Ater juventude no campo. Serão beneficiados 20 mil jovens dos para Compras Locais na Região Nordeste por meio
contemplará a produção de leite. O Programa assegura A Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) é uma na Safra 2014/2015. do PAA e do Pnae. ◆
desconto no pagamento do financiamento às famílias política essencial para aumentar a renda e a melhoria da
agricultoras que acessam o Pronaf Custeio ou o Pronaf qualidade de vida de agricultores familiares. Atualmen-
Investimento, em caso de baixa de preços no mercado. te, 673 mil famílias da agricultura familiar e dos assenta-

DIVULGAÇÃO
mentos da reforma agrária são atendidas. Com a Agência
Programa de Aquisição de Alimentos - PAA Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ana-
Política de comercialização que possibilita a aquisição ter) os serviços serão qualificados e ampliados, assegu-
direta de alimentos produzidos por agricultores familiares rando o benefício para um maior número de produtores
e suas organizações. O orçamento é de R$ 1,2 bilhão. familiares. Na Safra 2014/2015, a Ater atenderá mais de
800 mil famílias, com a garantia de atendimento de 50%
Programa Nacional de Alimentação Esco- de mulheres do público beneficiário.
lar - Pnae
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) Mulheres e autonomia
proporciona alimentação saudável aos alunos de escolas As políticas públicas para a agricultura familiar vi-
públicas e estimula a produção da agricultura familiar. sam a garantia dos direitos econômicos das mulheres do
Assentados da reforma agrária, comunidades tradicio- campo, por meio do acesso ao crédito, da qualificação da
nais indígenas e quilombolas têm prioridade como for- produção e da cidadania.

150 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 151
MDA MDA

Banco do Brasil
Instituição é o principal
agente financeiro do Pronaf
O
Banco do Brasil é o principal agente financei- Estão disponíveis aos agricultores familiares, linhas Principais linhas de crédito, no âmbito do a indenização dos valores previstos no orçamento para
ro do Programa Nacional de Fortalecimento de crédito destinadas a operações de custeio, no qual Pronaf a lavoura financiada, garantindo parte da renda no caso
da Agricultura Familiar (Pronaf), responsá- são financiados os insumos necessários à lavoura, linhas Pronaf Custeio de perda de receitas causadas por eventos cobertos pelo
vel por 66,2% do total de recursos destinados ao setor, de crédito para investimento que financiam bens como Destina-se ao financiamento das atividades agrope- Programa; o PGPAF (Programa de Garantia de Preços da
de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pe- equipamentos, máquinas, tratores, entre outros. cuárias e de beneficiamento ou industrialização e comer- Agricultura Familiar), que objetiva garantir a concessão
cuária e Abastecimento (MAPA), de dezembro de 2014. Para a Safra 2014/2015, foram disponibilizados R$ cialização de produção própria ou de terceiros enquadra- de desconto sobre o saldo devedor do financiamento em
A agricultura familiar possui fundamental impor- 15,8 bilhões para atender aos agricultores familiares. dos no Pronaf. consonância com o preço mínimo de comercialização/
tância para o agronegócio brasileiro. É composta por Deste valor, R$ 7,9 bilhões destinados às demandas de mercado. Com isso, o produtor tem sua renda garanti-
mais de 4,4 milhões de unidades produtivas e corres- custeio e R$ 7,8 bilhões, para atender às demandas de Pronaf Mais Alimentos – Investimento da para a manutenção de suas atividades no campo. Há,
ponde a 85% do total de propriedades rurais. Responde investimento do segmento. Destinado ao financiamento da implantação, amplia- também, o PNHR (Programa Nacional de Habitação Ru-
por cerca de 10% do Produto Interno Bruto do País, 38% A solidificação do Pronaf no apoio à agricultura fa- ção ou modernização da infraestrutura de produção e ser- ral) destinado aos agricultores familiares com renda bru-
do Valor Bruto da Produção gerado, ocupando 24,3% da miliar, e a larga participação do Banco do Brasil no seg- viços, agropecuários ou não agropecuários, no estabeleci- ta anual familiar de até R$ 60.000,00, para construção ou
área total dos estabelecimentos agropecuários, confor- mento, ocorrem por meio de várias iniciativas de sucesso. mento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas. reforma das moradias rurais. ◆
me dados do IBGE. “O Banco do Brasil possui a disposição dos agricultores
Reconhecendo a sua importância para a economia familiares, uma rede de 4.628 agências operando no cré- Pronaf Mulher
nacional, foi criado pelo Governo Federal, o Pronaf, que dito rural, em 5.440 municípios. O resultado é o atendi- Linha para o financiamento de investimentos de pro-

DIVULGAÇÃO / BB
é a força motriz do setor, como um dos principais pro- mento de mais de 1,2 milhão de famílias ao longo dos postas de crédito da mulher agricultora.
gramas de políticas públicas, oferecendo condições favo- anos e o volume da carteira, em dezembro/2014, foi de
ráveis de crédito, o que proporciona aumento da produti- mais de R$ 36 bilhões,” afirma. Ele acrescenta que atra- Pronaf Jovem
vidade e o acesso às inovações no campo. Exerce também vés do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), Financiamento de investimentos de propostas de cré-
papel fundamental na economia dos municípios na gera- já foram financiadas a construção e reforma de 19.390 dito de jovens agricultores e agricultoras.
ção de empregos e renda no campo. moradias rurais desde o início do Programa.
Para o diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, “Por meio destas e de outras iniciativas, o Banco do Pronaf Custeio e Comercialização de
Clenio Severio Teribele, diante destes dados, não há como Brasil se solidifica como o Banco da Agricultura Familiar Agroindústrias
dissociar a criação e ampliação do Pronaf da atuação do e como maior financiador da produção de alimentos,” Familiares
Banco do Brasil, seu principal agente financeiro. “A atu- pontua Teribele. Destinada aos agricultores e suas cooperativas ou as-
ação do BB no atendimento das demandas do segmento Para ter acesso às linhas de crédito do Pronaf, o agri- sociações para que financiem as necessidades de custeio
agricultura familiar tem a premissa de apoiar atividades cultor familiar deverá procurar uma agência do Banco do do beneficiamento e industrialização da produção pró-
produtivas, economicamente viáveis, socialmente justas Brasil de posse da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). pria e/ou de terceiros.
e ambientalmente corretas, sempre observada e respei- Em seguida o agricultor deve procurar a empresa de Assis- Cabe ressaltar o importante papel dos instrumentos
tada a diversidade cultural. Desde a safra 2002/2003 até tência Técnica do município para elaborar o Projeto Téc- criados pelo Governo Federal como o Proagro Mais (Pro-
março de 2015, foram aplicados pelo Banco do Brasil, R$ nico de Financiamento, que deve ser encaminhado para grama de Garantia da Atividade Agropecuária para Agri-
98,8 bilhões em crédito na agricultura familiar,” diz. análise de crédito, para negociação do financiamento. cultura Familiar), que proporciona ao agricultor familiar Diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Clenio Severio Teribele

152 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 153
MDA MDA

BNDES E
m 2015 o Banco Nacional do Desenvolvimen-
to (BNDES) está com orçamento na ordem de
mente no financiamento de máquinas e equipamentos
e no crédito rural.

Orçamento de
R$ 2 bilhões, destinados as diversas linhas do Desde 2008, quando iniciou o apoio não reembolsá-
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura vel à agropecuária familiar, foram contratados R$ 442
Familiar (Pronaf). Segundo o superintendente da área milhões em recursos para esse setor, beneficiando 134
agropecuária de inclusão social do BNDES, Marcelo mil pessoas. A modalidade de operação utilizada é atra-
Porteiro Cardoso, o banco tem grande relevância em vés da atuação e parcerias com institutos, governos e
termos de apoio a agricultura de forma geral, especial- entidades do 3º setor. Assim, foram prestados incentivos

R$ 2 bi para o
COMPROMETIMENTO EM MILHARES DE REAIS POR ANO-SAFRA

Pronaf
DIVULGAÇÃO QUANTIDADE DE OPERAÇÕES POR ANO-SAFRA

Marcelo Porteiro Cardoso

154 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 155
MDA MDA

COMPROMETIMENTO EM MILHARES DE REAIS POR ANO-SAFRA E NATUREZA DO BENEFICIÁRIO 2012/2013 2013/2014 2014/2015
Pronaf b 0,5% 833 818
Pronaf investimento 542.784 359.747 305.142
Pronaf custeio 1,5% 127.718 77.362 60.424
Pessoa fisica 9.966 77.342 60.424
Outros 20
Cooperativa 117.752
Pronaf custeio 3% 116.960 152.476 124.499
Pessoa fisica 11.285 152.462 124.499
Outros 13
Cooperativa 105.675
Pronaf custeio 3,5% 129.909 120.219
Pessoa fisica 129.889 120.219
Outros 20
Pronaf custeio 4% 180.355
Pessoa fisica 19.406
Cooperativa 160.950
Pronaf investimento 1.381.066 1.522.877 1.056.793
ORÇADO X COMPROMETIDO | ANO AGRÍCOLA 2014/2015 Pronaf investimento 0% 1.069
Pessoa fisica 1.069
Pronaf investimento 1% 152.293 30.110 19.449
Outros 50 9 2.022
Pessoa fisica 151.095 28.892 15.301
Cooperativa 1.147 1.209 2.125
Pronaf investimento 2% 1.228.773 1.491.698 1.037.344
Empresa privada pri 18.947 2.692 12.569
Pessoa fisica 1.057.548 1.281.207 870.443
Cooperativa 152.278 207.799 154.333
Total Geral 1.806.099 1.883.457 1.362.752

Aurora, em que mais de 60% dos associados são agri- bastante elaborado e complexo de assistência técnica via
cultores familiares. Emater e Embrapa,” diz Cardoso.
Os financiamentos são realizados através do Pronaf Segundo ele, os estados que mais acessam o progra-
Agroindústria ou Prodecoop, para melhoria de instala- ma através do BNDES são Paraná, Santa Catarina e Rio
ções, implantação de indústrias, compra de ativos (má- Grande do Sul. Para Cardoso, a atuação se deve a força do
quinas, unidades industriais). cooperativismo nos três estados do Sul. Por isso, agora, a
Em 2014, foram contratados aproximadamente R$ intenção é demandar esforços no intuito de desenvolver
em diversas áreas, como: apoio à agroindustrialização Aquisição de Alimentos (PAA); Programa Nacional de 400 milhões em projetos para cooperativas com base fa- estes mecanismos em outros locais do país. “Para isso es-
de assentamentos da reforma agrária; fortalecimento Alimentação Escolar (PNAE); Programa Água para To- miliar (que possuem DAP). tamos apoiando o sistema cooperativo e induzindo sua
da produção e da capacidade de comercialização de pe- dos; Brasil sem Miséria; Programa de Fortalecimento da De acordo com o superintendente, há muitos anos, instalação em outras regiões,” afirma.
quenos produtores; inserção no mercado institucional; Autonomia Econômica e Social da Juventude Rural. o banco apoia a agricultura familiar, que tem papel im- O BNDES atua no investimento social apoiando ini-
fortalecimento do cooperativismo; convivência com a Além das ações não reembolsáveis, o banco tam- portante na agricultura brasileira. “O Brasil conseguiu ciativas de qualificação e agregação de valor em áreas
seca; apoio à juventude rural e a replicação de tecnolo- bém incentiva a agricultura familiar através do apoio preservar um extrato de agricultores familiares que tem de assentamento rural reconhecidos pelo Incra. Ainda
gias sociais (PAIS). Estas ações possuem um alinhamen- às cooperativas agroindustriais de base familiar. Como importância fundamental no fortalecimento, principal- existe um programa de apoio a agroecologia e agricul-
to forte com políticas públicas, tais como: Programa de exemplo, Cardoso cita as operações para a Cooperativa mente, do mercado doméstico, através de um sistema tura orgânica. ◆

156 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 157
MDA MDA

ABIMAQ
Políticas públicas impactam
toda cadeia da agricultura
Acesso ao programa Mais Alimentos rende empregos diretos e beneficia
camponeses que não tinham acesso às novas tecnologias

A
agricultura familiar representa 25% do se- estava a avaliação das associações sobre o desempenho O vice-presidente da Abimaq acrescenta que o Mais
tor de máquinas e implementos agrícolas da agricultura familiar. Alimentos Internacional – mais novo programa do

DIVULGAÇÃO
para a Associação Brasileira da Indústria “Esse programa tem uma latitude e uma profundi- MDA - responsável por atender países da África, tam-
de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O setor vem dade que vocês ainda não tinham imaginado quando da bém é importante.
crescendo a cada ano, especialmente depois da criação sua elaboração,” disse Marchesan na época, acrescentan-
das políticas públicas de incentivo aos agricultores. O do que o programa deveria se tornar um instrumento A Abimaq
vice-presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan, de política pública permanente. Em seguida, conforme A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
que também é diretor da Marchesan Implementos e conta Marchesan, o ministro Guilherme Cassel, anun- Equipamentos (Abimaq) foi fundada em 1975, com o
Máquinas Agrícolas TATU SA, destaca que o Mais Ali- ciou que ele realmente seria um instrumento de política objetivo de atuar em favor do fortalecimento da indús-
mentos, do Ministério do Desenvolvimento Agrário pública permanente. tria nacional, mobilizando o setor, realizando ações jun-
(MDA), que beneficia a agricultura familiar, criou im- O programa, conforme Marchesan explica, propor- to às instâncias políticas e econômicas, estimulando o
pacto positivo nas indústrias de máquinas e implemen- ciona um impacto positivo, pois rende empregos dire- comércio e a cooperação internacionais e contribuindo
tos agrícolas no Brasil. tos e beneficia agricultores que não tinham acesso às para aprimorar seu desempenho em termos de tecnolo-
Em 2008 foi inaugurada a primeira feira de imple- novas tecnologias. gia, capacitação de recursos humanos e modernização
mentos e máquinas voltada para a agricultura familiar Com a expansão da agricultura familiar, as indústrias gerencial.
na Esplanada dos Ministérios em Brasília. Nesta ocasião perceberam um mercado em crescimento, tanto que Estruturada nacionalmente com escritórios e sedes
foi entregue o primeiro trator com os respectivos imple- equipamentos específicos já estão sendo desenvolvidos regionais distribuídos pelo país, a Abimaq representa
mentos para o agricultor familiar Fernando Kubota. para este segmento. atualmente cerca de 6.500 empresas dos mais diferen-
Em 2009, no Palácio da Alvorada, em Brasília, re- Marchesan acrescenta que o Brasil é pioneiro no tes segmentos fabricantes de bens de capital mecânicos,
presentantes da Abimaq, do Sindicato das Indústrias de mundo em utilização de energia renovável para preser- cujo desempenho tem impacto direto sobre os demais
Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do vação do meio ambiente. Cita como exemplo o Plantio setores produtivos nacionais.
Sul (Simers) e da Associação Nacional dos Fabricantes Direto, que é um programa em que as indústrias de Muito além da representação institucional do setor,
de Veículos Automotores (Anfavea) foram recebidos na máquinas e implementos no Brasil dominam de forma a Abimaq tem a sua gestão profissionalizada e as suas
época pelo presidente Lula, a ministra Chefe da Casa Ci- sustentável, produzindo equipamentos para essa moda- atividades voltadas para a geração de oportunidades co-
vil Dilma Rousseff e pelo então ministro do Desenvolvi- lidade de aplicação na agricultura, além das tecnologias merciais para as suas associadas, agindo como Agência
mento Agrário, Guilherme Cassel. Na pauta da reunião utilizadas na Agricultura de Baixo Carbono. de Desenvolvimento da Indústria Brasileira de Máquinas
e Equipamentos. ◆ João Marchesan

158 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 159
MDA MDA

ABIMAQ Mais Alimentos Conab Balanço de 2014 aponta


impulsiona setor de máquinas benefícios aos agricultores familiares
Mesmo assim as vendas em 2015 devem cair cerca de 10% em relação a 2014, Companhia opera com políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos,
devido à queda no preço das commodities compra institucional e Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos
da Sociobiodiversidade

A
queda de 15% no consumo aparente e retra- cimento significativo, expressa a importância do pro-

E
ção da ordem de 29% no faturamento desti- grama,” explica. m 2014 a Companhia Nacional de Abasteci- cio assistencial e também dos equipamentos públicos de
nado ao mercado interno, em comparação a De acordo com Pedro Estevão não há como mensurar mento (Conab) operacionalizou cerca de R$ Segurança Alimentar e Nutricional como os restaurantes
2014/2013 que o setor de máquinas encerrou o ano de o que representa a agricultura familiar para a Abimaq, 340 milhões no âmbito do Programa de Aqui- populares e as cozinhas comunitárias. ◆
2014, tem como fator determinante a queda dos preços no entanto a maior parte das empresas associadas na sição de Alimentos (PAA). Esses recursos beneficiaram
PERCENTUAL DOS PROJETOS DE COMPRA COM DOAÇÃO SIMULTÂNEA (CDS)
das commodities agrícolas no mercado internacional, Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas mais de 50 mil agricultores familiares. O valor ultrapassa
especialmente os grãos. O presidente da Câmara Seto- (CSMIA) da Abimaq são pequenas e médias empresas e em mais de 50% o registrado em 2013. Valores dos Projetos em R$ 2014

rial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associa- a agricultura familiar é o principal mercado delas. São Paulo e Rio Grande do Sul foram os estados que Até 150.000 36,6%

ção Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos registraram o maior volume de recursos, seguidos de De 150.000,01 a 300.000 34%

(Abimaq), Pedro Estevão Bastos, acrescenta que a queda Tendências Bahia e Alagoas. De 300.000,01 a 450.000 13,5%

também foi originada pelo excesso de oferta. A indústria de máquinas agrícolas brasileira oferta A execução de cada Estado está relacionada a uma De 450.000,01 a 600.000 8,2%

Segundo ele, os preços das commodities não devem produtos modernos que propiciam aumento de produti- série de fatores, como o nível de organização produtiva e De 600.000,01 a 1.000.000 5,7%

reagir em 2015, e as vendas devem cair cerca de 10% em vidade, diminuem e racionalizam o uso de insumos e di- a capacidade de agregar valor à produção. Assim, um Es- Acima de 1.000.000 2,1%

relação a 2014. minuem o uso de combustíveis, além de propiciar maior tado com menor número de produtores pode ter maior
segurança e conforto para os operadores. ◆ valor investido. BENEFICIÁRIOS FORNECEDORES DO PAA EM 2014

Expansão da agricultura familiar O PAA fomenta o fortalecimento econômico dos Categoria de Fornecedores Número de Fornecedores Porcentagem

A agricultura familiar continua em expansão e va- agricultores familiares e suas organizações, por meio da Agricultor Familiar 33.377 65,2%

lorização no país, representando mais de 4 milhões de aquisição de alimentos de sua produção. Os alimentos Pescado Artesanal 1.003 2%

DIVULGAÇÃO
propriedades. Ocupa por volta de 12 milhões de pessoas, adquiridos são destinados ao abastecimento da rede só- Assentado 12.952 25,3%

sendo fundamental na produção de alimentos no país. Quilombola 1.131 2,2%


ORGANIZAÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES PARTICIPANTES DO PAA Indígena 335 0,7%
Sendo que todo este enorme contingente de proprieda- EXECUTADO PELA CONAB EM 2014
des necessita de máquinas e implementos para produção Atingidos por Barragem 39 0,1%
MDA (Associações ou MDS (CNPJs) TOTAL (CNPJs s/ repetição)
de grãos, carnes, laticínios e hortifrutigranjeiros. cooperativas- CNPJs) Agroextrativistas 2.391 4,7%

Este crescimento provoca o desenvolvimento de ou- 56 1.008 1.052 Total 51.228

tros nichos ligados à agricultura familiar, como a das


indústrias de máquinas e implementos. Conforme Pe- PÚBLICO BRASIL SEM MISÉRIA PAA (SOMANDO TODAS AS MODALIDADES)
RECURSO APLICADO NO PAA EM 2014 (R$)
dro Estevão, os programas de governo específicos para Regiões Total de Fornecedores A; A/C; B Porcentagem
Ano Valor
a agricultura familiar alavancaram os volumes e a varie- Centro Oeste 4.841 2.252 47%
2014 338.004.942,00
dade de equipamentos comercializados neste segmento. Nordeste 12.096 9.410 78%

O programa Mais Alimentos, por exemplo, tem Norte 5.930 2.932 49%

sido fundamental. Dados da safra 2013/2014 apon- NÚMERO DE PROJETOS APROVADOS EM 2014 Sudeste 19.542 7.764 40%

tam que são 563 indústrias cadastradas no programa Ano CDS CPR- Estoque TOTAL Sul 8.819 1.594 18%

com 8.751 produtos em comercialização. O programa 2014 1.067 58 1.125 Total 51.228 23.952 47%

iniciou com 76 empresas e 1.856 produtos. “Este cres- Pedro Estevão

160 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 161
MDA MDA

SEAF
Mais segurança A
gricultores familiares que contratam opera- dos. Essa safra teve uma ocorrência de sinistros acima
ções de custeio agrícola do Programa Nacio- da média, sobretudo devido às perdas geradas por chuva
nal de Fortalecimento da Agricultura Fami- excessiva em lavouras de trigo no sul do país.
liar (Pronaf) têm mais segurança para produzir. Além Até 18 de fevereiro de 2015, mais de 40 mil proprie-
de assegurar recursos para investir na produção, esses dades tinham o pagamento da cobertura do seguro auto-
produtores contam com o apoio do Seguro da Agricul- rizado, totalizando mais de R$ 540 milhões.

para produzir
tura Familiar (SEAF). O seguro é contratado juntamente
com o crédito e cobre prejuízos causados por eventos ad- Como solicitar o pagamento do seguro
versos como seca, geada, granizo, chuva excessiva, ven- O pedido de cobertura pode ser feito quando os pre-
daval, ventos frios, variações intensas de temperatura e juízos forem superiores a 30% e não há irregularidades
doenças provocadas por fungos ou pragas sem método na lavoura. Para tanto, é preciso ir à agência do banco
difundido de combate. onde o financiamento foi contratado, levar as notas fis-
O SEAF foi criado no âmbito do Programa de Garan- cais dos insumos adquiridos e formalizar a Comunicação
tia da Atividade Agropecuária (Proagro), onde é deno- de Ocorrência de Perdas (COP).
minado “Proagro Mais”. No caso de eventos contínuos como estiagem, a COP

ASCOM MDA
O seguro cobre 100% do valor financiado mais uma pode ser feita até duas semanas antes da época prevista para
parcela de renda - calculada a base de 65% da renda lí- a colheita. No caso de eventos com data definida como gra-
quida e limitada a R$ 7 mil por agricultor/ano. Para con- nizo e geada, a COP deve ser feita logo após o evento.
tratar o seguro, o agricultor paga uma taxa de 2% sobre o É importante lembrar que a colheita somente pode
valor segurado. Para lavouras irrigadas e na região semi- ser feita após a vistoria final do técnico de comprovação
árida, a taxa é de 1%. de perdas e liberação da área.
O SEAF também oferece uma cobertura adicional Para garantir a cobertura do SEAF, o agricultor pre-
para operações de investimento do Pronaf, limitada a R$ cisa tomar alguns cuidados que começam na hora de
5 mil. A adesão é opcional e feita no contrato de financia- contratar o financiamento. É importante verificar se a
mento do custeio da lavoura cuja renda está prevista para cultura, a área financiada e a produtividade previstas no
pagar a prestação do financiamento de investimento. contrato estão de acordo com o que de fato será planta-
Não fosse o seguro, o agricultor familiar Luís Widz, do. A lavoura também precisa seguir os indicativos do
49 anos, teria abandonado o trabalho no campo. Em zoneamento agrícola para tipo de solo, locais e épocas de
setembro de 2013, o excesso de chuvas que atingiu o plantio e cultivares, além de observar as áreas de preser-
sul do País devastou a produção de grãos e hortaliças vação conforme a legislação ambiental.
de sua propriedade, no município de Horizontina (RS). O coordenador do SEAF, da Secretaria da Agricultu-
“Foi um alívio o seguro cobrir o meu prejuízo. Sem ele ra Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário
eu não teria recursos para plantar de novo, não teria (MDA), José Carlos Zukowski recomenda que o agricul-
como recomeçar. É um benefício muito importante pra tor busque assistência técnica. “É importante para obter
gente”, lembra. um bom resultado na plantação e contribui também para
evitar perda da cobertura do seguro por irregularidades.
Cresce valor segurado Na condução da lavoura devem ser adotados os cuidados
Na safra 2013/2014, o valor segurado atingiu R$ 7,9 na conservação do solo, correção e adubação, controle de
bilhões, com cerca de 430 mil empreendimentos segura- pragas, entre outros”, assinala. ◆

162 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 163
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

Fruticultura
Produção supera 40 milhões

DIVULGAÇÃO IBRAF
de toneladas no país
São Paulo se destaca, sendo responsável por 39% da
produção de citros

164 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 165
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

O
Brasil é atualmente um dos maiores produto- No Sul do Brasil, a maior parte dos pequenos produ- COMPARATIVO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS 2014/2013

res de frutas do mundo. Com uma produção tores tem como principal atividade ou leite ou a fruticul- País Variação 2014/2013 2014 2013

superior a 41 milhões de toneladas, o Brasil tura. E neste caso, o gerente de Inteligência de Mercado Valor (%) Volume (%) Valor (US$) Volume (Kg) Valor (US$) Volume (Kg)

é atualmente, um dos maiores produtores de frutas do do Ibraf, diz que seria mais interessante o produtor se Países Baixos (Holanda) -5,48 -4,69 258.458.735 261.345.097 273.439.888 274.203.147

mundo, ocupando o 3º lugar, ficando atrás somente da especializar em uma única cultura, podendo diversificar Reino Unido -1,10 -4,50 129.917.298 121.163.084 131.361.800 126.866.139
China e Índia, respectivamente. o trabalho com a agroindustrialização de parte da produ- Espanha 1,95 -5,70 72.714.224 87.275.535 71.324.094 92.554.745
O país, segundo o gerente de Inteligência de Mercado ção, o que proporcionará aumento de renda, principal- Uruguai 24,32 0,54 12.023.618 32.981.942 9.671.863 32.803.777
do Ibraf (Instituto Brasileiro de Frutas), Cloves Ribeiro mente se estes produtores se organizarem em associati- Estados Unidos -5,96 -10,96 30.062.105 27.141.461 31.967.693 30.482.688
Neto, é o maior produtor de laranjas do mundo sendo vismo/cooperativismo. Argentina 43,46 18,88 10.191.744 24.034.534 7.104.355 20.218.090
destaque principalmente na produção de sucos. A bana- Portugal 13,18 23,35 22.746.947 18.389.033 20.098.356 14.907.502
na é segunda fruta mais produzida no país e também a Produção orgânica Alemanha -34,85 -49,49 18.424.313 14.192.722 28.279.579 28.100.187
mais consumida. No que tange a produção orgânica, Neto diz que é um Emirados Árabes Unidos 37,25 14,26 13.255.016 12.471.250 9.657.565 10.914.620
São Paulo se destaca na produção de frutas. É o maior nicho de mercado interessante e viável para algumas fru- Bangladesh -22,69 -22,79 6.865.270 11.123.098 8.879.653 14.406.984
produtor do país, e corresponde a 39% da produção na- tas. Porém, a produção não vem crescendo nos últimos Canadá 33,31 47,15 12.845.229 10.885.925 9.635.299 7.397.748
cional, se destacando por ser um pólo citrícola com pro- anos devido a dificuldades de cultivo como o ataque de Itália -2,58 -17,21 7.895.782 9.676.571 8.104.545 11.687.735
dução de laranjas, limões e tangerinas. O Estado também pragas e doenças em algumas regiões e frutas que difi- França -13,31 -27,12 11.521.399 9.314.708 13.290.178 12.780.967
se diferencia pela diversidade de frutas produzidas devi- cultam o cultivo orgânico. ◆ Dinamarca 67,96 77,41 3.866.882 6.170.048 2.302.271 3.477.908
do às condições climáticas que permitem produzir frutas Irlanda -26,39 -25,62 4.144.578 5.493.542 5.630.383 7.385.397
de clima tropical como a manga e produz frutas de clima Rússia 118,31 99,49 2.322.140 3.277.916 1.063.698 1.643.158
temperado como maçãs e pêssegos. Bahia, Minas Gerais Polônia -39,74 -40,07 1.176.531 2.592.586 1.952.378 4.325.832

LUCIANO KSALOTE
e Rio Grande do Sul, respectivamente, são ao lado de São Suíça 15,23 29,31 3.915.813 2.044.837 3.398.159 1.581.306
Paulo os maiores produtores. Suécia -78,87 -56,25 1.082.535 2.037.448 5.124.258 4.656.698
Conforme Neto, a agricultura familiar tem um papel Bélgica 109,36 275,76 2.121.585 1.847.969 1.013.355 491.799
importante na produção de frutas, principalmente na Gana 59,84 88,06 933.529 1.244.703 584.024 661.849
produção de frutas regionalmente, mas segundo ele “é Paraguai 28,23 15,29 96.876 1.116.220 75.549 968.168
difícil mensurar números da produção familiar”. Noruega -33,56 -13,05 2.522.729 1.068.813 3.796.864 1.229.247
A produção de frutas está estável nos últimos anos, Omã -14,32 -19,49 825.144 1.026.744 963.019 1.275.266
como o cultivo das principais frutas é perene, ou seja, fi- Chile 9,01 78,62 1.097.845 1.022.139 1.007.080 572.253
cam produzindo por mais de 15 anos logo a produção não Finlândia -40,40 -39,07 1.310.177 1.018.128 2.198.428 1.670.871
se altera de forma significativa de um ano para o outro. Arábia Saudita 3,57 -19,29 463.876 471.336 447.890 583.960
Japão -17,38 -17,16 1.029.469 345.002 1.246.059 416.473
Entraves da atividade Egito - - 138.320 338.000 - -
“Além do conhecido custo Brasil, atualmente enfren- Líbia -41,42 -44,04 189.656 275.184 323.736 491.736
tamos mais aumentos tributários, condições climáticas Cingapura -55,81 -50,06 218.733 257.102 494.999 514.839
desfavoráveis nos últimos anos vem prejudicando a pro- Lituânia 102,92 114,11 534.737 255.411 263.523 119.288
dução e os investimentos no setor”, diz. Luxemburgo 7,83 -33,80 431.132 194.402 399.814 293.663
Com relação à produção, o gerente de Inteligência de Catar 92,71 90,36 162.280 183.649 84.211 96.475
Mercado do Ibraf diz que os dados mais recentes divul- África do Sul 62,72 31,92 252.978 154.440 155.473 117.072
gados pelo IBGE referem-se a 2013. O setor estima que Malta 2,00 0,00 77.112 153.720 75.600 153.720
2014 a produção tenha tido um pequeno aumento e que Marrocos - - 120.908 151.589 - -
poderá se repetir em 2015. O cultivo brasileiro de frutas Ucrânia - - 90.736 72.330 - -
em 2013 movimentou mais de R$ 23 bilhões. Angola -90,99 -54,32 14.396 26.050 159.835 57.028
Considerando a fruticultura como uma cadeia pro- Guiné Equatorial 23,19 44,34 93.763 25.131 76.113 17.411
dutiva que engloba a produção de frutas frescas e deri- Coveite (Kuweit) -71,85 -69,30 21.411 24.488 76.063 79.777
vados, o país exporta 29% da produção (frutas frescas Gerente de Inteligência de Mercado do Ibraf, Cloves Ribeiro Neto
Áustria -48,86 -52,59 21.866 23.760 42.756 50.112
e derivados).

166 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 167
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

COMPARATIVO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS 2014/2013 COMPARATIVO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS 2014/2013
País Variação 2014/2013 2014 2013 Frutas Variação 2014/2013 2014 2013
Valor (%) Volume (%) Valor (US$) Volume (Kg) Valor (US$) Volume (Kg) Valor (%) Volume (%) Valor (US$ FOB) Volume (Kg) Valor (US$ FOB) Volume (Kg)
Barein -89,06 -89,35 22.320 23.000 204.096 215.942 Melões 2,87 2,84 151.817.079 196.850.024 147.579.929 191.412.600
Grécia - - 52.988 21.600 - - Mangas 11,02 9,04 163.727.732 133.033.240 147.481.604 122.009.290
Turquia - - 4.680 18.000 - - Limões 30,00 17,43 96.099.286 92.301.008 73.923.553 78.602.709
Líbano 180,36 433,33 12.465 10.752 4.446 2.016 Bananas, exceto bananas-da-terra -10,21 -14,81 31.600.737 83.461.504 35.192.167 97.976.479
Hong Kong -89,26 -98,10 54.596 9.395 508.212 494.499 Maçãs -49,31 -48,15 31.902.813 44.294.111 62.941.935 85.429.045
Estônia 28,90 -95,04 25.505 1.050 19.787 21.168 Mamões 12,57 17,95 47.058.855 33.688.192 41.803.057 28.561.452
Bolívia 6400,00 3900,00 7.150 1.000 110 25 Melancias -0,20 -4,27 16.490.896 30.682.363 16.523.934 32.049.686
Colômbia -84,84 -84,85 6.650 1.000 43.872 6.600 Uvas -35,15 -34,35 66.790.828 28.347.952 102.994.687 43.180.556
Coreia do Sul -91,45 -91,20 11.827 880 138.300 10.000 Laranjas -9,55 -13,34 9.014.409 20.111.176 9.966.726 23.208.179
China -81,50 -72,49 5.040 720 27.238 2.617 Abacates 37,56 34,62 9.537.147 5.806.712 6.933.265 4.313.307
Nova Zelândia - - 5 5 - - Abacaxis 12,44 16,47 1.067.073 1.355.504 949.048 1.163.864
Austrália - - - - 224.913 94.775 Figos 6,46 -1,51 8.737.682 1.346.981 8.207.616 1.367.684
Índia - - - - 404.615 549.780 Bananas-da-terra -61,03 -61,02 149.500 483.000 383.674 1.239.172
Indonésia - - - - 6.001 2.282 Cocos 2.128,49 2.118,97 259.329 428.727 11.637 19.321
Palestina - - - - 12.083 2.700 Outras Frutas -8,17 -7,88 843.268 293.854 918.251 318.978
Sudão - - - - 164.640 211.680 Caquis 59,25 24,33 769.710 257.044 483.334 206.741
Total -3,21 -5,46 636.402.643 672.995.049 657.528.719 711.869.719 Goiabas 12,77 18,64 443.961 170.776 393.685 143.945
Fonte: Secex/Elaboração Ibraf Tangerinas -97,22 -93,21 19.644 43.350 707.363 638.330
Nectarinas - - 19.968 22.464 0 0
Mangostões -66,49 -39,06 39.338 15.130 117.398 24.829
Ameixas 22,03 11,56 12.798 1.930 10.488 1.730
Outros Cítricos -41,70 -98,61 590 7 1.012 502
Total -3,21 -5,46 636.402.643 672.995.049 657.524.363 711.868.399
Fonte: Secex/Elaboração Ibraf

168 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 169
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

COMPARATIVO DAS IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS 2014/2013 COMPARATIVO DAS IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE FRUTAS FRESCAS 2014/2013 - POR PAÍS
Frutas Variação 2014/2013 2014 2013 País Variação 2014/2013 2014 2013
Valor (%) Volume (%) Valor (US$ FOB) Volume (Kg) Valor (US$ FOB) Volume (Kg) Valor (%) Volume (%) Valor (US$) Volume (Kg) Valor (US$) Volume (Kg)

Peras 2,25 9,83 200.725.508 208.346.493 196.301.227 189.695.541 Argentina -8,04 -6,43 199.647.652 194.498.706 217.096.759 207.875.407
Maçãs 17,28 24,19 111.920.900 116.697.360 95.427.279 93.964.004 Chile -6,04 -12,50 131.243.214 91.752.733 139.675.873 104.860.099
Uvas 4,63 3,46 62.338.038 33.760.806 59.580.756 32.630.815 Espanha 12,86 39,89 77.093.643 70.250.535 68.308.685 50.217.634
Ameixas -8,05 0,05 42.385.039 32.235.745 46.097.692 32.219.423 Portugal 69,19 111,38 52.759.277 60.381.967 31.183.052 28.565.908
Kiwis 7,38 -19,16 39.062.571 22.221.073 36.376.257 27.486.837
Itália 39,59 46,93 33.793.903 23.225.796 24.208.935 15.807.160
Laranjas 13,83 9,98 13.826.266 16.056.011 12.146.345 14.598.407
Uruguai 14,38 10,28 10.623.526 13.512.576 9.288.325 12.253.084
Pêssegos -8,10 -13,39 15.412.389 10.636.706 16.770.872 12.281.231
Estados Unidos 3,44 -7,21 13.604.823 5.498.300 13.152.809 5.925.466
Nectarinas 1,97 -4,25 14.797.589 10.139.961 14.511.884 10.590.317
França 37,85 54,06 4.579.105 4.178.894 3.321.894 2.712.582
Tangerinas 6,25 2,49 8.976.889 9.248.924 8.448.715 9.023.844
Outras cerejas -15,16 16,89 13.838.374 3.236.362 16.311.373 2.768.678 Peru 268,46 337,18 6.629.415 3.184.984 1.799.222 728.526

Limões 11,82 6,37 3.222.739 2.884.119 2.882.115 2.711.508 Nova Zelândia 63,99 50,49 3.961.259 1.802.641 2.415.591 1.197.852

Caquis 32,10 48,00 2.211.948 1.492.328 1.674.486 1.008.358 Indonésia - - 515.526 312.000 - -

Outras Frutas 19,28 4,21 2.732.705 830.366 2.290.929 796.818 México -5,73 -23,10 864.782 250.569 917.388 325.851

Cocos 67643,23 820952,63 515.526 312.000 761 38 Colômbia 22,01 38,37 1.307.018 246.425 1.071.231 178.085

Airelas e Mirtilos 78,17 111,76 2.615.028 310.897 1.467.722 146.818 China 306,49 249,05 954.534 99.480 234.826 28.500

Pomelos -16,75 -6,84 281.790 299.473 338.502 321.455 Israel - - 176.562 20.000 - -

Damascos 31,45 82,44 465.158 177.370 353.861 97.219 Tailândia 44,45 -4,47 132.639 18.724 91.821 19.600

Framboesas 51,98 99,61 835.566 96.717 549.796 48.453 Canadá - - 57.057 15.309 - -

Morangos -21,24 -33,54 518.331 87.640 658.135 131.863 Bolívia 82,69 104,08 54.229 4.500 29.684 2.205

Tâmaras 2836,30 2476,42 398.720 48.952 13.579 1.900 Irã - - 2.440 3.728 - -

Outros Cítricos 383,44 332,10 336.821 35.000 69.672 8.100 Taiwan (Formosa) - - 11.865 800 - -

Marmelos -4,18 -19,96 34.470 32.409 35.975 40.490 Reino Unido 1481,25 -93,13 253 11 16 160

Abacates 121,91 -51,03 50.583 22.144 22.794 45.224 Filipinas - - - - 6.000 2.000

Abacaxis 81,60 -13,68 161.460 15.048 88.910 17.433 Irlanda - - - - 3.243 179

Groselhas 80,34 91,57 128.370 10.090 71.184 5.267 Países Baixos (Holanda) - - - - 4.982 60

Cerejas-ácidas (Prunus cerasus) -76,97 -82,02 53.963 9.190 234.314 51.121 Total Geral 4,91 8,95 538.012.722 469.258.678 512.810.336 430.700.358

Mangas 30,17 58,15 63.774 7.082 48.994 4.478 Fonte: Secex/Elaboração Ibraf

Bananas, exceto bananas-da-terra 235,29 94,91 91.444 7.052 27.273 3.618


Bananas-da-terra 20,47 23,64 10.763 1.360 8.934 1.100
Total 4,91 8,95 538.012.722 469.258.678 512.810.336 430.700.358
Fonte: Secex/Elaboração Ibraf

170 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 171
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE FRUTAS 2013‑


Estado Valor (Mil R$) Volume (Ton) Área (ha)
São Paulo 5.315.694 16.368.436 579.282
Bahia 2.874.966 4.815.133 306.832
Minas Gerais 2.247.470 2.980.305 122.756
Rio Grande do Sul 1.943.130 2.818.019 162.364
Pará 1.036.871 1.770.174 97.694
Paraná 1.050.954 1.769.621 68.681
Santa Catarina 960.932 1.421.887 62.144
Ceará 1.037.947 1.303.688 125.998
Pernambuco 1.546.117 1.185.851 71.059
Espírito Santo 745.626 1.086.471 47.693
Sergipe 446.368 1.040.081 100.550
Rio Grande do Norte 655.118 901.302 46.936
Paraíba 549.779 805.155 38.287
Goiás 426.353 746.494 32.595
Rio de Janeiro 447.743 685.613 40.638
Amazonas 473.537 429.934 23.438
Tocantins 171.931 317.451 13.462
Mato Grosso 286.779 225.702 12.451

Distrito Federal Maranhão 141.472 211.668 19.847


Amapá Alagoas 90.293 174.265 24.932
Mato Grosso…
Roraima 168.711 156.490 13.165
Rondônia
Acre Piauí 115.882 148.567 7.815
Piauí Acre 74.554 123.982 10.406
Roraima
Rondônia 119.213 119.707 11.357
Alagoas
Maranhão Mato Grosso do Sul 40.521 72.515 3.981
Mato Grosso Amapá 51.463 49.607 5.732
Tocantins
Distrito Federal 41.145 33.957 1.562
Amazonas
Rio de Janeiro Total Geral 23.060.569 41.762.071 2.051.657
Goiás Fonte: IBGE/Elaboração Ibraf
Paraíba
Rio Grande do…
Sergipe
Espírito Santo
Pernambuco
Ceará
Santa Catarina
Paraná
Pará
Rio Grande do…
Minas Gerais
Bahia
São Paulo

- 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000


Volume (Ton)

172 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 173
ROSA LIBERMAN
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

O vale das frutas


Entre as frutas tropicais mais consumidas no país, a banana, tem destaque em
propriedade da região do Vale do Rio Uruguai, assim como o abacaxi e a maçã

174 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 175
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

N
o país são cultivados 505.655 mil hecta- no cultivo de frutas variadas. A propriedade de 23 hec- se tornaram uma excelente opção e fonte de renda, pois declivoso, onde há dificuldade de entrar o maquinário,
res de banana. O estado que mais produz tares é ocupada com quase 10 ha de diferentes frutas, fazemos a colheita duas vezes por semana, então temos a produção de frutas se tornou a melhor alternativa, tor-
a fruta é São Paulo, que é responsável por representando 80% da renda familiar. renda mensal”, diz. nando-se mais viável e rentável do que a produção de
60% da produção nacional. Já no Rio Grande do Sul, A paisagem exuberante, em harmonia com a natu- O agrônomo da Emater Regional, Nilton Cipriano grãos”, destaca o agrônomo.
a banana ocupa 11 mil hectares - área restrita devido reza, torna o local único. A cultura mais expressiva é de Dutra de Souza explica que a característica de produção A produção de banana é orgânica, mas exige bastante
às condições climáticas para seu desenvolvimento. Mas bananas, com 5 hectares, uma produção representativa, de banana se dá em regiões quentes, pois é uma fruta mão de obra para colher, fazer a limpeza, retirar os ca-
uma destas áreas está localizada no Vale do Alto Uru- já que nos 32 municípios de abrangência do Escritório tropical e, por suas peculiaridades, não é possível o culti- chos. Mas neste caso, além de renda para a família, a fru-
guai, com suas peculiaridades de clima e solo que se Regional da Emater, são 18 hectares cultivados com a vo em toda região. “Nesta localidade do Vale do Uruguai, ticultura proporcionou a sucessão rural. O casal tem dois
difere do restante da região, propiciando o cultivo de fruta. Ali a família também destina 2 ha para laranjas, 1 há grande amplitude térmica, não há muita geada, o que filhos: Guilherme 25 anos e Ângela de 17. Ambos con-
alguns alimentos só neste local. É o caso de determina- hectare para maçã e 1 ha para abacaxi. propicia seu cultivo”, diz. cluíram o Ensino Médio e estão na propriedade, traba-
das frutas, como a banana, abacaxi e também, a maçã. Waldir conta que quando adquiriu a terra havia 30 Acrescentando que, se comparar a propriedade onde lhando com os pais. Ângela diz que não pretende sair de
A produção ocorre ainda, por ser em áreas de difícil pés de banana e resolveu tentar comercializá-la no mer- está inserida, é descaracterizada, porque produzir fru- lá, pois a vida é tranquila, o trabalho é prazeroso e ainda
acesso para maquinários, o que impede a produção de cado da cooperativa local - Copaal (Cooperativa de Pro- ta em uma região onde a tradição é o cultivo de grãos, tem renda mensal. “E no verão, os bananais nos propor-
grãos - cultura expressiva no Alto Uruguai gaúcho. dutores Agropecuários de Aratiba). torna-se, realmente, um grande desafio. “Mas de acor- cionam sombra e ainda, quando estamos trabalhando e
Foi diante deste cenário que o agricultor Waldir Bugs, Foi quando recebeu incentivo de ampliar a produção. do com a área geográfica que Waldir possui, um terreno temos fome, é só tirar a banana do pé e comê-la”, diz. ◆
59 anos e sua esposa Vanda, 52 anos, que residem na co- E assim, nos últimos oito anos, ampliou de 30 pés para 5
munidade Lajeado Ouro a 9km do município de Aratiba/ hectares da fruta que vende não apenas no mercado, mas
RS, decidiram mudar de atividade e assim, investiram também para a merenda escolar. “Notamos que as frutas

ROSA LIBERMAN
Família Bugs

176 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 177
FRUTICULTURA FRUTICULTURA

O
Rio Grande do Sul é responsável pelo cultivo tado o sistema de alerta para os problemas fitossanitários não possuem efeito residual grande e não tem ação de viosidade e horas de molhamento foliar. O tipo do equi-
de 65% dos pêssegos no país, ou seja, 140 mil da cultura do pessegueiro. O propósito era auxiliar os pro- profundidade, ou seja, não controlam ovos e larvas no pamento usado foi a estação meteorológica Vantage Pro
toneladas, realizada basicamente em pequenas dutores no estabelecimento de técnicas de manejo para interior dos frutos,” aponta. 2™ Plus (Davis Instruments Corp, Hayward, CA, EUA).
propriedades de base familiar. No Estado gaúcho existem o controle da mosca-das-frutas Anastrepha fraterculus e Atualmente, o controle da mosca-das-frutas é reali- Para o monitoramento das moscas em cada estação
três polos frutícolas localizados na metade Sul, mais preci- para a mariposa-oriental Grapholita molesta. zado com os inseticidas de contato e ingestão - malatio- foram instaladas 10 armadilhas McPhail, iscadas com
samente na região colonial de Pelotas - com produção des- Isso porque alguns fatores estavam gerando incerte- na e a deltametrina -, que possuem ação sobre o estágio proteína hidrolisada. Semanalmente, técnicos da Em-
tinada para a industrialização -, além das regiões da Serra zas quanto a cadeia produtiva do principal ingrediente adulto da mosca. Para Nava, apesar de serem considera- brapa e do SINDOCOPEL fazem as avaliações para con-
e metropolitana de Porto Alegre – que produzem para o para a fabricação dos Doces de Pelotas. das uma alternativa para o controle, existia um grande tagem das moscas capturadas nas armadilhas. A conta-
consumo in natura. No país, a produção é de 216 mil to- Nava explica que o projeto surgiu da necessidade de risco de perdas, já que a presença de uma única fêmea gem, a troca do atrativo e a coleta dos dados climáticos
neladas da fruta em uma área de 19 mil hectares. disponibilizar informações sobre a infestação das pragas adulta é suficiente para causar danos. Também havia são feitos de segunda à quinta-feira.
Conforme o pesquisador da Embrapa Clima Tempera- nos pomares de pêssego. O controle era realizado basi- uma preocupação com a utilização não sustentável de Nava conta que uma vez por semana a equipe do
do, Dori Edson Nava, na safra 2011/2012 em parceria com camente com inseticidas organofosforados de ação de agrotóxicos - inseticidas, fungicidas e herbicidas - que projeto se reúne para a análise dos dados e organização
a Emater, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Asso- profundidade que foram retirados da grade de agrotóxi- podem causar uma série de problemas ambientais e de das informações. Um boletim é disponibilizado com in-
ciação dos Produtores de Pêssego da Região e do Sindicato cos da cultura pelo Ministério da Agricultura, Pecuária segurança alimentar. Deste modo, naquela safra as ins- dicações a respeito da população da mosca-das-frutas e
das Indústrias de Conserva do município, foi implemen- e Abastecimento (MAPA). “Os inseticidas que restaram tituições de pesquisa e de extensão implementaram o estratégias recomendadas para o seu controle. O boletim
sistema para os principais problemas fitossanitários da é distribuído por e-mail e veiculado nos sites da Embra-
cultura do pessegueiro, baseado no monitoramento das pa Clima Temperado, da Emater, nas rádios comerciais
pragas, no registro de fatores meteorológicos, no treina- e comunitárias da região e nos programas de televisão

Rio Grande do Sul mento de produtores e na divulgação dos resultados por da Embrapa Clima Temperado e da Emater, além de ser

PAULO LUIZ LANZETTA AGAR


meio de um Boletim Semanal. impresso e distribuído aos produtores. Também são emi-
tidos torpedos, via celular, alertando os produtores sobre

Sistema de alerta para cultura do Pelotas


A região colonial de Pelotas, que engloba ainda os
municípios de Morro Redondo, Canguçu, São Louren-
a população/infestação das pragas.
A divulgação do Boletim do Sistema de Alerta sem-
pre é realizada na quinta-feira, para que, em caso da

pêssego auxilia produtividade ço e Arroio do Padre possui um dos maiores números


de minifúndios do Brasil, cuja renda familiar está con-
centrada no cultivo e industrialização do pêssego, dan-
adoção de medidas de controle, os produtores possam
fazê-las em tempo hábil.
O pesquisador acrescenta que os dados do monito-
do origem a uma das principais cadeias produtivas da ramento são utilizados para a implementação de um
Boletins divulgados semanalmente surgiram da necessidade de disponibilizar região. A indústria de conservas local produz cerca de sistema de alerta, que além de informar a população de
informações sobre a infestação de mosca-das-frutas nos pomares 95% da produção nacional de pêssegos em calda. Nesta moscas presentes nos pomares, também pode ser uti-
região, a cultura do pessegueiro é conduzida em cerca de lizado para prever a ocorrência da praga, por meio de
2 mil propriedades, envolvendo 6 mil pessoas que reali- um modelo matemático. “A previsão é feita com base nos
zam os tratos culturais durante todo o ano e a colheita dados coletados nas três últimas safras agrícolas, nas
durante os meses de outubro a janeiro. Além disto, du- exigências térmicas da mosca-das-frutas e nos dados de
rante a colheita do pêssego, as indústrias de conserva ge- temperatura, coletados pelas estações meteorológicas,
ram cerca de 7 mil empregos diretos e aproximadamente sendo fundamental para o seu controle na cultura do
3 mil empregos indiretos. pessegueiro,” revela.
O projeto entra em seu quinto ano de funcionamento
Implementação e funcionamento e o trabalho desenvolvido auxilia os produtores identifi-
O sistema de alerta se baseia no monitoramento das cando a época correta de aplicação e também mantém os
pragas, divulgação dos resultados e treinamentos de pro- persicultores atualizados quanto as técnicas de manejo
dutores. O monitoramento é realizado em nove estações e controle da mosca e de outras pragas da cultura. Além
da região colonial de Pelotas, Morro Redondo e Cangu- disso, o uso de inseticidas é menor, importante para evi-
çu. Nestes locais também foram instaladas estações me- tar contaminações do meio ambiente e da natureza, di-
teorológicas automáticas para coleta de dados climáticos minuindo os custos de produção e produzindo um pês-
como temperatura, umidade relativa do ar e do solo, plu- sego com maior qualidade alimentar. ◆

178 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 179
PESQUISA PESQUISA

Fepagro estuda culturas


potenciais para a
agricultura familiar
O
ferecer alternativas tecnológicas viáveis para rana. Segundo o pesquisador Rodrigo Favreto, na atual Favreto explica que essas pesquisas estão inseridas nalto meridional brasileiro e nordeste do Uruguai.
uma agricultura de baixo impacto ambiental. conjuntura, onde são discutidas mudanças climáticas, em uma visão geral, a qual pressupõe que a atividade Atualmente, a Fepagro Litoral Norte possui populações
Esse é o objetivo de pesquisas realizadas na menor uso de água, energia e outros recursos, é funda- agropecuária deve levar em conta as características do segregantes de goiabeira-serrana, além de acessos de
Fepagro Litoral Norte, em Maquiné, com culturas po- mental que a pesquisa seja direcionada para superar o ecossistema original - no caso das encostas do litoral interesse, disponibilizados pelos professores Rubens
tenciais para a agricultura familiar, como frutas nativas desafio de promover a viabilidade da agropecuária e a norte gaúcho, a Mata Atlântica. Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Ca-
- com destaque para a palmeira juçara e a goiabeira ser- sustentabilidade dos agroecossistemas. tarina (UFSC), e Joel Donazzolo, da Universidade Tec-
Palmeira juçara nológica Federal do Paraná (UTFPR). “O trabalho é
É o que acontece com o estudo sobre a palmeira juça- desenvolvido por pesquisadores de diversas áreas de
ra (Euterpe edulis): o sentido é a valorização do recurso atuação da Fundação, juntamente com essas univer-
genético local. Ao invés de cortar o palmito e causar a sidades”, esclarece a pesquisadora da Fepagro Litoral
morte da planta, a ideia é utilizar o fruto sem matar a Norte, Raquel Paz da Silva.
planta e ainda gerar mais renda, como já vem sendo feito Conforme Raquel, o estudo é importante, pois, apesar
por agricultores da região, explica o pesquisador. de ser nativa e apresentar potencial de exploração e ma-
Conforme Favreto, a Fepagro, com apoio do Escritó- nejo, é pouco conhecida e cultivada no país, possuindo
rio Municipal da Emater e da Faculdade de Agronomia apenas quatro cultivares registradas a partir de um traba-
da Ufrgs, realiza atualmente pesquisas identificando lho conjunto entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária e
formas economicamente viáveis de plantio da palmeira, Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a UFSC.
como por exemplo, em consórcio com bananais. “O plan-
tio da juçara consorciado possibilita a diversificação dos Lichia
bananais, inserindo uma planta nativa da Mata Atlântica Além das nativas, frutas exóticas como a lichia
no sistema produtivo”, destaca. também estão sendo avaliadas. “A lichia (Litchi chi-
Ainda em relação à juçara, há trabalhos com microbio- nensis), originária da China, é considerada por alguns
logia, conduzidos na Fepagro Sede, em Porto Alegre, pelas como a ‘rainha das frutas tropicais’, devido a seu sabor
pesquisadoras Anelise Beneduzi da Silveira e Andréia Rotta e aroma delicados, além do aspecto atraente”, conta
de Oliveira. “A ideia é a identificação de micro-organismos Favreto. Ele esclarece que, no Rio Grande do Sul, a
do solo que sejam benéficos para a palmeira, no sentido do fruta é pouco conhecida, sendo praticamente inexis-
controle biológico de doenças como a antracnose dos frutos, tente seu cultivo. Mas atualmente estão sendo feitos
bem como na promoção do crescimento das plantas.” estudos com o cultivo da lichia em Maquiné. “As ava-
liações fitotécnicas e de produtividade estão sendo re-
Goiabeira-serrana alizadas em um pomar de 14 anos das cultivares Ben-
A goiabeira-serrana (Acca sellowiana) é uma fru- gal, Brewster e Comores, pertencente ao engenheiro
Além das nativas, frutas exóticas como a lichia também estão sendo avaliadas teira pertencente à família Myrtaceae, nativa do pla- agrônomo Ronaldo Breno Petzhold.” ◆

180 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 181
LUCAS SCHERER CARDOSO
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

Panorama da pecuária nacional


Estudo do IBGE traz dados atuais
sobre a bovinocultura, produção
leiteira, suinocultura, avicultura
e produção de ovos no país
182 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 183
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

U
ma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Bra- e o maior entre os meses de março (27,0%). Em 30 de Suínos principalmente com o desempenho positivo de Mato
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pu- setembro de 2014 foi registrado o maior valor da série Segundo a pesquisa do IBGE, no 3º trimestre de 2014 Grosso do Sul (+12,6%).
blicada no final do ano de 2014, traz dados histórica de preços do Cepea (R$ 132,24), de julho de foram abatidas 9,641 milhões de cabeças de suínos, re- Na comparação com o 2° trimestre de 2014, a região
atuais sobre a bovinocultura, produção leiteira, suino- 1997 a setembro de 2014. presentando aumentos de 5,1% em relação ao trimestre Sul apresentou variação positiva (+5,7%) no volume de
cultura, avicultura e produção de ovos. A oferta restrita de animais para reposição e abate, imediatamente anterior e de 3,0% na comparação com cabeças abatidas. Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do
De acordo com a pesquisa, no 3º trimestre de 2014, decorrente, dentre outros fatores, da seca prolongada o mesmo período de 2013. Este resultado, além de ser o Sul tiveram variação positiva de 7,1%, 6,3% e 3,7% res-
foram abatidas 8,457 milhões de cabeças de bovinos sob iniciada no final de 2013, contribuíram marcadamen- melhor terceiro trimestre desde que a pesquisa foi cria- pectivamente. Na região Centro-Oeste, todos os estados
algum tipo de serviço de inspeção sanitária. Esse valor te para o aumento dos preços pagos aos pecuaristas. O da em 1997, estabeleceu novo recorde. No comparativo registraram aumentos no número de cabeças abatidas,
foi 1,0% menor que o registrado no trimestre imediata- repasse da alta de preços da arroba bovina ao mercado anual entre os terceiros trimestres, desde o 3º trimestre totalizando variação positiva de 7,9%. Mato Grosso do
mente anterior (8,539 milhões de cabeças) e 4,5% menor atacadista está sendo sentido pelo consumidor final. De de 2006 verifica-se crescimento ininterrupto no número Sul apresentou maiores incrementos no volume abatido,
que o registrado no 3º trimestre de 2013 (8,859 milhões acordo com o IPCA/IBGE (Índice de Preços ao Consumi- de animais abatidos. tanto em números absolutos, como na variação percen-
de cabeças). O 3º trimestre de 2014 quebra a série de 11 dor Amplo), que é o indicador oficial da inflação brasilei- O peso acumulado das carcaças no 3º trimestre de tual (+13,6%). Segundo dados da Secretaria de Comér-
sucessivos aumentos nos comparativos anuais dos mes- ra, de janeiro a setembro de 2014 todos os cortes de car- 2014 alcançou 833,369 mil toneladas, representando au- cio Exterior (Secex), no 3° trimestre de 2014 as exporta-
mos trimestres. ne bovina acompanhados pela pesquisa apresentaram mentos de 4,2% em relação ao trimestre imediatamente ções brasileiras de carne de suíno in natura registraram
Como não há variações acentuadas no peso médio aumentos de preços acima da inflação. Com exceção do anterior e de 2,8% em relação ao mesmo período de 2013. queda do volume exportado frente aos resultados do 3°
das carcaças, sobretudo em nível nacional e entre os filé-mignon (8,27%), os demais cortes bovinos também A região Sul respondeu por 66,0% do abate nacional trimestre de 2013, assim como em relação ao trimestre
mesmos períodos do ano, a série histórica do peso acu- apresentaram aumentos acima das outras principais fon- de suínos no 3º trimestre de 2014, seguida pelas Regiões imediatamente anterior. Em termos de faturamento, na
mulado de carcaças por trimestre tende a seguir o mes- tes protéicas de origem animal: carne de porco (8,47%), Sudeste (18,7%), Centro-Oeste (14,2%), Nordeste (1,0%) comparação com ambos os períodos, a variação percen-
mo comportamento da série do abate de bovinos. Nesse ovos de galinha (7,17%), leite e derivados (5,93%), pes- e Norte (0,1%). No comparativo entre os terceiros tri- tual foi positiva refletindo o aumento dos preços médios
sentido, também ocorre no 3º trimestre de 2014 quebra cados (4,32%), frango em pedaços (3,03%) e frango in- mestres 2014/2013, a região Sul apresentou aumento de internacionais que estão em patamares elevados. Esses
da série de 11 aumentos consecutivos nos comparativos teiro (-0,67%). 3,2% no número de cabeças abatidas, ampliando a sua preços seguem em ascensão desde o 2° trimestre de 2014
anuais dos mesmos trimestres. A produção de 2,037 mi- Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior participação no abate nacional em 0,2%, principalmen- porque a oferta mundial de carne suína permanece em
lhões de toneladas de carcaças bovinas, no 3º trimestre (Secex), houve decréscimo do volume de carne bovina te devido ao incremento de 8,0% no volume de cabeças baixa por problemas sanitários em alguns países expor-
de 2014, foi 1,3% maior que a registrada no trimestre in natura exportada, no comparativo do 3º trimestre de abatidas em Santa Catarina. A região Sudeste também tadores e por menores investimentos no setor.
imediatamente anterior (2,011 milhões de toneladas) 2014 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, aumentou a sua participação (+0,1%) com a escalada A Rússia é o principal parceiro comercial do Brasil no
e 4,1% menor que a registrada no 3º trimestre de 2013 mas houve aumento do faturamento em decorrência positiva de São Paulo (+9,7%), enquanto que a região mercado de suínos e tem participação de 43,0% do vo-
(2,124 milhões de toneladas). do aumento dos preços internacionais. No comparativo Centro-Oeste registrou queda de participação (-0,1%), lume exportado, aumento de 15,6% na comparação com
Em nível nacional, o abate de 402.579 cabeças de com o trimestre anterior, foram verificados aumentos no apesar de ter aumentado o número de cabeças abatidas, o 3º trimestre de 2013. A política de comércio exterior
bovinos a menos no 3º trimestre de 2014, na compa- volume exportado, no faturamento e no preço médio da
ração com igual período do ano anterior, teve como carne exportada.
destaque: Mato Grosso (- 217.187 cabeças), Rondônia Rússia (34,3% de participação), Hong Kong (20,4%),
(-114.723 cabeças), Mato Grosso do Sul (-102.922 ca- Venezuela (11,6%), Egito (8,9%), Chile (5,0%), Itália

EMBRAPA SUÍNOS E AVES


beças) e Goiás (-86.349 cabeças). Entretanto, parte da (2,7%), Irã (1,8%), Holanda (1,5%), Angola (1,4%) e
diminuição foi compensada por aumentos em outras Argélia (1,3%) foram os dez principais destinos da car-
Unidades da Federação (UFs), com destaque a: Paraná ne bovina in natura brasileira, respondendo juntos por
(+30.392 cabeças), Minas Gerais (+28.727 cabeças) e 88,9% das importações no 3º trimestre de 2014. Neste
São Paulo (+16.315 cabeças). No ranking nacional do período, 74 países importaram o produto do Brasil. Par-
abate de bovinos, Mato Grosso segue na liderança e São ticiparam da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais,
Paulo assume a segunda posição com as quedas nos no 3º trimestre de 2014, 1.241 informantes de abate de
abates de Mato Grosso do Sul e Goiás. bovinos. Dentre eles, 218 possuíam o Serviço de Inspe-
Segundo o indicador Esalq/BM&F Bovespa do Cen- ção Federal (SIF), 395 o Serviço de Inspeção Estadual
tro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Ce- (SIE) e 628 o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), res-
pea), as médias mensais dos preços da arroba bovina de pondendo, respectivamente, por 79,0%; 15,4% e 5,6% do
janeiro a setembro de 2014 mantiveram-se mais altas peso acumulado das carcaças produzidas. Todas as UFs
que nos respectivos meses de 2013. O menor aumento apresentaram abate de bovinos sob algum tipo de servi-
médio mensal ocorreu entre os meses de julho (16,5%) ço de inspeção sanitária.

184 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 185
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

íam o Serviço de Inspeção Federal (SIF) e responderam cio Exterior (Secex), a exportação de carne de frango cado externo, vindo na sequência Santa Catarina e Rio
por 90,2% do peso acumulado de carcaças produzidas no no 3º trimestre de 2014 registrou aumentos no volume Grande do Sul. Juntos aumentaram de 70,9% para 75,0%
país. Dos demais informantes, 33,4% (253 informantes) exportado in natura e no faturamento, tanto na compa- a participação da região Sul nas exportações brasileiras,
sofreram o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e 52,6% ração com o trimestre imediatamente anterior, como na resultado do aumento do volume de carne de frango ex-
(398 informantes) o Serviço Inspeção Municipal (SIM). comparação com o mesmo período de 2013. O desem- portado por cada Estado. São Paulo, Minas Gerais Mato
Rondônia e Amapá foram as únicas Unidades da Federa- penho do volume exportado no mês de julho de 2014 Grosso do Sul, Rondônia, além de Distrito Federal tam-
ção que não possuíam abate de suínos sob algum tipo de esteve em patamares elevados, sendo primordial para o bém aumentaram suas exportações. Na comparação com
inspeção sanitária. resultado recorde no terceiro trimestre. Arábia Saudita o 3º trimestre de 2013, Mato Grosso registrou variação
(17,6%), Japão (11,5%), Hong-Kong (8,4%), Emirados negativa de 51,3% caindo de 6° lugar para o 8° lugar no
Frangos Árabes (7,0%), China (6,4%) e Venezuela (4,5%) foram ranking. Goiás, Pernambuco e Bahia também registra-
Dados da pesquisa ainda apontam que no 3º trimes- os principais destinos em termos de participação nas ram variação negativa. Espírito Santo, Paraíba e Tocan-
tre de 2014 foram abatidas 1,419 bilhão de cabeças de exportações brasileiras de carne de frango. Desta lista, tins não exportaram no 3° trimestre de 2013.
da Rússia ainda permanece voltada para importações de frangos, invertendo uma sequência negativa de três tri- a Venezuela foi o único que reduziu o volume de carne De julho a setembro de 2014, o IPCA/IBGE (Índice
países que não lhe impuseram sanções políticas e econô- mestres consecutivos de queda do abate a partir do 4º de frango negociado com os frigoríficos brasileiros na de Preços ao Consumidor Amplo) apresentou aumentos
micas por causa do conflito na Ucrânia, o que favoreceu trimestre de 2013 e estabelecendo novo recorde desde comparação com o trimestre imediatamente anterior. de 0,02% para o frango inteiro e de 1,75% para o frango
o comércio com o Brasil. Em contrapartida, o conflito que a pesquisa foi criada em 1997. Esse resultado signifi- A Rússia vem ampliando sua participação nas exporta- em pedaços. Para os respectivos subitens, o acumulado
no Leste Europeu fez despencar a forte participação da cou aumentos de 6,7% em relação ao trimestre imediata- ções brasileiras já que vive um período de turbulências de janeiro a setembro foi de -0,67% e de 3,03%. Segun-
Ucrânia de 22,9% para 1,5%. Na sequência vieram Hong mente anterior e de 2,7% na comparação com o mesmo políticas. No mês de julho estas compras alcançaram o do o indicador Cepea/Esalq, o preço médio do frango
Kong (14,7% de participação), Angola (9,1%), Cingapu- período de 2013. O peso acumulado das carcaças foi de patamar de 20 mil toneladas importadas, volume similar resfriado posto no frigorífico de julho a setembro de
ra (8,3%) e Uruguai (4,9%) são os cinco principais países 3,249 milhões de toneladas no 3º trimestre de 2014. Esse a países como China e Emirados Árabes. 2014 foi de R$ 3,32, variando de R$ 3,77 a R$ 2,99. No
importadores de carne de suíno do Brasil. Entre os esta- resultado representou aumentos de 6,7% em relação ao No 3° trimestre de 2014, Paraná foi o estado brasi- mesmo período de 2013 o preço médio foi de R$ 3,32,
dos exportadores de carne suína, Santa Catarina registrou trimestre imediatamente anterior e de 5,7% frente ao leiro que liderou as exportações de frangos para o mer- representando prática estabilidade no comparativo entre
aumento de 24,6% no volume exportado na comparação mesmo período de 2013.
entre os terceiros trimestres de 2014/2013 e permanece No comparativo entre os terceiros trimestres de
na liderança das estatísticas de exportação. Rio Grande 2014/2013, a região Sul aumentou sua participação no
do Sul manteve-se como segundo maior estado expor- total do abate nacional passando de 59,8% para 61,4%,

LUCAS SCHERER CARDOSO


tador do Brasil e o Paraná passou a terceiro lugar no registrando aumento de 5,4% no número de cabeças de
ranking com as quedas das exportações dos estados de frangos abatidas, consolidado pelo desempenho positivo
Goiás e Minas Gerais. A região Sul participou com 85,4% dos três estados da região, sobretudo o Rio Grande do Sul
do total das exportações, desempenho superior ao regis- com aumento de 10,1%. O Sudeste teve sua participação
trado no 3° trimestre de 2013 (76,6% de participação). reduzida de 19,9% para 19,1% e menor volume de fran-
Segundo o Indicador do suíno vivo Cepea/Esalq, o gos abatidos, com Minas Gerais abatendo 7,2% a menos.
preço médio recebido pelo produtor (R$/kg) sem ICMS, No Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal
de julho a setembro de 2014, entre as cinco regiões pes- registraram quedas no número de cabeças de frango
quisadas (RS, SC, PR, SP, MG), foi de R$ 3,79/kg, varian- abatidas, impondo um desempenho negativo para a re-
do de R$ 4,20/kg a R$ 3,36/kg. No mesmo período de gião que teve sua participação no total de abate nacional
2013, o preço médio foi de R$ 2,91/kg, representando reduzida de 15,4% para 14,4%.
aumento anual de 30,2%. No comparativo com a média Na comparação do 3º trimestre de 2014 com o tri-
dos preços de abril a junho de 2014 (R$ 3,28/kg), o rea- mestre imediatamente anterior, o desempenho positivo
juste foi de 15,6%. De julho a setembro de 2014, o Índice do abate de frangos no agregado nacional deveu-se ao
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE) registrou aumento do número de cabeças de frangos abatidas em
aumento de 6,14% nos preços da carne suína. No acumu- todos os Estados com exceção de Minas Gerais e Dis-
lado do ano, de janeiro a setembro de 2014, o aumento foi trito Federal. Com isso todas as regiões também apre-
de 8,47%. Participaram da Pesquisa Trimestral do Abate sentaram aumento, variando 8,7% na região Sul, 0,9%
de Animais 757 informantes do abate de suínos no 3º tri- na Sudeste, 5,4% na Centro-Oeste, 9,6% no Nordeste e
mestre de 2014. Destes, 14,0% (106 informantes) possu- 7,9% no Norte. Segundo dados da Secretaria de Comér-

186 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 187
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

os 3os trimestres 2014/2013. O preço médio do frango dustrialização, por sua vez, foi de 6,258 bilhões de litros, do à entrada do período de safra na região, à ocorrência anterior houve o registro de 2.100 informantes, tendo
resfriado posto no frigorífico (R$ 3,32) aumentou 2,0% aumento de 4,9% sobre o mesmo período de 2013 e de de um inverno mais ameno e a novos investimentos fei- ocorrido as maiores reduções deles em São Paulo, no Rio
na comparação com o período de abril a junho de 2014 8,1% sobre o volume registrado no 2º trimestre de 2014. tos na produção. Tal aumento foi superior à produção de Grande do Sul e em Santa Catarina. Do total de infor-
(R$ 3,26). Participaram da Pesquisa Trimestral do Aba- No comparativo mensal com o mesmo período de 2013, todo o estado de Rondônia, por exemplo. Por outro lado, mantes 41,5% tinham inspeção sanitária federal; 45,6% a
te de Animais 399 informantes do abate de frangos no a aquisição manteve-se relativamente crescente em to- São Paulo reduziu substancialmente a sua captação de estadual e 12,9% a municipal. No entanto, em termos de
3º trimestre de 2014. Destes, 37,3% (149 informantes) dos os meses do 3º trimestre de 2014, tendo registrado leite, puxando a participação regional do Sudeste. participação na produção, o cenário era: 92,6% da aqui-
possuíam o Serviço de Inspeção Sanitária Federal (SIF) e em agosto a maior variação (5,9%). Regionalmente veri- Quando o comparativo é feito entre o 3º trimestre de sição de leite foi feita por estabelecimentos com inspeção
responderam por 94,4% do peso acumulado de carcaças ficou-se que o Sul foi responsável por 38,7% da aquisição 2014 e o trimestre imediatamente anterior observam-se federal; 6,7% foi feita por estabelecimentos estaduais e o
de frangos produzidas no país. Dos demais informantes, nacional de leite, o Sudeste por 38,6% e o Centro-Oeste quedas na aquisição de leite no Norte e no Centro-Oeste residual (0,7%) por estabelecimentos sob inspeção mu-
21,8% (87 informantes) sofreram Serviço de Inspeção por 13,0% no 3º trimestre de 2014. O Nordeste do país do país. No Norte a queda foi puxada por Rondônia, en- nicipal. O Índice Geral dessazonalizado teve aumento de
Estadual (SIE) e 40,9% (163 informantes), o Serviço de contribuiu com 5,3% da aquisição e o Norte com 4,5%. quanto que no Centro-Oeste, pelo Mato Grosso. No Mato 4,78% no acumulado do ano até o mês de setembro de
Inspeção Municipal (SIM). Roraima, Amapá, Maranhão Neste 3º trimestre de 2014 o Sul do país superou o Sudes- Grosso houve relatos de estiagem e seca, fatores que po- 2014. O IPCA para o Grupo Leites e derivados teve au-
e Rio Grande do Norte foram as únicas Unidades da Fe- te na aquisição de leite, assumindo a maior participação dem ter influenciado na queda da aquisição, ao afetar a mento de 2,95% também no acumulado do ano. Dentre
deração que não possuíam registro do abate de frangos nacional neste quesito. qualidade das pastagens. Somado a isto houve a entra- os itens que o compõem observou-se reduções somente
sob algum tipo de inspeção sanitária. No comparativo entre os terceiros trimestres de 2014 da do período de entressafra nas regiões Centro-Oeste no leite longa vida (-0,96%) e na manteiga (-0,28%). To-
e de 2013 observou-se aumentos na aquisição de leite em e Norte. As demais regiões apresentaram crescimentos dos os demais itens apresentaram elevações de preços,
Aquisição de leite todas as regiões geográficas, exceto na Norte que teve na aquisição, sendo este maior no Sul, sobretudo devido sendo mais significativas em iogurte e bebidas lácteas
O estudo do IBGE publicado em 2014 aponta que no retração. No Sul do país o aumento foi de 8,8%, no Su- ao incremento no Rio Grande do Sul, embora os demais (7,89%), leite em pó (7,61%) e no queijo (6,53%). Ao se
3º trimestre de 2014 foram adquiridos, pelas indústrias deste de 0,3%, no Centro-Oeste de 7,2% e no Nordeste de estados também tenham registrado aumentos importan- observar a série nos meses que compõem o 3º trimestre
processadoras de leite, 6,267 bilhões de litros do produ- 10,0%. O aumento registrado no Sul foi o maior, em ter- tes. O Sul isoladamente foi responsável por quase totali- verificou-se aumentos de preços de 0,93% em julho; 0,9%
to, indicativo de aumentos de 4,6% sobre o 3º trimestre mos absolutos, ocorrido no país. Todos os estados do Sul dade da variação da quantidade adquirida nacional de em agosto e de 2,17% em setembro para o grupo de leite
de 2013 e de 8,1% sobre o 2º trimestre de 2014. A in- aumentaram substancialmente a captação de leite devi- leite (99,6%). Minas Gerais é o estado que mais adquiriu e derivados. Tomando por base setembro de 2014 ele-
leite, cerca de 25,2% do total nacional no 3º trimestre de vações de preços foram registradas, mais intensamente,
2014. Na sequência destacam-se o Rio Grande do Sul no leite longa vida (3,89%) e no creme de leite (1,82%).
com 15,8%, o Paraná com 12,4%, Goiás com 10,1%, San- Em sentido contrário variou somente o leite condensado
ta Catarina com 10,5% e São Paulo com 10,2% de parti- (-0,18%). Segundo o Cepea, o preço médio líquido pago
cipação. No comparativo com o mesmo período de 2013, pelo litro de leite no Brasil foi de R$1,0037 em setembro

ALCIDES OKUBO FILHO


Goiás teve aumento de produção em 2014, aproximan- para o produto entregue em agosto, indicando queda de
do-se a São Paulo em termos de participação. 0,81% no comparativo entre setembro e agosto. Entre as
No 3º trimestre de 2014 participaram da Pesquisa sete regiões em que os preços são apurados e divulga-
Trimestral do Leite 2.078 informantes distribuídos por dos somente não ocorreu redução de preços em Goiás e
todos os estados brasileiros à exceção do Amapá que na Bahia. Os maiores preços médios líquidos estaduais
não tem informantes cadastrados que se enquadram na ocorreram em Goiás (R$ 1,0462) e na Bahia (R$ 1,0459).
metodologia da pesquisa. No trimestre imediatamente Tal queda de preços está relacionada ao aumento da pro-

DIVULGAÇÃO
188 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 189
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

dução de leite, sobretudo dado o início da safra sulista, em 7,6%. No fechamento do 3º trimestre de 2014, o preço produção que caiu bastante em Goiás. No Norte a redu- começo de recuperação em setembro (0,16%). Os da-
boa ocorrência de chuvas na região Centro e Sudeste do era de US$ 5.721,69 para a tonelada do produto. ção ocorreu basicamente em todos os estados, à exceção dos do Cepea também captaram o movimento de queda
país conciliado ao menor preço do concentrado nos úl- Ovos de galinha do Pará e Rondônia. de preços em julho e agosto e o crescimento ocorrido
timos meses, estimulando sua utilização na alimentação A produção de ovos de galinha foi de 720,036 mi- Participaram da pesquisa 1.574 informantes distribu- em setembro. Para o Cepea na última semana de ju-
animal. No cenário externo as vendas brasileiras de leite lhões de dúzias no 3º trimestre de 2014. Comparativa- ídos por praticamente todos os estados brasileiros. Não lho os preços começaram a se elevar alavancados pelo
in natura registraram quedas em volume, tanto no com- mente ao 3º trimestre de 2013 e ao 2º trimestre de 2014 participam do inquérito os estados do Amapá, Tocantins crescimento da demanda, o que permitiu escoar os
parativo com o 3º trimestre de 2013 quanto com relação observaram-se aumentos respectivos de 3,9% e 3,0%. A e Maranhão, por não terem estabelecimentos produtores estoques de ovos de galinha existentes. Houve ainda a
ao 2º trimestre de 2014, sendo respectivamente de -9,8% produção de ovos de galinha obtida neste 3º trimestre que se enquadrem na metodologia adotada pela pesquisa. volta às aulas na maioria das escolas públicas; o fim da
e de -33,0%. Os principais destinos da produção brasi- foi a maior de toda a série histórica da pesquisa ini- No trimestre imediatamente anterior o número de infor- Copa do Mundo, regulando a logística de comerciali-
leira de leite in natura foram Bolívia (83,6%), África do ciada em 1987. Tomando o 1º ponto da série (janeiro mantes era de 1.596, sendo as maiores diferenças deles zação, assim como a ocorrência de temperaturas mais
Sul (9,7%), Siri Lanka (6,1%) e Estados Unidos (0,6%), de 1987) e o último, a produção de ovos cresceu duas ocorridas no Paraná, em Santa Catarina e em São Paulo. amenas, fatores que estimularam o consumo. Em agos-
pela ordem. Os estados de Rondônia, Minas Gerais, Rio vezes e meia. A produção de ovos de galinha em todos No comparativo com o 3º trimestre de 2013 houve au- to, segundo o Cepea, ainda havia pressão de queda das
Grande do Sul e São Paulo foram aqueles que participa- os meses do 3º trimestre de 2014, relativamente ao mento de 21 informantes, sobretudo no Sul do país (Santa cotações dos ovos justificada pela oferta elevada e pela
ram das vendas externas de leite in natura no período. mesmo período de 2013, manteve-se crescente, sobre- Catarina) e no Centro-Oeste (Distrito Federal). demanda enfraquecida. Isto contribuiu para a ocorrên-
Rondônia respondeu por 77,0% da quantidade vendida, tudo em setembro. Deve ser observado ainda que neste No 3º trimestre de 2014, dos informantes da pes- cia de descarte de poedeiras mais velhas. A proximi-
Minas Gerais (15,7%), Rio Grande do Sul (6,7%) e São mês a produção de ovos de galinha teve crescimento de quisa, 591 informaram ter como finalidade principal a dade da primavera é outro fator que tende a elevar a
Paulo (0,6%). 5,2%, enquanto o efetivo de galinhas no último dia teve produção de ovos de incubação, representando 22,2% produção de ovos por conta dos dias mais longos. As
No comércio externo de leite em pó foi registrado aumento de 2,9%. No 3º trimestre o mês de agosto foi do total produzido nacionalmente. O IPCA dessazona- quedas de preços foram maiores para os ovos verme-
aumento significativo em volume quando o comparativo aquele que apresentou a maior produção. No acumu- lizado para ovo de galinha registrou aumento de 3,97% lhos. Em setembro houve aumentos de preços, embora
foi estabelecido com o mesmo período de 2013 e queda lado do ano até setembro houve o crescimento da pro- no acumulado do ano até setembro de 2014. Ao se ob- as médias tenham sido menores do que as observadas
de 27,4% relativamente ao 2º trimestre de 2014. Os prin- dução de ovos de galinha em 3,1%, isto sobre o mesmo servar os meses que compõem o 3º trimestre houve pelo Cepea no mesmo período de 2013 na maioria das
cipais destinos da produção brasileira de leite em pó fo- período de 2013. A distribuição regional da produção queda de preços em julho (-1,35) e agosto (-0,51%) e praças investigadas. ◆
ram Venezuela, Bolívia, França, Congo e Angola; de um era no 3º trimestre de 2014: 48,9% no Sudeste do país;
total de 11 países importadores. Somente a Venezuela foi 22,1% no Sul; 13,4% no Nordeste; 13,1% no Centro-O-
responsável por 98,8% do volume total comercializado este e 2,4% no Norte. Comparativamente ao trimestre

EMBRAPA SUÍNOS E AVES


no 3º trimestre de 2014. Dentre os estados brasileiros ex- imediatamente anterior houve estabilidade da parti-
portaram leite em pó em maior volume: Minas Gerais cipação da produção de ovos de galinha nas regiões
(62,8%), Rio Grande do Sul (23,5%) e Paraná (12,9%). Norte e Nordeste do país. As regiões Sudeste e Centro-
São Paulo, Goiás, Rondônia e Rio de Janeiro também ex- -Oeste reduziram marginalmente suas participações,
portaram leite em pó no período. enquanto que a Sul ganhou participação. São Paulo foi
Quanto ao faturamento obtido na comercialização o estado brasileiro com a maior produção de ovos de
do leite in natura também foram registradas quedas no galinha (30,3%), seguido por Minas Gerais (10,4%) e
período em análise relativamente aos dois comparativos pelo Paraná (9,4%). Aumentaram suas participações,
assumidos: 3,5% relativamente ao 3º trimestre de 2013 e no comparativo com o mesmo período do ano anterior,
2,8% com relação ao 2º trimestre de 2014. O preço médio o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
da tonelada de leite foi de US$ 2.181,54 no 3º trimestre Ao se estabelecer um comparativo entre os terceiros
de 2014, contra US$ 1.502,63 no trimestre imediatamen- trimestres de 2014 e de 2013 pode-se verificar o aumento
te anterior e US$ 2.038,21 no mesmo trimestre de 2013. da produção de ovos de galinha nas regiões Sudeste, Sul
Com isto foram observados aumentos de preços de 7,0% e Nordeste. No Sudeste o aumento ocorreu em todos os
e 45,2% respectivamente ao 3º trimestre de 2013 e ao 2º estados que a compõem, sendo maior em São Paulo, no
trimestre de 2014. O faturamento do leite em pó regis- Espírito Santo e em Minas Gerais. No Sul, somente Santa
trou aumento significativo com relação ao 3º trimestre de Catarina reduziu a produção de ovos de galinha. O Rio
2013 e queda de 21,8% comparativamente ao 2º trimestre Grande do Sul, por sua vez, registrou o maior aumento
de 2014. Com isto as médias de preços reduziram-se no de produção regional. No Nordeste o aumento foi puxa-
comparativo com o mesmo período de 2013 em 9,7% e do, sobretudo por Pernambuco, e somente Piauí e Bahia
elevaram-se no comparativo com o 2º trimestre de 2014 reduziram suas produções. O Centro-Oeste reduziu sua

190 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 191
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

A
agricultura familiar é responsável por 30%
da produção de leite no Brasil, envolvendo

Leite
70% dos produtores. O restante é abastecido
por produtores médios e grandes. Apesar de ser menor o
percentual da produção, a participação da agricultura fa-

Consumo aumenta e
miliar na atividade é importante, segundo a Associação
Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil). Isto por-
que, mantém as pessoas no campo, ao invés delas saírem
em busca de outros trabalhos nos grandes centros.
De acordo com o presidente da Leite Brasil, Jorge Ru-

provoca aceleração
bez, o maior produtor do país é Minas Gerais, seguido pelo
Rio Grande do Sul. Mas os três estados do Sul é que pos-
suem maior representatividade da agricultura familiar. E, o
grande diferencial está relacionado à genética do rebanho.

da cadeia
Em 2014, a produção de leite no país foi de 33 bilhões
de litros. Foram importados da Argentina e Uruguai cer-
ca de 1 bilhão de litros e exportados 500 milhões de litros
para a Venezuela e outros países. “Temos um saldo ne-

192 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 193
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

Beneficiários Fornecedores Aquisição de Produtos em valor (R$)


gativo de 500 milhões de litros para sermos abastecidos. sidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite
Categoria de Fornecedores Número de Fornecedores Porcentagem Produtos 1ª Chamada 2ª Chamada
Mas não conseguimos concorrer com outros países em diz que existem ferramentas para fiscalizar estas ações e
Agricultor Familiar 33.377 65,20% Arroz 2.546.220,00 5.817.829,10
termos de exportação, onde há subsídio dos governos e, coibir as fraudes.
Pescador Artesanal 1.003 2% Feijão 987.239,70 1.645.308,30
além disso, vai sobrar produção no mercado interno, o Conforme o superintendente da Associação Leite
Assentamento 12.952 25,30% Farinha 1.184.663,60 1.426.469,20
que provoca a queda do preço. É preferível importar leite Brasil, José Edson Rosolen, o país poderia produzir um
Quilombola 1.131 2,20% Farinha de Trigo 146.183,50 169.017,00
do que sobrar, caso contrário, vai bagunçar o mercado, maior volume o qual seria destinado à exportação. En-
Indígena 335 0,70% Fubá de milho 112.559,40 129.274,70
porque quem manda é o consumo, o qual determina o tretanto, a maior dificuldade que o Brasil encontra em
Atingidos por Barragem 39 0,10% Macarrão 327.255,60 881.497,90
preço do leite”, explica. exportar o produto para países desenvolvidos é o subsi-
Agroextrativistas 2.391 4,70% Leite em pó 0 10.186.139,90
Com relação ao consumo de lácteos, Rubez diz que dio que existe nos Estados Unidos e União Européia, os
Total 5.304.091,80 20.255.536,10
está em torno de 180 litros per capita/ano, e que a pro- quais acabam direcionando o excedente para os merca-
dução tem aumentado de 2 a 5% nos últimos anos. Mas dos importadores. Mesmo assim, o Brasil chega a expor- Aquisição de Produtos em quilos
varia em determinados períodos, como em janeiro por tar leite para Venezuela e alguns países árabes. Produtos 1ª Chamada 2ª Chamada
Público Brasil Sem Miséria
exemplo, quando muitos estão de férias. “Este é um mo- Para o superintendente da Associação Leite Brasil, a Arroz 1.282.680 2.441.720
Regiões Total de Fornecedores A; A/C; B Porcentagem
mento em que o consumo retrai”, diz. agricultura familiar é muito importante porque gera em- Feijão 313.630 638.010
Centro Oeste 4.841 2.252 47%
Já sobre a fraude do leite, onde o Ministério Público prego, mesmo sendo familiar. “O dono da terra e aqueles Farinha 324.200 542.560
Nordeste 12.096 9.410 78%
desencadeou sete operações no Rio Grande do Sul, o pre- que estão produzindo têm a oportunidade de não ir para Farinha de Trigo 83.920 101.020
Norte 5.930 2.932 49%
as cidades em busca de empregos, muitas vezes medío- Fubá de milho 70.170 70.390
Sudeste 19.542 7.764 40,00%
cres. Produzindo nas suas propriedade, pelo menos, eles Macarrão 96.430 291.660
Sul 8.819 1.594 18%
Organização de agricultores Familiares participantes do PAA executado estão em uma situação mais confortável do que dispu- Leite em pó 0 897.000
pela Conab em 2014 Total 51.228 23.952 47%
tando o emprego nos centros urbanos, que exigem qua- Total 2.173.030 4.982.360
Ano MDA (Associações ou MDS(CPNJS) TOTAL (CNPJs s/
cooperativa- CNPJs) repetição) lificação”, declara.
2014 56 1.008 1.052 A agricultura familiar dispõe de uma série de progra- 17º RANKING MAIORES EMPRESAS DE LATICÍNIOS DO BRASIL - 2013
mas como Balde Cheio entre outros, que ensinam como Class1 Empresas/ Recepção leite (mil litros) Número produtores leite Litros de leite por
Marcas produtor/dia
2012 2013 Var. % 2012 2013 Var.% 2012 2013 Var.%
Recursos aplicados no PAA em 2014 (R$) Total
Ano Valor Produto- Terceiros Total Produto- Terceiros Total 2013/ 2013/ 2013/
2014 338.004.942,00 res res 2012 2012 2012

DIVULGAÇÃO
1º DPA2 1.045.500 913.000 1.958.500 1.080.000 953.000 2.033.000 4 4.915 4.320 -12 581 685 18
Aquisição de orgânicos pelo PAA em 2014 2º BRF 1.281.253 259.237 1.537.490 1.192.034 185.230 1.377.264 -10 12.635 11.084 -12 277 295 6

Ano Quantidade (Kg) Valor Valor Total PAA % PAA 3º ITAMBÉ 801.000 154.000 955.000 886.934 169.330 1.056.264 11 7.750 7.397 -5 282 329 16

2014 2.547.627 2.547.627 338.004.941,79 2,1% 4º LAICÍNIOS 439.526 195.540 635.066 523.268 305.362 828.630 31 3.784 4.537 20 317 316 0
BELA VISTA
5º COOPs CAS- 341.155 87.425 428.580 434.377 114.297 548.674 28 518 1.050 103 1.799 1.133 -37
Número de projetos aprovados em 2014 TROLANDA e
BATAVO4
Ano CDS CPR - Estoque TOTAL
6º EMBARÉ 332.413 136.269 468.682 370.573 157.148 527.721 13 1.568 1.611 3 5.779 630 9
2014 1.067 58 1.125
7º DANONE 255.000 108.000 363.000 266.067 182.649 448.716 24 600 510 -15 1.161 1.429 23
8º CONFEPAR 260.084 6.018 266.102 347.010 64.027 411.037 55 5.501 6.313 15 129 151 17
9º JUSSARA 190.520 117.615 308.135 242.197 88.183 330.380 7 2.430 2.887 19 214 230 7
Percentual dos projetos de Compra com Doação simultânea (CDS) em 2014
10º VIGOR 172.110 48.730 220.840 217.460 62.601 280.061 27 1.096 1.482 35 429 402 -6
Valores dos Projetos em R$ 2014
11º CENTRO- 245.827 0 245.827 246.301 0 246.301 0 3.940 3.774 -4 170 179 5
até 150.000 36,60% LEITE
de 150.000 a 300.000 34% 12º FRIMESA 172.351 16.963 189.314 193.021 26.583 219.604 16 3.567 3.783 6 132 140 6
de 300.000 a 450.000 13,50% Total Ranking3 5.536.739 1.888.976 7.425.715 5.999.242 2.139.132 8.138.374 10 48.304 48.748 1 313 337 8
de 450.000 a 600.000 8,20% Estimativa da capacidade instalada de processamento de leite das empresas do ranking 2013 (mil litros/ano) = 11.525.747
1
Classificação base recepção (produtores + terceiros) no ano de 2013 – 2 Números referentes a compra de leite realizada pela DPA Manufacturing Brasil em nome
de 600.000 a 1.000.000 5,70%
da Nestlé, da Fonterra, da DPA Brasil, da DPA Nordeste e da Nestlé Waters. – 3 O total de terceiros não inclui o leite recebido de participantes do ranking devido a
Acima de 1.000.000 2,10% duplicidade – 4 As duas Cooperativas exercem uma Operação Conjunta no segmento de Lácteos
Fonte: LEITE BRASIL, CNA, OCB, CBCL, VIVA LÁCTEOS e EMBRAPA/Gado de Leite
Jorge Rubez

194 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 195
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

Produção Brasileira de Leite significativamente a produtividade do rebanho brasileiro Economia familiar


Estado Ano Var. % Part. % como um todo”, diz. Para Rosolen, se houver maior atenção para a produção
2011 2012 2013 2013/2012 2013 de leite por parte dos agricultores familiares, já que a produ-
Rondônia 706.647 716.829 920.496 28 2,7 Consumo se aproxima da recomendação da ção nacional depende muito deles, pelo fato de que o custo
Acre 42.254 42.732 47.125 10 0,1 OMS de produção da economia familiar muitas vezes ser superior
Amazonas 52.033 48.168 48.969 2 0,1 Com relação ao consumo, ele vem aumentando de de quem produz muito leite, o cenário brasileiro pode pros-
Roraima 7.012 8.794 10.137 15,3 0 forma expressiva. De acordo com o superintendente da perar mais. “Essa atenção especial tem que ser voltada para
Pará 590.551 560.916 539.490 -3,8 1,6 Associação Leite Brasil, há 15 anos, era de 90 litros per a genética, com ajuda de custo por exemplo, alguma ma-
Amapá 9.481 10.996 10.948 -0,4 0 capita e hoje se aproxima de 180 litros. Os motivos foram neira de isentá-los de qualquer coisa que ele precise pagar,
Tocantins 267.305 269.883 269.255 -0,2 0,8 o aumento da população e da renda das famílias. porque a tendência é de diminuir o número de produtores
Maranhão 386.673 381.637 385.880 1,1 1,1 A recomendação da Organização Mundial da Saú- no mundo. Essa é a minha preocupação. Pelo fato de que
Piauí 89.119 85.103 82.542 -3 0,2 de é de 200 litros per capita, a exemplo da Argentina cada vez estamos produzindo mais, com menos produtores.
Ceará 464.596 461.662 455.452 -1,3 1,3 que já atingiu este consumo. “Nós estamos próximos a E isto ocorre em qualquer segmento da economia. No leite é
Rio Grande do Norte 243.249 198.052 209.150 5,6 0,6 este volume, mas vai demorar para atingir essa quan- importante dar apoio ao pequeno produtor para que ele não
Paraíba 237.102 142.546 157.258 10,3 0,5 tidade, porque ela se dá de forma gradativa diante do saia do meio rural e vá para os grandes centros com suas
Pernambuco 953.230 609.056 561.829 -7,8 1,6 cenário brasileiro”. famílias onde podem acabar até passando fome”, conclui. ◆
Alagoas 238.249 245.647 331.406 2,6 0,7
Sergipe 315.968 298.516 331.40 11 1
Bahia 1.181.339 1.079.097 1.162.598 7,7 3,4
Minas Gerais 8.756.114 8.905.984 9.309.165 4,5 27,2

ASCOM MDA
Espírito Santo 451.294 456.551 465.780 2 1,4
Rio de Janeiro 499.515 538.890 569.088 5,6 1,7
São Paulo 1.601.220 1.689.715 1.675.914 -0,8 4,9
Paraná 3.815.582 3.968.506 4.347.493 9,5 12,7
Santa Catarina 2.531.159 2.717.651 2.918.320 7,4 8,5
Rio Grande do Sul 3.879.455 4.049.487 4.508.518 11,3 13,2
Mato Grosso do Sul 521.832 524.719 523.347 -0,3 1,5
Mato Grosso 743.191 722.348 681.694 -5,6 2
Goiás 3.482.041 3.546.329 3.776.803 6,5 11
Distrito Federal 30.000 24.610 34.448 40 0,1
Brasil 32.096.211 32.304.421 34.255.240 6 100

aumentar a produtividade. Uma delas é a genética, o inseminar. Deveria ser feita a inseminação do rebanho
manejo, e tem alguns que já introduziram essas técnicas da agricultura familiar para melhorar na primeira gera-
e passaram a produtividade que era de 150 a 200 litros ção, o que consequentemente, poderia aumentar a pro-
para 600 litros. dutividade significativamente”, pontua.
O superintendente da Associação Leite Brasil enfati- Rosolen enfatiza que na agricultura familiar apenas
za que a produtividade precisa da questão genética. “O quem entrou no programa Balde Cheio ou outros pro-
Brasil não tem know-how avançado de touros provados, gramas que levam conhecimento e técnicas, melhora-
definidos como raça leiteira. E no exterior há sêmen, ram a produtividade. “Isto porque modifica o rebanho
que muitas vezes ate o Ministério da Agricultura (Mapa) e aprendem o manejo com rotação de pastagem, entre
adotou em dar ao produtor. Todavia, ele pode não saber outros métodos. Mas de modo geral, tem aumentado

196 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 197
LUCAS SCHERER CARDOSO
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

Suinocultura
Atividade que fixa o
homem no campo

198 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 199
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

A
o mesmo tempo em que a suinocultura é se- 2014 – o melhor ano da história ORGANIZAÇÃO DA SUINOCULTURA BRASILEIRA
melhante à avicultura, pois ambas têm um Ainda segundo o diretor executivo da ABCS, 2014
contexto social, emprega 1 milhão de pessoas foi o melhor ano da história da suinocultura brasileira.
e fixa o homem no campo, gera renda e produz alimen- “Uma série de fatores levou a este cenário. Tivemos bai-
tos, na suinocultura, um cenário vem sofrendo mudan- xos custos de grãos. A produção americana que influen-
ças nos últimos 15 anos. Os pequenos agricultores estão cia o preço do milho foi excepcional e a produção brasi-
deixando a atividade de lado e se dedicando a outros leira pressionou os preços da soja e milho para baixo, o
trabalhos. que é bom para o produtor de suínos. 85% do custo do
Conforme o diretor executivo da Associação Brasileira quilo da carne de suíno vem de rações”, acrescenta.
dos Criadores de Suínos (ABCS), Nilo de Sá, o cenário da Os preços internacionais e nacionais da carne suína
produção de suínos mudou nos últimos 15 anos, com uma também estavam altos, basicamente por problemas sani-
concentração maior nas mãos de produtores em escala e, tários nos EUA, onde surtos de PED mataram 7 milhões
agricultores familiares desistindo da atividade. “Trata-se de animais. “Isso causou menor oferta de animais para
de um efeito de mercado. Cada vez mais o consumidor abate nos EUA que são os maiores exportadores mun-
quer produto de melhor qualidade e pagando menos por diais. A Rússia que é o grande comprador interrompeu as
ele. E para isso, quase que invariavelmente, é preciso pro- aquisições da Europa e passou a comprar mais do Brasil.
fissionalizar, investir em equipamentos e instalações e au- Logo, custos baixos e demanda aquecida movimentaram
mentar a produção. No Sul do país, por exemplo, muitas o mercado externo”, ressalta.
vezes o produtor fica limitado, porque não tem área e o Em alguns meses chegou a ter diferença de preço de
terreno é montanhoso. Isso é nítido quando vemos a mo- 60% em relação ao ano anterior pelo mesmo produto.
vimentação das agroindústrias grandes se concentrarem, “Foi um ano excepcional. O volume de produto tam-
por exemplo, no Mato Grosso, com módulos com 4 mil bém estava mais baixo no Brasil, pois em 2011 e 2012
matrizes por granja e, no Sul a média fica em 300 matri- houve crise no setor e cerca de 120 mil matrizes saíram
zes. É uma tendência natural e uma pressão do mercado. do rebanho. Produtores pequenos que não conseguiram A REALIDADE BRASILEIRA
O consumidor quer produto de menor custo e isso força o conviver com a crise saíram da atividade. E quando isto
produtor a se profissionalizar”, explica. acontece, o reflexo se dá um ano após, por isso ocorreu
Apesar disso, 70% da suinocultura brasileira está uma menor oferta para abate entre 2013/14. A tendência
concentrada no Sul do país onde existe predomínio da
suinocultura familiar.
Título do Gráfico
DESTINO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CARNE
SUÍNA EM 2012
PRINCIPAIS DESTINOS DA CARNE SUÍNA
BRASILEIRA
País 2014 Part.
14,60%
Rússia 186.594 37,75%
Hong Kong 110.922 22,44%
Angola 52.284 10,58%
Cingapura 32.288 6,53%
Uruguai 20.836 4,22%
Geórgia 8.617 1,74%
Chile 8.367 1,69%

Consumo de carnes por


Argentina 7.960 1,61%
Moldavia 5.840 1,18%
85,40%

pessoa em 2014
Albania 5.839 1,18%
Outros 54.680 11,06%
TOTAL 494,228 ton 100,00%
Fonte: ABPA Exportação Mercado Interno

200 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 201
CRIAÇÕES

Cuidar para prosperar


para 2015 é remuneração menor do que em 2014, mas “O que temos trabalhado é a saudabilidade da car-
tudo indica ainda em patamares razoáveis”, acrescenta. ne. Não existe mais aquele ‘porco banha’. A carne suína
não transmite doença e pode ser consumida também por
Consumo quem faz dieta”, diz.
O consumo de carne suína é um dos principais en- Atualmente, 85% da carne suína produzida no Brasil
traves do setor. Em quatro anos, ele passou de 13 para atingem o mercado interno. “O Brasil tem 200 milhões Alberto Broch, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG)
15,4kg per capita/ano, mas não chega a comparar com de pessoas e se aumentar o consumo faltará produto.

O
o consumo na Europa que atinge 45 kg per capita/ano. Por isso, a criação de suínos é uma boa alternativa de s agricultores familiares têm sempre em los de produção com maior sustentabilidade dos solos e
Todavia, entre as regiões do Brasil que tem menor índice renda tanto para pequenos como para grandes produ- mente: nem toda terra é boa para produzir. do meio ambiente para enfrentar as mudanças climáticas.
de consumo é o Nordeste, com 6 milhões de habitantes e tores”, conclui. ◆ Somente com um bom solo a terra produzirá O Ano Internacional dos Solos também toca numa
o consumo não passa de 6kg per capita/ano. os alimentos para a vida humana prosperar. questão muito importante para toda a sociedade: a do
Para a CONTAG foi excelente a decisão da ONU em acesso às terras onde está o SOLO em que são produzidos
TÍTULO Dados gerais da suinocultura brasileira decretar 2015 Ano Internacional dos Solos. Espera-se os alimentos. Quem tem acesso ao solo produtivo? Por
que a FAO, estimule governos e a sociedade internacio- que ele está tão concentrado e é usado de forma intensiva
ANO PRODUÇÃO Mil ton EXPORTAÇÃO Mil ton INTERNA Mil ton ՔՔ 1,65 Milhões de matrizes tecnificadas (70%
nal a promover um grande debate sobre a importância e degradante?
2007 2990 607 2260 região sul)
2008 3015 529 2390
de recuperar e preservar nossos solos para o futuro da Vamos debater o uso dos solos e daremos continui-
ՔՔ 3,5 milhões tolenadas carne (38 milhões de humanidade. Este tema não é exclusivamente dos produ- dade às ações do Ano Internacional da Agricultura Fa-
2009 3130 608 2423
abates) tores, agricultores e pecuaristas, mas de toda a sociedade miliar 2014, envolvendo organizações governamentais e
2010 3015 540 2577
ՔՔ 494 mil toneladas exportadas (1,5 bilhão e especialmente dos governos, responsáveis por políticas não-governamentais na construção de novos conceitos
2011 3195 584 2644
dólares) -2014 públicas que podem impactar mais ou menos o uso cor- e propostas para o desenvolvimento rural sustentável e
2012 3227 581 2670
2013 3330 560 2771 ՔՔ mais de 40 mil produtores (redução e concen- reto dos solos. solidário no Brasil e no mundo. ◆
2014 3,410* 494 2916* tração) Precisamos conhecer e entender a importância do
Fonte: MAPA -*Estimativa/ABCS ՔՔ 1,0 milhão de empregos (diretos e indiretos) Solo enquanto parte da camada da terra onde a vida
prospera a partir dos seus nutrientes e microrganismos
fundamentais para o crescimento de todos os tipos de se-
res vivos. Trata-se de um recurso natural que está sendo
afetado permanentemente pelo uso indiscriminado de
fertilizantes, pesticidas e herbicidas, irrigação excessiva,

LUCAS SCHERER CARDOSO

CÉSAR RAMOS
má qualidade da água e outros tipos de mal-uso.
Cuidar dos solos é cuidar do nosso futuro. Portanto,
é preciso despertar um novo olhar consciente para uso
do solo e, a partir de políticas governamentais, criar e
fomentar programas que estimulem os produtores, agri-
cultores familiares, campesinos e indígenas a recuperar
os solos degradados e manter o equilíbrio entre a produ-
ção de alimentos e sua preservação.
Solos saudáveis são solos férteis, base pela qual pode-
remos aumentar nossa produção de alimentos, assegu-
rar nossa soberania e a segurança alimentar, reduzindo a
fome e a pobreza no mundo.
A CONTAG, internamente, nas suas instâncias encon-
trará caminho e mecanismos para levar esse debate junto
a sua base, apresentará aos governos propostas de políti-
cas para a recuperação e manutenção dos solos produti-
vos e provocará o debate com a sociedade sobre os mode-
Alberto Broch

202 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 203
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

Avicultura A
vicultura, fruticultura, suinocultura, horti-
granjeiros e leite são as principais atividades
O presidente da Abpa salienta que estas são ativida-
des específicas da agricultura familiar, porque não é pos-

A força dos pequenos


desenvolvidas pela agricultura familiar no sível pensar em produzir grãos em um espaço pequeno
Brasil. Hoje, 70% da produção avícola brasileira é feita de terra. Mesmo assim, é preciso que o agricultor fami-
em pequena propriedade. No Sul, o berço da avicultura liar seja capacitado para a atividade.
e suinocultura, ainda é tradição a ocupação de pequenos No que se refere à tecnologia, Turra destaca que está
espaços. São atividades que possibilitam que pequenos havendo um direcionamento, com programas do governo
proprietários se transformem em verdadeiros empresá- federal, como o Inovagro, para que o produtor possa ter
rios rurais. equipamentos mais modernos, com menos perda e mais
Agricultura familiar é responsável por 70% da produção de aves no país Conforme o presidente da Associação Brasileira de sustentabilidade. “E é preciso caminhar nesta direção.
Proteína Animal (Abpa), Francisco Turra, há indicativos Até porque somos avicultura e suinocultura exportado-
de que onde há avicultura o PIB é sempre muito maior do ra e somos visitados todos os meses por algum país e é
que em municípios com número igual de habitantes. Além fundamental que tenhamos uma avicultura e suinocultu-
disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), bem ra sustentável”, ressalta, acrescentando que esta produção
como o número de empregos gerados é maior. sustentável está relacionada a uma produção que minimi-
Segundo ele, 2014 foi um ano bom para o setor e o ze custos e também ofereça menos riscos ao meio ambien-
mesmo deve acontecer em 2015. “Como a avicultura tem te”, conclui. ◆
margem estreita de renda, se a cadeia não for bem, ne-
nhum elo tem como ir bem. E depois de muitos anos,

ÉDI PEREIRA
2014 foi excepcional, em que a renda também se transfe-

ÉDI PEREIRA
riu ao produtor para se capitalizar”, diz.
Em função disso, Turra diz que a expectativa é do ce-
nário se repetir neste ano, esperando que não haja trepi-
dação no preço dos insumos e que o consumidor tenha
mais renda, pois é o grande mercado, tendo em vista que
70% da produção de aves atende o mercado interno e
80% da produção de suínos também fica no Brasil.
O maior produtor de suínos do Brasil é Santa Catari-
na, seguida pelo Rio Grande do Sul e Paraná. Já na avi-
cultura, o Paraná lidera a produção, seguido por Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. No que tange a produção, o
Brasil é segundo maior produtor de aves e é o líder mun-
dial em exportação desde 2005. Na suinocultura é o 4º
maior produtor mundial e o 3º maior exportador. Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa), Francisco Turra

204 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 205
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

EXPORTADORES DE CARNE DE FRANGO: PREÇO DE EXPORTAÇÃO (US$/TON) CARNE DE FRANGO: EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS POTENCIAIS PARA OS MERCADOS JÁ ABERTOS
2013 potencial estimado
5
4,5 4,29 4,2 Cons.doméstico Cons. Per capita Exportações brasi- % Exp. Brasil/Cons. Consumo Domésti- Exportações rasilei-
(1000 tons) médio (kg/hab.) leiras (1000 tons) Domestico co (1000 tons) ras (1000 tons)
4
África 2.588 13 525 20% 3.743 759
3,5
América 23.725 39 281 1% 26.170 310
3
Oceania 987 8 2 0% 987 2
2,5 2,05 Ano 2013
1,99 1,9 1,81 Ásia 26.991 22 1.118 4% 33.914 1.405
2 1,58 1,51 Ano 2014
1,5 1,27 1,22 Oriente Méio 4.167 42 1.448 35% 5.289 1.838
Europa extra-EU 6.191 21 95 2% 6.660 102
1
0,5 União Européia 9.489 29 423 4% 9.489 423

0 Total 74.138 3.892 86.252 4.839

Brasil EUA EU Argentina Tailândia


Fonte: MDIC; FAS/USDA, Eurostat, Alice Mercosul, Governo Tailândia.
PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CARNE DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE DE
FRANGO PREVISÃO 2014 (MIL/ TONELADAS) FRANGO (JAN – NOV )
EXPORTADORES DE CARNE DE FRANGO: VOLUME DE EXPORTAÇÃO ( MIL TON)
12,7 12,65 7,35 7,28
4.500 Previsão 2014:
4.000 12,6 +2,8% 3,99 milhões ton
US$ 7,94 bilhões
3.500
12,5 42,81 Kg/capita
3.000
3,57 3,65
2.500 12,4
Ano 2013
2.000 12,308
Ano 2014 12,3
1.500
1.000 12,2
500
0 12,1
2013 2014 2013 2014
Brasil EUA EU Argentina Tailândia 2013 2014
Fonte: ABPA Volume (Milhões ton) Receita (bilhões US$)
Fonte: MDIC; FAS/USDA, Eurostat, Alice Mercosul, Governo Tailândia. Fonte: ABPA, SECEX

CARNE DE FRANGO: EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS


DISPONIBILIDADE INTERNA DE CARNE DE
REGIÃO Nº de Países Nº Países p/os quais o Brasil Países Brasil Exporta/Total PIB do Continente/PIB das Exp. Brasil/Consumo
Exporta Países Exp.Brasil Doméstico
FRANGO PREVISÃO 2014 (TON)
África
América
Ásia
53
34
31
46
20
22
87%
59%
71%
96%
87%
89%
19%
1%
4% 32%
Total da Avicultura
Europa Extra-EU
Oceania
Oriente Médio
17
13
13
10
2
13
59%
15%
100%
86%
0.1%
100%
2%
0%
35%
68%
US$ 8,5 bilhões
União Européia 28 19 68% 92% 4%

R$ 20,1 bilhões
EXPORTAÇÕES DA AVICULTURA BRASILEIRA | PREVISÃO PARA 2014 - COM ENCHIDOS Mercado Interno Exportação
Fonte: ABPA
Carne de frango* Carde de peru Ovos Carde de patos e outras Ovos férteis Material genético
aves
US$ 8,09 bilhões US$ 331 M|ilhões US$ 15 milhões US$ 12,9 milhões US$ 72,8 milh~es US$ 55,3 milhões

206 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 207
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

EXPORTAÇÃO DE CARNE DE FRANGO POR EXPORTAÇÕES BRASILEIRA DE CARNE DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE OVOS (JAN EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE OVOS DESTI-
REGIÕES (JAN-NOV 2014) FRANGO DESTINOS (JAN-NOV/14) (MIL TON) – NOV ) NO (JAN-NOV/14) (VOLUME)
Extra- País 2014 País 2013 Previsão 2014: IN NATURA
19,77
Oceania; 1 Arábia Saudita 592 = Arábia Saudita 634 10,9 mil ton
Europa; US$ 15,3 milhões -29% Japão; 5%
0,06% 2 EU-28 380 = EU-28 387 Outros;
4% 14,04 2%
3 Japão 379 = Japão 359
União -11,8%
4 Hong Kong 289 = Hong Kong 308 11,4
Européia; América; 10
5 Emirados Árabes 234 = Emirados Árabes 226
10% 9%
6 China 207 = China 175 Emirados
7 Venezuela 189 ↑ África do Sul 157 Árabes;
Oriente 31%
8 África do Sul 144 ↓ Venezuela 140 Uruguai;
Médio;
África; 9 Rússia 118 ↑ Kuwait 105 31%
34%
13% 10 Kuwait 94 ↓ Egito 80 2013 2014 2013 2014
Volume (Milhões ton) Receita (bilhões US$)
Outros 1.028 Outros 996
Fonte: ABPA, SECEX
Total 3.654 Total 3.568
Arábia
Fonte: ABPA, SECEX EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS CARNE DE Saudita;
Ásia; 30% 31%
PERU (JAN – NOV )
419
Fonte: ABPA, SECEX
Previsão 2014: -27,2% PROCESSADOS
125 mil ton Ovo
331 US$ milhões 305 Integral Outros;
Líquido; 1%
EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE CARNE DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS CARNE DE PATO 10%
FRANGO PRODUTOS EXPORTADOS (JAN- (JAN – NOV ) -22%
147
-NOV/14) 11,9 115

5% 9,2
4%

+582% 133% 2013 2014 2013 2014 In Natura ;


5,1 Volume (Milhões ton) Receita (bilhões US$) 88%
36%
Fonte: ABPA, SECEX

1,3 PRODUÇÃO BRASILEIRA DE OVOS PREVISÃO


2014 (BILHÕES DE UNIDADES)
55% 37,5 37,25
2013 2014 2013 2014
Volume (Milhões ton) Receita (bilhões US$) 37 +9,2% Fonte: ABPA
Fonte: ABPA, SECEX 36,5
182 unidade/capita
36
35,5
Inteiro Cortes Preparações Salgado 35
Fonte: SECEX 34,5 34,12
34
33,5
33
32,5
2013 2014
Fonte: ABPA

208 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 209
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

e macromoléculas. Ao conjunto de células e moléculas gócitos, antígenos específicos e a liberação de citoquinas


que protegem o corpo das infecções, doenças malignas em resposta a um antígeno).

O papel dos
e das células danificadas se denomina “sistema imune”. 1) Imunidade humoral: é a proteção imune que pode
Por sua vez, o sistema imune se divide em “natural” ser transferida pelo soro sanguíneo. Ela abrange as imu-
e “adquirido”. noglobulinas (receptores de antígenos e os anticorpos
a) A imunidade natural está composta pelas barrei- ligados às células B; estas últimas se desenvolvem na me-
ras físicas à infecção: pele, embranas mucosas, saliva, dula óssea e no fígado dos fetos e se diferenciam das célu-

micronutrientes
tosse, espirro, lágrima, inflamação, febre, etc., além das las do plasma, produtoras de anticorpos.) Elas reconhe-
células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos e células cem antígenos pelas suas imunoglobulinas de superfície.
Killer), as citoquinas e proteínas da fase aguda (proteí- As células de classe II MHC e receptores complementares
nas que aumentam ou diminuem seu teor de plasma no estão nestes linfócitos. A maior parte das células B neces-
caso de inflamações). sita de um antígeno (antígeno T dependente), juntamen-

na imunidade e na
b) A imunidade adquirida é a capacidade do orga- te com as células T específicas do antígeno.
nismo de reconhecer moléculas estranhas e responder
adequadamente a elas. Cumprem esta função principal- 2) Células que induzem a imunidade:
mente os linfócitos e fagócitos (leucócitos). A imunidade celular está associada às células – T.
A imunidade adquirida, por sua vez, se divide em As células T se diferenciam no tipo e na função:

fertilidade
duas: humoral e células que induzem a imunidade (res- 1)Produtoras de anticorpos-socorro.
posta imune que não envolve anticorpos, mas ativa os fa- 2) Matam células infetadas por vírus.

É
sabido que os micronutrientes influenciam a Estas deficiências subclínicas são muito comuns a

DIVULGAÇÃO
imunidade dos bovinos; entretanto, as intera- todos os animais e não somente aos bovinos, e na maio-
ções entre nutrição, imunidade e resistência a ria dos casos, não são vistos como um problema pelos
doenças são extremamente complexas. A insuficiência produtores. Os animais crescem e se reproduzem de
de micronutrientes na dieta, leva a menor resistência às forma aparentemente normal; a diferença com uma boa
doenças. O fornecimento de micro e óligo elementos tais mineralização é que o fazem a um custo de produção
como vit. E, beta carotenos, vit. A, vit. C, zinco, cobre, mais alto.
cromo, selênio, anganês, cobalto, ferro nas quantidades Por isto é imperativo que a suplementação mineral seja
necessárias, é fundamental para manter alta a imunida- bem feita: ela resultará em produção mais eficiente. Na de-
de dos animais. ficiência subclínica, cai a imunidade, os processos enzimá-
Por outro lado, a reprodução é o parâmetro mais im- ticos ficam comprometidos, o ritmo de crescimento cai,
portante na rentabilidade das fazendas de leite: se as va- assim como a fertilidade; e somente depois de todas estas
cas não parem a cada 12 meses, os custos da propriedade perdas, é que o produtor se dará conta do problema.
aumentam. A ingestão dos nutrientes acima, bem como O manejo e a nutrição são fundamentais para a ferti-
a sua absorção, são indispensáveis para um grande nú- lidade. Uma vez satisfeitas as necessidades de energia e
mero de reações metabólicas, incluindo-se aí a resposta proteína, o gado precisa receber todos os minerais de que
imune a um patógeno, a reprodução e o crescimento. As necessita, para manter níveis adequados de reprodução.
pequenas deficiências (subclínicas) costumam ser um Mecanismos de defesa do organismo:
problema maior que a deficiência aguda, porque os sin- O sistema imune dos vertebrados protege o organis-
tomas clínicos não são evidentes ao ponto de permitir ao mo da invasão constante de patógenos microbianos.
produtor reconhecer a deficiência: elas afetarão negati- Imunidade:
vamente a imunidade, a reprodução e o crescimento do A imunidade se define como as reações do organis-
rebanho muito antes de serem detectadas. mo a substancia estranhas tais como micro-organismos Fazenda Capão Alto, quinta maior produtora de leite do país, localizada em Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais. Na imagem, cama de Free Stall, com custo reduzido de R$ 1.800,00, para R$ 70,00

210 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 211
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

3)Regulam o nível da resposta imunológica. 3- enzimas tais como xantinaoxidase e óxidonítrico- influenciados por altas dosagens ou deficiências profun- do embrião (IGF-I) e no desenvolvimento fetal (IGF-II),
4) Estimulam a atividade microbiana das células, in- sintase (NOS) produzem O2 - e NO-. das de zinco. Monócitos são leucócitos ativados pelo zin- bem como do crescimento como um todo. A capacidade
cluindo macrófagos. Outras origens externas de ROS também contribuem co. O zinco também compõe varias enzimas tais como: de resposta das células à IGF depende do número e do
As células T reconhecem o antígeno e as moléculas direta ou indiretamente para a carga oxidante total. superóxido dismutase (SOD), RNA polimerase, DNA tipo dos receptores de IGF presentes na superfície da cé-
MHC, por meio de uma molécula de receptor. Quando polimerase, Ribonuclease, Timidinaquinase. A superó- lula e das proteínas de ligação à IGF que são secretadas
ativadas, elas transportam as moléculas classe II MHC e Exigências: xidodismutase cobre-zinco (SOD1) protege as células pelas células e inibem a ligação do IGF aos receptores da
também expõe a receptora interleucina 2 (IL-2). Quando As exigências metabólicas associadas ao final da pre- eucarióticas contra o estresse oxidativo causado pelos superfície celular. Estudos in vitro utilizando cadeias ce-
em repouso, as células T não possuem estas moléculas. nhez, do parto e ao início da lactação são produtoras de aníons superóxido. lulares modificadas, mostram que o zinco diminui a afi-
Existem três tipos principais de células T: ROS, o qual resulta em estresse oxidativo. O zinco também é essencial para a maturidade sexu- nidade de ligação de IGF para os receptores de IGFBP e
(i) Células auxiliares CT: Células imunes são particularmente sensíveis aos da- al e inicio do estro. Ele tem participa da integridade do aumenta a afinidade de ligação de IGF para os receptores
(ii) estas células se estimulam por uma combinação nos por oxigênio porque a sua membrana celular contem epitélio, o que significa que o zinco é indispensável para de IGF tipo 1 na superfície celular. Além disto, o IGF-1 se
de antígenos e moléculas Classe II MHC e se encontram alto teor de ácidos graxos poli insaturados (PUFA), os a manutenção do revestimento dos órgãos reprodutores. reduz quando há deficiência de zinco.
na superfície de uma célula que contem antígeno. Uma quais são muito suscetíveis à peroxidação. Níveis mais adequados de zinco são essenciais na repa- Assim, se houver mais zinco disponível, haverá
célula que contém antígenos é capaz de apresentar um ração do revestimento uterino após o parto, o retorno ao mais IGF liberado das IGFBF, para promover o cresci-
antígeno de linfócito em forma imunogênica. As células SISTEMA ANTIOXIDANTE DAS CÉLULAS DOS MAMÍFEROS cio, e a manutenção do revestimento para a implantação mento celular.
T auxiliares interagem com as células B para produzir Radicais livres Localização de embriões no útero.
anticorpos, e participam da maturação das células T Superóxido (O2) Citosol, membrana celular Deficiências de zinco em bovinos provocam aborto, Cobre:
citotóxicas, interagindo com outras células, como por Radicais hidroxilo (OH) Citosol, membrana celular mumificação fetal, baixo peso ao nascer e trabalhos de O cobre é essencial na manutenção do sistema imu-
exemplo, macrófagos, para secreção de linfocinas. Água oxigenada (H2O2) Citosol parto mais demorados. nológico, inclusive na formação de
(iii) Células T supressoras CT. Radicais de ácidos graxos Membrana celular Ele também é vital para a qualidade do esperma em anticorpos e das células brancas do sangue sadio. A
(iv) Células T citotóxicas CT. homens,e o zinco e o cobre também deficiência de cobre diminui a imunidade humoral e a
influenciam indiretamente a reprodução com mon- imunidade induzida pelas células, bem como a imunida-
Estresse oxidativo e imunidade: PAPEL DOS MICRONUTRIENTES NA IMUNIDADE E FERTILIDADE ta natural: touros que mancam não procuram vacas em de natural. Ele atua na fagocitose, e também na imunida-
Sies (1991) demonstrou que o estresse oxidativo num Componente Localização Nutriente Função cio; e mesmo quando as montam, podem não ejacular de específica das células fagociticas, como macrófagos e
envolvido
organismo vivo provoca desequilíbrio entre a produção devido à dor. neutrófilos. Duas enzimas que necessitam de cobre supe-
Dismutase Citosol Cobre, zinco, É uma enzima que transfor-
dos metabólitos reativos com oxigênio (ROM) e a capa- superóxido manganês ma o substrato a peróxido de O feto, por sua vez, necessita de zinco para o seu cres- róxido dismutase, possuem atividade anti-inflamatória e
cidade de neutralização dos mecanismos antioxidantes. hidrogênio (água oxigenada) cimento e desenvolvimento normais, e a sua deficiência são importantes na prevenção de danos oxidativos no te-
Estresse oxidativo é a denominação médica para os da- Catalase Citosol Ferro É uma enzima que transfor- provoca teratogênese fetal, gestação prolongada, trabalho cido, resultantes de infecções e inflamações. O cobre faz
ma água oxigenadaem água
nos nas células dos animais causado por substancias que de parto mais difícil, baixo peso ao nascer e cria fraca. parte do aparelho antioxidante do organismo, no com-
Glutation Citosol Selênio É uma enzima que transfor-
reagem com oxigênio, seja na forma de peróxidos, oxigê- peroxidase ma água oxigenadaem água Embora não saibamos qual é a exigência em Zn na plexo Cu-Zn superóxido dismutase (SOD).
nio simples, peróxido de nitrito ou água oxigenada. Atocoferol Membrana Vit. E Interrompe a reação em etapa de reprodução, muito provavelmente é maior do A SOD é considerada a primeira defesa contra pró-o-
O estresse oxidativo pode ocorrer por 3 vias distintas: cadeia de superoxidação dos em outras fases. Ele também é co-fator importante na xidantes, e se considera que seu papel contra o estresse
ácidos graxos
–– Eliminação de um átomo de hidrogênio. síntese de DNA e na transcrição dos genes, e entra na oxidativo é central. O complexo Cu-Zn- SOD tem baixo
Caroteno Membrana Caroteno Previne as reações em cadeia
–– Eliminação de um elétron. de superoxidação dos ácidos formação das prostaglandinas (porque são enzimas com peso molecular e 2 átomos de cobre e 2 de zinco.
–– Adição de oxigênio. graxos zinco),que são as responsáveis por controlar a passagem Existem 3 formas de iso-SOD: duas com Cu e Zn
–– Existem muitas maneiras de produzir substancias do ácido arafridônio. como agentes catalíticos estão no citoplasma ou fora da
com oxigênio altamente reativo: Zinco (Zn) As prostaglandinas também são as responsáveis pela célula. A terceira forma está na mitocôndria e contém
1- cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria pela O zinco afeta a imunidade através do seu papel, mui- manutenção da gravidez, devido à Manganês (Mn) como co-factor de catálise.
qual moléculas de oxigênio escapam continuamente na for- to importante na reprodução celular. O Zn influencia as secreção de P6F2a no lumem uterino A P6F2a é a res- A principal defesa contra o anion superóxido e o pe-
ma de ROS (formas reativas de oxigênio) intermediarias. defesas do organismo através da atividade fagocítica das ponsável pelo início das contrações uterinas. róxido de hidrogênio (água oxigenada) são a SOD, a ca-
2- as reações imunes contribuem para a produção células que induzem à imunidade humoral. A deficiên- Também, durante a gravidez, o Zinco modula a ação tálise, e os peróxidos-gutation.
de substâncias oxidantes, especialmente durante as in- cia de zinco diminui o potencial da resposta celular e dos fatores de crescimento semelhantes à insulina, a A molécula de O2 é reduzida a 2H20, captando 4 elé-
fecções ou como produto das respostas autoimunes: os também dos anticorpos do sistema imune, às infecções. nível celular (IGF). Estes fatores de crescimento são trons na célula. Se a redução de 02 é parcial (só 2 elé-
neutrófilos ativados, submetidos a ROS, tentam atingir Até mesmo alterações por um tempo pequeno no nível importantes estimulantes da reprodução celular. Estão trons), o produto final é H2O2 (peróxido de hidrogênio).
patógenos externos, mas a inespecificidade destas rea- de zinco altera o desenvolvimento das células T, assim presentes no útero de várias espécies, inclusive no gado, Se O2 só capta 1 elétron o produto final é radical
ções termina em dano ao tecido dos animais. como as funções das mesmas; já os granulócitos só são e são importantes na adaptação do útero a implantação superóxido: O2 -. Tanto o H2O2 como o O2 – são ex-

212 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 213
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

plementou bezerros com cromo, aumentaram as concen-


trações de imunoglobinas séricas.

MESTRE DICAS
O cromo aumenta a imunidade humoral e também a
imunidade induzida pelas células, bem como a resistên-
cia a infecções respiratórias.Ele diminui a concentração
tremamente tóxicos para as células, os lipídios e a es- de cortisol sérico (gado estressado), o qual diminui a
trutura da membrana. A SOD e a catalase protegem as imunidade dos animais.
células de ambos. Os linfócitos de vacas suplementadas com cromo au-
Se supõe que níveis baixos de cobre diminuem a mentaram a resposta blastogenica por estimulação com
fertilidade devido a alterações nos complexos enzimáti- Con A, uma proteína ligada a carbohidratos que estimula
cos, causam estro tardio, redução da libido, diminuição a produção de células T (CD4 e CD8).
da fertilidade e morte embrionária precoce, necrose da
placenta e anormalidades no sistema nervoso central Ferro (Fe):
da cria. As maiores alterações causadas pela deficiência de
Altos níveis de ferro, enxofre ou molibdênio no solo ferro são a redução das células T periféricas, diminuição
ou nos suplementos minerais podem potencializar ain- dos fagócitos (assassinos de patógenos), dos linfócitos
da mais estes sintomas da deficiência. A deficiência de interleucina – 2, e atrofia do timo.
cobre é comum e grave nas pastagens dos bovinos. Os A anemia por deficiência de ferro prejudica a ativi-
recém nascidos são altamente dependentes do cobre re- dade bactericida dos neutrófilos e também a imunidade
cebido antes do nascimento, uma vez que os níveis de induzida pelas células. Ambas foram eliminadas com te-
cobre no leite da mãe são muito baixos. Assim, a nutrição rapia de ferro adequada.
adequada de cobre nas fêmeas em gestação é fundamen-
tal para ter armazenado no corpo do recém nascido. Selênio (Se) e Vit. E:
A deficiência de cobre nas mães está associada com o O selênio foi identificado em 1930 e considerado tó-
aumento da mortalidade em cordeiros e bezerros. xico para algumas plantas e animais. Hoje se sabe que ele
é necessário tanto para animais de laboratório, quanto
Cromo – Cr em rebanhos comercias e para o homem. O selênio é um
Vários estudos mostram que a suplementação de antioxidante que trabalha em conjunto com a vit. E para Se também está associado à tiroxina (hormônio da tire- peroxidase que destrói o H2O2 e os lipídios peroxidados.
cromo biodisponível (Cr-amino ou Crlevedura) ao gado impedir e reparar os danos às células do corpo. A defici- óide) que regula o metabolismo, reprodução, circulação A vit. E protege as membranas celulares, produzindo hi-
leiteiro, traz benefícios à sua imunidade. Quando se su- ência de Se e/ou de vit. E prejudica a resposta imune; o e função muscular. Ele também protege o organismo de droperóxido de lipídios estáveis, que são inofensivos.
metais pesados, acomplexando-os. Ele atravessa facil-
mente a placenta e também se dissolve no leite; então, a Cobalto e vit. B12:
qualidade da suplementação de selênio de uma vaca irá O cobalto é essencial na nutrição de ruminantes para
afetar diretamente a saúde e a força de sua panturrilha! a síntese de vit. B12. Ele também melhora a digestão das
Combinados, Se e vit. E aumentam as defesas contra fibras pelas bactérias. Embora as necessidades de Co na
a mastite. A deficiência de ambos aumenta a retenção de dieta seja menor que 1ppm, a sua deficiência tem efei-
placenta, enquanto que a deficiência de Se aumenta as tos devastadores sobre a saúde animal. O melhor meio
infecções uterinas, a morte embrionária e diminui a fer- de assegurar que o Co necessário está sendo oferecido
tilidade. Os níveis de vit. E na dieta total de vacas secas ao animal, é garantindo a sua presença no suplemento
é de 1000 UI/dia, 500 UI/dia para vacas em lactação e mineral. Nos ruminantes a vit. B12 é sintetizada pelos
0,3 ppm de selênio. Vários trabalhos demonstram a pou- microorganismos ruminais a partir do cobalto. Assim,
ca capacidade dos neutrófilos de sequestrar patógenos, é impossível substituir o cobalto por vit. B12, já que ele
quando há deficiência de Se. é necessário ao metabolismo microbiano.
O Se e a vit. E compartilham funções biológicas co- Ruminantes com dieta deficiente em cobalto perdem
muns a ambos; a deficiência de um afeta a atividade do o apetite,o pelo e massa muscular; aparecem casos de
outro. O Se é componente essencial da enzima glulationa apetite depravado, anemia e até morte. Os teores de co-

214 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 215
CRIAÇÕES CRIAÇÕES

balto variam muito nos alimentos, dependendo da geo- vres; a suplementação de vit. C melhora o sistema imu-
grafia, solo, pH, etc.
Os animais com deficiência parecem ter sofrido fome;
as mucosas visíveis ficam inflamadas e a pele é pálida e
nológico, as atividades celulares, e a multiplicação dos
linfócitos; ela age contra a toxicidade, mutagenicidade
e carcinogênese dos poluentes ambientais, estimulando
A MELHOR FORMA DE
frágil. Os sinais secundários da deficiência incluem fígado
gorduroso, aumento da mortalidade das crias logo após o
nascimento, infertilidade e menor resistência às infecções.
as enzimas desintoxicantes do fígado . Contribui para a
integridade da função redox das células, protegendo-as
do oxigênio reativo gerado durante a respiração e nas
PENSAR OS LUCROS
Também, o metabolismo do ácido propiônico ne-
cessita de vit. B12. O acúmulo de ácido propiônico no
respostas inflamatórias.
DA FAZENDA
sangue deprime o apetite, o que ficou demonstrado em PAPEL DA VITAMINA C NAS DEFESAS DO ORGANISMO
ovelhas: quanto maior o teor de propionato no sangue, Defesa Vitamina C
menor é o consumo do alimento quando as dietas são Pele e barreiras de mucosas Síntese de colágeno
deficientes em cobalto. Aumento da força CONHEÇ A NOSSA COMPLETA LINHA DE INOCULANTES,
A sua deficiência também afeta o funcionamento dos Neutrófilos e macrófagos Aumento da motilidade P R O B I ÓT I CO S E S U P L E M E N TO S M I N E R A I S PA R A N U T R I Ç ÃO A N I M A L .
Aumento da capacidade Killer
neutrófilos e a resistência à invasão de parasitas. Aumento da fagocitose
Assim, neutrófilos isolados de bezerros deficientes em Linfócitos B e Linfócitos T Multiplicação
Co tiveram menor capacidade de matar Candida albicans. Interferon Aumento da produção
A vit. B12 desempenha um papel central no siste-
Na Kera o produtor encontra produtos, produção localizadas em Farroupilha e
aplicações e tecnologias que agilizam e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul.
ma imunológico, porque ela atua na divisão celular e Conclusão: otimizam os processos produtivos em to-
no crescimento. As interações entre nutrientes, imunidade e resistên- Nossa parceria com o produtor é baseada
das as fases, além de acompanhamento em eficiência.
A falta de B12 impede o amadurecimento e a multi- cia a doenças são extremamente complexas. e assistência técnica especializada.
plicação das células brancas no sangue, há diminuição Existem muitos fatores que afetam a resposta de um É por isso que nós da Kera não estamos
Os produtos são desenvolvidos com tec- no mercado competindo por preços.
dos glóbulos brancos e retenção do timo, que é o órgão animal à suplementação, estado fisiológico do animal nologia própria e equipe altamente qua-
crítico do sistema imunológico. (prenhe/vazia), ausência ou presença de antagonistas na lificada, em duas modernas estações de Competimos por resultados.
dieta, fatores ambientais, assim como a influência do es-
Vitamina A e β-caroteno: tresse sobre o metabolismo de micronutrientes.
A integridade do epitélio das superfícies mucosas Deficiências de Cu, Se, Co e vit. E reduzem a capaci-
com seu muco é o componente mais dade dos neutrófilos de matar fungos e bactérias.
importante da imunidade natural, e essencial para Deficiência de cobre reduz a produção de anticor-
evitar a invasão de microorganismos. pos, mas em geral não altera a imunidade induzida pe-
Deficiências de vit. A, que levam a perda desta las células.
integridade, causam aumento das infecções gastroin- A suplementação de vit. E e Se reduz as mastites e a
testinais, respiratórias e do aparelho urogenital. A en- retenção de placenta.
zima antimicrobiana lisozima depende da vit. A para O cromo estimula a imunidade em condições de
ser sintetizada. estresse.
Em pintos a deficiência de vit. A causou anomalias A deficiência de Co está sendo associada à baixa re-
no desenvolvimento dos órgãos linfoides primários e a sistência às infecções por parasitas.
reprodução celular diminuiu. O β-caroteno é o principal O β-caroteno aumenta a imunidade humoral e a
precursor da vit. A e aparece naturalmente nos alimen- induzida pelas células. Deficiências de oligoelementos
tos. Parece ser que o β-caroteno afeta a imunidade, in- podem afetar a produtividade dos ruminantes. A suple-
dependente da sua função de fonte de vitamina A. Ele mentação de zinco e cobalto aumenta o consumo dos
também atua como antioxidante, ao contrario da vit. A. animais rapidamente.
As respostas à suplementação de Cu e Se são mais Apropriado para uso na produção
orgânica. Utilização condicionada aos
critérios de cada regulamento orgânico NUTRIÇÃO ANIMAL
Vitamina C: lentas. Animais com deficiências subclínicas são difíceis conforme respectivo Atestado emitido.
Inspecionado pela Ecocert.
COM RESPONSABILIDADE
Como antioxidante, a vit. C é uma excelente fonte de serem diagnosticados como tal; no entanto, mudan- w w w. k e r a b r a s i l . c o m . b r
de elétrons, pois ela cede elétrons para os radicais li- ças na nutrição mineral melhoram a produção. ◆ (54) 2521-3124

216 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 217
ORGÂNICOS ORGÂNICOS

Tavares inaugura primeira


feira agroecológica da cidade
Horta Orgânica garante
A
Emater/RS-Ascar, em parceria com a prefei- culturas, a Emater/RS-Ascar e os parceiros idealizaram

segurança alimentar de família


tura de Tavares, município localizado a 230 uma feira no centro da cidade para que a população pu-
km de Porto Alegre, juntamente com o Sindi- desse comprar os produtos oriundos da produção local.
cato dos Trabalhadores Rurais, inaugurou no final de ja- Para o extensionista da Emater/RS-Ascar, Alexandre
neiro, a primeira Feira Orgânica da Agricultura Familiar Klein, além do aumento da renda familiar, a feira agro-

no Alto Sertão paraibano do município. Os agricultores comercializam diretamen-


te aos consumidores, todas as quartas-feiras, no período
da tarde no Pavilhão da Agricultura Familiar, localizado
no centro da cidade.
ecológica só tem a contribuir com os agricultores e com
a população do município, já que eles terão acesso a ali-
mentos livres de agrotóxicos. Segundo Klein, no inicio
do projeto apenas quatro agricultores queriam participar

E
m meio à vegetação típica da Caatinga, Marle- da; outra parte é vendida de porta em porta nas comuni- A população de Tavares possui origens no meio rural e, na inauguração, oito agricultores já estavam vendendo
ne Lopes dos Santos, 43 anos, e Genival Lopes dades da vizinhança. “Com essa renda extra, estamos me- e a grande maioria produz cebola, a principal fonte de os seus produtos.
dos Santos, 44, cultivam alface, cebolinha, co- lhorando a nossa qualidade de vida”, afirma o agricultor. renda, deixando culturas, como o feijão, abóbora, couve, O prefeito de Tavares, Flavio Souza, ressaltou a im-
entro e pimenta de cheiro no quintal da casa, no assen- O engenheiro agrônomo Anderson Barbosa, o téc- melancia e outros, apenas para o consumo da família. En- portância da feira no centro da cidade e o incentivo da
tamento Floresta, no município paraibano de Sousa. A nico agrícola Romério Cartaxo e o engenheiro florestal tre os problemas constatados pelos organizadores estão o Prefeitura. Ele salientou, também, a importância da di-
família iniciou há pouco mais de três meses uma horta Hidelgardo Alecrim, da Central das Associações dos baixo consumo de hortaliças de origem local e o desper- versificação de culturas, a comercialização na feira como
orgânica e já planeja ampliar as variedades produzidas. Assentamentos do Alto Sertão Paraibano (Caaasp) – en- dício de alimentos pelos agricultores. Com o objetivo de nova oportunidade de renda aos agricultores e a oferta
Localizado no Alto Sertão paraibano, a cerca de 430 qui- tidade contratada pelo Incra/PB para prestar Assessoria aproveitar a produção e incentivar a diversificação das de produtos sadios aos consumidores do município. ◆
lômetros de João Pessoa, o assentamento foi criado em Técnica, Social e Ambiental (Ates) a 31 assentamentos
2013 a partir da desapropriação do imóvel de mesmo do Alto Sertão do estado –, acompanham a horta de Ge-
nome, com área aproximada de 593 hectares, onde fo- nival e Marlene.

DIVULGAÇÃO EMATER
ram assentadas 13 famílias de trabalhadores rurais. Para a equipe, os benefícios socioambientais da agri-
Genival conta que aproveitou a experiência adqui- cultura orgânica são grandes tanto para o agricultor
rida quando trabalhava em uma horta comercial de quanto para os consumidores finais. Os profissionais
grande escala e usou equipamentos para irrigação que orientaram os agricultores a utilizar a cobertura morta
foram dispensados pelo seu antigo patrão para iniciar sobre o solo como forma de reter a umidade e melhorar
a horta familiar. a ciclagem dos nutrientes (a contínua transferência de
Atualmente, a produção de hortaliças, além de ga- nutrientes do solo para as plantas, e destas para o solo).
rantir a segurança alimentar da família de Genival e Segundo o engenheiro agrônomo Anderson Bar-
Marlene, contribui com o orçamento familiar. Marlene bosa, produzir em sistemas orgânicos não se resume
conta que viveu 23 anos na mesma localidade, mas era a eliminar os agrotóxicos nas culturas ou substituir os
obrigada a repassar metade do que produzia para o dono fertilizantes minerais por biofertilizantes. “É necessário
da terra. Agora, se sente motivada, pois tudo que produz conhecer toda a complexidade do agroecossistema para,
é para a família. O casal tem duas filhas, que também assim, manejar os recursos naturais presentes em sua to-
ajudam no cuidado com a horta. talidade, tanto o solo, como a água, as demais plantas, os
Genival explica que boa parte da produção é vendida grandes e os pequenos animais, inclusive os microrga-
em um supermercado do vizinho município de Apareci- nismos”, disse. ◆

218 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 219
ORGÂNICOS ORGÂNICOS

errei? O que devo fazer agora?”. E assim, buscar a solução arroz orgânico produzido em assentamentos com exce-

A expansão dos
para corrigir o manejo no sistema. Inclusive o de pensar em lente qualidade”, explica.
múltiplos cultivos (uma premissa básica em agroecologia é
uma maior agrobiodiversidade)”, ressalta. Expectativas para o setor
Outro entrave burocrático é atender às normas para Para a próxima década, Petry diz que haverá maior
obter a certificação. Não são complicadas, mas devem ser demanda por produtos orgânicos e agroecológicos em

alimentos saudáveis
atendidas. Não são todos que tem perfil para tal. função da insegurança alimentar ligada aos índices alar-
mantes mundiais de saúde pública (doenças do século:
Alimentos produzidos câncer, diabetes, hipertensão, obesidade...) e também no
Durante quase 10 mil anos (até o século 18), pode-se Brasil, com 50% das pessoas acima do peso, com 18,5%
dizer que a produção agrícola era de base agroecológica. com obesidade mórbida, etc.
Insegurança alimentar ligada aos índices alarmantes mundiais de saúde pública Então, é óbvio que é possível produzir qualquer cultura “Será o consumidor esclarecido e consciente que vai
num sistema agroecológico. Mas dependerá do conheci- exigir cada vez mais um alimento de qualidade. Haverá sim
são fatores que vão alavancar a produção de alimentos agroecológicos no Brasil mento e motivação da família de agricultores envolvidos maior estímulo para a produção agroecológica, que já tem
no processo. A Europa é a maior produtora de grãos or- sido fomentado desde 2003 e só tende a aumentar. No Brasil

M
esmo pequena, a produção agroecológica Vantagens da agroecologia gânicos, pois há um forte mercado consumidor exigindo desde 2012, existe uma política pública (PNAPO) e apoio
tem apresentado aumento no índice de De acordo com a professora, a primeira vantagem em pães, biscoitos, etc, orgânicos. Ou seja, o que cada região a projetos de pesquisa. A UPF, junto com CETAP, Rede
produção no país. São 1,5 milhão de hec- produzir de forma agroecológica é reduzir a contami- já produz bem de forma convencional, pode produzir Ecovida e Coonalter, aprovou um projeto junto ao CNPq e
tares com a produção de inúmeras culturas, sendo algu- nação ambiental, principalmente dos recursos hídricos. em sistema orgânico com respostas satisfatórias, já que MDA (criando o Núcleo de estudo em Agroecologia) que
mas exportáveis. “O custo para limpar a água é enorme. E não se elimina produtos orgânicos são melhor remunerados. “Na Fran- demonstra o interesse do governo de fomentar essa linha
Conforme a agrônoma, doutora e professora da Uni- moléculas sintéticas de agrotóxicos das águas contami- ça, por exemplo, a produtividade do trigo convencional de agricultura, unindo universidades a instituições de ex-
versidade de Passo Fundo, Cláudia Petry, também coor- nadas. Ao não permitir a entrada de adubos sintéticos e alcança 10 toneladas por hectare e a produção de trigo tensão rural (Agentes ATER). E sem sombra de dúvidas, é
denadora do Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) agrotóxicos, uma propriedade agroecológica é um filtro orgânico alcança 3 toneladas por hectare (semelhante no território da agricultura familiar que a agroecologia pode
do Planalto Norte, a produção agroecológica tem cresci- para o agroecossistema regional, por isso ela é tão impor- ao trigo convencional brasileiro). Mas lá o trigo orgâni- melhor se expressar. Pois ambas reivindicam autonomia,
do no Brasil. Mesmo sendo menos de 1% da produção tante onde existe. Com menor contaminação, os alimen- co pode receber até 30% a mais, ou seja, o rendimento mão de obra familiar, agrobiodiversidade, permanência da
agrícola, a produção orgânica segundo o cadastro do Mi- tos orgânicos são 100% aproveitáveis e diminuem a carga bruto se equivale. No Rio Grande do Sul temos produção mulher e do jovem no campo, e sustentabilidade atendendo
nistério da Agricultura (Mapa), alcança em torno de 11 de ingestão de agrotóxicos pelo ser humano. Hoje se sabe de arroz biodinâmico (raro no Brasil) e também temos normas trabalhistas, ambientais e florestais”, esclarece. ◆
mil unidades de produção, 7.959 produtores e 1,5 milhão que vários cânceres são causados pela contaminação am-
Produção agroecológica reduz a contaminação ambiental
de hectares (95% de pequenos e médios produtores ru- biental, sobretudo pelo uso de agrotóxicos. O custo de
rais) e inúmeras culturas. As principais que são exporta- produção pode reduzir paulatinamente, à medida que o
das são açúcar, café, soja e óleos. Em 2013, aumentou em agricultor consiga manejar toda a agrobiodiversidade do

DIVULGAÇÃO UPF
22% o número de produtores orgânicos. sistema agroecológico com o mínimo de perdas. Mas até
Segundo a professora, em 2013, o Piauí era estado isso acontecer, o custo de produção ficará alto”, diz.
com maior número de produtores envolvidos na ativi-
dade, com 978 e o Rio Grande do Sul vinha em segundo Entraves
lugar (863 produtores), depois São Paulo e Paraná. A Entre os entraves desta forma de produção está a acei-
região Nordeste é a que tem maior número de unidades tação de mudar o hábito cultural de como fazer as coisas
de produção. e a própria rotina de trabalho. A produção agroecológica
“Há um crescimento mundial de cerca de 20% ao ano. visa o equilíbrio do agroecossistema e, por isso, não tem
Os entraves continuam sendo a restrita organização da respostas prontas (os pacotes tecnológicos), tem na verda-
cadeia, dependendo muito da venda direta (circuito cur- de respostas locais dependentes da conjuntura local.
to), do associativismo e da divulgação pessoal. Na Europa, “Um agricultor convencional sofre ao não praticar mais
a comunidade européia exige que cada país tenha uma o gesto de aplicar um agrotóxico por exemplo. Pois quando
Agência de Orgânicos com todos os produtores cadastra- em processo de conversão para a produção orgânica, e se en-
dos e produções rastreadas. Isso nos falta ainda. É difícil contrando diante de um problema fitossanitário, ele precisa
conhecer toda a oferta de produtos orgânicos no Brasil. parar de pensar “o que eu aplico?”, e começar a pensar “onde

220 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 221
ORGÂNICOS ORGÂNICOS

“Produzir agroecologicamente é
cuidar da nossa saúde e daqueles
que compram nossos produtos”,
defende agricultora cearense
M
aria de Fátima dos Santos, 51 anos, gosta Brasil agroecológico
de dizer que a vida deu um salto após ela Em 2013, durante a II Conferência Nacional de De-

SÉRGIO AMARAL
própria reconhecer o potencial do campo. senvolvimento Rural Sustentável e Solidário, a presiden-
Ex-beneficiária do Bolsa Família e agricultora familiar, te Dilma Rousseff lançou o Brasil Agroecológico – Plano
Maria devolveu o cartão do programa de transferência Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, como
de renda depois que passou a acessar políticas voltadas principal objetivo de articular políticas, programas e ações
para o meio rural como a Ater, o Pronaf e o Proinf com de incentivo à produção de alimentos em bases agroeco-
o objetivo de investir na produção agroecológica. “Mi- lógicas e orgânicos e representa um marco na agricultura
nha alegria é saber que estou plantando e colhendo para brasileira. Estão destinados R$ 8,8 bilhões para execução
alimentar minha casa enquanto outra pessoa ganhou a de 125 iniciativas. Elas envolvem crédito, qualificação e
chance de fazer o mesmo, de dar comida aos seus filhos.” promoção de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater),
Na chácara onde mora, em Itapipoca, no Ceará, a 130 desenvolvimento e disponibilização de inovações tecno-
quilômetros de Fortaleza, Maria produz mais de dez va- lógicas e ampliação do acesso a mercados institucionais,
riedades de frutas e hortaliças. “Produzir agroecologica- como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o
mente é cuidar da nossa saúde e daqueles que compram Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
nossos produtos. Por isso, o incentivo é tão importante”. Junto com o Brasil Agroecológico, foi assinado o acor-
Com intuito de estimular os agricultores familiares a do de cooperação que instituiu o Programa Ecoforte. O ob-
produzir agroecologicamente, o Plano Safra (2014/2015) jetivo é apoiar as redes, cooperativas e grupos produtivos
contemplou, pela primeira vez, políticas voltadas exclu- de agroecologia, produção orgânica e extrativismo para
sivamente para a agroecologia. Entre as medidas estão: fortalecimento da produção e processamento, do acesso
garantia de custeio para a implantação de sistemas de aos mercados convencionais, alternativos e institucionais
produção agroecológicas e orgânicas; Assistência Técni- e para ampliação da renda dos agricultores familiares e
ca e Extensão Rural (Ater) para o desenvolvimento des- extrativistas. O programa Ecoforte conta com recursos da
ses sistemas; taxa diferenciada de juros do Pronaf inves- Fundação Banco do Brasil (FBB) e do Banco Nacional de
timento em 1% ao ano. Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). ◆

222 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 223
NAIARA PONTES / MDA
ORGÂNICOS ORGÂNICOS

Há dois anos, Maria do Socorro participa do Pro- e, a partir daí, tudo começou a acontecer, os caminhos
grama Produtor de Água, que tem adesão voluntária começaram a se abrir”, explica Fátima.
por parte dos agricultores. Ele prevê apoio técnico e A agricultora conta, ainda, que vai tentar acessar
financeiro para ações como construção de terraços e a linha de crédito do Ministério do Desenvolvimento
bacias de infiltração, recuperação e proteção de nascen- Agrário (MDA) voltada para a agroecologia, o Programa
tes, reflorestamento de áreas de proteção permanente, Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar -
dentre outros. A agricultora fez terraceamento (técnica Pronaf Agroecologia. “Já estou me movimentando para
agrícola e geográfica de conservação do solo, destina- acessar o Pronaf. Fizemos a transição para assegurar
da ao controle de erosão hídrica, utilizada em terrenos nossa permanência no campo, eu já estava desistindo.
muito inclinados) e reflorestamento, em sua proprieda- No modelo convencional não dá mais”, comenta.
de de 18 hectares.
“O córrego que passa aqui é o Pipiripau, que abastece Ater
duas cidades. Preservo esse córrego há muito tempo. Es- O presidente da Empresa de Assistência Técnica e
tou aqui desde 1986 e desde essa época que a gente vem Extensão Rural (Emater/ DF), Argileu Martins, res-
plantando. Hoje, na beira do córrego, está tudo florido, salta que esse trabalho de preservação já vem sendo
tem abelhas lá, os macacos aparecem para comer frutas, feito pelos técnicos de Ater. “A Ater já faz isso há muito
é a coisa mais linda”, orgulha-se Maria, que ainda cuida tempo, quando ela organiza manejo de solo. A Emater
de 50 cabeças de gado leiteiro. identifica as formas de utilização da água, verifica se
A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pipiripau é uma a propriedade tem áreas degradadas, se tem nascen-
área com atividade agropecuária intensiva e também tes expostas, matas ciliares não cobertas, e organiza
principal responsável pelo abastecimento de água das a recuperação das áreas de preservação permanente”,
cidades de Planaltina e Sobradinho. destaca. Foi esse o trabalho feito com as agricultoras
Maria do Socorro e Fátima.

Mulheres do campo
Transição
Fátima Cabral, 55 anos, é nova no campo. A agricul- Iniciativa
tura familiar entrou na vida dela e da família há 14 anos O Produtor de Água é uma iniciativa da Agência Na-
por necessidade. “Nós éramos da cidade, eu tinha um cional de Águas (ANA) que tem como objetivo a redu-

usam a agroecologia para


trabalho administrativo, burocrático. Nós fizemos essa ção da erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas
migração pensando justamente nos filhos mais novos, rurais. O programa, de adesão voluntária, prevê o apoio
que, na época, estavam entrando na adolescência, na- técnico e financeiro à execução de ações de conserva-
quele grupo de risco, de drogas e álcool. Aí, eu e o meu ção da água e do solo, como, por exemplo, a construção

preservar água no DF
esposo tivemos a iniciativa de trocar tudo na cidade e vir de terraços e bacias de infiltração, a readequação de
pra área rural”, justifica. estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascen-
A propriedade da família Cabral tem 40 hectares e lá tes, o reflorestamento de áreas de proteção permanen-
eles produzem cenoura, repolho, abobrinha e mandioca te e reserva legal, o saneamento ambiental, etc. Prevê
na forma convencional e banana no sistema agroecológi- também o pagamento de incentivos (ou uma espécie
co. O objetivo da família é adotar a forma agroecológica de compensação financeira) aos produtores rurais que,

M
aria do Socorro de Lima e Fátima Cabral Maria do Socorro tem 56 anos e uma vida toda dedi- em toda a produção. comprovadamente contribuem para a proteção e recu-
são mulheres que fazem a diferença no cada à agricultura familiar. Filha de agricultores e nasci- “A gente trabalha todo dia, acorda e levanta com esse peração de mananciais, gerando benefícios para a bacia
campo. Em tempos de crise hídrica em al- da em Pernambuco, estado localizado no Semiárido bra- propósito. Começamos essa transição há dois anos, a e a população.
guns estados do país, as agricultoras familiares de Planal- sileiro, ela aprendeu desde cedo a preservar a água. “Eu partir desse Programa Produtor de Água, que nos ajudou A concessão dos incentivos ocorre somente após a
tina (DF) participam de um projeto do governo federal venho fazendo isso há mais de 15 anos. Eu já tinha essa nessa transição. Meus filhos já vinham se negando a tra- implantação, parcial ou total, das ações e práticas con-
para melhorar a qualidade da água, reduzindo a erosão consciência há muito tempo. Já pensava ‘isso está errado, balhar com veneno, por isso se afastaram da produção. servacionistas previamente contratadas e os valores a
e o assoreamento de mananciais no meio rural. As duas vai acabar a água, vai acabar o córrego’. Aprendi o que Eu estava vendo que eles iam desistir da terra, que iam serem pagos são calculados de acordo com os resultados:
agricultoras estão entre as famílias que adotaram práticas sei sozinha, porque amo a natureza e gosto de preservar”, embora. Eu mesma cheguei a pensar em vender a terra. abatimento da erosão e da sedimentação, redução da po-
e manejos sustentáveis para conservar o solo e a água. declara a agricultora. Mas tivemos essa ideia de fazer a transição agroecológica luição difusa e aumento da infiltração de água no solo. ◆

224 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 225
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

O
s 6,5 mil alunos da rede pública de Erechim estruturar os processos de compras de produtos da agri-
(RS) sentem no dia a dia os benefícios de uma cultura familiar para a merenda escolar.
alimentação saudável, elaborada com produtos A Cooperativa de Desenvolvimento Regional (Cooper-
colhidos na região. O município, localizado a 375 quilô- família), de Erechim (RS), vende alimentos para o PAA e
metros de Porto Alegre, usa todo o recurso repassado pelo o Pnae. Formada por 1,2 mil associados, a entidade co-
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) para mercializa metade da produção para a merenda escolar do

Agricultura familiar melhora


adquirir produtos de agricultores familiares da região. município. O restante segue para entidades da assistência
De acordo com a legislação, as escolas devem desti- social, por meio da modalidade de Compra com Doação
nar pelo menos 30% dos recursos para compras da agri- Simultânea do PAA, e para mercados e feiras da cidade.
cultura familiar. Nos últimos dois anos, foram investidos A presidente da Cooperfamília, Juraci Zambon, conta

alimentação de alunos da
quase R$ 1,7 milhão na compra de alimentos para a me- que a lista de produtos é bem diversificada e atende bem à
renda escolar, dinheiro que beneficiou aproximadamen- demanda dos estudantes – principalmente com pães e bo-
te 6,3 mil agricultores familiares da região de Erechim. los, laticínios, hortaliças, frutas e legumes. Ela afirma que
“Desde o início das compras da agricultura familiar para é gratificante ver que a merenda consumida pelos filhos

rede pública as nossas escolas, observamos a redução do índice de obesi-


dade dos alunos. Além disso, temos uma melhor aceitação
das refeições porque, com produtos mais frescos, temos a
possibilidade de preparar refeições mais saborosas”, conta a
dos agricultores vem de produtos cultivados pelos próprios
pais. “É uma satisfação muito grande saber de onde vem
o alimento que eles estão consumindo e é uma forma de
reconhecer e valorizar a agricultura familiar”, completou.
Programas de compras governamentais abrem novo mercado para secretária adjunta de Educação de Erechim, Juliane Bonez.
Em 2013, o valor utilizado pelo Pnae somente para Ceará
agricultores familiares e possibilitam aquisição de produtos de mais a compra da agricultura familiar em todo o país corres- Em Quixeramobim (CE), município localizado no
qualidade para escolas pondeu a R$ 546,5 milhões de um total de R$ 3,5 bilhões Semiárido, a seca não tem permitido comprar mais do
do orçamento do programa. que 30% da agricultura familiar para a merenda dos alu-
A merenda escolar foi destacada pela Organização nos. Mesmo assim, a nutricionista responsável pelo Pnae
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação no município, Maria Jaqueline Gomes, comemora o fato
(FAO) como fator importante para a saída do Brasil do de os produtos serem entregues na porta das escolas.

DIVULGAÇÃO
Mapa da Fome, em 2014. De 2002 a 2013, caiu em 82% “Somos privilegiados. É bom para todo mundo: para
a população de brasileiros considerados em situação de os agricultores familiares, para as crianças que têm ali-
subalimentação. Todos os dias, no Brasil, 43 milhões de mentos saudáveis e frescos da região e para o município
crianças e adolescentes se alimentam na escola – um nú- que se fortalece com a renda que não sai daqui”, conta.
mero maior do que a população da Argentina. Maria Jaqueline lembra que, antes de 2010, quando não
Segundo a FAO, a redução da fome no país também compravam da agricultura familiar, os produtos vinham
se deve ao aumento da oferta de alimentos, à maior ren- da capital Fortaleza – a 212 quilômetros de distância.
da dos mais pobres, ao Programa Bolsa Família e à re-
criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e PAA
Nutricional (Consea). O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) possibilita
De acordo com o secretário Nacional de Segurança aos agricultores familiares a venda de produtos para o gover-
Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimen- no, que os destinam a mais de 20 mil entidades – hospitais,
to Social e Combate à Fome (MDS), Arnoldo de Campos, creches, escolas, a asilos, comunidades terapêuticas e para a
graças a ações como essas, o Brasil já conhece a primeira população em vulnerabilidade social. Em quase 12 anos, fo-
geração sem fome. “Devemos lutar para que políticas pú- ram mais de 4 milhões de toneladas de alimentos adquiridos
blicas melhorem cada vez mais a qualidade da alimenta- pelo programa e mais de R$ 5,3 bilhões investidos.
ção e de vida das crianças, principalmente as mais pobres.”
A experiência de quase 12 anos de compras gover- Pnae
namentais por meio do Programa de Aquisição de Ali- A União repassa recursos complementares para os
mentos (PAA), coordenado pelo MDS, contribuiu para municípios e os estados para a alimentação dos alunos

226 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 227
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

ORGANIZAÇÕES COLETIVAS FORNECEDORAS DO PNAE


Espírito Santo
“Com o Pnae, a renda é certa”,
comemora agricultor capixaba
Com os investimentos na propriedade, Fábio organizou a produção e comercializa,
desde 2010, polpas de manga e acerola para escolas municipais de Alegre

F
ilho de agricultores familiares, Fábio de Souza, frutas são cultivadas agroecologicamente em uma área
30 anos, nasceu e cresceu na comunidade Feliz de 1,5 hectare junto com outras que são consumidas pela
Lembrança, município de Alegre, sul do Espíri- família e vendidas em feiras da região.
to Santo. Foi nesse lugar que ele se casou, há quatro anos, “Na feira tem dia que vende mais, tem dia que vende
com Elaine Ferreira, 30, e é também onde pretende criar menos e tem dia que não vende nada. Com o Pnae, a ren-
Em 2009, 385 organizações coletivas forneciam para o Pnae. No ano de 2014, os filhos. As políticas do governo federal para a agricultura da é certa. O que dá segurança para investir e um ânimo

o Pnae já conta com 2961 empreendimentos, um crescimento de 600%. familiar foram determinantes para ele tomar essa decisão.
“Hoje, se o produtor quiser trabalhar, é bem mais fácil,
que contagia toda família. É uma das maiores portas que
já foi aberta para a agricultura familiar.”
tem apoio. Eu e meu pai começamos a investir mais na Além dele, mais 14 famílias de Feliz Lembrança se
de toda a educação básica – educação infantil, ensino Atualmente, o valor repassado, por dia letivo, para cada produção com a chegada do programa Luz para Todos, de- beneficiam do programa.
fundamental, ensino médio e educação de jovens e adul- aluno varia de R$ 0,30 (para a educação de jovens e adul- pois veio o crédito, a agroindústria, o Pnae. É outra vida.” Em 2014, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvi-
tos –, matriculados nas escolas públicas ou conveniadas. tos) a R$ 1 (para creches e ensino integral). ◆ Com os investimentos na propriedade, Fábio orga- mento da Educação (FNDE), o governo federal investiu
nizou a produção e comercializa, desde 2010, polpas de mais de R$ 104 milhões na aquisição de alimentos sem
manga e acerola para escolas municipais de Alegre. As agrotóxicos para a alimentação escolar. ◆

UBIRAJARA MACHADO / MDA

DIVULGAÇÃO
228 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 229
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Cooperativa gaúcha Ceará


Programas de comercialização garantem
fornece produtos para renda a agricultores familiares

alimentação escolar H
á quatro anos, com o sonho de melhorar a
produção e desenvolver a agricultura fami-

EDUARDO AIGNER / MDA


liar local, Airton Aloísio Kern, 50 anos, se
reuniu com outros 25 agricultores do município de Ma-
ranguape/CE, para criar a Cooperativa Agroecológica da
Agricultura Familiar do Caminho de Assis (Cooperfam).

A
Cooperativa de Desenvolvimento Regional A comercialização por meio do Pnae começou em Atualmente, 278 cooperados trabalham juntos para,
(Cooperfamília) foi fundada em 2005 com o 2011. Atualmente, os alimentos da Cooperfamília chegam cada vez mais, melhorar o meio rural onde vivem.
intuito de melhorar a qualidade da produção a 80 escolas. Somente em Erechim são mais de 30 da rede Formada somente por agricultores familiares, a sede
dos agricultores familiares do município gaúcho de Ere- municipal. “Trabalhamos com alimento, o que é vida. Aju- da Cooperfam fica a 30 quilômetros da capital Fortaleza.
chim. No começo eram 20 cooperados, hoje já são 1,3 dar tantas famílias e ver as crianças nas escolas, que são os Os integrantes produzem hortaliças, frutas, polpas de
mil. O passo inicial para garantir mais renda aos produ- nossos filhos, comendo alimentos saudáveis, é muito gra- frutas e mel. Presidente da cooperativa, Airton conta que
tores foi o acesso aos programas institucionais de com- tificante”, afirma Juraci Zambon, presidente da entidade. os produtores enfrentam dificuldades com a estiagem
pra de alimentos - Programas Nacional de Alimentação Já o acesso pelo PAA, foi antes, em 2006. “Eram para garantir a produção durante o ano inteiro. “Para
Escolar (Pnae) e o de Aquisição de Alimentos (PAA). projetos pequenos e fomos ampliando para mais mu- conviver com seca, cultivamos muitas frutas aqui da re-
Com filial em Erechim e Viadutos (RS), a cooperativa nicípios. Atualmente, estamos entregando para várias gião como tamarindo e seriguela”, diz.
atua em quase todo o Estado e conta com uma vasta lista instituições. Foi com esses programas que começamos a Os principais canais de comercialização da coopera-
de produtos. Os agricultores produzem pão, cuca, bola- organizar a produção, porque antes tínhamos um merca- tiva são os programas de Aquisição de Alimentos (PAA)
cha, hortaliças, legumes, frutas, geleias, mel, farinhas, do muito tímido”, acrescenta Juraci. e Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Essas polí-
grãos, queijos e bebidas lácteas. Mais da metade da pro- O agricultor Rodrigo Strapazzon, 28 anos, da zona rural ticas de compra nos garantem renda e isso despertou o
dução vai para a merenda escolar. de Erechim, entrou há quatro anos para a Cooperfamília. interesse de vários produtores. Eles têm nos ajudado a
Ele aproveitou o momento em que a cooperativa começava melhorar muito a produção”, afirma.
a entregar hortaliças para a merenda escolar. “É o que pro- A cooperativa conta com uma caminhonete e um lo-
duzo: alface, brócolis, couve-flor e cheiro verde. Depois dis- cal específico para processar, embalar e estocar o produ-
so consegui melhorar muito a minha propriedade”, explica. to. Ao todo, a Cooperfam atende 45 escolas no Estado.
ANDREA FARIAS / MDA

O casal aumentou, de duas para nove, a quantidade “Normalmente as escolas compram de R$ 6 a R$ 7 mil. familiares no cultivo. “Meu filho, minha esposa, primo e
de estufas para o cultivo das hortaliças, graças à renda Também vendemos em feiras todos os finais de semana”, sobrinho me ajudam. Nossa família é bem unida”.
que vem do Pnae. O agricultor também financiou um explica. Foi com a criação da cooperativa que o agricultor
caminhão pelo Programa Mais Alimentos, do Ministé- Membro da cooperativa, o agricultor Danilo Moraes viu a possibilidade de qualificar não apenas a produção,
rio do Desenvolvimento Agrário (MDA), para facilitar a da Silva, 48, conta que, além da renda obtida por meio como o escoamento dela. Acessou o Programa Nacional
entrega dos produtos. “Estamos a 18 quilômetros do cen- dos programas governamentais, ainda lucra com a venda de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para
tro, para entregarmos os produtos vai ser bem mais fácil. direta para mercados e feiras da região. “Esse dinheiro custeio e o Programa Mais Alimentos para a aquisição de
Coloquei um baú refrigerado para manter a qualidade do sempre nos ajuda a ampliar a produção”, destaca. um veículo utilitário.
produto”, comemora. Morador da Comunidade Jardim do Penedo, na zona A Cooperfam, além de Maranguape, ainda atua nos
Além das duas caminhonetes utilitárias da coopera- rural de Maranguape, Danilo relata que está na Cooper- municípios de Maracanaú, Palmácia, Paramoti, Caridade
tiva, Rodrigo conta que ele, agora, também poderá fazer fam desde sua criação, em 2010. Ele produz hortaliças e Canindé. Esses municípios formam o chamado “Cami-
a entrega dos produtos. ◆ em uma propriedade de dois hectares e tem o apoio dos nho de Assis” no Ceará. ◆

230 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 231
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Rio Grande do Norte


Estado inaugura primeiro centro Agroindústrias
comercial da agricultura familiar
Ao todo, serão beneficiadas cerca de 1,2 mil famílias Família de agricultores
I
tens da agricultura familiar produzidos no Rio
Grande do Norte poderão ser encontrados mais
facilmente, com a criação do Centro de Comer-
Emater/RN à Cooperativa Central da Agricultura Fami-
liar do Rio Grande do Norte (Cooafarn), que participou
da idealização do mercado.
gaúchos aposta em
derivados da cana-de-açúcar
cialização Mercado da Terra, primeiro ponto comercial Ao todo, serão beneficiadas cerca de 1,2 mil famílias
da região voltado para o escoamento da diversidade pro- de agricultores familiares, ligadas às cooperativas que
dutiva da agricultura familiar. participam da iniciativa: Cooafarn, Assentamento Paulo
O Mercado da Terra funciona, na Barra de Tabatinga, Freire/Pureza, Coopercaju/Assentamento Serra do Mel,

D
no município de Nísia Floresta. Desde março, o público Cooafal/ Assentamento Lucrécia) e a Cooaf/Assenta- oces, melados e rapaduras produzidos em artesanal, a gente cozinha os doces na panela. É uma
pode adquirir os produtos de quinta-feira a domingo. mento Marcelino Vieira. “Lá, serão comercializados ar- Bom Princípio no Vale do Caí, no Rio Grande produção de muita qualidade”, assegurou.
“Vai tornar a agricultura familiar muito mais visível. Ta- tesanato, doces, geleias, castanhas, mel, arroz e a nossa do Sul, são alguns dos itens fabricados pela Os agricultores acessaram o Programa Nacional de
batinga é uma zona turística, com um fluxo de pessoas famosa cajuína”, detalha o delegado do MDA. agroindústria Vó Odete. Os deliciosos artigos coloniais Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para
muito grande. A partir dessa ideia, queremos colocar feitos de forma artesanal e orgânica são comercializados a compra de equipamentos, veículos e para investimen-
em evidência a produção da agricultura familiar do Rio Culinária se destaca na serra e na capital gaúcha. tos na agroindústria. “Sem esse apoio dificilmente terí-
Grande do Norte como um todo”, afirma o delegado do O diferencial do Mercado da Terra é a culinária. Os O projeto que começou para ser uma cachaçaria é amos avançado”.
MDA no estado, Dário Andrade. visitantes podem degustar pratos diferentes, como o hoje uma agroindústria especializada em derivados da
O Centro foi construído e equipado a partir de um “Cajuburguer”, “banana chip”, “canju” (canja de carne de cana-de-açúcar. “Em 1998 começamos a produzir cana- Sabores e Saberes
convênio entre o governo do Estado, Emater/RN e o Mi- caju), paçoca de caju, e bolinhos de caju, além do cardá- -de-açúcar no sistema agroecológico e fazer cachaça e li- Em 2004, a Família Mossmann foi convidada para fa-
nistério da Ciência e Tecnologia. O prédio é cedido pela pio tradicional, como escondidinho, tapioca e guizado. ◆ cores, mas devido ao custo mais baixo nos identificamos zer parte do Roteiro Turístico Regional Sabores e Saberes
com os derivados”, afirmou Adriana Mossman, 37 anos, do Vale do Caí, um roteiro de turismo rural com foco na
uma das responsáveis pela produção. agroecologia. Nesse mesmo ano eles definiram o nome da
Adriana é filha de Eugênio e Odete Mossman, os fun- marca dos produtos “Vó Odete”. “Como é ela quem está
EDUARDO AIGNER / MDA

dadores da agroindústria. “Meu pai sempre teve papel de à frente da produção, que está no tacho cozinhando os
liderança na comunidade. Então, formou uma associa- doces, nós fizemos essa homenagem”, explicou Adriana.
ção de produtores ligados à cana de açúcar e depois dis- A propriedade é uma das 13 que fazem parte desse
so, por meio de crédito do Ministério do Desenvolvimen- roteiro que tem como objetivo mostrar a possibilidade
to Agrário (MDA), conseguimos recursos para instalar a de uma vida em harmonia com a natureza, produzindo
primeira agroindústria aqui na nossa região”, disse. alimentos saudáveis, sem uso de produtos químicos.
A agroindústria atende, hoje, 18 famílias. Os produ- Os visitantes conhecem a rotina de produção e têm
tos são vendidos em parceria com a cooperativa Ecomo- uma breve explicação do processo de fabricação. Além
rango, que leva os produtos “Vó Odete” para feiras em disso, podem degustar e comprar os produtos. “No inver-
Porto Alegre, Caxias do Sul e Bento Gonçalves. no temos uma maior movimentação. Recebemos, em mé-
Segundo Adriana, a produção ultrapassa 400 quilos dia, a visita de dois grupos por semana, com 40 pessoas
por semana. “Na nossa propriedade somos somente eu, cada. Nossa expectativa é de aumentar ainda mais a pro-
meu pai e minha mãe. Os produtos são feitos de forma dução e ampliar as vendas neste ano”, concluiu Adriana.◆

232 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 233
ROSA LIBERMAN
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

ROSA LIBERMAN

ROSA LIBERMAN
Adair Pasquetti, proprietário de uma agroindústria de panifícios, acredita que a feira é o melhor ponto Luciana Guarnieri e a sogra Emília fazem a comercialização dos produtos na Feira do Produtor
para vender diretamente ao consumidor localizada na área central de Erechim

A
cidade de Erechim, situada no norte do esta- verduras e legumes plantados na propriedade, situada na
do do Rio Grande do Sul, conta com nove fei- Linha Batistela, interior de Erechim, também são comer-
ras da agricultura familiar, distribuídas entre cializadas. Segundo Luciana, ela o marido, as duas filhas, a
a área central e os bairros. sogra e o sogro residem na propriedade e todos trabalham
Em 2009 havia apenas a Feira do Produtor, localizada ali. As atividades iniciam cedo, por volta das 5h30 e, geral-
no Centro, que beneficiava 36 famílias diretamente. En- mente se estendem até tarde da noite, especialmente em
tre 2009 e 2014 mais de R$ 750 mil foram investidos na dias anteriores à feira. “Durante a noite já arrumamos os
criação de oito novos espaços de comercialização. Atual- maços de cenoura e beterraba e descascamos as mandio-
mente são 109 famílias beneficiadas diretamente e mais cas,” explica. Além disso, a família é proprietária da Canti-

Erechim
de 100 indiretamente. na Guarnieri e ainda plantam milho e soja.
Em todas as feiras, são mais de 20 mil consumidores O proprietário da agroindústria de panifícios, que
mensais, com lucro de cerca de R$ 200 mil. fica na Linha 4, interior de Erechim, Adair Pasquetti
A previsão, conforme a assessoria de comunicação da acredita que a feira é o melhor ponto para vender dire-

Feiras incentivam a
prefeitura de Erechim, é que até o final de 2016 o muni- tamente ao consumidor. “Você vem e faz a clientela, eles
cípio passe a contar com 13 feiras, em um investimento já conhecem o teu produto. E não tem aquele transtorno
superior a R$ 1 milhão. de estar rodando a cidade para fazer entregas,” pontua.
De acordo com o secretário de Agricultura de Erechim, A agroindústria iniciou há 12 anos e hoje a produção
Luis Parise, “as feiras trazem inúmeras facilidades para os é de 400 pães, cerca de 100 pacotes de bolacha e outros

produção no campo
agricultores. Eles têm um espaço adequado, mais cômo- 90 de grostoli por semana, além das cucas.
do e seguro, melhor do que a venda na rua. Além disso, Antes disso, a família atuava com hortigranjeiros,
conseguem fidelizar o cliente, que vai à feira porque sabe mas depois de perder tudo em um temporal, decidiu in-
que vai encontrar uma grande diversidade de produtos. A vestir em outro ramo. “Não tínhamos capital de giro para
renda e a vida do trabalhador melhoram e esse é o princi- começar do zero com as estufas. Ai surgiu a ideia: entre
pal objetivo quando decidimos investir nas feiras”, afirma. financiar tudo de novo para uma coisa no ‘tempo’, fize-
Luciana Guarnieri e a sogra Emília fazem a comerciali- mos o projeto que foi aprovado para fazer uma agroin-
Entre 2009 e 2014 mais de R$ 750 mil foram investidos na criação de oito zação dos produtos na Feira do Produtor localizada na área dústria de panifícios. Então, como a família é reduzida,
novos espaços de comercialização no município central do município. A alface é o carro chefe, mas outras partimos para isso,” conta. ◆

234 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 235
MDA
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS
MDA

A
meta da prefeitura de Concórdia/SC é adqui- como o arroz, banana, leite UHT, o que segundo ele,
rir até o final de 2016, 70% dos alimentos da propiciou um trabalho em conjunto e ainda fez com que
agricultura familiar, destinada a merenda es- vencessem a chamada pública.
colar do valor oriundo do Fundo Nacional de Educação
(FNDE). Em 2014, segundo o secretário de Agricultura Dificuldades
do município, Ruimar Scortegagna, atingiu 54%, 24% a Scortegagna afirma que algumas dificuldades impe-
mais do que prevê a legislação que estabelece o Progra- dem o potencial existente para ampliar a oferta de ali-
ma Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). “Para nós, mentos pela agricultura familiar local. Conforme ele, em
esse processo de compra direta da agricultura familiar é alguns momentos o volume de produção é baixo, mesmo
uma prioridade de governo,” pontua. A rede pública mu- tendo agricultores organizados, com qualificação e acom-
nicipal de Concórdia tem oito mil alunos. panhamento técnico. Outro ponto negativo é a sazonali-
O Programa, implantado em 1955, contribui para o dade de produtos. “O grande desafio é adquirir a maior
crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem, o ren- quantidade possível de produtos do município. Isso vai
dimento escolar dos estudantes e a formação de hábitos gerar economia, desenvolvimento, qualidade de vida para

Concórdia alimentares saudáveis, por meio da oferta da alimentação


escolar e de ações de educação alimentar e nutricional.
São atendidos pelo Programa os alunos de toda a edu-
os agricultores devido ao aumento da renda, além da me-
lhor qualidade da merenda oferecida,” esclarece.

Merenda escolar:
cação básica - educação infantil, ensino fundamental, en- Números
sino médio e educação de jovens e adultos - matriculados Concórdia tem três mil propriedades rurais de agri-
em escolas públicas, filantrópicas e em entidades comu- cultura familiar. Apenas uma tem mais do que 200 hec-
nitárias (conveniadas com o poder público), por meio da tares, 96% das propriedades do município tem uma mé-
transferência de recursos financeiros. dia de 15 hectares de terra. Destes agricultores familiares

54% dos alimentos


O processo de aquisição de alimentos da agricultura 80% têm como uma das atividades o leite. Ainda são três
familiar para a merenda escolar iniciou com a compra cooperativas de agricultura familiar, que agregam cerca
direta, mas a aquisição também ocorre através da com- de 400 famílias que atuam com uma grande diversidade
pra da central de cooperativas. Inicialmente a compra de alimentos. Além disso, são 22 agroindústrias familia-
ocorria somente de produtores da região de SC, mas em res que também comercializam para a merenda escolar.

são adquiridos dos


2015 a abrangência territorial será ampliada, com a aqui- “Temos toda uma infraestrutura de logística dessa
sição, através de chamada pública, da qual a Cooperati- alimentação, um almoxarifado que os agricultores levam
va Central de Comercialização da Agricultura Familiar para lá os produtos. Também trabalhamos nas escolas a
(Cecaf) de Erechim participou. O secretário conta que questão da educação ou da reeducação alimentar, valo-
fora da área de abrangência do estado de Santa Catari- rizando os produtos da agricultura familiar,” enfatiza o

pequenos agricultores
na é a primeira vez que irão comprar alimentos através secretário de Agricultura de Concórdia.
do Pnae, facilitada pela pouca distância territorial entre
Erechim/RS e Concórdia, fortalecida pela relação direta Premiação
de organização ou bens semelhantes. “A lei da compra O município de Concórdia já foi premiado duas ve-
direta prioriza primeiro o município, depois a região, e zes, reconhecendo o trabalho realizado envolvendo agri-
depois fora da região. Isso só se deu porque outras cen- cultura familiar, alimentação e escolar. O prêmio Prefeito
Até o final de 2016 a meta é chegar à aquisição de 70% trais ou pelo menos cooperativas da região não apresen- Amigo da Criança e o outro de eficiência da alimentação
taram propostas,” explica. Ele acrescenta que muitos dos escolar, que ressalta a qualidade dos alimentos ofereci-
produtos solicitados, a central não possui para a venda, dos nas instituições de ensino. ◆

236 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 237
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

O
s morangos produzidos pela família de Nati-
vidade Bezerra da Silva, 43 anos, ganharam
a mesa dos brasilienses. A experiência no
cuidado com a terra – herdada dos pais, também agri-

“Com a experiência que tenho


cultores – somada aos serviços de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Ater) fez com que a produção conquis-
tasse o mercado da capital do País.

no campo e a assistência técnica,


Com maior acesso ao conhecimento, que veio junto
com o crédito do Programa Nacional de Fortalecimen-
to da Agricultura Familiar (Pronaf), Natividade ganhou
mais segurança para produzir. “O técnico de Ater acom-

minha produção pode crescer ainda panha nossa produção, conversa conosco sobre como
plantar, que adubo usar, quando colher... É um benefício
muito importante para quem vive no campo”, conta.

mais”, afirma agricultora do DF Os técnicos, também chamados de extensionistas,


vão até às propriedades rurais para trocar experiências
com os agricultores sobre planejamento e moderniza-
ção dos processos de produção, do plantio à colheita.

ROMULO SERPA / MDA


“Nossa função é ajudar os trabalhadores rurais a pro-
duzir de forma segura e moderna. Durante o processo,
existe uma troca de experiência e conhecimento entre
o agricultor e o profissional. Assim, não existe depen-
dência”, explica o engenheiro agrônomo e extensionista
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater), André Müller.
Com a produção a todo vapor, a agricultora planeja,
agora, adquirir uma picape, para transportar as frutas
de Brazlândia, no Distrito Federal, até os pontos de co-
mercialização. “Me sinto mais segura em trabalhar, com
o apoio de um profissional. Com a experiência que tenho
no campo e a assistência técnica, minha produção pode
crescer ainda mais”.
Desde 2013, 50% dos serviços de Ater devem ser des-
tinados às mulheres rurais.

Ater
Desde 2003, o Ministério do Desenvolvimento Agrá- cos específicos, foram criadas assistências técnicas dire-
rio fortalece o serviço de Ater para torná-lo cada vez mais cionadas para: Inovação, Gestão, Quilombola, Indígena,
democrático e gratuito, oferecendo novas ferramentas Plano Brasil Sem Miséria, Sustentabilidade, Agroecolo-
para potencializar, de forma sustentável, o desenvolvi- gia, Aquicultura e Pesca artesanal, Diversificação da cul-
mento fora da área urbana. O resultado é maior geração tura do Tabaco, Juventude rural, Territórios da Cidada-
de renda e segurança alimentar, além de melhores con- nia, dentre outros.
dições de vida para quem produz e para quem consome Em 2014, o governo federal atingiu maior cobertu-
os alimentos. ra de assistência técnica na história da reforma agrária.
Nos últimos quatro anos, o serviço foi diversificado 79% dos assentamentos criados entre 2011 e 2014 têm
e ampliado. Para atender melhor às demandas de públi- Ater garantida para o próximo período. ◆

238 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 239
POLÍTICAS PÚBLICAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Paraná
Assistência técnica sustentável

DIVULGAÇÃO
chega a mil famílias
produtoras de leite
A cadeia produtiva do leite tem enorme importância para a agricultura
familiar paranaense, envolvendo mais de 100 mil produtores

O
Ministério do Desenvolvimento Agrário Segundo o delegado federal do MDA no Paraná, Reni
(MDA), juntamente com o Instituto de Assis- Antonio Denardi, embora destinadas a agricultores fa-
tência Técnica e Extensão Rural do Paraná, miliares que produzem leite, “as ações de Ater contra-
divulgou o início dos serviços de assistência técnica que tadas pelo MDA tem por objetivo a sustentabilidade de
vão beneficiar mil famílias produtoras de leite na região todo o sistema de produção desses agricultores e não
Oeste do Estado. O investimento é de R$ 3,16 milhões. apenas a cadeia produtiva do leite”, enfatiza.
O coordenador-geral de fomento à Assistência Técnica Este contrato faz parte de uma Chamada Pública
e Extensão Rural (Ater) do MDA, Everton Ferreira, destaca para contratação de serviços de Ater realizada pelo MDA
a importância das atividades para produção leiteira susten- em 2013. A chamada foi dividida em quatro lotes que,
tável. “É um contrato voltado para a agricultura sustentável, juntos, somam um investimento de R$ 12,75 milhões e
envolvendo também questões nas áreas ambiental, social e beneficiarão diretamente 4 mil agricultores familiares.
de mercado, e que será desenvolvido com os agricultores”. Os outros três lotes são destinados ao território Sudoeste
O contrato prevê três anos para a execução das ativi- e aos municípios que formam os territórios Cantuquiri-
dades, o que permite aos produtores desenvolver proje- guaçu e Paraná Centro.
tos de longo prazo. “Uma assistência mais completa e sis- A cadeia produtiva do leite tem enorme importância
têmica permite que o agricultor acesse a outras políticas para a agricultura familiar paranaense, envolvendo mais
públicas”, ressalta o coordenador do ministério. de 100 mil produtores. ◆

240 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 241
TECNOLOGIA TECNOLOGIA

Professor Pardal E
m 2014 a 3ª Mostra de Máquinas e Inventos
para Agricultura Familiar, realizada em Pelo-
tas/RS, reuniu mais de 4,5 mil visitantes no
Resultados
Dos 115 inventos inscritos estiveram na Mostra 109
vindos de 63 agricultores de 35 municípios do Rio Gran-

Engenhocas facilitam
Centro de Eventos da Fenadoce. Em três dias o evento de do Sul e dois do Paraná. Também foram apresentadas
expôs equipamentos criados ou adaptados pelos agricul- outras 30 criações de instituições públicas. Na época, dez
tores familiares, que tiveram a oportunidade de demons- inventos foram comercializados no local.
trar a importância das modificações com a finalidade de As máquinas atendem diversas finalidades na pro-
automatizar os processos de produção visando a dimi- priedade e todos os inventos e equipamentos tem em

a vida no campo
nuição do esforço físico e a eficiência dos equipamentos comum a praticidade, o atributo de facilitar tarefas e agi-
na lida do campo. lizar atividades para as quais a mão de obra é cada vez
O encontro também oportunizou a troca de ex- mais escassa.
periência entre os agricultores, técnicos, pesquisa- Entre os inventos, estiveram em exposição exempla-
dores, alunos de escolas rurais, empresas fabricantes res voltados a áreas como preparo do solo, semeadura,
de máquinas voltadas aos processos de produção e ao beneficiamento, processamento, pulverização, irrigação,
Agricultores familiares adaptam e criam equipamentos visando à diminuição processamento das agroindústrias familiares, visando transporte, movimento de grãos, fiação, avicultura, pes-
sempre a melhoria da vida do homem do campo. Pro- ca, panificação, entre outros. Algumas das criações se
do esforço, que dão agilidade às atividades para as quais a mão de obra é movida pela Embrapa Clima Temperado, Emater/RS- tornaram produtos industrializados ou estão sendo fa-
cada vez mais escassa -Ascar e a Universidade Federal de Pelotas, a mostra bricados e vendidos diretamente pelos agricultores.
ocorreu em maio. Os equipamentos foram avaliados durante o primei-
Onorino Brum desenvolveu um equipamento que descasca amendoim A atividade acolheu diversos agricultores-inventores ro dia do evento por uma equipe técnica. Eles foram
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná que cria- analisados quanto à funcionalidade, ergonomia, rendi-
ram ou adaptaram máquinas para facilitar suas práticas mento e praticidade de usos em relação ao esforço físico
agrícolas. O evento contou também com a exposição e a eficiência técnica. Cinco inventos foram pré-selecio-

DIVULGAÇÃO
de inovações tecnológicas, que nasceram nas univer- nados pela comissão e, posteriormente, classificados do
sidades, empresas de extensão rural, cooperativas, sin- primeiro ao quinto lugar. Eles foram julgados ainda pela
dicatos e outras instituições. Participaram as unidades sua originalidade e criatividade, praticidade do equipa-
da Embrapa de Pelotas, Bagé, Concórdia, Brasília e do mento em facilitar o trabalho no campo; redução da pe-
Amazonas. De entidades, como o Instituto Agronômico nosidade; viabilidade de sua fabricação em larga escala;
do Paraná (Iapar), a Empresa de Pesquisa Agropecuária menor impacto ambiental e relação custo/benefício. A
e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o Instituto comissão foi formada pelo pesquisador Antônio Fagane-
Rio Grandense do Arroz (Irga), a UFPel e a Emater, além lo (Embrapa Trigo), o professor Antônio Lilles (UFPel) e
de delegações do Instituto Nacional de Tecnologia Agro- o extensionista Geverson Lessa (Emater/RS-Ascar).
pecuária da Argentina e do Uruguai, que apresentaram
suas inovações no uso de energias renováveis em benefí- Confira os primeiros colocados:
cio da agricultura familiar. 1º lugar: Alimentador de fornalha a lenha
Segundo o coordenador da Mostra, Lírio José Rei- Produtor/inventor: Egon Blank – Cerrito Alegre -
chert, que também é Analista de Transferência de Tec- Pelotas/RS
nologia da Embrapa Clima Temperado, havia uma solici- 2º lugar: Roçadeira hidráulica articulada para po-
tação muito grande para que a 3ª edição fosse realizada. mares
Aproveitando que havia sido instituído pela FAO, em Produtor/inventor: Marcos Juninho Salton - Cotipo-
2014, o Ano Internacional da Agricultura Familiar, ini- rã/RS
ciou a organização do evento. 3º lugar: Carregador de feno
Para valorizar e incentivar a participação dos produ- Produtor/Inventor: Jair Antônio Caye – São Luiz
tores, os cinco primeiros colocados receberam uma placa Gonzaga/RS
de reconhecimento. 4º lugar: Máquina de Capeletti

242 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 243
TECNOLOGIA TECNOLOGIA

Produtor/Inventor: Wladimir Ghiggi – Passo Fundo/RS Cerca de seis mil pessoas visitaram a exposição nos “Posso afirmar que os agricultores estão bem mais plantador de mandioca, e que a colheita demanda ser-
5º lugar: Máquina para remover cama de aviário e dois dias de evento. No ano seguinte a Mostra foi realiza- servidos agora com máquinas que facilitam o trabalho viço braçal. Neste sentido, vários equipamentos já fo-
queimador de penas da em Esteio/RS. deles. A maior dificuldade hoje no meio rural é a falta de ram criados para esta tarefa, diminuindo a penosidade
Produtor/Inventor: Renan Sotoriva – Erval Grande/RS mão de obra. E, para suprir esta deficiência somente com ao agricultor.
Histórico Os inventos tecnologias que facilitem o trabalho,” afirma.
A necessidade de trabalhar na terra com equipamen- A maior parte das criações surgiu de adaptações Linhas de incentivo
tos adequados aos pequenos produtores foi o que moti- visando melhorar o dia a dia da lida no campo destes Diferença de tecnologias O incentivo aos agricultores familiares pelo governo
vou a realização da 1ª Mostra de Máquinas e Inventos, agricultores. Uma das máquinas que chamou a atenção Segundo Lirio Reichert, a diferença dos equipa- federal, através do Pronaf facilitou a aquisição de novas
que ocorreu em 1998, em Pelotas/RS. A ideia surgiu do dos visitantes foi criada por Onorino Brum, 76, conhe- mentos destinados aos grandes produtores se compa- tecnologias para o pequeno produtor.
extensionista da Emater Luiz Carlos Migliorini. cido como Professor Pardal de Tuparendi/RS. Na região rado aos dos pequenos se dá em termos de tamanho, De acordo com Reichert, muitos camponeses que não
Na época, um projeto incentivava o sistema de onde ele reside com a esposa Claci, 71, é comum o plan- conforto e ergonometria. No sentido da ergonometria, tinham tratores, por exemplo, já adquiriram o seu e, ou-
plantio direto de milho nas pequenas propriedades da tio de amendoim. ele explica que visa diminuir o sofrimento do agricultor tros tantos, trocaram de maquinário, buscando equipa-
região. No entanto, não haviam máquinas disponíveis Observando a dificuldade em debulhar o amendoim, nas tarefas diárias. Acrescenta que o RS é um grande mentos com maior potência. ◆
para esta finalidade. As empresas privilegiavam a fa- que machuca as mãos e ainda tem baixo rendimento,
bricação de equipamentos de alta tecnologia, destinada Brum criou uma máquina para facilitar este trabalho e já
aos grandes produtores. vendeu mais de 400 equipamentos, em quatro anos. Um
Com o objetivo de melhorar a vida no campo, um deles, inclusive, foi enviado pelo correio para o estado da
grupo de pessoas se uniu e com algumas adaptações uma Bahia. A vantagem de utilizar a máquina é que ela não
tobata passou a ser utilizada no plantio direto. quebra os grãos e separa as cascas, sem a necessidade de
grande esforço manual.
Por sua habilidade em lidar com madeira, já que
atuou como carpinteiro por muitos anos, Brum tam-
bém inventou um quebrador de nozes e um moedor
elétrico de uva.
Devido a problemas auditivos, os jornalistas respon-
sáveis pelo Anuário, precisaram conversar com a esposa
de Brum. Dona Claci contou que agora o objetivo do ma-
rido é inventar um equipamento que descasque mandio-
cas. Segundo ela, ele não quer parar de trabalhar.
Outros inventos surgiram da necessidade de mão de
obra nas propriedades. Uma delas, segundo conta Lírio
Reichert, foi a forma encontrada por um agricultor para
transportar a ração do depósito até os comedouros dos
aviários, que não são automatizados, sendo que para isso
ele fez uso de uma bicicleta.

Mais equipamentos disponíveis


O Analista de Transferência de Tecnologia da Embra-
pa Clima Temperado e coordenador da Mostra, Lírio José
Reichert, afirma que hoje a realidade das máquinas dispo-
níveis para os pequenos camponeses evoluiu consideravel-
mente. Bem como o interesse das empresas fabricantes no
setor. “Não tinha ideia que no PR, RS e SC houvesse tantas
pequenas empresas fabricantes de equipamentos para a
agricultura familiar, eu reuni 150 para o evento,” aponta.
Lírio Reichert Wladimir Ghiggi criou a máquina para remover cama de aviário e um queimador de penas

244 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 245
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

Agricultura não é a vilã A


recente e crescente escassez hídrica seja para perto de US$100 bilhões e importaram US$17 bilhões,
abastecer a população ou para produzir ener- incluindo até feijão, gerando um saldo de US$83 bilhões.

DIVULGAÇÃO
gia e alimentos está na ordem do dia. Prati- Ao propor uma discussão técnica sobre a utiliza-
camente todas as análises e especulações sobre esse fe- ção da água na produção de alimentos, descrevendo o

da crise hídrica, afirma


nômeno colocam a agricultura como uma das grandes processo através do qual a água é retirada da nature-
responsáveis, já que é apontada como voraz consumidora za, utilizada e devolvida ao meio ambiente, o quanto
de água da sociedade. O debate técnico pode demonstrar o desmatamento e a poluição prejudicam esse ciclo, o
que a agricultura não só não é a responsável pela atual autor absolve o setor de ser o grande responsável pelos

pesquisador do IEA
crise, mas uma das esperanças de saída, afirma Eduar- problemas que a região Sudeste apresenta. Segundo ele,
do Pires Castanho, pesquisador do Instituto de Econo- tudo que é irrigado tem um consumo de água muito
mia Agrícola (IEA/Apta) da Secretaria de Agricultura e grande. O que não é irrigado possui um consumo relati-
Abastecimento do Estado de São Paulo. No artigo inti- vamente baixo de água. Isso, entretanto, não quer dizer
tulado “Aquonegócio”, o pesquisador inicia a discussão que essa água “fique” no produto. Toda planta precisa
afirmando que não se pode confundir Agropecuária com de água, como os humanos, porém, essa água é utiliza-
Agronegócio, sendo que este último se constitui de uma da e volta para o ciclo.
relação de produção, referente à cadeia produtiva agro- E conclui, “longe de ser a vilã na questão da água,
pecuária e florestal, e não as grandes empresas desses a Agropecuária é perfeitamente sustentável do ponto de
setores. Para demonstrar a importância do setor, o pes- vista hídrico, e é a grande produtora de água para outros
quisador lembra que o agronegócio representa de 25% a usos sociais, não sendo, de modo algum, fator de escas-
30% do PIB brasileiro e, no comércio exterior, as cadeias sez de água. É um verdadeiro “aquonegócio”, pelo qual
produtivas ligadas ao agronegócio exportaram em 2013, não existe nenhuma remuneração!”. ◆

246 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 247
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

O
s impactos previstos das mudanças climáti- rados em pequena profundidade ou fixados nas árvores
cas e os grandes períodos de estiagem suge- dos pomares. A taxa de aplicação de água e a quantidade
rem a necessidade de realizar análises mais aplicada são controladas pelo sistema.
detalhadas das áreas prioritárias de cultivo, com o obje- Os sistemas de subirrigação requerem o levantamen-

Ferramenta viável ou
tivo de desenvolver variedades melhor integradas e tole- to do nível do lençol freático de modo que a ação capi-
rantes à seca, com raízes mais profundas combinadas a lar atraia a água do solo para a zona radicular. A água
solos férteis, e a estratégias de manejo da água para ate- é fornecida à zona saturada abaixo da região das raízes
nuar os efeitos previstos. da planta através de condutos subterrâneos ou, em se
De acordo com o secretário Nacional de Irrigação, Pe- tratando de locais em que a superfície é porosa, através

questionável diante da
dro Mousinho, com a escassez de água, é necessário me- de canais de superfície sem revestimento. Os sistemas de
lhorar os equipamentos de irrigação. Não existe um único subirrigação são usados somente onde as formações sub-
sistema de irrigação adequado a todas as culturas. Ele ex- jacentes permitem a formação e a manutenção do nível
plica que o melhor sistema é aquele adequado ao consumo do lençol freático a pouca profundidade.
hídrico da cultura em relação às variáveis meteorológicas, Dessa forma, podemos citar como ferramentas que

crise hídrica?
condições climáticas, características do solo e avaliação da contribuem para a eficácia da irrigação:
real necessidade de irrigação para cada cultura. –– Uso de sistemas de irrigação adequados às condições
Segundo o secretário, os sistemas de irrigação são climáticas, às características do solo, cultura e quali-
classificados em quatro categorias, de acordo com o dade da água disponível;
modo de aplicação da água: superfície; aspersão; locali- –– Reservação de água, como as barragens subterrâne-
zada e subirrigação. as, para aperfeiçoar e equilibrar o processo produti-
Os sistemas de irrigação de superfície distribuem a vo, promovendo maior estabilidade e resiliência, em
água na superfície por gravidade. Usualmente exigem o especial dos agroecossistemas do Semiárido;

DIVULGAÇÃO
nivelamento da superfície do solo de modo a permitir que –– Reuso de água na agricultura e utilização de águas de
a água flua uniformemente pelos canais abertos no solo. A qualidade inferior (residuária de outros sistemas de
água penetra no solo a partir desses canais. A quantidade produção animal e vegetal, de origem industrial, de
aplicada é determinada pela taxa de porosidade do solo e origem urbana e salina);
pelo tempo ideal em que a água deve ficar disponível em –– Práticas de conservação de solo e água em sistemas de
qualquer ponto da superfície do solo. Um canal pode ser produção irrigados, incluindo manejo do solo, plantio
um sulco entre duas ruas das plantas, uma faixa limitada direto, rotação e sucessão de culturas, cultivos consor-
por diques baixos ou o campo inteiro pode ser irrigado. ciados e proteção artificial do solo visando redução da
Os sistemas de irrigação por aspersão descarregam a evaporação, tendo a água como variável principal;
água através de aspersores ou de difusores instalados em –– Manejo da irrigação na agricultura, buscando aplicar
tubulação de distribuição pressurizada. Os aspersores, e a água no momento oportuno, na quantidade deman-
às vezes a tubulação, são instalados em suportes fixos ou dada e na qualidade adequada às culturas agrícolas,
móveis. A taxa de aplicação da água é controlada pelo considerando também a qualidade do solo, as variá-
sistema. A quantidade da aplicação é determinada pelas veis climáticas e a eficiência verificada do sistema de
horas de operação. irrigação utilizado; e,
Os sistemas de irrigação localizada, tais como go- –– Avaliação e manutenção regular dos sistemas de irri-
tejamento ou microaspersão, distribuem a água em es- gação visando aumentar a eficiência e otimização do
paços curtos, através de canos pressurizados. A água é uso da água e energia.
descarregada a partir de emissores, mini aspersores ou
de condutos porosos a baixa pressão. Estes sistemas re- Culturas mais irrigadas
querem aplicações mais frequentes do que os métodos Conforme o Censo Agropecuário realizado pelo Ins-
de irrigação de superfície ou os de aspersão. Os condutos tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
de água e os pontos de descarga são geralmente assenta- 2006, dentre as principais culturas irrigadas, em termos
dos na superfície do solo, mas podem também ser enter- da variável área colhida, destacam-se a cana-de-açúcar

248 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 249
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA COLHIDA IRRIGADA NAS CULTURAS (TEMPORÁRIAS E PERMANENTES) DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA IRRIGADA NOS ESTADOS

(1,7 milhão ha), o arroz em casca (1,28 milhão ha), soja predomínio dos métodos de aspersão em geral (1,59 mi- Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Tais desafios do setor da agricultura irrigada no Brasil
em grão (624,2 mil ha), milho em grão (559,0 mil ha) e lhão ha), inundação (1,17 milhão ha) e aspersão – pivô (Abimaq), a área irrigada cresceu 4,4% em relação a poderão ser superados com a definição de uma política
feijão de cor em grão (195,2 mil ha). central (892,9 mil ha). A área irrigada brasileira está dis- 2013, ou 220,8 mil hectares, atingindo uma área de 5,2 permanente de financiamento com juros e prazos adequa-
Quanto aos itens comuns à mesa da população bra- tribuída por estado da seguinte forma: Rio Grande do milhões de hectares irrigados. dos, seguro rural específico, uma política tarifária de ener-
sileira, notam-se algumas constatações interessantes a Sul (997,1 mil ha), São Paulo (786 mil ha), Minas Gerais O grande desafio da agricultura irrigada é adotar avan- gia elétrica e de impostos com incentivos para aumentar a
favor da irrigação: (525,2 mil ha), Bahia (299,5 mil ha) e Goiás (269,9 mil ços em tecnologia, melhoria do manejo e de gestão com eficiência do uso da água e a redução da burocracia para
–– 71,2% do arroz (em casca) advêm da agricultura ir- ha). Assim, o estado com maior área irrigada no país é o sustentabilidade ambiental. O que mais dificulta a expan- concessão outorga d’água e licenciamento ambiental. ◆
rigada, apesar da área irrigada corresponder a 46,8% Rio Grande do Sul. são da irrigação é a adequação à legislação ambiental, a
da área colhida; Enquanto a agricultura do Sul do país, principal- concessão de outorgas d’água, a oferta de infraestrutura,
–– 27,5% do feijão de cor em grão são “produzidos” pela mente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do principalmente a escassez de energia, a reservação de água

DIVULGAÇÃO
agricultura irrigada, a despeito da área irrigada cor- Sul, caracteriza-se pela rizicultura irrigada (cultivo do nas áreas potenciais e a disponibilidade de crédito.
responder a somente 13,7% da área colhida; arroz), os estados do Norte se encontram nas condições “De acordo com a nova Política Nacional de Irriga-
–– 29,4% da quantidade produzida da banana são de- de clima equatorial, sendo a área praticamente coberta ção, a implantação de projetos de irrigação dependerá de
correntes da agricultura irrigada, apesar da área irri- pela Floresta Amazônica. Assim, a região Sul é a que licenciamento ambiental. Já as obras de infraestrutura,
gada corresponder a 19,1% da área colhida; mais utiliza os sistemas de irrigação por superfície (neste inclusive os barramentos de cursos d’água que provo-
–– 87,8% do valor bruto da produção de todos os pro- caso, a irrigação por inundação, característica de regiões quem intervenção ou supressão de vegetação em área de
dutos da horticultura advêm do uso da tecnologia produtoras de arroz). Já na região Sudeste predomina preservação permanente, poderão ser consideradas de
de irrigação. Além disso, ao desconsiderar o produto o uso da irrigação por aspersão convencional e de pivô utilidade pública para efeito de licenciamento ambiental,
“Mudas e outras formas de propagação” da conta- central, sendo o Nordeste a região que mais contribui quando declaradas pelo poder público federal como es-
gem, pois este produto é o único cuja unidade de me- com áreas irrigadas pelo sistema localizado. senciais para o desenvolvimento social e econômico”, diz.
dida não é toneladas, tem-se que aproximadamente Dessa forma, os principais elementos que dificultam
84,4% da quantidade produzida são devidos ao uso Seca reduz área irrigada a expansão da área irrigada no Brasil são:
da tecnologia de irrigação. De acordo com o secretário Nacional de Irrigação, 1. A dificuldade de obtenção de financiamento e seguro;
Pedro Mousinho, em meio à forte seca que afetou o Su- 2. A falta de difusão e transferência de tecnologia ao
Também segundo dados do Censo Agropecuário re- deste e outras regiões do país, o avanço da área agrí- agricultor;
alizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- cola irrigada pelos produtores brasileiros foi menor 3. A falta de assistência técnica específica;
ca (IBGE), em 2006, a área irrigada do país corresponde em 2014. Conforme estimativas da Câmara Setorial 4. O custo da energia elétrica; e,
a aproximadamente a 4,45 milhões de hectares, com de Equipamentos de Irrigação (CSEI) da Associação 5. Dificuldade de inserção da produção nos mercados.
Secretário Nacional de Irrigação, Pedro Mousinho

250 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 251
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

Minas Gerais
Emater orienta produtores

ZINEB BENCHEKCHOU
sobre economia de água
na irrigação
Alguns sistemas reduzem o consumo em até 50%

A
grave estiagem do verão aumentou a preocu- mento ou por microaspersão. Ela é feita próxima ao pé
pação dos agricultores em relação ao desen- da planta e aplicando água em pequenas quantidades.
volvimento das lavouras. Em muitos casos, a No caso do gotejamento, a água é disponibilizada por
produção só é possível com o uso da irrigação. No Bra- intermédio de mangueiras, com pequenos furos, que fi- Irrigação por gotejamento
sil, a agricultura irrigada ocupa 6,7% da área plantada e cam espaçadas pela lavoura, junto às fileiras de plantas.
responde por 20% da produção de alimentos. Em Minas Segundo o coordenador, a economia chega a 50% em lavouras, retorna para o meio ambiente. “Uma parte da concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambien-
Gerais, a área com uso de irrigação é de 600 mil hectares. relação aos métodos convencionais. Já o uso de micro- água é absorvida pela planta, a outra infiltra no solo e te. Se a água utilizada é de algum rio de domínio da
Segundo o coordenador Técnico Estadual de Irrigação e aspersores, reduz a quantidade de água utilizada entre vai para o lençol freático. Além disso, há a evapotrans- União, a outorga é concedida pela Agência Nacional de
Recursos Hídricos da Emater-MG, João Carlos Guima- 25% e 30%. piração da água pela planta e pelo solo, que se transfor- Águas (ANA).
rães, o manejo correto da irrigação é fundamental para Já quando a cultura exige uso do sistema de aspersão ma em chuva. Em algumas culturas, a retenção da água
que captação de água seja realmente a necessária para convencional – plantio de grãos, por exemplo – a reco- é muito baixa. Os grãos consumidos, por exemplo, tem Orientações para economia de água na irrigação:
cada cultura. mendação é utilizar equipamentos (aspersores de baixa apenas 3% de umidade. Ou seja, a maior parte retorna –– Uso de informações de estações climáticas
Obter informações precisas sobre o clima da região e precipitação, sistema Lepa, etc) que ajudam a controlar a ao ambiente”. –– Uso de sensores de solo para verificar a retenção de
dos solos ajuda a estabelecer a quantidade e o momento vazão e permitem que a irrigação seja feita o mais rente água
certo de irrigar. “Se não houver uma estação climática possível ao solo, reduzindo a dispersão da água. “O sis- Áreas irrigadas –– Priorizar o sistema de irrigação localizada nos plan-
próxima, uma alternativa é a aquisição, por um grupo de tema Lepa, por exemplo, é muito utilizado nas grandes Em Minas Gerais, a maior parte das áreas irrigadas tios de café, hortaliças e frutas
irrigantes, de estação uma climática automatizada. Ou- áreas irrigadas com pivô central”, explica o coordenador está no Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste, –– Uso de sensores nos equipamentos por aspersão,
tro equipamento que pode ser útil é um sensor de solo da Emater-MG. Lepa significa Low Energy Precision com as lavouras de grãos e café. No Norte de Minas, des- principalmente o pivô central
que informa o teor de umidade retida de pelo solo. Com Application, ou aplicação precisa de água com baixo con- taca-se a produção de frutas e hortaliças, principalmente
isso, é possível reduzir em até 20% a quantidade de água sumo de energia. Sua utilização promove uma redução nos projetos Jaíba e Gorutuba, onde a irrigação localiza- Áreas irrigadas em Minas Gerais:
utilizada na irrigação. nas perdas de água pelo vento e evaporação. da (gotejamento e microaspersão) é a mais utilizada. Já –– Área total irrigada no Estado: 600 mil hectares
A Emater-MG também orienta os produtores a uti- João Carlos destaca a importância da irrigação para no Sul de Minas, a produção de morango é irrigada por –– Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste: café, milho fei-
lizar sistemas de irrigação adequados para cada tipo de a oferta de alimentos e aumento da produtividade na gotejamento. Nos municípios do entorno de Belo Hori- jão e soja
cultura e que ajudam na economia de água. “A irrigação agricultura. “Com a irrigação é possível produzir mais, zonte, há uma grande produção de hortaliças. Boa parte –– Norte de Minas: frutas e hortaliças
localizada é a mais econômica. Ela é indicada nas áre- em uma mesma área, evitando o desmatamento e a dos agricultores utiliza a irrigação localizada. –– Sul de Minas: morango
as de produção de hortaliças, frutas e café”, explica João abertura de novas frentes de produção”, informa. Ele As áreas irrigadas necessitam de outorga (autoriza- –– Região metropolitana de Belo Horizonte: hortaliças
Carlos. A irrigação localizada pode tanto ser por goteja- lembra que boa parte da água utilizada para irrigar as ção) para uso da água. No caso de Minas Gerais, ela é –– Em diversas áreas do Estado: pastagem ◆

252 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 253
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

Uso sustentável da C
omo equilibrar a necessidade de irrigação usá-la sem racionalidade. Ao contrário, é preciso usar
com a crise hídrica? O Brasil possui em torno de maneira eficiente. Se analisarmos a contribuição
de 13% da água doce do mundo e a agricultura da agricultura para o PIB, em torno de 30% nos últi-
utiliza 70% desse recurso hídrico. O pesquisador da Em- mos anos. Isso é importante para economia do país. Se
brapa Semiárido, Luis Henrique Bassoi falou sobre o uso pensarmos no contexto mundial, o programa da ONU

água na agricultura
da água na agricultura e mostrou como seu impacto na - Desafio 2050, em que há o compromisso de ofertar
crise hídrica é reduzido, em entrevista ao programa da alimentos para 9 bilhões de pessoas e o Brasil é um dos
empresa de pesquisa. principais atores para esse desafio. Temos competência
A agricultura utiliza água em quantidade elevada. para produzir alimentos para nós e outros países. E a
Todavia, parte da água utilizada pela agricultura é de- oferta de alimentos nas últimas décadas no Brasil se
volvida à natureza pelo ciclo hidrológico. Conforme o mostrou num quadro positivo: aumentou a oferta de
pesquisador explica, ao utilizar a água pelo sistema de alimento e o preço corrigido vem caindo nas ultimas
irrigação, parte pode ser armazenada no solo, outra eva- décadas. Ou seja, o brasileiro está tendo acesso a um
pora, também acaba sendo absorvida pela planta que, ao alimento mais barato”.

ZINEB BENCHEKCHOU
transpirar devolve para a atmosfera. Outra quantidade Existem casos em que a oferta de água para a agri-
da água infiltra e drena no solo, fazendo com que haja o cultura está sofrendo alguma limitação e nestes casos
reabastecimento do lençol freático, que são as chamadas poderá haver redução na irrigação e, dependendo da
águas subterrâneas. E parte da água que fica na super- cultura pode ter perda em termos de qualidade e quanti-
fície pode escoar, a qual acaba contribuindo para rea- dade, por exemplo, nas hortaliças que exige quantidade
bastecer rios, reservatórios e lagos. “Então são processos de água grande no cultivo e pode ser afetado. Como con-
que ocorrem naturalmente e que fazem com que parte da sequência, a possível elevação do preço destes alimentos
água seja devolvida enquanto uma pequena parcela fique em algumas regiões do país.
retida nas plantas”, diz. O que fazer para driblar a crise hídrica?
Bassoi salienta que não se pode afirmar que há um Existem algumas ações que podem ser tomadas de
conflito entre o uso da água na agricultura e a falta des- imediato e outras a médio e longo prazo. De imediato,
te recurso hídrico nas cidades. “É uma afirmação equi- segundo o pesquisador, seria aplicar quantidade de água
vocada por causa do processo hidrológico na agricultu- menor do que a planta exige. Dessa forma, ao menos se
ra”, acrescenta. garante produção mínima. Chama-se irrigação com dé-
A agricultura utiliza muita água, mas é preciso ter ficit. “Mas estamos no meio de uma situação crítica e te-
consciência de que parte dela acaba retornando ao meio mos que pensar também no futuro, ou seja, se preparar
ambiente. Além do que, a atividade produz alimentos e para aumentar a eficiência do uso da água na agricultura.
uma série de produtos que são beneficiados ou indus- E isso é possível através de uma maior transferência de
trializados, como a produção de soja, a qual acaba sendo tecnologia ao agricultor e uma melhor capacitação desse
usada também na indústria farmacêutica, cosméticos, produtor para usar a água na agricultura. Não significa
química (corantes); algodão na fabricação de tecidos que não há produtores capacitados, mas a questão é que
cirúrgicos, borracha que é empregada na fabricação de esse número ao utilizar água de maneira eficiente precisa
pneus. Enfim, existe uma série de produtos que fazem aumentar”, ressalta.
parte do nosso cotidiano. Significa que a falta de água
para a agricultura afetaria não apenas esta atividade, Uso da água por diferentes setores
mas toda a sociedade. O Brasil sempre foi considerado um país rico em
água doce. Em média, o Brasil possui 13% de água doce
Interromper a irrigação agrícola seria uma do mundo, mas a maior parte dessa reserva hídrica es-
alternativa viável? tava localizada em regiões onde não existe quantidade
“É inegável a vocação agrícola do nosso país. Te- de pessoas tão grande, como na Amazônia. E outras
mos grandes extensões de terra, tecnologia e conheci- regiões mesmo com alta densidade populacional, há
mento. E temos água, mas não significa que podemos atividade agrícola em que a disponibilidade de água

254 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 255
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

BAUER é o mais completo fabricante

DIVULGAÇÃO
de equipamentos de irrigação
A
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pamentos de irrigação do Brasil e do Mundo
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Pesquisador da Embrapa, Luis Henrique Bassoi

proveniente da chuva é menor. Entretanto, é preciso impostos e auxiliar o Brasil a ter balança comercial mais
destacar dois fatores: a população aumentou; existe favorável”, enfatiza.
êxodo rural, ou seja, as pessoas estão saindo da zona
rural; há aumento do consumo que, consequentemen- Portifólio de agricultura irrigada
te, gera maior necessidade de energia. Existem estes as- O Portifólio de Agricultura Irrigada da Embrapa é um
pectos quando se fala da chamada competição pelo uso instrumento gerencial para melhor organizar as ativida-
da água pelos diferentes setores. des de pesquisa e difusão dos resultados gerados em re-
De acordo com o pesquisador da Embrapa, a área lação à irrigação. Existem resultados disponíveis outros
irrigada tem potencial para crescimento no país desde difundidos e transferidos ao setor produtivo. A função é
que haja um planejamento e gestão de maneira bastante gerencial. Existe uma série de procedimentos e instru-
competente e integrada entre diversos atores governa- mentos que podem ser usados pelo produtor para fazer
mentais. “É importante aumentar a área irrigada no país, um uso mais eficiente da água na agricultura - manejo
porque hoje, temos em torno de 5,4 milhões de hectares de irrigação. “Existem procedimentos, sensores e instru-
diante de um potencial de quase 30 milhões de hecta- mentos que o agricultor pode utilizar e optar para defi-
res. É importante aumentar, porque podemos aumentar nir o quanto ele vai irrigar em determinado momento.
a produção de alimentos, a produtividade, rentabilidade Existe tecnologia e resultados que precisam ser melhor
do produtor. É possível propiciar maior arrecadação de difundidos e usados”, conclui. ◆

256 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 257
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

CRISE DA ÁGUA
Noé e José segundo
Mandelbrot Gilberto R. Cunha é pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura, Embrapa
Trigo, Passo Fundo/RS. Contato: gilberto.cunha@embrapa.br

B
enoit B. Mandelbrot (1924-2010), o homem quarenta dias e quarenta noites), e os sonhos do Faraó nos veículos de comunicação, a partir de palestras e en-
que, conforme Chris Anderson (o curador do explicados por José, Gênesis, 41, 29-30 (...virão, primei- trevistas do professor Antonio Carlos Zuffo, da Facul-
TED), pela criação da teoria da geometria dos ramente, sete anos duma fertilidade extraordinária em dade Engenharia Civil da Unicamp. O professor Zuffo
fractais, mudou a nossa forma de ver o mundo, fez incur- todo o Egito: aos quais seguir-se-ão outros setes duma tão tem destacado um período de 35 anos (1935-1970) de
sões pelos mais variados segmentos da atividade humana grande esterilidade, ...que fará esquecer toda a abundância severas estiagens nas bacias dos principais rios do sis-
(matemática, física, computação, comunicação, economia, passada: porque a fome consumirá toda a terra), Mandel- tema Canteira, seguido por elevação das chuvas anuais
linguística e hidrologia). Em uma longa carreira profissio- brot e Wallis, no artigo supra citado,pela identificação de (até 2011). São os efeitos José e Noé, conforme bem re-
nal, na França e nos EUA, nesse último país especialmente padrões recorrentes nos dados fluviométricos, cunharam, alçado professor Zuffo em palestra proferida em Cam-
na IBM (1958-1993) e na Universidade Yale, deixou con- em hidrologia, as expressões “Efeito Noé” e “Efeito José”. pinas no dia 17 de julho de 2014, que apontam para a
tribuições relevantes, umas mais e outras menos conheci- Por Efeito Noé, Mandelbrot e Wallis designaram aque- necessidade de uma melhor gestão de recursos hídri-
das, sobre aplicações da matemática voltadas à solução de le tipo de situação que quando há registro de chuvas ex- cos, envolvendo: tecnologia (processos e equipamen-
questões afetas ao dia a dia das pessoas, como é o caso do tremas, essas chuvas, em geral, são muito extremas. E, no tos mais eficientes); captação e tratamento de água de
entendimento da flutuação de preços no mercado de ações caso do Efeito José, tipicamente, a ocorrência de períodos chuva; reuso de água; negociação com demais usuários,
e da gestão de recursos hídricos; por exemplo. de alta ou baixa precipitação pluvial (quantidade chuva), principalmente com os agricultores; informação para
Em artigo, hoje clássico, publicado na revista Water porém sendo esses lapsos de tempo extremamente longos. conscientização da população; investimento em redu-
Resources Research (v.4, n.5, p.909-918, 1968) – Noah, Em climatologia/hidrologia, o Efeito Noé descreve a “des- ção de perdas – sistema público; substituição de equi-
Joseph, and Operational Hidrology –, Benoit B. Mandel- continuidade” e o Efeito José a “persistência” das caracte- pamentos hidrossanitários nas residências; sistemas
brot e James R. Wallis (colegas de trabalho na IBM) apre- rísticas do regime hídrico em uma dada região (quantida- separados de água potável x água de reuso; tratamento
sentaram a base estatística teórica para a modelagem hi- de de chuva e tempo de permanência da situação). de efluentes – para aumentar a disponibilidade hídrica
drológica que, em uma série de estudos posteriores, seria Em 2014, com o agravamento da situação e o risco por qualidade; e distritos industriais para dividir custos
aplicada aos dados fluviométricos de alguns dos grandes para o abastecimento de água para usos urbano, agrí- e ganhar sinergias.
rios do mundo, como foi o caso do Nilo no Egito. cola e industrial na Região Sudeste, especialmente pela A Bíblia, pelo visto, quer seja como fonte de revela-
Valendo-se de passagens bem conhecidas da Bí- crise no sistema Cantareira em São Paulo (Bacias Pira- ção para os crentes ou como base de inspiração para os
blia, como a história do Dilúvio, Gênesis 7, 11-12 (...e se cicaba, Capivari e Jundiaí), as expressões Efeito José e cientistas criarem as suas metáforas, continua sendo um Gilberto Cunha
abriram as cataratas do céu. E caiu a chuva sobre a terra Efeito Noé podem ser encontradas com certa facilidade livro fantástico. ◆

258 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 259
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

Agricultura familiar: um exemplo de sucesso


Um bom exemplo de agricultura familiar em grande escala é a Índia

C
om uma população de mais de 1,2 bilhões de Sua atuação vai além da própria agricultura, mantendo
habitantes, a Índia ocupa a segunda posição instituições de ensino e capacitação de agricultores, atin-
mundial em quantidade de produtos agríco- gindo o impressionante número de capacitados: quase
las, produção esta baseada em pequenas propriedades. 30.000 no ano de 2013.
São cerca de 110 milhões de propriedades agrícolas No Brasil, a NaanDanJain, subsidiária do grupo Jain,
com tamanho médio de 1,5 ha por propriedade, sendo está presente no campo, fabricando e comercializando
quase 40% das áreas plantadas irrigadas e somente 2% sistemas de irrigação de gotejamento, microaspersão
das áreas possuem mais que 10 ha. e aspersão. Cada uma destas modalidades tem seu kit
Quanto a produtividade, a Índia possui excelência em de irrigação correspondente para atender a agricultura
algumas culturas, tais como cana de açúcar atingindo aci- familiar em praticamente todas as culturas estando a
ma de 100 t por acre ou 210 t por ha e em banana com empresa alinhada com o programa Mais Alimentos do
produção de 120t por ha, ambas irrigadas por gotejamento. Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que
A cultura do arroz irrigado por gotejamento pode ser incentiva, fomenta e acredita na produção agrícola de
observada também no país que tem uma precipitação pequena escala através do financiamento de projetos de
média de 1.200mm anuais e 600 mm na principal região modernização nas propriedades. ◆
produtora de banana.
Na Índia uma preocupação generalizada é a acumu-

DIVULGAÇÃO
lação de água, principalmente das chuvas de monções,
para ser utilizada posteriormente na irrigação. Açudes,
vegetação natural e controle de erosão são preocupações
constantes em um país que possui algo como dois terços
da população dependente da agricultura para sobreviver.
A empresa Jain, de origem essencialmente indiana,
está presente não só na fabricação e instalação de siste-
mas de irrigação, como também no suprimento de mu-
das, suporte agrícola e processamento dos produtos agrí-
colas, tais como: cebola, manga, banana dentre outros.
DIVULGAÇÃO

260 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 261
CAPACITAÇÃO CAPACITAÇÃO

Com licença vou à luta

ASCOM MDA
Programa qualifica
mulheres do campo
Apesar dos preconceitos, a presença do trabalho feminino nas propriedades rurais,
seja na produção ou na gestão é uma realidade, porém carente de qualificação

O
Programa Com Licença Vou à Luta foi desen- matricular no EadSENAR através do endereço eletrônico
volvido pelo Serviço Nacional de Aprendi- http://ead.senar.org.br/cursos/com-licenca-vou-luta
zagem Rural (Senar), em 2010, levando em O programa tem uma carga de 40 horas, dividida em
consideração que, hoje, grande parte das mulheres são 5 módulos de 8 horas cada (1 dia por semana). Os módu-
responsáveis pela unidade familiar e se encontram en- los são: Empreendedorismo/Diagnóstico da Propriedade; cuária do Brasil (CNA) e administrada por um Conselho O Senar passou a fazer parte do Programa Nacio-
volvidas diretamente no processo produtivo e na gestão Gestão Financeira; Planejamento do Negócio; Legislação Deliberativo tripartite. Integrante do chamado Sistema S, nal de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Prona-
de empreendimentos. No meio rural, apesar dos precon- – trabalhista, previdenciária, ambiental e sanitária e; Li- tem como função cumprir a missão estabelecida pelo seu tec), em 2011, contribuindo para a expansão, a inte-
ceitos que ainda existem, a presença do trabalho femi- derança. Todos os conteúdos são ministrados por meio de Conselho Deliberativo, composto por representantes do riorização e a democratização da oferta de cursos para
nino nas propriedades rurais, seja na produção ou na técnicas e metodologias educacionais eficientes, intercala- governo federal e das classes trabalhadora e patronal rural. jovens e adultos.
gestão/administração é uma realidade, porém está muito das com dinâmicas e atividades comportamentais. Desta A produção nos campos brasileiros avançou com a ci- Em 2013, sinalizou um novo caminho para ofertar
carente de qualificação. forma, o Programa consegue abordar tanto conteúdos ência e a tecnologia, colocando o Brasil entre os maiores também cursos técnicos, presenciais e a distância, e ini-
No período entre 2010 até 2014, o Programa capaci- técnicos de gestão e administração, quanto conteúdos de produtores de alimentos do mundo. O Senar contribui ciou a formatação de novos programas.
tou 16.233 mulheres no modelo presencial. A partir de desenvolvimento humano, tornando-o bastante completo. para essa mudança há 24 anos, com ações de Formação Com a enorme capilaridade que tem e por acredi-
2011, o Com Licença Vou à Luta foi disponibilizado à De acordo com o Senar, o que está sendo alcançado Profissional Rural e atividades de Promoção Social. tar que pode contribuir ainda mais com a multiplica-
distância, e capacitou até 2014 17.700 mulheres. é uma transformação da mulher rural, que passa a ser Atende, gratuitamente, um milhão de brasileiros do ção do conhecimento, o Senar criou o programa de
O objetivo do programa é capacitar às mulheres do mais ativa, mais independente, mais determinada e mais meio rural, todos os anos, contribuindo para sua profis- Assistência Técnica Gerencial com Meritocracia para
meio rural em gestão e plano de negócios, transforman- consciente da sua participação na gestão da empresa ru- sionalização, sua integração na sociedade, melhoria da sua restabelecer o trabalho da assistência técnica no país
do a participação feminina em fator decisivo para o su- ral, sendo responsável pelo aumento de renda e melhoria qualidade de vida e para o pleno exercício da cidadania. e auxiliar, principalmente, os produtores rurais das
cesso da empresa rural. O Com Licença Vou à Luta está na qualidade de vida, junto à família. As 27 Administrações Regionais promovem cursos classes C, D e E que não têm acesso à extensão rural e
disponível para todas as administrações regionais do Se- e capacitações para desenvolver competências profissio- às novas tecnologias.
nar, que se localizam nos 26 estados e no Distrito Federal. O Senar nais e sociais em aproximadamente 300 profissões do A agropecuária brasileira tem hoje um nível eleva-
Como as Administrações Regionais são independentes, O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), meio rural. E a Administração Central do Senar também do de sofisticação de suas operações, novas carreiras e
elas têm autonomia para realizar ou não projetos nacio- abre oportunidades para homens e mulheres que dese- tem um portfólio de programas especiais. novos perfis profissionais. Os requisitos de cada cadeia
nais, como este. No caso específico do Programa, ele é jam ampliar seus conhecimentos para impulsionar a Nos últimos quatro anos, a entidade ampliou, signi- produtiva – do laboratório de pesquisa até o ponto de
executado por 12 administrações regionais – SC, RS, ES, produtividade, com preservação ambiental, melhorar a ficativamente, o seu leque de ofertas educativas de for- venda no supermercado, na feira ou no porto, deman-
GO, MS, BA, PI, MA, CE, PA, TO e AL. Estas regionais renda e a qualidade de vida no campo. mação profissional rural (FPR) e promoção social (PS) dam diversas habilidades e competências.
realizam no modelo presencial, porém o Com Licença Criado pela Lei nº 8.315, de 23/12/91, é uma entidade e tem concentrado esforços na busca de novas parcerias O Senar é a escola que tira a tecnologia das prateleiras
Vou à Luta está disponível à distância, e de forma gra- de direito privado, paraestatal, mantida pela classe patro- para ampliar ainda mais o atendimento das necessidades e leva ao campo, onde há necessidade, e aplica as pesqui-
tuita, para as mulheres rurais de todo o Brasil. Basta se nal rural, vinculada à Confederação da Agricultura e Pe- de formação e qualificação no campo. sas, onde há demanda. ◆

262 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 263
CAPACITAÇÃO CAPACITAÇÃO

“O gosto pelo trabalho


no campo vem de
Pronatec família”, conta jovem
Programa do Senar é agricultor cearense
destinado aos jovens rurais
No Plano Safra da Agricultura Familiar 2014/2015, os jovens passaram a contar
com mais possibilidades de acesso ao crédito do Pronaf

H
oje o campo brasileiro oferece uma grande Piscicultor, Bovinocultor de leite, Avicultor e Assistente
variedade de carreiras profissionais. Os jo- de Planejamento e Controle de Produção, capacitação

BULLDOG / MDA
vens e suas famílias não precisam mais tro- que formará técnicos especializados para atender a ca-
car a área rural pela cidade para ter sucesso profissional. rência em assistência técnica e extensão rural que exis-
A satisfação profissional e pessoal pode estar na proprie- te atualmente nas propriedades rurais. No último ano,
dade da família. o programa formou mais de 52 mil jovens nas cinco re-
Para ajudar esses brasileiros a adquirir o conheci- giões do País, um aumento de mais de 60% em relação
mento necessário para o sucesso profissional, o Senar, ao ano de 2013.
que há mais de 20 anos capacita homens e mulheres do
campo, firmou em 2011, uma parceria com o Ministério Pronatec do Senar tem algo mais
da Educação, para levar o Programa Nacional de Acesso Atualmente não basta apenas plantar e colher. É pre-
ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), ao interior do ciso conhecer as técnicas básicas de administração, as
País e, assim, abrir novas oportunidades. máquinas e equipamentos, enfim, de todos os recursos
O Pronatec do Senar oferece, gratuitamente, mais de usados para produzir mais e melhor.
60 cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC). São Por isso, o Senar incluiu em todos os cursos do Pro-
cursos em oito eixos tecnológicos: Recursos Naturais, natec um módulo de empreendedorismo com as melho-
Controle e Processos Industriais, Produção Alimentícia, res práticas sobre o tema, para que cada aluno aprenda a
Informação e Comunicação, Gestão e Negócios, Turis- administrar a propriedade rural.
mo, Hospitalidade e Lazer, Produção Cultural e Design No módulo empreender no campo, que possui 40 ho-
e Infraestrutura. ras aula, o Pronatec do Senar ensina a analisar, avaliar,
Em 2014 foram atendidos 1.130 municípios e os tomar as melhores decisões, colocando a técnica e a cria-
cursos mais procurados foram Horticultor orgânico, tividade a serviço da produtividade e da lucratividade. ◆

264 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 265
CAPACITAÇÃO CAPACITAÇÃO

C
omo agricultor familiar, Lázaro de Oliveira prática que o encantou durante um estágio no colé- nheiro do Pronaf Jovem, comprou as mudas matrizes e a lhos de agricultores familiares e/ou provenientes de es-
Leite, 28 anos, sustenta a casa onde mora gio agrícola. tela para o sombreamento das plantas. Em 2007, ele fez colas agrotécnicas e centros familiares de formação por
com a mulher Sara de Oliveira Leite, 20, no A produção começou em 2006, quando o jovem outro financiamento, dessa vez pelo Pronaf C para inves- alternância, que queiram viabilizar o próprio projeto de
município de Barbalha, no Ceará, a 550 quilômetros da acessou o crédito rural do Governo Federal pela pri- tir em irrigação. vida no meio rural.
capital Fortaleza. Ele produz palmeiras ornamentais, meira vez. À época tinha apenas 21 anos. Com o di- Todo o trabalho é realizado em uma estufa que ocupa O PNCF disponibiliza ainda um recurso adicional de
parte da propriedade de três hectares do pai, que tam- R$ 3 mil para jovens rurais, cadastrados no CADÚnico,
bém é agricultor familiar e cultiva frutas. “O gosto pelo que acessam o programa pela linha de Combate à Pobre-
trabalho no campo vem de família”, conta. za Rural por meio de uma associação. Das 135 mil famí-
O prazer em viver no campo é o que estimula Lázaro lias beneficiadas pelo programa, 31% são jovens.
a aumentar a produção. Como vende a maior parte das
mudas em atacado e às vezes precisa percorrer mais de Mais conquistas
20 quilômetros para entregá-las, o jovem pretende in- A Presidência da República aprovou, em 2014, novas
vestir ainda mais. O plano é recorrer ao Mais Alimentos. regras para o PNCF, entre elas a Lei Complementar 145,
“Em 2015, quero comprar um veículo para transportar que permite a compra entre herdeiros do imóvel rural,
as mudas”. objeto de partilha, pelo programa Nacional de Crédito
E no que depender de Lázaro e da mulher Sara, a ten- Fundiário facilitando assim, a sucessão rural.
dência é continuar prosperando. O casal quer ter filhos e
transferir a eles o amor que sentem pelo ofício. “Quere- Reforma agrária
mos que eles continuem aqui.” Os jovens do meio rural, a partir de 2013, passaram
a ter direito a 5% dos lotes da reforma agrária em todo
Avanços para juventude rural nos últimos o Brasil. Com isso, o governo assegura, nos assenta-
quatro anos mentos com vinte lotes ou mais, a permanência (ou o
Plano Safra 2014/2015 retorno ao campo) de jovens trabalhadores rurais sol-
No Plano Safra da Agricultura Familiar 2014/2015, teiros até 29 anos, residentes ou com origem no meio
os jovens passaram a contar com mais possibilidades de rural. A juventude rural representa 39% do público da
acesso ao crédito do Pronaf. O número de operações per- reforma agrária.
mitidas aumentou de uma para três. O limite é de até R$
15 mil por contrato (totalizando R$ 45 mil). Os encargos Formação agroecológica
financeiros são de 1% ao ano, o prazo de pagamento é de Em 2014, o governo criou o Programa de Fortaleci-
até 10 anos e até cinco de carência. mento da Autonomia Econômica e Social da Juventude
Rural. A iniciativa reúne diversas ações interministeriais
Nossa Primeira Terra para melhorar a vida dos jovens brasileiros que vivem no
Com juros de 1% ao ano e um prazo de até 35 anos campo. Pelo acordo, o MDA fica responsável pela For-
para pagar a terra, a linha Nossa Primeira Terra (NPT) mação Agroecológica e Cidadã de Juventudes do Campo,
do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) é em uma parceria entre o Ministério e o Conselho Nacio-
uma alternativa de acesso à terra para juventude rural. nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
É destinada a jovens, com idade entre 18 e 29 anos, fi- com ênfase nas regiões amazônica e semiárida. ◆

266 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 267
CAPACITAÇÃO CAPACITAÇÃO

C
om o objetivo de qualificar e formar a juven- na prática, o que propicia maior debate e possibilidade
tude rural em agricultura familiar o curso “Ju- de aplicação do conhecimento”, salienta Cenci. “Outro

FABIANE ALTÍSSIMO
ventude Semeando Terra Solidária” é uma ex- diferencial é a integração e troca de experiência entre
periência diferenciada em qualificação. Iniciou em 2013 os jovens, que são de diferentes locais e realidades de
e, em 2015 deverá formar para a gestão das propriedades cada estado”, destaca.
rurais, cerca de 5 mil jovens agricultores do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e Paraná. Incentivo para a permanência no campo e no-
Focado na pedagogia da alternância e nos métodos vas perspectivas de vida
da educação popular o curso é dividido em 12 módu- Para o jovem educando Valério Cavalli, técnico em
los que tratam de temas como gestão da propriedade, agropecuária, do município de Itatiba do Sul – RS, “o
inclusão digital, agroecologia, sucessão na agricultura curso é de suma importância pois além do aprendiza-
familiar, gênero, dentre outros. As aulas são realizadas do prático, proporciona formação crítica e, nos mu-
mensalmente, na Universidade Federal da Fronteira Sul nicípios, onde é multiplicado para os jovens locais, a
(UFFS), de cada estado, para um total de 120 educandos. formação desperta novos olhares diante da realidade”,
conta Cavalli.
Muito além do conhecimento em sala de aula A jovem Tais Moi do município de Barra Funda - RS
Um dos diferenciais do projeto está na multiplicação explica que após cada etapa do curso, dialoga com os
do conhecimento por parte dos alunos. Após a realização pais sobre o aprendizado e discute o conteúdo com a tur-
dos módulos estaduais, cada educando tem o dever de ma de jovens do município. Ela que cursa o último ano
multiplicar o curso para outros jovens do seu município. do ensino médio relata que é apaixonada pelo interior
Além disso, são realizadas visitas de intercâmbios e tro- e, revela seus projetos futuros. “Pretendo implementar
cas de experiências entre jovens dos municípios do Sul o plano familiar que está sendo elaborado no curso, na
do país, que participam do programa. Na última etapa do propriedade dos meus pais, com o objetivo de melhorar a
projeto, os estudantes têm a tarefa de elaborar um “Plano produção leiteira, posteriormente vou cursar agronomia
de Sucessão Familiar”, adaptado à propriedade da famí- e aplicar o conhecimento no campo”, enfatiza.
lia. Os melhores trabalhos serão publicados em um livro “A integração entre pessoas e realidades diferentes,
a ser publicado no final do curso. oportunidade de fazer intercâmbio em outras proprieda-

Curso pioneiro forma


Para Valdecir José Zonin, professor da UFFS e do cur- des e conhecer novas possibilidades de fazer agricultura”,
so “Juventude Semeando Terra Solidária”, esse processo são alguns dos benefícios que a jovem Cristiane Rabsch
formativo é inédito para os jovens. “É algo totalmente do município de Severiano de Almeida - RS, aponta so-
novo, não é uma realidade que eles viveram na escola. A bre o curso. Cristiane que já ingressou no ensino superior
sucessão familiar no meio rural depende da formação”, e trancou a matrícula temporariamente, se diz satisfeita

a juventude rural em
afirma o docente. Ele ressalta ainda sobre a importância e encantada com a experiência adquirida com o curso
do Plano de Sucessão que os alunos elaboram ao final do “Juventude Semeando Terra Solidária”.
processo de formação. “O plano acaba sendo um indica- O projeto de autoria da Fetraf-Sul é desenvolvido
dor de mudanças que devem ocorrer no meio agrícola e em parceria com a Universidade Federal da Fronteira
até servir para construção de políticas públicas”, pontua. Sul (UFFS), apoiado pelo Ministério do Desenvolvi-

agricultura familiar
Na visão do coordenador do coletivo de jovens da mento Agrário (MDA). Os jovens participantes do
Fetraf-RS, Douglas Cenci, o curso vai além do apren- curso são agricultores familiares de diferentes muni-
dizado em sala de aula. “Mais do que conteúdo, ele cípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Para-
propõe a construção do pensamento crítico e análise ná e, foram selecionados pela Fetraf-Sul e Fetraf-RS.
aprofundada da realidade. Os alunos passam a ver ou- Cada estado forma uma turma de 40 alunos. Após as
tras possibilidades de vida no campo. A metodologia aulas estaduais, cada jovem, com o apoio do sindicato
Cerca de 5 mil jovens agricultores devem se formar no Rio Grande do Sul, Santa baseada na alternância e na educação popular é um di- local, multiplica o aprendizado para cerca de 40 jo-
Catarina e Paraná ferencial pois, os temas dialogam com o que eles vivem vens do seu município. ◆

268 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 269
SUCESSÃO RURAL SUCESSÃO RURAL

30% das propriedades


não têm sucessão no Rio
Grande do Sul
A
realidade das propriedades rurais do Sul é Desvalorização do agricultor familiar É um processo muito lento para o ritmo do jovem e isso sucessor. “Vai depender da sociedade, políticas públicas
semelhante à de todo o Brasil, assim como Outro item é a desvalorização do agricultor familiar. acaba o desmotivando”, diz. que venham dar suporte para que o jovem possa perma-
na América Latina e, a sucessão rural é tida “O jovem sente muito isso, porque o agricultor familiar É necessária uma política casada. Há proposta que necer no campo. Enquanto federação, entendemos que
como um processo complexo. Um dos procedimentos não tem status. Temos uma desvalorização grande do o governo libere a compra da terra, junto à compra da não é obrigatório ficar, do mesmo modo que um filho de
mais difíceis de ser resolvido, porque depende de uma ‘ser agricultor’ e na hora dele decidir, muitas vezes isso casa e também o financiamento para pastagem, galpão, médico não tem a necessidade de seguir os passos do pai.
série de fatores que tem que combinar e dar certo para determina sua permanência ou não no campo”, acres- por exemplo, para que o jovem possa ter renda em curto Mas se ele ficar, então quer haja condições para produzir
que a sucessão aconteça. centa Cenci. espaço de tempo. alimentos e garantir a soberania alimentar”, conclui.
Com todos estes fatores interligados é possível evitar No que se refere ao estudo, muitos jovens tem deixa- Todavia Cenci afirma que entre outros países da
Fator econômico a saída do jovem do campo. O êxodo rural mais intenso do o campo para buscar maiores conhecimentos. “Temos América Latina, o Brasil é o único que tem a agricultura
Entre os itens, o fator econômico é um dos principais, maior ocorreu na década de 70 quando tinha um grande avaliação de que o agricultor do futuro vai ser a frente familiar reconhecida como categoria. ◆
pois se não tiver renda o jovem não permanece no cam- número de filhos de agricultores que colonizaram o país do que é hoje. Mais informado. A universidade vem para
po e, relacionado a isso, a disputa com o meio urbano. todo e acabou indo para a cidade em busca da industria- contribuir, embora que o ensino brasileiro não esteja vol-
“Na década de 60 e 70 o jovem permanecia na proprieda- lização, mercanizando o campo. “Mas na época era dife- tado para esta atividade. Não há cursos direcionados em

DIVULGAÇÃO
de porque não tinha oportunidade de estudar e trabalhar rente, não havia políticas públicas para a permanência como ser agricultor”, declara.
fora”, diz o coordenador do coletivo de jovens da Fetraf- no campo. Hoje, tendo renda e estrutura, facilita a per- Antigamente, os conhecimentos eram passados de
-RS, Douglas Cenci. manência do jovem no campo”, diz. pai para filhos, mas hoje, com grande mudança no cam-
“O jovem muitas vezes não tem suporte financeiro po, com a revolução tecnológica, o conhecimento do pai
para permanecer no campo devido à estrutura - acesso O que faz o jovem ficar? muitas vezes passa a ser ultrapassado, sendo necessário
a internet, telefonia, estradas, distância com a área ur- Conforme Cenci, com estes fatores positivos, facili- conhecimento extra e o ensino convencional não tem su-
bana. Pois muitos veem de uma geração que herdou a ta a permanência na propriedade rural. Tem a questão porte para isso.
terra dos pais, a qual já foi dividida anteriormente por do trabalho penoso, mas a tecnologia tem dado supor- “Mas este processo já está mudando. É possível ver
vários filhos e, a situação econômica do agricultor fa- te para o jovem, bem como para a mulher. “E o jovem casais de agricultores. Há uma década era possível con-
miliar, não permite que ele adquira mais terra. Assim, vai atrás da mulher. Pois o que vemos hoje, além do en- tar nos dedos quais eram os agricultores que estavam fi-
a família que tem três filhos por exemplo, divide e não velhecimento é a masculinização no campo”, ressalta, cando na propriedade da família. Mas nos últimos cinco
consegue se sustentar só com sua parte. Além disso, a acrescentando que “muitas das políticas que foram cons- anos o número de casais aumentou e, nossa aposta está
relação com os pais também tem bastante peso nessa truídas não servem para o jovem, porque comprando a em diversificar a propriedade. Implementar a industria-
decisão. Em alguns casos é determinante, onde o pai terra, com crédito fundiário, tudo é muito burocrático, lização e a comercialização direta para assegurar certa
não escuta os filhos que querem autonomia e que, mui- leva muito tempo. Depois da escritura tem um período renda e autonomia, explica Cenci.
tas vezes, acabam buscando essa autonomia em outro até o encaminhamento da habitação. Depois disso, pode Hoje, 70% dos agricultores têm mais de 40 anos e
local”, ressalta. fazer financiamento para desenvolver alguma atividade. 30% das propriedades no Rio Grande do Sul não têm Coordenador do coletivo de jovens da Fetraf-RS, Douglas Cenci

270 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 271
MULHERES RURAIS MULHERES RURAIS

desde 2005 promove a apoia experiências de desenvol- A partir de 2009, passaram a acessar o Programa de
vimento e fortalecimento da agricultura familiar de base Aquisição de Alimentos (PAA) e posteriormente o Progra-

DIVULGAÇÃO
agroecológica na perspectiva de convivência com o se- ma Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O aumento de
miárido. Integram ainda a Articulação no Semi-Árido escala de produção trouxe como desafios para a necessidade
Paraibano (ASA Paraíba), ASA Brasil, o Fórum Estadual de melhor organizar a produção, de adequar seus produtos
pela Agricultura Familiar e pela Reforma Agrária e o Co- à legislação sanitária e à legislação que regulamenta a certi-
letivo Estadual de Mulheres do Campo e da Cidade. Par- ficação dos orgânicos e agroecológicos, além de demandar
ticipam de fóruns, conselhos, conferências, marchas e melhoria na infraestrutura produtiva e de comercialização.
mobilizações que tenham como pauta políticas públicas Desafios estes que tem sido enfrentados por outros quatro
da agricultura familiar, de assistência técnica, segurança grupos produtivos articulados pelo Coletivo Regional.
alimentar e nutricional e da mulher. O Coletivo ainda mantém a Bodega Agroecológica,
Participam ativamente das dinâmicas de formação, espaço regional de intercâmbio e comercialização, loca-
experimentação e desenvolvimento conduzidas pelas lizado no município de Soledade, que centraliza a ven-
Comissões Temáticas - Sementes, Plantas e Frutos, da de alimentos e artesanatos produzidos pelas famílias
Criação Animal e Água -, e Grupo de Trabalho Fundo agricultoras articuladas pelo Coletivo Regional.
Rotativo Solidário e pela Coordenação do Coletivo Re- Participam do Mulheres Filhas da Terra, sete mulhe-
gional. Além disso, tem acessado recursos através do res e um homem.
Fundo Rotativo Solidário Regional e de outras fontes Rozimere enumera algumas das atividades promovi-
não reembolsáveis, como Petrobras e Ministério do das pelo grupo.
Desenvolvimento Social que tem permitido adquirir Fortalecimento da agricultura familiar na comuni-
materiais, equipamentos e melhorar a infraestrutura dade e região a partir de ações de convivência com o
para a produção e comercialização. Estão envolvidas semiárido de base agroecológica, tais como: resgate e
ainda em eventos promovidos pela ASA Paraíba, ASA valorização da agrobiodiversidade local; captação, ar-
Brasil e pelo Coletivo Estadual das Mulheres do Cam- mazenamento e manejo sustentável da água; manejo

Mulheres
po e da Cidade. sustentável da criação animal e processamento e co-
Segundo Rozimere, Mulheres Filhas da Terra surgiu mercialização de produtos a partir das frutas nativas
em decorrência deste processo de construção coletiva e adaptadas; estímulo a práticas de fortalecimento da
de conhecimentos e práticas agroecológicas e de convi- solidariedade e reciprocidade entre as famílias, espe-
vência com o semiárido iniciado na região desde 1993, cialmente a partir de mutirões e de fortalecimento de
e fortalecido a partir de 2005 pelo Coletivo Regional. Fundo Rotativo Solidário.
Neste processo tem contado com o apoio e a assesso- Ações de promoção de segurança alimentar e nutri-

Filhas da Terra
ria permanente do PATAC, organização não governa- cional e de geração de renda no campo;
mental que faz assessoria técnica e sócio-organizativa Ações de fortalecimento da autonomia econômica e
a agricultura familiar no semiárido paraibano, e mais política das mulheres;
recentemente do CENTRAC, organização de assessoria Participação em redes, articulações e fóruns da socie-
voltada para a promoção de uma cultura cidadã com dade civil organizada (Coletivo do Cariri, Seridó e Curi-
ênfase nas políticas públicas. mataú, ASA Paraíba, ASA Brasil e Fórum estadual pela
“Tendo como principais protagonistas as mulheres Agricultura Familiar e Reforma Agrária);
da comunidade de Canoa de Dentro, o grupo incorpora Participação no GT de Mulheres da ASA Paraíba e do

O
grupo Mulheres Filhas da Terra, da comunida- depois de muito trabalho. Tivemos um crescimento muito nos seus objetivos a busca da autonomia política e eco- Coletivo estadual de Mulheres do Campo e da Cidade;
de de Canoa de Dentro, do município de Pedra grande, pois pudemos trocar experiências com outros gru- nômica da mulher, a promoção da segurança alimentar Participação em Fóruns e Conselhos de Controle So-
Lavrada, Paraíba, foi um dos que recebeu o Prê- pos que estão na mesma caminhada, e esperançosos de dias e o aumento de renda da família. Entre suas ações de cial de Políticas Públicas (Fóruns territoriais, Conselho
mio Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável. De melhores que possamos alcançar nossos objetivos,” diz. convivência com a região, destaca-se o processamento Escolar e CMDRS)
acordo com uma das integrantes, Rozimere Oliveira receber O grupo está inserido na dinâmica conduzida pelo de frutas nativas e adaptadas e a comercialização de seus Participação em Conferências (Mulher, ATER, Segu-
o prêmio foi uma satisfação. “Estamos sendo reconhecidas Coletivo Regional do Cariri, Seridó e Curimataú, que produtos,” explica. rança Alimentar e Nutricional). ◆

272 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 273
MULHERES RURAIS MULHERES RURAIS

Cresce a presença das


mulheres na produção
familiar e camponesa no Brasil, responsável por cerca A superação da invisibilidade do trabalho das mu-
de 70% dos alimentos que chegam à mesa da população lheres camponesas exige, da parte do governo, iniciati-
brasileira. Segundo o último Censo Agropecuário, em vas que contribuam, de um lado, para a valorização do
2006 a agricultura familiar empregava 74,4% das pesso- trabalho doméstico não remunerado – traduzindo-se,

da agricultura familiar
as ocupadas em estabelecimentos agropecuários e dessa principalmente, na implementação de políticas de com-
população, 1/3 era constituído por mulheres, o que cor- partilhamento, ou políticas de cuidado, por outro, são
respondia a 4,1 milhões das pessoas ocupadas. E a pro- necessárias medidas que venham somar-se às políticas
porção vem crescendo. públicas em curso, orientadas para o fortalecimento e
As trabalhadoras do campo e da floresta, na sua diver- ampliação da inserção produtiva das trabalhadoras ru-
sidade humana e cultural, são mulheres brancas, negras rais, como as políticas de compras governamentais - Pro-
Conforme o último Censo Agropecuário, 4,1 milhões das pessoas ocupadas na e indígenas, cujo protagonismo se destaca, também, na grama de Aquisição de Alimentos (PAA); Programa Na-
produção para o auto-consumo: o cultivo das hortas, a cional de Alimentação Escolar (PNAE); o Programa de
agricultura familiar são do sexo feminino criação de pequenos animais, a produção da agroindústria Organização Produtiva de Mulheres Rurais; o Programa
caseira; entre outras. Historicamente, essas mulheres têm Nacional de Documentação das Trabalhadoras Rurais

A
criação da Secretaria Especial de Políticas se reconhecerá o protagonismo das mulheres e dar-se-á garantido a sobrevivência de práticas e conhecimentos (PNDTR), entre outras iniciativas.
para as Mulheres, em 2003, e sua ascensão ao sua inclusão nas políticas, independente da sua condição tradicionais, como o manejo e preservação das sementes No enfrentamento à violência contra as Mulheres:
nível de Ministério, em 2010, como Secreta- civil, efetivando direitos conquistados 14 anos antes. crioulas, entre outras atividades que muito contribuem Programa Mulher, Viver sem Violência, com as 54 uni-
ria de Políticas para as Mulheres (SPM), concretizou o Considerando a importância de uma atuação mais para a segurança e soberania alimentar no país, favorecen- dades móveis de enfrentamento à violência em todo o
compromisso do Estado brasileiro com a institucionali- forte e direta nos assuntos do campo, da floresta e das do a defesa e conservação da agrobiodiversidade. Brasil, e monitoramento dos Fóruns Estaduais; Central
zação das políticas públicas para igualdade entre mulhe- águas, a SPM criou em 2012, uma Assessoria Especial Entretanto, o seu trabalho continua na invisibilidade, Ligue 180, convertido em Disque-denúncia a partir de
res e homens. para tratar da igualdade de gênero nestes segmentos. refletindo, em larga medida, os efeitos da divisão sexual 2014.
O desenvolvimento das ações da Secretaria é relacio- Em relação às mulheres rurais, vários programas do trabalho sobre a vida das mulheres, que acumulam as
nado diretamente com a articulação intragovernamental do Governo Federal têm atuado para o fortalecimento responsabilidades da reprodução e do cuidado (no âmbi- Prêmio Mulheres Rurais que produzem o
e o fomento à participação social. Esses fatores garantem de suas organizações produtivas. A principal conquista to doméstico) e aquelas da produção econômica. Brasil Sustentável
o monitoramento e a avaliação das políticas públicas, a para a promoção da igualdade de gênero e a autonomia Nas últimas décadas, as mulheres do campo e da O Prêmio Mulheres Rurais que Produzem o Brasil
produção de estudos e pesquisas e o fortalecimento dos das mulheres rurais foi dar visibilidade às trabalhadoras floresta ampliaram a sua capacidade de mobilização, Sustentável foi criado com o objetivo de dar visibilida-
instrumentos e canais de diálogo nacionais e internacio- rurais, ao reconhecer a especificidade de sua agenda e incluindo a autonomia entre as suas bandeiras de luta de ao trabalho das mulheres do campo e da floresta, por
nais. Para isto, a SPM utiliza o Plano Nacional de polí- incorporar as suas demandas numa proposta de desen- – a começar pela autonomia econômica, que lhe garan- meio de suas organizações produtivas, no fortalecimen-
ticas para as Mulheres (PNPM) como instrumento pri- volvimento territorial, assumindo, assim, a necessidade ta a renda justa e necessária, bem como a igualdade de to da sustentabilidade econômica, social e ambiental, e
mordial para promoção da igualdade e enfrentamento à de se enfrentar as desigualdades de gênero no meio ru- oportunidades no mundo do trabalho. Nessa perspec- geradoras da segurança e soberania alimentar no país.
discriminação contra as mulheres. ral. Nessa linha, reconheceu-se a permanência das rela- tiva, estão se multiplicando os grupos e organizações Ao colocarmos em foco as experiências bem sucedidas,
No Brasil, o direito das mulheres ao desenvolvimento ções patriarcais no campo e a inexistência de políticas produtivas de mulheres, que buscam nos princípios da contribuímos para ampliar o conhecimento do próprio
rural foi incorporado na agenda pública com a redemo- neutras, adotando-se uma estratégia de superação das Economia Feminista e Solidária, superar dificuldades governo e da sociedade em geral, sobre a realidade vi-
cratização, na década de 1980, em decorrência das lutas desigualdades, por parte do Estado, construindo novos potencializando seus recursos e esforços para o objeti- venciada no dia a dia dessas mulheres que produzem o
das mulheres rurais pela igualdade. O direito igualitário à arranjos institucionais e qualificando as políticas públi- vo comum da conquista de sua autonomia. A Secretaria Brasil sustentável.
terra foi conquistado com inclusão do artigo 189 na Cons- cas a fim de conferir às mulheres rurais visibilidade e re- Nacional de Economia Solidária (SENAES), do Ministé- O Prêmio foi criado em 2012, sendo que nesta edi-
tituição Federal e o acesso a previdência foi garantido no conhecimento como sujeito de direito. rio do Trabalho e Emprego, já cadastrou cerca de 9.400 ção inscreveram-se 517 experiências e 30 organizações
artigo 201. Pela primeira vez, as mulheres foram incluí- Ao longo dos anos, tem-se constatada a presença for- grupos produtivos no meio rural, com participação de foram premiadas. As 30 finalistas receberam um troféu,
das, independente da sua condição civil. A partir de 2003, te e decisiva das mulheres na produção da agricultura mulheres, e 774 grupos exclusivamente de mulheres. e as 10 mais bem pontuadas receberam R$ 20 mil. ◆

274 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 275
PREVIDÊNCIA PREVIDÊNCIA

INSS esclarece sobre aposentadoria


para o trabalhador rural
O
trabalhador rural, o indígena ou pescador ar- De acordo com a assessoria de Comunicação do INSS, invalidez dependerá da avaliação da perícia médica do –– comprovante de recebimento de assistência ou de
tesanal, que exerce sua atividade em regime a segurada especial também tem direito ao salário mater- Instituto Nacional do Seguro Social. acompanhamento de empresa de assistência técnica
de economia familiar, ainda que com o au- nidade. Deverá comprovar o exercício da atividade rural Os documentos de que tratam os itens I, III a VI, VIII e extensão rural;
xílio eventual de terceiros, são segurados da Previdência por, no mínimo, dez meses anteriores à data do parto. e IX devem ser considerados para todos os membros do –– recibo de pagamento de contribuição federativa ou
Social na categoria segurado especial. O trabalhador rural que sofreu acidente de trabalho grupo familiar, para o período que se quer comprovar, confederativa;
Eles têm direito a se aposentar por idade a partir dos e necessita se aposentar pode solicitar o auxílio-doen- mesmo que de forma descontínua, quando corroborados –– registro em processos administrativos ou judiciais,
60 anos, para os homens, e a partir dos 55 anos de idade ça pelo site do INSS ou pela Central 135. O trabalhador com outros que confirmem o vínculo familiar, sendo in- inclusive inquéritos, como testemunha, autor ou réu;
para as mulheres, desde que cumprida a carência exigida. deve comparecer à agência da previdência na data infor- dispensável a entrevista e, se houver dúvidas, deverá ser –– ficha ou registro em livros de casas de saúde, hospi-
A carência exigida de comprovação de 15 anos ou 180 me- mada para ser avaliado pela perícia médica do INSS. A realizada a entrevista com parceiros, confrontantes, em- tais, postos de saúde ou do programa dos agentes co-
ses de trabalho no campo - exercício de atividade rural. transformação de auxílio-doença em aposentadoria por pregados, vizinhos e outros, conforme o caso. munitários de saúde;
Consta no site do INSS que para a aposentadoria por –– carteira de vacinação;
Documentos idade rural, a ausência de documentação em intervalos –– título de propriedade de imóvel rural;
não superiores a três anos não prejudicará o reconheci- –– recibo de compra de implementos ou de insumos
A comprovação do exercício de atividade rural será feita mediante apresentação de um dos seguintes docu- mento do direito, independente de apresentação de de- agrícolas;
mentos: claração do sindicato dos trabalhadores rurais, de sindi- –– comprovante de empréstimo bancário para fins de
cato dos pescadores ou colônia de pescadores. atividade rural;
contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;
No caso de apresentação de Declaração do Sindicato –– ficha de inscrição ou registro sindical ou associativo
declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou Colônia que represente o trabalhador, ou ainda quan- junto ao sindicato de trabalhadores rurais, colônia ou
ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo INSS; do da solicitação de processamento de Justificação Ad- associação de pescadores, produtores ou outras enti-
comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), através do ministrativa, poderão ser apresentados, dentre outros, dades congêneres;
Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) ou qualquer outro documento emitido por esse órgão que os seguintes documentos como início de prova material, –– contribuição social ao sindicato de trabalhadores ru-
indique ser o beneficiário proprietário de imóvel rural ou exercer atividade rural como usufrutuário, possui- desde que neles conste a profissão ou qualquer outro rais, à colônia ou à associação de pescadores, produ-
dor, assentado, parceiro ou meeiro outorgado, comodatário ou arrendatário rural; dado que evidencie o exercício da atividade rurícola e tores rurais ou a outras entidades congêneres;
seja contemporâneo ao fato nele declarado: –– publicação na imprensa ou em informativos de cir-
bloco de notas do produtor rural; –– certidão de casamento civil ou religioso; culação pública;
notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 24 do art. 225 do RPS, emitidas pela empresa adqui- –– certidão de nascimento ou de batismo dos filhos; –– registro em livros de entidades religiosas, quando da
rente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor; –– certidão de tutela ou de curatela; participação em batismo, crisma, casamento ou em
–– procuração; outros sacramentos;
documentos fiscais relativos à entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou
–– título de eleitor ou ficha de cadastro eleitoral; –– registro em documentos de associações de produto-
outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante;
–– certificado de alistamento ou de quitação com o ser- res rurais, comunitárias, recreativas, desportivas ou
comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização viço militar; religiosas;
da produção; –– comprovante de matrícula ou ficha de inscrição em es- –– Declaração Anual de Produtor (DAP), firmada pe-
cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de cola, ata ou boletim escolar do trabalhador ou dos filhos; rante o INCRA;
produção rural; –– ficha de associado em cooperativa; –– título de aforamento;
–– comprovante de participação como beneficiário, em –– declaração de aptidão fornecida pelo Sindicato dos
cópia da declaração do Imposto Territorial Rural (ITR); programas governamentais para a área rural nos es- Trabalhadores Rurais para fins de obtenção de finan-
licença de ocupação ou permissão outorgada pelo INCRA; ou certidão fornecida pela FUNAI, certificando a tados, no Distrito Federal ou nos Municípios; ciamento junto ao Pronaf;
condição do índio como trabalhador rural. –– escritura pública de imóvel; –– cópia de ficha de atendimento médico ou odontológico.

276 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 20145 | 277
ENERGIA ENERGIA

E
m 30 de dezembro de 2014, por meio do De- Acesso ao Programa
creto Nº 8.387, a presidente Dilma Rousseff O morador do meio rural que ainda não tem ener-
prorrogou o programa Luz para Todos até gia elétrica em casa e não fez o pedido da luz, e desde
dezembro de 2018, para levar energia elétrica a 228 mil que se enquadre nos critérios de atendimento do Pro-
famílias do meio rural. grama, deve se dirigir à distribuidora local para cadas-
Até o final do ano passado, foram atendidas pelo tramento. A solicitação será incluída no programa de
programa 3.200.410 famílias, beneficiando cerca de 15,4 obras das distribuidoras e atendida de acordo com as
milhões de pessoas. Os investimentos contratados pelo prioridades estabelecidas no manual de operaciona-
programa desde sua criação superam R$ 22,7 bilhões, lização do Programa e aprovadas pelo Comitê Gestor
sendo R$ 16,8 bilhões do governo federal. Estadual - CGE.
Criado em novembro de 2003, o Programa Luz para
Todos visa a acabar com a exclusão elétrica no país e Prioridades do Luz para Todos
prover acesso à eletricidade, gratuitamente. Durante a O Programa foca o atendimento a:
execução do Programa, foram localizadas outras famí- –– Famílias contempladas no “Plano Brasil Sem Misé-
lias que não recebiam o serviço e o Luz para Todos foi ria” e “Programa Territórios da Cidadania”;
prorrogado, por meio do Decreto nº 7.520/2011, para o –– Comunidades atingidas por barragens de usinas hi-
período de 2011 a 2014. drelétricas;
O Programa é coordenado pelo Ministério de Minas –– Assentamentos rurais;
e Energia, operacionalizado pela Eletrobras e executado –– Escolas públicas, postos de saúde e poços d’água co-
pelas concessionárias de energia elétrica e cooperativas de munitários;
eletrificação rural em parceria com os governos estaduais. –– Comunidades especiais, tais como minorias raciais,
O mapa da exclusão elétrica no país revela que as fa- remanescentes de quilombos, extrativistas, indíge-
mílias sem acesso à energia estão majoritariamente nas nas, etc.
localidades de menor Índice de Desenvolvimento Huma- –– Pessoas domiciliadas em áreas de concessão e per-
no e nas famílias de baixa renda. Cerca de 90% delas têm missão cujo atendimento resulte em elevado impacto
renda inferior a três salários-mínimos. tarifário.
Para por fim a essa realidade o governo definiu
como objetivo que a energia seja um vetor de desen- Formas de Atendimento
volvimento social e econômico dessas comunidades, O Programa contempla o atendimento das demandas
contribuindo para a redução da pobreza e aumento da no meio rural através de uma das três alternativas:
renda familiar. A chegada da energia elétrica facilita a –– Extensão de Rede
integração dos programas sociais do governo federal, –– Sistemas de Geração Descentralizada com Redes Iso-
além do acesso a serviços de saúde, educação, abasteci- ladas

Luz para todos


mento de água e saneamento. –– Sistemas de Geração Individuais ◆

Programa é
prorrogado até 2018
278 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 279
FETRAF tensão Rural), para onde 50% dos seus recursos devem
ser colocados numa perspectiva de desenvolvimento em
projetos para as companheiras mulheres. “Efetivar a pa-
de proteção ao solo, não são desenvolvidas técnicas ade-
quadas de produção ao solo e, ano a ano, aumenta a ero-
são e o assoreamento de rios. Precisamos de um basta!

Federação trabalha para


ridade nas políticas de Ater, assim como oportunizar que Precisamos aproveitar o ano de 2015 para que governo e
as mulheres também tenham acesso as políticas públi- sociedade construam políticas de proteção ao solo atra-
cas. Outro aspecto é desenhar o desenvolvimento rural vés de um uso mais racional. Inclusive, entendemos que,
do Brasil dialogando com as diferentes realidades. Nós associado à proteção do solo, o governo brasileiro pre-
entendemos a importância de termos um plano agrícola cisa desenvolver uma campanha imediata pela redução

regulamentar lei da AF
de desenvolvimento específico para o Semiárido. Nós en- de uso de agrotóxicos e a implementação gradativa de
tendemos que é de fundamental importância um plano técnicas de agroecologia”, enfatiza.
agrícola específico para a região norte dado a diversidade
dessas regiões. Se comparadas com o desenvolvimento Dificuldades
das outras regiões, no que diz respeito a realidade dos As grandes dificuldades encontradas no último pe-
Objetivo é o reconhecimento da categoria profissional do agricultor familiar, bem agricultores familiares, quanto condição de produção , ríodo são justamente as articulações das políticas públi-
acesso ao mercado e assim por diante... Então eu diria cas. “Acredito que obtivemos conquistas importantes, no
como a criação de uma legislação que permita olhar para a questão sindical da AF que as nossas bandeiras para 2015 estão recheadas de entanto elas estão muito deslocadas e não chegam com
grandes temas para serem desenvolvidos. um programa de desenvolvimento rural. Articular me-

A
Fetraf/Brasil (Federação Nacional dos Tra- familiares que são proprietários, têm muita dificuldade lhor essas políticas é de fundamental importância. Em
balhadores e Trabalhadoras na Agricultura ao acesso de políticas públicas em função de não terem Números da agricultura familiar um segundo aspecto, as políticas públicas são desenha-
Familiar) deseja para este ano melhorias nas nenhum documento da terra. Então, tanto a Secretaria Hoje, a agricultura familiar é composta em torno de das na perspectiva de atender a todo território brasileiro.
políticas existentes como: políticas agrícolas, políticas de de Reordenamento Agrário do MDA, quanto à diretoria 4,5 milhões de propriedades. E, de acordo com o coor- Nós temos uma necessidade muito grande. Aquilo que
comercialização e de habitação rural. Todavia, entre as desta área de regularização fundiária dentro do Incra, se- denador geral da Fetraf, Marcos Rochinski, em torno de serve muitas vezes para o Sul como uma política impor-
pautas mais estruturantes, está o trabalho na perspectiva rão demandados para ter um grande programa nacional 40% têm acesso a algum tipo de política pública, seja PAA tante de desenvolvimento é inadequado para a realidade
da regulamentação da lei Nº 11.326 que é a lei da Agri- de regularização fundiária. “Relacionado a isso, estamos (Programa de Aquisição de Alimentos), seja o Programa da região Nordeste ou região Norte. É preciso fazer esses
cultura Familiar. desenvolvendo um projeto de crédito fundiário, porque de compra de alimentação escolar, seja o Pronaf. Outra desenhos regionalizados”, concluiu. ◆
“Isto para, definitivamente, termos uma clareza de entendemos que além da implementação efetiva de pro- situação destacada por ele é que aproximadamente 2,5
como vai se comportar toda essa questão da agricultura gramas desse tipo, que atendem famílias, precisam me- milhões de propriedades tem DAP (Declaração de Ap-
familiar, não só do ponto de vista de reconhecimento de lhorar na atual política com o estabelecimento de novas tidão ao Pronaf). “Isso significa dizer que um conjunto

DIVULGAÇÃO
categoria profissional, mas também de possuirmos uma regras, principalmente no que diz respeito ao teto de fi- expressivo de agricultores familiares ainda está excluído
legislação que nos permita olhar para a questão sindical nanciamento e enquadramento de famílias”, pontua. das políticas públicas existentes. É um número inclusive,
da agricultura familiar. Então, relacionado com a regu- Outra bandeira está relacionada com a permanên- que demonstra a necessidade de readequação destas polí-
lamentação da lei Nº 11.326, uma das bandeiras será re- cia da juventude no campo e a questão da sucessão das ticas. Mas mesmo com todas essas dificuldades, os núme-
solver definitivamente a questão do registro sindical da propriedades rurais. Isso envolve readequação de políti- ros confirmam que a agricultura familiar continua sendo
Fetraf junto ao ministério do trabalho”, pontua o coorde- cas agrícolas até questões relacionadas à comunicação. responsável pela produção de mais de 60% dos alimentos
nador geral da Fetraf, Marcos Rochinski. Acesso à internet, telefonia rural e um modelo de edu- que compõem a cesta básica do povo brasileiro”, diz.
cação que contenha necessidades da agricultura familiar.
Bandeiras da Federação para 2015 Outro aspecto que vamos trabalhar está relacionado com Ano Internacional dos Solos
Além dessa agenda mais estruturante, a bandeira de a implementação das políticas de desenvolvimento base- Para Rochinski, a importância dos solos é fundamen-
luta da Fetraf continua sendo a reforma agrária, não só ados na agroecologia. tal, pois se não existir um solo adequado e corrigido, ob-
no aspecto do melhoramento dos assentamentos existen- Para o coordenador da Fetraf, em 2014 foi lançado viamente a produção agrícola vai ter problemas. “Defen-
tes, mas também com a desapropriação de novas áreas e o Brasil Agroecológico pela presidente Dilma Rousseff e demos junto a FAO, a instituição do Ano Internacional
implementação de novos assentamentos. “Sabemos que até então, poucas ações se efetivaram dentro desta pers- dos Solos, justamente por entender que as ações a serem
hoje, aproximadamente 100 mil famílias estão acampa- pectiva de fortalecimento da agroecologia. “Essa é uma realizadas em 2015 vêm com perspectivas de acender um
das em nosso país e isso precisa ser resolvido”, diz. de nossas bandeiras. A Conferência de Desenvolvimento alerta para a forma como estão sendo usados hoje, em
Outro aspecto está relacionado a um grande progra- Rural aprovou paridade em algumas políticas públicas, um modelo baseado no agroquímico utilizando agro-
ma de regularização fundiária. Mesmo os agricultores como por exemplo, a Ater (Assistência Técnica de Ex- tóxicos de forma indiscriminada. Não existem políticas Coordenador geral da Fetraf, Marcos Rochinski

280 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 281
TOMAZ SILVA / AGÊNCIA BRASIL
BIODIESEL BIODIESEL

O
Ceará está entre os cinco maiores produtores dará o tom no Nordeste, devido a questão ambiental que
de peixe do país. O potencial de pesca no Es- ela resolve. “Chamamos a atenção para que o próprio go-
tado proporcionará, a partir deste ano, uma verno incentive, no semiárido, toda a política de biodiesel
atividade pioneira no Brasil, porém não no mundo: a pro- que foi montada em cima da mamona. Continuamos com
dução de biodiesel através da extração do óleo das vísceras ela, mas agora o governo precisaria olhar com mais clare-
de peixe. A ideia surgiu com o intuito de diminuir o passivo za para esta nova matéria-prima que surgiu,” sugere.
ambiental, causado pelo descarte da carcaça, muitas vezes, O presidente da Associação dos Produtores do Curu-
em locais inapropriados, além de assegurar renda aos aqui- pati Peixe, Hernesto da Silva Goés, explica que no grupo
cultores. O governo do Estado vinha buscando uma saída atuam 41 piscicultores e que o contrato com a Petrobras
sustentável, ambiental e economicamente viável para o trará oportunidade de aumentar a renda e proteger o
aproveitamento de vísceras oriundas da atividade piscícola. meio ambiente. “Antes nós jogávamos o óleo no meio
Segundo avaliação da Secretaria de Pesca e Aqui- ambiente, por isso este contrato é gratificante,” afirma.
cultura do Ceará, a piscicultura cresceu e, consequente- Ele conta ainda que o óleo já começou a ser revendido,
mente, a quantidade de vísceras também teve seu cres- mas que ainda estão aguardando a instalação do maqui-
cimento, elevando o risco ambiental caso não haja uma nário que proporcionará facilidade ao processo.
maneira correta de descarte, ou de aproveitamento das
vísceras. A ocorrência de descarte nos reservatórios, ou Parceria
de enterrar em suas margens, além promover a poluição Em dezembro de 2013, a Petrobras Biocombustível e a
nos recursos hídricos e ao meio ambiente, atrai porcos e Secretaria da Pesca do Ceará assinaram um convênio para
outros animais como o urubu, dificultando o controle de garantir assistência técnica aos piscicultores que atuam

Ceará
possíveis vetores de risco ambiental. nos açudes do Castanhão e Orós. Na mesma ocasião foi
Uma parceria entre a Secretaria da Pesca, Aquicul- firmado o primeiro contrato de compra e venda de Óleos
tura e Agricultura Irrigada do Ceará, com o Núcleo de e Gorduras Residuais (OGR) de peixe com a Cooperativa

Óleo de peixe
Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), a Petrobras Bio- dos Produtores do Curupati Peixe que expandirá as alter-
combustível e a Cooperativa dos Produtores do Curupati nativas de matérias-primas para o biodiesel produzido
Peixe deu início ao projeto. O Nutec foi um dos respon- pela companhia no Ceará. Esse primeiro contrato envolve
sáveis pelo desenvolvimento do equipamento que dará piscicultores que criam tilápias no açude Castanhão.
uma destinação adequada aos resíduos gerados pela Isso ainda fortalecerá a cadeia produtiva do pescado
atividade da piscicultura no beneficiamento da “Tilápia com novos produtos resultantes da extração do óleo. Ou
do Nilo”, um pescado cultivado em tanques, presente nos seja, um potencial passivo ambiental vai virar matéria-

vira biodiesel
principais açudes do Estado do Ceará. -prima para produção de biodiesel, adubo, ração animal
O gerente setorial de produção agrícola da Petrobras e geração de biogás.
Semiárido Norte, Paulo Roberto Moreira Dias, afirma que A máquina está em processo de transferência de tec-
o projeto tem três aspectos relevantes, alinhados com o nologia para a fabricação em escala. O investimento ini-
programa destinado a produção de biodiesel. “O Plano cial foi de R$ 226 mil, sendo R$ 113 mil, do governo do
Nacional de Produção do Biodiesel diz que o negócio tem Estado do Ceará e uma contrapartida do mesmo valor do
que ser rentável, tem que ter um aspecto ambiental forte Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
e, ele ainda traz uma novidade, que é provocar a inclusão A introdução do óleo de peixe na cadeia produtiva do
social e o aumento de renda em algumas categorias. Diria biodiesel é uma parceria da Petrobras Biocombustível,
Transformação do subproduto em óleo proporcionará maior renda aos que de longe, esta é a matéria-prima que mais incorpo- do Ministério da Pesca e Aquicultura, da Secretaria de
pescadores, além da diminuição do passivo ambiental ra os princípios do programa de produção do biodiesel,” Pesca e Aquicultura do Estado do Ceará, da Fundação
explica. Moreira Dias acrescenta que esta matéria-prima Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), do

282 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 283
BIODIESEL BIODIESEL

Núcleo Tecnológico da Universidade Federal do Ceará, diesel com matéria-prima de qualidade, além de a inicia- será adicionado ao Óleo Diesel, e atende às normas vi-
do Banco do Nordeste, do Banco do Brasil, do Departa- tiva estar alinhada ao Programa Nacional de Produção gentes no país que determina a adição de 7% de Bio-
mento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) e das e Uso do Biodiesel, condição necessária para garantir diesel em sua composição para a comercialização nos
prefeituras de Jaguaribara e de Orós. o Selo Combustível Social do Ministério do Desenvol- postos de combustíveis.
vimento Agrário. Já para os piscicultores, gera valor de A capacidade nominal da usina de Quixadá é de
Usina de Biodiesel de Quixadá mercado para um subproduto, o que proporciona renda 106 mil m³/ano. O potencial de produção no Estado é
A participação da Petrobras iniciou como incentiva- extra. Ao mesmo tempo, fortalece a cadeia produtiva do de 1.500 toneladas de óleo. No entanto, a meta inicial,
dora do processo, realizando análises complementares pescado, transformando um possível passivo ambiental considerada ambiciosa por Moreira Dias é de atingir 410
de maneira que norteasse os parâmetros da qualidade do em matéria-prima. toneladas. “Este número significa menos de um terço da
óleo a ser produzido. Selo Combustível Social capacidade, pois é necessário um período de adaptação
A Petrobras Biocombustível irá adquirir a produção Por adquirir matéria-prima diretamente da agricultu- devido a geografia, já que as regiões são grandes, o que
do óleo para processamento na Usina de Biodiesel de ra familiar ou de suas cooperativas, a Petrobras recebeu o demanda uma logística eficiente,” justifica.
Quixadá. A iniciativa está alinhada às diretrizes do Pro- Selo Combustível Social. De acordo com o gerente setorial O engenheiro de pesca, Osvaldo Segundo Filho, coor-
grama Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. O apro- de produção agrícola da Petrobras Semiárido Norte, Paulo denador de Registro e Controle da Secretaria da Pesca e
veitamento desta matéria-prima residual do pescado vai Roberto Moreira Dias, para isso é necessário adquirir 30% Aquicultura do Ceará, explica que a ideia é aproveitar ao
contribuir para geração de renda para os piscicultores de todo valor da matéria-prima desta categoria. máximo possível as vísceras produzidas decorrentes da
artesanais organizados. produção de piscicultura nos açudes Castanhão e Orós.
Em nota, a estatal informou que a produção do bio- Óleo de soja x de peixe Ele acrescenta que já estiveram reunidos com o Mi-
diesel a partir desta matéria-prima vai beneficiar inicial- Segundo Paulo Roberto Moreira Dias a inserção do nistério da Pesca e Aquicultura no sentido de debater so-
mente 300 piscicultores familiares e garantir a compra de óleo de peixe na cadeia produtiva não gerou qualquer bre o uso das vísceras de outras espécies de peixe, como
15 toneladas de resíduos e gorduras de peixe, por mês, de tipo de problema na unidade. Ele explica que não existe o tambaqui e a carpa. “O peixe de cultivo apresenta nor-
piscicultores cearenses. um óleo considerado melhor que o outro para biodiesel, malmente um teor de gordura nas vísceras mais eviden-
A produção será feita pela Petrobras Biocombustíveis mas que juntos eles se completam. “A soja é o melhor te, maior que o natural. No habitat natural, o peixe tem A equipe técnica da Secretaria ainda ministrou cur-
na Usina de Quixadá, no Ceará, a partir do óleo extraí- óleo para se usar, mas sozinho apresenta problemas. O que ‘ralar’ atrás do alimento, enquanto que o que está sos de capacitação em Boas Práticas de Fabricação do
do de vísceras de peixe, conhecido como OGR (óleos e que vimos foi que a junção confere características me- em cativeiro não precisa se desgastar tanto,” pontua. Ele Pescado, beneficiando 60 pessoas.
gorduras residuais) de peixe. A companhia recebeu, em lhores. O óleo de peixe está em pé de igualdade com adianta ainda que pesquisas serão realizadas no país, no
dezembro de 2014, 4,55 toneladas do produto para pro- qualquer outro tipo utilizado, como de soja, algodão e intuito de incluir outras espécies nas atividades, a fim de Faturamento
dução de biodiesel. sebo bovino,” diz. expandir ainda a produção em outros Estados. Para contextualização da importância e magnitu-
Segundo informações da estatal, o volume é resulta- Algumas usinas de biodiesel foram construídas especi- de destas ações, além do que corresponde a propiciar a
do do primeiro contrato de compra firmado com a Co- ficamente para o trabalho com apenas um tipo de matéria- Incentivo oferta de alimentos saudáveis para a população, toman-
operativa, em Jaguaribara, região centro-sul do Estado, -prima, diferentemente da unidade da Petrobras em Qui- Em dezembro foram firmados contratos comerciais do-se por base que 10% do peso bruto do pescado resulta
em dezembro de 2014. Na ocasião, também foi assinado xadá que já foi preparada para atuar com a diversidade. entre a Petrobras e 10 piscicultores da Cooperativa de em vísceras, e 50% deste total pode ser transformado em
convênio com a Secretaria da Pesca do Ceará para assis- “No nosso caso específico, misturamos o óleo de pei- Produtores do Curupati Peixe. Também foi formalizado óleo, significa que, considerando que o Estado produz
tência técnica aos piscicultores dos açudes do Castanhão xe ao sebo bovino,” informa. convênio visando assistência técnica aos piscicultores. atualmente cerca de 30 mil toneladas/ano de tilápia cul-
e de Orós. A assessoria de imprensa da Secretaria informa que tivada, cerca de 1.500 toneladas/ano de óleo já poderiam
As informações indicam ainda que, até o fim do ano, Capacidade de produção já foram encaminhados para procedimento licitatório estar sendo utilizados pela Usina de Biodiesel da Petro-
o projeto poderá alcançar metade dos 600 piscicultores Atualmente o Ceará produz aproximadamente seis Unidades de Higienização Básica que serão insta- bras no Estado, gerando uma receita aos produtores su-
familiares que trabalham nos dois maiores açudes da 166.667 toneladas de pescado/ano. Estima-se que uma ladas nos açudes do Castanhão e Orós. “O que também perior a cifra de R$ 2 milhões/ano.
região: o Castanhão, que tem áreas produtivas nos mu- faixa de 50 à 70% da massa total das vísceras pode ser deverá contribuir para o desenvolvimento harmônico Também como exemplo, considerando que a Coope-
nicípios de Jaguaribara, Jaguaretama e Alto Santo; e o convertida em óleo de peixe. Nas condições atuais é entre as atividades produtivas e ao meio ambiente, pro- rativa dos Produtores do Curupati Peixe produziu desde
Orós, nos municípios de Orós e Quixelô, ambos na bacia possível uma produção mensal de óleo de peixe de 1 piciando também a concentração de pontos de extração 2004, início de suas atividades, cerca de 5.350.000 kg de
hidrográfica do Rio Jaguaribe. milhão de litros/ano, podendo atingir 10 milhões de li- e coleta de vísceras, importante para o processo de ge- tilápia, quantitativo esse que gerou cerca de 535 mil kg
Na avaliação da Petrobras, o uso do óleo extraído das tros/ano se considerado o potencial de mercado dessa ração de óleo de boa qualidade. As seis Unidades im- de vísceras, poderia ter gerado 266 mil litros de óleo e
vísceras do pescado na produção de biodiesel traz vanta- atividade no Estado. O óleo produzido, uma vez sendo portarão em cerca de R$ 1 milhão ao tesouro estadual,” arrecadado cerca de R$ 400 mil, nas mesmas condições
gens a ambas as partes. Para a companhia, assegura bio- fornecido às Indústrias Produtoras de Biocombustíveis consta na nota. estabelecidas nos contratos. ◆

284 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 285
HABITAÇÃO RURAL HABITAÇÃO RURAL

PNHR
Agricultores familiares são o público
predominante do programa
Segundo o Ministério das Cidades, o valor previsto no Projeto de Lei
Orçamentária para 2015 é de R$ 1,3 bilhão

O
Programa Nacional de Habitação Rural tores, aquicultores, maricultores, piscicultores, além de
(PNHR) é uma modalidade do programa Mi- outras comunidades tradicionais.
nha Casa Minha Vida destinado à produção e Entre os anos de 2009 a 2014, o programa contratou
reforma de novas unidades habitacionais para agriculto- 166,7 mil unidades habitacionais com investimento de
res familiares e trabalhadores rurais. R$ 3,8 bilhões.
Os agricultores familiares são o público predominan- Segundo o Ministério das Cidades, o valor previsto no
te, organizados em associações de produtores ou sindica- Projeto de Lei Orçamentária para 2015 é de R$ 1,3 bilhão.
tos rurais e em menor proporção organizados pelo poder Entre as metas estipuladas para os próximos anos,
público local. está a implantação da terceira fase do Programa Minha
O PNHR garante subsídio financeiro para agriculto- Casa, Minha Vida, com o objetivo de financiar três mi-
res familiares e trabalhadores rurais, que podem receber lhões de unidades habitacionais, mas segundo informa-
até R$ 28,5 mil para construção dos imóveis e R$ 17,2 ções do Ministério das Cidades, ainda não foi estabeleci-
mil para reforma. O beneficiário paga 1% de contraparti- da a meta por modalidade.
da ao ano, durante quatro anos. O restante é subsídio do De acordo com o Ministério das Cidades, a região
governo federal. mais dinâmica é a Sul, com inúmeras associações e coo-
O programa se divide em três grupos, de acordo com perativas e vasta experiência na produção habitacional e
a faixa de renda anual. Pessoas físicas, agricultores fami- na condução de empreendimentos habitacionais rurais.
liares e trabalhadores rurais, com renda familiar bruta Porém, a região Nordeste que, a princípio, tinha uma
anual de até R$ 15 mil fazem parte do Grupo 1. Os com contratação lenta, vem respondendo bem e conta hoje
renda entre R$ 15 e R$ 30 mil ao ano, se enquadram no com grande quantidade de propostas em análise nos
Grupo 2 e aqueles com renda anual entre R$ 30 e R$ 60 agentes financeiros para contratação de novas habitações
mil fazem parte do Grupo 3. nessa região. ◆
O objetivo do Programa é levar moradia digna aos
trabalhadores e agricultores rurais, incluindo nesse Região Déficit Rural 2010
grupo as comunidades tradicionais que tiram seu sus- Centro Oeste 54.549
tento de atividades primárias no campo, nas florestas, Nordeste 579.333
rios e mares. Norte 237.717
Podem acessar o PNHR, trabalhadores rurais, agri- Sudeste 97.9‑25
cultores familiares, comunidades quilombolas, povos Sul 85.639
indígenas, extrativistas, pescadores artesanais, silvicul- Total 1.055.163

286 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 287
HABITAÇÃO RURAL HABITAÇÃO RURAL

aos agricultores familiares, trabalhadores rurais e comu- bitacionais e foram entregues às famílias outras 36.433
nidades tradicionais e permite a construção de uma casa unidades que haviam sido contratadas anteriormente.

Lar digno a quem ajudou


nova ou a conclusão/reforma e/ou ampliação da moradia Destaca-se que a política pública de habitação rural
já existente na área rural. atendeu majoritariamente as famílias de menor faixa de
As famílias são organizadas por uma entidade orga- renda, ou seja, o Grupo I. Das 146.170 famílias atendidas
nizadora que compreende cooperativas, associações, sin- pelo programa, 97,81% têm renda bruta anual familiar

a construir o país
dicatos sem fins lucrativos ou Poder Público, podendo de até R$ 15 mil.
ser enquadrados em três grupos de acordo com a faixa Quadro com os valores repassados pela CAIXA, no
de renda: âmbito do PNHR, para subsidiar ou financiar a constru-
Grupo I: famílias com renda bruta anual de até R$ ção ou reforma da moradia.
15.000,00;
REGIÃO VALORES (R$)
Grupo II: famílias com renda bruta anual de R$
Em 2014, foram contratadas pela CAIXA, no âmbito do PNHR, a construção/ 15.000,01 a R$ 30.000,00; Centro-Oeste Total 27.211.210

reforma de 32.296 unidades habitacionais Grupo III: famílias com renda bruta anual de R$ Nordeste Total
Norte Total
527.305.236
124.237.937
30.000,01 a R$ 60.000,00.

A
Sudeste Total 75.448.400
Caixa Econômica Federal (CEF) oferece duas quadram nas regras do PNHR, como FGTS Rural - Resi- As famílias enquadradas no Grupo I recebem o sub-
Sul Total 157.743.408
linhas de crédito habitacional para constru- dencial e SBPE Rural – Residencial. sídio de R$ 28.500,00 para construção e R$ 17.200,00
CAIXA Total 911.946.191
ção ou reforma da moradia na área rural: O Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) para reforma da moradia. Para a construção ou reforma
uma está atrelada ao Programa Minha Casa Minha Vida, foi criado pelo governo federal, no âmbito do Programa das casas na região Norte o subsídio é ampliado para R$
que é o Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR); Minha Casa Minha Vida, com o objetivo de viabilizar o 30.500,00 e R$ 18.400,00, respectivamente. As metas de contratação para o ano de 2015 ainda
e a outra voltada aos demais interessados que não se en- acesso à moradia digna no campo. O programa atende Para esta faixa de renda não há constituição de fi- estão em fase de definição pelo governo federal.
nanciamento. A CEF repassa o subsídio, de acordo com Até o momento foi contratada a construção ou refor-
DEPOIS o andamento da obra, a uma Comissão de Representan- ma de 146.170 unidades habitacionais no PNHR, sendo
tes eleita pelo grupo de beneficiários e as famílias devem 35,70% na região Nordeste.
devolver à União apenas 4% do valor recebido em quatro
CONTRATAÇÕES MCMV RURAL 2009-2015
parcelas anuais sem juros.
REGIÃO UH
Para os Grupos II e III a CEF oferece financiamento
Centro-Oeste 5.107
com recursos do FGTS para a construção ou reforma de
Nordeste 52.176
moradia. Os beneficiários do Grupo II recebem, adicio-
Norte 18.564
nalmente, o subsídio de R$ 7.610,00 do FGTS para com-
Sudeste 21.108
plementar o valor necessário para edificação da casa.
Sul 49.215
Nos empreendimentos formados por beneficiários
Total Geral 146.170
do Grupo I ou II a entidade organizadora recebe do OGU
o valor de R$ 1.000,00 por família beneficiada para o
desenvolvimento das atividades de assistência técnica e O estado que mais contratou foi o Rio Grande do Sul,
trabalho social. com 23.256 de unidades habitacionais.
Para os interessados que não se enquadram nas re- O programa de habitação rural veio para atender
ANTES
gras do PNHR, a CEF dispõe de duas modalidades de a demanda antiga por uma política de habitação que
financiamento individual para construção ou reforma da olhasse as especificidades do campo. A meta, inicial-
casa na área rural, uma com recursos do FGTS e outra mente definida para produção de 60 mil unidades até
com recursos do SBPE. 2014, foi cumprida em 2012, momento em que foi do-
Essas linhas de financiamento atendem a todas as ca- brada para 120 mil unidades, acrescida de mais 70 mil
tegorias profissionais que desejam construir ou reformar para atender os beneficiários do Programa Nacional de
a casa própria na área rural. Reforma Agrária.
Em 2014, foram contratadas pela CAIXA, no âmbito Em 2014, apenas o Agente Financeiro CAIXA bene-
Casa de Zeferino Olivio Fortuna
do PNHR, a construção/reforma de 32.296 unidades ha- ficiou mais de 140 mil famílias, sendo que o Banco do

288 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 289
HABITAÇÃO RURAL HABITAÇÃO RURAL

Brasil também opera o Programa. A CAIXA tem uma O sucesso do PNHR devido a dificuldades. Depois de 17 anos, retornaram com “Há muito tempo estava planejando construir uma casa
grande demanda de propostas que foram recepcionadas, No interior de Sarandi/RS, Leduvino, 86 e Tereza as filhas Camila, 16 e Bianca, 9, a morar no interior. Gra- nova, mas não tínhamos condições,” revela.
mas que dependem de definição de metas e critérios de Gonçalves, 87 anos planejavam reformar a casa, mas ças ao programa de habitação rural conseguiram ter a casa Agora com uma nova residência, Leonora afirma que
enquadramento para análise e contratação. através do projeto conseguiram construir uma casa para própria. “Voltamos para o interior, porque a gente se criou deseja iniciar uma nova história de vida dentro do novo
O fortalecimento da política de habitação rural possi- eles e outra para o filho, que reside em uma granja no aqui. Hoje estamos muito felizes, pois graças a esse projeto lar e que agora vai conseguir dormir tranquila. Além disso,
bilita o acesso à moradia digna, fato que contribui para a município de Carazinho. “A mulher não pode mais tra- temos uma casinha nova pra morar, bem fechadinha, no irá receber as visitas, vizinhos e parentes com mais alegria.
manutenção das famílias no campo, principalmente mais balhar, eu ainda trabalho um pouquinho. Para sair do in- inverno é muito bom. Acho que todo mundo gosta de ter “O programa Minha Casa Minha Vida é importan-
jovens. Possibilita também o acesso a outras políticas pú- terior é difícil e agora com a casa nova e o filho perto de um lar, bem confortável,” conta da família Gonçalves. te e deve continuar para os pequenos agricultores, por
blicas, tais como o programa de cisternas, programas de novo, não tenho do que reclamar,” diz. Depois da casa de madeira, situada no interior de que eu consegui e tem muitos que não conseguiram
assistência social, educação, linhas de crédito, etc. Outro casal de Sarandi, João Carlos, 46 e Ângela Gon- Santo Expedito do Sul/RS, ficar praticamente inabitável, ainda,” conclui. ◆
Além disso, o programa prevê que a Entidade Or- çalves, 38, saíram do interior para residir na área central Zeferino, 72 e Rosalina Fortuna, 74 conseguiram fazer o
ganizadora dos grupos das famílias com renda bruta financiamento para construir uma nova casa. “Ficamos
ANTES
anual familiar de até R$ 30 mil reais apresente projeto ANTES uns 30 anos com a outra casa de madeira que apodre-
para a execução de atividades de trabalho social, que ceu. Fomos escorando com cepos que não podíamos
abrangem temas tais como: Organização comunitária; tirar porque a casa caía. No fim, quando fizemos essa
geração de trabalho e renda; educação patrimonial; nova, desmanchamos a outra, ela tinha 18 cepos, todos
educação sanitária e ambiental e planejamento e gestão podres,” explicou Zeferino. “Graças a Deus, estamos con-
do orçamento familiar. tentes, porque foi uma ajuda pra nós,” finaliza Rosalina.
A política de habitação rural também contribui para Leonora Balz, 87 anos, de Marcelino Ramos/RS,
a geração de emprego na construção civil, incremento do conta que a antiga casa foi construída em 1957 e, que
comércio local de material de construção, com sustenta- ali tinha uma história de vida. No entanto, a casa já lhe
bilidade e conservação ambiental. trazia preocupações, pois não oferecia mais segurança.
Ledurino e Tereza Gonçalves

DEPOIS

DEPOIS

Leonora Balz

290 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 291
CRÉDITO RURAL CRÉDITO RURAL

O Banco do Nordeste e
a Agricultura Familiar
O
Banco do Nordeste, detentor da maior cartei-
ra de crédito de Pronaf na Região, destaca-se
como parceiro do governo federal no comba- Além disso, reconhecendo que o crédito é apenas
te à pobreza em sua área de atuação. É no meio rural que uma das ações para fortalecimento da agricultura fami-
esses resultados vêm se destacando cada vez mais nos liar, o Agroamigo atua em sinergia com outros progra-
cenários nacional e internacional. mas do governo federal.
Por meio do Programa Nacional de Fortalecimento Nesse sentido, o Agroamigo integra o Plano Brasil
da Agricultura Familiar (Pronaf), somente em 2014, o Sem Miséria, prestando atendimento às famílias benefi-
BNB contratou mais de R$ 2 bilhões, finalizando o ano ciárias do Bolsa Família, contribuindo para redução das
com 1,58 milhão de clientes ativos e um saldo de carteira desigualdades sociais, apoiando emancipação e autono-
ativa de R$ 7,1 bilhões. mia feminina e também, atende os agricultores e agricul-
Em 2015, o Banco do Nordeste está comemoran- toras integrantes do Programa de Fomento à Produção e
do dez anos do programa de microcrédito rural Agro- à Estruturação Produtiva.
amigo. Premiado diversas vezes, o Agroamigo é hoje o Em dez anos de atuação, o Agroamigo já realizou
maior programa de microcrédito rural da América do mais de 2,7 milhões de operações de crédito e investiu
Sul e principal responsável pela boa aplicação do Pro- volume de recursos no total de R$ 6,2 bilhões, aplicados
naf. Os resultados dessas ações já foram objeto de estudo no financiamento de atividades produtivas, ajudando a
de renomadas Instituições de Pesquisa do País, como a levar alimento à mesa da população nordestina.
Universidade de São Paulo que constatou melhorias de Em função dos bons resultados, o Banco do Nordeste
produtividade nos empreendimentos de clientes mais implantou o Agroamigo Mais, que atende aos clientes em
antigos no programa em relação aos recém-ingressos. projetos de financiamento de até R$ 15 mil.
O financiamento por meio do Agroamigo permite o A missão do Banco do Nordeste é “atuar na promo-
aumento da renda familiar no campo, a manutenção e a ção do desenvolvimento regional sustentável, como Ban-
criação de novas oportunidades de trabalho, bem como co Público competitivo e rentável”, estando o Agroamigo
a melhoria da qualidade de vida. e o Pronaf aderente a essa missão, através de suas ações
É importante citar também que o Banco do Nordeste, voltadas para o crescimento da agricultura familiar. ◆
oferece a oportunidade de inclusão financeira aos agri-
cultores e agricultoras, disponibilizando conta-corrente Perfil do Programa
e cartão de débito. Hoje, já são mais de 80% dos clientes Qtde de Assessor de Microcrédito 919
da Carteira do Agroamigo com acesso a conta-corrente e Clientes Bancarizados (Percentual de clientes com conta 85,1%
corrente)
cartão de débito.
Clientes Mulheres (Qtde Operações com mulheres) 490.558
O perfil de distribuição da carteira do Agroamigo por
Bolsa Família (Qtde Clientes beneficiários do Programa Bolsa 575.073
gênero registra um percentual de 47% de mulheres, qua- Familia)
dro que se mostra homogêneo, com financiamentos no- Clientes Ativos (Qtde Clientes na posição 31/12/2014) 940.265
tadamente na exploração de atividades não agrícolas no Carteira Ativas (Saldo da carteira na posição 31/12/2014 R$ 2,7
meio rural, promovendo a equidade de gênero e a socia- Bilhão)
lização do poder também com as agricultoras familiares. Meta de Contratação para 2015 (R$ Bilhão) 1,8

292 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 293
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

BULLDOG / MDA
Cooperativismo
294 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 295
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

De mãos dadas com


o cooperativismo Márcio Lopes de Freitas, Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

A
agricultura familiar é, sem dúvida, um seg- uma transação comercial. Elas são legítimas balizadoras INTER-RELAÇÃO – Atualmente no Brasil, o Sistema
mento estratégico ao desenvolvimento do de preços em mercados concorrenciais, com precificação OCB conta com aproximadamente 6,8 mil cooperativas,
país. Segundo informações do Ministério do razoável e justa, uma vez que visam atender aos anseios 11,5 milhões de cooperados, gerando 338 mil empregos.
ALEXANDRE ALVES

Desenvolvimento Agrário (MDA), ela representa 84,4% dos produtores cooperados, donos do negócio. Isso evi- Responsáveis por significativa participação na produção
do total dos 5,17 milhões de estabelecimentos rurais e dencia os diferenciais competitivos da prática cooperati- agropecuária do Brasil, as 1.592 cooperativas agropecu-
produz 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. vista, de fortalecimento pela união. árias mostram cada vez mais a importância e força que
Responde, ainda, por 38% da renda agropecuária e em- Como associado, o pequeno agricultor tem acesso, têm na economia, com mais de 164 mil empregos dire-
prega aproximadamente 75% da mão de obra do campo. ainda, a outros tipos de serviços, como recepção, classi- tos gerados e com movimentação financeira acima de R$
Vale destacar o crescimento do valor bruto da produção ficação, padronização, armazenamento, beneficiamen- 100 bilhões em 2013, ou seja, aproximadamente 12% do
em R$ 54 bilhões. to, industrialização e comercialização da produção. PIB do agronegócio.
Apesar dos avanços tecnológicos e das políticas foca- Sobre esse ponto, vale mencionar a atual capacidade O cruzamento das bases de dados do Ministério do
das na agricultura familiar, suas atividades ainda estão estática de armazenagem do Brasil, que chega aos 143 Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Organização das
fortemente sujeitas a riscos e à necessidade de condições milhões de toneladas. Deste total, cerca de 20% estão Cooperativas Brasileiras (OCB), em 2012, sinalizou que
especiais para acesso ao crédito rural e assistência téc- concentrados nas cooperativas agropecuárias, ou seja, do total de famílias de agricultores familiares organiza-
nica especializada. De fato, a atividade agrícola enfrenta 30 milhões de toneladas. dos em cooperativas, 76% estão registradas no Sistema
um nível de incerteza mais significativo do que outras Destaque também para o papel que as cooperativas OCB. Corroborando esta relevante informação, cerca
atividades econômicas. têm exercido na transferência e difusão de tecnologias de 72% das propriedades agrícolas vinculadas às coo-
Visando mitiga-las, boa parte dos agricultores fa- adequadas às necessidades do homem do campo, com perativas do Sistema OCB são de agricultores familia-
miliares buscam se organizar por meio de cooperativas mais de 6 mil técnicos, dentre engenheiros agrônomos, res, de até 50 ha.
agropecuárias, visando oportunidades de inserção no veterinários, zootecnistas, engenheiros florestais e técni- Todos os números expostos acima evidenciam a im-
mercado, geração de economia de escala e de ganhos de cos agrícolas, que prestam serviços de atendimentos aos portância de a agricultura familiar caminhar de mãos
eficiência. Em muitas localidades, representam uma das cooperados com foco no mercado, na difusão e transfe- dadas com o cooperativismo para, desta forma, apro-
poucas possibilidades de agregação de valor à produção rência de tecnologias e sustentabilidade. veitar as oportunidades que se abrem para o Brasil no
rural, bem como da inserção de pequenos produtores em Tais modelos bem sucedidos permitiram às coopera- cenário mundial, considerando nossa capacidade de pro-
mercados concentrados. tivas realizar diversas parcerias, convênios ou contratos dução de alimentos.
DIFERENCIAIS – Por seu maior poder de negociação com instituições renomadas a exemplo da Embrapa, Ins- Juntos, o movimento cooperativista e a agricultura
na aquisição de insumos e fornecimento aos cooperados, titutos Agronômicos e Universidades Federais, Estaduais familiar darão sua importante contribuição para que o
Márcio Lopes de Freitas as cooperativas conseguem reduzir bastante os custos de ou particulares. Brasil se torne cada vez mais forte e próspero. ◆

296 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 297
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

A importância para os produtores familiares Sustentabilidade como cooperativa: socialmente jus-


A cooperativa, como forma associativa, cumpre um ta, ecologicamente correta e economicamente viável.
papel social altamente relevante na comunidade onde Transparência: ética e responsabilidade nas ações.
está inserida, no município de Garibaldi e região onde Comunidade: participação e envolvimento.
atua, que abrange 12 municípios. São 370 produtores Agroecologia: estímulo à produção orgânica.
associados que tem na uva sua principal atividade eco- Saúde: bem estar e satisfação das pessoas.
nômica. Ou seja, a sobrevivência e continuidade dessas História: preservação da memória, com respeito e
famílias de associados no campo está diretamente ligada valorização.
à cooperativa que se encarrega de receber, processar e Inovação: modernidade e prospecção de mercado.
comercializar a produção de uvas dos associados, sem- Pessoas: valorização, respeito e comprometimento
pre buscando a maior agregação e valor possível para com o desenvolvimento sustentável.
possibilitar melhor remuneração à produção.
A cooperativa é responsável por produzir derivados Por que a Cooperativa Garibaldi é sustentável?
de uva como vinhos, espumantes e principalmente su- Socialmente justa
cos, que participam da mesa do brasileiro, contribuindo Associação de 370 pequenos produtores
para uma alimentação saudável e nutritiva. Geração de mais de 150 empregos diretos
Prestação de atendimento técnico aos cooperados
A Cooperativa Geração de tributos –3ª maior empresa em Garibaldi
Número de associados: 370 Participação na comunidade
Área cultivada de videiras: 900 hectares
Número de funcionários: 154 Ecologicamente correta
Área construída: 32.000 m² Destinação de resíduos
Recebimento de uvas: 19 milhões Kg (2015) ETE própria e regulamentada
Capacidade de processamento: 20 milhões Kg Reaproveitamento da água tratada

Vinícola Garibaldi
Números de Marcas e Portfólio: 12 marcas e 70 itens Resíduos da uva destinados a empresa licenciada
em linha
2004 a 2009 – R$ 6.500.000,00 investidos em auto-
claves, filtro tangencial, linha de envase, sistema de frio

CASSIUS FANTI
2010 – R$ 6.500.000,00 para planta/equipamentos

80 anos de história
para suco de uva, dessulfitador
2011 – R$ 1.500.000,00 utilizados com caldeira à gás,
autoclaves, caminhões, paletizadora e BPF.
2012 – R$ 1.800.000,00 para rotuladora, linha de en-
vase, veículos e reformas.
2013 – R$ 1.700.000,00 utilizado para prensa, desen-
São 370 produtores associados que tem na uva sua principal atividade econômica gaçadeiras, empilhadeiras, tapador rotativo, cave.
2014 – R$ 2.000.000,00 para incentivo ao turismo,

A
história da Cooperativa Vinícola Garibaldi pírito cooperativista sempre foram as pessoas, persona- tanques e maquinários
é a própria história dos seus 365 associados, gens principais da construção deste ideal e desta marca. De acordo com a Cooperativa os investimentos fu-
desde sua fundação há 83 anos. Em toda sua Christopher Lee disse que “as pessoas fazem a história, turos para 2015, 2016 e 2017 estão em R$ 10 milhões e
trajetória esta marca ficou latente, embora pudesse pas- mas raramente se dão conta do que estão fazendo”. serão usados em linha de engarrafamento, cantina e re-
sar despercebida. Mas é certo que a organização só ul- Hoje a Cooperativa apresenta um tradicional e mo- cebimento de uva.
trapassou os 80 anos pela coragem, dedicação e perseve- derno conceito dentro do tema sustentabilidade, produ-
rança das famílias que a integraram durante este tempo. zindo o melhor com respeito ao ecossistema e alinhado Valores
A uva e seus derivados sempre estiveram no foco com a demanda de consumo, o que resultou em centenas Cooperação: integração e colaboração entre associa-
central das atenções da Cooperativa. Mas o foco do es- de premiações a seus produtos no Brasil e no mundo. dos e cooperativas. Oscar Ló

298 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 299
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

EVOLUÇÃO DAS SAFRAS NA COOPERATIVA

REPRESENTATIVIDADE SOBRE O FATURAMENTO / FAMÍLIAS DE PRODUTOS –SHARE

Gás natural –1ª vinícola do país


FATURAMENTO (EM MILHÕES)
Energia elétrica de fontes renováveis (Mercado Livre)
Produção orgânica – pioneirismo (desde 2001)
Linha de garrafas ecológicas
Filtração tangencial

Economicamente viável
Crescimento – faturamento, participação de mercado
Investimentos em tecnologia e desenvolvimento
Geração de resultados – agregação de valor e distri-
buição de sobras ao associado

Recebimento de 15,7 mi de Kg de uva, o que significa


3% a mais que 2013.
Produzimos e vendemos 14% a mais de produtos =
1.350 x 1.550 mil caixas
Crescemos 19,39% o faturamento
Geramos mais impostos = 3ª empresa de Garibaldi
que mais gera tributos
Crescemos em quadro de funcionários 16% = de 133
para 154 ◆

300 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 301
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

Cooperativa Piá
Assistência técnica garante
produtos de qualidade
Objetivo é apoiar e dar informações ao agricultor associado, conquistando, dessa
forma, a sua fidelidade, o crescimento profissional e a viabilização da propriedade

O
diretor-presidente da Cooperativa Piá, Gil- sociativas, governamentais e não governamentais, preci-
berto Kny, afirma que mais de 4 milhões de sam dar instrumentos de capacitação e levar tecnologias,
famílias brasileiras são de agricultores fami- para que além de acreditar no negócio, ele seja viável
liares. Calcula que se o núcleo familiar é composto de economicamente,” explica.
três a quatro pessoas, temos então entre 13 a 14 milhões
de brasileiros ligados ao setor. Segundo ele, no Rio Gran- Cooperativismo
de do Sul, este número deve chegar a 500 mil famílias. Com 47 anos de história, a Cooperativa Piá está pre-
Para Gilberto, o número que talvez mais impressiona sente em 85 municípios do Rio Grande do Sul. Para o
é o de que 70% dos alimentos que chegam a mesa dos diretor-presidente, o cooperativismo talvez seja um dos
brasileiros são oriundos da agricultura familiar, sendo sistemas organizacionais que mais tem envolvido pro-
que a área ocupada não chega a 30% dos hectares. Con- dutores familiares no seu quadro societário. “Nós, da
forme Kny, importantes cadeias produtivas são coman- Cooperativa Piá, temos 3 mil produtores de leite, destes
dadas por agricultores familiares: suinocultura, avicul- 97% são agricultores familiares, sendo que 90% do vo-
tura, setor leiteiro, fruticultura e de hortaliças. lume do leite que recebemos é oriundo destas famílias,”
aponta. De acordo com Gilberto, a premissa é o reco-
Tecnologia nhecimento de que é necessário viabilizar a sociedade
Gilberto Kny afirma que no passado a tecnologia familiar.
não estava disponível para a agricultura familiar como Na fruticultura são 500 famílias e, quase 100% delas
hoje. “Nos últimos anos, o acesso a tecnologia e a uma de pequenos produtores rurais.
gestão organizada, tem propiciado melhorias na quali-
dade de vida, nos índices de produtividade e na renta- Cooperativa oferece assistência técnica
bilidade,” afirma. Composta por uma equipe de 16 veterinários, 46 in-
Acredita ainda que a sustentabilidade está mais pró- seminadores e três técnicos, a unidade de apoio tem a
xima nas propriedades de pequenos agricultores do que função de dar suporte ao produtor, auxiliando na área
em muitos grandes empreendimentos. Por isso, diz que médica veterinária zootécnica e no fomento à produção
cada vez mais é importante incentivar o processo suces- e qualidade do leite.
sório na família. O objetivo da assistência técnica é apoiar ativamente
“Se quisermos acreditar e apostar no futuro em mé- e dar informações ao produtor associado do leite, con-
dio e longo prazo temos que acreditar nos jovens. Para quistando, dessa forma, a sua fidelidade, o crescimento
isso algumas coisas são elementares: se o jovem está em profissional do produtor e a viabilização da propriedade.
uma família ele tem que acreditar no negócio em que ela Anualmente, ela promove três seminários com pales-
atua. Acreditando nisso, as organizações sindicais ou as- tras de alta qualidade, com temas de interesse, e organiza

302 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 303
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

mentos veterinários; transferem informações técnicas Através dele, a empresa oferece suporte e atendimen-
para a equipe do balcão das agropecuárias e auxiliam na to aos agricultores desse segmento, auxiliando em diver-

DIVULGAÇÃO
orientação técnica ao associado nos casos de aquisição sos momentos do processo de pré e pós-plantio.
de equipamentos para ordenha e maquinários em geral. O objetivo da assistência técnica na fruticultura é apoiar
Sanidade animal ativamente e repassar informações aos produtores associa-
Promove a educação sanitária dos rebanhos, junto dos, criando condições melhores para o seu negócio.
aos associados, e orienta sobre as vacinações obrigató- Entre as atividades da unidade está a implantação de
rias. Também realiza o Programa Nacional de Controle novos pomares. Para isso, é desenvolvido um projeto que
de Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). especifica a maneira adequada de fazer o plantio do tipo
Qualidade do leite escolhido, quais os espaçamentos corretos entre as plan-
O projeto Qualidade do Leite tem o objetivo de au- tas e as linhas para facilitar os tratamentos fitossanitários
xiliar o produtor a produzir leite de altíssima qualidade necessários durante o processo de produção e posterior-
dentro das normas do MAPA, através do uso de tecnolo- mente a colheita, bem como a programação de recebi-
gias e informações, com o intuito de otimizar a utilização mento das frutas pela indústria, analisando os volumes
da mão de obra, equipamentos e instalações, potencial que podem ser entregues por cada produtor.
genético dos animais e potencial produtivo da terra para A assistência técnica também é responsável por ações
a produção de leite. como a “Coleta e Análise de Solo”, com avaliação e reco-
Fomento mendações para correção quando necessário, e as “Po-
A Cooperativa Piá oferece cursos em parceira da das das Árvores Frutíferas”, orientando tratos culturais
Rehagro, onde o produtor no intervalo entre os módulos e manejo com o objetivo de melhorar a qualidade das
Gilberto Kny recebe a visita de sete veterinários, que realizam o levan- frutas que serão enviadas para a Cooperativa Piá e, por
tamentos de dados e relatórios, apoio a controles de não consequência, ampliar a remuneração do produtor.
feiras regionais, como a de animais e tecnologias para o conformidades, fomento a tecnificação das propriedades Além disso, a unidade promove o “Posicionamen-
produtor do leite que integra o Rural Show. e também a produção. to de Produtos Fitossanitários”, que visa uma melhor
A assistência técnica da Cooperativa Piá também rea- Atendimento aos produtores associados ação no controle das doenças e pragas nas frutíferas, e
liza dias de campo regionalizados, visitas técnicas aos pro- São realizados atendimentos aos produtores associa- o “Posicionamento de Variedades Frutíferas”, que avalia
dutores, excursões a feiras e eventos do setor, além de par- dos nas lojas AgroPiá, nas sedes da Assistência Técnica aquelas que possuem maior rendimento e qualidade,
ticipar de conselhos de agricultura e programas de rádio. ou no interior. O objetivo é elucidar as dúvidas ou enca- bem como as que melhor se adaptam as condições cli- Encontros antes das safras
minhar as demandas à Cooperativa Piá. máticas da região onde serão plantadas, considerando São realizados encontros com os produtores para
Serviços de assistência técnica Política de pagamento do leite os microclimas. transmitir informações sobre as linhas de coleta e os ho-
Clínica A Política de Pagamento de Leite (PPL) da Coopera- rários em que elas devem ser feitas; o procedimento de
A Clínica oferece, 24 horas por dia, durante todos os tiva Piá foi elaborada pela diretoria para ser a mais justa Serviços de assistência técnica para frutas recebimento das frutas; os valores para safra e os pontos
dias do ano, os serviços de clínica geral, reprodução, obs- possível. Independente de valores, a PPL da Cooperativa Programas de mudas de figo que devem ser melhorados na colheita para se obter um
tetrícia, sanidade, cirurgia e profilaxia para o associado visa permitir que as famílias que produzem o leite para a Para incentivar o plantio de figo são distribuídas rendimento melhor na indústria.
produtor do leite. O atendimento é realizado por 13 pro- Piá possam sobreviver e evoluir na atividade. mudas aos produtores. A Cooperativa tem programa de
fissionais, conforme solicitação do associado. Dentro dessa perspectiva foram unificadas várias incentivo aos produtores, na formação dos pomares e fi- Cooperativismo
Zootecnia faixas de produção, conforme o volume. O que permitiu nanciamento, conforme a necessidade de matéria-prima, A definição oficial do cooperativismo é simples: a co-
Oferece acompanhamento e avaliação zootecnia line- que pequenos produtores também recebessem um valor e assistência técnica. O técnico de fomento e a assistência laboração e a associação de pessoas ou grupos com os
ar nas propriedades através do trabalho de um médico adequado e justo pelo litro de leite. técnica fazem acompanhamentos nas propriedades. mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em
veterinário. Possui catálogo de touros próprio, com 100% Outro item de fundamental importância na PPL é o pa- suas atividades econômicas. Mas na verdade, o coope-
dos animais provados com padrão mínimo de parâme- gamento pela qualidade. Que segue a IN 62, e vem cada vez Encontros técnicos rativismo é muito mais do que isso. Ele é uma grande
tros. Realiza o fomento e registro genealógicos das raças mais crescendo a participação do total a ser pago pelo litro. Em parceria com a Emater/RS são realizados dia de alternativa econômica e social.
holandês e jersey. Frutas campo com os produtores. Nestes eventos, são ensinadas Nascido formalmente em 1844, na Inglaterra, tem
Participação nas agropecuárias Agropiá A Cooperativa Piá oferece aos seus produtores asso- técnicas novas aos produtores, além de realizadas análi- como objetivo o progresso social de seus membros pela
Os profissionais da assistência técnica fazem a es- ciados de frutas o serviço de Assistência e Fomento na ses das dificuldades, com retorno de qual a melhor ma- exploração de uma empresa através da cooperação, auxí-
colha e padronização na linha de produtos e medica- área de fruticultura. neira de sanar os problemas. lio mútuo e soma de esforços.

304 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 305
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

O cooperativismo tem como base os sete princípios está a serviço de seus associados produtores, possibili- seus associados e colaboradores. Além disso, promove o como principal objetivo impulsionar o desenvolvimento
de Rochdale, que são: adesão voluntária e livre; gestão tando que seus produtos sejam industrializados e comer- desenvolvimento nas comunidades onde atua e leva até dos produtores rurais para torná-los mais competitivos,
democrática; participação econômica dos membros; au- cializados com a sua marca – gerando renda, resultados clientes e consumidores produtos saudáveis e com segu- transformando-os em verdadeiros empresários rurais.
tonomia e independência; educação, formação e infor- e agregando valor. rança alimentar. Com essa meta, desde a sua criação, a Piá vem in-
mação; intercooperação e interesse pela comunidade. Através do cooperativismo, a Piá consegue remune- vestindo na capacitação e na profissionalização de seus
No Brasil, ele surgiu em dezembro de 1902 com uma rar o quadro social de forma mais adequada, dentro das Histórico produtores associados, para obter matéria-prima de ex-
cooperativa de crédito fundada pelo Padre Theodor condições do mercado, dando a segurança de que os pro- Fundada em 29 de outubro de 1967, na cidade gaú- trema qualidade. Acompanha e dá suporte à produção
Amstad e pela união dos moradores de Nova Petrópolis, dutos tenham garantias comerciais e promovendo, por cha de Nova Petrópolis, a Cooperativa Agropecuária desde a origem até a finalização e a promoção de seus
no Rio Grande do Sul. Por ter sido a primeira da América fim, a melhoria da qualidade de vida dos associados. Petrópolis Piá nasceu movida pelo espírito de união de produtos – que levam a marca Piá, expressão tipica-
Latina, em 2010 a cidade gaúcha recebeu o título de “Ca- Para a Cooperativa Piá, o cooperativismo é uma seus integrantes. mente gaúcha que, associada a imagem de um “guri”
pital Nacional do Cooperativismo”. grande empresa social que precisa ser gerida de forma Uma parceria estabelecida com o governo alemão, bem nutrido e cheio de saúde, foi escolhida como sím-
Hoje, Nova Petrópolis possui nove importantes coo- eficiente, competente e eficaz para se tornar competitiva que identificou a oportunidade de investimento na re- bolo por representar os atributos dos itens que chegam
perativas, dentre elas a Piá. Desde 1967, a Cooperativa no mercado onde atua e possibilitar a melhoria social de gião, contribuiu para a viabilização do projeto, tendo até o consumidor.
Ao longo dos anos, a Cooperativa foi crescendo e as
linhas de produtos foram ampliadas. Hoje, além da uni-
dade de processamento de leite e da unidade de proces-
samento de frutas, a Piá conta ainda com duas fábricas
de rações, dois centros de distribuição, dois postos de re-
cebimento de leite e uma rede de supermercados e agro-
pecuárias com 17 lojas.
Aprimorando sua produção, a Piá tem investido em
inovação e tecnologia e disponibilizado aos seus produto-
res associados uma qualificada equipe de apoio, formada
por técnicos em agropecuária e fruticultura, veterinários
e especialistas em inseminação. Além disso, prima pelo
desenvolvimento de seus funcionários, apoiando-os na
busca do conhecimento através da capacitação pessoal
e profissional.
Essas iniciativas e o amplo comprometimento de to-
dos os envolvidos no projeto garantem a qualidade dos
produtos que chegam ao mercado.
A meta da Cooperativa Piá é manter o ciclo de ino-
vação, com constantes lançamentos, e conquistar novos
mercados, sendo reconhecida como modelo nacional de
sucesso do sistema cooperativo e de principal incentiva-
dora do associativismo na comunidade.
Atualmente, sua área de atuação atinge 85 mu-
nicípios, e a distribuição dos produtos concentra-se
basicamente nos três estados do Sul e em regiões de
São Paulo. ◆

306 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 307
REPRODUÇÃO SITE
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

gerando receita anual de R$ 12 milhões. A polpa de Polpa de Frutas


frutas é comercializada para a merenda escolar, através O processamento das polpas é feito em uma unida-
dos programas de governo, e a borracha para as fábri- de especializada, localizada em Rio Branco. As polpas
cas de pneus. processadas são de: açaí, cajá, maracujá, goiaba, acerola,
O presidente-fundador da Cooperacre, Manuel José cupuaçu, manga e graviola.
da Silva, explica que a central envolve agricultores fami- Objetivos
liares e extrativistas. Segundo o site, os objetivos da Cooperativa consis-
A Cooperacre orienta o processo de qualidade da tem na viabilização do sistema de cooperativismo em
produção da castanha, que começa na coleta, dentro da rede; além de permitir o acesso direto aos mercados
mata – onde se evita colher os frutos que tenham caído mais promissores. Para isso, é preciso melhorar o nível
no chão ou tido contato direto com animais silvestres. tecnológico da produção em toda a rede de associados,
Cuidado também repassado à armazenagem e à distri- modernizando os modelos de gestão e de administra-
buição da produção. ção das cooperativas e associações. Valorizar a floresta
com atividades extrativistas de baixo impacto ambien-
Castanha-do-Brasil tal, buscando alternativas de uso dos recursos naturais
De acordo com o site da cooperativa, a Coopera- que respeitem valores éticos e ambientais, promovendo
cre triplicou sua capacidade de compra da castanha o exercício da florestania, também é o intuito.
em comparação a 2008, assim como sua capacidade
de armazenamento e beneficiamento, que também foi Ações
ampliada. Através das Boas Práticas durante o pro- Garantia de compra da produção do cooperado;
cessamento da castanha, a Cooperacre está evitando a Apoio à implantação de armazéns comunitários e in-
aflatoxina - fungo que contamina a castanha - atingin- dividuais para produtores de castanha, do óleo de copaí-
do reduções significativas nos níveis de contaminação. ba, da borracha e polpa de frutas;
Recentemente, iniciou a comercialização de amêndoas Capacitação de produtores de castanha em Boas Prá-
em embalagens fracionadas de 500g. Conta com quatro ticas de produção para melhoria e manutenção da quali-

Cooperacre
unidades produtivas, sendo duas de beneficiamento de dade deste produto;
castanha, uma para o pré-processamento e uma agroin- Apoio no desenvolvimento da cadeia produtiva da
dústria de polpa de frutas. Dessa forma, gera mais de borracha com a operacionalização do subsídio estadual
150 empregos diretos e aproximadamente 2 mil indi- para este produto;

Cooperativa permite acesso


retos, contribuindo assim, na geração de renda para as Produção de Folha Defumada Liquida para mercados
famílias envolvidas. finos, Cernambi Virgem Prensado Latex usado para a fa-
bricação de preservativos, agregando valor ao produto e

direto aos mercados


Óleo de copaíba beneficiando o produtor;
O óleo de copaíba é retirado de forma manejada e Capacitação de diretores e produtores em gestão as-
de acordo com as Boas Práticas com o uso de kits para sociativista e cooperativista e de negócios;
extração, fornecido pelos parceiros da Cooperacre, que Apoio na logística de escoamento da produção e da
Com mais de 30 associações, espalhadas em 10 municípios, a Cooperacre atende atuam na viabilização do processo produtivo. Através de busca pela melhoria na infraestrutura nas comunidades;
uma parceria com a Fundação de Tecnologia do Estado Implantação do sistema contábil em toda a rede para
1.800 famílias do Acre, é feita uma análise de qualidade do óleo, que prestação de contas transparente.
determinará se ele está dentro dos padrões para comer-

A
Cooperativa Central de Comercialização Ex- Cooperacre atua com castanha-do-Brasil, polpa de fru- cialização no mercado. Projetos em andamento
trativista do Acre (Cooperacre), com sede em tas, óleo de copaíba e extração de borracha. De acordo com informações do site da cooperativa,
Rio Branco, congrega 30 cooperativas e asso- A Cooperativa produz 800 toneladas de castanha Borracha alguns projetos estão em andamento visando à melhoria
ciações espalhadas em mais de 10 municípios do estado e por ano. As frutas são distribuídas a 15 estados e tam- A borracha é adquirida diretamente do produtor dos processos produtivos, a integração dos cooperados e
atende mais de 1.800 famílias extrativistas nas regionais bém estão sendo comercializadas, assim como as cas- através das cooperativas e associações em pontos espe- a aceitação de produtos no mercado nacional e interna-
do Alto Acre, Baixo Acre e Purus. Fundada em 2001, a tanhas, por uma rede internacional de supermercados, cíficos estabelecidos pela Cooperacre. cional com um bom valor agregado. Neste sentido, a Co-

308 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 309
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

operacre vem desenvolvendo projetos dentro dos mais Tecnologia Industrial: implantação de novos maqui- ao galpão central para serem armazenadas. O transporte gueiro onde é feita uma operação de pré-beneficiamento,
modernos padrões de qualidade: nários nas indústrias de processamento de polpa de fru- do produto é feito em caminhões limpos, lonados e ex- com a colocação deste látex em uma caixa de madeira ou
Certificação da Castanha-do-Brasil: implantada a tas e beneficiamento da Castanha-do-Brasil. clusivos para a castanha. em uma bandeja plástica. Depois disso, é adicionado o
rastreabilidade e o cadastramento das famílias; localiza- O que são as Boas Práticas? O método para a coleta do óleo de copaíba é a utili- ácido para que ocorra a coagulação.
ção das árvores produtoras; Boas Práticas desde a coleta, De acordo com informações do site da cooperativa, zação de um trado. Este equipamento permite um maior As Boas Práticas para as polpas de frutas, processa-
armazenamento, até a castanha embalada. Boas Práticas são um conjunto de cuidados e critérios aproveitamento do produto causando menos impacto à das consistem em adotar medidas de higiene em todas
A consolidação da certificação possibilitará uma me- recomendados em relação ao manejo de produtos agro- árvore. Para o manejo do óleo, alguns procedimentos de- as fases do processamento na indústria, evitando a con-
lhor e maior aceitação dos produtos florestais no merca- florestais, visando preservar suas qualidades evitando vem ser adotados, pois a retirada da floresta precisa ser taminação do produto, garantindo assim sua qualidade.◆
do internacional. contaminações. A Cooperacre e seus parceiros atuam feita de maneira sustentável, evitando sua extinção.
na difusão das Boas Práticas entre os associados visando O ciclo de coleta para o manejo do óleo de copaíba é
Comercialização de polpa de frutas. melhorar cada vez mais a qualidade e o rendimento. de três anos, tempo mínimo de retorno à área para uma

REPRODUÇÃO SITE
Apoio ao desenvolvimento da cadeia produtiva do óleo A Castanha-do-Brasil requer o uso de Boas Práticas nova coleta.
de copaíba e obtenção da certificação através do mapea- de manejo na floresta e na usina para evitar a contami- A coleta da borracha inicia com a preparação que
mento das árvores, controle da produção e Boas Práticas. nação por aflatoxina. Para isso, é necessário fazer a coleta consiste na abertura de estradas de acesso às árvores que
Organização social: cadastramento das famílias e dos ouriços do chão o quanto antes, evitando o contato serão exploradas. No processo de coleta é preciso fazer
colocações. A regularização do quadro social é feito com a terra. Depois da quebra é preciso fazer a primeira a incisão da árvore com um utensílio chamado “faca de
em cada comunidade associada à Cooperacre gerando seleção, retirando as castanhas chochas, mofadas ou as seringa”. Depois, faz-se o embutimento da tigela na parte
uma carteira e ficha de sócio, tudo vinculado a uma que foram feridas na hora da quebra do ouriço. O pro- inferior do corte, com aplicação de anticoagulante.
central, possibilitando a contabilidade específica em cesso segue com a secagem das castanhas em um paiol, Uma colheita diária oscila entre 10 e 20 litros para
cada associação e comunidade. Busca de recursos onde ficarão até serem levadas ao galpão de armazena- uma estrada de mais ou menos 120 árvores. O látex líqui-
para projetos em cada comunidade. mento. Depois de secas, as castanhas devem ser levadas do coletado, no balde, é transportado até a casa do serin-

REPRODUÇÃO SITE
COOPERATIVISMO BRASILEIRO

6.827
Cooperativas

338 mil
Empregados

11,5 milhões
Cooperados
Cerca de
US$ 6 BILHÕES
em exportações

Geração de renda e
O cooperativismo é o modelo de negócios focado no desenvolvimento inclusão social aos
econômico e social das pessoas. A Organização das Cooperativas cooperados e empregados
Brasileiras (OCB) é a entidade representativa desse movimento, e atua
há 45 anos em diversas frentes com o objetivo de promover um ambiente Base dez/2013

favorável para o crescimento das cooperativas.

310 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 311
sicredi.com.br
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

NOSSA

AGRI CULTURA
É COOPERAR COM O
CRESCIMENTO DO BRASIL.

SAC Sicredi - 0800 724 7220 / Deficientes Auditivos ou de Fala - 0800 724 0525. Ouvidoria Sicredi - 0800 646 2519.
Incentivo para a
propriedade familiar
Sicredi promove o desenvolvimento local e estimula a continuidade dos negócios

O
rlando Wobeto é associado do Sicredi há, demarcação, adubação, rodízio no pastoreio e roçada.
aproximadamente, 40 anos. Na sua pro- Os animais bem alimentados e tratados triplicam a
priedade, planta soja, trigo e milho, além média diária de leite, usando um espaço físico menor.
de criar suínos. Em 2014, Wobeto retomou a produ- Mais de 60 famílias que vivem da produção leiteira já
ção de leite por iniciativa do neto Eduardo, que deci- foram beneficiadas.
diu permanecer na lavoura e incentivou a participa- “O Sicredi nos apoiou com um técnico para reco-
ção da família no Programa de Incentivo a Atividade meçar com a produção de leite e em quatro meses já Sicrediagro
Leiteira, promovido pelo Sicredi na região de Três de estávamos com o recurso do Pronaf. Compramos os
Maio, no Rio Grande do Sul. Com o apoio técnico do animais, construímos a sala de ordenha, de espera e ali-
engenheiro agrônomo Eloy Luft, os agricultores locais mentação e também o resfriador. A sobra com a venda
podem participar do sistema que está revolucionando do produto, reinvestimos na lavoura”, afirma Orlando
a cadeia leiteira. A técnica é simples e se baseia na Wobeto, que mantém a família unida no campo. ◆
Cooperar com o crescimento da agricultura familiar brasileira é reconhecer a sua
312 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuárioestá
importância para milhares de famílias, de Norte a Sul no País. Por isso, o Sicredi Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 313
ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo diferentes soluções
financeiras para quem colabora com o desenvolvimento de todo o nosso Brasil.
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

Muito bem, esse valor está instalado como um poten- São 3 mil cooperativas com 160 mil empregados; 3 agri-
cial de valor na mente do típico cidadão urbano do país. cultores em cada 4 são cooperativados. Representam 40%
Enxerga na agricultura familiar as mãos de pessoas tra- de todo setor agroalimentar francês e possuem uma marca
balhando, protegendo a natureza, plantando com amor, de produtos no consumo final para cada 3 marcas de produ-

Agricultura familiar e
criando com carinho os alimentos saudáveis de que to- tos. A visão das cooperativas numa das mais avançadas so-
dos sabem precisar, para si e seus filhos, e além disso ciedades agrícolas do mundo, fica clara, e se expressa como:
contribuindo para a vida no interior do país, na maior uma cooperativa é uma empresa criada por agricultores,
segurança, e num até retorno ao campo, de muitos nas que são os seus proprietários, dirigentes e fornecedores.

cooperativismo, uma
superpopulosas megacidades brasileiras. Se individualmente produtores rurais pouco ou nada
O desafio está em como transformar essa percepção conseguem, somente por meio do cooperativismo po-
ascensional positiva instalada no subconsciente do brasi- dem ter chances competitivas num mundo e num agro-
leiro em realidade factível? O agronegócio contemporâneo negócio em brutal mudança e “disruption”. Sem tecnolo-

fórmula de sucesso digno


significa a soma de todas as atividades efetivadas ao longo gia não fazemos agropecuária. Estudos da Embrapa, por
de suas cadeias produtivas, do antes, dentro e pós-porteira exemplo, apontam que 40% dos atuais pecuaristas não
das fazendas. Dessa forma, jogando no lixo qualquer moti- estarão no futuro. Distantes da tecnologia, da produtivi-
vação ideológica associando o conhecimento da gestão do dade, da gestão, da compreensão das cadeias do agrone-
Onde existe uma cooperativa bem sucedida existe dignidade de vida agribusiness como coisa de grandes produtores e empre- gócio e, consequentemente das modernas demandas de
sas, versus o pequeno não devendo se “misturar com isso”, sustentabilidade e valores humanistas na produção.
José Luiz Tejon Megido - Mestre em Educação, Arte e Cultura; Doutorando em Ciências da Educação o que os fatos são revelados por regiões e circunstâncias Quando entramos numa cooperativa bem sucedida, o
(Universidad deLa Empresa) onde o progresso se instala com maior qualidade de vida, e que significa liderada por seres humanos de valor e forte
participação nos resultados econômicos, comparados com caráter de integridade, vemos sistemas de gestão, indicado-

N
as pesquisas que temos realizado, pelo Nú- cas excelentes, inspiracionais, e cheias de cargas positivas locais onde isso não ocorre. res e métricas de produção e de qualidade de produção, re-
cleo de Estudos do Agronegócio da ESPM na formação e educação da cidadania brasileira. Digo, mais do que agronegócio, são áreas onde con- sultados econômicos e financeiros relevantes e observamos
(Escola Superior de Propaganda e Marketing seguimos criar agrossociedades. Nesses lugares vamos sobras retornando aos próprios cooperados, como numa
de São Paulo), a marca mais querida e bem vista de todo encontrar educação, tecnologia, conhecimento de ges- outra corporação teríamos o retorno aos seus acionistas,
agronegócio no Brasil é exatamente: agricultura fami- tão, organização para comprar e para vender, construção após o lucro contabilizado. Mas o que mais me impressiona
liar. Realizamos estudos com a população das grandes de marcas, saúde, liderança para negociar com todos os nesses ambientes que vencem o tempo, superam as incerte-
cidades brasileiras, perguntando: O que percebem sobre agentes públicos e privados envolvidos e uma orquestra- zas, nessas cooperativas exemplares está na sua pedagogia.
agronegócio, produtores rurais e a importância desse se- ção cooperativa. Existe educação, acima de tudo, de construção de valores.
tor para o país? Dentre vários levantamentos efetivados Escrevo este artigo da França, onde estou dando aulas Quando visito uma cooperativa tenho a sensação de
nos últimos 4 anos, os brasileiros urbanos atribuem aos num MBA de gestão de agribusiness e alimentos. Em vi- estar entrando numa academia, onde se misturam o tra-
agricultores uma alta importância nas suas vidas, ao lado sita ao Salão Internacional de Agricultura de Paris, encon- balho apaixonado com conhecimento elevado e valores,
de médicos, professores, bombeiros e policiais. Também tramos um super show da agricultura francesa, e do valor visão e missão ascensionais humanos. Ao chegar numa
afirmam ser os agricultores exemplos de trabalho, de pe- dos seus agricultores e de suas famílias. Na França, 86% cidade onde existe uma cooperativa bem liderada, sinto
gar para fazer, de gente que sabe. dos franceses consideram o agricultor um herói nacional, efeitos civilizatórios e de qualidade de vida no entorno
E agricultura familiar, uma expressão com o mais e suas cooperativas são as mais fortes instituições e repre- da mesma. Parece que o posto de gasolina trabalha me-
alto nível de valor estimativo, na percepção dessa grande sentação pública desse valor. Não se trata mais de apenas lhor, as escolas, os hospitais, a limpeza pública, a saúde,
massa populacional urbana do país. Portanto, se eu fosse saber e dizer que o cooperativismo representa a única fór- o comércio, tudo fica melhor. E, sim, fácil de entender. Os
o Presidente da República do Brasil, não teria a menor mula para agricultores progredirem e terem direito a usu- valores educacionais cooperativistas inflamam e impac-
dúvida em valorizar os agricultores e usar essa capacida- fruírem das riquezas que geram. Agora, as cooperativas tam não apenas cooperados, suas famílias, funcionários
de empreendedora, de enfrentamento de riscos e de amor agropecuárias da França saem ao mercado, se dirigem a e seus fornecedores e membros, mas assim como toda a
ao trabalho que de fato representam. E, adicionalmente, população toda do país competindo com as grandes mar- sociedade do entorno. Ou seja, agrossociedade.
estimular essa visão produtiva, ética e de competência de cas privadas, posicionando “La cooperation agricole, une A cada dia que passa, mais considero como o coope-
trabalho e empreendedorismo, para todo cidadão brasi- solution pour mieux consommer” (a cooperação agrícola rativismo a única forma exequível de irmos ao futuro do
leiro. Ou seja, agricultor e agricultura familiar, duas mar- José Luiz Tejon Megido
uma solução para consumir melhor). planeta terra com chances de vitória. Qual vitória? A do

314 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 315
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

humanismo consciente e superante versus as forças exclu- Ao olharmos o futuro, com 4 nascimentos por segun- O cooperativismo ensina superação acima de tudo, cadeia produtiva, como vai significar trabalho, sustenta-
dentes. O que emociona de forma sensacional dentro do do, e irmos para mais de 9 bilhões de vidas na terra, ao e significa para a agricultura familiar de todos os portes bilidade, e qualidade de vida para bilhões de pessoas.
cooperativismo, na sua essência, representa sua luta contra mesmo tempo, e plenos de vontades, sonhos, demandas, (grandes fazendeiros também precisam de cooperativas) O montante do faturamento de todo agronegócio
abandonar pessoas. A lei da natureza, a lei de Pareto, onde exigências, angústias, ilusões, uma vital batalha será tamanhos e regiões do país, a única fórmula factível, viável e mundial está na casa dos US$ 15 trilhões. A coorde-
os famosos 20% dos agentes resultam em 80% dos efeitos travada: a do empreendedorismo criativo, de um capita- com uma estratégia de potencial de grande êxito. No agribu- nação das suas cadeias produtivas passou a ser o fator
versus 80% gerando apenas 20%, e modernamente com a lismo consciente, de ingredientes da sintropia, as forças siness temos no mundo cerca de 1.3 bilhões de produtores diferencial de um dirigente, ou de um governante. E o
veloz transformação gerencial e tecnológica, falamos não criadoras, versus o caos e a entropia, que só se conserta rurais, ao todo. E, no máximo, 500 grandes corporações es- cooperativismo e as cooperativas a forma fundamental
mais de 20%, mas sim de 11% (Daniel Goleman, inteligên- pela dialética, mas exatamente por isso, criando dores, tudando, investindo e gerando a moderna tecnologia do an- pela qual a agricultura familiar deve criar e fortalecer a
cia emocional) que criam 90% da riqueza, ficando 89% dos sofrimentos e profundos distúrbios na saúde mental, e tes da porteira das fazendas, significando 80% do impacto sua marca, transformá-la em produtos e valores, e usu-
demais envolvidos distantes dos resultados e da sua eficácia, da vida no planeta. transformacional gerado em sementes, máquinas, robótica, fruir do seu justo e merecido respeito. Associações de
portanto, teoricamente excluídos; no cooperativismo ocorre O cooperativismo consciente e saudável representa a genética e inovações como algas em nutrição animal, etc. produtores, por originação, região, produto, da mesma
uma veemente luta contra essa realidade histórica. única forma viva de evitar uma das piores contradições Por outro lado, lá na frente, depois das porteiras das forma representam inegáveis organizações, para ao lado
Ou seja, dado um ambiente educativo, com difusão humanas, geralmente conduzidas por pessoas bem in- fazendas, vamos encontrar cerca de mil grandes corpo- de suas cooperativas construirmos um mundo melhor.
de conhecimentos, com debates de resultados, com a tencionadas, mas equivocadas. Se trata do assistencialis- rações também definindo a moda, os lançamentos de Admiro e respeito as cooperativas brasileiras que supe-
análise de realidades competitivas, com um enfrenta- mo. Devemos assistir e salvar um ser humano sim, num produtos, as novas formas de vendas, desde o Ali Babá ram o tempo e que se orgulham de se apresentar para a
mento dos obstáculos, estratégias de agregação de valor, momento crítico, decisivo, vital. Mas criar uma falsa bo- chinês até o porta a porta da Natura ou as franquias da sociedade revelando os seus associados, seus cooperados.
segmentação, inovações, pode ser oferecido a uma base lha ilusória de proteção, afastando-o da necessária com- Cacau Show, e as redes de fast food e supermercados. Elas existem e são muitas, refletem valores humanos e com-
muito maior de seres humanos, chances de, pelo menos, preensão do viver e dos seus embates, representa manter Também aí contamos cerca dos mesmos 80% dos pode- petências de seus líderes. Como profissional e professor de
mesmo não sendo os campeões olímpicos da produtivi- uma águia em cárcere desde o ninho e um dia achar que rosos impactos comprimindo e espremendo cada uma administração, com ênfase em marketing, posso assegurar:
dade, estarem participando e evoluindo em razoáveis e ela poderá voar e sobreviver por sua conta. Ou como diz das cadeias produtivas do agronegócio. Ou seja, o miolo agricultura familiar e cooperativismo, uma fórmula de su-
boas condições para o que a vida nos exige. a Bíblia, jamais dar o peixe, sempre ensinar a pescar. do sistema complexo do agribusiness é imenso, populoso, cesso digno. E peço: Presidenta Dilma, receba e converse
desconexo, mas significará cada vez mais o fator crítico com o setor cooperativista, pelo menos neste seu segundo
de não apenas para qualquer organização dentro dessa mandato. Um ato de inteligência e sabedoria de líder. ◆

RÔMULO SERPA / MDA

ASCOM MDA
316 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 317
COOPERATIVISMO COOPERATIVISMO

Apontamentos sobre o
agronegócio em 2015 Mário Lanznaster, Presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos

A
sociedade brasileira não conhece a impor- manecer indiferente ao avanço da corrupção que choca o insumos - e as operações financeiras terão encargos mais produção na proporção inversa de altos e baixos ganhos).
tância do agronegócio para a economia e Brasil e o Mundo. Deverá apoiar rigorosas investigações pesados, com juros mais altos e menor oferta de crédito. Essa situação levou a metade dos frigoríficos brasileiros a
para a vida cotidiana do cidadão, asseguran- e a punição exemplar que a lei prescreve. Pena que as políticas governamentais não contemplam a pedir recuperação judicial.
do alimento farto e barato. A ignorância da realidade do Teremos boas safras no Brasil e nos Estados Unidos, proteção do agronegócio como faz com o setor automo- Obstáculos à exportação continuarão sendo as nos-
universo do agronegócio em geral e, do mundo rural, em o que assegurará o suprimento de milho, soja e farelo de tivo ou de eletrodomésticos, por exemplo... sas deficiências logísticas. De acordo com o Fórum Eco-
particular, está na base da incompreensão das comuni- soja para a transformação em proteína animal. Os cus- O consumo cairá acentuadamente em 2015, pois o nômico Mundial, entre 148 países pesquisados, o Brasil
dades urbanas em relação às comunidades rurais. tos de produção aumentarão - especialmente em face do consumidor endividou-se com a compra de supérfluos. Os está em 71o lugar em termos de infraestrutura, na edu-
A questão da sustentabilidade – não só ambiental, encarecimento da energia elétrica, do diesel e de outros setores mais afetados serão o automotivo, construção civil, cação e treinamento de mão de obra, em 72a posição e
mas também social e econômica – é fundamental. A pro- vestuário e recreação & lazer. As viagens ao exterior serão em eficiência de mão de obra, 92o lugar.
dução deve, sempre, atender as imperiosas exigências reduzidas, as importações cairão e as exportações crescerão. Por isso, é um fato extraordinário a agropecuária na-
da sustentabilidade, condição que se reflete na imagem Mais uma vez os empresários aguardarão reformas cional exportar mais de 100 bilhões de reais por ano e,
do Brasil no exterior. O Brasil está numa posição à fren- na anacrônica legislação trabalhista brasileira. E elas assim, literalmente salvar a balança comercial brasileira.
te de países europeus e norte-americanos, na chamada não chegarão. Esse desempenho ocorre apesar da falta de incentivo, da
economia verde, tendo 20% da água potável do mundo, O segmento de carnes viverá um bom ano com cres- péssima infraestrutura, dos gargalos logísticos e da res-
milhares de hectares de florestas, além das fontes de centes exportações de carnes bovina, suína e de aves. A tritiva legislação. O Brasil é o único País do mundo onde
energias renováveis, que representam 50% do consumo eclosão de epizootias e em alguns países continuará fa- a legislação ambiental exige reserva legal. É o segundo
nacional. Além disso, a tendência da valorização da água vorecendo o Brasil, que aproveitará os resultados da con- País do mundo em cobertura florestal original nativa que
e do ar puro, através de mecanismos como créditos de jugação de vários fatores: qualidade reconhecida, preço está em 56%, enquanto a Europa mantém apenas 0,1%
carbono, retenção de gás metano, entre outros, cria outra competitivo potencializado pelo câmbio favorável, capa- de cobertura florestal.
vantagem competitiva para O Brasil. cidade de produção e relativa escassez de carne no mer- Sou otimista com o Brasil e com o futuro. Acredito na
Apesar das dificuldades que marcarão o cenário eco- cado mundial. Novos mercados surgirão no continente força transformadora do trabalho, da ciência e da fé. As
nômico de 2015, o setor primário da economia terá um asiático; a China voltará a crescer acima de 7% e a Índia tendências para os próximos anos incluem um amálga-
ano relativamente bom para as cadeias produtivas de caminha para se tornar grande parceiro comercial. ma desses componentes. Haverá predomínio da agricul-
suínos, aves e leite. Esperamos que o governo interve- Apesar desse quadro de otimismo, a produção de tura de alta tecnologia e altíssima precisão capaz de gerar
nha menos na economia e dê autonomia para a equipe carnes no Brasil não aumentará e a base produtiva con- alimentos, rações, combustíveis e fibras. A dieta humana
econômica recolocar nos eixos os fundamentos macroe- tinuará no mesmo nível. Os produtores e as indústrias migrará para um maior consumo de proteínas animais,
conômicos do País. No atual estágio não resta outro ca- atingiram um saudável ponto de equilíbrio, resultado da principalmente carnes. Alimentos mais baratos serão a
minho, senão os remédios de hortodoxia econômica. Por aprendizagem –depois de décadas de erros – sobre os exceção e não a regra. A demanda nos próximos 40 anos
outro lado, a presidente Dilma Rousseff não poderá per- Mário Lanznaster efeitos perversos da gangorra (picos de alta e de baixa terá como vetor os países em desenvolvimento. ◆

318 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 319
TURISMO RURAL TURISMO RURAL

Turismo rural
320 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015
As rotas alternativas
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 321
TURISMO RURAL TURISMO RURAL

O
país tem mais de 4 milhões de estabelecimen- ram apoio para melhorar seus produtos e serviços para o apreciar criativas formas de utilização de recursos locais,
tos de agricultura familiar, que representam receptivo da Copa do Mundo: como plantas nativas usadas na decoração das pousadas.

DIVULGAÇÃO
84% das propriedades rurais brasileiras. De 1. Tucorin: Turismo Comunitário no Baixo Rio Ne- A proposta é valorizar o modo de vida no campo por
acordo com o Estudo da Demanda Turística Internacio- gro (AM) meio do turismo ecológico. As hospedagens são simples
nal, o motivo ‘natureza’ é o segundo no ranking da pre- 2. Trilha do Visgueiro (AL) e extremamente aconchegantes, com direito a conversas
ferência dos estrangeiros que visitam o Brasil, atrás ape- 3. Roteiro Ecoétnico (BA) ao lado dos fogões a lenha, regadas à fartura típica das
nas das praias. Diante disso, percebe-se o leque aberto 4. Cultura e Ecologia em Busca do Futuro (CE) mesas do campo. Os agricultores da Acolhida praticam o
para explorar a atividade do turismo rural nas pequenas 5. Trekking Travessia (GO) cultivo orgânico, visando garantir qualidade de vida para
propriedades, podendo tornar-se, para muitas famílias a 6. Circuito na Vivência da Agricultura Familiar do suas famílias e para os turistas, que servem cardápios à
principal fonte de renda. Serras de Minas (MG) base desses alimentos livres de agrotóxicos.
O coordenador-geral de Estruturação de Destinos do 7. Caminhos Rurais da Mata Atlântica de Minas (MG) O projeto originou-se a partir do modelo Accueil
Ministério do Turismo, Cristiano Borges, diz que não exis- 8. Circuito Rural e Ecológico do Vale do Rio Preto (MG) Paysan de agroturismo, surgido no Sul da França nos
te um estudo que quantifique o número de propriedades 9. Roteiro Serras Rurais (MG) anos 80. A experiência iniciou em 1999 no território
que trabalham com o turismo rural, mas que o Sul do Bra- 10. Natureco Pantanal Remoto (MT) das Encostas da Serra Geral (sudeste de Santa Catarina),
sil é onde há mais investimento nesta área, ou seja, mais 11. Circuito Eco-Rural Caminhos do Brejal (RJ) nos municípios de Rancho Queimado, Anitápolis, Santa
propriedades rurais abrem suas porteiras para receber 12. Caminho dos Engenhos (PB) Rosa de Lima, Gravatal e Grão Pará, motivada pela ne-
visitantes. Em sua grande maioria, além da hospedagem, 13. Uma Viagem à Civilização dos Potiguara (PB) cessidade dos agricultores familiares de diversificar as
o lazer inclui passeios a cavalo, em meio à natureza e tam- 14. Roteiro: Em Terras Quilombolas (PB) atividades dentro das suas propriedades.

DIVULGAÇÃO
bém plantações, geralmente, incluindo a gastronomia. 15. Circuito Turistico Caminhos Históricos da Serra (PR) Os serviços turísticos vinculados ao projeto incluem
“É uma alternativa de renda para os pequenos se 16. Caminhos do Vinho (PR) compartilhar o modo de vida e o patrimônio cultural e na-
manterem no campo”, diz. Segundo ele, um dos proje- 17. Roteiro do Seridó (RN) tural a partir de serviços como hospedagem, alimentação,
tos trabalhados entre MDA e Sebrae, Talentos do Brasil 18. Caminhos Rurais de Porto Alegre (RS) lazer e venda de produtos produzidos nas propriedades.
Rural, abrangeu 23 roteiros de turismo rural no país e 19. Vale dos Vinhedos (RS) Normalmente, o turismo rural na agricultura fami-
envolviam 491 propriedades da agricultura familiar. O 20. Agroturismo – Gramado (RS) liar está atrelado à oferta com o produto da agropecuária.
MTur também apoia a realização do Projeto Talentos do 21. Caminhos da Colônia (RS) “É uma tendência as pessoas estão buscando sair mais
Brasil Rural, criado e executado em parceria com o Mi- 22. Roteiro Caminhos de Pedra (RS) dos grandes centros urbanos por algo diferente e o turis-
nistério do Desenvolvimento Agrário e o Serviço Brasi- 23. Roteiro Rural “Caminhos da Roça” (SP) mo rural tem sido um dos locais buscados e valorizados.
leiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Experiências novas”, declara. ◆
A iniciativa tem foco na promoção e comercialização Destino referência em turismo rural
de produtos, serviços e destinos da agricultura familiar O destino catarinense “Acolhida na Colônia” foi esco-
localizados no entorno das cidades-sede da Copa do lhido para ser modelo em Turismo Rural no Brasil. Essa

DIVULGAÇÃO
Mundo de 2014. Ao todo, 23 roteiros turísticos recebe- é a proposta do projeto “Destinos-Referência”, lançado
pelo MTur em 2008, com o propósito de estruturar 10
municípios brasileiros em segmentos turísticos prioritá-
DIVULGAÇÃO

rios para a promoção nacional e internacional.


A iniciativa beneficiou cerca de 170 famílias de 30
municípios, levando qualificação, diversificação e am-
pliação da oferta turística à região.
Localizado na região sul de Santa Catarina, o destino
se caracteriza pela abertura de pequenas propriedades
rurais de agricultores familiares para o turismo. Nessas
propriedades, os turistas também podem participar do
plantio de orgânicos e do processo artesanal de fabricação
de produtos como o mel, além de desfrutar de experiên-
cias junto a ambientes naturais (como ir a um pesque-e-
Cristiano Borges -pague de águas cristalinas, vindas de uma nascente), e

322 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 323
DIVULGAÇÃO
TURISMO RURAL TURISMO RURAL

Vale da Piraputanga - Rota das Águas do Pantanal


Turismo agroecológico faz
sucesso no Mato Grosso
A
prática do turismo agroecológico, tocado dades foram mais criativas e promovem festa do queijo,
pela agricultura familiar, é uma experiência
de sucesso na Associação de Produtores Ru-
rais de Piraputanga, localidade do município de Cáceres
corridas eqüestres, etc. Há queijos que chegam a pesar
1.800 quilos e que pelo tamanho desproporcional cha-
mam a atenção das pessoas e com ênfase dos turistas.
Itabirito, Minas: o turismo é o caminho
no Mato Grosso. “Essa espécie de turismo dá prazer ao Compõe a rota das águas, entre outros, os municípios

E
turista e renda ao produtor familiar. Atualmente, o pro- de Cáceres, Curvelândia, Lambari do Oeste, Rio Branco, strada Real, por onde escoava o ouro no Brasil “A tendência de Itabirito é o turismo de eventos, mas
grama que se estendeu e que chega a 54 novos municí- Salto do Céu e a Reserva do Cabaçal. O rio Paraguai ba- Colônia. A maior parte dessa estrada está em com forte inclinação para o turismo rural”, disse. Seguin-
pios daquele Estado”, diz Elcinéia Aparecida Fortes, da nha a região, o que representa mais uma atração à parte. Minas. Um pedaço dela, em Itabirito: cidade do essa linha, os distritos itabiritenses de São Gonçalo do
Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Ex- Essa experiência no meio rural não surgiu por acaso. com pouco mais de 40 mil habitantes, a 56 quilômetros Bação e Acurui ‘falam bem alto’. “Lá é que são realizadas
tensão Rural (Empaer). Na visão de Elcinéia Fortes decorreu de investimentos e da capital Belo Horizonte. O minério de ferro é a base da as oficinas de verão, o nosso bordado, fabricado os nos-
Na opinião de Elcinéia Fortes, o Mato Grosso tem a da criatividade. Primeiro, convencer os fazendeiros da economia. Como se trata de um produto não renovável, sos doces, as cachaças, e é lá também que está parte con-
“vocação natural para o turismo rural”. As longas dis- importância econômica do turismo agroecológico. Se- nada mais justo que Itabirito repense suas finanças. siderável de nossa natureza. Nesses distritos também é
tâncias “são superadas pela rota das águas, os saltos gundo, investir em mão de obra familiar, objetivando o E é justamente o turismo um dos caminhos escolhi- desenvolvida a agricultura familiar que abastece parte de
das cachoeiras, as trilhas, à rica fauna e flora”, ressalta. bom atendimento. “A prioridade chega à cozinha”, ensi- dos. Em novembro, a prefeitura local participou do Fes- nossas escolas municipais com produtos de qualidade.
Como ingredientes gastronômicos, sobressaem os pes- na, porque o peixe morre pela boca, conforme a sua sim- tival de Turismo de Gramado, no Rio Grande do Sul. Três Quem se encanta com Minas, tem de conhecer a região
cados na mesa. bologia, para demonstrar que um pão-de-queijo feito na roteiros turísticos foram apresentados: “Itabirito, uma de Itabirito”, afirma o secretário. ◆
As fazendas que adotaram o turismo agroecológico hora, por exemplo, agrada em cheio ao paladar de quem joia na Estrada Real”, “Roteiro da Cachaça” e “Roteiro
para disporem de renda hoje se multiplicam na região. visita uma fazenda. E essa movimentação culmina por Trilha Real”.
As trilhas oferecem passeios pela exuberância da selva, manter o jovem no campo, uma das sérias preocupações Natureza preservada, produtos artesanais (doces e

DIVULGAÇÃO
das águas, das aves e demais animais. Algumas proprie- dos produtores rurais hoje em dia. ◆ algumas das melhores cachaças do país, por exemplo),
bem como a hospitalidade mineira são alguns dos atrati-
vos que despertam o interesse do turista.
Com o objetivo de incrementar o setor, 2014 foi elei-
DIVULGAÇÃO

to o Ano Municipal da Atividade Turística em Itabirito.


Dezenas de eventos, alguns inéditos (como a Festa Ita-
liana), aconteceram na cidade e proporcionaram uma
movimentação turística sem precedentes na história ita-
biritense. “A partir de então, ficou decidido que as ações
dos anos seguintes seguirão na mesma linha”, disse o se-

DIVULGAÇÃO
cretário de Patrimônio Cultural e Turismo da prefeitura
de Itabirito, Ubiraney Figueiredo.
Ainda segundo ele, a atividade turística no município
tem como base o Sistema Municipal de Turismo (nortea-
do pelo Sistema Nacional), que inclui o Fundo Municipal
de Turismo e um Conselho Municipal de Turismo (Com-
tur) - extremamente atuante na cidade.

324 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 325
DIVULGAÇÃO
TURISMO RURAL TURISMO RURAL

O
turismo rural vem incrementando a econo-
mia de 13 comunidades rurais e se consoli-
dando como mais uma fonte de renda para
agricultores familiares de seis municípios, na área de
atuação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), na re-
gião de Diamantina.
Batizado de Programa de Turismo de Base Comuni-
tária, a iniciativa teve início em 2009, na comunidade do
Vau, em Diamantina. No local, às margens da Estrada
Real, foi instalada a “Vila Real”, um espaço com estrutu-
ra de vilarejo, com uma sala de administração, uma loja
para comercialização de produtos da agricultura fami-
liar da comunidade, lanchonete e cozinha. Nesta comu-
nidade, o programa beneficia 17 famílias de agriculto-
res familiares, mas ele está presente nos municípios de
Gouveia, São Gonçalo do Rio das Pedras, Couto de Ma-
galhães de Minas, Conceição do Mato Dentro e Alvorada
de Minas. O objetivo, segundo a extensionista Claudete
Maria Souza e Costa, coordenadora técnica de Turismo
Rural, é apoiar os moradores das comunidades rurais
que estão investindo nessa modalidade de turismo. A
proposta é estimular a geração de ocupação e aumento
da renda familiar, valorizar a cultura local, promover a
visitação e a preservação dos recursos naturais.
“É um segmento de turismo trabalhado com os mo-
radores das comunidades rurais, de forma participativa e
organizada. Esse tipo de turismo preconiza a autogestão
dos projetos, sem intermediários. Os agricultores rece-
bem os turistas em suas casas e produzem os produtos
que oferecem”, explica a coordenadora da Emater-MG.
Para tanto, conforme a coordenadora, a Emater-MG
participam do programa, realizado em parceria com as
associações comunitárias, prefeituras municipais, ONGs,
universidades e empresas de consultoria. A Emater-MG

Diamantina
atua com ações para organização e fortalecimento do
grupo gestor do projeto em cada comunidade, assistên-
cia técnica para produção de hortaliças, frutas, artesana-

Com ajuda da Emater-MG turismo to, doces e quitandas.


A empresa realiza diagnósticos; articula parcerias;
elabora projetos de abastecimento de água; sinalização

rural é mais uma fonte de renda de locais turísticos; melhoria das estradas de acesso; or-
ganização de eventos tais como caminhadas, cavalgadas
e festivais de comidas típicas. Além disso, a empresa

para as comunidades rurais pública incentiva a qualificação técnica dos moradores


preparando-os para receber bem os que se hospedam

326 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 327
TURISMO RURAL TURISMO RURAL

em suas casas ou simplesmente realizam passeios e ca- meira refeição do dia, segundo o líder comunitário: “Pre-
minhadas nos lugares da região. paramos leite, doces, queijos, requeijão e quitandas para

DIVULGAÇÃO
A extensionista Claudete Maria conta que, somente o café da manhã”. O site www.turismodevilarejocuiaba.
em seis comunidades onde a Emater-MG atua há mais com.br tem mais informações do projeto.
tempo, 47 famílias já exercem a atividade. “A maioria é Minas Gerais por sua extensão territorial 586.522,122
agricultor familiar e o turismo rural complementa a ren- km2 (IBGE 2014), que equivale a 6,89% do território
da”, explica. Ela calcula que cada caminhada por exemplo, brasileiro; somados às diversidades de topografia, clima,
organizada pela comunidade, deve gerar cerca de R$ 160 relevo, com abundância de picos e serras, além da grande
de lucro por dia para uma família. “Isso para um agricul- quantidade de grutas, cavernas, rios e lagos naturais e
tor familiar faz diferença”, garante, salientando também artificiais, riqueza da fauna e flora atraem praticantes do
os ganhos retirados dos festivais de comidas típicas e das turismo ligado à natureza.
diárias cobradas pela hospedagem dos turistas. Conforme a coordenadora técnica Estadual de Ar-
“Temos famílias em que a principal renda é dos apo- tesanato e Turismo Rural, Cléa Venina Ruas Mendes
sentados e dos que vivem da agricultura e o turismo vem Guimarães, turismóloga e pedagoga, acresce a essa es-
complementar a renda familiar”, confirma também Ge- pecificidade do Estado, o seu patrimônio histórico, a re-
raldo Arcanjo de Oliveira, líder na comunidade de Cuia- ligiosidade que tem influência marcante nas principais
bá, no município de Gouveia. No local, segundo Geraldo, manifestações culturais do povo mineiro, como as festas
entre 60 a 70 moradores, complementam a renda com folclóricas, religiosas tradicionais (costumes africanos,
o Projeto de Turismo de Vilarejo, implantado em 2008, difundidos pelos escravos, com as tradições católicas
após seleção feita pelo governo federal, por meio de cha- dos colonizadores), culinária típica do interior; além de
mada pública. No lugarejo de 22 casas, os agricultores importância nacional nas produções artísticas contem-
recebem cerca de 120 turistas por ano. “São pessoas que porâneas; que fazem de Minas, um importante destino
buscam descanso, florestas, serras, hortas, cachoeiras turístico brasileiro.
e caminhadas”, explica. Ao lado da esposa Tânia Maria “Devido à influência das origens do rural mineiro, o
Andrade de Oliveira, ele vive na comunidade desde que turismo rural se tornou um relevante segmento, com en-
nasceu há 55 anos. volvimento de agricultores familiares se integrando aos
empreendedores distribuídos pelas regiões e Circuitos pinhaço (em direção à Bahia), Serra do Brigadeiro (Zona orgânicos e resgate das culturas não convencionais, aces-
Festival de comidas típicas Turísticos: Triângulo Mineiro, Alto Jequitinhonha, no da Mata), dentre outras”, diz. so ao crédito e projetos (mais nas linhas do Pronaf); na
O Festival de Comidas Típicas de Cuiabá, evento que entorno dos Parques e nas Serras Mantiqueira, Canastra Um dos mais importantes circuitos turísticos de qualificação em agroindústria de alimentos (queijos, do-
acontece sempre no mês de maio, costuma atrair muitos (onde fica a nascente do Rio São Francisco), Serra do Es- Minas Gerais é a Estrada Real, que passa pelos antigos ces e quitandas), segurança alimentar e nutricional como
turistas, nos dois dias do evento, segundo Geraldo. “Este caminhos utilizados para transportar o ouro das minas, também na produção de alimentos e carnes em geral. As
ano recebemos umas 1.200 pessoas, o que gerou uma que liga a região central do estado às cidades do Rio famílias são orientadas ainda nas questões ligadas ao abas-
renda de R$ 15 mil”, revela, acrescentando que a prefei- de Janeiro e Parati. Os diferentes roteiros deste circuito tecimento de água domiciliar e esgotamento das águas

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tura apoia com shows. apresentam atrativos históricos, culturais, gastronômi- servidas. As ações ainda são muito pontuais e em função
Toda a comunidade passou por capacitação, confor- cos e naturais para seus visitantes. da demanda. O Estado não possui uma política pública es-
me o líder, e os moradores estão preparados para receber O serviço de extensão rural de Minas Gerais – Ema- pecífica para o Turismo Rural, o que muito contribuiria
os visitantes. Os turistas podem escolher os roteiros de ter-MG vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, para o incremento do segmento Turismo Rural.
passeios, conduzidos por guias qualificados ou usufrui- Pecuária e Abastecimento (Seapa- MG), que em integra- Existem no Estado, outras instituições que também
rem dos barzinhos e barracas com produtos da terra. ção com a Secretaria de Estado de Turismo, desenvolve atuam e apóiam o setor como o Sebrae e o Senar”, conclui.
A hospedagem em Cuiabá acontece nas pousadas ações orientando e apoiando as iniciativas dos agricul- Além disso, a diversidade do artesanato de Minas
domiciliares, que passaram por melhorias e adequações tores familiares distribuídos na regiões e nos diversos (fibras, bagaço de cana, pedra sabão, bainhas abertas
para receber os turistas. Os alimentos são retirados dos roteiros que integram os Circuitos Turísticos. de origem portuguesa trazida na época da colonização,
quintais e pomares, assistidos pela Emater-MG, que in- “A ação do extensionista é orientar e acompanhar bordados em pontos livres). Com um detalhe 75% é co-
centiva o plantio orgânico. A diária na comunidade, in- agricultores familiares e suas famílias nos diagnósticos, mercializado através do turismo. E o turismo rural po-
cluindo café da manhã, almoço e jantar está em R$ 70. articulação de parcerias, sustentabilidade, na produção de tencializou essa comercialização “in loco”. ◆
As delícias gastronômicas podem ser conferidas na pri-

328 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 329
A grande produção
maior que a média do estado do Paraná (com 1,569 kg/ha) que também são parceiras do Projeto. Além do treina-
e 2,2 vezes superior à média nacional, de 1,033 kg/ha. Já mento prático, os participantes discutem temas em rela-
nas unidades demonstrativas de milho, a safra 2013/2014 ção a políticas públicas e à preservação ambiental.
teve produtividade média de 8,177 kg/ha, sendo 1,3 vezes Criado na década de 1990, como um projeto piloto

dos pequenos
superior à média do Estado (6,107 kg/ha) e 1,6 vezes aci- para atender os produtores de feijão da cidade de Reser-
ma da nacional (que foi de 5,057 kg/ha). va, no estado do Paraná, sobre aplicação adequada de
Porém, os benefícios alcançados pelos produtores defensivos na cultura, a iniciativa foi valorizada pelos
engajados no Centro-Sul Feijão e Milho vão além do agricultores. No segundo ano, o projeto foi aplicado em
campo. O projeto contribuiu para o aumento do poder sete municípios da região de Reserva e, no ano seguinte,
aquisitivo dos produtores, que conquistaram melhores em 17 cidades, sendo todos produtores de feijão. Os bons
condições de moradia e de estudo para suas famílias. resultados com a cultura e a adesão em massa dos agri-
Projeto Centro-Sul Feijão e Milho traz maior rentabilidade, produtividade superior Como parceira institucional, a Syngenta oferece as cultores ampliou a ação para a cultura do milho.
sementes e os defensivos usados nas propriedades mo- Mais de duas décadas depois de sua implantação,
e melhora no aspecto socioeconômico das famílias de agricultores do Paraná delos, os recursos para treinamento de técnicos e agri- o Projeto Centro-Sul Feijão e Milho abrange as regiões
cultores, realização de eventos e a contratação de um administrativas do Instituto Emater/Seab (Secretaria

H
á 25 anos, o Projeto Centro-Sul Feijão e Milho, de produtos nas lavouras, descarte adequado de embala- engenheiro agrônomo. de Agricultura e do Abastecimento do Paraná) de Gua-
criado pela Emater e que tem como parceiro gens e acesso à tecnologia. A adoção do plantio direto em A capacitação ocorre por meio de encontros técnicos, rapuava, Irati, Ponta Grossa, União da Vitória, Curitiba,
a Syngenta e o Instituto Agronômico do Pa- todas as propriedades participantes também é destaque. nas atividades do dia a dia e nas unidades demonstrati- Ivaiporã e Santo Antônio da Platina, num total de 61 mu-
raná (Iapar), oferece aos produtores familiares do estado Além disso, os resultados do projeto trazem uma produ- vas, que funcionam como “vitrine” do Projeto. Por meio nicípios e aproximadamente 120 mil agricultores, sendo
do Paraná a profissionalização da atividade nas culturas de ção de qualidade superior. A produtividade média da safra do Centro-Sul Feijão e Milho, os produtores têm acesso 97 mil familiares.
feijão e milho, melhorando o manuseio de solos, água, dos 2013/2014, nas unidades demonstrativas de feijão que fa- à tecnologia de ponta disponível para o campo, como as Como consequência à adoção de boas práticas, os resul-
equipamentos de proteção de segurança e de aplicadores zem parte do Projeto, foi de 2,240 kg/ha, ou seja 1,4 vezes sementes fornecidas pela Syngenta, pela Empresa Brasi- tados não poderiam ser diferentes, maior proteção ao meio
leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Iapar, ambiente, segurança e melhor rentabilidade ao produtor. ◆

330 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 331
JOSÉ ELOIR DENARDIN
SOLOS SOLOS

O
imediatismo não dará ao brasileiro a susten-
tação na agricultura, de acordo com o pesqui-
sador da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin.
Isto porque está se plantando genética em cima de solo
em degradação. Logo, a planta que vai crescer também
será defeituosa. Se a camada fértil do solo é de 5 cm, a
planta terá o mesmo comprimento de raiz e, em anos
mais secos, a planta não vai responder.
A situação ocorre após um longo período em que a
terra brasileira já foi rica em termos físicos e biológicos,
mas que por desleixo de muitos agricultores que anula-
ram algumas práticas, acabaram comprometendo o solo
e que hoje não responde mais aos seus anseios.
O pesquisador explica que o solo brasileiro já foi
muito rico em termos físicos e biológicos, mas quimica-
mente, a maior parte era pobre neste aspecto. “Na déca-
da de 60 o solo foi submetido a um melhoramento que
modificou totalmente a agricultura, através da correção
da acidez do solo e da adição de potássio, corrigindo a
fertilidade química. Desta forma, o solo tornou-se ex-
cepcional para a prática da agricultura. O que tivemos
foi um salto em termos de produção e produtividade
devido à melhoria do solo. Mas como apresentamos
naquela época um manejo inadequado, ou seja, lavrá-
vamos e gradeávamos a terra, essas condições físicas
acabaram se degradando rapidamente e, o solo passou
a ter um processo de erosão muito intenso. Da década
de 60 até o início da década de 80, o processo de ero-
são foi muito forte, tendo em vista o manejo adotado
para o cultivo de duas espécies: trigo e soja. Tudo o que
ganhamos em termos de fertilidade e que dinamizou a
agricultura intensiva, por conta do manejo de aração e
gradagem, praticamente degradou o solo”, conta.

Da erosão à erosão
Nesse período, surgiu o plantio direto, o qual aban-
donava o uso do arado e da grade e o plantio passou a
ser feito sem revolver o solo. Desta forma, a erosão foi
estancada quase que de forma imediata e, a expectativa
era que haveria vida longa de qualidade do solo, segundo
o pesquisador.
“A química continuava boa. Pois seguíamos corri-
gindo e adubando o solo. Além disso, a diversificação de
Nas décadas de 60 e 70, lavouras eram aradas o que tornava o solo cultura ocorreu fortemente nas décadas de 80 e 90, com
milho e soja no verão e, no inverno, além do trigo, cultivo
quimicamente problemático. Mas após corrigir, o imediatismo do agricultor também de aveia, centeio, cevada, triticale e inclusive, in-
deixou o solo pobre e infértil troduzimos pecuária leiteira e de corte em função dessa
oferta de alimento durante o inverno. Isso nos deu ex-

332 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 333
SOLOS SOLOS

pectativa de que estávamos caminhando no rumo certo. vacionista espetacular, mas estamos falhando no que
Todavia, chegando ao ano 2000 e as facilidades se torna- cultivar. “Estamos cultivando soja, soja e soja. Mesmo
ram grandes em função da soja RR e do grande mercado percebendo que toda lavoura que recebe milho ocorre
que a oleoginosa passou a ter a partir dessa década no mudança em sua estrutura e aumenta a proteção contra
mercado internacional com a China comprando a oleagi- erosão. Mas infelizmente, estas espécies se transforma-
nosa, logo, aquela construção das décadas de 80 e 90 em ram e mais de 75% da área do Rio Grande do Sul é cober-
prol do plantio direto, em função da rotação de culturas ta por azevém durante o inverno”, pontua.
estabelecidas e da diversificação do sistema agrícola pro-
dutivo que ocorreu com a integração da lavoura e pecuá- Como mudar o cenário
ria, fora se dispersando. No inverno, seguia a integração O pesquisador da Embrapa Trigo diz que é possível mu-
lavoura e pecuária, mas não mais sobre aveia, centeio, e dar o cenário do solo degradado de hoje. Ele exemplifica
outros, mas sim sobre aveia e azevém guaxos que nascem o problema que havia nas décadas de 60 e 70 com erosão
por conta, devido a substituição dos herbicidas residuais, e que bastou colocar palha na superfície que a erosão foi
como o glifosato por exemplo”, acrescenta. controlada. Hoje, por esta ausência de diversificação de es-
O pesquisador ressalta que o que havia sido cons- pécies, estamos gerando um solo compactado, que não tem
truído nos anos 80 e 90 começou a ser destruído no ano como a água infiltrar. A chuva registrada em uma localida-
2000 pela facilidade com que se tornou fazer agricultura de ao invés de penetrar no solo e chegar aos rios em três ou
e, desta forma, a erosão voltou. quatro meses, segue diretamente para os rios provocando
A soja se tornou uma monocultura e, no inverno, o cheias. “E isso não significa que estamos guardando água C

abandono dos herbicidas residuais. Assim, caiu a pro- no solo, ao contrário, não é possível nem fazer a irrigação, M

dução de matéria seca no solo, em pelo menos 10 t de porque a água dos rios segue o leito. Se não tomarmos pro- Y

palha por ano e não atingindo essa quantidade o solo vidências em termos de proteção com coxilhas para reter a CM

entrou em degradação. Agora, o solo não é mais afofado água, estamos fadados a entrar num processo de degrada- MY

pelo arado, mas é preparado pelas raízes das plantas e ção da agricultura, que não será mais competitiva. Infeliz-
CY

a soja afofada com avezem guaxo, o qual não consegue mente estamos vivendo o imediatismo que não nos vai dar
CMY

mantê-lo macio ou poroso. “E assim, estamos vendo nos sustentação à agricultura. 2015 intitulado o Ano Interna-
últimos anos o que ocorria na década de 70 em função cional dos Solos deve ter preocupação de todos, pois o solo
K

da baixa taxa de estruturação do solo. Hoje, estas plantas reflete na água. Um rio só vai se manter fluindo enquanto
não conseguem construir um solo a absorver toda ener- um solo tiver alimentando ele ao longo do tempo. E isso
gia gerada pelas chuvas”, diz. não é sustentável. Precisamos de práticas que auxiliem essa
Denardin comenta que vivemos um dilema, porque sustentabilidade, como por exemplo o terraceamento, que
evoluímos em termos de manejo, mas abandonamos as é uma forma de concentrar a água no solo. Trata-se de uma
culturas que fariam o preparo do solo. Temos tecnologia, questão de conhecimento hidrológico da natureza e esta-
mecanização, insumos para ter uma agricultura conser- mos interrompendo ele”, conclui. ◆
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO

Pesquisador José Eloir Denardin

334 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 335
SOLOS SOLOS

Solo brasileiro agora tem


danças climáticas e a própria sustentabilidade da agri- tencializar nossa capacidade em conhecer a distribuição
cultura brasileira. Não se pode planejar o uso da terra, espacial dos solos por possibilitar que um volume maior
realizar zoneamentos e definir políticas públicas para a de informações sobre os fatores de formação do solo seja
agricultura, sem o conhecimento atualizado do recurso processado de forma rápida e automatizada”, diz ele.
solo, que juntamente com a água, devem fazer parte da Éder Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados, no

mapeamento digital
agenda brasileira de prioridades para o setor produtivo e Distrito Federal, aponta que para o futuro do MDS no Bra-
ambiental”, completa. sil, “é necessário desenvolver pesquisas com abrangência
Essa afirmativa é confirmada pelo professor Alexan- nacional. É fundamental o estudo de ferramentas metodo-
dre Ten Caten. “A informação espacial sobre classes e lógicas e a contínua formação de recursos humanos capa-
propriedades de solos não está disponível para a maio- zes de aplicar o MDS nas questões nacionais. Um dos desa-

O
mapa digital de carbono orgânico dos solos vada das gregas pedos (solo) e metron (medida) como ria das localidades do Brasil. O mapeamento digital, por fios, por exemplo, é o desenvolvimento de manejos do solo
brasileiros recém-lançado pela Embrapa une importante aliada. A partir daquela época, a união entre meio das tecnologias ligadas à geoinformação, pode po- que permitam a captura de gases de efeito estufa, e para
modelagem matemática e conhecimentos le- a observação do solo na natureza e a aplicação de mode-
vantados em campo para ajudar em diversos programas los matemáticos evoluiu muito ao unir o conhecimento
de conservação de recursos naturais. Um dos benefici- prático do pedológo com os dados estatísticos e numé-
ários imediatos será o Programa Agricultura de Baixa ricos da pedologia quantitativa desenvolvidos nos labo-
Emissão de Carbono (ABC) do Ministério da Agricultu- ratórios. Atualmente, a pedologia é uma ciência que de-
ra, Pecuária e Abastecimento que poderá utilizá-lo para pende das abordagens quantitativas e qualitativas o que
direcionar práticas de redução de emissão de gases de exige a participação de profissionais de diferentes áreas
efeito estufa. do conhecimento.
Executado pelas técnicas tradicionais, um levanta- A partir da década de 80, com o advento da geoes-
mento similar custaria milhões de reais e anos de tra- tatística, as informações sobre o solo foram se tornan-
balho. O novo sistema tem a vantagem de utilizar infor- do mais precisas, passando a ajudar de maneira mais
mações ambientais disponíveis como dados a respeito de incisiva na tomada de decisão. Naquela época, surgiu o
solo, relevo, material de origem, clima, associando-os a mapeamento digital de solos (MDS) unindo geologia,
métodos matemáticos estatísticos para inferir informa- geomorfologia e os fatores que influenciam na formação
ções em locais não medidos. do solo: clima, organismos, relevo, material de origem
“No mapeamento digital de solos (MDS) usamos e tempo. Graças a ele existe a possibilidade de integrar
modelos matemáticos e estatísticos para, com base nas o conhecimento tácito dos pedólogos sobre as relações
informações de solos existentes, predizer outras que não solo-paisagem, e a automatização de processos via ma-
foram medidas, mas que estão correlacionadas através peamento digital de propriedades e classes de solos.
das variáveis ambientais que determinam a formação O MDS tem grande importância para responder à
dos solos”, diz a pesquisadora Maria de Lourdes Men- demanda de informações no desenvolvimento das ativi-
donça Santos, da Embrapa Solos, pioneira nos trabalhos dades humanas. Entre elas, o manejo de solos na agricul-
sobre mapeamento de solos no Brasil. “O mapeamento tura, a execução de zoneamentos ambientais, manejo da
digital surge como ferramenta base para a tomada de de- água na paisagem e o planejamento de uso da terra.
cisão sobre este recurso natural”, explica. “Não há dúvida Em países com menor extensão territorial, como a
que o MDS oferece um vasto campo para a pesquisa e Dinamarca, o solo já está totalmente mapeado em óti-
uma oportunidade para a pedologia brasileira que tem, ma escala de detalhamento (1:5.000 ou maior). Mas não
pela frente, um enorme território a ser mapeado”, avalia só os países de menor extensão investem no tema. Os
o professor Alexandre Ten Caten, da Universidade Fede- Estados Unidos, por exemplo, com extensão territorial
ral de Santa Catarina. semelhante a do Brasil, possuem um detalhamento de
seus solos da ordem de 1:10.000. “É urgente que nosso
O mapeamento digital País invista no conhecimento maior de seus solos sob
Desde os anos 60 do século passado a pedologia (es- pena de ficar para trás em alguns desafios globais, como
tudo do solo no campo) tem a pedometria, palavra deri- a segurança alimentar, a produção de bionergia, as mu-

336 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 337
SOLOS SOLOS

isso é imprescindível o conhecimento do comportamento


do carbono em solos, o que o MDS pode responder”.
erradicação da fome, mudança climática e degradação
do meio ambiente. América Latina e o Caribe têm as maiores
reservas de terras cultiváveis do mundo
“Infelizmente, Dinamarca e Estados Unidos são ex-
Mapeamento global ceções”, diz Lourdes Mendonça. “De forma geral, há uma
No País, o principal fórum de debates sobre o assun- escassez de dados de solos no mundo e, quando existem,


to está na Rede Brasileira de Pesquisa em Mapeamento são limitados, dispersos, desatualizados e difíceis de com- A América Latina e o Caribe têm as maiores re- ser destruído em somente alguns minutos por uma de-
Digital de Solos (Rede MDS), coordenada pela Embrapa, parar. Essa necessidade e a crescente demanda por infor- servas de terras cultiváveis do mundo, por isso gradação devido ao manejo incorreto”, explicou Crowley
no âmbito do CNPq. mação sobre os solos têm alavancado o desenvolvimento o cuidado e a preservação dos solos são funda- conforme matéria vinculada no site da FAO.
O objetivo dessa Rede é juntar os interessados no do MDS”. Agora, para os estudiosos, o desafio maior vai mentais para que a região alcance sua meta de erradicar 14% da degradação mundial ocorrem na América
tema, a fim de avançar a pesquisa no assunto e elaborar ser o de sistematizar e entender os dados existentes e a a fome; os solos são de enorme importância para a pro- Latina e no Caribe. Esta situação é ainda mais grave na
projetos em parceria, com ampla abrangência para o ma- eles adicionar os produzidos por novos sensores. dução mundial de alimentos, mas não prestamos sufi- Mesoamérica, onde 26% das terras são afetadas. Já na
peamento dos solos. Atualmente, a Rede MDS conta com ciente atenção neste ‘aliado silencioso’”, disse o Diretor América do Sul, afeta 14% das terras. Quatro países da
setenta membros de vinte instituições de ensino, pesqui- Ano Internacional do Solo Geral da FAO, José Graziano da Silva durante o lança- região têm mais de 40% de suas terras degradadas e em
sa e extensão rural nas cinco regiões do Brasil. Para aumentar a conscientização sobre o recurso solo mento do Ano Internacional dos Solos 2015 (AIS), con- 14 países a degradação afeta entre 20% e 40% do terri-
No exterior, o consórcio GlobalSoilMap.net é o pon- e sua importância na agenda de desenvolvimento global, forme matéria publicada no site da FAO. tório nacional.
to de encontro dos estudiosos do assunto. Formada em a Organização das Nações Unidas para a Alimentação A FAO é a responsável pela implementação do Ano A degradação dos solos tem um impacto negativo em
2009, a rede tem Lourdes Mendonça no grupo coorde- e Agricultura (FAO) lançou em 2011, a Aliança Global Internacional dos Solos 2015 (AIS) no âmbito da Aliança muitas de suas funções como na produção de alimentos
nando as ações na América Latina e Caribe. Participam para o Solo (GSP, da sigla em inglês). Mundial pelo Solo e em colaboração com os governos e e na prestação de serviços ecossistêmicos e suas princi-
também do consórcio instituições como a Universidade Essa Aliança possibilitou colocar o solo no centro dos a Secretaria da Convenção das Nações Unidas de Luta pais causas incluem a erosão hídrica, a aplicação intensa
de Columbia (Estados Unidos), o Instituto Nacional de diálogos globais, observando as necessidades nacionais e contra a Desertificação (UNCCD). de agrotóxicos e o desmatamento.
Pesquisa Agronômica (INRA-França) e a Universidade regionais, envolvendo instituições e comunidades locais De acordo com a FAO, os solos saudáveis estão na A degradação também está associada com a pobreza:
de Sydney (Austrália). para melhor se apropriarem do tema e catalisar a coor- base da agricultura familiar, na produção de alimentos e 40% das terras mais degradadas do mundo estão em zo-
O consórcio alavancou as iniciativas no tema de for- denação de políticas públicas e investimentos em solos. na luta contra a fome e, ainda, cumprem um papel como nas com altos índices de pobreza. Os agricultores pobres
ma global, propondo avanços metodológicos, especifica- Para dar mais visibilidade ao assunto, as Nações Uni- reservatórios da biodiversidade. Além disso, compõem o têm menos acesso a terra e à água, trabalham em solos
ções técnicas e a harmonização de métodos, buscando das declararam 2015, o Ano Internacional. FAO e GSP se ciclo de carbono, por isso que o seu cuidado é necessário pobres e com uma alta vulnerabilidade à degradação.
produzir um novo mapa mundial de propriedades de so- encarregarão das atividades ao redor do mundo em cola- para mitigar e enfrentar as mudanças climáticas.
los, usando novas tecnologias e a uma boa resolução. Es- boração com os países membros. O objetivo é aumentar “É essencial manter um equilíbrio cuidadoso entre Crescimento da agricultura
ses mapas serão completados com opções de interpreta- a conscientização sobre a importância do solo para a se- a necessidade de preservar os nossos recursos naturais De 1961 a 2011, a superfície agrícola na América La-
ção e funcionalidade para ajudar na tomada de decisões gurança alimentar e sobre suas funções essenciais para o e expandir a nossa produção de alimentos. O Ano dos tina e o Caribe aumentou de 561 para 741 milhões de
em vários assuntos, tais como produção de alimentos e funcionamento dos ecossistemas. ◆ Solos visa gerar esta consciência”, explicou Eve Crowley, hectares, com uma maior expansão na América do Sul,
representante Regional Adjunta da FAO, em matéria pu- que cresceu de 441 para 607 milhões de hectares. Cerca
blicada no site da FAO, que destacou que 5 de dezembro de 47% das terras cultiváveis da região estão cobertas por
se comemorará o primeiro Dia Mundial dos Solos. florestas, porém, este número está diminuindo como re-
sultado da expansão da fronteira agrícola.
Degradação perigosa Mundialmente, 12% das terras são utilizadas para
Apesar de sua grande importância, a saúde dos solos cultivos agrícolas (1,6 bilhões de hectares); 28% (3,7 bi-
enfrenta constantes e crescentes desafios. 33% das terras lhões de hectares) correspondem a florestas; e 35% (4,6
do planeta estão degradadas, seja por razões físicas, quí- bilhões de hectares) correspondem a pastagens e outros
micas ou biológicas, o que é evidenciado em uma redu- sistemas florestais.
ção da cobertura vegetal, na diminuição da fertilidade, Durante o ano de 2015, a FAO trabalhará com os go-
na contaminação do solo e da água e, devido a isso, no vernos, as organizações da sociedade civil, o setor privado
empobrecimento das colheitas. e todas as partes interessadas para alcançar o total reco-
“O fato de que o solo não é um recurso renovável faz nhecimento das importantes contribuições dos solos para
com que a sua preservação seja um desafio ainda mais a segurança alimentar, a adaptação às mudanças climáti-
urgente: um centímetro de solo pode levar milhares de cas, os serviços essenciais dos ecossistemas, a mitigação
anos para ser formado e este mesmo centímetro pode da pobreza e o desenvolvimento sustentável. ◆

338 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 339
SOLOS SOLOS

FAO X Programas comercialização de produtos, pois são muitas as pessoas


“São os produtores que tem que mudar as práticas que dependem da AF, em torno de 5 milhões de famí-
usadas, mas é importante ter essa visão abrangente do lias. Além disso, os números variam entre 40% e 60% de
que está acontecendo no país. Muitas vezes, ele pensa só muitos produtos que provém da produção da agricultu-
na terra que tem e não na erosão que pode estar mais ra familiar. Em alguns países, a quantidade de pessoas
próxima. Para isso, é preciso um ordenamento de bacias trabalhando na AF tem diminuído, mas em termos de
hidrográficas para justamente ter áreas de conservação abastecimento ela ainda é chave.
para a produção, como podemos ter incentivos, porque
muitas vezes para mudar de uma prática para outra é ne- Água x Solo
cessário dispor de capital. E parte das políticas públicas O representante da FAO no Brasil enfatiza que não
se interessar em ter as possibilidades, ferramentas para há como falar sobre solo, sem mencionar a água. “Não
incentivar o produtor a mudar suas práticas. Temos que podemos apenas pensar em conservar o solo, sem pen-

FAO
ter visão de longo prazo. No momento temos capacidade sar em conservar água. O Brasil tem vivido uma escassez
de produzir alimentos e exportar alimentos. O Brasil é hídrica e é um momento de refletir sobre uma maior efi-
um celeiro e vai ser ainda mais importante e, para isso, é ciência hídrica no país. Conservando melhor a água tam-

Base produtiva precisa


fundamental trabalhar a base produtiva que são os solos. bém haverá uma maior conservação do solo”, conclui. ◆
O futuro da segurança alimentar vai depender das ações
que sejam tomadas para manter essa base produtiva e se
temos essa mudança”, destaca.

DIVULGAÇÃO
de mais atenção
2014
Bojanic avalia 2014 – Ano Internacional da Agricul-
tura Familiar, com ações que atingiram seus objetivos.
“Foi muito bom ver a quantidade de eventos realizados
em todo país, nas diferentes regiões. Foi possível pen-
sar na necessidade de aprimorar, bem como criar novos
Quase 25% do solo no mundo estão mal conservados e prejudicam a programas para fortalecer a agricultura familiar, plano
produção de alimentos safra, e muitos governos colocaram mais orçamento para
fortalecer o pequeno agricultor”. Todavia, o representan-

E
m assembleia geral, os países membros das Conforme Bojanic, no Brasil, pelo menos 30 milhões te da FAO no Brasil afirma que a AF deveria ser a década
Nações Unidas decidiram que 2015 seria o de hectares de solos estão degradados. “A quantidade é e não apenas um ano, pois muitas ações vão continuar
Ano Internacional de Solos e a FAO (Organiza- importante, pois é quase o tamanho do Equador”, salien- e outras que estão sendo realizadas vinculadas ao Ano
ção das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) ta. Segundo o representante da FAO no Brasil, a ideia é Internacional dos Solos.
seria a secretaria técnica deste ano, sendo responsável aplicar a tecnologia existente, como integração lavoura, Para Bojanic, a AF precisa muito de assistência técni-
por promover atividades e coordenar comitês. pecuária e florestas, por exemplo. ca e também mecanismos de compra dos alimentos com
De acordo com o representante da FAO no Brasil, Segundo reportagem publicada no site da FAO, para preços justos. “A assistência técnica é a chave de transmi-
Alan Bojanic, o tema escolhido tem em vista que é a base o coordenador da Assessoria Internacional do Ministério tir conhecimentos e tecnologias, mas também é preciso
produtiva para a produção de alimentos e são necessá- do Desenvolvimento Agrário, Caio França, a agricultura haver possibilidades de compra de alimentos da agricul-
rios solos bem conservados, ao passo que quase 25% dos familiar é protagonista na preservação e recuperação do tura familiar, com preços justos. São muitas as ações que
solos no mundo estão com erosão ou baixa qualidade de- solo, mesmo com áreas de até quatro módulos fiscais. precisam ser realizadas, mas o Brasil tem sido um mo-
vido ao mau uso da terra. “Necessariamente, os produtores não podem deixar o delo em termos de políticas públicas. Temos levado este
“A ideia é chamar a atenção sobre isso, pois não pode- solo se degradar. Há uma preocupação fundamental de exemplo para outros países como Equador e Bolívia, e
mos continuar tendo perdas de solo por práticas agríco- todos os envolvidos na agricultura familiar em preser- adaptando a experiência brasileira nestes países confor-
las equivocadas. Temos que levar em conta a necessidade var esse recurso natural. O AIS 2015 vai orientar tanto os me suas necessidades”, diz.
de manter a capacidade produtiva para o futuro, de pro- agricultores como os órgãos de governo na preservação A agricultura familiar necessita de muitas ferramen-
duzir alimentos para o futuro”. do solo”, salienta o coordenador. tas, mas as principais são assistência técnica e auxílio na Representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic

340 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 341
A LG Sementes lança um novo
híbrido de milho convencional

C
om o objetivo de atender a demanda dos
agricultores que fazem a opção por pro-
dutos não transgênicos, a LG Sementes
faz o lançamento do híbrido de milho LG 6310. O
Novo produto trás muitos benefícios ao agricultor
como excelente potencial de produção para grãos
e silagem, bom arranque nos plantios do cedo, pa-
dronização de espigas, maior tolerância a maioria
das doenças foliares e maior segurança quanto ao
tombamento e quebramento de plantas.

342 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 343
TROCA-TROCA TROCA-TROCA

A
s propriedades rurais familiares representam mento agrícola, melhorando a qualidade e produtivida- Outros programas o interior. “Para isso, precisamos de programas e técni-
86% dos 431 mil estabelecimentos rurais do de das lavouras de milho e sorgo, e conseqüentemente, Minetto diz ainda que vai analisar a manutenção dos cos que façam esse meio campo. Ou seja, a mudança e a
Estado e têm participação de 74,4% do pes- o acréscimo na produção do Estado do Rio Grande do programas em andamento. A SDR buscará novas fontes de inovação chegam, e precisamos repassar isso ao agricul-
soal ocupado no campo no país, de acordo com dados do Sul, e dentro desta perspectiva acrescer desenvolvimento recursos para sua ampliação. “Também pretendemos dar tor. Isso se faz através da Emater e das cooperativas, por
Censo do IBGE de 2006. Segundo o Ministério do Desen- e qualidade à vida dos agricultores, fixando-o no meio sequência a uma diversidade de convênios com o gover- meio de seus técnicos”, diz Minetto.
volvimento Agrário, 70% dos alimentos que entram no rural, garantindo sustentabilidade ao setor. no federal e buscaremos programas com foco bem deter- As cooperativas têm participação de 11% do PIB do
prato do brasileiro vêm da agricultura familiar. Na prática a ação é desencadeada com a oferta, por minado nos ramos do cooperativismo, em função da sua Estado. O secretário da SDR afirma que é possível avan-
A prioridade da Secretaria de Desenvolvimento Ru- parte das empresas sementeiras da relação das sementes, importância para o desenvolvimento econômico do Rio çar a partir de outros modelos. “Podemos, por exemplo,
ral e Cooperativismo (SDR) do Rio Grande do Sul será na continuidade por meio do site do Feaper; as entidades Grande do Sul”, adianta o secretário. “Da mesma forma seguir o modelo alemão, em que o crédito participa
exercer as políticas voltadas à agricultura familiar e às conveniadas fazem a reserva tendo por base o pedido de trabalharemos com a agricultura familiar, principalmente fortemente nos outros ramos de negócio, procurando
linhas do Pronaf, para atender aos seus públicos. “Va- cada agricultor. Consolidada a pesquisa de campo, é feita a para manter a juventude no campo, o que também é um de fechar o ciclo todo”, diz o secretário. “No Brasil ainda te-
mos manter todos os programas existentes na Secretaria. aquisição. Após os procedimentos administrativos de con- nossos desafios, assim como de todo o setor.” A SDR dará mos certa resistência de compreensão ou cultura desse
Como exemplo, temos o troca-troca de sementes Feaper, solidação e compra, é autorizada a entrega dos pedidos, prioridade à assistência técnica e aos programas de aqui- sentido”. São vários os cases de sucesso no Estado, como
um incentivo aos pequenos produtores para a produção tais pedidos são entregues durante o mês de julho e agosto sição de alimentos, de merenda escolar e abastecimento. a Expodireto Cotrijal (agronegócio), as cooperativas de
de milho, que é fundamental na cadeia leite”, destaca o de cada ano para a safra, e entre dezembro e janeiro para a O secretário deve concentrar sua atuação para exer- leite, de produção e abastecimento de grãos, na saúde, na
secretário, economista Tarcísio Minetto. safrinha. A entidade fica responsável pelo recolhimento e cer todas as políticas voltadas à agricultura familiar e educação, no trabalho e no crédito.
O programa tem por objetivo levar ao agricultor fa- repasse do valor que o agricultor devolve ao Programa, e, às linhas do Pronaf e formular políticas voltadas aos 13 “O papel do governo é contribuir para fortalecer as
miliar sementes de qualidade, padronizadas no zonea- enquanto não paga não pode ter nova participação. ramos do cooperativismo – agropecuário, consumo, cré- cooperativas, sem atrapalhar”, salienta Minetto. Para o
dito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, secretário, é preciso avançar nos negócios integrados. “A
mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo cooperativa se diferencia de outras organizações porque
e lazer –, que responde por cerca de 11% do PIB gaúcho. está diretamente ligada e tem a participação do associa-

Rio Grande do Sul A SDR é responsável pela formulação de políticas e di- do. Também é muito importante a capacidade e a capi-

DIVULGAÇÃO
retrizes de desenvolvimento, do cooperativismo e de uma laridade que as cooperativas têm de envolver as comuni-

Desenvolvimento
organização econômica e social mais justa para o desen- dades”, destaca.
volvimento das comunidades do Estado. “Como vivemos
tempos dinâmicos, que exigem mudanças constantes, pre-

rural é a chave
zaremos pela eficiência na prestação de serviços, no plane-

DIVULGAÇÃO
jamento, na gestão, na participação, no controle, na trans-
parência e no diálogo em nossas ações”, afirma o secretário

da economia
Minetto. O empenho da pasta será para preservar o que está
funcionando bem e aperfeiçoar o que for necessário para o
bem da agricultura familiar e do cooperativismo gaúcho.

estadual
“O desenvolvimento rural é a chave da economia do Es-
tado e temos de ter um olhar diferenciado para o campo”,
diz Minetto. O secretário ressalta que a agricultura familiar
precisa de mais atenção nas áreas de tecnologia, de apoio
de infraestrutura, no caso de energia elétrica. Também são
importantes ações para incentivar a permanência do jovem
no campo e para a sucessão rural, a fim de dar continuida-
de à produção. “Em termos de desenvolvimento, temos as
melhores expectativas, com foco sempre na sustentabilida-
de econômica, social e ambiental”, diz o secretário.

Cooperativas mais fortes


Um dos desafios para as cooperativas agropecuárias é
obter mais qualidade na energia e na infraestrutura para Secretário Tarcísio Minetto

344 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 345
TROCA-TROCA TROCA-TROCA

Santa Helena Sementes A


Santa Helena Sementes confirma sua par-
ticipação no Programa Troca-Troca de Se-
mentes do Governo do Estado do Rio Gran-

confirma participação no
de do Sul neste ano. O projeto, que prevê a distribuição
de sementes de milho para famílias de agricultores cre-
denciados, adquire sementes de empresas participantes
com preços especiais para contribuir com o desenvol-

Programa Troca-Troca
vimento rural.
A empresa, presente a quase 20 anos neste projeto,
espera ampliar sua participação para 2015, explica o
coordenador de Vendas da Regional Sul da Santa He-
lena Sementes, Rogério Druck. “É importante parti-
Empresa oferece híbridos de alta produtividade e boa adaptação para as cipar de iniciativas que contribuem com o produtor
rural e com o desenvolvimento da agricultura, por
condições de produção no Rio Grande do Sul e sementes especificas para a isso fazemos questão de prestar nosso apoio aos pro-
produção de silagem de alta qualidade dutores familiares”.
Produtos de boa qualidade e alto potencial produti-
vo, além de assistência técnica diferenciada no campo,
são responsáveis pelo sucesso da marca nesta iniciativa,
afirma Druck.
“Nossa preocupação é oferecer sempre os melhores
materiais disponíveis adaptados às necessidades dos pro-
dutores da região, por isso todos os anos temos novos silagem de alta qualidade entre as principais caracterís-
híbridos no programa e pretendemos aumentar ainda ticas dos produtos oferecidos pela marca no programa.
mais. Nossos materiais são bem adaptados para o solo e “Temos o cuidado de desenvolver e oferecer apenas ma-
o clima do Rio Grande do Sul”. teriais indicados para as exigências desse ambiente, por
Ele destaca precocidade, rusticidade, elevado teto isso conquistamos a confiança do produtor no decorrer
produtivo e sementes específicas para a produção de dos anos”. ◆

346 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 347
ARTIGO ARTIGO

Importância da agricultura familiar


A agricultura familiar contribui para regular e reduzir os
preços dos alimentos e matérias-primas agropecuárias Importância da agricultura familiar II
Vilson Marcos Testa, Pesquisador da Cepaf/Epagri. É engenheiro agrônomo pela UFSM, especialista

Agricultura familiar pode contribuir para a segurança


em administração rural, mestre em ciência do Solo pela UFRGS e doutorando pela UFRRJ

A
s características, o modo de funcionamento nio, como critério básico para decidir se continua ou não
e as contribuições que a agricultura familiar na agricultura, geralmente ignorando taxas de gestão, alimentar, segurança nacional, defesa do território e
(AF) pode dar ao desenvolvimento de um parte dos direitos dos trabalhadores e o aluguel ou juro
país geralmente é tema pouco conhecido, mesmo em da própria terra, entre outros. para a estabilidade dos governos
universidades, nas instituições de pesquisa e extensão ru- Como exemplo, se os 20 bilhões de litros de leite co-
Vilson Marcos Testa, Pesquisador da Cepaf/Epagri. É engenheiro agrônomo pela UFSM, especialista
ral e nos governos. Dos muitos campos em que ela pode mercializados no Brasil fossem produzidos com mão de em administração rural, mestre em ciência do Solo pela UFRGS e doutorando pela UFRRJ
contribuir, vamos destacar o econômico, o sócio-cultural, obra assalariada, com um trabalhador para cada 20 vacas

N
o ambiental, o de segurança alimentar e o de segurança que produzam 4.500 litros/vaca/ano, tendo salário de R$ a primeira matéria vimos os dados gerais da fronteiras. O contrário ocorre em regiões intensamente
nacional, através da ocupação e defesa do território. 800/mês, os hipotéticos 22.220 trabalhadores necessá- agricultura familiar (AF) brasileira e como as ocupadas pela AF, que têm alta densidade demográfica
Pelo Censo 2006 do IBGE, a AF do Brasil conta com rios, além do salário, teriam direitos a, pelo menos, R$ características e seu modo de funcionamento rural, cujas atividades sócio-culturais, civis e econômi-
4,368 dos 5,175 milhões de estabelecimentos, ocupa 12,32 3.400,00/ano, decorrentes do 13º salário, férias, 60 feria- pode contribuir para o desenvolvimento de um país no cas facilitam e reduzem os custos de manutenção das
dos 16,57 milhões de pessoas, responde por 54,37 dos dos e domingos e uma hora-extra/dia (50% de acréscimo) campo econômico relacionado à produção de alimentos fronteiras. Evidência disso é o alto custo do governo
143,32 bilhões de reais do valor produzido (38%) e utiliza e FGTS. Ou seja, um montante de R$ 75,55 milhões/ano e de matérias-primas de origem agropecuária. Nesta, brasileiro para manter as fronteiras das pouco povoadas
apenas 80,25 dos 329,94 milhões de ha de terras (24%). A seria transferido pela AF a outros setores da sociedade vamos comentar como a AF pode contribuir estrategica- regiões Norte e Centro Oeste, quando contrastada com o
AF toma cerca de 10% do crédito oficial e conta com terras (agentes a jusante da cadeia de produção e consumido- mente para a segurança alimentar, segurança nacional, custo na região Sul, intensamente ocupada pela AF. Além
qualitativamente marginais, dados estes que por si só im- res), sem considerar taxas de gestão e aluguel da terra. defesa do território e para a estabilidade dos governos. disso, em territórios pouco povoados fica facilitado o trá-
pressionam, e muito. Ou seja, com menos e piores terras, A AF transfere mais renda que outros modos de pro- Essa contribuição se dá especialmente através da fico de drogas, de armas, de bens (p.ex, veículos e cargas,
a AF toma uma fração menor do crédito, ocupa uma pro- dução, ainda, através da doação de alimentos e ajuda oferta e da regulação dos preços dos alimentos e das animais, etc), de material genético e mesmo de doenças.
porção maior do pessoal e, mesmo assim, responde por financeira aos demais integrantes da “família estendi- matérias-primas. Os agricultores familiares são nume- Nos casos de doenças, basta lembrarmos que Santa Cata-
uma fração maior do valor produzido. Os críticos dizem da” (filhos, netos, irmãos, tios e outros) que atuam em rosos e, por suas características intrínsecas, geralmente rina é o Estado com maior proporção de AF, e é pioneiro
que o nível de renda dessas pessoas ocupadas é menor outros setores da economia, a maioria no ambiente ur- sua produção é diversificada; no entanto, eles não têm e excelência em defesa sanitária animal no Brasil. Prova
do que em outros modos de produção, e é verdade, mas bano. Estes casos ocorrem com a maioria dos AF. Outra muita capacidade de carregar estoques de alimentos. Por disso é que a última entrada de aftosa no Brasil se deu
não significa que não possa ser igualado, desde que em parcela da AF transfere renda através da hospedagem, isso, eles mantêm a oferta regularizada e diversificada de nas regiões pouco povoadas e não na região Sul do Brasil,
condições equiparadas. Mas no mundo do terceiro milê- em seu domicílio, para pessoas da “família estendida”, seus produtos. Essa contribuição fica mais clara quando onde predomina a AF.
nio é mais difícil, estratégico, importante e urgente alocar o que é mais frequente em regiões rurais de agricultura analisamos a recente crise (2007) ocorrida na Argentina, As especificidades da AF também a qualificam a dar
pessoal com intuito de distribuir renda, e com ela gerar em tempo parcial, ou mesmo para trabalhadores urba- onde a AF tem pouca expressão. Os poucos, grandes e contribuições singulares no campo ambiental. Entre essas
consumo, do que expandir produção, que é mais fácil. nos que residem no estabelecimento rural, recebendo bem organizados produtores rurais argentinos encurra- formas de contribuição podem ser destacadas a adoção
A AF contribui para regular e reduzir os preços dos hospedagem, alimentação, roupa e mesmo os serviços laram o governo, que se viu refém; por sua vez, a popula- de sistemas produtivos energeticamente mais eficientes,
alimentos e matérias-primas agropecuárias e, com isso, pessoais. ção urbana, exposta ao desabastecimento e ao aumento usando menos energia fóssil e mais energia renovável; o
ajuda a controlar a inflação e aumentar a competitivida- Na partilha da herança a AF também transfere renda, dos preços dos alimentos, também pressionou o gover- uso de sistemas que respeitam mais a harmonia ambien-
de industrial, já que reduz o custo dos alimentos dos tra- mas nesse caso, dado aos limites de escala, uma parcela no, que se fragilizou ainda mais. Indiretamente tudo isso tal e entre as espécies, aproveitando as sinergias naturais
balhadores. Esta é uma das formas da AF transferir mais das unidades produtivas familiares pode ser inviabiliza- acabou afetando a segurança nacional daquele país. entre atividades exploradas economicamente; modos de
renda para outros setores de um país, mais do que outros da se não houver a intervenção de política pública espe- Outra forma de contribuição da AF para a seguran- produção orgânica e agro-ecológica, cujos produtos são
modos de produção. Isto se dá porque, na condição de cífica, visando resolver esse “dilema” da herança. ça nacional e a defesa do território pode ser observada mais saudáveis aos consumidores; e, ainda, maior contri-
gestor, trabalhador e proprietário do estabelecimento A contribuição da AF para a segurança alimentar, a também no custo governamental com a segurança do buição para manutenção dos chamados “serviços” pres-
agrícola, a maioria dos agricultores familiares utiliza a segurança nacional e para a estabilização de governos território. Territórios com baixa ocupação populacional tados pela natureza. Mas este é um tema que merece ser
remuneração mínima do seu trabalho e do seu patrimô- será abordada na próxima matéria. ◆ implicam em custos maiores para manutenção de suas tratado de forma mais detalhada oportunamente. ◆

348 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 349
ARTIGO ARTIGO

para mover as indústrias e abastecer os meios de trans- nas e equipamentos de pequeno porte. Atualmente já é
porte ficou diante de uma encruzilhada: usar suas divisas comum a exposição e demonstração desses produtos em
para a importação de petróleo ou de alimentos. feiras, exposições agropecuárias e dias de campo.
A decisão foi manter a importação do combustível Como ação integrante da Semana Nacional de Ciên-
fóssil e criar um programa de incentivo ao aumento da cia e Tecnologia o Governo do Distrito Federal (GDF),
produção de alimentos. Para tanto, o governo resolveu por meio da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimen-
ampliar as pesquisas agropecuárias criando a Empresa to Rural (SEAGRI) e da Emater-DF, em parceria com a
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pro- Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal
gramas de colonização e desenvolvimento agrícola no (COOPA-DF), com o Banco de Brasília (BRB) e com o
Brasil Central. Sebrae-DF, realizou em outubro do ano passado, o Dia
Mecanização agrícola na agricultura familiar Nesses programas os produtores rurais receberam
recursos amplos para a aquisição de máquinas e equi-
Especial de Mecanização Agrícola para a Pequena Pro-
priedade, no Parque Ivaldo Cenci, onde todo ano, em
pamentos visando à abertura de novas áreas, correção maio é realizada a Feira AGROBRASÍLIA.
Com a redução da expansão da área plantada nas e preparo do solo, plantio, pulverização e colheita. De- Nesse evento foram demonstradas máquinas e equi-
senvolveu-se rapidamente a indústria nacional de má- pamentos para as mais variadas atividades nas pequenas
regiões de fronteira agrícola e programas como quinas, em especial, os fabricantes de tratores, grades, propriedades, como micro tratores e tratores de baixa

o Pronaf, com financiamento para máquinas e semeadoras e colhedoras de médio e grande porte. O
desenvolvimento e a produção de máquinas e equipa-
potência; encanteiradoras, enlonadoras de canteiros, se-
meadoras e transplantadoras de hortaliças; ceifadoras,

equipamentos, as indústrias passaram a dar maior mentos para pequenas propriedades foram relegados ao
segundo plano.
revolvedoras e enfardadoras para fenação; guinchos, lâ-
minas e perfuradores hidráulicos; semeadoras hidráuli-

atenção para este mercado O preparo intensivo do solo com arados e grades para
o plantio expôs os solos à erosão causando grandes per-
cas de grãos; entre outros.
A aquisição dessas máquinas e equipamentos conta
Ronaldo Trecenti- Engenheiro agrônomo, MSC., Especialista em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
das de solo e água. Para estancar esse processo severo de hoje com linhas de crédito muito atrativas e vantajosas
e Sistema de Plantio Direto Campo Consultoria e Agronegócios empobrecimento surgiu o Plantio Direto onde a semea- para os agricultores familiares, porém, ela deve ser pla-
dura é realizada sobre os restos culturais do cultivo an- nejada, isto é, precedida de um projeto elaborado por

A
visão da potencialidade da agricultura bra- de mão de obra para o seu desenvolvimento, com o tra- terior, sem revolvimento do solo. Essa técnica provocou técnico competente, considerando: o tamanho da área; os
sileira remonta da época do descobrimento, balho árduo braçal realizado de sol a sol no campo. uma mudança profunda no perfil da produção de má- cultivos a serem desenvolvidos em função do mercado; o
mesmo antes da atividade ser iniciada no Com o início do processo de industrialização e a con- quinas pela indústria nacional. Novamente a indústria dimensionamento da potência e da configuração das má-
país, quando Pero Vaz de Caminha relata na Carta es- sequente migração da população rural para os centros priorizou o mercado de larga escala para atender médias quinas em função das áreas a cultivar e das operações a
crita ao Rei de Portugal Dom Manuel “Águas são muitas; urbanos, as propriedades rurais tiveram que adotar má- e grandes propriedades. realizar, dentre outros fatores. Mesmo pequenas, algumas
infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a quinas agrícolas para substituir a mão de obra utilizada Com a redução da expansão da área plantada nas regi- máquinas podem ser muito onerosas para serem adquiri-
aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que nas atividades de produção de alimentos e produtos para ões de fronteira agrícola e consequente redução da deman- das individualmente, além de que podem tornar-se ocio-
tem”. Mais tarde esse trecho é celebrizado na frase “Em exportação, especialmente o café. da de máquinas de médio e grande porte e com a criação sas devido ao seu uso reduzido durante uma safra.
se plantando tudo dá”. Nessa época tínhamos 80% da população brasileira de programas governamentais de incentivo à agricultura Destaca-se a importância fundamental dos produtores
A agricultura brasileira deu os seus primeiros passos residindo no meio rural e 20% nas cidades e o abasteci- familiar, especialmente o Programa Nacional de Apoio ao de pensar e agir em grupo, isto é, por meio de associações
como atividade produtiva com o processo de coloniza- mento alimentar estava assegurado com a produção de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com fi- e cooperativas, para dar viabilidade à aquisição coletiva,
ção, por meio da instalação das Capitanias Hereditárias, alimentos em terras naturalmente férteis. nanciamento para a aquisição de máquinas e equipamen- não só de máquinas e equipamentos, mas também de in-
onde grandes extensões de terras foram cedidas a ami- Na década de 1970 a população brasileira crescia a ta- tos paras as pequenas propriedades, as indústrias passa- sumos e serviços. Essa união também possibilita a forma-
gos do Reino, para a criação de animais e para a produ- xas elevadas e a demanda por alimentos superava a capaci- ram a dar maior atenção ao desenvolvimento e produção ção de escala facilitando a comercialização da produção.
ção de grãos visando dar suporte alimentar às atividades dade de produção no campo, que já ocupara todas as áreas de máquinas e equipamentos para este mercado. Dessa forma a mecanização agrícola terá viabilida-
extrativistas do Pau-Brasil. férteis. O Brasil passou a importar alimentos para garantir Com a criação do Pronaf Mais Alimentos e do Progra- de e poderá ser adotada amplamente pela Agricultura
Posteriormente vieram outras atividades produtivas o abastecimento da população, que já contava com 50% do ma de Aquisição de Alimentos (PAA) pelo Governo Fe- Familiar, melhorando a renda e a qualidade de vida no
que também predominaram durante certo período de seu contingente residindo nos centros urbanos. deral, com destaque aos alimentos que compõem a cesta campo, trazendo um novo horizonte para a juventude
tempo, passando a ser denominadas de ciclo. Houve en- No início dessa mesma década o Brasil teve que en- da merenda escolar, a produção pela Agricultura Familiar rural, com perspectivas promissoras de um futuro, onde
tão o ciclo da borracha, o da cana-de-açúcar e o do café. frentar a primeira crise mundial do petróleo e o país que ganhou um forte impulso e despertou maior atenção da possam dignamente continuar produzindo para alimen-
Todas essas atividades tiveram em comum o uso maciço era grande importador dessa fonte de energia utilizada indústria nacional para a produção, em escala, de máqui- tar a nossa crescente população urbana. ◆

350 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 351
ARTIGO ARTIGO

Agricultura familiar:
uma agenda estratégica
para a nação brasileira
Altemir Tortelli, Deputado estadual (PT-RS)

Q
uando olhamos para o passado da agricultura Não é de hoje que vêm ocorrendo muitas e bruscas al- Olhando por si só, essas mudanças foram muito be- daí, a luta social garantiu também a criação do seguro
familiar, temos clareza do quanto avançamos. terações na agricultura familiar. Praticada de forma bra- néficas, pois tiraram a penosidade do trabalho. Porém, agrícola, além de políticas de compras de produtos da
Porém, cabe sempre olhar para frente e anali- çal, com bois e arado, carroça e trilhadeiras, essa forma trouxeram consigo uma série de questões maléficas, agricultura familiar, agroecologia, assistência técnica,
sar os cenários que se desenham. Estudos e fatos apontam de organização social, cultural, econômica e ambiental como o êxodo rural, quimificação e envenenamentos comercialização e assim por diante.
as megatendências mundiais que impactarão na vida de - na qual são trabalhadas atividades agropecuárias e não de pessoas, animais e mananciais de água. No geral, Outra conquista para os agricultores e as agri-
todos, incluindo quem vive e trabalha no campo. Dentre agropecuárias de base familiar - passou a assumir um as transformações aumentaram a produtividade, muito cultoras familiares foi a entrada em vigor da Lei
elas estão: o envelhecimento e a migração para os centros formato diferente, substituindo esses meios por tratores, embora sem se preocuparem com uma série de impor- 11.326/2006. Conhecida como “Lei da Agricultura Fa-
urbanos; a nova ordem econômica mundial, com a Chi- colhedora, plantio direto, uso de venenos e insumos. tantes fatores, como a preservação do ecosssitema. miliar”, ela estabeleceu as diretrizes para a formulação
na e Índia crescendo e União Europeia e Estados Unidos Em meio a tantas alterações, a agricultura familiar da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empre-
caindo; a escassez de recursos naturais, como água e pe- não perdeu a sua função estratégica de produção de ali- endimentos Familiares Rurais no Brasil. O dispositivo
tróleo; o aquecimento global e a elevação dos níveis do mentos, gerando segurança e soberania alimentar para legal reconheceu a importância social e econômica
mar; e, por fim, a disseminação do uso da Internet. a Nação. Observando o cenário e todos os seus aspec- da agricultura familiar por meio de políticas públicas
Em contrapartida, o potencial da agricultura fami- tos, ela apresenta uma série de vantagens em relação à permanentes, seja de crédito, assistência técnica, co-

DIVULGAÇÃO
liar no enfrentamento a esse cenário reside na produ- agricultura empresarial, como ocupação de menor área mercialização de seguro agrícola e igualdade para as
ção de alimentos combinada com a preservação am- de terra com maior número de famílias, bem como pro- mulheres, por exemplo.
biental e a possibilidade de obter renda com isso. Ou dução de alimentos ao invés de commodities, geração de Os números dimensionam a necessidade de manter
seja, é o momento de transformar um momento de cultura própria, entre outros. e ampliar essas políticas: os agricultores familiares res-
crise em oportunidade. Um grande questionamento é: quem mais ganhou pondem por 84,4% dos estabelecimentos do país, ocu-
Se confirmadas essas tendências, as demandas da com estas mudanças? Podemos afirmar que o conjunto pando 24,3% da área cultivada e empregando 74,4% da
agricultura familiar se reordenarão e caberá cada vez de empresas que monopolizam as tecnologias, conheci- mão de obra do setor agropecuário. Responde, ainda,
mais a necessidade de uma agenda estratégica. Agenda mentos e maquinários. Os grandes monopólios acabam por 9% (R$ 173,47 bilhões) do Produto Interno Bruto
esta que envolve o papel do Estado, dos governos e das apresentado um receituário pronto para agricultura, (PIB) total do país, sendo responsável por 32% do PIB
políticas públicas na construção de um desenvolvimento envolvendo insumos, logística, armazenagem, agroin- do agronegócio brasileiro.
sustentável e solidário. dustrialização e comercialização, deixando o sujeito Os agricultores e agricultoras familiares, quando de-
A necessidade de políticas estruturantes de conso- “agricultor familiar” como um empregado rural sem vidamente atendidos por ações elaboradas pelo governo,
lidação da agricultura familiar como produtora de ali- direitos trabalhistas. em parceria com as suas organizações representativas,
mentos e a garantia de segurança e soberania alimentar Vale destacar que a evolução da agricultura familiar podem e devem ser os principais atores na erradicação
inclui avanços na produção de tecnologias que impulsio- no Brasil se deu principalmente pelo aporte de políticas da fome e na conservação dos recursos naturais e da
nem e favoreçam o trabalho e a produção. Também será públicas criadas e recursos aplicados pelo Estado para biodiversidade. É somente por meio dela que é possível
preciso continuar cobrando a postura dos governos no tal. Em 1994, foi criado, pela força da mobilização social, ampliar a produção sustentável de alimentos para todos
sentido de amenizar as mudanças climáticas e suas con- o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultu- os brasileiros, e com produtos de qualidade, erradicando
sequências drásticas para o ser humano. Altemir Tortelli ra Familiar (PRONAF), a juros de 16% ao ano. A partir a fome e conservando os recursos naturais. ◆

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EMBRAPA EMBRAPA

Carlos, foi licenciada para produção em escala indus- “Geralmente é isso que ocorre, quando não se usa
trial e comercialização. nenhum método ou tecnologia - irrigar em excesso até

Tecnologias de baixo custo


O diretor da Tecnicer, Luis Fernando Porto, acredita a superfície do solo ficar encharcada para se ter certeza
que os sensores de Diedro e IG chegarão ao mercado a que não falta água para a planta”, explica Calbo.
preços que variam entre R$10,00 e R$150,00, enquanto A falta ou excesso de água no solo pode trazer impli-

evitam desperdício de água


aparelhos similares custam quase R$ 500,00. A empresa cações graves ao produtor. Calbo lembra que água de-
- que conquistou um prêmio do governo federal em 2014 mais pode levar à falta de oxigênio na raiz da planta e
entre as 20 mais inovadoras do país - está trabalhando ainda causar doenças. Com irrigação insuficiente, a água
para aperfeiçoar os sensores e disponibilizá-los até o fi- pode ficar retida fortemente no solo e inibir o crescimen-
nal do primeiro semestre deste ano. to e reduzir a produtividade.

U
ma solução tecnológica para economizar são destinados à irrigação de plantas em campo, labora- A empresa vai oferecer o sensor Diédrico - que pode “Os aparelhos poderão ajudar na economia de água
água na hora de irrigar está prestes a ajudar tório, em casas de vegetação ou jardinagem. ser de leitura visual, pneumático ou elétrico e funciona e tempo, além de influenciar na forma de manejo da irri-
agricultores familiares, donas de casa e até Outra vantagem apontada por Calbo é que os sen- como um termômetro comum para medir a umidade do gação das hortaliças”, disse o produtor Josué Luiz Pereira,
mesmo interessados para fins de pesquisa. Ainda no sores servem para qualquer tipo de cultura, podem ser solo e substratos -em duas versões - fixo e portátil. O fixo ao tomar conhecimento da tecnologia.
primeiro semestre de 2015, os consumidores de todas adaptados a todas as regiões do país, são eficazes em pe- é indicado para utilização no campo, em casa de vegeta-
as regiões do Brasil contarão comos sensores simples e ríodos de chuvas e em épocas de estiagem. ção e em jardinagem. Gotejamento
de baixo custo, que podem ser usados no campo ou na Já o sensor portátil é destinado para leituras na su- O sensor IG será disponibilizado em três versões. Em
cidade, e já estão em processo de produção industrial. Vidro, cerâmica e resíduos plásticos perfície do solo, pode ser usado em casas de vegetação versão miniatura, o sensor IG funciona em conjunto com
De acordo com o pesquisador da Embrapa Instru- As duas tecnologias, produzidas com placas de vi- e em jardinagem. O sensor é pequeno – cabe na palma um irrigador comercial, que a empresa Acqua Vitta Flo-
mentação (São Carlos, SP), Adonai Gimenez Calbo, que dro, cerâmica e até com o reaproveitamento de resíduos da mão e ainda faz a medição em menos de um minuto, ral, de Bauru (SP), está adaptando para atuar de forma
esteve à frente da equipe responsável pelo desenvolvi- plásticos, como garrafas pets, no caso de novos rega- além de não exigir manutenção. automática. O sensor em solo seco se torna permeável ao
mento, os sensores Diédrico e IG indicam a quantidade dores automáticos de uso doméstico, serão oferecidas. ar e libera automaticamente o gotejamento, sem deixar a
de água no solo, não exigem nenhuma fonte de energia e A empresa Tecnicer Tecnologia Cerâmica Ltda., de São Contra o excesso planta sofrer por falta de água. É mais indicado para uso
Os aparelhos poderão ajudar produtores rurais como em vasos e mini-hortas.
Josué Luiz Pereira, que utiliza de 400 a 500 mil litros de O sensor IG utilizado no regador doméstico auto-
água – diariamente - para produzir 960 caixas/dia de mático determina a faixa de umidade do solo medi-

SAMUEL VASCONCELOS
hortaliças, sem saber, no entanto, se as plantas estão re- da em uma escala de tensão ou força com que a água
cebendo uma irrigação adequada ou não. está retida. “Quando o solo está seco, o ar atravessa
É muito provável que para cultivar brócolis, alface, o sensor e pode acionar a irrigação. Caso o solo es-
couve, rúcula, salsinha e cebolinha em seus cinco hecta- teja úmido, a água retida entre as esferas interrompe
res, no sítio Rancho Primavera, na periferia de São Car- a passagem do ar e, consequentemente, a irrigação”,
los, Josué esteja usando água em excesso, de três a quatro explica o pesquisador.
vezes mais além do necessário, como deduz o pesquisa- Já os sensores IG de uso agrícola para leitura em ape-
dor Adonai Gimenez Calbo. nas uma profundidade serão fabricados com especifica-
ções técnicas diferenciadas para o manejo de irrigação
de frutas, hortaliças, entre outras aplicações agrícolas.
A terceira versão é o IG Dual para leitura em duas

JOANA SILVA
profundidades, é destinado para instalação vertical nas
profundidades de 30 e 60 cm. As duas versões - para
uma e duas profundidades - seguem o mesmo modo de
funcionamento do IG para irrigação doméstica, mas são
destinadas ao uso agrícola.
Os sensores de Diedro e IG também chamaram a
atenção de empresas internacionais. A americana Irro-
meter Company Incassinou contrato com a Embrapa
Sensor de baixo custo evita desperdício de água Sensor diédrico para medir a umidade do solo e substratos
para produção das duas tecnologias. ◆

354 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 355
EMBRAPA EMBRAPA

Agricultores viram
‘produtores’ de água no
Distrito Federal
N
os anos de 2013 e 2014, aproximadamente abastece 84 propriedades rurais, e pela Companhia de ativamente nos Grupos de Trabalho de “Conservação (ANA), Agência Reguladora de Águas e Saneamento
140 mil mudas de árvores nativas do Cer- Abastecimento e Esgoto de Brasília – Caesb para o for- de Solo”, “Reflorestamento”, “Canal Santos Dumont” e do Distrito Federal (Adasa), Ministério da Integração
rado foram plantadas na Bacia do Ribeirão necimento de 180 mil habitantes das cidades de Planal- “Monitoramento”. “O papel da Embrapa é aproximar o Nacional - Superintendência de Desenvolvimento do
Pipiripau, no Distrito Federal, restaurando Áreas de Pre- tina e Sobradinho. conhecimento científico de ações que envolvem a gestão Centro-Oeste (Sudeco), Embrapa Cerrados, Compa-
servação Permanente e de Reserva Legal. Cerca de mil do território e a sua integração com os recursos hídricos. nhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
hectares já foram beneficiados com práticas conserva- Benefícios das práticas Além de levar conhecimento aos diferentes atores que (Caesb), Secretaria da Agricultura (Seagri-DF), Secre-
cionistas, entre elas, construção de terraços, barraginhas Controle da erosão, redução da necessidade de repo- atuam no Programa, as ações do Projeto Pipiripau têm taria de Estado de Meio Ambiente (SEMA-DF), Ema-
e readequação de estradas vicinais. Essas ações fazem sição de nutrientes, manutenção de estradas, aumento servido para orientar e subsidiar pesquisas voltadas ao ter-DF, Ibram, Departamento de Estradas e Rodagem
parte do Programa Produtor de Água (PPA), desenvol- da disponibilidade de água para as culturas, menor custo desenvolvimento rural sustentável”, explica o pesquisa- (DER-DF), Terracap, Banco do Brasil, Fundação Banco
vido pela Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria para manutenção de estradas são alguns dos benefícios dor Jorge Werneck, representante da Embrapa na Unida- do Brasil, Conselho Nacional do Serviço Social da In-
com instituições públicas, privadas e organizações do advindos do uso das práticas conservacionistas. de Gestora do Projeto Pipiripau. dústria (Sesi), Fundação da Universidade de Brasília,
terceiro setor. Na propriedade do produtor Daniel Pires, do Nú- Na bacia do Ribeirão do Pipiripau, o Projeto conta The Nature Conservance (TNC), WWF-Brasil, e a Rede
O Programa Produtor de Água tem como objetivo cleo Rural Taquara, no Distrito Federal, a construção com 18 parceiros. São eles: Agência Nacional de Águas Sementes do Cerrado. ◆
a melhoria da quantidade e da qualidade da água de do terraço na área de pastagem já evitou a enxurrada
bacias hidrográficas com predominância de atividades e a consequente erosão. Como também o assoreamento
agropecuárias. O programa, de adesão voluntária, pre- do rio. “Tinha um problema sério de erosão, o que exi-
vê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de gia manutenção anual da estrada no final das chuvas. O
conservação da água e do solo em áreas rurais. Os pro- que mais me deixava triste era ver aquela quantidade
dutores rurais que contribuem para a proteção e recu- imensa de chuva descendo até a minha porta, era um
peração de mananciais, gerando benefícios para outros sentimento de culpa e de prejuízo. Depois do terraço,
usuários dos recursos hídricos da bacia, recebem o Pa- após a chuva, a gente não vê mais água, é sinal de que ela
gamento por Serviços Ambientais (PSA). Na Bacia do está descendo para o subsolo, vai ser armazenada e será
Pipiripau, dos 120 produtores envolvidos em ações do usada no futuro”, comenta.
Programa, 23 deles já recebem, em média, R$ 180,00/ Para os produtores rurais da bacia, além das vanta-
hectare pelo PSA. gens obtidas pelo uso das práticas conservacionistas, a
A escolha da Bacia do Pipiripau para a implanta- adequação ambiental de suas propriedades tem propicia-
ção do Programa Produtor de Água foi motivada pela do, por vezes, as condições necessárias para a obtenção
existência de conflito pelo uso da água entre os setores de licenças e certificados imperativos para acesso ao cré-
agrícola e de abastecimento público, principalmente no dito. A satisfação e aumento da autoestima dos produ-
período mais seco do ano. Da área total da bacia (24 mil tores que passam a fornecer alimento para a população
hectares), cerca de 70% é ocupada para fins agropecuá- com o mínimo impacto ao meio ambiente também têm
rios, destacando-se a produção de hortifrutigranjeiros, destaque entre os benefícios gerados com o PPA.
grãos (soja, milho e feijão) e carnes. Da Bacia do Pipi- A Embrapa Cerrados (Planaltina,DF), além de par-
ripau é captada água para o Canal Santos Dumont, que ticipar da Unidade Gestora do Projeto Pipiripau, atua

356 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 357
DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
Nesses locais, nós aplicamos uma menor lâmina de
irrigação”, explica Bassoi.
A fórmula parece simples – e realmente é. Mas para
a identificação das partes com maior ou menor arma-
zenamento de água no solo, é preciso realizar um levan-
tamento sistemático da área. Segundo o pesquisador,
neste caso, aplicar o conceito da Agricultura de Preci-
são não exigiu a aquisição de equipamentos sofistica-
dos ou aumento dos custos e de mão de obra, apenas
ajustes em algumas operações, parte delas já realizadas
pelos produtores.
As análises com uva de mesa no Vale do São Francis-
co mostraram que foi possível obter uma redução de até
0,8 m³, ou 800 litros, de água por planta em determina-
das partes da área, em um ciclo de produção de cerca de
115 dias. “Essa redução pode parecer pequena, mas se

Agricultura de Precisão pode considerarmos que ela se deu apenas em uma parcela de
1,6 hectares, com 1.840 plantas, podemos imaginar o vo-
lume de água que ainda pode ser economizado em uma

reduzir uso de água nas culturas área maior, de cerca de 50 hectares cultivados, como é o
caso da fazenda onde realizamos o experimento”, avalia
o pesquisador. ◆ Pesquisador da Embrapa Luís Henrique Bassoi

E
la parece ser um bem abundante nas bordas Esse é o princípio da Agricultura de Precisão, uma
e arredores do rio São Francisco. Aliada ao forma inovadora de gerenciamento da atividade agríco-

DIVULGAÇÃO
calor permanente e à aplicação de tecnologias la que auxilia o produtor a decidir onde e como realizar
permite que o Semiárido nordestino abrigue um dos determinadas práticas, levando em consideração que,
maiores polos de fruticultura do Brasil. Mas o fato é que mesmo dentro de uma pequena área, existem diferen-
a água, seja onde e como for, precisa ser usada com bas- ças quanto aos fatores do solo e da planta que podem
tante cautela. influenciar a produção.
A irrigação no Vale do São Francisco já vem sendo Uma parte da área pode, por exemplo, apresentar
utilizada há décadas, e durante o ano inteiro. De acordo mais ou menos água retida no solo quando comparada
com o pesquisador Luís Henrique Bassoi, da Embrapa às demais. Ou as plantas, em dada parcela, apresentam
Semiárido (Petrolina, PE) seu manejo inadequado pode maior ou menor teor de nitrogênio nas folhas. Os fatores
ter como consequências desde a perda de nutrientes para a serem levados em consideração dependem de cada cul-
as maiores profundidades do solo – longe do alcance das tura ou sistema de produção.
raízes das plantas – até a elevação do lençol freático, con- Para as fruteiras do Vale do São Francisco, culti-
tribuindo ainda para o aparecimento da salinidade, pois vadas sob condições de irrigação, a umidade do solo
muitas áreas irrigadas têm problemas de drenagem. está entre os fatores mais importantes. Um experi-
A boa notícia é que a presença de alta umidade em mento realizado pela Rede de Agricultura de Preci-
algumas áreas do solo, comum em função da prática são da Embrapa em uma fazenda produtora de uvas
constante da irrigação, pode ser aproveitada para, até de mesa em Petrolina, identificou diferenças quanto à
mesmo, diminuir a quantidade de água aplicada às cul- drenagem do solo em uma área de apenas 1,6 hectare.
turas. Para isso, é preciso estar cercado de informações “O produtor observou que algumas partes da área ti-
e conhecimentos que subsidiem uma escolha criteriosa. nham maior quantidade de água armazenada no solo. Uso da Agricultura de Precisão otimiza o uso da água irrigada na produção de uvas de mesa

358 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 359
ARQUIVO EMBRAPA RORAIMA
EMBRAPA EMBRAPA

Cultivo de alimentos nas M


ais produtiva entre as oleaginosas, produ-
zindo até dez vezes mais óleo por hecta-
re que a soja, o dendê, também chamado
palma de óleo, pode ser consorciado com o plantio de
hectares de palma de óleo plantados. Destes, 400 são
provenientes da agricultura familiar, com 54 pequenos
produtores envolvidos.

entrelinhas viabiliza dendê alimentos e melhorar a qualidade do solo, garantindo


renda e alimentação ao produtor nos três primeiros anos
em que o dendezeiro ainda não produz.
Principais sistemas de cultivos
As pesquisas trazem resultados positivos sobre a
aplicação do sistema de cultivo da palma de óleo com

na agricultura familiar
Segundo Admar Bezerra, agrônomo da Embrapa cultivos intercalares, principalmente nos primeiros anos
Roraima (Boa Vista, RR), o preparo de cultivos entre as de plantio. No Amazonas, Raimundo Rocha avaliou
linhas de plantio dos dendezeiros − as entrelinhas − cria consórcios com banana, mandioca e abacaxi. Esses três
uma alternativa de renda no início do plantio. “O agricul- sistemas foram comparados com o plantio do dendê sol-
tor familiar tem que buscar cultivos alternativos enquan- teiro, em monocultivo. As configurações foram avaliadas
to espera a primeira safra da palma”, explica. Devido à com e sem calagem, no período de três anos.
grande produtividade, o dendê pode ocupar espaços me- O consórcio palma e abacaxi apresentou o melhor
nores e aproveitar áreas alteradas ou degradadas. desempenho, proporcionando amortização de 100%
Pesquisadores da Embrapa desenvolveram sistemas dos custos de implantação e manutenção do sistema em
de cultivo para a cultura do dendê em Roraima. Essas três anos. Os sistemas palma/banana e palma/mandioca
tecnologias aliam consórcios de culturas de grãos como amortizaram 86,7% e 64,5% dos investimentos, respecti-
milho, feijão-caupi e amendoim, de fruteiras como ba- vamente, no mesmo período.
nana, mamão e abacaxi, e também de mandioca. As pes- De modo geral, as culturas intercalares contribuí-
quisas buscam viabilizar diferentes arranjos produtivos ram significativamente para melhoria da fertilidade do
com o dendê, utilizando culturas anuais e perenes em solo e para o desenvolvimento da palmeira. Segundo
sistemas consorciados. Rocha, se corretamente manejado, o dendezeiro atinge
“A parceria do sistema empresarial com a agricultura seu auge no sétimo ano, com média de 25 toneladas por
familiar se torna ainda mais vantajosa quando o sistema hectare, garantida até o 18º ano, quando a produção co-
de manejo da palma de óleo é intercalado com cultu- meça a declinar.
ras alimentares na fase pré-produtiva”, afirma Raimun- Dentre os sistemas avaliados, os que favoreceram o
do Rocha, agrônomo da Embrapa Amazônia Ocidental crescimento vegetativo do dendê foram os consorciados
(Manaus, AM). Esses cultivos promovem segurança com feijão-caupi/milho, amendoim e mandioca, mos-
alimentar e influenciam positivamente na amortização trando-se também economicamente viáveis para a agri-
do custo de implantação dos sistemas, além de oferecer cultura familiar na região.
maior proteção ao solo e permitir exploração contínua.
Além de apresentar as condições climáticas e de Preservação da floresta
vegetação ideais para a adaptação da cultura, a região O agricultor familiar Cícero Maia tem uma pequena
Norte está inserida no Programa de Produção Sustentá- propriedade em São João da Baliza (RR). Ele cultiva den-
vel de Óleo de Palma, criado em 2010 pelo governo fe- dê há três anos e, enquanto espera a produção da oleagi-
deral. A iniciativa tem como objetivos a preservação da nosa, já fez a colheita de mandioca e abacaxi. O produtor
vegetação nativa, a produção integrada com os pequenos diz que a diversificação nas entrelinhas do dendê traz be-
produtores e o aproveitamento das áreas degradadas da nefícios para ambos os cultivos, tanto o das entrelinhas
Amazônia Legal. Tudo com base nas delimitações do zo- quanto o principal. “Conseguimos plantar várias cultu-
neamento agroecológico do dendezeiro, realizado pela ras que estão produzindo bem, sem afetar o desenvolvi-
Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ). mento do dendê”, afirma.
O Pará lidera a produção de dendê no Norte, com O pequeno produtor é um dos 57 agricultores que
grandes empresas trabalhando em conjunto com agri- participam do Projeto Dendê na Agricultura Familiar,
cultores familiares. Em Roraima, uma parceria com a desenvolvido pela Embrapa Roraima em convênio com o
empresa privada Palmaplan é responsável por 2.600 Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e partici-

360 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 361
EMBRAPA EMBRAPA

pação das empresas de biodiesel Brasil BioFuels S/A, em farmacêuticos e biocombustíveis. De acordo com a orga- indica que 1.124 famílias estão integradas à dendeicul- a polinização e a diversidade de fauna e flora em função
São João da Baliza, e Palmaplan, em Rorainópolis (RR). nização World WideFund for Nature (WWF), esses óleos tura por meio de contratos com a iniciativa privada no da técnica de preparo da área e do arranjo de espécies
O gerente administrativo da Palmaplan, Alexandre estão presentes em 50% dos produtos industrializados estado. Para garantir a segurança alimentar nesse seg- agrícolas e florestais. De acordo com o pesquisador Os-
Borba, conta que foi firmado contrato de 25 anos com encontrados em supermercados. mento, a Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA)de- valdo Kato, os resultados têm comprovado que os siste-
os agricultores locais. “A cultura da palma é intensiva, A exploração comercial da palma de óleo teve início senvolve ações de pesquisa e transferência de tecnologia mas favorecem a biodiversidade do solo, da vegetação e
necessitando de um agricultor para cada oito hectares, em plantações do Extremo Oriente, inicialmente para para integrar o cultivo do dendê a culturas alimentares e da fauna, e aumentam a produção de biomassa aérea e a
além de trabalhadores para a colheita. Isso consolida a produção de sabão. Com o crescimento da demanda, as a sistemas agroflorestais (SAFs). matéria orgânica do solo, reduzindo a perda de nutrien-
necessidade de mão de obra por pelo menos 25 anos. Por plantações expandiram para Malásia e Indonésia. Hoje, As iniciativas são desenvolvidas em parceria com tes e de água.
isso, podemos dizer que é uma relação de troca”. esses países respondem por aproximadamente 85% da empresas dendeicultoras, principalmente na região Manoel do Carmo, 52 anos, é um dos agricultores
produção mundial. Ao Brasil cabe apenas 0,5% da pro- nordeste paraense, polo de expansão da cultura no familiares de Tomé-Açu que alia o dendê aos SAFs. Ele
Dendê em números dução, importando mais da metade do óleo de palma ne- Estado. Dados da Embrapa mostram um crescimento diz que a cultura veio somar, e não substituir atividades.
O dendezeiro é uma palmeira originária da África cessário à indústria nacional. Os maiores consumidores da área plantada de 60 mil hectares, em 2008, para Com um total de 40 hectares, incluídas as áreas de pre-
Ocidental, introduzida no continente americano no sé- estão na Ásia, especialmente China, Índia e Paquistão, e 160 mil hectares, em 2013, com destaque para os mu- servação permanente e reserva legal, o agricultor está
culo 16. Seu fruto produz dois tipos de óleo, o de den- na Europa. nicípios de Tomé-Açu, Moju, Acará, Tailândia e Con- orgulhoso. “Planto pimenta-do-reino, cupuaçu, açaí, ca-
dê ou de palma, extraído do mesocarpo do fruto, e o de córdia do Pará. cau, pupunha, maracujá, banana e dendê. Tenho possibi-
palmiste, extraído da amêndoa. Segundo a Fundação Pará também testa integração do dendê com Em Tailândia, a Embrapa implantou unidades de ob- lidades de renda o ano todo”, afirma. ◆
Joaquim Nabuco, cerca de 80% da produção mundial é outros cultivos servação em duas áreas de agricultores, onde o dendê é
destinada à indústria alimentícia. Os 20% restantes, re- O plantio do dendezeiro tem crescido no Pará, em avaliado em consórcios com arroz, milho, feijão-caupi e
presentados pelo óleo de palmiste, são usados como ma- especial nas áreas de agricultura familiar. A Associação mandioca, em sistemas de plantio intercalares. Nessas
téria-prima na indústria de cosméticos, sabão, produtos Brasileira de Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma) unidades, são utilizadas as tecnologias de plantio di-

ARQUIVO EMBRAPA RORAIMA


reto agroecológico (preparo de área com a palhada de
espécies leguminosas de rápido crescimento), sistema
bragantino (consórcio de culturas alimentares) etrio da
produtividade (conjunto de técnicas e boas práticas agrí-

ARQUIVO EMBRAPA RORAIMA


colas de preparo do solo, plantio e manejo para aumentar
a produtividade da mandioca). Realizado em parceria
com o agricultor familiar e a empresa Belém Bioenergia
Brasil, o trabalho já foi apresentado a 65 agricultores da
região em dois dias de campo.
Unidades demonstrativas em áreas de produtores
foram implantadas também em Tomé-Açu, Concórdia
e Moju, associando o dendê ao trio da produtividade.
O pesquisador Raimundo Brabo explica que o objetivo
é reduzir o custo de implantação do dendê e promover
a segurança alimentar. Nesses locais, 88 agricultores fo-
ram beneficiados com as informações geradas nas uni-
dades, em parceria com a empresa Biopalma.
Em Tomé-Açu, o dendezeiro é plantado em siste-
mas agroflorestais, combinação testada nas proprie-
dades em conjunto com a Natura. As unidades de-
monstrativas, onde são feitas avaliações de serviços
ambientais, foram instaladas em 2008, mas o municí-
pio tem tradição de plantio em sistemas agroflorestais
desde os anos 1960.
O trabalho avalia o impacto dessa combinação sobre
Produtor Cícero Maia
a ciclagem de carbono e nutrientes, a qualidade do solo, Cultivo de abacaxi nas entrelinhas de dendê

362 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 363
EMBRAPA EMBRAPA

Pesquisa vai mapear castanhais conhecer melhor os atores da cadeia produtiva, colhendo
informações importantes desde a produção até a comer-
cialização do produto. Hoje, mais de 55 mil pessoas têm
Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) e Embrapa Ro-
raima (Boa Vista, RR), além de instituições como Instituto
Chico Mendes, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô-

nativos e caracterizar sistemas de seu sustento baseado no extrativismo da castanha, o que


gera a necessidade de conhecimentos sobre os diferentes
nia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário

produção da castanha-do-brasil
tipos de organização social das comunidades e suas rela- e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), Universidade
ções comas áreas onde são coletadas as castanhas. Outra Federal do Acre, Universidade Federal de Viçosa, Univer-
ação importante do projeto é definir os principais fatores sidade de Brasília e Universidade Federal do Amapá.
formadores do preço do produto nas regiões estudadas.

B
ela e imponente, a castanheira-do-brasil (Ber- contribuir para o fortalecimento da cadeia de valor da De acordo com a líder do projeto, a pesquisadora Castanheira-do-brasil
tholletia excelsa) é uma das árvores-símbolo castanha-do-brasil. da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus, AM) Kátia A árvore ocorre em terras altas de toda a Bacia Ama-
da Amazônia e tem merecido atenção especial O projeto tem um longo nome, “Mapeamento de Emídio, o trabalho terá duração de 48 meses, e as in- zônica. Além do aproveitamento dos frutos, tem aptidão
da pesquisa devido a sua importância social, ecológica e Castanhais Nativos e Caracterização Socioambiental e formações coletadas serão importantes para o avanço madeireira, mas só pode ser explorada dessa forma em
econômica. Com o objetivo de conhecer melhor diversos Econômica de Sistema de Produção de Castanha-do- do conhecimento sobre a castanheira. “Em especial nos plantios, já que integra a lista do Ibamade espécies vul-
aspectos relacionados à castanheira e a seu ambiente na- -Brasil na Amazônia”, mas é conhecido como MapCast. aspectos relacionados a seu ambiente natural de ocor- neráveis. Em seu ambiente natural, atinge até 50 metros,
tural, um grupo de pesquisadores desenvolve um projeto A iniciativa integra um arranjo maior de projetos da rência, que são os principais sistemas de produção ex- sendo uma das espécies mais altas da Amazônia. O fruto
audacioso, que está mapeando e modelando a ocorrência Embrapa sobre tecnologias para o fortalecimento da trativista existentes, fundamentais para a adaptação e da castanheira (ouriço) tem o tamanho aproximado de
de castanhais nativos da Amazônia brasileira, por meio cadeia de valor da castanha-do-brasil, cujo objetivo é recomendação de práticas de manejo adequadas às par- um coco e pesa cerca de dois quilos. Possui casca muito
de geotecnologias. Outra meta é caracterizar as relações trabalhar aspectos de conservação, manejo, comunica- ticularidades da Amazônia,e para o fortalecimento da dura e abriga entre 8 e 24 sementes, as apreciadas casta-
socioeconômicas dos sistemas de produção, a fim de ção e oportunidades de mercado, visando a melhoria na cadeia de valor da castanha”. nhas-do-brasil. Se não forem consumidas, as sementes
eficiência produtiva da castanha e o desenvolvimento Desenvolvido em redepor um grupo multidisciplinar demoram de 12 a 18 meses para germinar. Muitas delas
socioeconômico da Amazônia. de pesquisadores, o MapCast é liderado pela Embrapa são plantadas por cutias, que se alimentam de algumas
O MapCast realiza atividades em seis Estados da re- Amazônia Ocidental. A equipe conta ainda com cientis- das sementes e enterram outras para comer mais tarde.
gião Norte – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima tas daEmbrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT), Embrapa As sementes esquecidas brotarão da terra para começar
e Rondônia – e em um do Centro-Oeste, Mato Grosso. Amapá (Macapá, AP), Embrapa Acre (Rio Branco, AC), um período de vida da castanheira, de até 500 anos. ◆
Atualmente não existe um mapa geral da ocorrência da
castanheira na Amazônia brasileira. Por isso, os estudos
sobre a distribuição espacial dos castanhais podem ser

LÚCIO CAVALCANTI
cruciais para a definição de estratégias de manejo e con-
RUY PERUQUETTI

servação da espécie.
Mas a tarefa não é fácil. Devido à grande diversidade
florísticanas florestas tropicais, um dos principais desa-
fios é identificar as castanheiras no ambiente natural,
onde podem estar acompanhadas de uma multiplicidade
de até 300 espécies por hectare. Para isso, o projeto prevê
a utilização de dados de tecnologias digitais modernas,
como sensores remotos de alta resolução e laser scanner.
Os pesquisadores também pretendem responder de
que forma fatores como clima, solo, diversidade e topo-
grafia podem influenciar na ocorrência e abundância das
castanheiras e na produção de frutos.

Caracterização socioambiental e econômica


Uma das metas do MapCast é realizar a caracterização
socioambiental e econômica de sistemas de produção da
castanha-do-brasil. Para isso, os pesquisadores vão buscar

364 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 365
RONALDO ROSA
EMBRAPA EMBRAPA

Projetos apoiam
agricultores familiares em
45 municípios no Amazonas

I
nformações sobre tecnologias para apoiar a pro- bolsistas. Todos participaram de capacitações específicas
dução da agricultura familiar no Amazonas estão na Embrapa e recebem orientação de pesquisadores.
sendo levadas por 75 técnicos a 45 municípios, As ações levam inovações tecnológicas geradas pela
por meio de quatro projetos coordenados pela Embra- pesquisa e socializar esses conhecimentos em apoio à
pa Amazônia Ocidental (Manaus, AM). As atividades produção rural. A técnica agropecuária Evanildes Perei-
acontecem por meio do Programa Pro-Rural. Segundo o ra, 22 anos, atua com fruticultura em Tabatinga, na re-
chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Luiz Mar- gião do Alto Solimões, fronteira com a Colômbia. Assim
celo Brum Rossi, por meio desses projetos, a Embrapa como os demais técnicos bolsistas do programa, tem a
está expandindo seu alcance, com a presença em mais de meta de atender 100 agricultores por ano, com orienta-
70% dos municípios do Amazonas. ções e troca de conhecimentos. Em sua primeira experi-
São quatro frentes de atuação, nas temáticas de Fru- ência na assistência técnica, ela se diz confiante. “Tenho
ticultura, Pecuária Sustentável, Produção de Borracha a formação, mas ganhei muito conhecimento específico
Natural e Culturas Alimentares (feijão, mandioca e mi- na capacitação. Estou convicta de que vai ajudar o agri-
lho). Até o final de 2014, os projetos somavam 6.776 cultor e meu trabalho no campo. Quero compartilhar o
atendimentos a agricultores num total de 566 comuni- que aprendi”, afirma. “Pretendo incentivar a fruticultura
dades, implantação de 87 Unidades de Construção de em sistemas agroflorestais porque vi a viabilidade para o
Conhecimento Coletivo (UCCs) para agricultura e 15 pequeno agricultor”.
Unidades de Referência Tecnológica para pecuária. Es- A fruticultura é uma das linhas temáticas do Pró-Ru-
sas unidades servem como instrumento didático para ral Residência Agrária e abrange 13 municípios: Careiro
apresentar as recomendações de cada sistema de pro- da Várzea, Silves, Codajás, Novo Aripuanã, Lábrea, Co-
dução e promover capacitações sobre as inovações tec- ari, Tabatinga, Atalaia do Norte, São Sebastião do Uatu-
nológicas para os produtores. mã, Anori, Iranduba, Urucurituba e o distrito de Novo
Os projetos também aproximam a Embrapa e os ato- Remanso, em Itacoatiara.
res das cadeias produtivas em cada município, por meio Já o projeto Pecuária Sustentável conta com um gru-
do técnico bolsista ou pelos coordenadores nas visitas e po de 20 técnicos, com ênfase em tecnologias associadas
nos cursos e dias de campo, favorecendo a captação de ao sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
demandas para transferência de tecnologia ou pesquisa. Os municípios contemplados são: Parintins, Boca do
Os técnicos que atuam no interior são profissionais de Acre, Apuí, Borba, Manicoré (e o distrito de Matupi),
Ciências Agrárias recém-formados em cursos de nível téc- Lábrea (com ações no sul de Lábrea), Autazes, Careiro
nico ou de graduação, e são vinculados aos projetos como da Várzea, Itacoatiara, Urucará, Nhamundá, Barreirinha,

366 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 367
EMBRAPA EMBRAPA

Agricultura sustentável ultrapassa


Presidente Figueiredo e Manacapuru. O pesquisador Ja-
siel Nunes, coordenador da iniciativa, enfatiza que o in-

ZINEB BENCHEKCHOU
centivo à ILPF é uma opção para diversificar os ganhos

fronteiras amazônicas
de propriedade e reduzir os custos de recuperação de
pastagens degradadas, por meio do cultivo de grãos.
Outro projeto trata de novas tecnologias para dina-
mização da produção da borracha natural no Amazo-
nas. O foco está em tecnologias para o cultivo de se-

N
ringueiras tricompostas resistentes ao mal das folhas, a 9ª edição do Curso Internacional de Capa- nordeste paraense.Em sua propriedade de 66 hectares,
principal doença que prejudica o cultivo na floresta citação em Sistemas de Tecnologia Agroflo- ele maneja apenas 18, de onde tira o sustento da família
tropical úmida. Os municípios contemplados são Boca restal,28 participantes do Brasil, Colômbia, – esposa e cinco filhos – com a produção de açaí, cacau,
do Acre, Borba, Canutama, Carauari, Coari, Eirunepé, Equador e Peru trouxeram de seus países e regiões expe- banana e espécies arbóreas nativas da Amazônia. A his-
Fonte Boa, Humaitá, Iranduba, Itacoatiara, Juruá, Ju- riências em agroecologia com a implantação e o desen- tória de Seu Pedreco é pautada pela vontade de entender
taí, Lábrea, Manacapuru, Manicoré, Maués, Novo Ari- volvimento de sistemas agroflorestais (SAFs). O curso, a floresta, experimentar e inovar. Não é à toa que sua área
puanã, Pauini, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga. promovido pela Embrapa e a Agência de Cooperação tornou-se referência em Agroecologia.
O projeto de culturas alimentares abrange 21 muni- Internacional do Japão (Jica), foi realizado no Pará, no “Geralmente as pessoas estão acostumadas a ver plan-
cípios com ênfase em tecnologias para cultivo de feijão- segundo semestre de 2014. tios de uma cultura somente, alinhados em fileiras, com
-caupi, mandioca e milho. Os municípios contemplados Durante 18 dias, os alunos tiveram aulas teóricas em adubação química e defensivos agrícolas. Aqui não. A
são Itapiranga, Novo Airão, Caapiranga, Beruri, Borba, Belém e Castanhal e práticas em áreas de agricultores disposição das espécies é aleatória, apenas com uma certa
Tefé, Uarini, Japurá, Maraã, Ipixuna, Guajará, Barcelos, nos municípios de Santa Bárbara, Igarapé-Açu, São Do- distância entre elas para não haver competição. Uma com-
Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, mingos do Capim e Tomé-Açu, no nordeste paraense. pleta a outra, dá sombra e alimento”, explica o agricultor.
Apuí, Humaitá, Eirunepé, Envira, Itamarati, Canutama O modelo de cultivo conhecido como SAFs representa, Segundo o pesquisador Delman Gonçalves, da Em-
e Tapauá. basicamente, a junção de espécies florestais e de culturas brapa Amazônia Oriental (Belém, PA), o Pará já tem
O produtor Melquezedeque da Silva, de Beruri, na agrícolas num mesmo sistema de cultivo. Além de promo- agricultores que avançaram bastante nos sistemas agro-
região do Purus, tem uma unidade implantada em sua verem a conservação ambiental, contribuem para melho- florestais. É com eles que a pesquisa vem aprendendo e
propriedade, gostou do exemplo e resolveu adotar a tec- rar a qualidade de vida das comunidades rurais, com segu- ensinando. “O cientista não é a origem das coisas. Quan-
nologia do trio da produtividade no cultivo de mandio- rança alimentar e geração de trabalho e renda o ano todo. do ele está antenado, percebe que é facilitador de um co-
ca. “Com a melhor escolha da maniva, o espaçamento, o nhecimento gerado no campo, e o aprimora a partir da
adubo e os 120 dias com capina, a gente viu a diferença, Experiências interação com o produtor”, afirma.
estou muito satisfeito”. O pesquisador Inocencio Oliveira Em nove edições do curso, mais de 200 técnicos da Pan- O agrônomo Jonatas Villazamar, da cidade de Ca-
informa que as tecnologias priorizadas pelo projeto con- -Amazônia já conheceram as experiências de agricultores lamar, região de Guaviare, na Colômbia, trabalha com
tribuem para o aumento da produtividade, são adequa- do Pará, chamados pela pesquisa de agricultores experi- assistência técnica privada junto a 120 pequenos agricul-


das à realidade das condições socioambientais do Esta- Seringueira mentadores ou inovadores, que a partir do conhecimento tores, que produzem cacau, mandioca, milho, banana e
do, possibilitam o cultivo contínuo de áreas já utilizadas tradicional e da observação seringa. “Observamos aqui que podemos implantar con-
e reduzem a prática do sistema tradicional de derruba e Além da Embrapa, também coordenam projetos da floresta desenvolvem sis- sórcios entre espécies que temos na nossa região, sempre
queima, diminuindo a pressão pelo uso de novas áreas no Pro-Rural a Universidade Federal do Amazonas temas com viabilidade am- levando em conta as peculiaridades locais e o conheci-

RONALDO ROSA
de floresta para o cultivo de alimentos. (Ufam), o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia biental, econômica e social. mento dos agricultores”.
Esses quatro projetos integram o Programa Estraté- (Ifam) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô- Um deles é Pedro Araú- A capacitação em tecnologias agroflorestais é uma
gico de Transferência de Tecnologias para o Setor Rural nia (Inpa). São 170 técnicos bolsistas em dez projetos, jo Ferreira, 46 anos, o “Seu parceria da Embrapa com a Jica, por meio da Agência
– Pro-Rural, financiado pela Fundação de Amparo à Pes- dos quais quatro são coordenados pela Embrapa. To- Pedreco”, que dá aula para Brasileira de Cooperação (ABC). No Pará, a ação faz par-
quisa do Amazonas (Fapeam) e com gestão da Secretaria dos adotam como princípios o desenvolvimento sus- pesquisadores e técnicos te ainda do projeto “Rede de Intercâmbio e Transferência
de Produção Rural (Sepror-AM), com apoio da Secreta- tentável, a economia solidária, a agricultura familiar extensionistas. O agricul- de Conhecimentos e Tecnologias Agroflorestais na Ama-
ria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM) e do como unidade de ação, a transferência de tecnologia tor é uma referência em zônia – RETAF”, coordenado pela Embrapa Amazônia
Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal para ampliar a renda e a valorização da cultura da po- sistemas agroflorestais na Oriental, cujo objetivo é contribuir para o fortalecimento
Sustentável do Amazonas (Idam). pulação rural. ◆ comunidade Monte Sião, à e crescimento dos níveis de adoção das tecnologias agro-
“Seu” Pedreco beira do Rio Capim, região florestais entre os produtores amazônicos. ◆

368 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 369
EMBRAPA EMBRAPA

Troca de saberes
aldeias. Os resultados desse trabalho participativo se cultivos agrícolas, com os roçados mais próximos das
expressam em benefícios para as comunidades e em in- casas. O novo arranjo facilitou o acesso aos plantios e o
formações inéditas para o campo científico. transporte de produtos.
De acordo com o pesquisador Moacir Haverroth,

fortalece agricultura
responsável pelas pesquisas com populações indígenas Integração de conhecimentos
na Embrapa Acre (Rio Branco, AC), os sistemas tradi- Entre os resultados científicos do trabalho com po-
cionais agrícolas são conduzidos de forma intuitiva e a vos indígenas estão os conhecimentos sobre o solo e a
pouca sistematização dessas atividades faz com que o paisagem da TI Kaxinawá, gerados a partir da integração

indígena
desempenho dos cultivos seja lento e limitado. O uso de entre sistema científico e tradicional, e que servirão para
técnicas simples e de fácil adoção, como o espaçamento atualização do plano de gestão da TI que integra as po-
adequado entre as plantas, melhorou a capacidade pro- líticas estadual e federal e constitui a base para o traba-
dutiva dos plantios. lho nas aldeias. As informações, sistematizadas em uma
publicação bilíngue (Kaxinawá e português), revelam

N
as Terras Indígenas Kaxinawá de Nova Olin- e indígenas realizam um trabalho baseado na troca de Demandas e prioridades que a classificação etnopedológica dos solos se aproxima
da e Kulina (Madija), na região do Alto Rio conhecimentos científicos e tradicionais. O que mais se destaca nas aldeias são os avanços na- muito da classificação da Ciência. Segundo Eufran Ama-
Envira, município de Feijó (AC), as famílias As primeiras pesquisas, em Trê TIKulina (Madi- fruticultura. Na última viagem da equipe do projeto, no ral, pesquisador da Embrapa Acre, as variáveis definidas
conservam uma forte tradição agrícola, mas a ausência ja),buscaram conhecer e melhorar os cultivos e as prá- final de 2014, tanto a produção de frutas como de mudas como indicadores ambientais (cor, forma e tipo de solo
de alguns critérios na condução das atividades atrasava ticas agrícolas e etnobotânicas, com foco em plantas de espécies nativas chamavam a atenção. O líder indíge- enível de encharcamento) permitiramuma correlação
o desenvolvimento dos plantios e limitava a produção medicinais. Mais recentemente, na TI Kaxinawá de Nova na da Aldeia Novo Segredo, Ninawá Kaxinawá, explica entre os dois sistemas e essa equivalência se constituiu a
de alimentos. Para fortalecer a agricultura nessas loca- Olinda, o principal objetivo foi ampliar a agrobiodi- que esse trabalho, que conta com a participação de agen- base para classificação da aptidão de uso da terra.
lidades, desde 2008, a Embrapa, instituições parceiras versidade e melhorar a segurança alimentar em quatro tes agroflorestais remunerados pelo Estado, é focado em O projeto também contribui para maior aproximação
necessidades específicas das aldeias, principalmente o dos Kaxinawá de Nova Olinda com outros povos indíge-
aumento da produção a partir do uso deplantasresisten- nas. O intercâmbio possibilitou a troca de conhecimen-
tes a doenças e na adoção de novas práticas de plantio e tos sobre fruticultura e manejo de pequenos animais e
cultivo. “Antes, a gente plantava e, às vezes, não colhia. a recuperação de espécies tradicionais que se perderam
Conhecer novas maneiras de fazer agricultura ajudou a com o tempo. “Os resultados mostram que a temática in-
melhorar nossos cultivos e nossa alimentação”, afirma. dígena é um rico espaço para a pesquisa pela infinidade
Os indígenas também aprenderam a identificar de demandas e a possibilidade de uma construção con-
pragas e doenças nos roçados. O monitoramento dos junta do conhecimento, mas o que fica mais claro para a
plantios permitiu controlar a broca-da-bananeira e da Ciência é a experiência humana proporcionada por este
sigatoka-negra, principais problemas dos bananais. Essa tipo de trabalho e a mudança de mentalidade depois des-
prática, aliada ao uso de variedades resistentes, ampliou sa convivência”, diz Haverroth. ◆
os plantios de banana nas aldeias. Nos roçados de man-
dioca a postura também é de vigilância. “Antes a gente
via os ‘ovinhos’ do percevejo e não retirava porque não

PRISCILA VIUDES
sabia que esses insetos destroem a planta”, comenta Is-
saká Kaxinawá.
As aldeias também passaram a apostar em varieda-
des de mandioca mais produtivas e a contar com três
casas de farinha mais adequadas à realidade indígena.
Essas estruturas, construídas em parceria com o go-
verno do Estado, por meio da Secretaria de Extensão
Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), ajudaram
a melhorar as condições de produção de farinha,um
dos principais alimentos das famílias indígenas. Outra
mudança nas aldeias foi a reorganização espacial dos Coleta de insetos e pragas em terras indígenas

370 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 371
EMBRAPA EMBRAPA

Cultivo sustentável de fruteiras em comunidades indígenas de Oiapoque


As Terras Indígenas de Oiapoque, no extremo norte do Amapá, é uma região naturalmente desenhada por
Quilombo Brotas implanta Unidade
campos alagados e florestas entrecortadas pelos rios e igarapés. Atualmente, cerca de 7 mil indígenas - os
povos GalibiKali´na, Palikur, GalibiMarworno e Karipuna - vivem em 40 aldeias. Nesse ambiente, a Embra-
pa Amapá (Macapá, AP) desenvolve, junto com instituições parceiras e as comunidades indígenas, várias
de Referência Agroecológica

O
atividades voltadas para a produção sustentável de açaí, banana, laranja, limão e tangerina.
Aumentar a produtividade e a segurança alimentar, ampliando os períodos de safras e buscando novos dia 4 de outubro de 2014 foi dia de muti- O objetivo do projeto é gerar e desenvolver, de ma-
canais de comercialização da produção. Esse é um dos objetivos do Projeto Frutiindo – ABC da Agricultura rão no Quilombo Brotas, em Itatiba (SP). neira conjunta e participativa, conhecimentos, proces-
Familiar, que vem sendo desenvolvido junto às comunidades indígenas do Oiapoque. Para alcançar resul- Localizado no Bairro Santa Filomena II, sos, inovações, metodologias e tecnologias adaptadas à
tados, o projeto reúne um conjunto de parceiros: Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque onde mais da metade das terras encon- realidade sociocultural desse território com a finalidade
(Ccpio), Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Instituto de tra-se no perímetro urbano, os moradores receberam a de construir e estruturar sistemas agrícolas mais integra-
Conservação Ambiental – The NatureConservancy do Brasil (TNC/Brasil), Instituto Estadual de Florestas equipe da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária dos, na perspectiva de viabilizar a produção agrícola com
(IEF) e Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap). (Embrapa) e de instituições parceiras e iniciaram a im- biodiversidade, equilíbrio ambiental, rentabilidade, au-
Na busca pela produção sustentável, uma das principais ações do Fruttindo é a formação de agentes multi- plantação de um Pomar Agroecológico, com o plantio de tonomia e manejo sustentável dos agroecossistemas da
plicadores em manejo de açaí, banana e citros. Para o coordenador do Projeto, Jackson de Araújo dos Santos, 75 mudas de 12 espécies frutíferas diferentes: acerola, região pautados nos fundamentos da Agroecologia.
analista da Embrapa Amapá, o intercâmbio de conhecimentos permite desenvolver ações de acesso às amora, araçá, caqui, cereja-do-rio-grande, goiaba, jabu- A UR do Quilombo Brotas foi instalada tendo em vis-
inovações e de tecnologias voltadas para uma produção equilibrada e rentável das frutíferas, e os resultados ticaba, jaca, manga, pitanga, tamarindo e uva. ta as especificidades e necessidades dessa comunidade
têm sido bastante positivos. “O plantio trouxe de volta o entusiasmo ao grupo. em consolidar sua inserção local e regional, resgatar sua
Estamos limpando o terreno ao lado para que também cultura, fortalecer sua organização e construir processos
Entrevistas e reportagens temáticas sobre o assunto estão disponíveis no Portal da Embrapa
possamos realizar juntos mais um plantio, com a ajuda sustentáveis. São áreas localizadas nas propriedades dos
dos pesquisadores da Embrapa”, destaca o agricultor e agricultores as quais são trabalhados processos e práticas
quilombola José Rubens Barbosa. Compartilhando da no sentido de construir sistemas agrícolas mais integra-
mesma opinião, o agricultor Carlos Alexandre de Souza dos e caminhar em direção à conversão agroecológica de
Marcos diz que a implantação do pomar agroecológico unidades de produção.
foi um modo de reunir as pessoas em um projeto que
precisava da ajuda e o compromisso de todos. Diálogo de saberes
Nesse dia, os moradores participaram de todo o pro- As estratégias para o desenvolvimento das ações são
cesso de plantio, desde a demarcação da área com estacas baseadas em processos horizontais e participativos, no
e a abertura das covas, que receberam calcário, esterco qual o diálogo de saberes e a construção coletiva do co-
curtido de curral e também adubo fosfatado natural. nhecimento e tecnologias é uma das premissas funda-
Também receberam informações sobre os cuidados após mentais. Dentro dessa perspectiva, é que se tem utilizado
o plantio, por exemplo, como manter uma cobertura ve- a metodologia de trabalho em Unidades de Referência.
getal morta (palhada) e a instalação de garrafas pet cor- Assim, Joel de Queiroga, pesquisador, e Myrian Ra-
tadas para o controle de ataque de formigas. mos, analista do Setor de Transferência de Tecnologia da
Embrapa Meio Ambiente, realizaram neste mesmo dia
Unidades de Referência Agroecológica da implantação do Pomar Agroecológico no Quilombo
É no Quilombo Brotas onde está localizada uma das Brotas, uma reunião técnica, em conjunto com o Instituto
Unidades de Referência Agroecológica (URs), do projeto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), a Universidade
Construção do conhecimento e de tecnologias agroeco- São Francisco, a Coordenadoria de Assistência Técnica
lógicas com os agricultores familiares da região Leste do Integral (Cati) e a Secretaria de Meio Ambiente e Agri-
Estado de São Paulo, conduzido, desde 2011, pela equipe cultura da Prefeitura de Itatiba, parceiros locais, além de
de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariú- lideranças e moradores do Quilombo, para avaliar as ati-
na, SP), e parte integrante das ações desenvolvidas pela vidades realizadas, discutir e planejar as ações previstas
Rede Leste Paulista de Agroecologia. para continuidade do processo de implantação, além da

372 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 373
ZIG KOCH
EMBRAPA EMBRAPA

condução e monitoramento da UR que tem como foco a nejo como capinas de coroamento (do entorno das mudas)
recuperação de nascentes daquela comunidade. e medidas de controle de ataque de formigas.
Conforme Queiroga, “esta UR reúne ações de plantio No sentido de fazer o replantio de mudas que não so-
e manejo de mudas de árvores frutíferas visando enri- breviveram, aumentar a diversidade e o número de árvores
quecer um fragmento florestal existente na área, bem frutíferas do Pomar Agroecológico, no dia 21 de fevereiro
como viabilizar a restauração de nascentes com espécies de 2015, mais um mutirão coordenado pela equipe de
nativas da região. Além disso, a comunidade também Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente reuniu mora-
está implantando uma horta agroecológica com espécies dores e parceiros do projeto para o plantio de mais de cem
convencionais e não convencionais para o abastecimento mudas de árvores de dez espécies diferentes de frutíferas
do futuro restaurante de culinária típica africana, como e palmeiras: acerola, caqui, coco-da-bahia, laranja-pêra,
parte do projeto de estruturação e desenvolvimento do limão-taiti, palmeira-real, ponkan, pupunha e manga.
turismo ecológico e cultural no Quilombo”. Myrian Ramos explica que será realizado levantamen-
Desde a sua implantação, o Pomar Agroecológico di- to, caracterização e sistematização de experiências, visan-
versificado vem sendo monitorado periodicamente pelos do ao fortalecimento da Rede Leste Paulista de Agroecolo-
moradores do Quilombo e pelos pesquisadores Mário Ur- gia e dos processos agroecológicos da região para a troca
chei e Joel Queiroga. Segundo Queiroga, este acompanha- de experiências e o fortalecimento da transição agroecoló-
mento é feito a partir de observações e medições periódicas gica no Quilombo. Ainda segundo Myrian, “os povos qui-
de parâmetros que permitem avaliar o estabelecimento, o lombolas enfrentam uma situação de invisibilidade muito
desenvolvimento e o estado de saúde das mudas plantadas, grande, apesar das diferentes ações governamentais. Com
bem como a situação da cobertura vegetal existente na área isso, é fundamental contribuir para a inserção econômica
e ataque de insetos como formigas, observações que indi- e sociocultural dessas comunidades como premissa para
cam os momentos de serem realizadas as operações de ma- o desenvolvimento local sustentável”. ◆
Sementes comestíveis de araucária

Agricultores fazem
MYRIAN RAMOS
manejo florestal
participativo da araucária
N
inguém melhor para conhecer uma árvore e tardia de pinhão, árvores com crescimento superior,
do que aquele que a observa e convive com entre outras”, explica a pesquisadora e líder do projeto,
ela diariamente. Esta é a premissa do mane- Maria Izabel Radomski. Já foram coletadas sementes em
jo florestal participativo, ponto central do projeto “Uso e dez propriedades, pelos próprios produtores.
conservação da araucária na agricultura familiar”, coor- Anísio Rosa, assentado rural há 25 anos, conta que
denado pela Embrapa Florestas (Colombo, PR). Partici- colhe o pinhão de árvores que plantou logo que entrou
pam produtores de Bituruna (PR), Cruz Machado (PR), no lote, além das que já existiam na região. “Estou aos
São Mateus do Sul (PR), Canoinhas (SC) e Caçador (SC). poucos saindo da agricultura e investindo mais em flo-
“Os agricultores estão nos ajudando a identificar ár- resta, em especial na araucária e na erva-mate”, afirma.
Quilombo Brotas implanta Unidade de Referência Agroecológica
vores com diferentes características: produção precoce “A gente não pode pensar só no imediato, mas também

374 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 375
EMBRAPA EMBRAPA

no investimento prolongado, por isso a araucária é uma a modelagem da propriedade sem comprometer a área Um dos assuntos mais comentados no evento foi o medida que o produtor puder manejar mais, vai conser-
excelente alternativa”, ensina Anísio. com um manejo inadequado”, ressalta Radomski. manejo da taquara, uma gramínea que forma caules ocos var melhor os remanescentes florestais”, ponderou.
O produtor está auxiliando na identificação de árvores A primeira experiência da metodologia acontece e pode se tornar uma praga em florestas nativas, preju- Do lado dos agricultores familiares, José Licheski, de
matrizes com produção de pinhão em diferentes épocas em cinco propriedades. Serão discutidos modelos de dicando seu desenvolvimento. Pesquisadores mostraram São Mateus do Sul, lembrou que o produtor depende de
do ano. “Já identificamos cinco árvores-matrizes na mi- integração da araucária aos sistemas tradicionais dos pesquisas em andamento com diferentes formas de ma- madeira para tudo na propriedade e deve saber manejar
nha propriedade. É uma forma de ajudar a ampliar o uso agricultores familiares, por meio de plantios puros ou nejo e controle, ressaltando que a gramínea impede a melhor este recurso, em especial as espécies nativas, que
dessa árvore tão importante para nossa região”, finaliza. sistemas agroflorestais, tendo na araucária uma fonte de regeneração natural da floresta. Os participantes sugeri- precisam também ser preservadas. Ele conta que a pre-
Uma novidade do projeto é a análise da distribuição diversificação da renda. ram que as pesquisas gerem dados para subsidiar a legis- feitura do município adquiriu uma serraria móvel para
das árvores em áreas de floresta manejadas pelos agri- Ainda como meta do projeto, dias de campo têm sido lação, que em alguns locais impede o manejo da taquara. agregar valor à madeira local. ◆
cultores. São feitas imagens em escala reduzida que fun- realizados para troca de experiências entre pesquisado- Foram visitados experimentos para conversão de
cionam como uma vista aérea da copa das árvores. Com res, técnicos e agricultores familiares. Um deles aconte- áreas degradadas em sistemas agroflorestais, onde estão
esse recurso, o produtor pode entender melhor onde es- ceu na Estação Experimental da Embrapa em Caçador sendo testadas espécies florestais nativas, como araucá-

KATIA PICHELLI
tão vazios, clareiras e sobreposições. “Será possível dis- (EEEC), em agosto de 2014, reunindo participantes do ria, bracatinga e bracatinga-de-campo-mourão, com es-
cutir espacialmente o manejo, e o produtor poderá fazer Paraná e de Santa Catarina. pécies frutíferas e cultivos agrícolas, além da erva-mate,
espécie florestal tradicional da região Sul e que se desen-
volve bem em locais sombreados. “Quando trabalhamos
com sistemas integrados, precisamos saber olhar o todo,

KATIA PICHELLI
e não dar atenção somente a uma espécie”, explicou a
pesquisadora Maria Izabel Radomski, da Embrapa Flo-
restas, responsável pelo dia de campo. A intenção é sem-
pre conjugar a recuperação ambiental com a possibilida-
de de geração de renda.
Outro ponto destacado foi a conservação da espécie
Araucaria angustifolia, conhecida como araucária ou pi-
nheiro-do-paraná. A EEEC tem exemplares de araucária
centenários e, hoje, o trabalho é identificar formas bem-
-sucedidas de plantios de novas árvores, tanto para recu-
peração ambiental quanto para conservação da espécie e
seu manejo. A pesquisadora Maria Augusta Doetzer Ro-
sot, da Embrapa Florestas, mostrou formas diferentes de
plantio de araucária e seu desenvolvimento. “Se não aju-
darmos a floresta a se recuperar, possivelmente vamos
perder toda riqueza desta espécie”, alertou.
O professor da Universidade Federal do Paraná Nel-
son Rosot ressaltou os aspectos silviculturais da araucá-
ria e das espécies que fazem parte do seu ecossistema,
como imbuia, cedro e erva-mate. “Se não auxiliarmos
com manejo florestal, poderemos perder a riqueza eco-
nômica e ambiental proporcionada por essas espécies.
Precisamos cada vez mais pesquisar e melhorar sua sil-
vicultura, com respostas sobre controle de pragas, com-
petição e manejo”.
Para Anésio da Cunha Marques, analista ambiental do
ICMBio/Flona de Três Barras, a legislação muitas vezes
não permite fazer manejo porque não existe fundamenta-
Dia de campo em Caçador ção científica para gerar critérios para florestas nativas. “À Estação Experimental da Embrapa em Caçador

376 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 377
EMBRAPA EMBRAPA

Árvores trazem benefícios econômico das espécies”, completa, explicando que so-
mente o argumento ambiental não é suficiente para con-
vencer o agricultor a mudar seu modo de produção.

MARIELLA UZEDA
para a lavoura em
Na época em que a pesquisa começou, a localidade
apresentava diversas consequências dos anos de agricul-
tura convencional e da falta de árvores. As áreas agrícolas

assentamento no RJ
haviam sido transformadas em barreiras que, próximas a
fragmentos florestais, provocavam o efeito de borda – fe-
nômeno que causa redução da quantidade de espécies na
proximidade da área de plantio e propagação para o in-
terior do ambiente florestal, quanto mais intensivo for o

A
gricultores do assentamento São José da Boa de uma nova fonte de renda, a partir da venda de produtos sistema produtivo. Também foi observada a diminuição
Morte, no município de Cachoeiras de Maca- de árvores frutíferas introduzidas nas lavouras. ou até mesmo o desaparecimento de algumas espécies de
Cerca viva na propriedade do agricultor Francisco
cu (RJ), conheceram de perto os resultados A pesquisa foi baseada em três pilares: o conheci- vespas nas lavouras, especialmente nas áreas distantes de
positivos da preservação de florestas naturais e de espécies mento da biodiversidade nativa, relacionando-a com o fragmentos florestais ou cercadas por cultivos com uso Além disso, com a introdução de árvores frutíferas
arbóreas próximas às lavouras. Ao longo de seis anos, eles potencial econômico; o estudo das técnicas já existentes intensivo de agrotóxicos. no SAF, a família, que antes vivia apenas da pequena
participaram de um estudo da Embrapa para transforma- para inserção de árvores na paisagem, considerando os Para atuar no local, os pesquisadores precisaram le- produção leiteira e da lavoura de hortaliças de caixote
ção de práticas produtivas intensivas, de forma a conciliar interesses dos produtores; e a adaptação das técnicas à re- vantar os impactos sobre o meio ambiente do manejo (mandioca, milho, quiabo, jiló, berinjela, pimentão e ba-
a produção de alimentos com a conservação da biodiversi- alidade do agricultor, que não pode deixar de produzir e que vinha sendo feito, mostrá-los à comunidade e ex- tata), conseguiu uma renda extra. Hoje, o produtor ven-
dade e dos fragmentos florestais. O resultado foi o aumen- obter renda. “Ao contrário do que muitos pensam, o agri- plicar os benefícios da reinserção do elemento arbóreo. de frutas na feira local e já pensa em comercializá-las na
to da disponibilidade de água, da presença de insetos que cultor quer árvores na propriedade, mas não quer e nem Além disso, tendo como base os levantamentos florísti- Central de Abastecimento fluminense (Ceasa-RJ).
polinizam a plantação e de pássaros que controlam pragas pode ter extensas áreas plantadas”, explica Mariella Uzê- cos sobre espécies nativas nos fragmentos e a ajuda e o De fato, a possibilidade de comercializar os frutos
e doenças. Com isso, houve redução da quantidade de in- da, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, conhecimento dos agricultores, os pesquisadores fize- das espécies nativas tem chamado a atenção dos agri-
sumos aplicados, incremento na produtividade e inserção RJ). “A vivência nos alertou para focarmos no potencial ram um estudo etnobotânico das espécies florestais nos cultores. Segundo Ary de Matos, além de atrair gambás
Sistema Agroflorestal
últimos três anos de projeto. O resultado é uma lista de que afastam os urubus das lavouras, o abiu (Pouteria
80 espécies arbóreas com potencial para uso nos diferen- caimito) alcança R$ 12 por caixa. Com oito pés da fruta
tes ambientes da região. plantados no entorno da casa, ele colhe cem caixas nas

ARQUIVO EMBRAPA
duas safras do ano. Já o produtor João Batista, com ape-
Envolvimento local nas dois pés de cajá (Spondias dulcis), no período de
Pelo menos 20 agricultores contribuíram para o estu- safra de janeiro a março, colhe uma quantidade que lhe
do, adotando sistemas como cerca-viva com gliricídia e es- rende R$ 500 por semana.
pécies nativas, consórcio e sistemas agroflorestais (SAFs).
Aos poucos, houve o aumento de polinizadores – como Parceiros
vespas, abelhas, borboletas e pássaros – e maior produti- Além da Embrapa Agrobiologia, integram o estudo a
vidade nas lavouras, além de melhoria na renda familiar. Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), que vem realizando
Outro benefício percebido por alguns agricultores foi o mapeamento das transformações na cobertura vegetal
a maior disponibilidade de água. O produtor Francisco da Bacia Guapi-Macacu e do assentamento, bem como o
Araújo conta que a nascente de sua propriedade sempre levantamento de solos; a Universidade Federal do Rio de
secava no inverno. Após a implantação do SAF, houve Janeiro (UFRJ), com o levantamento de pequenos ma-
um aumento significativo de água, constante ao longo do míferos e aves na região; e a Universidade Federal Ru-
ano, além de uma melhoria em todo o ambiente. “Au- ral do Rio de Janeiro (UFRRJ), que vem auxiliando nas
mentou o número de passarinhos, que comem os carra- avaliações de física do solo e na análise comportamental
patos. O capim fica mais verde nas áreas onde há árvores de vespas. Do trabalho também faz parte a Prefeitura de
e, no verão, quando o sol queima mesmo, os bezerros Cachoeiras de Macacu, por meio das secretarias de Agri-
ficam melhor na sombra”, conta. cultura e Meio Ambiente. ◆

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KATIA PICHELLI
EMBRAPA EMBRAPA

conforto térmico proporcionado aos animais, e promo- Além dos resultados econômicos e ambientais, um
veu a conservação do solo, com influência na qualidade grande ganho social é a permanência das famílias no
da pastagem. Em 2014 foi realizado o primeiro desbaste, campo. No condomínio, os jovens querem continuar na
que já gerou renda e possibilitou aos produtores a com- propriedade e ampliar os investimentos na atividade sil-
pra de uma serraria móvel. vipastoril. Romário de Almeida, um dos jovens agricul-
“No começo tínhamos dúvida se daria certo, se geraria tores, já decidiu. “Vou continuar no caminho dos meus
renda”, conta Claudete de Assis Pizzolatto, gestora do con- pais. É bom trabalhar aqui, pois tomamos as decisões em
domínio. “Aos poucos fomos assimilando a ideia e vendo o conjunto. Queremos até ampliar a área de pasto com o
conforto para os animais dando resultado. A gente conse- sistema, para melhorar cada vez mais”.
gue manter a produção mesmo no verão, com uma média A exemplo do condomínio, o Paraná possui uma am-
de produção muito boa para a região”, comemora. pla rede de Unidades de Referência Tecnológica (URTs)
A adoção do sistema também auxilia na diminuição em integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Resulta-
dos gases de efeito estufa, um dos compromissos brasi- do da parceria entre pesquisa florestal, extensão rural e
leiros frente às mudanças climáticas. O País conta hoje produtores, essas unidades servem tanto para demonstra-
com o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), ção da tecnologia quanto para pesquisa e experimentação,
que oferece linhas de crédito a produtores rurais que em especial do componente florestal, o “F” da ILPF.
adotarem tecnologias como esta. Com isso, o Condo- Segundo Amauri Ferreira Pinto, gerente estadual de
mínio Pizzolatto passou a ser referência de sucesso na Produção Florestal do Instituto Emater-PR, hoje as pro-
região e no Estado. priedades rurais com sustentabilidade econômica traba-
Como contrapartida pela assistência técnica e pes- lham com culturas de pequeno, médio e longo prazos.
quisa realizadas, os produtores fizeram toda a adequa- “No longo prazo, a produção de madeira de alta quali-
ção ambiental da propriedade, com a recuperação das dade, que é o que o mercado necessita, traz ao produtor
florestas ciliares e da reserva legal, recompondo padrões uma nova opção de renda, junto aos demais benefícios
ecológicos naturais da região. dos sistemas de integração”. ◆

Sistema silvipastoril muda realidade

KATIA PICHELLI
em condomínio de famílias no Paraná
U
m grupo de famílias de agricultores familiares uma época em que implantar árvores na pastagem parecia
do sudoeste do Paraná revolucionou a gestão uma ideia fora de propósito, o condomínio converteu 10,2
da propriedade, abriu as portas para a pesqui- hectares de pastagem em sistema de integração pecuá-
sa florestal e a extensão rural, implantou o sistema silvi- ria-floresta (silvipastoril), associando pastagem de tifton
pastoril e hoje colhe os frutos desta opção de uso da terra. (Cynodonspp) com árvores da espécie Grevilea robusta.
A primeira mudança foi gerencial: as quatro famílias Para o pesquisador Vanderley Porfírio da Silva, da
resolveram conduzir suas propriedades em conjunto, e as- Embrapa Florestas, a relação entre pesquisa, extensão
sim nascia o Condomínio Pizzolatto, em Saudade do Igua- rural e produtores é essencial. “O produtor nos dá o re-
çu (PR). Em paralelo, optaram por trabalhar com gado de torno mais real possível, pois sente os reflexos no dia a
leite e, para isso, investiram em organização e tecnologia. dia. Essa relação é importantíssima”.
A presença da extensão rural desde o começo foi uma Em pouco tempo, os resultados apareceram. A arbo-
das chaves do sucesso. Abrir as portas à pesquisa agrope- rização do pasto contribuiu para o aumento da produ-
cuária e florestal foi o segundo passo. Há oito anos, em tividade do rebanho em cerca de 20%, em especial pelo Famílias do Condomínio Pizzolatto

380 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 381
EMBRAPA EMBRAPA

Sistemas agroflorestais Sistema de cultivo de frutas, grãos


proporcionam desenvolvimento e hortaliças é adotado no Cerrado
e equilíbrio no meio rural N
a fruticultura tradicional, são necessários, em tamento Brejinho, implantado em Unaí (MG), municí-
média, de um a dois anos até o início da fruti- pio de 70 mil habitantes localizado na região Noroeste
ficação, e de quatro a oito anos para se atingir do Estado. Ela e sua família instalaram o Sistema Filho
o patamar de máxima produtividade física e econômica em novembro de 2012, em uma área de 1600 m2. Além

O
s Sistemas Agroflorestais (SAFs) são formas Neste sentido, os SAFs envolvem diversos fatores e dos pomares. Assim, nos primeiros anos após a implanta- da banana nas bordas, foram plantadas as seguintes fru-
de uso ou manejo da terra nos quais se com- podem ser utilizados tanto por pequenos agricultores ção, o espaço disponível entre as fileiras de fruteiras pode teiras nas fileiras intercalares: acerola, goiaba, graviola e
binam espécies arbóreas com cultivos agríco- quanto por extrativistas e produtores tradicionais. Na ser utilizado para o cultivo de espécies de ciclo mais curto, laranja. Entre as fileiras de frutas, a agricultora plantou
las de forma simultânea ou em sequência temporal, e que utilização para recuperação de áreas degradadas, nas- como hortaliças e grãos, em sistemas de consórcios. abóbora, alface, jiló, milho verde, pimenta e quiabo.
promovem benefícios econômicos e ecológicos. Os SAFs centes, mata ciliar e reserva legal, é importante utilizar Desde 2008, a Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) Os resultados econômicos do sistema de cultivo em
podem favorecer a recuperação da fertilidade dos solos, o espécies arbóreas nativas da região, e também fazer o vem desenvolvendo e aprimorando um sistema de pro- dois anos agrícolas foram positivos e estão contribuin-
controle de ervas daninhas, a preservação de rios, riachos uso adequado da biodiversidade local, para que o SAF dução de frutas, grãos e hortaliças adaptado às condições do para melhorias no estabelecimento. No segundo ano
e nascentes, entre outros benefícios importantes para me- possa fazer parte do ecossistema local. do Cerrado, denominado de Sistema Filho (Fruticultura agrícola (2013/2014) houve elevação da produção sem
lhoria de vida no campo e a sustentabilidade socioambien- Esse sistema de cultivo promove a combinação, por Integrada com Grãos e Hortaliças), numa parceria com a aumento excessivo dos gastos. Keila conta que quando
tal, desde que manejados sob princípios agroecológicos. um longo período de tempo, das culturas anuais, perenes e Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) e o Ministério do De- sua família foi convidada para testar a tecnologia, eles
A integração da floresta com as culturas agrícolas semiperenes, com espécies florestais nativas que também senvolvimento Agrário. hesitaram ao pensar que talvez não tivessem condições
oferece uma alternativa para enfrentar os problemas de podem agregar valor, possibilitando a diversificação das De acordo com o pesquisador Tadeu Graciolli, nas de seguir as orientações. “Na nossa cabeça, a Embrapa só
degradações generalizadas e ainda reduz o risco de perda fontes de renda, juntamente com a recomposição florestal condições de cultivo do Sistema Filho é possível utilizar utilizava insumos caros. Mas, para surpresa de todos, eles
da produção. para busca do equilíbrio ecológico do ecossistema local. mais racionalmente o uso da terra, da água, da luminosi- nos ensinaram a trabalhar de acordo com a nossa realida-
Outra vantagem dos sistemas agroflorestais é que as Desta forma, baseada nos benefícios e melhorias dade solar, de insumos e de mão de obra, gerando recursos de. Agora não desperdiçamos nada, aprendemos a usar
árvores, além dos cultivos agrícolas, podem servir como para a produção, o agricultor e o ambiente, a Embrapa financeiros mais rapidamente para amortizar o investi- tudo e, assim, diminuímos os nossos custos”, afirma. ◆
fonte de renda, uma vez que a madeira e, por vezes, os vem incentivando entre os diversos segmentos rurais a mento financeiro aplicado na fruticultura, e aumentando
frutos das mesmas podem ser explorados e vendidos. utilização de sistemas agroflorestais. Estes, a partir de a renda dos agricultores familiares com a diversificação
Na Fazendinha Agroecológica, área que integra a um manejo correto da terra, tornam-se uma alternativa da produção. Entre outros benefícios deste sistema de

TADEU GRACIOLLI
sede da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goi- para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental da produção estão a conservação do solo, melhoria da ferti-
ás, GO), são realizados diversos estudos de manejo de propriedade rural. ◆ lidade, aumento da agrobiodiversidade e a criação de um
sistemas agroflorestais voltados ao bioma Cerrado desde ambiente desfavorável aos patógenos e pragas.
2003. Nos experimentos de manejo agroecológico, fo- O Sistema atualmente encontra-se implantado em seis
ram obtidos índices e dados que possibilitaram avaliar áreas experimentais na Embrapa Cerrados, que são utiliza-

BRENOLOBADO
o comportamento fitotécnico das espécies componentes das para pesquisa e transferência das tecnologias geradas
do sistema e ainda as alterações químicas, físicas e bioló- aos produtores familiares e técnicos, tanto do Brasil quanto
gicas do solo. Houve desde o início a busca pela diversi- do exterior. Em 2014 foi instalada uma área demonstrativa
ficação do plantio das espécies vegetais, em rotação, em na Agrobrasília com sete espécies de fruteiras (abacate, ace-
sucessão ou em consórcio, fatores importantes para o rola, banana, goiaba, graviola, jabuticaba, limão e tangerina)
manejo agroecológico do sistema agroflorestal. e cultivados, nas entrelinhas, grãos (arroz, feijão e milho),
Os sistemas agroflorestais podem, desta maneira, ser mandioca e hortaliças (alface, alho, batata doce, beterraba,
uma alternativa interessante para agregar renda, garan- cebola, cebolinhas, cenoura, couve, rabanete, rúcula, salsa).
tindo também a diversidade e a segurança alimentar da
propriedade rural. Contribuem ainda para recuperar a Experiência positiva
paisagem, manter as tradições culturais e sociais e me- “Hoje sabemos que é possível viver da terra com
lhorar a autoestima do produtor. Sistema agroflorestal dignidade”, afirma a agricultora Keila Batista, do assen- Consórcio de acerola e abacaxi

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EMBRAPA EMBRAPA

o equivalente a 1,5% do mercado.“Essa participação em vir a abastecer o varejo que vem sendo suprido por
apenas três anos é muito expressiva e deve-se ao fato da importações da Europa e Estados Unidos. A doçura
cultivar apresentar frutos grandes, de ótimo sabor, ma- dos frutos, de polpa firme e cor amarela, se sobressa-
turação em época de pouca concorrência e estratégias de em à leve acidez apresentada,
organização da produção, exercida pela Embrapa em seu A Embrapa disponibiliza as mudas de frutas de qua-

CIRO SCARANARI
programa de licenciamento de viveiristas”, informa Ciro lidade aos produtores através dosviveiristaslicenciados
Scaranari, agrônomo da Embrapa Produtos e Mercado, e monitorados pela Embrapa Produtos e Mercado.Para
responsável pela produção e comercialização das mudas saber mais sobre estas e outras cultivares da Embrapa,
de cultivares de fruteiras desenvolvidas pelos programas visite a página www.embrapa.br/produtos-e-mercado. ◆
de melhoramento da empresa.
Segundo Scaranari, a produção de pessegueiros de
São Paulo é quase toda comercializada nos centros ata-

CIRO SCARANARI
cadistas como o Ceagesp. Na safra 2013/2014 esse centro
atacadista escoou 17,8 mil toneladas de pêssegos e mil
toneladas de nectarina.
Conheça as características de algumas das cultivares
de frutas que a Embrapa colocou no mercado mais re-
centemente:
–– A BRS Platina, desenvolvida pela Embrapa Man-
dioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas, BA)
é uma variedade de banana prata que apresenta alta
resistência às principais doenças da cultura como a
A BRS Mandinho é o primeiro pêssego brasileiro que tem frutos de formato chato
Sigatoka-amarela e o Mal-do-Panamá. Possui carac-

Material genético da Embrapa terísticas semelhantes às da banana Prata Anã, tanto


na forma quanto no sabor, porém, produz maior nú-
mero de frutos e pencas. O sabor e o aroma aframboesados e alto teor de açúcar são características marcantes da BRS Vitória

garante diversidade de
–– Maracujá BRS Rubi do Cerrado da Embrapa Cerra-
dos (Planaltina, DF) é uma planta mais tolerante às
principais doenças do maracujazeiro. Destaca-se por

fruteiras para o Brasil


sua alta produtividade. Seus frutos pesam entre 120 a

CIRO SCARANARI
300 gramas. Tem dupla aptidão, podendo ser utiliza-
do tanto para indústria quanto para mesa.
–– Uva BRS Vitória da Embrapa Uva e Vinho (Bento

A
s frutas tem um apelo muito forte na nutri- familiar, podendo ser cultivadas em áreas menores e, Gonçalves, RS), é uma cultivar vigorosa e precoce. O
ção humana e despertam o interesse tanto de mesmo assim, trazendo rendimentos significativos para sabor e o aroma são aframboesados e o teor de açúcar
produtores, quanto de consumidores, donas os agricultores. entre 19 e 23° Brix. Apresenta tolerância ao míldio e
de casa e da indústria alimentícia de modo geral. A gran- Os frutos resultantes das cultivares lançadas pela Em- sua produtividade fica entre 25 e 30 t/ha.
de quantidade de material genético de frutas de qualida- brapa nos últimos anos estão chegando agora ao mercado –– BRS Passos ‘TAHITI’ da Embrapa Mandioca e Fru-
de que a Embrapa possui torna a empresa bastante com- consumidor, entre eles, algumas variedades de pêssego, ticultura (Cruz das Almas, BA), é uma lima ácida
petitiva no mercado de cultivares de fruteiras do Brasil. uva, banana e maracujá. É o resultado de um programa de que tem alta produtividade, inclusive na entressafra.
Os materiais desenvolvidos pela empresa proporcio- pesquisa de melhoramento genético que visa fortalecer os A cultivar atende ao mercado in natura, produzindo
nam aos produtores o acesso a cultivares com melhor produtos brasileiros e torná-los mais competitivos, tanto frutos na entressafra na região centro-oeste do Brasil.
qualidade de frutos, alta produtividade, resistência a no mercado nacional quanto internacional. É boa alternativa para a agricultura familiar.
doenças e produção na entressafra, colaborando com a Só para citar um exemplo, o pêssego BRS Fascínio, –– Pêssego BRS Mandinho é o primeiro pêssego brasi-
expansão da produção e do mercado nacional. A maio- desenvolvido na Embrapa Clima Temperado em Pelotas, leiro do tipo platicarpa (tem frutos de formato cha-
ria das fruteiras possui exploração predominantemente RS, lançado em 2012, já ofertou cerca de 100 mil mudas, to). Adapta-se às condições locais de cultivo e pode A BRS Passos se tornou ótima alternativa para agricultores familiares

384 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 385
EMBRAPA EMBRAPA

Pesquisa testa

ALESSANDRA VALE

TULIO DE PÁDUA
fruticultura orgânica
em larga escala
S
istemas orgânicos de produção de diferentes volver produtores da região, como forma de promover o
frutas estão sendo construídos de forma pionei- desenvolvimento local.
ra pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz
das Almas, BA) com base em experimentos instalados Avanços
na Chapada Diamantina (BA). Todos são resultados de Os resultados do primeiro ciclo de produção mos-
um projeto realizado em parceria com a empresa Bioe- tram níveis de produtividade superiores ao convencio-
nergia Orgânicos no município de Lençóis, que experi- nal. Duas culturas apresentaram resultados mais rápi-
O maracujá é uma das duas culturas que apresentaram resultados mais rápidos Os resultados do primeiro ciclo de produção mostram níveis de produtividade superiores ao
menta soluções para a produção de orgânicos em larga dos: a do abacaxi e a do maracujá. No caso do abacaxi, o convencional
escala, algo ainda difícil de se fazer. trabalho desenvolve um sistema de produção para duas
A Embrapa está elaborando protocolos de produção cultivares: a Pérola, a mais plantada no país, e a BRS do local e a aceitação tem sido muito boa. Isso nos fez
usando a estratégia de geração e validação simultânea Imperial, desenvolvida pela Embrapa, cuja principal ca- pensar em trabalhar uma classificação com produtos in

ALESSANRA VALE
dos resultados. “Encontramos um parceiro que nos colo- racterística é a resistência à fusariose, mais importante natura no mercado”, conta Araújo.
cou à disposição uma área de 80 hectares para pesquisa, doença da cultura, que chega a causar 100% de perda da
que se tornou a nossa grande estação experimental de lavoura. Outra vantagem da variedade é não conter espi- Produtores locais
fruticultura orgânica, com infraestrutura disponível e nhos na coroa e na folha, o que facilita o manejo e reduz Pelo planejamento, a Bioenergia vai produzir 50%
mão de obra”, avalia o pesquisador Zilton Cordeiro, co- custos e risco de acidentes. da capacidade de processamento da indústria e os ou-
ordenador do trabalho. Segundo ele, associar as pesqui- “Como não tínhamos nenhuma informação sobre tros 50% serão produzidos por parceiros. “A ideia é de-
sas já considerando a produção pode trazer resultados produção de abacaxi em sistema orgânico, inicialmen- senvolver parceiros produtivos focados na agricultura
importantes em um prazo relativamente curto. te fizemos trabalhos para definir densidade de plantio, familiar. Vamos fornecer a muda, o adubo a preço de
O principal desafio é ajustar constantemente os co- adubação e manejo de cobertura do solo para as duas custo e garantir a compra de 100% em contrato, e ele, o
nhecimentos de pesquisa com as necessidades de quem variedades”, conta o pesquisador da Embrapa Mandioca produtor, terá o compromisso de nos entregar, no míni-
está na linha de produção. “Desde o início, quando a e Fruticultura (BA) Tullio de Pádua. “O controle da fu- mo, 50%”, explica Araújo.
proposta foi concebida, sabíamos que para implantar sariose é necessário e um desafio maior no sistema orgâ- O desenvolvimento desses parceiros — selecionados a Graças à parceria, a estação experimental de fruticultura orgânica chega a alcançar 80 hectares

um projeto dessa magnitude teríamos de ter a pesquisa nico. Treinamos os funcionários da empresa para fazer o princípio em Lençóis e nos municípios em um raio de 100
como aliada”, afirma Osvaldo Araújo, um dos sócios da monitoramento constante e eliminar as plantas doentes, quilômetros da indústria, como Bonito, Utinga, Andaraí tira duas safras de maracujá. Assim, o custo será reduzido
Bioenergia, empresa que tem por objetivo final o pro- como forma de reduzir a disseminação da doença,” conta. e Piatã — vai acontecer quando a empresa tiver as mudas e ele vai ter uma renda no fim do primeiro ano.”
cessamento de polpa integral para abastecer o mercado Inicialmente, os sócios não haviam pensado na alter- em quantidade para distribuição. “Devemos iniciar com A inclusão social se dá também pelo emprego de mão
de suco. A previsão dos sócios é que a indústria esteja nativa de comercializar frutos in natura, mas, diante da duas culturas, entre um e três hectares, para cada produ- de obra local. Os sócios informam que 80% dos colabora-
funcionando em 2016 com capacidade para processar 40 qualidade do produto, hoje já consideram essa possibi- tor: o maracujá em consórcio com a manga. Enquanto as dores do projeto provêm de duas comunidades quilom-
toneladas de frutas por dia em um turno. A produção lidade. “Pensamos primeiro apenas no processamento. mangueiras crescem nos dois primeiros anos, o produtor bolas próximas. ◆
virá das fazendas, mas a empresa pretende também en- Mas colocamos como teste esses frutos aqui no merca-

386 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 387
EMBRAPA EMBRAPA

RICARDO MOURA
Produção de acerola
muda realidade de
agricultores
N
os últimos 30 anos, a acerola passou de ilus- A colheita é feita antes do amadurecimento do fruto,
tre desconhecida a uma fruta bastante va- pois estima-se que a acerola verde tenha 50% a mais de
lorizada pelo mercado. Isso se deve, princi- vitamina C que a madura. A matéria-prima é exporta-
palmente, às descobertas de que o fruto é riquíssimo em da sob as formas de líquido concentrado e em pó, em
vitamina C, componente essencial para se ter uma vida especial para Estados Unidos, Japão e China. O cultivo
mais saudável. Essa característica fez com que a acerola da acerola mobiliza 130 agricultores familiares de Per-
fosse introduzida na mesa das famílias brasileiras, prin- nambuco, Piauí, Ceará e Bahia que fornecem o fruto in
cipalmente sob a forma de suco. natura para o processamento agroindustrial.
A empresa norte-americana Nutrilite notou, na pro- Quando jovem, o produtor José Maria da Silva, 45,
dução da acerola, a oportunidade de atender a uma de- trabalhava com o pai plantando milho, feijão e mandioca.
manda mundial por essa vitamina. Com esse objetivo, Eles, no entanto, sofriam com a estiagem, e os rendimen-
foi instalada uma fábrica e uma fazenda na localidade tos eram poucos. “Meu objetivo era trabalhar em uma
de Jaburu, no município cearense de Ubajara, distante área irrigada”, relembra. Em busca de melhores condições
340 km da capital. Cerca de 60 produtos são fabricados a de vida, José Maria e mais 88 famílias se instalaram às
partir da fruta. O sistema de produção adotado é o orgâ- margens do açude Jaburu, ocupando um terreno perten-
nico, garantindo assim menos riscos à natureza por não cente à Igreja Católica. O assentamento Valparaíso loca-
O cultivo da acerola mobiliza 130 agricultores familiares de Pernambuco, Piauí, Ceará e Bahia usar agrotóxicos. liza-se em uma área conhecida pelos moradores como

388 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 389
EMBRAPA EMBRAPA

Carrasco, onde a terra é pobre em nutrientes e as chuvas


são muitas escassas. O cenário amarelado típico da caa-
tinga e o barro vermelho da estrada que dá acesso ao local
po, mais que uma fonte alternativa de renda, represen-
ta, para a agricultora, melhoria na qualidade de vida.
“Passei a lidar mais com a natureza. Isso me dá uma
Técnica aumenta produção do
açaí em até cinco vezes
contrastam fortemente com o verde da Serra de Ibiapaba. paz espiritual muito grande. Aqui é um pedacinho do
A sensação é de se estar em meio ao sertão cearense. céu”, afirma.
O quilo da acerola verde começou a ser vendido por Quem vê as melhorias promovidas na estrutura do
R$ 0,57. Em pouco tempo, no entanto, o valor chegou a sítio, como a reforma do prédio principal, nem imagi-

A
R$ 1,60. Embora tenham de dividir tudo o que ganham e na as dificuldades iniciais enfrentadas pela produtora. O çaizal bem manejado garante mais renda O manejo de mínimo impacto foi concebido a partir
mesmo sofrendo atualmente com a estiagem, os ganhos marido de Perpétua, já morto, tentou produzir acerola para o produtor e preserva a diversidade da do saber local, validado por meio de experimentos téc-
são bem superiores às atividades realizadas anterior- anteriormente, mas sem obter muito sucesso. As pers- floresta. O duplo benefício é obtido quando nico-científicos em módulos de manejo estabelecidos
mente. “Se tivesse de continuar somente com a cultura pectivas em relação à retomada da atividade não eram se aplica a técnica conhecida como Manejo de Mínimo em diversos tipos de açaizais, e aplicado por produtores
do milho e feijão, eu já teria ido embora daqui. Isso é promissoras. “Na época do meu marido não tinha mer- Impacto de Açaizais Nativos, desenvolvida pela Embra- das florestas de várzeas do estuário amazônico (Amapá
certeza”, afirma o agricultor. cado para a acerola. Com a vinda da empresa [Nutrilite], pa. Pela técnica, agricultores são capazes de aumentar a e Pará) desde 2002.
Com o dinheiro da venda da acerola, foi possível nós passamos a atuar como parceiros deles. Quando co- produtividade dos açaizais em até cinco vezes. Desenvolvida a partir da parceria entre o conheci-
construir um galpão para armazenamento dos frutos, meçamos, as pessoas não acreditavam que isso iria dar Mas o impacto positivo dessa tecnologia não se res- mento dos extrativistas e a ciência da equipe técnica da
erguer a sede da entidade e ampliar a área produtiva, certo. Como eu era iniciante, elas achavam que o negócio tringe a isso, sendo potencializado pela geração de em- Embrapa Amapá (Macapá, AP), a tecnologia é baseada no
passando de 10 ha para os 20 ha atuais. A atividade be- não iria pra frente”, relembra. pregos locais. O manejo ocupa a força de trabalho fa- princípio da combinação adequada de açaizeiros e outras
neficia até mesmo quem não faz parte da cooperativa. A Com dois ha de área plantada, a agricultora espera miliar e, em alguns casos, a contratação de mão de obra espécies florestais. “Uma adequada distribuição das árvo-
entidade estima que 80% dos assentados não cooperados obter uma expressiva melhora na produtividade da fa- disponível na própria comunidade, a fim de atender a res no açaizal garante uma boa produção de frutos, melho-
são contratados para atuar na colheita. zenda com a introdução da cultivar BRS 366. Entre uma demanda de aumento da produtividade do açaizal. ra a qualidade e o rendimento de polpa e reduz o trabalho
Após aposentar-se como diretora em uma esco- tarefa e outra, Perpétua vai registrando suas memórias de limpeza do açaizal”, afirma o pesquisador da Embrapa,
la municipal, Perpétua Almeida de Souza passou a se no computador. A agricultura dá vez à escritora. Assim Silas Mochiutti, especializado em Ciências Florestais.
dedicar à produção de acerola. Com a ajuda do filho, como muitos produtores da região, Perpétua de Souza De acordo com avaliação da Embrapa sobre os im-

DULCIVÂNIA FREITAS
Alexsander Fernandes, ela decidiu reativar uma antiga está ajudando a construir uma nova história no que se pactos decorrentes do uso dessa tecnologia, enquanto os
propriedade pertencente à família. O trabalho no cam- refere à produção de acerola. ◆ açaizais não manejados rendem uma produção anual mé-
dia de 20 a 30 sacas de quatro rasas de açaí/hectare (cerca
de 52 quilos), nas áreas onde são adotadas a tecnologia de
mínimo impacto esse número sobe para uma produção

RICARDO MOURA
anual de 70 a 100 sacas de mesmas características.
O mesmo estudo mostrou que, no indicador da opor-
tunidade de emprego local qualificado, o impacto positivo
atingiu a escala de 7,5 na tabela da metodologia Sistema de
Avaliação de Impacto da Inovação Tecnológica (Ambitec),
que vai até 15, demonstrando a sustentabilidade da tecno-
logia no tripé social, ambiental e econômico. ◆

RICARDO MOURA
A colheita é feita antes do amadurecimento, pois estima-se que a acerola verde tenha 50% a mais de vitamina C Açaizal de campo experimental da Embrapa manejado com mínimo impacto Curso manejo de açaizal nativo realizado no Amapá

390 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 391
EMBRAPA EMBRAPA

Agricultores gaúchos
em micropropagação de plantas”, explica o pesquisador dades onde a bananicultura se faz presente na produção
Edson Perito Amorim, responsável pelo programa de comercial e se constitui em fonte de renda.
melhoramento genético de bananeira da Embrapa. Para José Osmar Munari, técnico da Empresa de
A resistência às duas doenças é, justamente, o princi- Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do

aprovam variedade de
pal diferencial da nova cultivar, tendo sido a maior preo- Sul (Emater/RS) na região de Morrinhos do Sul, a intro-
cupação da equipe durante todo o tempo da pesquisa. “A dução da variedade é uma grande evolução. “O mal do
BRS Platina vem atender à demanda por frutos do tipo Panamá é o nosso maior problema. Então, ao minimi-
Prata, em especial onde há a presença do mal-do-Pa- zar o prejuízo que ele proporciona, nós vamos pôr um
namá, doença que limita a produção da cultivar ‘Prata ganho de produção e de renda para todas as quase 3.500

bananeira
Anã’”, afirma o pesquisador. famílias que dependem exclusivamente ou tem a banana
Apresenta bom perfilhamento, porte médio e carac- como principal produto em todo litoral norte do Estado”,
terísticas, tanto de desenvolvimento quanto de rendi- afirma, entusiasmado.
mento, idênticas às da ‘Prata Anã’. Os frutos também pa- Celito Weber, produtor há 35 anos, cultiva a BRS
recem com os dessa cultivar em forma, tamanho e sabor, Platina de forma orgânica desde 2013 em meio hecta-

A
resistência ao mal-do-Panamá e à Siga- ponde bem a um manejo mais rústico, não precisando de porém devem ser consumidos com a casca um pouco re, num experimento da Emater e da Embrapa. “Nunca
toka-amarela e a moderada resistência à manejo sofisticado sob condições de sequeiro.A cultivar mais verde, à semelhança das variedades do subgrupo apliquei óleo na folha e ela está bem. Faço as aplicações
Sigatoka-negra quando comparada com dispensa a aplicação de fungicidas, sejam eles preventi- Cavendish. Além disso, devem ser colhidos de acordo de acordo com a recomendação da Emater. É uma culti-
a cultivar Prata-Anã são os principais diferenciais da vos ou curativos, para o combate a essas doenças. Como com o mesmo manejo adotado para as variedades do var boa de gosto e boa para o mercado. Creio que vai se
BRS Platina, desenvolvida pela Embrapa Mandioca e resultado, o agricultor reduz o custo de produção e de subgrupo Cavendish. adaptar bem na região e produzir muito”, afirma Celito,
Fruticultura (Cruz das Almas, BA), em parceria com a agressão ao meio ambiente e evita resíduos de agrotóxi- A BRS Platina foi lançada em áreas produtoras da que faz parte do Grupo Rio Bonito (orgânico) e entrega
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária de Minas cos nos frutos. Bahia e do Rio Grande do Sul e uma rede nacional de bananas duas vezes por semana para os municípios de
Gerais (Epamig) e com o Instituto Federal de Educação, “A BRS Platina é a primeira variedade do grupo Prata avaliação do desempenho agronômico dessa cultivar está Caxias de Sul, Farroupilha, Carlos Barbosa, Garibaldi e
Ciência e Tecnologia Baiano (Guanambi, BA). protegida no Brasil, o que proporciona maior segurança em curso, para a recomendação futura em outras locali- Bento Gonçalves. ◆
Indicada para a agricultura em grande escala e fami- para os agricultores, uma vez que está sendo disponibi-
liar, incluindo a agricultura orgânica, a BRS Platina res- lizada ao público por meio de empresas especializadas

EDSON AMORIM

LÉA CUNHA
LÉA CUNHA

Mudas da BRS Platina estão sendo disponibilizadas por meio de empresas especializadas em
A resistência ao mal-do-Panamá e à Sigatoka-amarela é o principal diferencial da nova cultivar micropropagação de plantas

392 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 393
EMBRAPA EMBRAPA

H
á três anos, os sertões do Nordeste do Brasil produz suco na região de Picos (PI), e a castanha vai para
encaram uma das mais severas secas de que o mercado de Sergipe.

RICARDO MOURA
se tem notícia. Nesse período, muitos poma- O preço da caixa de pedúnculo com 20 kg, em no-
res de cajueiro foram dizimados. Alheio a isso, o clone de vembro, esteve a R$ 10,00 na região. No ano passado,
cajueiro anão-precoce BRS 226 (Planalto), surpreende Bezerra chegou a vender a caixa por R$ 33,00. Apesar
pela produtividade, que já chegou a 800 quilos de casta- das dificuldades, os produtores não desanimam. “Se não
nha por hectare em propriedades do Ceará. A variedade fosse o BRS 226, a situação estaria bem pior. Mas o pes-
tem se mostrado mais resistente a pragas e doenças, como soal é otimista e continua plantando caju”, diz.
a resinose – uma das principais enfermidades do cajueiro
nos grotões e chapadas do Semiárido nordestino. Forte e de pequeno porte
Pequenos produtores estão encontrando no BRS 226 Lançado pela Embrapa em 2002, o BRS 226 é recomen-
um alívio diante da estiagem que castiga a região. O pro- dado para plantio comercial de sequeiro no Semiárido. É
dutor José Aldir Bezerra, conhecido no município de Pio de pequeno porte, na fase adulta raramente ultrapassa os
IX, no Piauí, como Didi do Caju, diz que enquanto mui- três metros de altura, permitindo que os frutos possam
tos cajueiros comuns estão morrendo com a seca, o clone ser colhidos com as mãos. O clone é recomendado para
BRS 226 tem resistido bem. “Vemos que ele está se desta- o mercado de amêndoa, mas seus pedúnculos, ou falsos
cando, aguenta mais. Muita gente está fazendo o plantio frutos, vêm agradando também as indústrias de sucos.
do 226 para substituir as áreas de cajueiros comuns que No sudeste do Piauí, conforme o pesquisador da Em-
morreram com a seca”, disse. brapa Agroindústria Tropical (CE) Luiz Serrano, o clone
Bezerra diz que a estiagem afetou muito a vida dos encontrou excelente aceitação. “Podemos afirmar que
produtores. “Antes da seca, era bom demais. Teve in- há, entre os produtores daquela região, uma ‘febre’ do
verno que eu comprei 40 mil kg de castanha. Agora não BRS 226. Todos os produtores querem plantar esse clone
compro 4 mil kg na safra toda”, disse. Além de comprar da Embrapa”, diz o pesquisador. Segundo Serrano, tanto
a produção de pequenos produtores, ele mantém cinco as mudas quanto as castanhas do BRS 226, devido à alta
propriedades com pomares de caju. O pedúnculo é co- demanda, apresentam preços mais elevados que os de-
mercializado para a Bom Sucesso Agroindustrial, que mais materiais. ◆

Caju lançado pela

RICARDO MOURA
Embrapa produz
mesmo em tempos
de seca
394 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015
Em plena seca, a BRS 226 vem salvando a produção de caju em muitas propriedades do Piauí

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 395


EMBRAPA EMBRAPA

com o objetivo de introduzi-las no sistema de produção de


frutas da região.
Além da produção de frutas para consumo in natura,

PAULO LANZETTA
a fruticultura possibilita a agregação de valor por meio
do processamento em diversas formas, que podem con-
tribuir de modo significativo para o aumento da renda na
propriedade, especialmente para a Agricultura Familiar.
“A pitangueira e o araçazeiro florescem e frutificam
entre setembro e abril, sendo que ambas podem propor-
cionar duas colheitas por ano”, relatou o pesquisador Ro-
drigo Franzon. Estas espécies apresentam, ainda, como
uma das principais vantagens, a adaptação a diferentes Colheita de frutos de butiá e alguns araçás

condições climáticas e de solo. “Elas são altamente pro- tares, como forma de especializar-se a cada dia e atender
dutivas e, normalmente, tem baixos custos de produção, a crescente procura por esses produtos.
sendo uma boa alternativa em pequenas propriedades Segundo Martins, a finalidade original da implanta-
onde predomina a mão de obra familiar”, exemplificou. ção do pequeno pomar de araçás, de pitangas, de amoras

Frutas nativas diversificam


Além disso, a colheita da maioria delas ocorre em épo- foi aprender a trabalhar com essas frutas. “O conheci-
ca diferente de outras frutíferas importantes, como por mento sobre as frutas nativas precisa ser aprimorado. É
exemplo, o pessegueiro e a ameixeira. tudo ainda muito novo. A esperança que se tem é que
estaremos formando, aqui, um polo expressivo de pro-

agricultura familiar do Sul


O cultivo de frutas nativas dução e beneficiamento de frutas nativas, a exemplo do
Localizada no 5º distrito de Pelotas/RS, a Agroindústria que está sendo feito com as frutas do Cerrado Brasileiro,
Familiar Rural Quinta Martins está inserida, especialmen- com as frutas amazônicas e o que tem sido feito também,
te, no cultivo de frutas nativas. Em funcionamento desde há um bom tempo, no Nordeste”, comentou.
2007, a agroindústria nasceu da materialização de um so- O diferencial da Quinta Martins está na produção na-

U
ma das estratégias adotadas pela Embrapa senvolve pesquisas relacionadas a práticas culturais para nho de Ubirajara Martins, filho de produtor, que por vários tural, sem uso de produtos químicos, com a utilização de
Clima Temperado (Pelotas, RS) na área de incremento da produtividade; produção fora de época, anos trabalhou junto às indústrias de conservas da região. água de alta qualidade, pois no local há uma fonte de água
Fruticultura junto ao segmento da Agricul- a qual alcança melhores preços no mercado; estudos “Nós começamos a cultivar frutas nativas e a processá-las mineral. Para o ano de 2015 está projetada a produção de
tura Familiar é o uso da diversificação de frutíferas nas sobre insetos polinizadores; identificação de genótipos na forma de sucos e geleias, de tal forma que elas pudessem 13 mil litros de néctar de frutas nativas (butiás, pitangas,
pequenas propriedades rurais. A pesquisa está investin- (seleções ou cultivares) de amora-preta tolerantes a altas ganhar valor e a atender um público que está disposto a araçás e uvaias). A agroindústria serve de incentivo a ou-
do no cultivo de frutas benéficas à saúde. temperaturas na florada; possibilidade de cultivos, em consumir bons produtos, com valor agregado”, explicou. tros produtores familiares da região, que instalaram seus
Dentre as chamadas frutas vermelhas, a amora-preta algumas áreas, sem necessidade de aplicação de defen- O produtor investiu na elaboração de sucos e néctares pomares com frutíferas tradicionais e nativas e são tam-
e o mirtilo são ainda pouco conhecidas e pouco planta- sivos, entre outros. nos sabores tradicionais de pêssego, goiaba, bergamota, bém fornecedores de outras agroindústrias. Hoje, Martins
das no Brasil. Entretanto, são cultivos que se adaptam a As duas espécies têm um grande apelo no mercado laranja e uva e também nos sabores exóticos de amora, recebe mais de 15 mil quilos de frutas destes produtores
pequenas áreas, com um bom retorno ao produtor. Se- mundial devido aos benefícios da fruta para a saúde e à mirtilo e frutas vermelhas e nos sabores nativos de ara- para abastecer sua agroindústria de sucos e néctares e con-
gundo a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, diversificação de produtos que podem ser delas prepara- çá, pitanga , butiá e uvaia. “Nossa ideia é possibilitar que tribuir para manter a tradição em fruticultura na região.◆
o custo de instalação de um plantio de mirtilo é alto, mas dos. “Hoje, a cultivar de amora-preta BRS Tupy tem uma as pessoas apreciem sabores de frutas que elas conhecem
a amora-preta tem um custo relativamente baixo. Por área plantada no México, por exemplo, 15 vezes maior desde sempre, mas que não eram convertidas num pro-
outro lado, ambas produzem a partir dos primeiros anos do que a que ocupa no Brasil”, comentou a pesquisadora. duto, que pudesse ser levado à mesa”, falou Ubirajara.

PAULO LANZETTA
(principalmente a amora-preta). A Embrapa também possuiu um Banco Ativo de Ger- Conforme sua avaliação, um dos produtos mais atra-
A Embrapa Clima Temperado trabalha com estas moplasma (BAG) de fruteiras nativas do Sul do Brasil, com tivos produzido pela agroindústria é o néctar de butiá.
duas espécies testando a adaptação de cultivares in- o objetivo de conservar um pouco de variabilidade genética “As pessoas ficam surpresas com o aspecto e sabor do
troduzidas de outros programas de pesquisa e visando destas fruteiras. Dentre as espécies mantidas, o araçazeiro néctar”, lembra o pequeno empresário. A Quinta Mar-
desenvolver novas variedades, mais produtivas, melhor e a pitangueira destacam-se com maior potencial de apro- tins, que começou produzindo frutas em calda como
adaptadas, e com qualidades adequadas ao consumidor veitamento. Desenvolver um sistema de produção para o pêssego, figo e abóbora e geleias de diversos sabores,
brasileiro, incluindo o sabor mais doce. Além disso, de- cultivo destas espécies é uma das metas a serem alcançadas, hoje, caminha para a produção exclusiva de sucos e néc-

396 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 397
EMBRAPA EMBRAPA

Híbridos de maracujazeiro
é Marcelo Kviatkovski, que erradicou o pomar em 2005 Além de terra valorizada, os produtores contam hoje
por causa da doença. Após essa experiência negativa, ele com casa própria e máquinas agrícolas que substituem o
plantou as novas cultivares em uma área de meio hectare e trabalho braçal. Outro importante impacto social que o
está satisfeito com os resultados. Agora, pretende apostar cultivo do maracujá tem propiciado é a reversão do êxo-

azedo para geração de


novamente na cultura. “Pode ser a salvação da lavoura e do rural. Filhos de produtores de maracujá têm retorna-
mais uma fonte de renda para diversificar a pequena pro- do à propriedade para ajudar os pais no cultivo, diante
priedade rural. A solução é procurar produzir produtos das boas perspectivas de renda e qualidade de vida no
com alto valor agregado, que é o caso do maracujá”, diz. campo. A possibilidade de geração de renda em peque-

emprego e renda no campo No Rio de Janeiro, as novas cultivares de maracuja-


zeiro fazem parte de projetos exitosos de Arranjos Pro-
dutivos Locais coordenados pela Embrapa Agroindústria
de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ). Em Goiás e no Distrito
nas áreas de forma contínua ao longo do ano faz com que
o maracujá também seja uma ótima opção para assenta-
mentos de reforma agrária.

A
utilização de sementes e mudas de alta qua- Características Federal, o maracujá tem melhorado a vida de muitos pro- Acesso
lidade genética é a base para o sucesso no O híbrido de maracujazeiro-azedo BRS Gigante dutores. O casal Zenite Lima e Lucilene Farias comemora Parcerias com a iniciativa privada e o licenciamento
cultivo do maracujá. Guiada por esse prin- Amarelo destaca-se pela alta produtividade e pelos fru- a colheita dos frutos da própria terra. Eles trabalhavam de viveiristas para a produção de sementes e mudas per-
cípio, a Embrapa desenvolveu nos últimos anos no- tos grandes e ovais, que são mais valorizados no mercado como meeiros na fazenda de um grande produtor de mitem a agricultores familiares de todo o Brasil o acesso
vas cultivares híbridas de elevada produtividade, alta de frutas in natura. Na propriedade de Lúcio da Silva e do soja, café e feijão do DF. Com a renda do maracujá, eles às tecnologias. Os contatos para encomenda de mudas
qualidade física e química de frutos e maior tolerância filho Deiguison, em Sítio d’Abadia, em Goiás, os frutos juntaram as economias e compraram um sítio de quatro estão disponíveis no endereço http://www.embrapa.br/
a doenças de parte aérea como virose, bacteriose, an- da cultivar chegaram a 685 gramas. “Todos os frutos têm hectares em Goiás, na divisa com o DF. produtos-e-mercado/maracuja. ◆
tracnose e verrugose. Entre as cultivares lançadas pela apresentado o tamanho acima do esperado, o que tem
Empresa estão a BRS Rubi do Cerrado, a BRS Gigante garantido maior valor comercial e bom rendimento na
Amarel, BRS Sol do Cerrado e BRS Ouro Vermelho, to- produção de polpas”, conta Lúcio. Na Bahia, maior Es-
das de maracujazeiro azedo. tado produtor, o material tem se comportado com boa

BRENO LOBATO
O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial tolerância à antracnose.
de maracujá. Apesar de a produção nacional ser próxima O BRS Sol do Cerrado também se destaca pela alta
de 1 milhão de toneladas por ano, a produtividade média produtividade e menor dependência da polinização ma-
é baixa, em torno de 14 toneladas por hectare por ano. nual. “Apesar dessa menor dependência, a prática da
“A produtividade é considerada baixa porque muitos polinização manual é recomendada para todos os pro-
produtores chegam a produzir mais de 50 toneladas por dutores de maracujá por propiciar maior vingamento
hectare por ano”, explica o pesquisador Fábio Faleiro, da das flores e obtenção de frutos com maior peso e maior
Embrapa Cerrados (Planaltina, DF). rendimento de polpa”, destaca Faleiro.
Ele aponta dois fatores principais que podem levar à O BRS Ouro Vermelho apresenta coloração mais forte
baixa produtividade do maracujazeiro. “O primeiro é a da polpa, que contém maior quantidade de vitamina C. Já
não utilização de cultivares melhoradas geneticamente. o BRS Rubi do Cerrado também apresenta polpa amarelo-
Muitos produtores utilizam sementes sem origem gené- -alaranjada, alta produtividade e alta tolerância a doenças,
tica conhecida, obtidas de frutos de pomares comerciais principalmente virose e bacteriose. “A produtividade das
ou mesmo no mercado. O outro fator é o baixo uso de novas cultivares de maracujá nas condições do Cerrado
tecnologias do sistema de produção, como a correção da tem superado as 40 toneladas por hectare por ano em po-
acidez e fertilidade dos solos, podas de formação, adu- mares adequadamente manejados”, observa o pesquisador.
bações de cobertura, polinização manual e irrigação ou
fertirrigação e o controle fitossanitário”, diz. Segundo o Impacto social e econômico
pesquisador, o uso de cultivares melhoradas genetica- Os novos híbridos de maracujá desenvolvidos pela
mente e a adoção de técnicas adequadas de cultivo po- Embrapa e parceiros têm sido cultivados em praticamente
dem viabilizar o agronegócio em pequenas áreas (um ou todas as regiões do Brasil. Em São Paulo, produtores têm
dois hectares) e contribuir para manter as famílias no apresentado dificuldades com o cultivo do maracujá, prin-
campo com melhor qualidade de vida. cipalmente com a virose do maracujazeiro. Exemplo disso Com a renda do maracujá, Zenite e Lucilene compraram um sítio de quatro hectares

398 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 399
EMBRAPA EMBRAPA

Maracujazeiro silvestre
espécie Passiflora setacea, coletados em diferentes regi- Cultivo e produção
ões do Cerrado. “Os trabalhos de pesquisa permitiram As condições de cultivo e produção são semelhantes
que a produtividade da espécie fosse triplicada e o tama- às do maracujazeiro azedo. A produção dos frutos come-
nho dos frutos aumentado, mantendo-se sua principal ça a partir dos oito meses e a planta produz o ano inteiro

oferece quatro vantagens


característica, que é a alta resistência a doenças”, explica durante pelo menos quatro anos, podendo ter uma longe-
o pesquisador Fábio Faleiro. vidade ainda maior. A produtividade anual pode variar de
A produção comercial das mudas foi viabilizada gra- 20 a 30 toneladas por hectare, dependendo do sistema de
ças a ajustes no processo de germinação das sementes condução das plantas, sendo que o sistema de latada per-

para o agricultor familiar


com uso de fitohormônios. O estabelecimento de parce- mite uma produção maior que o sistema de espaldeiras.
rias com a iniciativa privada e o licenciamento de vivei- O fruto pesa entre 50g e 120g, com rendimento de
ristas para a produção de mudas têm garantido a agri- polpa superior a 40%. O trabalho de desenvolvimento
cultores familiares de todo o País o acesso à tecnologia. tecnológico tem viabilizado o uso integral do fruto (pol-
pa, casca e sementes), das folhas, flores e ramas para

C
om elevada produtividade e resistência a do- ajustes nos sistema de produção, foi possível disponibili- Características produção de ingredientes e de matéria-prima para as
enças, a cultivar BRS Pérola do Cerrado é uma zar a primeira cultivar de maracujazeiro silvestre para os Por se tratar de um maracujá silvestre, o BRS Pérola indústrias de alimentos, condimentos, cosmética, de ar-
tecnologia desenvolvida depois de quase 20 fruticultores e consumidores, lançada na Embrapa Cer- do Cerrado apresenta alta resistência a pragas e doen- tesanato e farmacêutica.
anos de pesquisas por um grupo multidisciplinar de pes- rados (Planaltina, DF). ças, característica importante para reduzir a aplicação Nos últimos cinco anos, o extensionista Geraldo Ma-
quisadores da Embrapa e parceiros públicos e privados. O novo material foi obtido na Embrapa a partir do de defensivos agrícolas, trazendo benefícios econômi- gela Gontijo, da Emater-DF, acompanhou o trabalho de
Por meio de um trabalho de melhoramento genético e melhoramento genético de uma população de acessos da cos, ambientais e ao consumidor. A rusticidade da cul- validação a campo junto aos produtores do DF. Ele acre-
tivar tem viabilizado a produção inclusive em sistemas dita que o BRS Pérola do Cerrado vai representar um
A polpa do BRS Pérola do Cerrado é rica em substâncias antioxidantes que atuam na orgânicos e agroecológicos. avanço na cultura do maracujá no Brasil. “Está sendo um
prevenção de doenças degenerativas Mas diferencial de mercado da cultivar está na quá- sucesso e veio pra ficar”, aposta.

BRENO LOBATO
drupla aptidão: consumo in natura, processamento in-
dustrial, ornamental e funcional. Todas essas caracterís- Aprovação
ticas têm despertado o interesse de muitos fruticultores Produtores rurais e técnicos do Distrito Federal e
e consumidores, havendo uma perspectiva de fortaleci- Entorno que participaram da validação da cultivar se
mento e crescimento da cadeia produtiva. mostram bastante satisfeitos com o novo material. Pro-
A polpa é doce e saborosa, sendo por isso uma opção dutora em Sobradinho, DF, Leda Gama não dispõe de
para o mercado de frutas especiais e de alto valor agre- mão de obra contratada. “Trabalhamos apenas eu e meu
gado, principalmente quando produzida em sistemas or- sobrinho, e tivemos que investir em algo que desse me-
gânicos. O processamento industrial está relacionado ao nos trabalho e mais lucratividade. Deu certo”, comenta.
uso da polpa para fabricação de sucos, sorvetes, doces e Entusiasmada com o resultado, Dona Leda dá um recado
outros alimentos doces e salgados. A aptidão ornamen- aos agricultores: “Não meçam esforços para implantar na
tal se deve às belas flores brancas e à ramificação densa, propriedade de vocês. Ele é uma pérola, uma joia, e joia
ideal para paisagismos de grandes áreas, como cercas, vale dinheiro”.
pérgulas e muros. Lucília Evangelista, produtora em Planaltina de Goi-
Já o uso como alimento funcional é possibilitado ás (GO), destaca a resistência a doenças como uma gran-
pelas características físico-químicas da polpa, rica em de vantagem do BRS Pérola do Cerrado. “O cultivo desse
substâncias antioxidantes (polifenóis e poliaminas) que maracujá dá menos trabalho com as pulverizações para
atuam na prevenção de doenças degenerativas e no for- controle de pragas e doenças”, observa. Para o extensio-
talecimento das respostas imunológicas. Em termos nu- nista Geraldo Magela, a cultivar é mais uma alternativa
tricionais, a polpa do BRS Pérola do Cerrado também é e está conquistando os produtores da região. “Trata-se
rica em sais minerais, principalmente ferro, magnésio, de um material rústico e que não precisa de polinização
fósforo, enxofre e cálcio. manual. Além de tudo, é muito saboroso”, afirma. ◆

400 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 401
EMBRAPA EMBRAPA

SAULO COELHO - EMBRAPA


Plantio de morango
Dentre as cultivares avaliadas, quatro estão se mostrando promissoras para cultivo em Sergipe

morango orgânico nessas regiões, pois o mercado de sas hortaliças. O resultado é maravilhoso. É muito bom
Sergipe sinaliza para o crescimento da demanda do pro- ter no nosso pomar morango de qualidade”, comemora.

orgânico mostra-se
duto, havendo necessidade de aumentar a área de plan- Dentre as cultivares avaliadas, quatro estão se mostran-
tio e a produtividade. do promissoras para cultivo em Sergipe. Urbana ressaltou
A conscientização sobre os riscos decorrentes do ainda a importância e a necessidade de produzir mudas de
uso de agrotóxicos tem levado o consumidor a pro- morango no Estado, ao invés de usar mudas importadas.
curar morango orgânico. O morangueiro cultivado A pesquisadora da Emdagro Luzia Nilda Tabosa An-

vantajoso em Sergipe
no sistema convencional pode receber até 45 pulve- drade também está trabalhando na difusão de conheci-
rizações com agrotóxicos. Por esse motivo, essa fruta mentos teóricos e práticos, abordando doenças e pragas
encontra-se na lista negra dos alimentos campeões de do morangueiro nas condições locais, e as técnicas de
resíduos químicos. controle natural. Já o técnico em Agropecuária Waltenis
Atualmente os agricultores mostram interesse por Braga Silva, também da Emdagro, foca sua atuação no

D
iante da importância da cultura do morango Sergipe importa de 100 a 120 toneladas anuais de sistemas alternativos de produção que aumentem a ren- preparo de solo, fontes de nutrientes e adubação do mo-
para Sergipe, a Embrapa está executando um morango do sul do país, o que justifica o empenho dos tabilidade, além de preservar a capacidade produtiva do rangueiro em sistema orgânico de produção, fechando
projeto para ampliar a adoção do plantio de pesquisadores no desenvolvimento do cultivo do produ- solo a longo prazo. “Plantando com tecnologia é possível o ciclo do conhecimento necessário para o plantio bem
morango orgânico aos técnicos e produtores da região. A to. “Com tecnologia, mudas apropriadas e o clima mais produzir morango orgânico em Sergipe, gerando mais sucedido do morango orgânico.
pesquisa está sendo realizada em parceria com a Empre- frio de Itabaiana e Areia Branca, poderemos tornar a re- emprego e renda no Estado, tanto para agricultura quan- “É uma experiência nova, pois nunca vi produção
sa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Em- gião em um polo promissor para o plantio de morango to para a indústria”, afirma Maria Urbana. de morango na região. O morango está se destacando
dagro) no município de Itabaiana, principalmente no orgânico”, relata a pesquisadora Maria Urbana Corrêa O produtor Hilton Fernandes de Jesus, do município bem. Agora vamos esperar o resultado da pesquisa para
perímetro irrigado de Jacarecica e em propriedades de Nunes, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE). de Areia Branca, que cedeu o terreno para os experimen- definir a melhor variedade de morango, para poder
produtores experimentadores do povoado Alto do Vento, Os experimentos têm demonstrado a viabilidade tos da Embrapa, disse que a experiência é satisfatória. plantar e comercializar”, disse o produtor Gilvan Tava-
no município de Areia Branca. técnica, econômica, social e ecológica da produção de “Estamos plantando morango orgânico junto com nos- res do Nascimento. ◆

402 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 403
EMBRAPA EMBRAPA

C
onhecido pelo calor intenso e pela escassez de Entre as vantagens que a produção no Nordeste tem
chuva em grande parte de sua área, o Nordeste apresentado estão a ausência de doenças, a baixa inci-
brasileiro vem surpreendendo o mundo com a dência de pragas e a possibilidade de até duas safras por

Pera, maçã e caqui:


produção irrigada de frutas de ambientes mais amenos, ano na mesma planta. Além, especialmente, de se confi-
como a uva e a manga. Agora, os tradicionais “carros-for- gurar como alternativa para a diversificação dos cultivos
tes” da economia da região devem ganhar novos aliados, da região, atualmente centrados em poucas variedades.
com a introdução de frutas de clima temperado, como a A possibilidade já começa a atrair agricultores, a
pera, a maçã e o caqui. exemplo de Hiroto Yukihara, produtor de uva de Petroli-

novos nichos da
A viabilidade destes cultivos no Semiárido vem sen- na (PE). Ele iniciou a implantação de um hectare de ca-
do avaliada pela Embrapa em áreas irrigadas dos estados qui em parceria com a Embrapa, e antes mesmo da pri-
de Pernambuco, Ceará e Sergipe. Os resultados são pro- meira colheita já estendeu a área para mais dois hectares.
missores, com boa produtividade, qualidade dos frutos “Na agricultura você não pode se basear apenas em uma

fruticultura no Nordeste
e – o que é o grande diferencial da região – possibilidade cultura, tem que diversificar. O Vale do São Francisco é
de colheita em qualquer época do ano. maravilhoso, mas tudo tem um risco”, observa.
O objetivo do trabalho é possibilitar a produção des- Já o produtor Andre Pavesi, também de Petrolina
sas culturas em épocas diferenciadas das tradicionais (PE), está apostando na maçã. Em sua propriedade a
região produtoras, o que vai possibilitar aos agricultores Embrapa implantou uma área de meio hectare para ex-
a conquista de melhores preços e mercados, como afir- perimentos, na qual ele já identifica o potencial da cultu-
ma o pesquisador Paulo Roberto Coelho Lopes, líder dos ra. “Comercialmente ainda não temos muita informação,
estudos com novas fruteiras na Embrapa Semiárido (Pe- pois não tivemos volume de produção, mas a aceitação
trolina, PE). “Não temos a pretensão de competir com o no mercado foi muito boa, o que criou um estímulo ain-

FERNANDA BIROLO
Centro-Sul do país, que tem produtividade e qualidade da maior”. Animado, ele espera em breve já estar pronto
superior à nossa, mas aproveitar as janelas de mercado para enfrentar uma produção comercial.
para colocar nossas frutas no mercado regional”, afirma.
Espaço para isso não falta, já que o Brasil importa um Resultados
grande volume destas frutas. Somente da pera, cerca de As pesquisas com frutas de clima temperado reali-
90 a 95% do consumo nacional é procedente de outros zadas pela Embrapa, em parceria com a Companhia de
países. Em 2012, por exemplo, foram importadas 172 Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaí-
mil toneladas, enquanto a produção nacional chegou a ba (Codevasf), iniciaram com a avaliação da adaptação
apenas 21 mil. das culturas às condições da região. Com os bons resul-
tados, agora se centram em estudos para determinação
Vantagens de parâmetros como espaçamento, sistema de condução,
De acordo com o pesquisador João Caetano Fiora- adubação, monitoramento de pragas e doenças, lâminas
vanço, da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), a de irrigação, uso de indutores de brotação e avaliação da
interação das fruteiras com o clima ocorre de forma bas- qualidade dos frutos e dos custos, entre outras.
tante distinta no Nordeste e no Sul do país. “No Sul, o ín- Algumas variedades já despontam como mais pro-
dice de chuvas é bom para o fornecimento de água para missoras, como os caquis Rama Forte e Giombo, as ma-
as culturas, mas, por vezes, o excesso prejudica a floração çãs Princesa, Eva e Julieta, e as peras Triunfo, Princesi-
e a colheita. Além disso, temos eventos climáticos que o nha e Housui. No entanto, o pesquisador Paulo Roberto
Nordeste sequer conhece, como as geadas e o granizo, explica que o cultivo ainda não está sendo recomendado,
que causam prejuízos quase todos os anos”, destaca. pois muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas.

404 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 405
EMBRAPA EMBRAPA

Versão 2.0 lhor previsão de safras das culturas, diminuindo perdas


Em 2014, a Embrapa Informática Agropecuária im- e subsidiando informações para uso do seguro agrícola.
plantou novos recursos, modernizando o sistema e tor- A Embrapa tem aproveitado sua participação em

Sistema Agritempo
nando mais fácil a interação entre usuário e tecnologia. A feiras e exposições para demonstrar o Agritempo, com
principal novidade são os mapas climáticos disponíveis vídeos, palestras e cursos, orientando este público para
em uma ferramenta de WebGis, que permite não apenas seu uso prático. ◆
consultá-los, mas baixá-los no computador para análises
específicas. Assim, pode-se comparar e cruzar diversos
tipos de informações, como mapas de zoneamento agrí-

ajuda a monitorar a plantação cola, perda de produtividade ou contratos de seguro, por


exemplo.
A atualização do Agritempo buscou ainda dar aos
usuários maior flexibilidade no uso dos recursos compu-

O
monitoramento agrometeorológico da pro- informações meteorológicas e agrometeorológicas dos tacionais. Para atender aos diversos públicos que consul-
dução agrícola, desde o preparo da terra até a municípios brasileiros. tam o sistema, inclusive de outros países, a nova versão
colheita, ajuda o produtor a planejar melhor e Pela internet, é possível ver mapas de monitoramento também é apresentada em inglês e espanhol.
a acompanhar o desenvolvimento da lavoura. Saber quais de precipitação e estiagem, por exemplo, previsões so- De acordo com o Comitê Gestor do Garantia Safra,
são as condições do tempo previstas para determinada bre condições para colheita e manejo de solo, tratamento do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), a
época e região é fundamental para o planejamento e a re- fitossanitário, séries históricas, entre outras opções. A agricultura familiar é mais vulnerável às mudanças cli-
dução do risco de perdas devido a fenômenos climáticos. atualização dos dados meteorológicos é feita duas vezes máticas devido ao pouco acesso a todas as informações
O Sistema de Monitoramento Agrometeorológico ao dia e, além de buscar informações, é possível gerar necessárias para a atividade. Assim, o Agritempo é mais
Agritempo (www.agritempo.gov.br) é uma importante mapas, baixar boletins regionais e encontrar redes de es- um instrumento de tomada de decisão, permitindo me- Página inicial do Agritempo
ferramenta gratuita de apoio ao Zoneamento Agrícola de tações meteorológicas pelo País.
Risco Climático, instrumento de política agrícola e ges- “O produtor pode estar em dúvida se vai fazer plantio
tão de riscos na agricultura coordenado pelo Ministério ou trato fitossanitário. O sistema permite saber a proba-
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e vali- bilidade de ocorrer chuva naquele período ou se vai con-

NEIDE FURUKAWA
dado pela Embrapa.O zoneamento informa ao produtor tinuar chovendo. Isso ajuda a tomar a melhor decisão”,
a melhor época de plantio das culturas nos diferentes afirma José Augusto Maiorano, diretor do Escritório de
tipos de solo e ciclos de cultivares para todos os muni- Desenvolvimento Rural de Campinas da Coordenadoria
cípios brasileiros. de Assistência Técnica Integral (Cati).
A internet é a forma mais rápida e ágil para obter in- Além disso, o Agritempo também é uma ferramenta
formações climáticas que permitam ao agricultor tomar importante para a extensão rural, de acordo com Maio-
uma decisão a tempo. Para o produtor Pedro Dias, que rano. “Serve de base de dados para o profissional de Ater
realiza atividades de silvicultura e pecuária de leite em orientar o produtor e também para estudos e planeja-
São José dos Campos (SP), serviços de monitoramento mento de cadeias produtivas, pois ajuda a embasar se
são essenciais para o setor agrícola. “Na atividade de determinada cultura vai bem naquela região e quais as
campo, precisamos cada vez mais colocar em nosso pla- condições climáticas ela exige, por exemplo.”
nejamento esse olhar baseado nas informações meteoro- O Agritempo foi desenvolvido pela Embrapa Infor-
lógicas”, afirma. mática Agropecuária e pelo Centro de Pesquisas Mete-
Resultado de parceria entre várias instituições nacio- orológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Uni-
nais, o Agritempo organiza e administra dados de um versidade Estadual de Campinas (Cepagri/Unicamp).
conjunto de mais de 1.400 estações meteorológicas dis- Sua base de dados foi formada a partir de uma rede com
tribuídas pelo País e possui mais de 60 milhões de re- cerca de 40 organizações parceiras.
gistros diários com dados de monitoramento e previsão, A tecnologia é aperfeiçoada continuamente por meio
como temperatura mínima e máxima e chuva. Disponí- de um convênio de cooperação técnica firmado entre a
vel na internet desde 2002, permite o acesso gratuito às Embrapa e o Ministério da Agricultura. Uso do Agritempo no campo

406 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 407
EMBRAPA EMBRAPA

Sistema online auxilia O SOMABRASIL segue um processo contínuo de de-


senvolvimento, que possibilita agregar novos módulos
de monitoramento, como a análise das condições agro-
de Aprendizagem Rural do Mato Grosso do Sul (Senar-
-MS). “Conseguimos informações complementares para
verificar o que acontecia fora do Estado, quais as outras

monitoramento da agricultura
meteorológicas que afetam diretamente a produção agrí- culturas e como poderíamos avançar na recuperação de
cola. Desde fevereiro de 2015, vem sendo utilizado para áreas degradadas”, afirmou a consultora da Federação de
acompanhar os efeitos da escassez hídrica que atingiu Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul)
importantes regiões do país. O sistema contribuiu para Daniele Coelho.

U
ma ferramenta para monitoramento da do IBGE, informações geradas por programas e projetos a geração das primeiras análises sobre a disponibilidade A Secretaria de Política Agrícola do Ministério da
agricultura, com acesso amigável e livre na do Ibama e Inpe, mapeamentos realizados pela Embrapa e de água no solo para determinadas culturas agrícolas e os Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa) é um
internet, reunindo num único ambiente in- outras instituições, além de dados sobre relevo, hidrogra- potenciais impactos na produção de alimentos. A partir dos principais usuários governamentais do SOMABRA-
formações de diferentes fontes, capazes de fazer uma ra- fia, logística, áreas protegidas e potencial agrícola. dele podem ser acessados, por exemplo, mapas sobre a SIL, utilizado para o apoio à tomada de decisão e ao dire-
diografia do Brasil. Este é o SOMABRASIL (Sistema de Seu uso não requer software nem conhecimento es- disponibilidade hídrica e a distribuição espacial dos pivôs cionamento de políticas públicas já estabelecidas, como
Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil), pecializado. Qualquer usuário é capaz de interagir com centrais de irrigação a partir de imagens de satélite. o zoneamento agrícola de risco climático e o seguro ru-
desenvolvido pela Embrapa Monitoramento por Satélite os diferentes planos de informação disponíveis e fazer ral. Há dois anos, a Embrapa Monitoramento por Satélite
(Campinas, SP) e utilizado para apoiar a tomada de deci- consultas básicas e avançadas sobre a agricultura no país, Aplicação em diferentes áreas vem trabalhando junto com a SPA/Mapa no desenvolvi-
são e a elaboração de políticas públicas no setor agrícola. basta ter acesso à internet. De acordo com o pesquisador As ferramentas do SOMABRASIL chegaram ao co- mento de ferramentas para aprimorar a gestão de análise
O sistema reúne em seu banco de dados cerca de qua- Mateus Batistella, um dos responsáveis pelo sistema, o nhecimento de entidades públicas e privadas e, hoje, de risco para as lavouras, em especial aqueles relaciona-
tro milhões de registros relacionados às produções agríco- objetivo é oferecer uma visão integrada da agricultura em são consultadas por pesquisadores, gestores, analistas, dos ao clima.
la e pecuária municipais desde 1990, Censo Agropecuário diferentes escalas, do municipal ao nacional. consultores ambientais e estudantes de graduação e pós- Um dos produtos já implementado foi a visualização,
-graduação. O sistema já tem cadastrados mais de 5 mil na forma de mapas dinâmicos, das informações do Zone-
usuários de diferentes setores ligados à agropecuária, do amento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que avalia os
Brasil e de mais de 20 outros países. riscos aos quais as lavouras estão expostas e que provo-
Antes de sair a campo para um levantamento de co- cam perdas na produção. Desde a safra de 1996, o Zarc é
munidades quilombolas, o pesquisador José Nascimento revisado anualmente e publicado na forma de portarias,
Santos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Diário Oficial da União e no site do Mapa. Os riscos

REPRODUÇÃO
conseguiu levantar informações atualizadas sobre solos, são quantificados e uma lista apresenta as cultivares indi-
vegetação e potencialidade produtiva daquela região. cadas para as regiões, os municípios e os calendários de
Essa preparação foi possível graças ao SOMABRASIL. As plantio. São tabelas e notas técnicas que no SOMABRA-
consultas ao banco de dados do sistema também auxi- SIL podem ser consultadas na forma de mapas dinâmicos
liaram programas de entidades do terceiro setor, como o para 58 culturas agrícolas, como soja, milho, trigo, arroz,
“Mais Inovação”, iniciativa de consultoria técnica focada algodão, feijão, uva, palma, cacau, maracujá e pimenta-
em áreas degradadas, desenvolvida pelo Serviço Nacional -do-reino, em 5.205 municípios brasileiros.
Hoje, qualquer usuário é capaz de gerar um mapa que
identifica rapidamente se um município ou uma região
apresenta indicação de plantio para determinada cultura,
de acordo com o tipo de solo e o ciclo. A consulta tam-

REPRODUÇÃO
bém permite saber a época mais indicada para o plantio,
com a data de início ou fim do período. Para ter direito ao
Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuá-
ria), ao Proagro Mais e à subvenção federal ao prêmio do
seguro rural, o produtor deve seguir as recomendações
previstas no Zarc, que também vem sendo considerado
por alguns agentes financeiros para a concessão do cré-
dito rural.
Acesse o SOMABRASIL em: www.cnpm.embrapa.br/
Consulta sobre a cultura da soja Consulta sobre índices de vegetação no país
projetos/somabrasil/ ◆

408 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 409
EMBRAPA EMBRAPA

Alimentos biofortificados Do laboratório ao campo


Para incluir esses alimentos na produção do sítio, To-
ninho plantou batata doce, milho e duas variedades de
O pesquisador Frederico Lisita fala da importância
da iniciativa para os pequenos produtores de Mato Gros-
so do Sul. “Queremos ampliar essa parceria e trazer mais

são produzidos na Borda Oeste do Pantanal feijão biofortificado, BRS Pontal e BRS Cometa, em um
campo de multiplicação de sementes. Os feijões foram
variedades para oferecer opções de plantio aos agriculto-
res locais”, conta.
enviados pela Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, José Heitor lembra que a quantidade de pessoas no

T
oninho, ou Antônio da Rocha, é produtor ru- Os alimentos biofortificados possuem mais nutrien- para Mato Grosso do Sul. mundo com deficiências na alimentação é muito grande.
ral há mais de 30 anos. Dono do sítio Sopé de tes (entre eles, ferro, zinco e vitamina A) e boas caracte- Em Corumbá, José Aníbal Comastri Filho, chefe-ad- A ausência dos micronutrientes provoca anemia, baixa
Morro, localizado no assentamento Tamari- rísticas agronômicas, como produtividade e resistência à junto de transferência de tecnologia da Embrapa Pan- resistência do organismo e problemas de visão. “Nossa
neiro 1, próximo à fronteira com a Bolívia, em Corumbá seca e a doenças. Eles são criados a partir de cruzamen- tanal (Corumbá, MS), e o pesquisador Frederico Lisita ideia é levar esses alimentos para ajudar o produtor, as
(MS), ele trabalha para o programa de merenda escolar tos convencionais, resultando em alimentos saborosos, acompanharam plantio, desenvolvimento, colheita e ar- famílias e escolas que não têm condições de fornecer
do município desde 2011, fornecendo produtos para al- macios e coloridos – o que atrai, inclusive, a preferência mazenamento das sementes. “Nós analisamos produtivi- uma alimentação saudável. Estamos introduzindo esses
guns colégios. Para ter uma produção diferenciada nos das crianças. As informações são do site da Rede Biofort dade, suscetibilidade a doenças e adaptação ao clima”, diz produtos na mesa do brasileiro para minimizar esses
próximos anos, o agricultor conta que investiu em uma (www.biofort.com.br). A rede reúne os projetos de bio- Frederico. “Assim, podemos analisar o desenvolvimento problemas”, finaliza. ◆
alternativa desenvolvida pela Embrapa, os alimentos fortificação coordenados pela Embrapa, que atualmente das cultivares em diferentes assentamentos da região”.
biofortificados. “Quero ter um produto melhorado em envolvem mais de 150 profissionais em 11 estados, com Apesar de 2014 ter sido um ano com chuvas irregu-
termos de qualidade nutricional para obter um retorno o objetivo de combater a “fome oculta” nas populações lares, Toninho conta que os pés de feijão cresceram sau-

NICOLI DICHOFF
melhor, me estabelecendo no programa e ampliando as carentes – ou seja, a carência de micronutrientes neces- dáveis e produtivos. “O BRS Pontal, por exemplo, me deu
escolas que posso atender”, diz Toninho. sários para uma dieta saudável. uma qualidade de grão excelente em termos de tamanho
e robustez”, diz. Segundo Frederico, houve poucas ocor-
rências de doenças. “Isso é muito importante porque
mostra que as variedades são resistentes e adaptadas à

NICOLI DICHOFF
nossa região”, explica o pesquisador.
A ideia deu tão certo que Toninho espera repetir a dose
em 2015. “Vamos guardar todas as sementes que colhemos
para plantar de novo. A partir daí, a gente deve fornecê-
-las aos produtores interessados nas variedades. Também
queremos abastecer a rede pública escolar de Corumbá e
Ladário com esses alimentos”, conta o produtor.

Transferência de tecnologia
José Heitor Vasconcellos, analista da Embrapa Milho
e Sorgo (Sete Lagoas, MG), ressalta o cenário favorável
ao plantio dos alimentos biofortificados para agriculto-
res como Toninho. “Como os produtores têm alimentos
de melhor qualidade e as prefeituras têm que comprar
30% da merenda dos agricultores familiares, isso dá um
poder de barganha grande”, afirma.
Para que histórias como esta se repitam, o trabalho
da Rede Biofort é desenvolvido há cerca de 10 anos. En-
tre os próximos objetivos estão o desenvolvimento de
novas cultivares, o aumento do número de pessoas bene-
ficiadas por esses alimentos e a continuação da transfe-
rência de tecnologia para as diversas regiões brasileiras,
Campo de multiplicação de sementes do feijão BRS Pontal
além de países da América Latina e África. Feijão biofortificado BRS Cometa

410 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 411
EMBRAPA EMBRAPA

Café conilon BRS Ouro Preto pode

RENATA SILVA
impulsionar competitividade da
cafeicultura na Amazônia
O
café conilon BRS Ouro Preto (Coffeacanepho- Produtores do Amazonas apostam na
ra Pierre exFroehner) é a primeira cultivar de BRS Ouro Preto para fortalecer cultura e
café lançada pela Embrapa e também a pri-
conter desmatamento
meira de café conilon do Brasil a receber o Certificado de
Proteção, concedido pelo Serviço Nacional de Proteção Pequenos cafeicultores de Apuí, município no
de Cultivares. Esta tecnologia tem potencial para ino- sul do Amazonas, ganharam um reforço para
var a cafeicultura em Rondônia e promover a inserção fortalecer a cadeia produtiva do “café agroecoló-
competitiva da agricultura familiar no mercado, além de gico” como alternativa sustentável de geração de
contribuir para a sustentabilidade econômica e social de renda para conter o desmatamento e aumentar
aproximadamente 21 mil pequenas propriedades rurais a produtividade e qualidade do café. A parceria
no Estado. Recomendada para cafeicultores de Rondô- entre a Embrapa Rondônia (Porto Velho, RO) e
nia, a cultivar poderá ter sua indicação estendida para o Instituto de Conservação e Desenvolvimento
outras regiões da Amazônia. Sustentável do Amazonas (Idesam), organização
O produtor Adalto Araújo, de Theobroma (RO), viu não governamental sem fins lucrativos, está le-
de perto a BRS Ouro Preto em viveiros e eventos da Em- vando tecnologias e inovação a esses produtores.
brapa Rondônia e tem boas expectativas. “Sou produtor
de café aqui há anos e estava esperando por algo assim.
Já encomendei minhas mudas no viveirista. Eu e muitos desse processo representam uma garantia de qualidade
vizinhos estamos apostando nela”, conta o cafeicultor. do material que os cafeicultores estão levando ao campo.
A BRS Ouro Preto é indicada para cultivo em sequei- Atualmente, dois terços da produção de café do Ama-
ro ou com irrigação complementar. Foi obtida pela sele- zonas estão em Apuí. São 1.600 hectares de café no Es-
ção de cafeeiros com características adequadas às lavou- tado, sendo 1.000 no município. Por outro lado, é o ter-
ras comerciais do Estado e adaptada ao clima e ao solo ceiro município com maior desmatamento no Amazonas
da região amazônica. A produtividade média do café em (atrás apenas de Lábrea e Boca do Acre). O problema é
Rondônia é de 16 sacas por hectare, mas a nova cultivar associado, em grande parte, à pecuária extensiva – mui-
apresenta potencial de 70 sacas beneficiadas por hecta- tas áreas de florestas são destruídas e convertidas em
re em lavouras de sequeiro, podendo chegar a 110 sacas pastagens de baixa produtividade, que seguem um ciclo
com irrigação. de contínua expansão em novas propriedades.
A Embrapa, por meio do Ministério da Agricultura, De acordo com o Idesam, desenvolver a economia
Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizou um proces- no município de forma integrada é essencial no com-
so de seleção em 2013 de credenciamento de viveiristas bate ao desmatamento. A produção de café já teve forte
para multiplicar as mudas e comercializar a cultivar de contribuição para a economia de Apuí, mas vinha sen-
café conilon BRS Ouro Preto. Os viveiristas credenciados do abandonada devido à falta de incentivos e assistência
iniciaram a comercialização e já estão com muitas en- técnica e a dificuldades na comercialização. Atualmente
comendas. A certificação dos viveiristas e a legalização são apenas 200 produtores de café ativos no município.
Café BRS Ouro Preto

412 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 413
ARQUIVO EMBRAPA TRIGO
EMBRAPA EMBRAPA

A produção alcançou a média de 4.960 sacas anuais en-


tre 2008 e 2012, uma média de cinco sacas por hectare,
muito abaixo do potencial de Apuí.
e também com a introdução da cultivar de café conilon
BRS Ouro Preto.
Em Apuí foram implantadas três Unidades de Obser-
Manejo
O produtor João Nilton Ferreira cultiva dois hectares
de café em Apuí e trabalha com a cultura desde 2001,
vação da cultivar e, durante três anos, seu desempenho
será avaliado para o cultivo em larga escala e para que ela integrado de
pragas também
juntamente com as filhas e a esposa. Nas capacitações possa ser recomendada para a região.
da Embrapa e do Idesam, tem aprendido muito e obtido Segundo Vinícius Figueiredo, engenheiro agrônomo
bons resultados. “Tinha quatro hectares de café e conse- do Idesam, a expectativa com a BRS Ouro Preto é con-

é importante
guia nove sacas por hectare. Aí aprendi a melhorar o ma- seguir validar a produção de mudas clonais para Apuí.
nejo e cuidar melhor da lavoura. Então reduzi a área para “Também queremos saber como será a adaptação dos
dois hectares, coloquei calcário, fiz o manejo, a poda e a clones ao manejo agroecológico que utilizamos com os

para o trigo
desbrota certinhas e consegui cuidar melhorar da pro- produtores do grupo, pois, dentre as três unidades de ob-
dução, que foi para 25 sacas por hectare. Reduzi a área, servação, uma será manejada com práticas de adubação
gasto menos mão de obra e ganho mais”, resume. verde, biofertilizantes e consórcio com espécies flores-
O município é o único do Amazonas criado a partir tais”, explica.
de um projeto de assentamento. Por isso, sua economia A parceria entre Embrapa e Idesam inclui também a

A
gira em torno da agricultura familiar. Os pequenos pro- capacitação de técnicos do instituto e produtores. “Tra- variabilidade genética tem permitido ao tri-
dutores de Apuí estão se dedicando à cafeicultura e pre- balhar com a Embrapa fortalece a cafeicultura em Apuí. go ter seu cultivo expandido para diversos
cisam de tecnologias para aumentar a geração de empre- Já temos bons resultados dessa parceria. O grupo de pro- ambientes, desde o frio do Sul, até o calor do
go, renda e competitividade. A Embrapa está oferecendo dutores atendidos mais que dobrou a produtividade, gra- cerrado. Esta diversidade de ambientes implica numa
suporte tecnológico para o fortalecimento da cultura, ças às capacitações sobre manejo da lavoura e a outras variedade ainda maior de pragas e doenças, como os di-
por meio da adoção de práticas de manejo adequadas práticas repassadas aos produtores”, explica Figueiredo.◆ ferentes fungos que atacam o trigo na presença de umi-
dade, ou a reprodução rápida de pragas nos meses mais
secos. Apresentar as diferentes estratégias da pesquisa na Insetos na espiga de trigo
proteção dessas plantas é o objetivo da Embrapa Trigo,

ARQUIVO EMBRAPA
que trabalha com o manejo integrado para controle de Os gastos com defensivos podem representar 16% do
pragas e doenças. investimento na lavoura. Para minimizar os impactos, a
O Brasil tem potencial para aumento da produção de Embrapa trabalha no manejo integrado das doenças, fo-
cereais de inverno, mas a presença de pragas e doenças cando na correta identificação, avaliação das condições
é um importante obstáculo. Para minimizar esses im- que favorecem seu desenvolvimento e conhecimento das
pactos, a Embrapa Trigo tem buscado em suas pesquisas medidas de controle disponíveis. Além da resistência ge-
indicadores técnicos para aumentar a eficiência na toma- nética às doenças, a pesquisa também associa técnicas
da de decisão do produtor. Assim, desenvolve trabalhos de rotação de culturas, modelos de simulação computa-
de resistência genética, manejo e socioeconomia, tendo cional na indicação das épocas de maior risco na cultura
como alvo a diminuição das perdas no campo. (programa Sisalert), entre outros.

Doenças Pragas
As doenças estão entre os principais fatores que li- Do ponto de vista econômico, o inseto só é conside-
mitam a produtividade e a expansão do trigo no Brasil. rado praga para uma determinada cultura quando os da-
Causadas por fungos, bactérias e vírus, causam danos nos potenciais superam o gasto necessário para evitá-los,
significativos à cultura. A infecção por esses agentes diminuindo significativamente a produtividade. As pra-
pode ocorrer em diferentes fases de desenvolvimento da gas que mais atingem essa condição na cultura do trigo a
planta, com sintomas nem sempre evidentes em órgãos campo são os pulgões, lagartas e percevejos. A orientação
como raízes, colmos, folhas e espigas. A distribuição das ao produtor no controle eficiente faz parte do trabalho da
doenças no campo também é variável e reflete suas estra- Embrapa, como forma de evitar o uso indiscriminado de
Treinamento em poda no município de Apuí
tégias de disseminação. inseticidas, que favorece a resistência das pragas. ◆

414 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 415
EMBRAPA EMBRAPA

agricultura familiar, onde o uso de agroquímicos é baixo, ordenada pela Associação Mineira dos Produtores de
existem mais insetos benéficos, os que comem as pragas, Algodão (AMIPA).

SANDRA BRITO
do que os que prejudicam as plantas. Outra biofábrica se encontra no Centro de Forma-
Um grande exemplo é um inseto muito pequeno cha- ção de Montenegro (RS), resultado de uma parceira da
mado Trichogramma, conhecido como vespinha. Esse Embrapa com a Emater-RS. “O centro já é uma refe-
inseto é muito eficiente para controlar os ovos das pra- rência em agroecologia e agregou mais uma tecnologia
gas. Ou seja, impede o nascimento das lagartas e, portan- importante para a agricultura familiar. A biofábrica
to, evita qualquer dano à planta. Além de sua eficiência próxima às propriedades rurais, além da redução do
no campo, apresenta como vantagem a facilidade de ser custo, tem propiciado um aumento no tamanho da área
produzido de maneira artesanal, inclusive na proprieda- sob controle biológico e também no número de famílias
de rural, e com custo relativamente baixo. “A Embrapa, que o utiliza”, relata o cientista. As biofábricas também
no entanto, recomenda que a produção seja feita por são utilizadas como unidade didática na capacitação de
meio de uma associação ou comunidade, para que o cus- técnicos e agricultores. ◆
to seja mais acessível”, ressalta Cruz. Ele acrescenta que a
vespinha também consegue detectar, no campo, onde o
ovo da praga está.

SANDRA BRITO
Há muitos anos trabalhando com controle biológico,
o pesquisador é enfático ao relatar o que acontece com o
uso da vespinha em substituição aos agrotóxicos. “Várias
outras espécies de insetos benéficos, que são geralmente
eliminados com agrotóxicos, em propriedades rurais de-
sequilibradas, voltam e começam a povoar a área. Dessa
Milho no campo com a cartela
maneira, a vespinha começa a atuar com os outros inse-
tos benéficos. Estes podem atuar em todas as pragas que

Controle biológico de
ocorrem na agricultura familiar”.
Essas espécies benéficas devem ser reconhecidas pelo
agricultor, já que elas não causam dano à lavoura. São
insetos que se alimentam apenas de outros insetos. Por

pragas reduz uso de


exemplo, são bem conhecidas as espécies de joaninhas e
tesourinhas, que junto a outras espécies trabalham em
favor do agricultor.
“A ideia é transformar essa tecnologia em uma tecno-
logia social, promovendo a redução dos custos de produ- Cartela de Trichogramma aplicada ao milho

agrotóxicos
ção e dos riscos para a família do agricultor e o consumi-
dor de modo geral, que estará consumindo um alimento
sem contaminantes tóxicos”, explica o pesquisador.
Cruz ressalta que as vespinhas podem controlar vá-

SANDRA BRITO
rias espécies de pragas em diversos cultivos, como mi-
lho, feijão, arroz, algodão, soja, sorgo, tomate e trigo.

A
Embrapa desenvolve pesquisas e aplicação de preservar e incrementar os fatores de mortalidade natu-
métodos que usam recursos da natureza para ral, por meio do uso integrado de todas as técnicas de Biofábricas instaladas no Brasil
auxiliar no controle de pragas nas lavouras. combate possíveis, selecionadas com base em parâme- Além de fábricas privadas já em funcionamento no
Um dos trabalhos é realizado na Embrapa Milho e Sorgo tros econômicos, ecológicos e sociais. Brasil, a Embrapa Milho e Sorgo tem firmado parcerias
(Sete Lagoas, MG). De acordo com o pesquisador Ivan Cruz, especialista em diferentes regiões com cooperativas e associações
O controle biológico de pragas integra opções de ma- no MIP com ênfase em controle biológico, na proprie- de produtores para também produzir a vespinha. Uma
nejo integrado de insetos e pragas (MIP). O MIP procura dade rural equilibrada, como geralmente acontece na das biofábricas está sediada em Uberlândia (MG), co- Biofábrica para produção da vespinha

416 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 417
EMBRAPA EMBRAPA

O
abastecimento de hortaliças no Pará é depen-
dente da oferta dos cultivos de outras regiões
do país devido à baixa produção desses ali-
mentos na região amazônica. O clima quente e úmido

RONALDO ROSA - EMBRAPA


favorece a proliferação de doenças entre as plantas e di-
ficulta a atividade na região. Mas essas dificuldades po-
dem ser superadas com o uso de tecnologias. Para isso
a Embrapa desenvolve um projeto voltado para a capa-

Conhecimento
citação de técnicos em extensão rural e agricultores em
conhecimentos que ajudam a elevar qualidade e a produ-
tividade das hortaliças.
A iniciativa é uma parceria das unidades Embrapa
Amazônia Oriental (Belém, PA) e Embrapa Hortaliças
(Brasília, DF) com a Universidade Federal do Pará, a

ajuda a mudar produção


Secretaria de Estado da Agricultura, a Emater e o Insti-
tuto Federal do Pará. As ações contemplam três regiões
do Estado: a metropolitana de Belém e os municípios de
Altamira e Tomé-Açu.

de hortaliças no Pará
Em 2014, as atividades de capacitação do projeto
Hortaliças atingiram 360 pessoas, entre técnicos, profes-
sores e pequenos produtores rurais. Os cursos trataram
de temas como técnicas de produção de mudas e horta-
liças, manejo e fertilização do solo, irrigação, adubação
orgânica, enxertia de tomates e manejo de doenças.
Além dos cursos, também foram implantadas três

RONALDO ROSA - EMBRAPA


unidades demonstrativas de tecnologias na região me-
tropolitana de Belém e foi realizado um dia de campo
sobre técnicas de produção em hortaliças em Altamira.
Neste município, o projeto conta com a parceria da Norte
Energia, empresa consorciada responsável pela constru-
ção e operação da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no rio
Xingu. O incentivo à produção de hortaliças é uma das
medidas que visam à segurança alimentar dos produto-
A capacitação de técnicos começa a aumentar a qualidade e a produtividade das hortaliças
res atingidos pela construção da barragem.
serve como adubo de cobertura e possui grande quan-
Fertilidade tidade de nutrientes.
Um dos temas das capacitações é a fertilidade e téc- Mas para a maioria dos agricultores no curso, o ma-
nicas de manejo do solo. No curso de adubação orgâni- nejo de resíduos para produção de adubos não era algo
ca realizado no município de Santo Antônio do Tauá, comum. Como muitos produtores da região, José Alci-
em setembro de 2014, os princípios apresentados não des, contou que faz uso de esterco de frango na aduba-
foram novidade para alguns participantes. A produtora ção, mas não submetia esse material a processos de fer-
orgânica Maria Jeanira contou que já dominava a pro- mentação ou adição de matéria orgânica. “Quero aplicar
dução de compostagem para fertilização do solo, mas essas receitas para diminuir o gasto com adubo químico.
ficou interessada nos ensinamentos sobre o “bokashi”, E até penso em passar a experimentar a produção orgâ-
um composto de farelos e resíduos agroindustriais que nica, sem agrotóxicos”, afirmou. ◆
Um dos temas das capacitações é a fertilidade e técnicas de manejo do solo

418 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 419
EMBRAPA EMBRAPA

NILTON CEZAR - EMBRAPA


Sistema integrado de
produção de mudas de
hortaliças beneficia
agricultores no RJ O sistema foi implantado em 2013 na propriedade de João Galo, que garante que vem dando bons resultados

P
roduzir mudas de hortaliças orgânicas com pela Embrapa Agrobiologia. A pesquisadora explica que Segundo César, os produtores se comprometem for- hortaliças e morango. O sistema foi implantado na lo-
qualidade é um grande desafio para o agricul- a busca de materiais alternativos para a formulação de malmente em abastecer os sistemas de produção locais calidade em 2013 e Galo garante que vem dando bons
tor familiar fluminense, em razão principal- misturas que sirvam como substrato ou meio de cresci- com as mudas produzidas em suas propriedades. O in- resultados. Ele distribui as mudas na Associação de
mente do acesso restrito à tecnologias apropriadas a este mento vegetal tem sido uma preocupação crescente da teressante é que essas mudas já estão adaptadas às con- Agricultores Orgânicos de Teresópolis e em feiras lo-
segmento. Para ampliar a oferta de algumas dessas tec- pesquisa. “É preciso reduzir a participação de insumos dições de clima e solo da região. Em alguns casos, eles cais. O agricultor ressalta que as técnicas são simples
nologias e promover a sustentabilidade no campo, a Em- industrializados na propriedade porque isto traz benefí- buscam até mesmo a ajuda de outros agricultores para e fáceis de serem colocadas em prática. “O substrato é
brapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) vem desenvolvendo cios econômicos e ecológicos capazes de fomentar siste- a produção dos insumos necessários. Este é o caso de até melhor do que muitos que estão no mercado”, afir-
um projeto desde 2013 para implantação e disseminação mas agrícolas sustentáveis”, argumenta Cristhiane. Izabel Michi, de Seropédica, na Baixada Fluminense. Ela ma. Com as mudas de boa qualidade ao seu alcance,
do Sistema integrado de produção de mudas de hortali- Por meio do projeto, que é financiado pela Fundação produz as mudas com o vermicomposto feito pelo agri- Galo conseguiu um acréscimo de mil reais a sua renda
ças (SIPM) em quatro regiões do Estado do Rio de Janei- Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do cultor Sérgio Galvão Borges da mesma região e as distri- mensal.
ro. “O objetivo é estimular a própria produção de mudas Rio de Janeiro (Faperj), essa estrutura foi instalada nas bui para vinte e cinco famílias do município. A agricultora Izabel Michi também mantém uma
visando abastecer esse mercado, que ainda é pequeno. Regiões Metropolitana, Serrana, Médio Paraíba e Noro- Após dois anos de projeto, os pesquisadores afirmam estufa em sua propriedade de cinco hectares. Ela conta
Os produtores de hortaliças orgânicas tem poucos forne- este do Estado. Em cada localidade foi selecionado pelo que os agricultores das regiões beneficiadas tiveram ga- que além de propiciar uma maior diversificação na sua
cedores e quando precisam, buscam fora do Estado”, ex- menos um agricultor multiplicador, que foi capacitado nhos significativos. “Temos visto um aumento na produ- lavoura, a estufa possibilitou a redução nos gastos com
plica a pesquisadora Cristhiane Amâncio, da Embrapa. em todas as técnicas que compõe o SIPM. “A ideia foi ção, nos ganhos econômicos e também na qualidade de mudas e insumos e, consequentemente, aumentou o seu
O sistema é composto por uma estufa e uma peneira promover a cooperação e a solidariedade, fortalecendo vida dos agricultores”, complementa Cristhiane Amâncio. lucro. “Hoje aumentamos os ganhos em cerca de 80 por
de baixo custo, disponibilizadas pela Pesagro-Rio, um os laços de confiança e ajuda mútua entre os agricultores, cento”, afirma a agricultora.
sistema de irrigação baseado no uso de energia solar, de- que precisam planejar e ocupar a estufa de acordo com Ganhos reais O projeto termina no final de 2015, mas os pesqui-
senvolvido pela UFRRJ e um substrato orgânico formado as demandas da comunidade”, explica o técnico em agro- O agricultor orgânico João Galo, de Teresópolis, sadores já estão pensando em formas de prosseguir com
à base de vermicomposto e fino de carvão, desenvolvido ecologia e bolsista da Embrapa Nilton César dos Santos. na Região Serrana, planta em seu sítio principalmente a implantação das estufas em outras regiões do Estado.◆

420 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 421
EMBRAPA EMBRAPA

Projeto viabiliza mercado para A feira é uma das estratégias de inserção dos agriculto-
res familiares nos mercados, proposta pelo projeto “Moni-
toramento e avaliação de espaços coletivos para a constru-
cípio. O trabalho da Rede consiste em coletar dados para
entender a dinâmica das propriedades rurais, identificar
os principais problemas que dificultam a produção para

produtos da agricultura familiar


ção social de mercados pela agricultura familiar de Unaí então propor melhorias. Exemplo disso são os testes com
- MG”, iniciado em 2010. A Embrapa, no entanto, está pre- policultivos e com novas variedades de mandioca. Os da-
sente em Unaí com ações de pesquisa desde 2002, tendo dos obtidos são referências técnicas que poderão apoiar

no interior de Minas Gerais


como princípio que são os agricultores, a capacidade deles trabalhos em outras regiões. “Os resultados do estabele-
de mudar e de manejar as inovações e suas consequências cimento mudaram substancialmente após a introdução
que farão a diferença para o sucesso de qualquer iniciativa das tecnologias e o acesso ao mercado. A renda agrícola
de apoio ao desenvolvimento com sustentabilidade. Orga- era negativa e a família dependia totalmente da venda de

A
bóbora, alface, cheiro-verde, couve, man- do movimento das barracas montadas sempre nas tar- nizada pela Cooperagro, a feira é a conquista de um espaço mão de obra. Essa situação era de alto risco e a família,
dioca, milho-verde, quiabo, jiló, repolho, des de sextas-feiras, há o trabalho de pesquisadores da para a comercialização de produtos da agricultura familiar provavelmente, deixaria o estabelecimento”, comenta o
banana, mamão, doces e temperos: esses são Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) e de diversos parcei- da região, proporcionando geração de renda e melhoria na pesquisador José Humberto Valadares Xavier.
alguns dos produtos que os moradores de Unaí, municí- ros, como a Prefeitura de Unaí, a Cooperativa Mista dos qualidade de vida dos produtores. Assim como Cleidiomar, outros assentados de Unaí,
pio de 70 mil habitantes no Noroeste de Minas Gerais, Agricultores Familiares de Unaí e do Noroeste Mineiro Um exemplo de que isso já está acontecendo é o do conseguiram não só melhorar a alimentação da família,
podem comprar direto das mãos de quem produz. Uma (Cooperagro), a Escola Agrícola de Unaí, o Sindicato dos assentado Cleidiomar de Souza Viana, da Comunidade como ter uma renda adicional com a venda da produção.
vez por semana acontece na cidade a Feira da Agricul- Trabalhadores Rurais de Unaí, a Emater -MG e a Cáritas de São Pedro Cipó. Por muitos anos, ele não teve con- A feira tem proporcionado uma renda bruta média de
tura Familiar, que reúne entre 15 a 20 feirantes. Por trás Diocesana de Paracatu. dições de produzir no seu lote e sobrevivia da venda de R$ 1.082,85 para cada família participante. “A implan-
sua mão de obra e do auxílio do programa Bolsa Família. tação da feira como estratégia de inserção nos mercados
Havia ocasiões em que não havia serviço e a situação da mostra como uma simples ideia pode se tornar um im-
família ficava complicada. “Quando encontrava trabalho, portante meio de melhoria na qualidade de vida e valo-

DIVULGAÇÃO
o marido ficava fora muitos dias”, relata a esposa, Dona rização da agricultura familiar”, afirma Marcelo Gastal,
Suzamar. Havia a preocupação quando ele não retorna- pesquisador da Embrapa Cerrados e líder do projeto.
va e ela tinha que cuidar da casa, dos filhos e ainda das A viabilidade da feira foi verificada a partir de uma
poucas atividades produtivas que eles tinham. O agricul- pesquisa com a comunidade local. Foram entrevistadas
tor e sua família chegaram ao estabelecimento em 2004 406 residências dos cinco bairros próximos ao local de
e fizeram um plano de ficar até 2011. “Se não desse certo, funcionamento. O Regulamento Interno da Feira foi
iríamos embora”, conta Cleidiomar. construído coletivamente pelos agricultores. Outra con-
Hoje, ele produz o suficiente para consumo da família quista dos produtores familiares de Unaí foi a venda de
(mulher e três filhos pequenos) e comercializa o exce- seus produtos para o Programa Nacional de Alimentação
dente na feira. O lote faz parte de uma rede de estabeleci- Escolar (PNAE), organizada pela Cooperagro, com apoio
mentos de referência, que representa os principais tipos da Embrapa Cerrados.
de sistema de produção da agricultura familiar do muni- Outra iniciativa foi a implementação da Agroindús-
tria Multiuso da Agricultura Familiar, instalada pela
Salários Mínimos

1,2
por Mês Prefeitura Municipal na Escola Agrícola de Unaí, que,
em caráter experimental, está processando produtos
1,0
oriundos dos agricultores familiares da região. Também
0,8
foi construído o Centro de Treinamento da Agricultura
0,6 Familiar. Essas ações têm o objetivo de aprimorar a es-
0,4 trutura de apoio à produção, à agroindustrialização e à
0,2
comercialização. A expectativa dos integrantes do proje-
to é construir, a partir das ações desenvolvidas em Unaí,
0,0
um referencial técnico e metodológico sobre formas de
-0,2 Anos
2011/2012 2012/2013 2013/2014 Agrícolas apoio ao desenvolvimento sustentável da agricultura fa-
Renda não agrícola Renda agrícola miliar que possam ser recomendadas pela pesquisa para
Hoje Clediomar produz o suficiente para consumo da família e comercializa o excedente na feira
Evolução da renda do estabelecimento em três anos agrícolas outras regiões do Cerrado. ◆

422 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 423
EMBRAPA EMBRAPA

KÁTIA MARSICANO
Minibibliotecas:
a pesquisa mais perto do
homem do campo
A
s salas de aula são embaixo das árvores e, rede de parceiros do projeto Minibibliotecas, que garante
quando chove, a solução é mandar as crian- às instituições de ensino kits compostos por 240 títulos
ças de volta para casa. Mas, apesar das difi- de publicações impressas, 8 CDs e 8 DVDs com conteúdo
culdades, seis professores da Escola Indígena Povo Ca- acessível e didático sobre cultivos diversos, boas práticas
ceteiro, do município de Monsenhor Tabosa (CE), estão e diversos outros temas voltados à agricultura familiar.
investindo na criatividade e acabam de desenvolver um Só no ano passado, 968 foram entregues nas cinco re-
projeto especial, totalmente baseado no conteúdo das giões brasileiras, entre eles um para a pequena comu-
Minibibliotecas da Embrapa, uma das mais importantes nidade de Venha-Ver, a 454 quilômetros de Natal (RN).
iniciativas de apoio técnico-pedagógico rural a institui- A expectativa é de que, com as publicações que já estão
ções de ensino do Brasil. O projeto se chama Educação disponíveis na unidade escolar José Gonçalo Xavier, as
Sustentável e vai envolver 114 alunos da pré-escola ao atividades dentro e fora das salas de aula contribuam
ensino médio, durante todo o ano letivo de 2015. com o fortalecimento da agricultura local.
“As publicações do acervo das Minibibliotecas são Para o professor José Alves, interdisciplinaridade
muito boas, porque se adaptam ao perfil da nossa comu- é a palavra-chave para a utilização do acervo. “Não há
nidade indígena”, explica a professora Antônia Feitosa de restrição de matérias para adoção dos livros - é possível
Sousa, uma das coordenadoras do projeto. “Estudamos integrar o conhecimento”, comenta ele. “Aliás, acho que
muito o conteúdo e, a partir dele, propomos uma me- de ‘mini’ esse acervo não tem nada - é muito grande!”,
todologia para cada faixa etária”. Todo o trabalho dos brinca, referindo-se ao que sentiu quando conheceu a
educadores foi desenvolvido em menos de um ano, desde iniciativa, durante a capacitação de mediadores, reali-
que a escola recebeu o kit com livros, vídeos e áudios, zada em novembro de 2014. Promovidas por uma equi-
em maio de 2014. Duas professoras da instituição par- pe de pedagogas da Embrapa Informação Tecnológica
ticiparam da série de capacitações para a formação de (Brasília, DF), unidade responsável pela coordenação do
mediadores promovida pela Embrapa, no ano passado. projeto, as capacitações reuniram educadores, técnicos,
Esse é apenas um dos exemplos de iniciativas reali- agricultores, representantes de instituições de ensino e
zadas nos mais de 1.800 municípios que participam da de governo, com o objetivo de discutir as possibilidades

424 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 425
EMBRAPA EMBRAPA

de uso dos conteúdos da Minibiblioteca. No ano passado, sua maneira, centenas deles utilizaram o acervo como
270 pessoas passaram pelo treinamento, em oito Territó- fonte de informação para ajudar no dia a dia da lavoura.
rios da Cidadania nos estados do Maranhão, Ceará, Pa- Tatiel Venâncio, hoje formado em Ecologia e Análise
raíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco e Piauí. Ambiental e aluno de mestrado da Universidade Federal
“Esses encontros foram importantes porque discuti- de Goiás, é personagem de uma dessas experiências que
mos nossas realidades locais, nossas dificuldades”, desta- deram certo. Em 2009, aos 17 anos, foi o vencedor do
cou o secretário de Agricultura do município maranhense concurso de redação promovido pelo projeto. À época,
de Senador Alexandre Costa, Valdemir Pereira dos Santos. aluno da Escola Família Agrícola de Orizona - EFA (GO),
Segundo ele, o dia a dia do campo determina a adoção de escreveu sobre a crise de alimentos e o papel da Embra-
estratégias que incentivem e mantenham as crianças mo- pa na busca pela solução do problema que preocupa o
tivadas. “Quando não estão na escola, os alunos ajudam mundo. Em Brasília, acompanhado pelo pai agricultor
as famílias na lida do campo, por isso é preciso ‘ficar no durante a solenidade de premiação, disse em seu dis-
pé’”, comenta. “Além disso, a rotatividade de professores curso como as publicações da Minibiblioteca fizeram a
na zona rural (50% dos quais contratados), prejudica a diferença na vida da família.
continuidade do trabalho”, reforça o secretário. Na região, “Há mais de 6 anos, nossos alunos têm o acervo do
que tem aproximadamente 15 mil habitantes, existem 15 projeto à disposição para consulta”, lembra a professora
escolas de povoados e quatro Minibibliotecas. Luíza Ribeiro, coordenadora da EFA de Orizona. “Não há
dúvidas sobre o valor do conteúdo das Minibibliotecas”,

Sistemas de acesso aberto oferecem


Superação garante, ressaltando a importância do ensino contextu-
As histórias de dedicação e esforço de alunos e pro- alizado, onde os jovens e suas famílias trabalham jun-
fessores que passaram pelas escolas parceiras do projeto tos na construção do conhecimento, com o apoio de um

informações agropecuárias para


Minibibliotecas estão espalhadas pelo País. Cada qual a acervo técnico de qualidade. ◆

diversos públicos
KÁTIA MARSICANO

KÁTIA MARSICANO
N
a Era da Informação, os repositórios de aces- de escolas rurais, cooperativas e outros segmentos da
so aberto da Embrapa oferecem importan- produção agrícola possam assimilá-lo com maior faci-
te contribuição à sociedade,em geral, e aos lidade, e, assim, apropriarem-se de tecnologias geradas
agricultores, extensionistas e pesquisadores, em especial, pela Embrapa.
possibilitando a consulta ao seu acervo técnico-científi- Já o Alice destina-se a reunir, organizar, armazenar,
co por meio do Sistema de Informação Tecnológica em preservar e disseminar, na íntegra, informações científicas
Agricultura (Infoteca-e) e do Acesso Livre à Informação produzidas por pesquisadores da Embrapa e editadas em
Científica (Alice). capítulos de livros, artigos em periódicos indexados, arti-
O Infoteca-e reúne e permite o acesso a informações gos em anais de congressos, teses e dissertações, notas téc-
sobre tecnologias produzidas pela Embrapa, as quais se nicas, entre outros. O sistema integra uma rede global de
relacionam às áreas de atuação de seus demais Centros informação científica.Em 2014, foram realizadas 632.744
de Pesquisa. Suas coleções são formadas por conteúdos consultas e 1.445.742 downloads a este repositório.
editados pela Empresa, em forma de cartilhas, livros Os dois repositórios disponíveis em três idiomas:
para transferência de tecnologia, programas de rádio e português, espanhol e inglês. O acesso pode ser feito
de televisão. emwww.embrapa.br/alice e www.embrapa.br/infoteca.
O material é apresentado com linguagem adaptada a São parceiros no desenvolvimento dessas tecnolo-
diferentes públicos, de modo que produtores rurais, ex- gias: Embrapa Informática Agropecuária (Campinas,
Estudantes da Escola Família Agrícola de Orizona (GO) usam os livros das Minibibliotecas nas Valdemir Pereira dos Santos, um dos participantes das capacitações tensionistas, técnicos agrícolas, estudantes e professores SP) e Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF). ◆
atividades práticas

426 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 427
EMBRAPA EMBRAPA

Parceria com rede de radialistas garante A emissora em que trabalha alcança cerca de 3 mi-
lhões de habitantes na região metropolitana da capital
mineira e, segundo ele, muita gente já se habituou a
(MG), os primeiros de uma série que integram o proje-
to Ações de capacitação e de divulgação de informações
tecnológicas para apoio à inclusão produtiva rural no
Prosa Rural no ar há mais de uma década acompanhar o programa da Embrapa. “Todo mundo por
aqui tem um pé na roça”, brinca. Desde 2012, aos sába-
Plano Brasil Sem Miséria, da Embrapa.
O principal objetivo é aproximar os profissionais de
dos e domingos, às 6h, o Prosa Rural está no ar, na rádio comunicação da realidade dos produtores rurais, contri-

E
les fazem parte de uma rede que foi sendo te- dade pública e, claro, histórias de produtores que melhora- da Universidade. buindo assim para o desenvolvimento local, além de po-
cida ao longo do tempo e que, há mais de dez ram a vida a partir da adoção das tecnologias da Embrapa. tencializar as informações tecnológicas divulgadas nos
anos, se consolidou na ponte que conecta a Para o radialista Givanildo Santos, da rádio comuni- Apoio na crise programas. O evento também é uma oportunidade de
ciência ao campo, que aproxima pesquisadores àqueles tária Digital FM (Janaúba, Território Serra Geral, MG), a Apesar de já ter conquistado espaço na grade de pro- criar uma rede entre técnicos da Embrapa e os radialistas
que vivem da terra e, graças a ela, alimentam milhões expectativa para começar as transmissões do programa a gramação de tantas rádios pelo Brasil, não faltam desa- presentes tendo em vista o desenvolvimento de futuras
de brasileiros. São os radialistas parceiros do programa partir deste ano é grande. Depois de três anos sem veicu- fios no futuro do Prosa Rural e da equipe de profissionais ações e criação de parcerias.
de rádio da Embrapa, Prosa Rural, que, a cada ano, se lar o Prosa, acredita que a nova programação vai fazer a - pesquisadores e comunicadores - que se dedicam à sua “O encontro representou importante momento para
firmam como personagens da história de transformação diferença para a comunidade. “Os produtores da região produção na Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, troca de experiências entre os comunicadores e também
no campo. são muito interessados em cultivo de frutas, principal- DF), e em todas as Unidades Descentralizadas espalha- para refletirmos sobre a grande responsabilidade que te-
“Antes, a gente não transmitia nada relacionado à mente banana, limão e maracujá e, certamente, vão se das pelo Brasil, assim como em Organizações Estaduais mos como radialista”, destacou Bruno Santos, jornalista
agricultura na emissora, apesar da importância da nossa beneficiar com o Prosa”, anima-se ele, ao reconhecer a de Pesquisa Agropecuária (Oepas). E nisso, tanto para da emissora comunitária Amanhecer FM, de Canindé de
produção regional”, conta o comunicador Alcione Santos, função do rádio em locais onde a dificuldade de comu- Elias, de Minas Gerais, quanto para Alcione, do Ceará, as São Francisco (SE). A radialista Anna Oliveira, de Apodi
da rádio Juazeiro FM, de Juazeiro do Norte (CE). “Mas, nicação e de informação muitas vezes atrapalha o desen- preocupações parecem coincidir. (RN), que participou do encontro promovido no Crato
depois que passamos a veicular o Prosa, percebemos o volvimento das atividades produtivas no campo. “Na região do Cariri, mesmo com água em abundân- (CE), também compartilha da mesma opinião. Ela já se
quanto é essencial levar informação para os agricultores, cia - , graças à floresta do Araripe -, muitos produtores sente parte importante em toda a rede: “com imenso pra-
uma informação de confiança que os ajuda a resolver os Transmissão de conhecimento não sabem como usar racionalmente esse recurso. Fa- zer me tornei uma agente de desenvolvimento, e com o
problemas da lavoura e reforça o valor dessas pessoas Com o objetivo de reunir esses profissionais e envol- zem desvios e barragens nas propriedades”, lamenta Al- apoio e suporte da Embrapa me disponho a colaborar,
que, há gerações, dedicam a vida ao trabalho rural”. vê-los no fortalecimento da rede de radialistas do Prosa, cione. “O Prosa pode ajudar a orientar sobre esse tipo sobretudo na divulgação dessas ações que contribuirão
Como Alcione, centenas de outros profissionais espa- dois encontros foram realizados, em 2012 (Recife, PE e de prática”. Para Elias, o desafio vai ainda mais longe. “O para o desenvolvimento local”.
lhados pelo Brasil, muitas vezes instalados em pequenos Salvador, BA). Mais recentemente, em novembro e de- agronegócio sempre foi visto como o vilão do consumo Os encontros de radialistas reuniram várias Unida-
espaços e com equipamentos modestos, levam ao ar, se- zembro de 2014, outros cem comunicadores das regiões de água”, diz. “É preciso falar aos agricultores sobre isso e des Descentralizadas da Embrapa - Embrapa Informação
manalmente, desde 2003, os conteúdos do programa, com do Alto Sertão Sergipano (SE), do Agreste Alagoano (AL), está aí o desafio”, completa. Tecnológica (Brasília, DF); Embrapa Agroindústria Tro-
novas entrevistas, dicas e receitas, música regional, utili- Serra Geral (MG), Cariri (CE) e Alto Oeste Potiguar (RN) Mas as sementes da informação levada pelo progra- pical (Fortaleza, CE); Embrapa Caprinos e Ovinos (So-
se reuniram em eventos promovidos pela Embrapa, com ma já estão germinando. No encontro realizado no Ter- bral, CE); Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) e
a parceria do Plano Brasil Sem Miséria, do governo fede- ritório Serra Geral, por exemplo, 35 radialistas se mo- Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), juntas em
ral, voltado ao apoio à inclusão rural produtiva, a partir do bilizaram e criaram spots para alertar sobre a crise da prol do desenvolvimento rural sustentável. ◆
uso do rádio como instrumento de transmissão de conhe- água na região. Situações do dia a dia das comunidades
ADILSON NÓBREGA

cimento. As capacitações reuniram parceiros do programa se transformaram em tema para motivar a reflexão da
e resultaram em novas adesões por parte de emissoras que população sobre uma realidade que a ciência sozinha
também passaram a veicular o Prosa Rural. não é capaz de resolver.
O radialista Elias Pereira, da rádio UFMG Educativa
(Belo Horizonte, MG), é um dos entusiastas da iniciativa Radialistas se unem em prol do desenvolvi-
da Embrapa. “A palavra-chave do Prosa é credibilidade”, diz mento rural
ele. “Atualmente, os agricultores têm acesso a muitas infor- Assim como Alcione Santos, Givanildo Santos e
mações, mas não sabem em qual delas confiar. O Prosa tem Elias Pereira, vários outros profissionais de comunica-
a assinatura da Embrapa e isso faz toda diferença”. Há 20 ção, a maior parte de emissoras comunitárias, partici-
anos na profissão, Elias foi instrutor de uma das oficinas re- param, em 2014, dos encontros de radialistas nos Terri-
alizadas durante o encontro de radialistas de Janaúba (MG) tórios Cariri (RN), Agreste Alagoano (AL), Alto Sertão
e conhece bem a realidade do universo radiofônico. Sergipano (SE), Alto Oeste Potiguar (RN) e Serra Geral
Henrique dos Santos, do Ceará, é um dos parceiros mais antigos do Prosa Rural
Radialistas participam de capacitação no Crato (CE)

428 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 429
EMBRAPA EMBRAPA

to, abordando temas como as práticas agroecologicas, forrageira e gliricídia que servem para alimentação ani-
construção participativa, diversidade de cultivos, for- mal, além de uma horta agroecológica.

SAYONARA MARINHIO
mas de arranjos produtivos integrados, coleta e uso Saborá, como é mais conhecido o agricultor José
racional da água, produção de alimentos integrado Simplício, ficou muito satisfeito com os resultados na sua
com a criação de animais, criação de galinha caipira, roça. “Agora eu posso vender o que sobra da produção e
dentre outros, mas observamos que o Prosa Rural po- a alimentação da minha família melhorou bastante. Do
deria conduzir a dinâmica como facilitador do proces- dinheiro da venda de galinhas e ovos, comprei duas ove-
so, utilizando um formato mais leve e descontraído de lhas e quatro porcos e aumentei a produção de alimentos
forma a explorar a avaliação por meio das entrevistas para suportar o período de seca”, comemora.
e provocações durante o programa, principalmente, “A parceria consolida uma política pública que bene-
para as famílias agricultoras, protagonistas de todo o ficia os agricultores familiares, promovendo a inclusão
projeto”, destacou. social e melhoria da qualidade de vida desse público”,
No quadro “Um dedo de prosa”, que é parte do pro- ressaltou o coordenador regional da Empresa de De-
grama de rádio, Tereza explicou que o resultado do senvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro/SE),
diagnóstico participativo realizado por meio da carac- Aryosvaldo Bomfim.
terização da realidade local identificou dois grandes Um dos membros da equipe do projeto, o pesquisador
problemas comuns a todos os municípios do território: Fernando Curado, participou do quadro do programa
a necessidade de aumentar a produção de alimentos e radiofônico conhecido por “Fala Produtor”, intervindo
de diminuir a dependência de compra de insumos ex- após as visitas a campo e interagindo com os agricultores
ternos aos locais de produção. “Assim, todas as estra- e agricultoras sobre os resultados observados. “Agora é
tégias de ação foram baseadas em construir soluções o momento de vocês expressarem suas opiniões, porque
agroecológicas para diminuir essas deficiências identi- vocês são os principais atores dessa construção partici-

Prosa Rural apoia ações de


ficadas”, complementa. pativa”, enfatiza.
Durante o evento, participaram como entrevistados A agricultora Maria Janis dos Santos,integrante do
José Simplício e sua esposa Vanda, da Comunidade São Grupo de Interesse de Monte Alegre e do local onde está
Francisco, em Porto da Folha (SE), onde foram instala- uma das Unidades de Experimentação Participativa fa-

transferência de tecnologia
dos o galinheiro e o aprisco na Unidade de Experimenta- lou entusiasmada sobre o projeto. “Estou há muitos anos
ção Participativa. A Unidade também conta com cultivos sem estudar e esse trabalho despertou meu interesse e a
para a produção de alimentos, como milho, feijão, batata minha vontade de voltar a estudar, fazer uma faculdade
doce, macaxeira e mandioca, entre outros como palma nessa área e para no futuro fazer parte dessa equipe e

no Alto Sertão Sergipano desse trabalho de vocês”.


A ação de realizar os programas ao vivo em comu-

SAYONARA MARINHIO
nidades rurais tem se tornado uma atividade presente
em projetos desde que a equipe do Prosa Rural da Em-

U
m programa de rádio Prosa Rural trans- Segundo Tereza, a atividade, realizada em Porto da brapa Tabuleiros Costeiros passou a utilizar o progra-
mitido ao vivo para mais de cem agricul- Folha (SE), foi discutida em reunião entre o Comitê Ges- ma de rádio da Embrapa como ferramenta de transfe-
tores familiares do Território Alto Sertão tor do Projeto e a equipe do programa para encontrar rência de tecnologia.
Sergipano. Esse foi um dos desdobramentos da ação formas de disponibilização e de troca de experiências Para a analista Sayonara Marinho, utilizar o Prosa
de intercâmbio de experiências que integra o projeto entre as famílias agricultoras, extensionistas e técnicos Rural como estratégia de transferência de tecnologia
Construção participativa de soluções agroecológicas no sobre a avaliação preliminar dos resultados alcançados possibilita maior proximidade com os agricultores fami-
Território do Alto Sertão de Sergipe, coordenado pela no Alto Sertão Sergipano. liares e jovens agricultores rurais, principalmente naque-
analista Tereza Cristina Oliveira, da Embrapa Tabulei- “A ideia inicial era que o Prosa Rural fosse parte las regiões nas quais o rádio é o veículo de comunicação
ros Costeiros (Aracaju,SE). da ação, como estava previsto na proposta de proje- Agricultores do Alto Sertão Sergipano acompanham a transmissão ao vivo do Prosa Rural mais presente. ◆

430 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 431
EMBRAPA EMBRAPA

Conhecimento das O
Instituto Federal de Rondônia, de Ariquemes
(RO), e a Escola Família Agrícola (EFA), de
Ji-Paraná (RO), foram beneficiadas pelo pro-
As Minibibliotecas da Embrapa buscam, na distribui-
ção de publicações escritas em linguagem simples e de
fácil compreensão, uma forma de popularizar a ciência

Minibibliotecas chega
jeto Minibibliotecas da Embrapa, com a doação de pu- e democratizar o acesso às informações técnico-científi-
blicações impressas, CDs e DVDs sobre tecnologias de cas. “Para nós é de fundamental importância essa parce-
baixo custo e em linguagem didática. “Pra gente é im- ria com a Embrapa e poder oferecer aos estudantes ma-
portante poder ter este tipo de conhecimento, é o que a teriais de qualidade para o estudo e a pesquisa”, afirma o
gente precisa aqui. Não quero perder minhas raízes, fui diretor do Instituto Federal de Rondônia, em Ariquemes,

a jovens agricultores
criado no campo e agora quero estudar mais para poder Osvino Schmidt.
levar mais conhecimento e desenvolvimento para o meu Segundo o diretor da EFA, Pedro José dos Santos, os
trabalho no campo”, conta Gabriel Borges, ao folear os jovens que estão nas escolas de formação agrícola bus-
livros doados. Ele está no terceiro ano na EFA. cam o conhecimento e querem melhorar a vida no cam-
As Minibibliotecas são uma importante ferramenta po. “Ter acesso às tecnologias e poder implementá-las,

de Rondônia
para estimular a leitura e facilitar o acesso ao conheci- essa é a oportunidade que temos com esses jovens, e é
mento por parte de jovens agricultores e comunidades preciso incentivar isso. É o nosso futuro”, completa. ◆
rurais, contribuindo com o desenvolvimento sustentável
e a segurança alimentar das comunidades. Em Rondô-
nia, a entrega do acervo faz parte do projeto Transferên-
cia de tecnologias para sistemas de produção agropecu-

RENATA SILVA
ários sustentáveis no Estado de Rondônia, realizado pela
Embrapa Rondônia (Porto Velho, RO) e que busca estru-

RENATA SILVA
turar uma rede de capacitação de multiplicadores, por
meio de parcerias com instituições de ensino.
O objetivo do projeto é tornar as instituições de en-
sino disseminadoras das tecnologias geradas pela Em-
brapa e que os alunos formados possam atuar como
importantes agentes de inovação dentro dos sistemas
de produção agropecuário do Estado. “Trata-se de atu-
ar com responsabilidade social, capacitando jovens do
presente para uma agropecuária segura e sustentável do
futuro”, completa o engenheiro agrônomo da Embrapa
Rondônia, Frederico Botelho.
Agnaldo Nascimento, pai de dois ex-estudantes da
EFA, concorda que o conhecimento é o caminho para
melhorar a vida no meio rural. “Somos uma família
simples, do campo, e sempre reconhecemos o valor do
estudo. Essas publicações serão valiosas para esses me-
ninos e para nós também. Eu sempre incentivei meus
filhos a estudarem e eles sempre quiseram permanecer
no campo. Hoje conseguem melhorar muita coisa lá na
roça, são eles que me ensinam muitas coisas”, diz o pai,
orgulhoso dos filhos. Gabriel Borges conhecendo os livros das Minibibliotecas

432 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 433
DULCIVÂNIA FREITAS
EMBRAPA EMBRAPA

Transferência de
tecnologias agrícolas
nas Escolas Famílias
Rurais do Amapá
A
lunos, professores e agricultores vincula- O Amapá conta com cinco Escolas Famílias, um mo-
dos às Escolas Famílias Rurais do Estado do delo de educação no campo surgido na França logo após
Amapá estão tendo a oportunidade de par- a Segunda Guerra Mundial e que utiliza a pedagogia da
ticipar de cursos e palestras sobre produção de mudas alternância. O aluno (filho de agricultor) fica em regime
frutíferas, plantio sem queimadas, manejo florestal, irri- de internato durante quinze dias e o restante do mês per-
gação e apicultura nos ambientes das escolas e também manece em sua casa, atuando como agente multiplicador
em suas unidades produtivas familiares. de conhecimentos técnicos junto à família. Localizadas
As ações integram o projeto da Embrapa Amapá em áreas produtivas estratégicas do Estado, as cinco
(Macapá, AP), que começou em 2007 e atualmente en- escolas formam técnicos agrícolas, por meio de ensino
contra-se na segunda fase. fundamental e médio.
O planejamento e a execução das atividades envol- As Escolas Famílias do Amapá são as seguintes: Es-
vem a parceria da Embrapa com a Rede das Associações cola Família Agrícola do Pacuí (Macapá), Escola Família
das Escolas Famílias do Estado do Amapá (Raefap), Agroextrativista do Carvão (Mazagão), Escola Família
Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap) Agroextrativista do Maracá (Mazagão), Escola Agroex-
e Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do trativista do Cedro (Tartarugalzinho) e Escola Agrícola
Amapá (IEPA). da Perimetral Norte (Pedra Branca do Amapari). ◆

434 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 435
LEA CUNHA
EMBRAPA EMBRAPA

lhões de toneladas em 1,7 milhão de hectares. As prin- trial, formado por fecularia, empacotadora de farinha e
cipais regiões produtoras são Norte e Nordeste. Segundo estufas para secagem da fécula fermentada. No mesmo
o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mais ano, a Coopasub recebeu da Secretaria da Agricultura,
de 85% da produção vem da agricultura familiar. “Quase Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicul-
um milhão de trabalhadores cultivam a planta. A man- tura do Estado da Bahia o Selo de Identificação da Agri-
dioca é expressiva e importante para a segurança alimen- cultura Familiar.
tar no país”, afirma Valter Bianchini, secretário nacional Um exemplo de agricultor de sucesso é José Carlos
da Agricultura Familiar do MDA. Mendonça, de Cruz das Almas (BA), que conheceu o
A opinião é compartilhada pelo agrônomo Wilson processo de fabricação dos beijus coloridos desenvolvido
Dias, diretor da Companhia de Desenvolvimento e Ação pela Embrapa e passou a vendê-los não só em seu boxe
Regional (CAR), vinculada à Secretaria de Desenvolvi- na feira, como também para o município, por meio do
mento Rural do Estado da Bahia. “Dos nossos 665 mil Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Meu lucro
agricultores, pelo menos metade tem alguma quantidade mensal cresceu 50%, mas minha qualidade de vida au-
de mandioca em sua propriedade. Qualquer intervenção mentou 100%. Antes, eu vendia em média 100 pacotes
nessa cadeia produtiva impacta diretamente na produti- por semana. Agora, são dois mil. Antes, eu procurava o
vidade dessas famílias e na economia local”, afirma. comércio. Hoje, chego a rejeitar encomenda porque não
Agricultores familiares e pequenas agroindústrias posso atender”, diz. Sua casa de farinha funciona três
têm investido cada vez mais na produção de beijus tradi- dias por semana, das 2h às 14h, e emprega mais seis pes-
cionais e coloridos (preparados com frutas e hortaliças), soas – antes eram somente ele e seu irmão. ◆
biscoitos, sopas, mingaus, tortas e pães. Com isso, a raiz
agrega valor para o agricultor familiar, melhorando sua
renda e qualidade de vida e trazendo sustentabilidade ao
meio rural.

LEA CUNHA
Na busca por variedades para atender a produtores
e indústrias, a Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz
das Almas, BA) coordena o programa de melhoramento
genético de mandioca. “A ampla faixa de cultivo, os pro-
blemas recorrentes relacionados ao ataque de pragas e as
novas exigências de mercado, sobretudo para uso indus-
trial, são desafios que devem ser atendidos pela pesquisa

Mandioca ajuda a diminuir


para desenvolvimento de cultivares”, explica o pesquisa-
dor Vanderlei da Silva Santos, líder do programa.
Em Vitória da Conquista (BA), a cultura mostra sua

pobreza no campo
força. Desde 2005, a tradicional região produtora de
derivados de mandioca (biscoitos de polvilho, beijus e
bolachas de goma) sedia a Cooperativa Mista Agropecu-
ária do Sudoeste da Bahia (Coopasub), que tem mudado
a vida de 2.306 agricultores e suas famílias. A Embrapa

A
mandioca pode se transformar no principal cada, à medida que os políticos reconheçam o enorme e outras instituições estão presentes desde as primeiras
cultivo do século 21. A afirmação é da Orga- potencial da mandioca. Outrora considerada o alimento discussões, antes mesmo de sua implantação.
nização das Nações Unidas para a Alimenta- dos pobres, a mandioca emergiu como uma cultura poli- Segundo Izaltiene Rodrigues, presidente da coope-
ção e a Agricultura (FAO) e está registrada na publicação valente para o século 21, que responde às prioridades dos rativa desde a fundação, quando havia apenas 108 inte-
“Produzir mais com menos: Mandioca – Um guia para países em desenvolvimento, às tendências da economia grantes, a evolução é visível. “Melhorou muito a vida dos
a intensificação sustentável da produção”, de 2013. “A global e aos desafios da mudança climática”. cooperados em relação à comercialização dos produtos,
produção total de mandioca aumentou 60% desde 2000 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e pois temos a certeza de venda e melhor preço”, declara.
e está previsto ainda um maior aumento durante esta dé- Estatística (IBGE), o Brasil produziu, em 2012, 23 mi- Em 2011, a cooperativa inaugurou o complexo indus- Raiz da mandioca

436 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 437
EMBRAPA EMBRAPA

Maniveiro, uma nova figura na Na Bahia, 11 territórios de identidade são beneficia-


dos pelo Reniva, que tem duração prevista de seis anos.
Até fevereiro de 2015, 91 mil mudas foram entregues
produtiva da mandioca, e está orgulhoso do seu pionei-
rismo. “Não quero sair ganhando sozinho. Quero que to-
dos ganhem, os parceiros, mas também o meu vizinho.

cadeia produtiva da mandioca


pelo Instituto Biofábrica de Cacau (IBC), que realiza a O agricultor tem que dar sua contrapartida, porque es-
multiplicação do material, a maniveiros de seis municí- tou recebendo uma ação que futuramente vai melhorar
pios. Em março, mais 234 mil mudas foram fornecidas a minha renda. Ganhar conhecimento é a melhor coisa. A
mais 18 multiplicadores. gente vê que esse projeto vai servir para muitos. Se deu
O diretor da Companhia de Desenvolvimento e Ação certo aqui, na Bahia, vai dar certo em Sergipe, Piauí, em

T
er matéria-prima para o plantio – a maniva-se- pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Re- Regional (CAR), vinculada à Secretaria de Desenvolvi- qualquer lugar. Temos a oportunidade de ter a Embrapa
mente ou, simplesmente, maniva – sempre foi forma Agrária, Pesca e Aquicultura (Seagri) do Estado mento Rural do Estado da Bahia, Wilson Dias, destaca aqui há mais de oito anos dando apoio. A gente não nasce
um grande problema para o produtor de man- da Bahia e por muitos parceiros. como uma das principais vantagens do projeto a oferta sabendo tudo. Vamos buscando conhecimento no dia a
dioca e uma das maiores demandas para a Embrapa Man- O foco do Reniva é o pequeno agricultor, que vai rece- permanente de manivas. “Já tivemos anos em que a seca dia. Quem não busca fica pra trás”, afirma Rozildo.
dioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA). Essa dificuldade ber lotes de mudas de cultivares geradas ou recomendadas dizimou completamente as lavouras, e o reabastecimen-
deu origem ao projeto “Rede de multiplicação e transferên- pela Embrapa e de uso tradicional dos produtores, livres de to das manivas foi feito a partir de regiões litorâneas e até O projeto
cia de materiais propagativos de mandioca com qualidade pragas e doenças, que serão multiplicadas pelo maniveiro de estados vizinhos. Isso encareceu o custo de produção O Reniva teve início em 2010, com o intuito de suprir
genética e fitossanitária para o estado da Bahia”, ou Reniva. (produtor de manivas-semente). “Ser maniveiro deve ser e trouxe variedades que necessariamente não estavam a falta de manivas, principalmente, nas regiões Norte
Apresentado à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva encarado como uma missão para o desenvolvimento da adaptadas ao nosso Estado. Com o Reniva, podemos de- e Nordeste. Atualmente está sendo implementado em
da Mandioca e Derivados da Bahia, o projeto tornou-se mandiocultura”, afirma Domingo Haroldo Reinhardt, che- senvolver e multiplicar variedades locais e ter uma oferta Alagoas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco,
uma das prioridades para esse fórum, foi encampado fe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura. permanente desse material”. Piauí e Sergipe.
Ao receber 13 mil mudas (suficientes para o plantio O projeto possibilita produzir cultivares livres de vírus,
de um hectare), o agricultor Rozildo dos Santos, do as- disponibilizar manivas de plantas de mandioca para serem
sentamento Caxá, em Marcionílio Souza, transformou-se multiplicadas em larga escala, validar genótipos de mandio-

ALESSANDRA VALE
no primeiro maniveiro da Bahia, figura nova na cadeia ca em diversos ambientes e resgatar variedades tradicionais.◆

MARCELA NASCIMENTO
Rozildo, o primeiro maniveiro da Bahia Mudas no IBC, que realiza a multiplicação do material

438 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 439
EMBRAPA EMBRAPA

Mandioca no Tocantins
O Reniva é uma aposta também no Tocantins. Em parceria a Embrapa Mandioca e Fruticultura, a Embrapa
Projeto agrega valor à produção de
Pesca e Aquicultura (Palmas, TO) articula no Estado uma rede de multiplicação e transferência de manivas-
-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária. mandioca e aumenta renda no Maranhão
O
projeto de transferência de tecnologia da do produto, começando pela higiene das instalações. Ex-
O projeto foi apresentado a associações de produtores de mandioca do Tocantins e entidades como Com-
Embrapa para o Plano Brasil Sem Miséria plicamos que, se eles produzissem farinha todos os dias,
panhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto do Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins),
(PBSM) no Maranhão está colhendo seus diariamente teriam que lavar todos os equipamentos das
Secretaria de Agricultura e Pecuária do Tocantins (Seagro), Prefeitura Municipal de Palmas e Fundação
primeiros frutos das ações que contemplam cerca de 4 instalações, como forno, cocho e mesa. Dá trabalho, mas
Universidade do Tocantins (Unitins-Agro).
mil famílias em 33 municípios do Estado. tem que fazer”, explicou Veloso.
Segundo o analista da Embrapa Hermínio Rocha, diante dos relatos dos próprios agricultores de baixa pro- No Maranhão, a capacitação de profissionais das empre- A segunda dica do curso foi indicar o uso da forragei-
dutividade das variedades locais, o projeto pode tornar o sistema de produção mais organizado e estrutura- sas contratadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrá- ra (máquina de triturar que a maioria dos agricultores
do, a exemplo do que ocorre no Nordeste. “O Reniva tem condições de suprir a falta de material propagativo rio (MDA)foi estendida aos técnicos das prefeituras e aos já possui) para cortar a farinha depois do escaldamento.
de mandioca na região, mas também é muito importante o envolvimento de atores locais, como os profissio- agricultores, ampliando o número de multiplicadores aptos “Geralmente os agricultores fazem esse trabalho de for-
nais de assistência técnica e extensão rural”, ressaltou. a prestar assistência técnica aos beneficiários do PBSM, que ma manual,mas, além de não peneirar da forma ideal,
são as famílias rurais em situação de extrema pobreza. a farinha ainda está quente logo após o escaldamento e
O primeiro passo é escolher por meio de testes as variedades de mandioca mais adequadas para a região: de “O destaque do projeto aqui é a estratégia de articu- demora muito a ser processada. Com o uso da forrageira
mesa, farinha ou fécula. A partir daí, definir com os atores locais a melhor estratégia para viabilizar o projeto. lação com os municípios, que são os principais colabo- o serviço fica mais rápido, a farinha sai mais uniforme e
radores para a realização das ações de transferência de isso contribui para que a qualidade final do produto seja
tecnologia nessas localidades”, afirmou a chefe-adjunta melhor”, disse o pesquisador.
de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cocais (São A farinha de melhor qualidade fez aumentar a pro-
Luís, MA), Guilhermina Cayres. cura, inclusive parautilização pelas prefeituras em políti-

MARCELA NASCIMENTO
Com as novas articulações, os progressos já são ob- cas públicas federais, como o Programa de Aquisição de
servados em algumas comunidades. No município de Alimentos (PAA).“A prefeitura só recebe mercadorias de
Caxias, agricultores familiares que participaram dos cur- qualidade e, por isso, recebeu a minha e a de um amigo,
sos promovidos pela Embrapa Cocaisem 2014 comemo- que foram produzidas conforme aprendemos no curso
ram os bons resultados obtidos na produção de farinha da Embrapa”, afirmou o agricultor Daniel.
de mandioca, graças às técnicas aprendidas. Com os resultados aparecendo, uma das metas do
“Depois do curso, nossa mercadoria começou a me- projeto para o Plano Brasil Sem Miséria foi alcançada.
lhorar e a ter mais valor. Passamos a vender mais e por “Nosso objetivo principal é fazer o agricultor melhorar
um preço melhor, aumentando nossa renda”, disse o de vida a partir de pequenas atitudes”, concluiu Veloso.◆
agricultor Daniel Ferreira.
Segundo o pesquisador José de Ribamar Costa Velo-
so, os principais problemas em Caxias eram a precarie-

VIVIANE SANTOS
dade de condições nas casas de farinha e a higiene inade-
quada durante o processo.

Pequenas mudanças, grandes resultados


Para melhorar a qualidade sem sugerir alterações que
pudessem ser rejeitadas pelos agricultores, os cursos pro-
movidos pela Embrapa introduziram pequenas, mas im-
portantes modificações no processo de produção da farinha.
“Sabemos que no Norte e no Nordeste os agriculto-
res familiares são bastante resistentes a mudanças. Por
isso, procuramos não alterar muito a forma de trabalho.
Manivas Duas orientações foram fundamentais para a melhoria Farinha de Caxias ganhou qualidade

440 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 441
EMBRAPA EMBRAPA

Inovações de baixo
custo facilitam a vida do
horticultor familiar
T
rês equipamentos simples desenvolvidos por proteger a produção. Trata-se de uma estrutura simples
instituições de pesquisa nacionais estão facili- e barata, que deve ser instalada próxima à lavoura para

MILZA LANA
tando a vida de pequenos produtores familia- receber as hortaliças após a colheita. Oferece grande
res de hortaliças (e também de frutas), reduzindo custos, vantagem já que exige muito menos recursos do que
perdas com alimentos e oferecendo mais conforto. O a construção de um galpão. Para Gilberto dos Santos,
carrinho para transporte, a mesa para seleção de produ- agricultor familiar do Núcleo Rural Pipiripau (Planal-
tos e a unidade móvel de sombreamento já estão sendo tina, DF) a estrutura serve para frutas como maracujá,
utilizados em lavouras do Distrito Federal e são peque- que estragam rapidamente debaixo do sol. “Para os
nas inovações que contribuem para as boas práticas na produtores que não têm dinheiro para construir um
pós-colheita de hortaliças, fase que compreende seleção, galpão, acaba sendo uma alternativa muito boa porque
classificação, limpeza, armazenamento, transporte e co- não precisamos ficar expostos para selecionar os pro-
mercialização. Todos são simples de produzir, possuem dutos”, salienta.
baixo custo e oferecem ganhos imediatos, inclusive para A temperatura interna alta em hortaliças causa da-
a saúde do agricultor. nos visíveis, como frutos manchados e murchos, o que
“A exposição ao sol, mesmo que por períodos curtos, aumenta as perdas. Para o casal de produtores Antônio e
acelera a desidratação e o amadurecimento, tornando as Maria Lucilene Martins, que mantém uma propriedade
hortaliças mais suscetíveis à podridão e menos atraentes familiar no Núcleo Rural Rio Preto (também em Planal-
para o consumidor”, explica a pesquisadora Milza Morei- tina, DF), a barraquinha (como foi carinhosamente ba-
ra Lana, da Embrapa Hortaliças (Brasília, DF). Ela expli- tizada) impede que os produtos estraguem rapidamen-
ca que a menor durabilidade não reduz somente o tempo te. “Só o fato de o sol não bater direto nas hortaliças já
disponível para o agricultor escoar a produção, como protege os frutos”, explica Maria Lucilene, que também
também prejudica a renda, já que produtos deteriorados aponta como vantagem poder classificar as hortaliças
possuem menor valor comercial. mesmo quando o tempo está chuvoso. A instalação da
A Unidade Móvel de Sombreamento (UMS) foi de- UMS acabou com os dias em que a classificação de hor-
senvolvida pela Embrapa para ajudar os agricultores a taliças acontecia embaixo do pé de manga. “Essa ideia

442 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 443
EMBRAPA EMBRAPA

caiu do céu. Os vizinhos que visitam a propriedade familiar que não dispõe de recursos para a compra de
ficam admirados e perguntam onde encontrar a barra- maquinários. Para esse problema, foram desenvolvidos o

MILZA LANA - EMBRAPA


quinha”, relata Antônio. carrinho para transporte e a mesa para seleção de horta-
Do ponto de vista da saúde do trabalhador rural, a liças. Os pés da mesa, que são reguláveis, permitem que
UMS funciona como barreira que diminui a incidência o agricultor faça ajustes da maneira mais confortável em
de calor e de raios ultravioletas. “A exposição prolongada função da própria altura. As paredes laterais podem ser
à luz solar é um risco físico para o agricultor e pode ori- arranjadas para se obter uma mesa com cocho (depósito
ginar doenças como câncer de pele e catarata. Por isso, de contenção) ou com bica (calha para direcionar os fru-
a utilização do equipamento repercute na qualidade do tos selecionados).
trabalho e na proteção da saúde do agricultor”, avalia o “É mais fácil manusear os produtos na mesa, ao in-
médico do trabalho Osvaldo de Azevedo Monteiro Neto, vés de nas caixas”, avalia o produtor Márcio Costa, do
especialista em ortopedia. De acordo com ele, a UMS é Núcleo Rural Pipiripau, para quem a regulagem em di-
uma evolução do processo laboral, por ser um equipa- ferentes alturas facilita o trabalho e oferece mais con-
mento de proteção coletiva (EPC) que beneficia, ao mes- forto. “Além disso, podemos adaptar o equipamento de
mo tempo, vários trabalhadores. acordo com o usuário”, elogia. Este equipamento ergo-
nômico reduz o risco de o agricultor desenvolver lesões
Intervenção ergonômica ou doenças osteomusculares, também conhecidas por
A postura inadequada e o carregamento de peso ex- DORT. “A utilização da mesa é uma medida simples,
cessivo são outros problemas recorrentes ao agricultor porém altamente eficaz, que adapta o trabalho ao ho-

Boa parte do desperdício de alimentos ocorre na pós-colheita


O aprimoramento ininterrupto dos sistemas produtivos e das técnicas de manejo por meio do aporte de
tecnologia é considerado primordial para que os cultivos agrícolas superem, rapidamente, os desafios que
ameaçam a produtividade. Se, por um lado, é preciso aumentar a disponibilidade de alimentos, por outro,
torna-se fundamental assegurar que os alimentos não sejam desperdiçados nas etapas seguintes à produção,
principalmente quando um a cada oito habitantes do planeta passa fome. A Unidade Móvel de Sombreamento tem baixo custo e pode substituir os tradicionais galpões

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicado
em 2011 aproximadamente um terço da produção global de alimentos (1,3 bilhão de toneladas) é perdido mem e não o contrário. Contribui para o aumento da taliças nas áreas de agricultores familiares do Distrito
anualmente. Se, além da perda do alimento, forem considerados gastos com insumos como água e terras produtividade e da qualidade do trabalho, já que mini- Federal. Ele facilita o transporte dos frutos no cam-
agricultáveis, e as emissões de gases de efeito estufa geradas durante a produção, o problema adquire propor- miza a sobrecarga da coluna vertebral”, diz o ortopedis- po e no mercado, e também reduz o estresse físico do
ções ainda maiores. Para dar conta de uma população mundial estimada em 9,6 bilhões de pessoas, em 2050, ta Monteiro Neto. agricultor, que não precisa carregar caixas pesadas
a produção de alimentos teria que aumentar 60%. Mas se o desperdício fosse reduzido pela metade, um Em relação aos benefícios para as hortaliças, a mesa nos ombros. “O carrinho permite colher mais rapida-
aumento de 25% seria suficiente para atender a demanda mundial por alimentos. facilita a visualização dos frutos doentes. “Quando se co- mente, preserva as caixas limpas e, ao evitar o contato
lhe pimentão, por exemplo, conseguimos separar mais com o solo, reduz a contaminação e a transmissão de
O desperdício de alimentos apresenta causas variadas e o estágio de desenvolvimento de um país interfere
facilmente aqueles acometidos por antracnose. Se um doenças para as hortaliças”, explica a pesquisadora
no tipo de perda. Em países desenvolvidos, cerca de um quarto dos alimentos comprados pelas famílias vai
pimentão doente entrar em uma caixa de frutos saudá- Milza Lana.
parar no lixo. Nos países em desenvolvimento, o prejuízo maior ocorre devido à inadequação da infraestru-
veis, em algumas horas 80% da caixa se perde”, explica o Considerado prático e fácil de ser transportado, a
tura de pós-colheita. No caso de hortaliças e frutas, que são perecíveis e geralmente consumidas frescas, os
agricultor familiar Antônio de Carvalho, do Núcleo Ru- novidade suporta mais caixas empilhadas. “Agilizou o
cuidados após a colheita devem ser intensivos tanto para evitar danos mecânicos, que podem servir para
ral Rio Preto (DF), que acrescenta: “não posso arriscar trabalho, é verdade. Mas o que vale mesmo são os três
entrada de microrganismos causadores de doenças, quanto para garantir as qualidades do alimento relacio-
perder a produção, por isso faço a seleção na mesa”. equipamentos utilizados juntos. Para nós, se comparar
nadas a sabor, aroma e consistência.
O carrinho para transporte completa a lista de o antes e depois, está tudo muito bom. Ave Maria!”, co-
equipamentos que aprimoram a pós-colheita de hor- menta Maria Lucilene. ◆

444 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 445
EMBRAPA EMBRAPA

Novo equipamento vai é formada por uma broca, semelhante a uma pua com
rosca sem fim.
Com a aplicação da força do operador para baixo, uma
mola do desperfilhador é comprimida, fazendo a broca
Maurício Tavares, e pelo técnico de laboratório Ricardo
Pessoa Rebello. Para o chefe-geral da Embrapa Amazô-
nia Ocidental, Luiz Marcelo Brum Rossi, o lançamen-
to do desperfilhador por roto-compressão tem grande

facilitar trabalho de
girar e penetrar o perfilho, destruindo a sua gema api- importância para a agricultura familiar. “Esta inovação
cal, que é aquela responsável pelo crescimento vertical da trará, sobretudo, aumento de produtividade da mão de
planta. Com a utilização do desperfilhador, acontece o di- obra, maior eficiência no processo de desperfilhamento
laceramento dos tecidos da gema apical, que corresponde e também melhoria nas condições de trabalho, por ser

produtores de bananas
à etapa final do ciclo de trabalho. uma ferramenta mais ergonômica e de menor esforço
O grupo da Embrapa Amazônia Ocidental que de- operativo”, destacou.
senvolveu o equipamento é formado pelos pesquisadores O desperfilhador por roto-compressão está regis-
Luadir Gasparotto, José Clério Rezende Pereira e Adauto trado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(Inpi), em processo de patenteamento. Também encon-

A
té que a banana chegue à mesa do consu- perfilho, é necessário repetir a operação a cada 30 dias. tra-se em fase de negociação com empresas interessadas
midor são necessárias dezenas de ativida- A “Lurdinha” também possui outras desvantagens, como no licenciamento e, por essa razão, a ferramenta ainda
des, desde a escolha da área de plantio até maior esforço do operador, além da dificuldade da gema não está sendo comercializada. A previsão é de que esteja

FELIPE ROSA
a disposição dos frutos nas gôndolas. Para uma destas de crescimento sair pela janela do equipamento. no mercado até maio de 2015. ◆
etapas – o desperfilhamento da bananeira – um grupo
de pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (Ma- Funcionamento
naus, AM), desenvolveu um equipamento que promete O desperfilhador por roto-compressão funciona ape- Por que é necessário o desperfilhamento?
facilitar a vida do agricultor. nas com a força do operador, não sendo necessária qual-
A bananeira produz grande número de perfilhos
O desperfilhador por roto-compressão apresenta quer energia complementar, como baterias ou eletricida-
(brotos), o que proporciona uma quantidade ele-
maior eficiência na eliminação dos perfilhos da bana- de. Para começar o trabalho, o operador deve segurar o
vada de plantas por touceira. A competição entre
neira do que os equipamentos existentes atualmente, guiador do equipamento com as duas mãos e colocar a
elas reduz a produção do bananal e a qualidade
proporcionando redução de mão de obra e maior prati- extremidade inferior no perfilho já cortado, onde fica a
dos frutos. Para que a produção seja mantida, é
cidade de uso. Para quem não sabe, perfilhos são brotos gema apical. Esta extremidade inferior do desperfilhador
imprescindível efetuar o desbaste, conduzindo a
ou ramos laterais da planta que se desenvolvem a partir
touceira com uma mãe, um filho e um neto.
das gemas axilares dos nós que se localizam abaixo da

FELIPE ROSA
superfície do solo. A técnica consiste em selecionar um dos per-
Comparado à ferramenta “Lurdinha”, utilizada em filhos na touceira, optando-se por um perfilho
todo o Brasil pelos produtores familiares, o desperfilha- vigoroso. O desperfilhamento, apesar de simples,
dor tem eficiência 20% maior na eliminação total dos é crucial para o sucesso do plantio, uma vez que
perfilhos. Em testes realizados em área de produtores plantios não desperfilhados não respondem
de banana em Presidente Figueiredo, AM, apenas 0,73% a qualquer outra tecnologia adotada, além de
de uma mostra de mil (1000) perfilhos removidos com reduzir a vida útil dos bananais.
o novo equipamento voltaram a brotar. O percentual de
rebrotamento com a “Lurdinha” chegou aos 22%. A cultura da bananeira (Musa spp.) ocupa o
Mas a eficiência não se dá apenas na remoção dos segundo lugar em volume de frutas produzidas
perfilhos. O desperfilhador por roto-compressão tam- e a terceira posição em área colhida no Brasil. É
bém agiliza o trabalho do agricultor. Nos testes, para eli- considerada uma cultura de subsistência, produ-
minar mil perfilhos com a “Lurdinha” foram necessárias zida em pequenas áreas rurais. A safra brasileira
quatro horas e 44 minutos. Com o novo equipamento, a corresponde a 7,3 milhões de toneladas para uma
economia de tempo foi de quase uma hora: três horas e área colhida de 503.354 hectares, distribuídos
45 minutos. entre 65.500 produtores, conforme dados de 2013.
Além da “Lurdinha”, o desbaste também pode ser fei-
to com facão. Neste caso, cortando-se a parte aérea do O equipamento é 20% mais eficiente para eliminar perfilhos da bananeira O desperfilhador funciona apenas com a força do operador

446 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 447
CYNTHIA TORRES
EMBRAPA EMBRAPA

O
projeto sobre manejo da agrobiodiver- Melhoramento participativo
sidade com enfoque agroecológico em No âmbito das atividades técnicas houve a
comunidades de pequenos agriculto- identificação e a indicação de variedades de mi-
res, liderado pela Embrapa Cerrados (Planaltina, lho, feijão, mandioca e espécies de plantas de
DF) e concluído recentemente, utilizou as estra- cobertura mais adaptadas aos diferentes locais
tégias de redes sociotécnicas e polos de irradiação para a composição de sistemas diversificados
para promover o desenvolvimento dos agricultores de produção em uma modalidade inovadora de
familiares em bases sustentáveis, em vários muni- consórcio denominada “corredor agroecológico”.
cípios goianos. Em parceria com a Associação Esta- Nesse sentido ocorreram as estratégias de melho-
dual dos Pequenos Agricultores de Goiás (Aepago), ramento participativo, caracterização, avaliação,
as redes propiciam a ligação das comunidades de conservação e a produção de variedades locais e
agricultores com os polos de irradiação. melhoradas (milho, feijão, mandioca), avaliação
Os polos de irradiação são áreas estratégicas de adubos verdes em diferentes sistemas agroe-
para promover, por meio de parcerias, ações que cológicos, desenvolvimento e distribuição de va-
permitam processos de manejo da agrobiodiversi- riedades adaptadas à realidade das comunidades
dade. Constituem-se por locais físicos, áreas comu- rurais, além de elaboração de alternativas para
nitárias ou propriedades particulares, a partir dos produção de sementes em nível comunitário e

Estratégias
quais as ações, inicialmente locais, possuem pers- estratégias para o estabelecimento de bancos de
pectiva de ampliação, alcance social e populariza- sementes locais.
ção. Cabem às redes sócio técnicas aliar ou com- Foram testadas 32 variedades de milho em 18
binar o conhecimento local ao técnico, facilitando ensaios, com melhoramento participativo de 12 e

participativas ajudam
a implementação de intervenções, por estabelecer construção de outras seis novas variedades. Dez
parcerias e ações participativas. Nove polos foram variedades de mandioca de mesa e 12 de indústria
definidos nos municípios de Santa Terezinha, Fai- foram avaliadas em cerca de oito locais, tendo sido
na, Uirapuru, Pirenópolis, Itaguaru, Itapuranga, selecionadas, participativamente, três variedades
Ipameri, Uruana e Catalão. de cada. De feijão, foram avaliadas pelo menos 12

no desenvolvimento de
De acordo com a pesquisadora Cynthia Torres variedades e dos adubos verdes, 14 espécies foram
de Toledo Machado, todas as ações de pesquisa e ex- testadas, anualmente, em cerca de sete locais.
perimentação do projeto envolveram atividades de A produção e multiplicação e sementes pela Ae-
sensibilização, treinamento, capacitação e trocas de pago atingiu média de 200 mil kg/ano, atendendo

comunidades rurais
experiência, facilitando as ações técnicas de pesqui- a mais de 10 mil famílias de agricultores e planos
sa que foram implantadas. governamentais de distribuição de sementes.

448 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 449

Corredor agroecológico na Comunidade Caxambu, em Pirenópolis


EMBRAPA EMBRAPA

Transição agroecológica na

RONALDO ROSA
agricultura familiar da Amazônia
O
convívio harmonioso do homem com a flo- esses segmentos. “Conseguimos conhecer várias experi-
resta é necessário para a preservação e susten- ências exitosas nas propriedades, aproximando a relação
tabilidade do Bioma da Amazônia. “Eu tento entre a ciência e a vivência, e a partir daí se fortaleceu a
imitar a floresta”, diz o produtor familiar Pedro Araújo discussão e a prática agroecológica na Unidade e entre os
Ferreira, de 46 anos, mais conhecido como “Seu Pedreco”, produtores da região”, disse o pesquisador.
quando analisa sua forma de produzir na comunidade de Na continuidade desta missão, o ano de 2014 foi inten-
Monte Sião, município de São Domingos do Capim, re- so de atividades para o projeto Tipitamba. A equipe reali-
gião do Nordeste Paraense. Em uma propriedade de 66 zou 34 atividades, com o foco centrado na difusão e troca
hectares, dos quais18 são manejados, ele trabalha ao lado de saberes, por meio de Dias de Campo, feiras de produtos
da esposa e dos cinco filhos, no cultivo açaí, cacau, bana- orgânicos e sustentáveis, palestras e cursos, atingindo di-
na e espécies nativas arbóreas da Amazônia. retamente um público decerca de 1.400 pessoas.
Impulsionado pela vontade de entender a floresta,
mas também de experimentar e, principalmente, inovar, Puxirum Agroecológico - novos frutos e
“Seu Pedreco” virou referência em agroecologia nos Sis- muito trabalho
temas Agroflorestais (SAFs), substituindo o método de O reconhecimento desse trabalho gerou em 2014 o
derruba e queima, ainda muito comum nas propriedades embrião do Núcleo Puxirum Agroecológico, para atuar
da região, pela prática que ele garante ser 100% orgânica no fortalecimento dessa construção e intercâmbio de co-
em sem o uso do fogo. nhecimento voltado à realidade amazônica, visando pro-
Estimular e difundir em toda região, práticas como a cessos de transição agroecológica que consideram para
realizada pelo agricultor é o objetivo do Projeto Tipitamba além da dimensão técnico-produtiva, também ações que
- palavra de origem indígena que significa ex-roça ou ca- incluem os diversos aspectos social, econômico, cultural
poeira - que a Embrapa Amazônia Oriental desenvolve há e político da agricultura familiar.
cerca de uma década. Por meio das tecnologias geradas no O projeto envolve diversos atores como instituições
projeto, a Empresa propõe a substituição do método tradi- de pesquisa, universidades, gestores públicos e repre-
cional de derruba e queima, pelo sistema de corte e tritu- sentantes dos produtores por meio de associações e co-
ração da capoeira que gera o enriquecimento do solo, pois operativas e foi aprovado em 2014 mediante chamada
acumula biomassa e nutrientes, além de resgatar a susten- do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Conselho
tabilidade econômica, social e ecológica da produção. Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). As práticas da agroecologia se aderem ao am-
Partilha de saberes – uma experiência de sucesso biente da Amazônia.
O respeito ao saber tradicional e a construção cole- O conceito de agroecologia ganhou força a partir da
tiva do conhecimento, aliando a tradição à ciência é um década de 1990, quando passou a ser considerado como
dos diferenciais e receita de sucesso do projeto.O pes- ciência capaz de pensar a ecologia no planejamento e ma-
quisador Osvaldo Ryohei Kato, avalia que o aprendizado nejo de sistemas sustentáveis, com a adoção de princípios
ao longo do tempo também foi coletivo, pois a Embrapa como a redução de uso de insumos externos, o planeja-
aprendeu com os produtores familiares, trocou saberes e mento de sistemas de produção adaptados às condições
desta forma, se aproximou dos diversos atores, ganhan- locais, o resgate e a manutenção da diversidade genética,
do novas formas de fazer, além da adesão e credibilidade a otimização dos rendimentos, a valorização dos saberes
Seu Pedreco, ao centro
por parte dos agricultores e formadores que atuam com tradicionais e dos sistemas socioculturais diversos. ◆

450 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 451
EMBRAPA EMBRAPA

Partilha dos saberes


meçou em 2007, com a articulação dos primeiros agri- o intercâmbio os tem feito se reconhecer como parte
cultores interessados, a realização de diagnósticos rurais do processo e detentores de saberes, pessoas que nos
participativos rápidos, oficinas para proposição de solu- encaram de igual para igual”, revelou, destacando que
ções nos cinco eixos de desenvolvimento levantados por ações desse tipo não são caras e podem ser replicadas

agroecológicos em
eles. Os eixos estavam centrados na construção de um sem muita dificuldade em outros estados, pois envolvem
estilo de sistema de produção familiar de base ecológica; muito mais vontade de fazer e mudança de atitude.
restauração florestal; recuperação de áreas degradadas; Vandilson Silva, coordenador do programa de as-
plano de assistência técnica e extensão rural (ATER) e sistência técnica e extensão rural do Incra na Paraíba,
implantação dos princípios da economia solidária), e im- pretende replicar a abordagem para iniciar processos de

territórios sergipanos
plementação das experiências-piloto em seus lotes para transição agroecológica por lá. Ele saiu de Sergipe com
posterior partilha de resultados e impressões. as melhores impressões possíveis. “Apesar de já termos
O projeto durou até 2010, e em 2011 o Sistema de um pouco de conhecimento do processo por conta de
Gestão Embrapa aprovou na sua plataforma de agricul- nossa relação com a Superintendência daqui, a constru-
tura familiar e agroecologia o projeto ‘Construção de co- ção coletiva com base na troca de saberes e experiências
nhecimento agroecológico em territórios de identidade vista de perto nos deu provas do grande envolvimento

A
gricultores participantes do projeto ‘Constru- e resíduos reaproveitados, num círculo virtuoso próspe- rural por meio de intercâmbios em redes sociais’, que foi dos participantes”, afirmou.
ção do Conhecimento Agroecológico para os ro e sustentável, além de desenhos de pessoas mais fe- então batizado de Camponês a Camponês. Nesse mo- Grande incentivadora da iniciativa, a professora da
Territórios Rurais de Sergipe’, batizado pelos lizes e folhetos com imagens e testemunhos de muitos mento, as redes articuladas e estimuladas desde 2007 já Universidade Federal de Viçosa (UFV) e presidente da
próprios produtores de Rede Camponês a Camponês, li- participantes. Esses relatos no papel ajudam a espalhar ganhavam força e se tornavam uma nova realidade local Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Irene Car-
derado pela Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), as boas notícias a quem não pôde comparecer. Entre as (hoje são quatro redes no território Sul Sergipano, com doso, participou da roda de partilha – ela é membro do
compartilharam suas experiências em 2014 e avançaram palavras-chave entoadas como mantra por todos na roda 30 famílias cada), e aconteceram diversas visitas a lotes projeto de pesquisa - ouvindo atentamente os relatos e
em novas propostas para os próximos anos. estão “alimentação saudável”, “união” e “diversidade”. de parceiros para conhecer de perto como as coisas mu- trazendo novas perguntas e provocações. Para ela, um
Dona Maria relata com altivez uma experiência inusi- daram para melhor. ponto importante é que hoje as pessoas têm uma con-
tada. Pela primeira vez, depois de algum tempo, seu filho, O projeto As ações seguem até o primeiro semestre de 2015, fiança muito grande na metodologia. “É possível reco-
que migrou para a cidade, ultimamente tem voltado ao Idealizada na metade da década passada, a rede Cam- quando se encerra o projeto. Mas um novo está previsto, nhecer o conhecimento do agricultor, trazer esse saber
seu lote para poder enfim “comer uma comida decente”. ponês a Camponês teve suas sementes plantadas em Ser- num formato mais robusto de ações de pesquisa articu- para a roda, priorizar as ações de acordo com os desejos
Seu Ivanilson ‘Negão’, uma referência para os demais, se- gipe com base em duas grandes fontes de inspiração. A ladas em núcleos regionais – a Embrapa Tabuleiros Cos- deles e buscar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa
gue orgulhoso com sua “Roça do Futuro” lá em Estância, primeira foram as experiências positivas da metodologia teiros será ponto focal de um desse núcleos. e extensão. Quem trabalha com agroecologia tem a ne-
no Sul Sergipano, onde ele e sua família plantam espé- ‘Campesino a Campesino’, aplicada com excelentes resul- cessidade e vontade de entender o agroecossistema de
cies florestais, frutíferas, leguminosas e hortaliças. Tudo tados em países da América Central, como a Guatemala, As impressões uma forma integrada, e isso está presente neles”, conta.◆
cultivado e manejado à luz dos conceitos de ‘jardinagem segundo a qual os pequenos agricultores ensinam uns O agricultor Marinho Nascimento, que possui um
florestal’ e ‘berço ideal’, desenvolvidos pelo pesquisador aos outros como proteger o meio ambiente e ao mesmo lote no assentamento Roseli Nunes, em Estância, faz par-
Ernst Goetsch em parceria com o engenheiro agrônomo tempo garantir uma vida abastecida de produtos saudá- te da rede há dois anos. Para ele os ganhos mais impor-
e consultor baiano Henrique Souza e compartilhados em veis em seus lotes. Elas foram descritas em livro de 2006 tantes dessa integração foram o resgate do diálogo com
oficinas do projeto. por Eric Holtz-Giménez. as famílias, a divisão de trabalho em grupos e as práticas

SAULO COELHO
Para representar as ideias sobre a sustentabilidade da O segundo alicerce de conceitos veio com a políti- agroecológicas.
agricultura, os agricultores montaram um mosaico no ca de territorialização adotada pelo governo brasileiro. A agricultora Silvanira Santos, do assentamento 17
chão, com dois lados bem diferenciados. No lado “mau” Norteada pelos conhecimentos da cientista pernambu- de Abril, também em Estância, destacou o fato da inte-
do mosaico por eles montado, amostras e representações cana Tânia Bacelar, as políticas de desenvolvimento com ração em rede ter resgatado saberes que estiveram quase
do que causa medo, preocupação e tristeza a essas pesso- recorte em territórios de identidade se consolidaram no esquecidos, como técnicas de combate a pragas das hor-
as simples e determinadas – o fogo, os monocultivos de novo milênio, e tomaram forma os Territórios da Cida- taliças sem uso de veneno.
eucalipto, o lixo, os agrotóxicos e a fuga dos seus filhos dania, em concomitância com o Plano de Desenvolvi- Segundo a coordenadora do Plano Nacional de Agro-
em busca de uma vida mais “consumista” na cidade. Na mento Territorial Participativo de Sergipe. ecologia do Incra, Débora Guimarães, a “impressão mais
metade que têm como ideal, o lado “bom”, pairam viço- O projeto ‘Redes Sociais de Aprendizado para o De- marcante para mim ultrapassa até mesmo os critérios
sas fruteiras, agroflorestas sucessionais, alimentos sadios senvolvimento Agrícola do Território Sul Sergipano’ co- técnicos, pois tem a ver com a autoestima deles, como Agricultores participam ativamente da construção do conhecimento agroecológico

452 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 453
EMBRAPA EMBRAPA

Assentados adotam A
produção em sistemas agrícolas biodiversos pelos agricultores, parceiros e pelos pesquisadores da
propicia equilíbrio ambiental, rentabilidade Embrapa Joel Queiroga e Mário Urchei.
e autonomia da agricultura familiar. Na Em- Segundo Queiroga, este acompanhamento é reali-
brapa os conceitos agroecológicos estão em prática em zado sistematicamente a partir de observações e medi-

sistema agroflorestal
muitos projetos. Desde 2004 a Embrapa Meio Ambien- ções periódicas de parâmetros que permitem avaliar o
te (Jaguariúna, SP), desenvolve ações neste sentido com estabelecimento, o desenvolvimento e o estado de saúde
agricultores da região Leste do Estado de São Paulo e ou- das mudas, bem como a situação da cobertura vegetal
tros atores, organizados na Rede de Agroecologia Leste existente na área e ataque de insetos como formigas. Es-
Paulista. Um dos exemplos desta forma participativa de tas observações indicam os momentos adequados para a

no interior de SP
produção está na Unidade de Referência (UR) instalada realização das operações de manejo como irrigação, ca-
na área de produção coletiva da Associação Acoterra, pinas de coroamento (do entorno das mudas) e medidas
sistema que combina e integra a produção agroecológica de controle de ataque de formigas.
de espécies hortaliças, frutíferas, florestais, de húmus de Urchei diz que o projeto deve ser uma referência
minhoca e minhocas, ou SAF-Horta com minhocário, para futuros modelos de sistemas agroflorestais nos as-
como foi popularmente batizado no assentamento. sentamentos e propriedades rurais do País, com base na
As atividades na UR começaram a ser implantadas metodologia participativa, envolvendo todos os atores
em meados de 2013, a partir do projeto “Construção do nas tomadas de decisões. “A ideia é que o húmus de mi-

JOEL QUEIROGA
conhecimento e de tecnologias agroecológicas com os nhoca seja utilizado para recuperar o solo degradado da
agricultores familiares da região Leste do Estado de São área, ou seja, recuperar o solo tanto na sua fertilidade
Paulo”. As ações consistem em visitas técnicas às URs química como também a sua estrutura. A matéria orgâ-
com sistemas biodiversos já implantados para trocas de nica contida no húmus desempenha esse papel, de re-
experiências, dias de campo, cursos teórico-práticos e estruturar o solo melhorando sua aeração, a capacidade
oficinas de trabalho para definição do desenho do siste- de reter umidade do solo e também de liberar nutrientes
ma a ser implantado. para as plantas”.
A Unidade de Referência tem uma área de 6.400 me- A ideia é de uma maior integração do sistema, onde
tros quadrados de produção diversificada, num trabalho os restos da produção das hortaliças e das frutas alimen-
que envolve 10 famílias da Acoterra. A primeira etapa tem as minhocas e estas, por sua vez, processam esse
de implantação da UR ocorreu em fevereiro de 2014, material orgânico e produzem o húmus que vai enrique-
em uma área de 1,6 mil metros quadrados. Neste espaço cer esses canteiros que vão nutrir essas plantas, comenta
foram desenvolvidas operações de preparo para seme- Queiroga. A expectativa é que a produção de húmus seja
adura e plantio, distribuição de calcário e sementes de mais uma fonte de renda para os agricultores familiares
adubos verdes de inverno (aveia-preta e nabo-forragei- do assentamento.
ro) para melhoria da qualidade dos atributos físicos, quí-
micos e biológicos do solo. Neste espaço houve o plantio Parceria
de 114 mudas de árvores (sendo 70 de frutíferas de 12 Essa Unidade de Referência (UR), instalada na área
espécies diferentes e 44 florestais de 12 espécies diferen- de produção coletiva da Acoterra, combina e integra a
tes), delimitação e preparo de canteiros para o cultivo de produção agroecológica de hortaliças, frutíferas e flo-
hortaliças (menos exigentes em água até a implantação restais. A UR Sistema Agroecológico Hortifrúti Florestal
de sistema de abastecimento e irrigação previstos) e de com Minhocário tem como objetivo viabilizar a geração,
criação de minhocas para a produção de húmus. adaptação, validação e demonstração de sistemas agríco-
Além destas atividades, foram mantidos cuidados las biodiversos aplicáveis ao processo de transição agroe-
logo após o plantio, entre eles a manutenção da cobertu- cológica. Nesse sentido, a agroecologia é uma ciência in-
ra vegetal morta (palhada), a instalação de garrafas pet tegradora que agrega conhecimentos de outras ciências,
para o controle de ataque de formigas e a irrigação das além de saberes populares e tradicionais provenientes
mudas sempre que necessário. Desde sua implantação, das experiências de agricultores familiares, de comuni-
Monitoramento de mudas
o SAF-Horta com minhocário vem sendo monitorado dades indígenas e camponesas. ◆

454 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 455
GUSTAVO PORPINO

GUSTAVO PORPINO
EMBRAPA EMBRAPA

Aspecto geral do sistema de irrigação na fazendinha

dos Trabalhadores Sem Terra (MST), da Escola Popular O rebanho bovino leiteiro, além diversificar a ofer-
de Agroecologia Egídio Brunetto e do projeto Mais Leite. ta de produtos, fornece adubo orgânico isento de con-
Após conhecer os princípios básicos do manejo agroe- taminantes químicos para a fertilização das lavouras
Limpeza e manutenção dos canteiros numa das áreas de produção da fazendinha cológico, Miranda mostrou todo seu entusiasmo. “Uma e também para o cultivo de minhocas que geram o
das minhas grandes dúvidas era sobre a construção do húmus, que faz parte do substrato usado na produção

Técnicas sustentáveis
minhocário. Agora que já sei como fazer utilizando ma- de mudas.
teriais de baixo custo vou construir um assim que chegar Na lavoura, o manejo de pragas e doenças é preven-
em casa”, conta. tivo. Neste caso são adotados um conjunto de estraté-
Novas técnicas de cultivo têm ajudado os agriculto- gias, entre elas a diversificação de plantas, utilização de

são compartilhadas na
res a melhorar as vendas de seus produtos e também de sementes ou materiais de propagação vegetativa sadios,
proporcionar uma mesa mais rica às famílias daquela uso de espécies ou variedades adaptadas às condições lo-
área. Informações sobre rotatividade no plantio é uma cais e uso de cultivares resistentes. Além disso, os fatores
destas tecnologias que são conhecidas pelos agricultores que acarretam estresse nas plantas, como falta de água e

Fazendinha Agroecológica
que visitam a Fazendinha. O relato desta experiência é nutrientes, são constantemente avaliados.
contado pelo pesquisador da Embrapa Agrobiologia Re-
nato Linhares. “Na tragédia da Região Serrana em 2011 Educação agroecológica
vimos que muitos agricultores, além de perderem tudo, Ao longo de 20 anos, milhares de estudantes do ensi-
também ficaram sem ter o que comer, pois cultivavam no fundamental à pós-graduação passaram pela Fazen-

E
m 70 hectares mantidos pela Embrapa Agro- Além de receber agricultores, essa espécie de “labo- apenas duas ou três variedades de culturas. Porém, ao dinha em programas de estágio ou visitas. No local, fun-
biologia, Universidade Federal Rural do Rio ratório na natureza”, tem possibilitado a interação com visitarem a Fazendinha viram que é possível ter uma ciona ainda o primeiro curso de mestrado profissional
de Janeiro (UFRRJ) e Pesagro-Rio, na Baixa- os agentes de extensão rural, técnicos, pesquisadores e rotatividade de cultivo - o que beneficia não apenas a em agricultura orgânica do país, oferecido em parceria
da Fluminense, agricultores, estudantes e pesquisadores estudantes de todos os níveis em cursos, palestras, visitas comercialização, mas também a alimentação da família”, com a UFRRJ.
aprendem juntos há 20 anos como gerar ou adaptar tec- guiadas, dias de campo e reuniões. Araújo afirma que es- relata Linhares. Como resultado, há inúmeras dissertações de mes-
nologias para o desenvolvimento da agricultura orgânica. ses eventos aumentam a possibilidade de disseminação trado e teses de doutorado que possibilitam a multipli-
Este espaço é a Fazendinha Agroecológica, localizada em do conhecimento gerado. “O técnico e o agricultor saem Um pouco mais sobre a Fazendinha cação e a prática de novos conhecimentos. O melhor
Seropédica (RJ) e que, somente em 2014, recebeu a visita daqui motivados a levar essas informações para outras Na Fazendinha são cultivadas cerca de 50 espécies resultado é que a Fazendinha tornou-se um espaço de
de pelo menos mil pessoas para troca de experiências e pessoas”, complementa. vegetais. O destaque é a produção de hortaliças, mas referência. Por isso, não é raro ex-estudantes de todos os
aprendizados. “São encontros muito ricos porque permi- O produtor Amelke Miranda, de Teixeira de Freitas também são produzidos grãos, cereais e espécies forra- níveis retornarem a este “laboratório vivo” para recicla-
tem uma troca de conhecimento e retroalimentam a pes- (BA), passou três dias na Fazendinha em agosto de 2014, geiras. Tudo obedece aos princípios e normas vigentes na rem e trocarem experiências e, assim, levarem adiante as
quisa”, avalia Ednaldo Araújo, pesquisador da Embrapa. acompanhado de técnicos e agricultores do Movimento agricultura orgânica. tecnologias sustentáveis da Fazendinha. ◆

456 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 457
EMBRAPA EMBRAPA

Ciência se alia ao A
construção coletiva do conhecimento é
uma ferramenta estratégica para que a
pesquisa esteja adequada às necessidades
parando com aquela época, está muito melhor. Eu digo
100% melhor, a terra está muito fofa”, afirma o produtor.
As comunidades Água Boa 2 e Vereda Funda também

conhecimento dos agricultores da realidade local. Esta é a experiência dos pesqui-


sadores da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), que
coordenam ações participativas de pesquisa por meio
perceberam a importância de ensaios participativos de
mandioca pois foi possível ao mesmo tempo valorizar
as variedades locais e introduzir outras que atendessem

no norte de Minas
do resgate do conhecimento local de agricultores fa- às necessidades. Um dos exemplos foi a variedade IAC
miliares sobre uso e manejo dos recursos naturais em 9 que, por não ramificar e dar boa produção, permite o
transição agroecológica. plantio de outras culturas nas suas entrelinhas, como,
A experiência acontece no Território do Alto Rio por exemplo, o abacaxi.
Pardo, composto por 15 municípios do norte de Minas As ações construídas a partir de diálogos com os
Gerais, tipicamente formado por agricultores familiares, agricultores vêm sendo irradiadas para outros municí-
em sua maioria, agrupados em comunidades tradicio- pios do Território do Alto Rio Pardo através da rede sócio

ARQUIVO EMBRAPA CERRADOS


nais de “geraizeiros”. A agricultura familiar responde por técnica, em especial por meio da troca das experiências
93% dos estabelecimentos rurais e 63% do valor total da vivenciadas entre os agricultores e suas organizações.
produção, sendo o cultivo da mandioca a principal ativi-
dade desses agricultores. Fortalecimento da agricultura familiar
A partir dos diálogos entre pesquisadores e agricul- Mapeamento de unidades de paisagem da bacia do
tores surgem soluções para os problemas das comuni- Alto Rio Pardo;sistemas de policultivos com culturas pe-
dades. Foi o que aconteceu na comunidade Monte Ale- renes e adubos verdes na chapada; seleção e caracteriza-
gre, tradicional produtora de polvilho, que estava com ção participativa de matrizes de plantas nativas para uso
alta incidência de doenças na cultura da mandioca. alimentar; identificação de espécies nativas promissoras
“Os agricultores começaram a praticar a diversificação para aproveitamento de madeira; caracterização de sis-
de variedades de mandioca. E perceberam que tanto temas agrícolas/agroflorestais locais visando à melhoria
variedades locais quanto variedades da Embrapa são dos processos produtivos são algumas das ações desen-
importantes para o sistema de produção. Verificaram volvidas pelo Projeto Rio Pardo nesta área de transição
ainda que diversificar culturas também poderia ser entre o Cerrado e a Caatinga.
uma alternativa”, explica o pesquisador João Roberto As atividades desenvolvidas no Projeto Rio Pardo
Correia. forneceram subsídios importantes para o processo de
O agricultor Iris Dias, implantou, em 2011, uma área criação de duas instituições que há mais de uma década
de transição agroecológica utilizando policultivo em fai- as comunidades vinham lutando para criar: O Projeto de
xas, ou seja, alternando culturas anuais e adubos verdes Assentamento Agroextrativista (PAE) Veredas Vivas e a
com mandioca, em rotação.O resultado, após o segundo Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes dos
ciclo de mandioca, foi a melhoria do solo. “Antes a terra Gerais. O PAE Veredas Vivas foi criado em 2013, sendo
era muito compactada. A gente plantava e não conseguia o primeiro dessa natureza em Minas Gerais, e a Reserva
Rio Pardo – cultivo variado
nem arrancar as raízes da mandioca. A terra hoje, com- Nascentes dos Gerais criada em 2014. ◆

458 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 459
EMBRAPA EMBRAPA

Programa busca
expandir mercado para M
elhorar o padrão da qualidade da uva e a
tecnologia para elaboração de sucos e vi-
nhos de pequenos empreendimentos em
Segundo José Fernando da Silva Protas, pesquisador
da Embrapa Uva e Vinho e um dos idealizadores do pro-
jeto, sua implementação é fundamental para a sustenta-

vitivinicultura de
tradicionais regiões produtoras através de um programa bilidade da vitivinicultura em pequenas propriedades. “A
de assistência técnica, disponibilizar linhas de crédito produção desse segmento sempre teve o seu espaço garan-
adequadas às condições e a realidade dos produtores e tido, pois era toda comercializada. Mas, com o Mercosul e
estabelecer contratualmente obrigações e direitos de a globalização da economia, houve um aumento da oferta
uma relação comercial de compra e venda de uvas de de vinhos importados com preço e qualidade competiti-

polos tradicionais
qualidade superior entre vinícolas e viticultores são os vos. Dessa forma, a situação mudou”, aponta Protas. “Se
principais pilares do Programa de Modernização da Viti- essa vitivinicultura tradicional não elevar a média do grau
vinicultura (Modervitis). Brix (açúcar da uva) e melhorar as técnicas de vinificação
A apresentação do Modervitis a produtores, repre- não terão mais mercado para sua produção”, conclui.
sentantes da indústria e demais segmentos da cadeia
produtiva, aconteceu no mês de setembro de 2014. Como irá funcionar o Modervitis
O Programa tem como meta inicial atender 1.250 O programa é destinado a pequenos produtores de
pequenos viticultores e vinicultores nos estados do regiões vitivinícolas tradicionais, como a Serra Gaúcha
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, visando (RS), regiões do Rio do Peixe e Urussanga (SC) e Oeste

VIVIANE ZANELLA
qualificar a produção e estimular a permanência dos do Paraná. A adesão ao Modervitis será voluntária e irá
jovens sucessores no campo, com o novo cenário que acontecer a partir da criação de núcleos entre empresas
será construído. vitivinícolas e vinicultores. “Os viticultores se comprome-
O Programa Modervitis foi concebido no âmbito tem a melhorar a qualidade da uva e a entregá-la às vi-
do Programa de Desenvolvimento Estratégico da Viti- nícolas a que estarão vinculados, que, além de seguirem
vinicultura - Visão 2025, realizado em 2006 e 2007, e novas orientações tecnológicas para elaboração do vinho
proposto pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e suco, já irão trabalhar com matéria-prima de qualidade
e pela Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS). superior. Com certeza o consumidor terá acesso a um pro-
Desde então, buscam-se meios para auxiliar na sua duto final de qualidade superior. Todos saem ganhando”,
execução. A solução apareceu com a sua integração ao finaliza Protas.
Plano Brasil Maior, que tem como premissa traçar di- A adesão ao Programa ocorre com a assinatura de um
retrizes para uma nova política industrial, tecnológica contrato entre vinícolas e viticultores, com a anuência e
e de comércio exterior, com o fortalecimento da com- acompanhamento da coordenação do Modervitis, do
petitividade das cadeias produtivas brasileiras, dentre Comitê Gestor de cada estado, dos Sindicatos dos Traba-
elas, a vitivinícola. lhadores Rurais e do Ibravin.
A coordenação do Modervitis é da Secretaria de Ino- A Embrapa será responsável por desenvolver as Boas
vação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Práticas adequadas à realidade de cada região trabalhada
Comércio Exterior (MDIC), e a Secretaria Executiva do e fazer treinamentos para capacitar os técnicos que irão
programa está a cargo da Embrapa Uva e Vinho. Tam- repassar as orientações aos produtores que aderirem ao
bém integram o programa os representantes dos Minis- Modervitis. Os técnicos serão contratados por meio das
térios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Agricul- empresas que participarem e vencerem a concorrência
tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o apoio de no âmbito da Chamada Pública, que será lançada pelo
Modervitis pretende modernizar a vitivinicultura em pequenas propriedades
diversas outras instituições federais. MDA para tal fim. ◆

460 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 461
EMBRAPA EMBRAPA

Do campus ao campo:
pesquisadores para a
agricultura familiar A
viabilidade da agricultura familiar depende
muito da geração do conhecimento sobre a
realidade enfrentada pelo segmento e neste
sentido o saber universitário e da pesquisa agropecuária,
junto com a experiência das comunidades locais, são de-
Para o agricultor Edilson Nunes, essa transição co-
meçou há três anos, quando voltou a viver no campo
com pretensões de criar gado depois de alguns anos
morando na cidade. O terreno acidentado e tamanho
pequeno da propriedade, no entanto, logo lhe deixaram
cisivos. No estado do Pará a aliança entre a universidade claro que a pecuária seria inviável. Partiu então para o
e a pesquisa acontece de forma bastante natural há 15 plantio de sistemas agroflorestais depois de uma via-
anos, em harmonia com os agricultores familiares da- gem de intercâmbio a Tomé-Açu. “Quando vi aqueles

VINÍCIUS BRAGA
quela região do País. Os resultados obtidos até agora são plantios, me apaixonei e vi que era isso que tinha de
animadores e servem de exemplo. fazer”, recorda.
O agricultor Edilson de Oliveira Nunes não escondia a O curso de mestrado tem por objetivo a produção de
satisfação de apresentar sua propriedade aos estudantes. conhecimentos capazes de subsidiar professores, pesqui-
“Quando cheguei aqui, meu sonho era transformar este lote sadores e profissionais que atuam no meio rural. Essas
numa sala de aula. E hoje, de certa forma, isso já é realidade”, informações podem ajudar na orientação de políticas
refletia o agricultor, referindo-se aos seus 17 hectares de ter- públicas para o campo e em ações de pesquisa e desen-
ra, localizados na zona rural do município de Irituia. volvimento voltadas para a agricultura familiar. Até o
“Então agora a aula é sua, professor”, disse a Nunes presente, já foram produzidos 118 dissertações.
o pesquisador da Embrapa Osvaldo Kato, indicando que Em Irituia, o roteiro de visitas conta com o apoio do
Nunes começasse a mostrar seus plantios e experimenta- geógrafo José Romano, formando em 2006 pelo mesmo
ções aos alunos do mestrado em Agriculturas Familiares curso de mestrado e hoje professor da Universidade Fede-
e Desenvolvimento Sustentável, promovido pela parceria ral Rural do Pará, em Capitão Poço. Ele conta que no início
da Universidade Federal do Pará com a Embrapa Ama- havia dificuldade em montar um roteiro que apresentasse
zônia Oriental. boas experiências no município. “Mas hoje isso é diferente
Em 2014, a décima quinta turma desse curso per- e a cada ano temos novos exemplos de pequenos agricul-
correu os municípios de São Domingos do Capim, Iga- tores bem sucedidos para apresentar”, afirma.
rapé-Açu, Irituia e Tomé-Açu, no Pará. A viagem ocor- Mudanças positivas também foram referidas pelo
re a cada ano e marca o encerramento da disciplina de estudante da turma de 2014, Cezário Júnior. Durante as
Agroecologia e Sistemas Agroflorestais. “É uma forma de visitas, ele percebeu diferenças em relação à época em
eles refletirem e estabelecerem relações entre o que foi que passou a atuar como agrônomo, em 2008. “Vejo que
estudado ao longo do semestre e as diferentes experiên- hoje, diferente de há uns anos, os agricultores estão mais
cias na transição para uma agricultura mais sustentável”, atentos às questões ambientais, como o cuidado com
Turma de 2014 do mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável explica Osvaldo Kato, um dos professores da disciplina. solo”, afirma. ◆

462 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 463
EMBRAPA EMBRAPA

Queijo coalho de qualidade


oferece alternativa rentável
para agricultores
A
s tecnologias de fabricação do queijo coalho ministrado um curso de Plano de Negócios, com foco De autoria de João Bosco Cavalcante Araújo, José
no Nordeste empregam uma parcela consi- na melhoria da administração financeira da unidade fa- Carlos Machado Pimentel, Francisco Fábio de Assis
LETO SARAIVA

derável de pequenos produtores estabeleci- miliar, e desenvolvidos dois kits, sendo um para uso no Paiva, da Embrapa, e Benemária Araújo (Universidade
dos na zona rural. Porém, por suas características de curral visando a limpeza das tetas para ordenha e outro Estadual do Ceará), a publicação é fruto de projeto en-
processamento, os queijos produzidos em pequenas para a fabricação de queijo de coalho. volvendo as seguintes instituições parceiras: Embrapa
fábricas ou de forma artesanal geralmente apresentam Os pequenos produtores atendidos pelo projeto pas- Agroindústria Tropical, Embrapa Meio Norte (Teresina,
características diferenciadas e podem apresentar níveis sam a ter acesso a informações sobre melhoria da produ- PI), Universidade Estadual do Ceará, Banco do Nordeste,
de contaminação microbiológica fora dos limites acei- ção, processamento e comercialização de queijo de coa- Emater Piauí, Emater-RN, Instituto Federal de Ciência e
táveis. Com isso, o produto final pode ter uma redução lho. A adoção das medidas tem gerado, em média, um Tecnologia - Campus Currais Novos (RN) e associações
em sua vida útil, além de representar um risco à saúde incremento de 30% a 40% no valor obtido com o queijo. de produtores familiares.
do consumidor. Helenira Ellery, pesquisadora da Embrapa Agroindústria De acordo com os autores, a produção de queijo co-
Com o objetivo de avaliar os pontos críticos na Tropical, afirma que as famílias que adotam essas tec- alho artesanal na região Nordeste tem grande impor-
produção e no processamento do leite bovino na re- nologias, além do lucro, estão tendo como resultado a tância social e econômica, tanto por ser exercida em
gião, além de implantar rotinas de boas práticas em melhoria na qualidade de vida. sua maior parte por mulheres, como também por ser
todo o processo produtivo, a Embrapa Agroindústria Em 2014 sete cursos foram realizados para 125 pes- uma das principais atividades na cadeia produtiva do
Tropical (Fortaleza, CE), em parceria com o Banco soas nos municípios de Dr. Severiano (RN), Pau dos Fer- setor leiteiro, dentro do segmento da agricultura fami-
do Nordeste, conduziram um projeto de melhoria da ros(RN) e Riacho da Cruz (RN). O projeto-piloto abran- liar. Em vários locais dessa região, essa atividade apre-
produção, processamento e comercialização do queijo geu os municípios de Tauá (CE), Currais Novos (RN) e senta-se como a única possibilidade para os produtores
coalho artesanal. Luís Correia (PI). familiares de leite. Ressalta-se ainda que para a obten-
Dessa iniciativa resultou tecnologia que, em 2013, foi ção dos benefícios da atividade, a agroindustrialização
certificada pela Fundação Banco do Brasil como “tecno- Publicação exige o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação.
logia social”. A tecnologia consiste na melhoria do pro- A experiência foi consolidada na publicação “Pro- Entre os tópicos abordados na publicação estão hi-
cesso de produção de queijo de coalho, por meio da rea- dução Artesanal de Queijo Coalho, Ricota e Bebida gienização, recepção do leite, processamento, armazena-
lização de cursos de Boas Práticas Agrícolas (BPA), com Láctea em Agricultura Familiar - Noções de Boas Prá- mento, transporte, equipamentos necessários para a pro-
foco na ordenha higiênica, e de Boas Práticas de Fabrica- ticas de Fabricação”, lançada com o objetivo de forne- dução artesanal de queijo, problemas com o queijo coalho
ção (BPF), na melhoria do processo de produção através cer orientação técnica aos agricultores familiares, ten- e suas possíveis causas, produção de ricota, bebida láctea,
de práticas higiênicas. do em vista a obtenção de um produto padronizado e entre outros. Os interessados podem acessar a publicação
A transferência da tecnologia ocorre por meio de com qualidade. no Portal da Embrapa – www.embrapa.br. ◆
capacitações técnicas, oportunidade em que também é
Fabricação de queijo coalho de qualidade exige boas práticas

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EMBRAPA EMBRAPA

Sustentabilidade dos
vinhos artesanais une
modernidade e tradição
A
elaboração de vinho na pequena proprieda- lizados, em geral, diretamente nas propriedades ou em produtores estão recebendo orientações técnicas que vão ‘BRS Margot’ e a ‘BRS Lorena’, agregam alta produtivida-
de, os denominados vinhos coloniais ou arte- feiras. Eles têm uma característica de elaboração asso- desde o manejo do vinhedo até a elaboração do vinho. de e alta qualidade da uva. Outro bom exemplo é a culti-
sanais, é uma tradição que passa de geração ciada a um saber fazer local, muito atrelado à tradição, Segundo Nei Tomasi, pequeno vitivinicultor de Ben- var ‘BRS Carmem’, muito procurada por apresentar uma
em geração desde a chegada dos imigrantes italianos. cultura e hábitos locais. Por isso, são produtos muito to Gonçalves, “o vinho colonial havia perdido o crédito, alta produtividade, coloração violácea intensa e com teor
Inicialmente eram elaborados para o consumo próprio, procurados pelo consumidor, especialmente nas regiões mas graças ao apoio de entidades e o programa para de açúcar em torno de 19ºBrix”, destaca.
mas a procura fez com que passassem a ser comercia- tradicionais, como a Serra Gaúcha (RS). qualificação do vinho na pequena propriedade, ele está Para divulgar a qualificação do vinho colonial na Serra
Por seu vínculo cultural e por sua tipicidade, os vi- sendo resgatado e voltando à mesa das famílias com um Gaúcha obtida com o programa, foi realizado em 2014 o
nhos coloniais são muito apreciados em diversas regiões. preço acessível e uma qualidade diferenciada”, avalia. Festival Nacional do Vinho Colonial, em diversas comuni-
No país inteiro, cerca de 4.000 famílias elaboram vinhos De acordo com Alexandre Hoffmann, da Embra- dades no interior de Bento Gonçalves. Segundo o técnico
VIVIANE ZANELLA

coloniais (IBGE - Censo Agropecuário, 2006). Estima-se, pa Uva e Vinho, além do repasse de tecnologias para da Emater-RS Thompsson Didoné, o principal objetivo do
contudo, que este número seja muito maior. O que se qualificar o vinho colonial, a instituição, através do seu evento foi divulgar e preservar a identidade e a maneira
nota é que vem aumentando esta quantidade, tanto pela programa de melhoramento genético da videira, lançou tradicional da elaboração de vinhos, preservando a histó-
procura pelo consumidor e pelo vínculo com a identi- diversas cultivares de uvas para elaboração de vinho na ria, cultura e o saber local, mas apresentando o produto,
dade da agricultura familiar como também por ser um propriedade familiar. “As cultivares da Embrapa, como a elaborado segundo as mais novas tecnologias. ◆
importante fator de renda e sustentabilidade destes agri-
cultores. A importância dos vinhos coloniais é maior em
regiões tradicionais - Serra Gaúcha, regiões de imigração
italiana e alemã de SC, PR, MG, ES e SP, entre outras,

REPRODUÇÃOPG
mas sua importância tem crescido muito em regiões tais
como o Centro-Oeste, o Sudeste e o Nordeste.
No entanto, com a grande qualificação da vitivinicultu-
ra brasileira nos últimos anos, os vinhos coloniais estavam
perdendo espaço, pois continuavam a utilizar as técnicas
trazidas pelos seus antepassados, sem se apropriarem das
novas tecnologias capazes de garantir a qualidade do pro-
duto, mas mantendo a sua tipicidade artesanal.
Visando auxiliar e garantir a sustentabilidade da pro-
dução artesanal com qualidade, foi realizada uma força
tarefa entre instituições a Embrapa Uva e Vinho (Bento
Gonçalves, RS), a Empresa de Assistência Técnica e Exten-
são Rural (Emater) e o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibra-
Nei Tomasi mostra entusiasmo com resgate da valorização do vinho colonial
vin), para a qualificação do vinho colonial. Desde 2011 os Festival busca preservar a identidade e a elaboração tradicional de vinhos na Serra Gaúcha

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EMBRAPA EMBRAPA

são promotoras de diálogos entre os participantes, pro- O Plano de Inovação já apresenta resultados efeti-
piciando o levantamento de demandas e ofertas para a vos. Em 2014 foram realizadas Oficinas de Concertação

JULIANA FREIRE
pesquisa e formação de agentes de Ater e agricultores. em nove estados, que contaram com 500 participantes e
Com isso, as Oficinas de Concertação buscam fomentar nove Grupos Gestores Estaduais do Plano de Inovação
a integração institucional e criação de redes de inovação estão em fase final de articulação com as respectivas
e formação com a agricultura familiar. Agendas de Trabalho.
Das Oficinas de Concertação resulta o estabelecimen- Como parte integrante das Agendas de Trabalho fo-
to dos Grupos Gestores Estaduais e respectivas Agendas ram envolvidas 794 pessoas nas 14 oficinas temáticas
de Trabalho para a inovação na agricultura familiar na promovidas com foco em agroecologia, babaçu, caprino-
esfera estadual, onde são formalizados os compromissos cultura de leite, comunicação, diversificação da produ-
dos participantes do evento na execução das Agendas. ção e leite. As oficinas temáticas foram realizadas em oito
Fazem parte das Agendas de Trabalho as Oficinas Te- estados (Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas
máticas (eventos temáticos), onde os temas são tratados Gerais, Pará, Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina) e
com maior profundidade, seja com enfoque estadual, no Distrito Federal.
regional, territorial, biomas ou cadeias produtivas. Nos Para 2015, já consta na Agenda de Trabalho a rea-
eventos temáticos, os gargalos são identificados e, como lização de 18 Oficinas de Concertação, 32 Oficinas Te-
parte da busca em eliminá-los ou minimizá-los, conhe- máticas, um seminário sobre a inovação na agricultura
cimentos e tecnologias são sistematizados para esse fim. familiar, entre outros compromissos assumidos pelas
O esquema a seguir ilustra os produtos pretendidos instituições parceiras.
e que já vêm sendo alcançados no âmbito do Plano de A experiência de Palmas (TO) exemplifica a dinâmi-
Inovação e Sustentabilidade na Agricultura Familiar. ca de trabalho ocorrida nos demais estados. ◆
Oficina de Concertação em Palmas promete dinamizar a agricultura familiar no estado

Plano de inovação promove


gestão participativa e
dinamiza agricultura familiar
C
onstruir e compartilhar conhecimentos e tec- ral (Anater). A estratégia de ação do Plano se dá por meio
nologias com a agricultura familiar é o principal da criação de espaços de gestão compartilhada, tanto
objetivo de um dos eixos do Plano de Inovação no âmbito nacional quanto estaduais (Grupos Gestores
e Sustentabilidade na Agricultura Familiar, coordenado Nacional e Estaduais), com o intuito de facilitar os pro-
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com cessos de identificação e atendimento das demandas dos
parceria da Embrapa.A parceria institucional está baseada agricultores familiares, além da capacitação dos agentes
em três pilares metodológicos: Oficinas de Concertação, de assistência técnica e extensão rural (Ater).
Oficinas/Eventos Temáticos e Cursos de Formação. Nos estados são organizadas, pelos atores locais, as
O Plano de Inovação e Sustentabilidade na Agricul- Oficinas de Concertação, oportunidade em que se re-
tura Familiar tem como base, entre outras, a criação da únem representantes dos agricultores familiares e de
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Ru- instituições de ensino, pesquisa e extensão. As Oficinas Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA

468 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 469
EMBRAPA EMBRAPA

Agricultura familiar do Tocantins tem agenda voltada para inovação


“Acredito que agora as coisas de fato vão acontecer no Tocantins. É um salto para a nossa qualidade de
vida e a esperança de que mudanças vão acontecer pra gente”. A declaração é de João Aroldo Gomes,
presidente da Federação dos Pescadores do Tocantins, que participouda Oficina de Concertação, ocorrida
em dezembro de 2014 em Palmas (TO), com o objetivo de discutir uma agenda voltada para a inovação da
agricultura familiar do estado.

Gomes participou do evento como um dos representantes da agricultura familiar, juntamente com represen-
tantes de instituições que atuam na assistência técnica e extensão rural (Ater), no ensino, pesquisa e fomento
e órgãos governamentais do Tocantins. “O que fizemos aqui foi chegar num consenso entre a área da pesqui-
sa, assistência técnica e setor produtivo para atender as demandas dos agricultores familiares. Afinal, são eles

Instituições se articulam pela


os grandes responsáveis pela produção de alimentos”, disse o delegado federal do Desenvolvimento Agrário
no Tocantins/MDA, Agostinho de Oliveira Chaves.

Para o representante da assistência técnica e extensão rural, o assessor de Planejamento, Orçamento e Cap-
tação de Recursos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), Adeneux Rosa Santana,
a reunião foi de extrema importância. “Nesse momento a agricultura familiar clama por produtividade,
aumento da produção e este evento e a agenda firmada aqui já estão proporcionando isso. Foi uma grande
oportunidade de congregar várias instituições no sentido de incluir inovações tecnológicas nesse segmento
solução dos problemas da
agricultura familiar em Goiás
da agricultura”, ressaltou.

Os trabalhos resultaram na criação de um fórum permanente de inovação em agricultura familiar, um co-


mitê gestor estadual do programa de inovação, que prevê a realização de oficinas temáticas com abordagem
agroecológica em todo estado até junho de 2015.

C
“O objetivo foi cumprido e agora é partirmos para as ações práticas para que de fato possamos dinamizar
o processo produtivo da agricultura familiar”, afirmou Alexandre Freitas, da Embrapa Pesca e Aquicultura onhecer as alternativas tecnológicas à disposi- possibilidades de inserção no mercado por meio de pro-
(Palmas, TO). ção para solucionar os problemas enfrentados gramas de governos, valendo citar como exemplos o Pro-
na propriedade, saber onde buscar serviços grama de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa
de assistência técnica e extensão rural (Ater), mapear as Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), entre outras
iniciativas, mostram a complexidade exigida na hora de
atender às demandas dos agricultores de base familiar.
Foi justamente pensando nessa complexidade que a
equipe da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goi-

SEBASTIÃO ARAÚJO
ás, GO) convidou instituições de Goiás para participarem
de um fórum permanente de discussão que reúne repre-
sentantes de organizações da sociedade civil e do poder
público como condição primeira na busca de soluções
para superar os entraves enfrentados pelas organizações
que trabalham pela melhoria de vida do produtor rural
familiar. A partir de abordagem interativa de participação
e de articulações interinstitucionais, este grupo vem cons-
truindo uma forma diferente de atuação sinérgica.
Esta articulação interinstitucional tem gerado para as
organizações melhor compreensão do cenário e desafios
em que se encontra a agricultura familiar no estado. Atu-
Movimento Pensar +1 promove articulação institucional para solução dos problemas da agricultura almente esta articulação reúne 25 instituições, públicas e
familiar em Goiás

470 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 471
EMBRAPA EMBRAPA

privadas, com vínculos locais, territoriais, estadual e na- entender que a gente vive numa realidade onde as pes-
cional empreendendo esforços convergentes para apon- soas e as instituições ficam muito no individualismo; e
tar desafios e oportunidades que gerem o crescimento e quando estas pessoas e organizações passam a se unir
o equilíbrio ambiental, econômico e social dos agriculto- em favor da agricultura familiar esta relação fica mais
res. Esta ação tem sido chamada de “Movimento Pensar equilibrada: que este processo de construção coletiva não
+ 1”, cuja expectativa é propor o “fazer diferente, para vise apenas uma ou outra instituição, mas que esteja vol-

Capacitação melhora
fazer melhor” de modo a gerar mudanças significativas tado em prol do fortalecimento da agricultura familiar
a partir da integração institucional da sociedade civil e em Goiás e seus produtores rurais para que eles também
do poder público. possam ser protagonistas desta realidade em que estão
Os encontros iniciais, realizados no final de 2014, inseridos”, falou o representante da CPT.
tiveram como base o estímulo à memória, destacando Entre os pontos convergentes em plenária apresen-

bovinocultura leiteira
a importância das instituições federais, estaduais e da tados pelos participantes, foram definidos 12 temas
sociedade civil organizada, tendo como resultado a pro- apontados como desafios para o desenvolvimento da
dução da matriz de pontos comuns entre as instituições. agricultura familiar: comunicação, assistência técnica
A capacidade de pensar o presente e o futuro para a e extensão rural (Ater), sistemas produtivos, educação,

no Tocantins
agricultura familiar em Goiás, além da reflexão sobre as acesso à terra, políticas públicas, organização, infraes-
convergências identificadas na matriz, foram temas de trutura, comercialização, questão sanitária, entrave ide-
discussão, dos quais foram definidos alguns direciona- ológico (urbano x rural) e esvaziamento do meio rural
mentos interinstitucionais. (sucessão rural).
Em março de 2015, um novo encontro entre as orga- “É neste contexto que esperamos chegar à superação

N
nizações teve como foco os desafios e oportunidades. Os de alguns dos desafios históricos na área da produção, co- o estado do Tocantins, um projeto conduzi- Ainda segundo Janaína, “o produtor Marcos Antônio
representantes foram divididos em quatro grupos inte- mercialização, assistência técnica, formação permanente do pela Embrapa busca acionar metodolo- Alves está feliz com os resultados apresentados até agora,
rinstitucionais, e cada participante enquanto indivíduo/ e continuada, acesso à água, terra, tecnologias, serviços gias de transferência de tecnologia para me- pois algo que ele buscava há muito tempo era melhorar a
instituição apresentou sua visão de desafios e oportuni- básicos e infraestrutura, tudo isso com responsabilidade lhorar as condições da bacia leiteira da região. O projeto produtividade da propriedade. Ele ainda está um pouco
dades para a agricultura familiar no Estado. Posterior- e sustentabilidade socioambiental. Para mim, o Pensar + trabalha os temas estratégicos junto a técnicos e exten- receoso somente por causa da questão de mercado, pois
mente, estes desafios e oportunidades foram discutidos 1 é uma forma de atuação e parceria; estamos no cami- sionistas rurais de diferentes regiões do estado. na região o mercado de leite é limitado”.
e considerados coletivamente, resultando na construção nho certo, construindo pontes e diminuindo distâncias O coordenador é o zootecnista Pedro Henrique Re-
participativa do Movimento Pensar + 1 para o desenvol- entre as instituições goianas, com foco na promoção da zende de Alcântara, que trabalha com transferência de “Experiência enriquecedora”
vimento da agricultura familiar. agricultura familiar”, destacou Júnior Almeida, diretor tecnologia na Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO). Sobre a iniciativa da Embrapa de capacitar técnicos e
Francisca de Souza Estácio é uma das participantes da empresa de Ater Agricultura Familiar BR e colabo- Segundo ele, “de modo geral, temos tido um bom envol- extensionistas rurais, Janaína considera que “está sendo
desta construção coletiva. Ela faz parte da diretoria do rador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura vimento dos participantes. O público tem sido em média uma experiência enriquecedora. Uma oportunidade úni-
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Familiar de Goiás (Fetraf-GO). de 30 técnicos, principalmente do Instituto de Desenvolvi- ca de colocar em prática essas tecnologias, simultanea-
e mora no Assentamento Canudos, localizado entre os Assim, a partir desta perspectiva da construção cole- mento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins)”. mente com o aprendizado teórico. O papel da Embrapa é
municípios de Campestre de Goiás, Guapó e Palmeiras tiva, os resultados e desafios identificados pelos grupos Janaína Centrone, uma das participantes da capacitação fundamental para a transferência de tecnologia e o inter-
de Goiás. De acordo com a integrante do MST, a iniciati- e as respectivas alternativas de superação de entraves continuada oferecida dentro do projeto, é extensionista do câmbio de conhecimentos entre a pesquisa, a assistência
va tem gerado boas expectativas: “Considero muito im- poderão nortear de forma mais satisfatória o desen- Ruraltins em Aliança do Tocantins, município que fica na técnica e os produtores rurais”.
portante esta mobilização, por reunir diversas institui- volvimento local, permitindo que as instituições e os região Central do estado. Ela é responsável por uma Unida- Na transferência de tecnologias, a Embrapa tem uti-
ções que se propõem a discutir as dificuldades e formas produtores familiares sejam, realmente, os atores que de de Referência Tecnológica (URT) instalada na Fazenda lizado a metodologia da capacitação continuada, que
de atuação no campo. Mas, de uma maneira geral, o que efetivamente contribuem para este desenvolvimento e Ihumas. “Desde novembro de 2013, quando iniciamos o engloba uma série de módulos temáticos realizados
eu espero é que estas organizações possam colocar em que, através destas iniciativas, as instituições possam se acompanhamento da propriedade, implantamos o sistema periodicamente. É uma maneira de intercalar teoria
prática os desafios propostos”. conhecer, criar espaço e credibilidade frente aos agricul- de pastejo intensivo rotacionado em piquetes de mombaça, e prática, já que os participantes têm a oportunidade
Já Aguinel Fonseca, da Comissão Pastoral da Terra tores familiares, fortalecendo as relações de confiança, estamos fazendo o acompanhamento zootécnico da proprie- de implantar e acompanhar as chamadas Unidades de
(CPT), considera que as instituições estão passando por reciprocidade e possibilidade de surgimento de novos dade e o planejamento forrageiro e melhoramos o manejo Referência Tecnológica em áreas produtoras. Nessas
grandes transformações na atualidade e muitas delas arranjos institucionais em prol da agricultura familiar alimentar da propriedade. Tudo isso de acordo com as tec- unidades, são demonstradas tecnologias e melhorias
afetam significativamente a vida das pessoas. “É preciso em Goiás. ◆ nologias que são apresentadas durante os módulos”, conta. possíveis para a região. ◆

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EMBRAPA EMBRAPA

Adoção de tecnologias por pequenos em uma unidade demonstrativa implantada em parceria


com o produtor Rubens Rocha ações para garantir ofer-
ta de alimento de qualidade ao rebanho, trabalhando na
que acredito, recomendo e incentivo meus vizinhos a fa-
zerem o mesmo. O caminho é a tecnologia”, comenta.
É importante destacar a recomendação da Embrapa

produtores melhora produção leiteira renovação das pastagens e adotando o capim Mombaça,
de alto valor nutritivo.Apenas nove meses após a intro-
dução das tecnologias, a área necessária para manter as
quanto à gestão da propriedade. Os produtores são orien-
tados a anotar informações importantes para tomada de
decisão e acompanhamento da propriedade, como a pro-
vacas em lactação foi reduzida 13 vezes. Antes, Rocha dução individual de leite, uma vez por mês. Esse controle

R
ondônia possui cerca de 12 milhões de cabe- nios com os municípios e inseridos em ações dos proje- utilizava 40 hectares para 17 animais. Agora, são 25 va- permite identificar as vacas mais produtivas e com menor
ças de gado, com forte presença da pecuária tos Arco Verde e TecLeite, da Embrapa. cas em 4,5 hectares de Mombaça adubado. A produção intervalo entre partos, direcionando o descarte de animais
leiteira familiar, sendo o maior produtor de Em Machadinho, a atuação da Embrapa Rondônia também aumentou de 70 litros/dia para 130 litros/dia. menos produtivos, gerando renda para intensificação da
leite da região Norte, com cerca de 50% de toda produ- teve início em 2011 em assentamentos do município. De Este resultado proporcionou maior renda, pois, ape- produção e reduzindo a pressão sobre a floresta.
ção regional, ficando em 8º lugar no ranking nacional de lá para cá, muitos produtores adotaram as tecnologias sar de agregar produtividade, não aumentou o custo de “É uma mudança de visão do produtor, o que é o mais
estados produtores. Mas a baixa produtividade por ani- recomendadas, com bons resultados. “Houve um au- produção. “Antes usava metade da minha propriedade importante. É a conscientização de que existem tecnolo-
mal (entre três e quatro litros de leite por vaca ao dia) mento de 34% no volume captado de 1.200 produtores com vaca leiteira e não via sobrar capim. Hoje elas não gias acessíveis a todos, e de que é possível produzir mais
ainda é um desafio a ser superado. Neste cenário, a Em- num dos laticínios da região, alcançando cinco milhões comem os dois alqueires que fiz com o funcionamento em uma área menor e melhorar a renda. Isso impulsio-
brapa Rondônia (Porto Velho, RO) tem contribuído com de litros. Outros produtores se destacaram em concursos dos piquetes. Além disso, minha pastagem era fraca, en- na a agricultura familiar, tornando-a mais competitiva
a transição de um modelo de produção predatória para leiteiros com até 36 kg de leite/vaca/dia, e também houve tão eu reformei, adubei e aumentei o número de animais e sustentável”, explica o médico veterinário da Embrapa
um novo modelo sustentável, que possibilite ao produ- aumento da renda em propriedades utilizadas como uni- por área,e ainda está sobrando pasto. Então posso dizer Rondônia Rhuan Lima. ◆
tor, sobretudo o familiar, produzir mais, com menor cus- dades demonstrativas, o que permitiu a instalação de luz
to e em menor área. elétrica (custo R$ 12.000/propriedade) e resfriadores de
Para isso, estão sendo realizados trabalhos com pro- leite, além de se tornarem modelos para os assentamen-

RENATA SILVA
dutores e técnicos para a adoção de tecnologias simples, tos da região, outras cidades e Estados”, destaca a zootec-
que podem aumentar a produtividade leiteira na Ama- nista da Embrapa Rondônia Elisa Osmari.
zônia. As práticas utilizadas são o kit Embrapa de orde- O produtor de leite Erissandro Soares, do assenta-
nha manual, manejo e subdivisão em sistema rotativo mento Maria Mendes, em Machadinho, conta que tem
de capim Mombaça para gado de leite, recuperação de obtido resultados significativos, desde que começou a
pastagem de braquiária, suplementação pelo uso de cana adotar as tecnologias da Embrapa, em 2011. Ele tinha
combinada com ureia, gestão do rebanho leiteiro, dentre uma área de 40 hectares para a produção leiteira e re-
outras. Resultados positivos já estão sendo observados duziu para 2,5 hectares, aumentando a média diária de
em propriedades assistidas em Machadinho d’Oeste e produção. “O que fiz foi manejo e seguir as orientações.
Porto Velho, por meio de ações desenvolvidas em convê- Não é difícil, é só acreditar e querer fazer, porque o re-
sultado vem”, diz Erissandro. Atualmente, ele ampliou a
pastagem das vacas para sete hectares.
Em 2011 o produtor tirava 150 litros de 40 vacas, hoje
RAFAEL ROCHA

tira 200 litros de 22 vacas. Uma prática que o produtor


adotou foi a de realizar duas ordenhas ao dia, obtendo
aumento de 30% na produção. “O que rende a mais na
minha produção paga os custos e ainda sobra pra gente.
Até porque, quando eu reduzi a área, não precisei mais
contratar mão de obra, a própria família consegue cui-
dar. Então,não vale a pena comprar mais área para des-
matar e produzir, o caminho é recuperar a que já temos
e produzir, porque os lucros vêm, com certeza”, conclui
o produtor.
Em Porto Velho, no distrito de Rio Pardo, mesmo
Vaca leiteira com inúmeras limitações de estrutura, tiveram início Pesquisador da Embrapa apresenta tecnologias aos produtores

474 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 475
EMBRAPA EMBRAPA

A Rede Leite no noroeste O


noroeste do Rio Grande do Sul é o maior pro- Ao longo desses vários anos de interação entre agri-
dutor de leite do estado, contabilizando mais cultores, extensionistas e pesquisadores, principalmente
de 65% da produção. A maior parte do leite nas UOs, foi possível conhecer melhor os principais li-
gerado provém de agricultores familiares, que tem o leite mitantes e as dificuldades enfrentadas no cotidiano da

gaúcho: em busca da
como principal fonte de renda. Para dar suporte a esta produção de leite e da gestão da propriedade. De acordo
importante atividade, o programa Rede Leite, desenvol- com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Gustavo
vido em parceria por diversas instituições, dentre elas a Martins da Silva, esse processo permitiu que se fizessem
Embrapa, está mobilizando produtores, localizados em trabalhos de levantamento dos pontos críticos dos siste-

sustentabilidade da
distintas unidades de produção. O objetivo é incentivá- mas, debate e hierarquização de prioridades para a Rede
-los para a adoção de práticas que potencializem os re- Leite. Um dos resultados foi a organização de sete grupos
cursos produtivos e reduzam custos de produção, melho- temáticos, assim definidos: Social, Qualidade do Leite e
rando a renda e as condições de vida. Sanidade Animal, Ambiental, Econômico, Forrageiras,
Com uma metodologia inovadora, construída em Fora da Porteira e Comunicação.

produção
conjunto com os agricultores familiares, o Programa Com base no que a maioria dos agricultores das uni-
Rede Leite se baseia no binômio pesquisa-desenvolvi- dades de observação apontou, os GT´s começaram a
mento, que consiste no processo de interação entre pro- trabalhar questões sobre esses aspectos. Por exemplo, as
dutores rurais, pesquisa científica e extensão rural. constantes estiagens, veranicos e mau manejo das pas-
Na pesquisa-desenvolvimento não existe uma receita tagens, que provocam carência de alimento apropriado
única para todas as unidades de produção e por isso cada ao gado durante algumas estações do ano, impulsionou o
situação é encarada de uma maneira particular. O conhe- GT de Forrageiras a trabalhar com afinco o tema manejo

CLEUZA BRUTTI
cimento e a experiência dos produtores são valorizados de pastagens nas unidades de produção. A falta de pers-
e utilizados no desenvolvimento do processo ao lado da pectivas para os jovens e o crescente processo de aban-
pesquisa e da extensão rural. Dessa forma, o Programa, dono do campo fez com que O GT Social destinasse seus
desde 2004,vem promovendo o fortalecimento da agri- esforços para a questão das juventudes rurais e a suces-
cultura familiar na região Noroeste do Rio Grande do Sul. são familiar. Da mesma maneira vêm agindo os demais
Os trabalhos estão sendo realizados em mais de Grupos de Trabalho, buscando sanar os problemas mais
60 Unidades de Observação (UOs), nas propriedades expressivos das unidades de produção.
familiares. Os resultados destas iniciativas são multi- Um outro bom exemplo de atuação é o caso do GT
plicados para os demais produtores de leite dos muni- de qualidade do leite e sanidade animal, que, diante da
cípios da bacia leiteira do Noroeste gaúcho. Integram o forte necessidade de melhoramento dos rebanhos, ini-
programa as instituições: Emater/RS-Ascar, Embrapa ciou uma pesquisa sobre qual biotipo animal é mais
(Pecuária Sul e Clima Temperado), Universidade Re- adequado ao sistema de produção de leite e o indicador
gional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul econômico a ele atrelado. Os resultados desse trabalho já
(Unijuí), Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Ins- são visíveis, como garante o produtor rural Jurandir dos
tituto Federal Farroupilha – campus Santo Augusto, Santos, do município de Bozano-RS. “Eu só estou perma-
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepa- necendo na atividade, e prosperando, graças aos técnicos
gro), Cooperativa da Agricultura Familiar de Tenente da Emater, da Embrapa e à Rede Leite, porque sem esse
Portela (Cooperfamiliar), Centro de Educação Supe- acompanhamento eu não estaria mais aqui e seria mais
rior Norte-RS da Universidade Federal de Santa Maria um que estaria na cidade, ou seja, seria mais um caso em
(CESNORS/UFSM) e Associação Gaúcha de Empreen- que os agropecuarista teriam comparado a propriedade”,
dimentos Lácteos (Agel). afirma o produtor. ◆

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EMBRAPA EMBRAPA

Pesquisa participativa busca


perspectivas para produção orgânica
de leite em unidades familiares
S
istemas orgânicos, de uma forma geral, apre- avalia o pesquisador da Embrapa Cerrados, João Paulo desses estudos está relacionado à implantação de siste- adubação orgânica (veja tabela abaixo/análises do solo
sentam uma estreita relação com a agricultura Guimarães. Segundo ele, o consumidor deseja um pro- mas agrossilvipastoris orgânicos para recria de novilhas da UPPO/sistema agrossilvipastoril). Isso impactou di-
familiar, pois sua adoção é mais facilitada em duto de qualidade, a preço justo, saudável do ponto de leiteiras de forma participativa com agricultores fami- retamente a produtividade (6,3 toneladas de matéria
pequenas áreas. Quando o assunto é leite, essa relação se vista de segurança alimentar e produzido com menor liares por meio de Unidades de Pesquisa em Produção seca/ha) e a composição química (11% proteína) das
torna ainda mais próxima, na medida em que 97,32% das uso de insumos artificiais e com os devidos cuidados em Orgânicas (UPPOs). Todos os trabalhos desenvolvidos pastagens que apresentou boa qualidade nutricional,
propriedades leiteiras no Brasil são de produtores fami- relação ao bem-estar animal. “Além do que, existe a pre- nessas unidades são amplamente discutidos com os pro- possibilitando a recria de novilhas leiteiras (lotação de
liares. No total de 1,34 milhões de propriedades, 90,4% ocupação atual com a preservação do meio ambiente e dutores que sugerem estratégias e auxiliam, na forma de 4UA/ha) que alcançaram 330 quilos com ganho médio
tem produção de menos quatro litros leite/dia e um plan- da biodiversidade e com o papel social da atividade agro- mutirão, na implantação e manutenção das atividades. diário de 580 gramas em oito meses. Acrescentando-se a
tel de 11 vacas/propriedade. Já no extrato de produção pecuária relacionado à geração de empregos no campo e A iniciativa teve início em 2010 numa parceria da isso o bem-estar animal pelo sombreamento das árvores,
de quatro a sete litros/dia com 49 vacas/propriedade são à diminuição do êxodo rural”, afirma o pesquisador. Embrapa, Emater-DF e Sindiorgânicos-DF. Apoiadas além da produtividade de mandioca e de milho de 55 e
7,28% do total. Vários estudos estão sendo conduzidos buscando inicialmente pelo programa Mais Alimentos, do MDA, 53 toneladas/ha, respectivamente, auxiliando na receita
A produção orgânica de leite pode ser uma opção perspectivas para a produção orgânica de leite no Brasil e pelo projeto leite agroecológico (CNPq/Edital Repensa financeira da unidade.
para se aumentar a produção de leite sem degradar as com base em tecnologias ligadas à alimentação, à sani- 2010), em 2012 essas unidades foram incorporadas ao
reservas naturais, sobretudo para os agricultores fami- dade dos rebanhos de leite e visando obter melhores ma- projeto da Embrapa intitulado “Transferência de tecno- ANO 1 ANO 2
liares. “Além de ser uma demanda atual da sociedade”, trizes leiteiras em sistemas orgânicos de produção. Um logias para apoiar as redes de Ater que atuam na pro- Antes da adubação Depois da adubação
dução, processamento e comercialização de carne, leite e AMOSTRAS 1 2 3 4
ovos na agricultura familiar de base ecológica”. Al trocável (me/100cc) 0,050 0,040 0,080 0,060
Atualmente, existem 12 UPPOs implantadas em três Ca (me/100cc) 1,240 0,740 2,970 2,670
estados (DF, SC e PR). No Distrito Federal estão em fun- H+Al (me/100cc) 8,422 7,570 7,225 6,576
cionamento nove Unidades. Uma delas está localizada no K (mg/l) 32,00 22,00 106,00 94,00
Parque Tecnológico Ivaldo Cenci (BR 251 Km 5), numa Matéria Orgânica (%) 2,387 1,773 3,048 2,720
propriedade da Cooperativa Agropecuária da Região do Mg (me/100cc) 0,990 0,780 1,620 1,410
Distrito Federal (Coopa-DF). Toda a área de 1,2 hectares pH 6,490 6,140 6,190 6,490
dessa unidade de pesquisa em produção orgânica está
sendo manejada com base nos princípios da agricultura Com relação à avaliação econômica da UPPO, foi
orgânica, previstos na Lei 10.831 do Ministério da Agri- constatado que no máximo em dois anos os custos de
cultura, Pecuária e Abastecimento. implantação e manutenção da unidade estariam pagos
A área da unidade de pesquisa foi dividida em três – ficou em R$ 23 mil/por hectare. “Por todos os dados
partes. A primeira (Bloco A- Amarelo) e terceira (Bloco obtidos, podemos inferir que áreas integradas, mesmo
C- Marrom) com cultivos de milho, mandioca e capim- que pequenas, podem ser produtivas, resilientes e gerar
-elefante para corte, respectivamente. A segunda (Bloco renda por meio da diversificação da produção e de sua
B-verde) com pastagens, sendo toda área intercalada distribuição ao longo do ano”, afirmou o pesquisador. Se-
com faixas de árvores nativas, eucalipto e guandu. gundo ele, é notório que o agricultor familiar que traba-
De acordo com dados técnicos e econômicos com- lha com produção orgânica animal e vegetal agrega valor
putados nos últimos dois anos, foi possível observar ao seu produto, o que acaba compensando uma eventual
Croquis experimental da Unidade de pesquisa participativa em produção orgânica-UPPO-Sistema agroflorestal contendo as áreas de pastagem de Braquiária ruziziensis em cor verde uma elevação da fertilidade do solo, antes e depois da redução da produção. ◆

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EMBRAPA EMBRAPA

Mel pantaneiro
vidade há 30 anos na região. “Faço isso porque gosto”, o interesse em produzir mel silvestre em uma diferente
diz Waldemir. O produtor mantém cerca de cinquenta época do ano – o mel da hortelã do campo, produzido no
colmeias povoadas com abelhas africanizadas no Panta- outono. Pelas baixas temperaturas, o consumidor com-
nal da Nhecolândia e fala com orgulho do mel da região. pra mais mel e, no entanto, não há disponibilidade de
“Tem duas floradas silvestres aqui que dificilmente você méis silvestres no mercado nessa época”.
vai encontrar em outros lugares: a de hortelã do campo Por trabalhar no mesmo espaço que o produtor, Daniel
e a de cambará. O mel da florada de hortelã do campo é conta que troca experiências de campo com Waldemir.
incomparável. É totalmente diferente, característico. Já o “Ele tem o conhecimento da florada, do clima, do compor-

Q
uem acha que o Pantanal só produz carne Nhumirim, o campo experimental da Unidade localiza- de Cambará tem a cor dourada. Parece ouro líquido se tamento das abelhas africanizadas locais. Isso influencia o
bovina precisa provar o mel pantaneiro. A do no Pantanal da Nhecolândia, dois apiários em outra você segurar contra o sol”, afirma Waldemir. nosso manejo. Em contrapartida, a gente oferece, além do
apicultura, uma alternativa adotada por pro- propriedade rural da região e um na fazenda Band’Al- O produtor também enfatiza os benefícios para o meio nosso conhecimento de trabalho com essas abelhas, uma
dutores rurais locais para diversificar as atividades do ta,próximo à cidade de Ladário (MS). ambiente promovidos pela prática da apicultura. “A abelha infraestrutura em relação a veículos e equipamentos”, diz
campo, é um processo que tem sido aperfeiçoado pelas Segundo Vanderlei, desde o início das pesquisas, em melífera, uma das espécies mais conhecidas, está ligada Daniel. As pesquisas da Embrapa Pantanal, que também
pesquisas da Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) há 13 2002, a equipe obteve constantes melhorias no processo de diretamente à produção de alimentos através da polini- são feitas para ajudar a aprimorar a atividade na região,
anos. “A obtenção de méis de qualidade tornou-se uma produção de mel, como na extração, beneficiamento e enva- zação. Sem elas, cerca de 70% da nossa produção vegetal subsidiam um outro estímulo à apicultura local: a certifi-
forma de agregar valor às práticas desenvolvidas nas pro- se dos produtos apícolas obtidos no Pantanal. “Com resulta- desaparece. Ou seja: sem abelhas, sem alimento (...). Além cação da identidade geográfica do Mel do Pantanal, segun-
priedades rurais. A intenção é fortalecer a atividade na dos técnico-científicos, foi possível provar que a região pode disso, a apicultura pode ajudar a diminuir o desmatamen- do Vanderlei dos Reis. “É um processo desenvolvido em
região pantaneira com a exploração de outros produtos produzir diversos tipos de méis, inclusive aqueles com colo- to, reflorestando áreas degradadas, preservando as árvo- parceria com a Federação de Apicultura e Meliponicultura
apícolas e auxiliar na profissionalização dos apicultores”, ração muito clara e com elevada qualidade, desmistificando res e os outros tipos de vegetações que dão origem ao mel de Mato Grosso do Sul (FEAMS) e outras instituições para
diz Vanderlei dos Reis, pesquisador da instituição, que a ideia de que o Pantanal não era indicado para a atividade”. ou reduzindo as queimadas – e fazer com que as pessoas identificar os tipos de méis da região, agregando valor a
coordena os trabalhos na área. ganhem dinheiro com isso”, conta, ressaltando o potencial esses produtos, e que deve ser finalizado ainda este ano”.
A Embrapa Pantanal mantém sete apiários para o Sabor silvestre lucro extra da atividade para o produtor rural. “Vai dar
desenvolvimento de pesquisas e ações de capacitação e Um dos maiores entusiastas do mel pantaneiro é o trabalho, lógico. Mas ele vai ganhar em cima disso”. Apicultura pantaneira
de transferência de tecnologias, sendo quatro na fazenda produtor Waldemir Pereira Rosa, que trabalha com a ati- Reconhecimento de mercado Para que mais pessoas possam desenvolver a apicultu-
As potencialidades de desenvolvimento da apicultu- ra como atividade principal ou fonte de renda extra, a Em-
ra na região atraíram os proprietários de uma empresa brapa Pantanal oferece todos os anos – em parceria com o
familiar de produção de mel que tem apiários em oito SENAR-AR/MS, Sindicato Rural de Corumbá e outras ins-

REINALDO BRANDÃO
cidades de Mato Grosso do Sul e cerca de 800 colmeias tituições – cursos de capacitação e aprimoramento na área
povoadas com abelhas africanizadas. Trabalhando no para produtores já estabelecidos e demais interessados na
Pantanal há dois anos, o engenheiro agrônomo Daniel atividade. “Dessa forma, é possível diversificar e agregar
Dalastra, da Apiários Pôr do Sol, mantém cerca de 100 ganhos de produtividade e sustentabilidade nas proprie-
dessas colmeias na mesma região das mantidas por dades”, diz Vanderlei. Além disso, o pesquisador conta que
Waldemir. “O diferencial do Pantanal é, no nosso caso, a equipe da Embrapa Pantanal elaborou ainda um calen-
dário apícola, listando várias plantas nativas e exóticas,
cultivadas ou não, e seus períodos de floração para auxiliar
os apicultores no planejamento das atividades realizadas
nos assentamentos rurais Taquaral e Tamarineiro II, pró-

VANDERLEI DOS REIS


ximo à fronteira do Brasil com a Bolívia.
Para Waldemir, a produção de mel é uma atividade
viável em termos ecológicos e também em aspectos so-
ciais. “Diversificar e capacitar a mão de obra da fazenda
para trabalhar com apicultura é uma forma de fixar o ho-
mem do campo e até de melhorar sua alimentação (...). O
mel, como um alimento energético, e o pólen, como um
proteico, são muito salutares ao ser humano e ao meio
Apicultores desenvolvem a atividade no Pantanal Colmeia de abelhas
ambiente. O mel é um alimento nobre”, finaliza. ◆

480 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 481
EMBRAPA EMBRAPA

Retratos da vitória na A
os 41 anos, Renato César Luz é o retrato da vi- apenas quatro colmeias, no projeto de incentivo à apicul-
tória numa atividade que requer paciência e tura coordenado pelo padre alemão Geraldo Jeroen, en-
muita dedicação. Ele é dono de um patrimô- tão vigário do município de Simplício Mendes. O projeto
nio que a maioria dos pequenos apicultores brasileiros mudou a cara da apicultura piauiense. Hoje, Renato possui

produção de mel
sonha ter. São três casas – duas no centro do município 1.500 colmeias e é o maior associado à Comapi.
de Santo Inácio do Piauí, a 510 quilômetros de Teresina, Outro vitorioso na apicultura nasceu e vive na mes-
na região sudeste, onde mora, e uma na zona rural; três ma região. É Francisco Natanael Oliveira, de 29 anos, do
terrenos também no centro da cidade; quatro sítios, num município de Itainópolis, a 355 quilômetros de Teresi-
total de 20 hectares; uma motocicleta e um triciclo. na. Trabalhando com a produção de mel desde 12 anos,
A casa onde Renato, a mulher, Francisca, e dois filhos sempre com o pai, ele já conseguiu comprar uma casa,
moram, é um dos três sobrados do minúsculo municí- um sítio com 50 hectares, onde mantém uma criação de
pio de Santo Inácio do Piauí, que tem apenas 3.653 ha- caprinos e 100 colmeias; além de uma motocicleta.
bitantes, segundo o IBGE. Encravado na avenida Getúlio Mesmo fugindo da seca no ano passado, quando mi-

FERNANDO SINIMBU
Vargas, que corta a cidade ao meio, o sobrado tem 120 grou também para Governador Nunes Freire, a quase mil
metros quadrados e é bem dividido. No primeiro piso, o quilômetros da região de Picos, município de polariza
apicultor mantém um depósito de mel. Já o segundo piso toda a produção de mel do Piauí, Natanael, como é co-
é a casa dos sonhos de muita gente do interior. nhecido, conseguiu escapar de um prejuízo ainda maior.
Todo esse patrimônio foi construído ao longo de 20 Produziu 1,2 tonelada de mel. Ele e mais 239 pequenos
anos, com a produção de mel em sistema de agricultura apicultores associados à Casa Apis, uma central de coo-
familiar. “Nunca bati na porta de banco nenhum para perativas, com sede em Picos, também encontraram no
pedir dinheiro emprestado. Tudo o que tenho é resulta- Maranhão um porto seguro.
do do meu trabalho com a apicultura. Vivo tranquilo”, A seca não tirou apenas o sono e a água dos pequenos
ressalta. Mas o que maltrata mesmo Renato César Luz é apicultores em Itainópolis. Cerca de 60% dos enxames de
quando a seca castiga a caatinga no Piauí. abelhas foram perdidos com a forte estiagem, segundo
Em 2013, quando o nordeste enfrentou uma das ele. “Foi um grande prejuízo que abalou a estrutura fi-
piores estiagens dos últimos 50 anos, ele foi um dos api- nanceira da Cooperativa Mista de Pequenos Agricultores
cultores que mudou de rota migrando para o estado do de Itainópolis. Muita gente foi trabalhar em outras ativi-
Maranhão, onde a seca atingiu poucas regiões. Com 168 dades para sobreviver”, lembra.
colmeias, Renato e mais 69 pequenos apicultores fugi- Além do desgaste da fuga para outro estado, eles en-
ram da seca e se instalaram durante cinco meses no mu- frentaram um calvário. A incerteza na recuperação do
nicípio de Governador Nunes Freire, a 181 quilômetros tempo e do dinheiro perdido, também marcou a vida dos
de São Luís, no oeste maranhense. apicultores de Itainópolis no segundo semestre de 2013.
A fuga para o vizinho estado deu trabalho, mas com- “Tivemos uma despesa muito grande com o transporte;
pensou. Ele conseguiu produzir 10 toneladas de mel e fa- o aluguel de áreas para instalar as colmeias; e as viagens
turou cerca de R$ 40 mil em 2014.Renato César Luz é um para o Maranhão”, lamenta.
dos 1.200 pequenos apicultores associados à Cooperati- Mas em 2014 o esforço valeu a pena. A cooperativa re-
va Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício cebeu de seus 51 associados, segundo Francisco Natanael
Mendes, a Comapi, criada em 2007, e se mantém como Oliveira, pelo menos 30 toneladas de mel. As chuvas que
um braço forte na economia da região. e o preço do mel, que voltou a subir, reanimou o apicultor
Renato, como a maioria dos pequenos apicultores, a voltar à atividade. O balde de mel com 25 quilos estava
estudou pouco. Não saiu do quarto ano do ensino funda- sendo entregue à Casa Apis a R$ 170. “Estamos animados
mental. A história dele com o mel começou em 1993, com mesmo. Este ano vai ser melhor para todos”, sentenciou.◆
Francisco Natanael

482 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 483
EMBRAPA EMBRAPA

Apicultores dedicados conseguem Software orienta produtores


regularidade na produção de mel de ovinos no controle de
M
esmo com as secas recorrentes, o comér-
cio de mel já é um negócio lucrativo em
verminose

REBERT CORREIA
diversas partes do Semiárido. Na região
Nordeste – com destaque para os estados do Piauí, Ceará

S
e Bahia – são coletados cerca de 32% da produção nacio- ARA, um software desenvolvido pela Embra- das recomendações na propriedade, ele tem conseguido
nal. Apesar disso, muitas vezes, o manejo dos apiários é pa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP),ajuda os melhorar as condições de seu rebanho e, ainda, economi-
inadequado e não padronizado entre os apicultores em produtores rurais no controle da verminose em zar dinheiro usando os vermífugos de forma correta.
vários locais. A pesquisa tem o que dizer, mas é na práti- ovinos, um dos grandes problemas da ovinocultura. O O objetivo das recomendações é retardar o desenvol-
ca que estão os melhores exemplos. Sistema para Análise de Risco de Desenvolvimento de vimento da resistência parasitária nos ovinos. De acordo
O apicultor José Ricardo, residente da comunidade da Resistência Parasitária a Anti-helmínticos em Ovinos com a pesquisadora Simone Niciura, isso acontece por-
Melosa, em Remanso (BA), marceneiro de profissão, se (SARA) identifica os fatores na propriedade que podem que a tecnologia, além de ter impacto na melhoria do
encantou pela criação de abelhas e instalou apiários na aumentar a proliferação de vermes nesses animais e levar manejo, pode reduzir a utilização de medicamentos ve-
caatinga nas propriedades de amigos. No tempo das chu- ao rápido desenvolvimento da resistência parasitária aos terinários, com o uso racional. “Infelizmente, é comum
vas na região, pólen, néctar e água não faltam em meio vermífugos, orientando o criador quanto a melhor opção encontrar em rebanhos vermes resistentes a qualquer
à vegetação nativa. Mas no período da seca o apicultor Dispositivo para matar a sede das abelhas de manejo. Desde o lançamento, em agosto de 2014, cer- vermífugo disponível no mercado. A resistência parasi-
precisa ser criativo para não perder as colônias. José Ri- ca de 800 produtores tiveram acesso ao aplicativo. Deste tária ocorre com o uso frequente e inadequado desses
cardo percorre os apiários para matar a sede das abelhas; nho, que têm um plano de ação voltado para desenvolver total, mais de 200 pessoas preencheram o cadastro e re- produtos”, explica a pesquisadora.
junto, carrega porções de ração, a fim de garantir a per- a apicultura e a meliponicultura (abelhas sem ferrão) nos ceberam o diagnóstico de sua propriedade e alternativas O SARA é resultado de diversas pesquisas prévias que
manência desses pequenos insetos nas caixas. municípios de Casa Nova, Pilão Arcado, Sento Sé e So- de controle da verminose. envolveram pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste
O exemplo de José Ricardo se encaixa no que é apre- bradinho, além de Remanso. Um dos beneficiados com o sistema é o pequeno pro- e de diversos centros de pesquisa da Agência Paulista de
sentado nos vários cursos e encontros de que participou, Pesquisador e coordenador do Projeto, Rebert Coe- dutor Antônio Ramos, de Pirassununga, interior de São Tecnologia dos Agronegócios (APTA), além da colabo-
promovidos por organizações como o Serviço de Asses- lho Correia, da Embrapa Semiárido, vê em José Ferreira Paulo, produtor de ovinos há cerca de 20 anos. A vermino- ração de produtores de ovinos do Estado de São Paulo.O
soria a Organizações Populares Rurais (SASOP), Servi- e José Ricardo apicultores experientes e muito dinâmicos se é o grande problema da atividade mas,com a aplicação software, gratuito e de fácil utilização, está disponível em
ço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), na criação e apropriação de inovações técnicas. “O empe- http://tecnologias.cppse.embrapa.br/sara.
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) nho deles mostra que a atividade apícola pode apresentar
e Universidade Federal do Vale do São Francisco (Uni- melhores resultados produtivos, com repercussão no de- Verminose
vasf), além da Embrapa. senvolvimento econômico da região”, afirma. A verminose é o principal problema sanitário que

GISELE ROSSO
Um amigo de Ricardo, José Ferreira, explica que Informações levantadas pela professora Eva Mônica, afeta os ovinos. Muitos produtores desistem da atividade
no ramo de apicultura são poucos os que se dedicam a da Univasf, e pelo engenheiro agrônomo José Fernandes, porque não conseguem controlar a doença. Esses animais
cuidar das abelhas. A grande maioria, diz, “apenas põe da EBDA, apontam que a atual produtividade média nos estão susceptíveis aos vermes em qualquer faixa etária, o
a caixa no mato e deixam as abelhas sem nenhum tipo cinco municípios instalados nas margens do Lago de So- que pode acarretar atraso no desenvolvimento corporal,
de assistência, e sequer colocam cera, imagine água e ra- bradinho gira em torno de 13 quilos por colmeia a cada menor performance produtiva e reprodutiva e até a morte.
ção!” Esses não têm amor pelo que fazem. São extrativis- ano. É um volume bem abaixo do que têm alcançado api- Dentre os parasitas de ovinos, o Haemonchuscontor-
tas e só vão lá para “roubar” o mel. cultores integrados às ações de capacitação e de assistên- tus é o mais patogênico e de maior predominância e im-
cia técnica do Projeto. José Ricardo, por exemplo, em seu pacto na ovinocultura. O verme alimenta-se de sangue,
Manejo apiário, na comunidade de Melosa, em Remanso, e José causando anemia nos ovinos. Em condições inadequa-
A visão da atividade apícola no Semiárido por José Carlos, de Riacho Grande, em Casa Nova, colheram, na das de alimentação, o quadro pode agravar-se e ocasio-
Ferreira e José Ricardo é compartilhada pelos pesquisa- última safra, 40 quilos por colmeia. Chegaram a esse re- nar enfraquecimento do sistema imunológico, deixando
dores e técnicos vinculados ao Projeto Lago de Sobradi- sultado mesmo depois de três anos de severa estiagem. ◆ Pesquisadora Simone Niciura mostra utilização do SARA os animais vulneráveis a outros parasitas ou doenças. ◆

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EMBRAPA EMBRAPA

Projeto Alto Camaquã da região, os produtores estão abatendo os animais e co-


mercializando em mercados da capital do estado, e com
isso conseguindo uma remuneração melhor pelo produ-
dução ambientalmente dependentes, integrando a criação
de bovinos, ovinos e caprinos sobre o campo nativo.
Em 2006, a equipe da Embrapa Pecuária Sul começou

agrega valor aos produtores


to. Segundo o presidente da Adac, Mateus Garcia, uma a trabalhar a organização dos produtores do Alto Cama-
das grandes vantagens deste tipo de comercialização é a quã em uma rede de pesquisa com base em 12 Unidades
manutenção de um preço fixo durante todo o ano, sem Experimentais de Pesquisa Participativa (UEPAs), em pro-
sofrer com as oscilações do mercado. priedades de pecuaristas familiares da região. Nas UEPAs,

e ao ambiente
Além disso, no segundo semestre de 2014, a associação foram consideradas as características históricas, sociais,
adquiriu dois caminhões para o transporte da produção. Os ambientais, culturais e econômicas da região. A ideia era
veículos foram adquiridos por meio do Programa de Regio- de avançar em questões de melhoramento de manejo de
nalização do Abastecimento, com recursos do Fundo Esta- campo nativo para uma produção mais eficiente com o
dual de Apoio ao Pequeno Empreendimento Rural (Feaper). uso dos recursos historicamente disponíveis, gerando

I
niciado há sete anos, o Projeto de Desenvolvi- desta iniciativa é a estratégia de construir conhecimento produtos diferenciados e a possibilidade de inserção em
mento Territorial do Alto Camaquã é uma reali- em conjunto com os produtores. A ideia é de mostrar aos O Alto Camaquã mercados não tradicionais e com maior valor agregado.
dade na região da Campanha do Rio Grande do produtores que eles estão em um local diferenciado, que Marcado por uma vegetação predominantemente ar- Em 2007 a Embrapa Pecuária Sul iniciou o Projeto
Sul. Os produtores já comercializam produtos por meio alia a conservação dos recursos naturais com produtos bórea com mosaicos de campo e mato, solos rasos com Alto Camaquã, liderado por Borba e com a participação
de uma marca coletiva, mantendo os princípios básicos únicos, e com uma grande possibilidade de conquistar afloramento de pedras e relevo acidentado, o território de associações de produtores, universidades do Brasil e
que nortearam o projeto, a valorização e a conservação mercados que reconheçam o valor desta produção, pa- do Alto Camaquã está compreendido pelos municípios do exterior, da Emater-RS/Ascar e de instituições de pes-
dos recursos naturais. O principal produto comercializa- gando mais que os mercados tradicionais. O reconheci- gaúchos localizados na parte alta do Rio Camaquã – Bagé, quisa. O projeto trabalha com a perspectiva da ecologi-
do é a carne de cordeiro, sendo que em 2014, por meio mento destas condições foi o primeiro passo para a or- Caçapava do Sul, Lavras do Sul, Pinheiro Machado, Pirati- zação da pecuária, reunindo os diferentes atores sociais
da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do ganização dos produtores e a definição de estratégias e ni, Encruzilhada do Sul e Santana da Boa Vista. Historica- (produtores, poder público, pesquisadores, técnicos,
Alto Camaquã (Adac) foram vendidos 1.082 animais. A alianças mercadológicas. mente, a pecuária familiar local não acompanhou o desen- professores etc.) e os elementos históricos locais que
própria abrangência é um sinal dos bons resultados: de A criação da Adac, em 2009, e que hoje engloba 22 volvimento observado em outras regiões do Rio Grande do podem constituir uma estratégia de desenvolvimento e
40 propriedades que iniciaram no projeto, hoje são mais associações de produtores locais, foi fundamental para Sul. Paisagem, fauna, flora e cultura foram conservadas e o transformação da realidade, melhorando condições de
de 430 famílias vinculadas à Adac. os passos seguintes: a criação de uma marca coletiva e homem que ocupou a região desenvolveu formas de pro- produção, de renda e aspectos sociais. ◆
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Marcos Bor- a comercialização de produtos, em especial a carne de
ba, idealizador do projeto, diz que o grande diferencial cordeiro. Por meio de uma aliança com um frigorífico

MANUELA BERGAMIN
FERNANDO GOSS

Uma das características do Alo Camaquã é o relevo levemente acidentado

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EMBRAPA EMBRAPA

Projetos incentivam
maior produção de
peixe no Tocantins Atividade do Projeto Peixe Mais

A
Embrapa desenvolve projetos que visam trazidas pra Embrapa pelos próprios produtores. Então,
o fortalecimento da piscicultura em sis- foi uma experiência riquíssima ter contato com esse pú-
temas de produção familiar no estado do blico ligado à agricultura familiar”. Foram elaboradas

ARQUIVO EMBRAPA PESCA E AQUICULUTURA


Tocantins. A proposta é de aumentar a produção e diferentes publicações. Entre elas, uma série de folderes
proporcionar maior sustentabilidade aos sistemas (acessíveis pelo endereço www.embrapa.br/pesca-e-a-
produtivos por meio do acesso aos conhecimentos quicultura/publicacoes) sobre assuntos como qualidade
teórico e prático sobre todo o sistema de produção, da água, manejo alimentar, preparação de viveiros e cus-
transmitidos principalmente em dias de campo, reu- tos de produção e comercialização.
niões e seminários técnicos. Adriano Prysthon da Silva, pesquisador da Embrapa
Uma das ações desenvolvidas pela Embrapa Pesca e nas áreas de pesca e sistemas aquícolas em comunidades
Aquicultura (Palmas-TO) entre 2011 e 2014 foi o forta- tradicionais, relata benefícios do projeto. Entre eles, “a
lecimento da piscicultura como alternativa de renda e construção de estratégias de fortalecimento da pisci-
diversificação da agricultura familiar no estado. O pes- cultura em sistemas de produção familiar no estado,
quisador Manoel Pedroza da área de economia e gestão o autoconhecimento da realidade das pisciculturas, pro-
da inovação liderou as ações com profissionais da Em- porcionado pela abordagem participativa e o empode-
brapa, que trabalharam com piscicultores familiares de ramento das demandas tecnológicas e não-tecnológicas
dois municípios da região Centro-Oeste do estado: Divi- priorizadas pelos produtores, e o acesso aos conhecimen-
nópolis e Abreulândia. tos teórico e prático sobre todo o sistema de produção,
Segundo Manoel, “as metas foram plenamente atin- transmitidos principalmente nos quatro dias de campo
gidas ao longo dos três anos do projeto, uma vez que a e seminários técnicos realizados pelo projeto, além de
gente pode constatar na região uma elevação significa- todo o material gráfico disponibilizado nestes eventos”.
tiva do nível tecnológico e da produtividade dos cultivos Foi constituído um fórum periódico, em que os pró-
de piscicultura”. O pesquisador diz que “é importante prios piscicultores e a formação de uma rede de refe-
lembrar que as demandas do Projeto Divinópolis foram rência entre os piscicultores da região. Piscicultores que

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EMBRAPA EMBRAPA

foram monitorados durante um ciclo de cultivo agora cultivo de tambaqui no sistema viveiro escavado. O tanque rede. O projeto é patrocinado pelo Ministério Biometria
podem transmitir os conhecimentos repassados pela Tambaqui é uma espécie de peixe nativo da região. da Pesca e Aquicultura (MPA) e conta com diversos Giovani Taffarel Bergamin, pesquisador da Embrapa
equipe a outros piscicultores iniciantes. Além dessa capacitação, houve outra, em Palmas, ca- parceiros no Tocantins. Pesca e Aquicultura, falou sobre biometria, relacionada
pital do estado, no sistema de cultivo em tanque-rede. Marcela Mataveli, zootecnista e coordenadora da ca- ao cálculo da quantidade de alimento que deve ser for-
Projeto Peixe Mais Ambas as capacitações fizeram parte do projeto Peixe pacitação em viveiro escavado, trabalha na área de trans- necida diariamente para o lote de peixes. A biometria
Técnicos e agricultores familiares de Araguaína, Mais, que trata da transferência de tecnologia em pis- ferência de tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura também permite observar o estado sanitário dos ani-
município situado ao Norte de Tocantins, receberam cicultura de água doce no estado do Tocantins, por (Palmas, TO). Ela conta que “os participantes são muito mais, para calcular a conversão (alimentar) dos animais,
em 2014 três módulos de capacitação continuada em meio do cultivo de tambaqui em viveiro escavado e comprometidos e já vieram com o objetivo de aprimorar o custo que ele está tendo por fase e conseguir fornecer
as tecnologias para serem utilizadas em sua região. Nós uma alimentação adequada à quantidade e à biomassa
tínhamos um plano de curso, que foi sendo adaptado do peixe que ele tem no tanque.
para atender à demanda deles”. A biometria permite que o produtor dê a quantidade
A metodologia da capacitação continuada se desen- correta de ração aos peixes. “Serve para ter um acompa-
volve em módulos, forma que os técnicos da Embrapa nhamento das diversas fases do cultivo, desde a alevina-

ARQUIVO EMBRAPA PESCA E AQUICULTURA


consideram mais efetiva porque permite aos participan- gem, a recria, a primeira fase de engorda até o momen-
tes focar em determinados assuntos e debater tudo o to da comercialização, para que o produtor tenha ideia
que se relaciona a eles. Além da divisão em módulos, o do desempenho do animal em cada uma dessas fases”,
treinamento contempla uma Unidade de Aprendizagem acrescenta o pesquisador da Embrapa.
Tecnológica (UAT), onde é possível reproduzir a realida- O conhecimento sobre as medidas e parâmetros são
de do setor produtivo, com uso das tecnologias repassa- importantes diante da diversidade de espécies existentes,
das na capacitação. cada qual com características de qualidade de pescado e
A maioria dos participantes da capacitação é forma- hábitos alimentares próprios. “Trabalhar, por exemplo,
da por técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural com pintado, pirarucu, tambaqui e matrinxã é a mesma
do Estado do Tocantins (Ruraltins). “O aproveitamento coisa de se falar de frango, porco e galinha. São espécies
está sendo muito grande, visto que são muitas novida- totalmente diferentes, que requerem práticas diferentes e
des que a gente não tinha noção. A visão que a gente muita pesquisa para a gente conseguir chegar a um paco-
tem é que temos que passar isso para o produtor. Tudo te tecnológico aplicado à espécie”, disse Giovani.
o que a gente está aprendendo aqui a gente deve mul-
tiplicar o máximo possível, não guardar com a gente.” Teoria e prática
Assim, Ângelo Daniel Dias da Silva, técnico do Rural- Uma das participantes da capacitação, Wilma Lúcia,
tins em Araguaína, se refere à capacitação que tem re- bióloga que trabalha na prefeitura de Gurupi, cidade que
cebido no Projeto Peixe Mais, executado pela Embrapa fica no Sul do Tocantins diz que o “nosso objetivo aqui
no estado. é levar aos produtores, principalmente os de agricultu-
Thiago Tardivo, coordenador de aquicultura do Ru- ra familiar, e desenvolver e incentivar a piscicultura na
raltins, falou sobre qualidade da água durante a par- região”, explica. O tambaqui é o peixe mais utilizado na
te prática do treinamento. Segundo ele, “os principais piscicultura da região.
parâmetros a que o produtor tem que estar atento são A parte prática do primeiro módulo da capacitação
a temperatura, para a questão de alimentação, a quan- aconteceu na propriedade de José Belato, que tem o
tidade de ração que ele vai dar para o lote de peixes, pintado como principal espécie cultivada. Segundo ele,
o pH, sempre mantendo-o dentro do pH neutro, e a a piscicultura “é um processo rentável e muito rápido,
transparência, que vai estar relacionada com a quan- que pode agregar e trazer renda para o produtor”. O pis-
tidade de produção primária (fitoplâncton) dentro do cicultor alertou os agricultores que desejam começar a
viveiro”. Esses cuidados permitem boa qualidade no produzir peixe a procurar orientações tanto nos órgãos
produto final, observadas as densidades corretas e as públicos, como com aquelas pessoas que entendem do
espécies corretas para o ambiente. assunto e tem condições de trocar experiências. ◆

Atividade do Projeto Peixe Mais

490 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 491
LUCAS SCHERER
EMBRAPA EMBRAPA

Tecnologias em suínos
para produtores
que apostam em
diferenciação

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EMBRAPA EMBRAPA

D
o porco “banha” ao suíno light. Essa é a tra- mercado com o MS115 há alguns anos, trabalhando de material genético suíno no Brasil está concentrada
jetória que a pesquisa da Embrapa ajudou a com pequenos produtores da região centro-sul, que em grandes empresas do setor, dificultando o acesso
construir na cadeia suinícola do Brasil em avaliam muito bem o desempenho e a carne do suíno de pequenos produtores à genética de qualidade com
busca de maior rentabilidade aos produtores. Desde da Embrapa. “O MS115 é um animal que tem bom de- preços acessíveis. Por isso, a Embrapa decidiu desen-
o lançamento do primeiro suíno light, o MS58, há 18 sempenho e boa conversão alimentar, o que faz muita volver uma linha fêmea “que pudesse ser utilizada
anos, até a recente apresentação da fêmea suína Em- diferença no ganho de peso e melhora a carcaça”, diz. com a linha macho que está no mercado, para produ-
brapa MO25C, a aposta é em uma carne diferenciada, Sobre a carne, também é só elogios. “A qualidade da zir carne com qualidade diferenciada”, diz o pesquisa-
com baixo teor de gordura, e com valor agregado para carne é ótima, é uma carne magra, que é justamente o dor da Embrapa.
que produtores possam atuar de maneira competitiva que o mercado exige atualmente”. Ele diz também que o A fêmea suína Embrapa MO25C foi concebida para
no mercado. MS115 abre o mercado. “Ele tem a marca da Embrapa, ser versátil, com boa produção de leitões, mas que trans-
Ao entrar no mercado, o reprodutor suíno da Embra- marca de investimento em pesquisa e melhoria genéti- mita também melhor qualidade de carne aos suínos de
pa permitiu o acesso ao melhoramento genético princi- ca e de confiança. Quando você fala em Embrapa, fica abate. Ela é voltada para sistemas de produção que abas-
palmente para produtores independentes, que não fazem tudo mais fácil”. Bazzi ainda resumiu o MS115 numa tecem supermercados, churrascarias, restaurantes, mer-
parte da integração das grandes agroindústrias. O pro- frase: “Quem usa, gosta!”. cado externo diferenciado e produtos curados (presun-
dutor Mauro Morais, de Guanambi, região centro-sul da Outro produtor que não abre mão da linhagem da to, copa, salame), que exigem cada vez mais qualidade
Bahia, a 796 km de Salvador, conheceu o suíno light da Embrapa é Daniel Michels, da Granja Michels, de Braço de carne in natura, mas também pode ser utilizada por
Embrapa através da indicação de amigos, há oito anos do Norte, no sul de Santa Catarina, a 173 km de Flo- sistemas que produzem carne para industrialização em
e garante que o resultado é muito bom. “A carne do MS rianópolis. Ele trabalha com a linha de suíno light da sistemas intensivos.
é muito boa e muito bem aceita pela população aqui da Embrapa desde o lançamento do MS58. “Conhecemos “Essa opção de trazer qualidade da carne também
região de Vitória da Conquista”, comentou. o MS na Expointer, em Esteio no Rio Grande do Sul e pelo lado da fêmea é pouco explorada no Brasil. Ge-
Outro produtor que trabalha com a linhagem da Em- ficamos um ano na fila. Depois, acompanhamos a evo- ralmente, todas as linhas fêmeas são especializadas na
brapa desde 2008, quando foi lançada a terceira geração lução, com o MS60 e hoje trabalhamos com o MS115”. produtividade de leitões. Esse foi um espaço percebido
do suíno light, o MS 115, é José Rossetto, da Suinocultu- Michels diz ainda que o MS tem muito boa resposta e pela Embrapa com potencial de trazer benefícios para
ra Rossetto, de Cerqueira César, região sudoeste de São que a marca Embrapa “abre as portas” em um merca- a produção de carne de qualidade, especialmente para
Paulo, a 294 km da capital paulista. “Considero as prin- do com muita concorrência. Ele também considera a produtores independentes e de pequenas integrações”,
cipais características do suíno da Embrapa, e que o dife- carcaça, a rusticidade e a grande quantidade de carne diz o pesquisador da Embrapa.
renciam da concorrência, a rusticidade, a boa conforma- magra como diferenciais do MS115. “Além da veloci- O nome MO25C está ligado ao cruzamento utili-
ção de carcaça e o ganho de peso”. Para os consumidores, dade de ganho de peso, que é muito boa e uma grande zado no desenvolvimento da linhagem. Foram utiliza-
destaca a carne com pouca gordura, dizendo que por isso evolução se comparada com as do 58 e do 60. Eu não dos suínos da raça Moura, muito difundidos na região
é muito bem aceito no mercado. saio do MS115”, diz orgulhoso. do Sul do Brasil nas primeiras décadas do século pas-
A fatia de mercado de produtores independentes, de O suíno light da Embrapa é um trabalho de pesquisa sado, sem registros de sua origem. “Como estávamos
acordo com o pesquisador Elsio Figueiredo, que conduz que está alinhado ao que a empresa prioriza. “Ele alia ali- preocupados com a extinção da raça e a perda de ge-
o trabalho de melhoramento genético na Embrapa Suí- mento e renda, além de permitir a inserção de pequenos nes importantes para o melhoramento genético, res-
nos e Aves (Concórdia, SC), é reflexo da vantagem que produtores em nichos de mercado”, destaca o pesquisa- gatamos alguns rebanhos com a colaboração de vários
o animal representa. “Ele está no nível dos melhores dor Elsio Figueiredo. produtores tradicionais e da Universidade Federal do
reprodutores híbridos comerciais vendidos no Brasil e Paraná e iniciamos os estudos de viabilidade do uso
é ofertado com um preço acessível a todos os tipos de Linha especializada dos Mouras para melhorar a qualidade da carne”, ex-
produtores”, comentou. Com a recente inclusão da fêmea suína Embrapa plicou Elsio. “Essa denominação, portanto, homena-
Edinilson Bazzi, da TopGen, de Jaguariaíva, no cen- MO25C, a pesquisa genética de suínos evoluiu para geia a todos os que se preocuparam com a preservação
tro oriental do Paraná, a 236 km de Curitiba, está no atender também nichos especializados. “A produção da raça Moura”, enfatizou. ◆ Evolução da família Light

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EMBRAPA EMBRAPA

Avaliação de condição do
rebanho ganha tecnologia
simples e precisa
A
avaliação da condição corporal (CC) de bo- primeira vértebra sacral, e ser lentamente fechado até e a eficiência dessa tecnologia fazem dela uma grande
RENATA SILVA vinos contaráem breve com um grande alia- que suas réguas estejam em maior contato possível com aliada do pecuarista. “Nossa recompensa como pes-
do no Brasil. A Embrapa Rondônia (Porto a pele do animal. quisadores é ver que a tecnologia que desenvolvemos é
Velho, RO) desenvolveu um dispositivo formado por A leitura da condição corporal em que o animal se útil e vai ser adotada no campo e, principalmente, por
duas réguas de 20 centímetros cada uma, com 4,4 cen- encontra é indicada por cores no visor: vermelha (bai- pequenos produtores, que terão acesso a informações
tímetros de largura e articuladas de maneira a formar xa), verde (adequada) e amarelo alaranjada (alta). A uti- importantes sobre o rebanho para poderem agir em
a angulação de 0° a 180° para monitorar o rebanho de lização da escala por cores facilita a avaliação imediata tempo, evitando prejuízos e proporcionando condições
forma rápida e precisa. do animal e torna-se mais rápida e prática ao produtor, para ganhos maiores”. O pesquisador recomenda que
Batizado de Vetscore, trata-se de um instrumento principalmente ao avaliar muitos animais.Com essas in- a avaliação do rebanho com o Vetscore seja realizada
simples que será útil, particularmente para pequenos formações em mãos e associadas às práticas agropecu- quinzenalmente, pois, por meio do adequado uso da
produtores, como os de gado leiteiro, pois, não há no árias adequadas, o produtor pode atingir o máximo de informação obtida, o proprietário terá o máximo retor-
mercado nenhum instrumento similar para a avaliação eficiência do rebanho e, consequentemente, maior retor- no com cada animal.
da condição nutricional. no econômico. A Embrapa Produtos e Mercado, unidade responsá-
Hoje, para se obter dados de condição corporal dos A tecnologia terá maior impacto para pequenos pro- vel pela inserção no mercado de tecnologias produtos e
animais, geralmente, é utilizado o método visual, que é dutores de leite. Geralmente eles possuem menos aces- serviços desenvolvidos pela empresa, está trabalhando
subjetivo e de pouca precisão. A outra opção são progra- so a técnicos treinados para fazer a avaliação visual da para a colocação do Vetscore no mercado. Viviane Mar-
mas de imagem ou ultrassonografia, que necessitam do condição corporal, poucos recursos para investirem em tha, zootecnista do Escritório de Campinas desta unida-
apoio de profissionais especializados a um custo mais avaliação por imagem e o setor leiteiro conta com a pe- de, e responsável pelo posicionamento do produto no
alto, inacessível a pequenos produtores. culiaridade de as fêmeas estarem mais sujeitas a altera- mercado, explica o que está sendo feito para que o Vets-
O Vetscore foi inspirado no goniômetro, instrumen- ções da condição corporal em função do pré-parto, parto core chegue às mãos do criador. “Após o lançamento do
to circular com 180º ou 360º, utilizado para medir ou e pós-parto, portanto, a avaliação da CC é uma informa- edital de convocação pública que estamos promovendo,
construir ângulos. O mais famoso goniômetro é o trans- ção valiosa para evitar perdas. as empresas habilitadas serão responsáveis pela produ-
feridor, muito popular no ensino escolar. O Vestcore foi “Uma ferramenta simples de usar e a gente vê o re- ção, comercialização e distribuição do instrumento em
validado para as raças nelore e girolando. Com a conti- sultado na hora. Então sei o que tenho que fazer com o todo o Brasil. Com isso, esperamos que o produto esteja
nuidade dos trabalhos, o pesquisador aponta que poderá rebanho. Quando a gente vê a olho, muitas vezes a per- disponível a todos os criadores interessados”.
haver um Vetscore para outras raças, tornando a tecno- da já está muito grande. Com essa ferramenta é possível O Vetscore chegará ao mercado como um dispositivo
logia ainda mais eficiente. saber logo o que tem que fazer. Tudo isso conta ainda com custo acessível e confiável, de simples utilização e
O manuseio do instrumento é fácil. Para fazer a ava- mais para o pequeno produtor de leite que trabalha com resultado imediato, complementa o pesquisador Pfeifer
liação com o Vetscore, o animal deve ser recolhido em lo- o orçamento sempre apertado.” Com certeza vou usar, e informa ainda que foi realizado o depósito de paten-
cal onde possa ser contido e manuseado sem apresentar diz animado, o produtor de leite Gilsonmar Aguiar que te junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial
riscos ao avaliador e ao próprio animal. testou o Vetscore em seu rebanho em Porto Velho (RO). (Inpi) e o registro da marca.O edital estará disponível
Feito isso, o Vetscore deve ser posicionado sobre a De acordo com o pesquisador da Embrapa Rondô- no portal da Embrapa em www.embrapa.br/produtos-e-
Vetscore posicionado sobre a garupa do animal, entre a última vértebra lombar e a primeira vértebra sacral garupa do animal, entre a última vértebra lombar e a nia e inventor do Vetscore, Luiz Pfeifer, a simplicidade -mercado/editais. ◆

496 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 497
EMBRAPA EMBRAPA

Tecnologia permite usar


rejeito com concentração ainda mais alta de sais, que pode Além desse sistema, trabalhos de pesquisa têm bus-
trazer prejuízos para o solo de forma muito rápida. cado oferecer outras alternativas para o uso do rejeito da
Para proporcionar o uso desse rejeito com o menor dessalinização. Uma delas é a flexibilização do sistema
impacto ambiental possível, a Embrapa desenvolveu comunitário, considerado de grande porte, adaptando-o

água com alto teor de sal


uma tecnologia que une a criação de peixes com a produ- para um sistema de produção familiar e poços de me-
ção de plantas. Nesse sistema, o rejeito da dessalinização nores vazões, com a utilização de pequenos tanques de
é depositado em dois grandes tanques de 330m³, utili- criação de peixes, com cerca de cinco mil litros. Outra
zados de forma comunitária para a criação de tilápias ainda é a prospecção e a avaliação de novas cultivares
que se desenvolvem bem nessas condições. Um terceiro de plantas alimentares e forrageiras e espécies de peixes

V
iver e produzir alimentos sem água é impos- poços perfurados nessas condições que um grande nú- tanque armazena o concentrado que já passou pelos tan- resistentes ou tolerantes à salinidade que poderão ser in-
sível. Mas, o que fazer quando a única fonte mero de famílias tira a água para beber, além de utilizá- ques de criação. Acrescida da matéria orgânica produzi- corporadas ao sistema.
disponível tem altos teores de sal? -la em atividades agrícolas e na criação de animais. Para da pelos peixes, a água contida nesse tanque é utilizada O potencial de utilização das águas salinas direta-
Sabe-se que o uso inadequado das águas salinas cau- que fique própria para o consumo humano, essa água para irrigar plantas resistentes ou tolerantes à salinidade, mente nas atividades produtivas também vem sendo
sa grandes prejuízos ao meio ambiente e à agricultura, passa por um processo de dessalinização, por meio de como a erva-sal, destinada à alimentação de animais. avaliado, como o uso para a dessedentação animal (local
provocando processos de salinização do solo. No entan- aparelhos com filtros bastante potentes. De acordo com Gherman Araújo, em um ano é pos- onde os animais matam a sede, podendo ser açudes, be-
to, estudos desenvolvidos em várias regiões do mundo “O uso dos dessalinizadores tem sido uma alternativa sível produzir cerca de 650 kg de peixe por tanque, e, bedouros, lagos ou açudes) ou para pequenas irrigações.
indicam que ela não é, necessariamente, uma vilã. Pelo em todo o mundo para se obter água de qualidade superior, aproximadamente, dez toneladas de forragem em apenas “Nós entendemos que a água salina é uma alternativa de
contrário, pode ser uma saída para regiões que não dis- visando atender à demanda de populações, especialmente um hectare. “Assim, além de fornecer água potável para a aumento da eficiência dos sistemas produtivos na região
põem de alternativa. em regiões com elevada escassez hídrica”, observa Gher- comunidade, o sistema também gera novas alternativas semiárida. Ela não é um problema, é uma alternativa
É o caso de muitas localidades do Semiárido brasilei- man Araújo, pesquisador da Embrapa Semiárido (Petroli- de produção e aumento da renda familiar, tudo isso com como solução para o incremento da produção familiar”,
ro, onde há um elevado potencial de águas subterrâneas, na, PE). No entanto, ele alerta que esse processo, além de a garantia da preservação do meio ambiente”, destaca. afirma Gherman Araújo.
mas que, em sua maioria, são salinas ou salobras. E é de permitir a obtenção de água potável, produz também um Esse sistema de uso integrado do rejeito do dessalini- Ele ressalta, no entanto, que esta água precisa ser usa-
zador tem sido utilizado como a principal tecnologia do da de forma sazonal e estratégica. A intenção, segundo ele,
Produção de peixes em tanques com águas dessalinizadas Programa Água Doce, do Governo Federal. Lançado em é explorar o ciclo das chuvas e fazer uma complementação
2004, ele vem sendo implantado em diversas comunida- com as águas salinas. “É preciso usá-las com conhecimen-
des rurais do Semiárido, beneficiando cerca de 100 mil tos técnicos, de forma racional e respeitando as caracterís-

FERNANDA BIROLO
pessoas em 154 localidades do Nordeste. ticas do solo, água, clima, plantas e animais”, ressalta. ◆

Produção de peixes em tanques com águas dessalinizadas

FERNANDA BIROLO
498 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 499
EMBRAPA EMBRAPA

DIVULGAÇÃO EMBRAPA
N
uma propriedade de 19 hectares no muni-
cípio da Prata, região do Cariri paraibano,

DIVULGAÇÃO EMBRAPA
a cerca de 300 km da capital João Pessoa, o
agricultor Anselmo Coelho da Silva cultiva milho, feijão,
gergelim, sorgo, melancia, jerimum (abóbora) e algo-
dão. Tudo na mesma área, sem nenhum tipo de agro-
tóxico ou adubo químico. As culturas alimentares são
para o consumo familiar e o sorgo para ração animal.
O algodão, que antes era vendido a preços mínimos na
região, hoje é exportado para a Europa pelo dobro do
preço do algodão convencional.
“Antes a gente vendia tudo em rama (pluma junto
com o caroço). Agora, o algodão é beneficiado na miniu-
sina da associação. A gente vende só a pluma. O caroço
fica para plantar no outro ano e para dar aos animais”,
lembra o agricultor. “Depois da colheita, os restos de
plantas que ficam no campo também são uma ração
muito boa para os bodes e ovelhas, até mesmo em tempo
de seca. Os animais estão se alimentando deles desde de-
zembro até hoje (início de março)”, acrescenta. A produção de algodão agroecológico é produto de exportação
Anselmo é um dos 400 produtores distribuídos nos
estados da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí Sob a coordenação do Projeto Dom Helder Câmara
e Pernambuco que cultivam o algodão em consórcios e Ministério do Desenvolvimento Agrário, em parceria
agroecológicos. A produção é negociada antecipadamen- com a Embrapa Algodão (Campina Grande, PB), o siste-
te com empresas do comércio justo de mercado orgâni- ma de produção do algodão agroecológico foi adaptado e
co. Antes de lançar a semente ao solo, o agricultor já sabe expandido para os demais estados.
para quem vai vender. “O contrato fica bom porque sem “Entre as melhorias que nós fizemos no sistema estão

Algodão em consórcios
comprador garantido a gente ia vender aos atravessado- adoção da cultivar de algodão BRS Aroeira e a introdu-
res e ter muito prejuízo”, conta Anselmo. ção do gergelim para atrair pragas, como a mosca branca
A organização dos pequenos produtores para o culti- e as formigas, para elas não atacarem o algodão. No fi-
vo, beneficiamento e negociação do algodão agroecológi- nal, os agricultores viram que além dos benefícios para
co foi viabilizada através do trabalho pioneiro do Centro o algodão, o gergelim ainda teve um ótimo rendimento

agroecológicos
de Pesquisa e Assessoria Esplar que, desde 1993, asses- (cerca de 600 kg para cada 1kg de semente plantada)”,
sora a Associação de Desenvolvimento Educacional e relata o pesquisador da Embrapa Algodão, Fábio Aquino
Cultural de Tauá (Adec), no Ceará, e mais recentemente de Albuquerque.
a Associação Agroecológica de Certificação Participativa Além de contribuir com a segurança alimentar e pro-
dos Inhamuns Crateús (Acepi) e a Associação de Certi- porcionar uma fonte de renda extra para os produtores

beneficia 400 famílias


ficação Participação Agroecológica do Sertão Central do da região Semiárida, outra vantagem do sistema de cul-
Ceará (Acepa), totalizando 64 produtores na última sa- tivo em consórcio é que aumenta a biodiversidade, redu-
fra. A produção foi de nove toneladas. zindo o problema de pragas, o que permite o plantio sem
“Em função dos últimos anos de seca, a produção foi o uso de agrotóxicos.

no Semiárido
bastante reduzida. Foram encomendadas cinco tonela-
das para cada associação, mas o contrato é bem flexível. Selo orgânico
Os produtores se esforçam para produzir, mas não quer Outra conquista importante para os produtores de
dizer que vão conseguir”, explica o fundador do Esplar, algodão agroecológico foi o credenciamento de oito asso-
pesquisador Pedro Jorge Lima. ciações pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste

500 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 501
EMBRAPA EMBRAPA

Conheça as associações certificadas

ADILSON NÓBREGA
cimento (Mapa) para utilizar o Selo do Sistema Brasileiro
de Conformidade Orgânica em seus produtos de origem
vegetal. O selo tem por objetivo ajudar o consumidor a Associação Agroecológica do Pajeú – ASAP/PE
identificar os produtos orgânicos que estão de acordo com Associação dos Produtores Agroecológicos do
as normas técnicas da produção orgânica. As associações Semiárido Piauiense – Apaspi/PI
foram credenciadas como Organismos Participativos de
Avaliação da Conformidade Orgânica (OPACs). Associação dos Agricultores e Agricultoras Agro-
Ao todo, oito OPACs foram credenciados pelo Mapa ecológicos do Araripe - Ecoararipe/PE
a partir dos esforços conjuntos do Projeto Dom Helder
Associação Agroecológica de Certificação Parti-
Câmara, Embrapa Algodão, Esplar e das famílias agricul-
cipativa dos Inhamuns Crateús – Acepi/CE
toras e suas associações.
Segundo o pesquisador Fábio Aquino, por meio desse Associação de Certificação Participação Agro-
sistema, o agricultor não precisa contratar uma empresa ecológica do Sertão Central do Ceará – Acepa/CE
certificadora. “O custo da certificação orgânica por uma
empresa privada no sistema convencional é muito alto e tor- Associação de Certificação Participativa do Ser-
na-se inviável para os pequenos produtores”, afirma. O siste- tão do Apodi – Acopasa/RN
ma participativo de garantia proporciona maior autonomia Associação de Certificação dos Produtores Agro-
para os agricultores familiares, que passam a acompanhar ecológicos do Cariri - Acepac /PB
todo o processo produtivo, com possibilidade de obter pre-
ços melhores na comercialização dos produtos certificados. Rede Borborema de Agroecologia/PB
Nesse processo, a certificação é acompanhada por
comissões de agricultores, que são responsáveis pela
inspeção nas áreas de outros agricultores integrantes do cia para todo o Semiárido. “Acreditamos que o fortale-
OPAC. Após a inspeção, o OPAC pode autorizar os pro- cimento dos OPACs é uma estratégia fundamental para
dutores cadastrados a utilizar o Selo do Sistema Brasilei- colocar os agricultores na linha de frente na gestão da
ro de Avaliação da Conformidade Orgânica. organização da produção e acesso a mercados, com a as-
O coordenador do Projeto Dom Helder Câmara, Fá- sessoria técnica desempenhando seu papel de apoiadora Na Rota do Cordeiro, rebanhos são negociados durante feira em Tauá (CE)
bio Santiago, avalia que a conquista do selo será referên- e facilitadora”, afirma. ◆

DIVULGAÇÃO EMBRAPA
Unidades de Aprendizagem
Familiar aumentam produção
de animais no Ceará
C
erca de 70% dos produtores de caprinos e jetos específicos voltados para o desenvolvimento so-
ovinos no Brasil são considerados agricul- cioeconômico de territórios e comunidades em que a
tores familiares. Ciente do impacto que esse agricultura familiar é representativa.
público tem para essas cadeias produtivas, a Embrapa Um desses projetos é o de implantação das Unidades
Caprinos e Ovinos (Sobral, CE), além de investir em de Aprendizagem Familiar (UAFs), por meio do Plano
tecnologias de fácil acesso e de baixo custo que possam Brasil Sem Miséria, nos territórios dos Inhamuns/Cra-
No plantio consorciado, os restos da colheita do algodão são usados na alimentação animal ser adotadas por esses produtores rurais, atua em pro- teús e Cariri cearense, em um trabalho de incentivo e

502 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 503
EMBRAPA EMBRAPA

valorização das potencialidades de agricultores familia- com o projeto, construiu juntamente com seus familia- acordo com o presidente da Associação de Moradores, iniciativa que associa o protagonismo dos agricultores
res como alternativa para segurança alimentar e busca res, um sistema de irrigação de gravidade que hoje per- Francisco das Chagas de Souza, o evento já faz parte do com o aumento da produção. O programa trabalha em
de mercados em âmbitos local e regional. A partir deste mite a manutenção de um quintal para verduras e horta- calendário anual de atividades e deve acontecer duas ve- todas as etapas da produção de leite caprino e das carnes
ano, entram em funcionamento 14 UAFs, onde a Embra- liças, como cebola e coentro. zes por ano (uma na época das chuvas e outra na estia- caprina e ovina, desde a criação dos animais até a comer-
pa Caprinos e Ovinos, em parceria com Embrapa Meio- As tecnologias de captação de água e de irrigação são gem) para que eles possam comparar os resultados. cialização dos produtos, colaborando para o desenvolvi-
-Norte (Teresina, PI), Embrapa Semiárido (Petrolina, a esperança de Paulo Gomes de Oliveira e da esposa Cí- No Sítio Areias do Boqueirão, os agricultores cria- mento das regiões beneficiadas, no Nordeste e no norte
PE) e Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Al- cera, habitantes de Catolé, distrito de Juazeiro do Nor- ram uma casa de sementes para preservar as espécies de Minas Gerais.
mas, BA), contribuem com capacitações e recursos para te (CE). Com a produção de verduras, vendidas para a nativas e diminuir a dependência do governo na época O programa está em fase de capacitação dos produto-
disponibilização de tecnologias para convivência com o Ceasa, a família conseguiu renda para reformar a casa e do plantio, além de um quintal produtivo e um roçado res beneficiados, com abordagens que incentivam o pro-
Semiárido, como cisternas, sistemas de irrigação e estru- diversificar a produção, adquirindo bovinos de leite. Mas agroecológico. Eles também fizeram o reflorestamento tagonismo de agricultores. Um exemplo foi o treinamen-
turas para produção animal. a expectativa é de incrementar ainda mais a renda, com a de uma área de mata ciliar degradada. Nas comunidades to sobre manejo sanitário e alimentação de rebanhos em
Cada UAF está sendo implantada em propriedade aposta principal da família para os novos tempos: o culti- São Francisco, Santo Antônio e Setor VI, os moradores período seco, realizado em Tauá (CE), onde agricultores
rural pertencente a um agricultor familiar dos territó- vo de pimenta. “É a melhor opção, porque você consegue estão aprendendo que não apenas o líder comunitário locais apresentaram suas experiências em uso de forra-
rios beneficiados e serve de referência a outros produ- preço bom e rende o ano todo”, explica Paulo. (ou a pessoa com mais idade e experiência), mas todos gens e outros procedimentos, abrindo o espaço de suas
tores de regiões próximas. Em alguns casos, os sistemas Realidade semelhante é relatada por Luciane Rodri- (incluindo os jovens e as crianças) podem participar ati- propriedades para outros produtores rurais participantes.
implementados serão utilizados como suporte para gues, agricultora do Sítio Boa Vista, em Ipueiras (CE), vamente desse processo. Um dos desdobramentos dessas capacitações foi a
uma produção coletiva de animais. É o caso de alguns que espera, com o funcionamento da irrigação, diversi- As cinco comunidades ficam no município de Sobral criação de novos canais de comercialização de caprinos
aviários projetados para a produção local de frangos ficar a produção de verduras e fazer com que a família (CE), são compostas por agricultores familiares e inte- e ovinos. Em setembro do ano passado, uma feira para
em algumas comunidades. fique menos dependente de programas governamentais. gram o Sustentare, outro projeto voltado para o público venda de animais em Tauá movimentou 16 produtores
Nas unidades, não há lugar somente para a criação A busca pelo mercado local é a aposta do produtor Ju- de produtores rurais em regime familiar. “O protagonis- beneficiados pelo programa. No total, foram comerciali-
de caprinos e ovinos, mas para galinha caipira e para arez Alcântara, do Sítio Pobre, em Farias Brito (CE). Com mo dos agricultores é um dos princípios orientadores zados 122 animais em dois dias de venda, gerando cerca
os quintais produtivos. Morador de Calumbi, distri- a produção de aves e verduras ele quer vender nas feiras, do processo estabelecido nas diferentes comunidades. de R$ 47 mil para os agricultores locais.
to de Tauá (CE), o agricultor Simão de Sena encontrou comércio e escolas. “E aí vou investindo”, anima-se. Assim, a utilização da metodologia de inovação social, “Foi bom demais, Deus queira que esse programa vá
no projeto oportunidades para montar um criatório de Na opinião de técnicos envolvidos no projeto, a expe- resultou em nova relação de poder, possibilitando aos para frente”, comemorou o produtor Marco Lima, que
aves e ver, aos poucos, sua realidade financeira passar riência das UAFs tem potencial para estimular o cresci- agricultores serem construtores do seu próprio desen- vendeu 11 animais na feira. “O produtor local enfrenta
por mudanças significativas. Com recursos do projeto, mento e melhorar a qualidade de vida das famílias. Para volvimento”, explica o pesquisador da Embrapa Jorge dificuldades na comercialização e a feira foi positiva.
montou, há dois anos, uma estrutura para a criação de Socorro Sampaio, assessora pedagógica da Empresa de Farias, líder do projeto. Proporcionalmente estamos com vendas melhores que o
aves e aquisição dos primeiros pintos. Hoje já são cem Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Emater- O Projeto Sustentare, que começou em 2012, utiliza Festberro”, avaliou o técnico Antônio Luís Martins, citan-
animais. A partir dos primeiros R$ 1.000,00 investidos, ce), que acompanha as atividades no Cariri Cearense, já um modelo de inovação social em seis etapas: Conhecer do uma das principais feiras agropecuárias locais. ◆
obteve retorno de R$ 2.500,00 e se tornou referência na se pode fazer um balanço positivo dos primeiros anos para atuar (diagnóstico); Planejar para fortalecer (pla-
vizinhança para compra da carne dos frangos e ovos das de atuação do projeto. “A virtude do projeto é dar um nejamento); Construir a sustentabilidade local (implan-
galinhas de seu quintal. “O pessoal vem aqui sabendo norte para que as famílias cresçam e possam continuar tação das ações); Monitorar e avaliar a sustentabilidade

ADRIANA BRANDÃO
que vai encontrar um alimento sadio”, afirma ele. caminhando, mesmo depois do fomento ser concluído. (monitoramento e avaliação); Gestão para a autonomia;
“Esse projeto é uma bênção que Deus nos mandou, Assim, elas têm oportunidade de produzir e aprender e Comunicação para o desenvolvimento.
estamos vivendo outra vida”, comemora Simão, des- sem sair do seu local de origem”, afirma. “Estamos no início de um processo de desenvolvi-
tacando que atualmente não tem mais necessidade de Nos próximos anos, as UAFs receberão outros agri- mento, com a reconfiguração de projetos de vida. Essas
comprar carne para alimentação da família e que, com cultores de localidades próximas, na expectativa de que práticas são sementes e brotos que emergiram a partir
os primeiros lucros, pretende investir para desenvolver conheçam os trabalhos praticados por seus vizinhos e da nossa abordagem. Refletem a capacidade de agir dos
sua atividade e ficar menos dependente do apoio de pro- possam adaptar as soluções tecnológicas e as práticas co- agricultores e possibilitarão a construção de um novo ce-
gramas de desenvolvimento. “Meu plano é ter aqui cem tidianas às suas realidades. nário para a realidade rural”, afirma Farias.
galinhas para pôr e construir uma chocadeira para pro-
dução de pintos e não precisar mais comprar de outro Projeto Sustentare e Rota do Cordeiro se Rota do Cordeiro
produtor”, ressalta Simão. integram às ações do Plano Brasil Sem Miséria A Rota do Cordeiro, programa do Ministério da Inte-
A avicultura é, para Simão, uma boa alternativa para Em novembro de 2013 e maio de 2014, os moradores gração Nacional, em parceria com Embrapa, a Compa-
uma das regiões mais secas do Estado do Ceará, mas de Pé de Serra do Cedro (Sobral/CE) organizaram feiras nhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
mesmo assim ele não deixa de buscar a diversificação: para comercializar produtos da própria comunidade. De do Parnaíba (Codevasf) e outros parceiros locais, é outra Agricultores participam de encontro para intercâmbio de conhecimentos

504 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 505
EMBRAPA EMBRAPA

Barragem subterrânea e cisterna 2


014 foi um ano diferente na vida de dona Valde- nomias, comprou uma pequena bomba elétrica, algumas
te Maria Rodrigues Tolentino e de seus três fi- centenas de metros de mangueiras e integrou essas fon-
lhos: Ana Noélia, 15, Noé, 14, e André, 12. Che- tes num sistema simples de irrigação para duas pequenas

calçadão mudam vidas de garam os dias de chuva, passaram os dias de chuva, veio
o tempo seco, e o esposo e pai, Paulo Lima Tolentino, não
precisou se ausentar de casa no Sítio Romão, na área seca
hortas. Deu tão certo que passou a não se ausentar da
propriedade para garantir o sustento das famílias.
Agora, é um trabalho sem fim na sua terra, tratando

famílias do Semiárido
do município de Petrolina (PE), e ir trabalhar a muitos da produção de tomate, coentro, alface, cebola, cebolinha,
quilômetros de casa para garantir o sustento da família. pimenta-de-cheiro, pimentão, beterraba, salsa, cana de
Outubro chegou ao fim e ele permaneceu na sua roça açúcar, feijão, melancia, abóbora, batata doce e macaxeira.
colhendo os frutos da infraestrutura hídrica que passou Cem plantas de uma, noventa plantas de outra, três cantei-
a dispor: uma barragem subterrânea e uma cisterna de ros dessa, duas colheitas daquela... Tem a que não vai bem,
52 mil litros. Em 2013, nessa mesma época, era assala- quando o sol esquenta muito, a que tem muita procura, a

MARCELINO RIBEIRO
riado e morava sozinho em uma propriedade de área ir- que provoca admiração: “pense numa coisa gostosa!”
rigada do município onde se desdobrava no manejo de E, assim, seguem seu Paulo e dona Valdete: alimen-
culturas como uva, manga e macaxeira. A casa “ficava tação da casa garantida e, ainda, ajudando “uns amigos
uma tristeza”, diz Dona Valdete. que precisam”. A produção tem sido tão além do neces-
Também em 2013, ainda sob o efeito da pior seca a sário para eles e os três filhos que algumas vezes por se-
se abater sobre a região Nordeste nos últimos 50 anos, as mana carregam a moto de verduras e hortaliças e saem
poucas chuvas frustraram as safras de milho e de feijão a vender pela vizinhança do Sítio Romão. “Não tem para
em praticamente tudo que é canto do Sítio Romão. quem queira”. E já começam a pôr no horizonte de tra-
Na propriedade de seu Paulo, na área da barragem balho um mercado maior, o da feira de Rajada, a sede do
subterrânea, passou o “inverno” (período chuvoso no Nor- distrito onde moram.
deste), entrou o mês de agosto e dona Valdete ainda tinha Ao longo do ano, com os ajustes e acertos no manejo
uns pés de cana-de-açúcar, algumas abóboras e frutos de dos plantios, a preocupação de ambos começou a evoluir
melancia que tirava para alimentar a família e uma parte do manejo das culturas para se concentrar em quais são
levava para comercializar nas feiras livres. “É uma situação as mais procuradas, as que dão um “retorno mais rápi-
parecida com a que tem hoje. Aliás, hoje está melhor”. do”, ou que dão um “retorno bom”. Segundo o seu Paulo,
Primeiro, além da barragem subterrânea, a família o que tem tirado da roça “é mais do que tinha” quando ia
passou a dispor de uma cisterna de 52 mil litros – um trabalhar nas áreas de fruticultura dos perímetros irriga-
benefício do Programa Brasil Sem Miséria. Além disso, dos de Petrolina (PE).
precavido, seu Paulo aumentou um pouco mais a estru- Dona Valdete tem fé que, agora, não vai ficar mais
tura de armazenamento com a instalação de uma caixa só com os filhos cuidando da propriedade. Seu Paulo
d’água de 3 mil litros. também acha que deixou pra trás os dias de morar sozi-
Depois, antevendo oportunidades de melhorar a se- nho na companhia de apenas “dois pitbulls”. “Ô dinheiro
Seu Paulo e dona Valdete: alimentação da casa garantida
gurança alimentar e a renda da família, juntou umas eco- abençoado esse das hortaliças”, diz. ◆

506 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 507
EMBRAPA EMBRAPA

de Petrolina (PE), conta que melhorou muito a alimen- pinha, 293 de limão e 123 de mamão. Isso significa uma
tação da família, e até dos vizinhos, com o cultivo de um média de 2,5 quilos de frutas por dia. “É mais do que

FERNANDA BIROLO
pomar doméstico. E se alegra com a possibilidade de ter uma família média de cinco pessoas consegue consumir
um suco natural todos os dias, sem precisar comprar. no dia a dia, o que significa que ainda pode gerar exce-
Benedita Santana, do mesmo município, se orgulha dente para ser comercializado e complementar a renda
da variedade de frutas que agora tem em seu quintal: “É dos produtores”, afirma Luiza.
caju, manga, acerola, graviola, romã, todas sem agrotó- Esses dados foram coletados em 2011, quando o ín-
xico”, destaca. dice de chuva no local foi de 590 milímetros. Já em 2012,
Diante de tamanha escassez de água que se verifica um ano caracteristicamente de seca, foi registrado me-
na região, o que se consegue com o auxílio das cisternas nos de um terço desse volume, apenas 149 milímetros.
é um verdadeiro milagre. Estudos realizados pela Em- Ainda assim, e utilizando parte da água armazenada na
brapa Semiárido mostram que é possível conseguir uma cisterna desde o ano anterior, conseguiu-se obter um to-
produção de 165 quilos de manga em um ano utilizando tal de 550 quilos de frutas para consumo da família.
apenas 471 litros de água. Em comparação, a produção Se bem manejada, a água armazenada em uma cister-
irrigada da fruta na mesma região requer a aplicação de, na de 52 mil litros é suficiente para manter um pequeno
aproximadamente, 200 litros por dia. “A proposta aqui é pomar, com cerca de 20 fruteiras, além de dois a quatro
suprir somente o mínimo necessário para a planta sobre- canteiros de hortaliças. Já no caso de a opção ser para o
viver”, explica a pesquisadora. consumo animal, a mesma quantidade pode atender um
Em um ano típico de chuva foi possível obter 929 qui- rebanho em torno de 40 a 50 cabeças de caprinos ou ovi-
los de frutas, sendo 233 de manga, 148 de acerola, 130 de nos durante o ano inteiro. Só com água vinda do céu. ◆

Cisternas garantem

FERNANDA BIROLO
água para o Semiárido
N
o Semiárido Nordestino são inúmeras as para a produção de alimentos como frutas e hortaliças,
localidades que não contam com fontes per- ou para consumo animal.
manentes de água doce, como rios, lagos, “As famílias precisam ter consciência de que cada
açudes e poços. Nesses casos, a pouca água que existe cisterna tem um uso específico, e estes não podem fi-
vem do céu. Por isso, a busca por alternativas para tor- car misturados”, ressalta a pesquisadora Luiza Brito, da
nar possível a vida e a produção passa, necessariamente, Embrapa Semiárido (Petrolina, PE). Por isso é que, para
pelo aproveitamento das poucas e mal distribuídas chu- ter uma cisterna de produção, as famílias precisam já ter
vas que caem na região. Para coletá-las, uma das mais uma de consumo. Essa é a premissa das políticas públi-
difundidas tecnologias é a cisterna, que armazena a água cas do Governo Federal voltadas para a captação de água
captada através dos telhados das casas para ser utilizada de chuva: o Programa Um Milhão de Cisternas, que des-
ao longo do ano. de 2003 já construiu mais de 500 mil delas, beneficiando
Essas construções já fazem parte da paisagem rural cerca de 2,5 milhões de pessoas com água para consumo;
da região, presente em grande número de domicílios. e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que ga-
Com capacidade de armazenamento de 16 mil litros, ela rante a água para a produção.
garante às famílias água potável para beber e cozinhar. Já Os benefícios podem ser confirmados pelos produto-
uma cisterna maior, de 52 mil litros, pode ser utilizada res que adotaram a ideia. A agricultora Alaíde Ferreira, Com as cisternas de produção, famílias do Semiárido produzem frutas para consumo e venda do excedente

508 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 509
EMBRAPA EMBRAPA

A
s políticas públicas para a convivência no quintais das residências. “Desde que os agricultores ado-

Agricultores melhoram
Semiárido têm aproximado as estratégias taram essa prática, o impacto na segurança alimentar foi
produtivas e de interação de conhecimentos muito positivo”, destaca Gilmar.
entre os agricultores e suas organizações e as instituições “Antes, eles precisavam se deslocar para as cidades
de pesquisa e de desenvolvimento. O resultado é o cresci- e comprar verduras. Hoje, basta colher um alimento de

estrutura de produção
mento da renda e da segurança alimentar de um número qualidade, orgânico, bem ao lado de casa. Melhora a co-
cada vez maior de famílias e de comunidades rurais nas mida e a renda, pois só deixar de comprar as hortaliças,
áreas secas da região Nordeste. já é uma boa economia”, complementa.
Para o técnico em agropecuária, Gilmar Ferreira
Martins, do Serviço de Assessoria a Organizações Popu- Intercâmbio de conhecimentos

em áreas de fruteiras e
lares Rurais (Sasop), há informações técnicas que podem A visita à Embrapa Semiárido que grupos de agricul-
ser apropriadas pelos sistemas de cultivos e que ajudam tores realizam para o intercâmbio de conhecimentos con-
a melhorar o desempenho produtivo e o manejo de tec- tribui para aprimorar a visão de que é possível produzir
nologias financiadas com recursos de programas so- com a quantidade de água que os agricultores passaram a
ciais, por exemplo, o Programa P1+2 (Uma Terra, Duas acumular nas suas terras com o uso de novas tecnologias.

hortaliças Águas), de acesso e manejos sustentáveis da terra e da


água para consumo e para a produção de alimentos.
Para um grupo de 34 agricultores, beneficiários do
P1+2 nos municípios baianos de Campo Alegre de Lur-
des, Pilão Arcado e Remanso, o intercâmbio de informa-
Chefe-Adjunto de Transferência de Tecnologia, o en-
genheiro agrônomo Sérgio Guilherme de Azevedo consi-
dera que a recepção de visitas é uma forma de a Embrapa
Semiárido prestar contas à sociedade. É também “uma
grande ferramenta de prospecção e qualificação de de-
ções com pesquisadores e técnicos potencializa a infra- mandas de transferência de tecnologias e de pesquisa”.
estrutura hídrica instalada nas pequenas propriedades: Além disso, nos projetos em execução existe a preocu-

MARCELINO RIBEIRO
cisternas de 16 e 52 mil litros e os barreiros trincheira pação de desenvolver conhecimentos e técnicas em condi-
com capacidade para acumular cerca de 500 mil litros. ções próximas às que os agricultores das áreas de sequeiro
possuem. Dessa forma, as visitas são oportunidades para
Água durante todo o ano os agricultores observarem como pode ser viável a adoção
Na área de estudos dessas tecnologias no Campo Ex- de determinadas tecnologias em suas propriedades. ◆
perimental da Caatinga, da Embrapa Semiárido (Petro-
lina,PE), cisternas com essas dimensões são interligadas
a um sistema de mangueiras que, gota a gota, distri-

MARCELINO RIBEIRO
bui água para abastecer pomares com 30 e 50 fruteiras
(manga, mamão, acerola, citros, pinha e caju).
Ao longo do ano, as quantidades de água distribuídas
têm como referência a elevação da temperatura e a con-
sequente evaporação da umidade do solo. Na época das
chuvas, há um determinado volume de água disponível
para as plantas, e nos meses posteriores, aumenta-se o
volume. E quando ocorre o aumento da temperatura e a
evaporação se intensifica, a quantidade de litros de água
ofertados às fruteiras torna-se ainda maior. Com essa
estratégia de manejo, as plantas sobrevivem ao período
seco e o pomar não deixa de produzir.
Nas propriedades dos agricultores atendidos pelo
Sasop, as cisternas também são usadas na diversificação
de cultivos, especialmente para produzir hortaliças nos Visita à Embrapa Semiárido (Petrolina,PE)
Sistema para irrigação de hortaliças

510 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 511
EMBRAPA EMBRAPA

da agricultura familiar no Território Vale do Guaribas, às tecnologias, o bom acesso ao local e o relacionamen-
mais conhecido como Projeto Brasil Sem Miséria da Em- to com a vizinhança. Já os municípios foram escolhidos
brapa Meio-Norte, em execução no semiárido piauiense, tendo-se por base a boa localização geográfica em rela-

Famílias encontram vem promovendo diversas ações voltadas para o forta-


lecimento dos sistemas de produção agropecuários na
região. Além de contribuir para a melhoria da qualidade
ção aos demais.
De acordo com o coordenador do projeto, José Alves
da Silva Câmara, analista da Embrapa Meio-Norte (Te-

alternativas para aumentar


de vida das famílias, possibilita o aumento da produção resina,PI), estão em funcionamento oito Unidades de
nas propriedades. Aprendizagem Familiar, sendo uma em Simões, duas em
Picos, uma em Padre Marcos, uma em Pio IX, duas em

produtividade de grãos e frutas


Cursos e treinamentos Paulistana e uma em Jaicós.
Para capacitar os agricultores no uso de novas tecno- Câmara destaca a importância da participação das
logias, foram ministrados vários cursos e treinamentos. instituições de assistência técnica no projeto. “Espera-se
Entre eles destacam-se cursos sobre sistema de produção que os parceiros, principalmente as empresas de assis-
para culturas alimentares, hortaliças, criação de ovinos e tência técnica, levem as tecnologias demonstradas para

E
rasmo Enéas Macedo, 55, e Sofia da Cruz Ma- a maior parte proveniente do Rio Itaim ou de cisternas. sistema integrado alternativo para produção de alimen- outros municípios do Território, já que a Embrapa não
cedo, 43, do Sítio Alto Novo, em Paulistana, O casal, no entanto, não desiste de procurar alternativas tos, o Sisteminha Embrapa. possui a capilaridade necessária para difundir as tecno-
interior do Piauí, se dividem, junto com os seis para manter suas plantas e animais produzindo. Assim O PBSM, executado há três anos, conta com recursos logias em toda a região”, ressalta.
filhos, nos cuidados com a lavoura e a criação de animais como outras famílias, desde 2012, participam de cursos e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Por meio As tecnologias difundidas buscaram, inicialmen-
na propriedade. A família planta feijão, milho, sorgo, dias de campo realizados pelo PBSM e conseguiram ado- da construção participativa de alternativas tecnológicas, te, garantir a segurança alimentar das famílias. Nesse
gergelim e palma forrageira, além de manter a criação tar algumas tecnologias apresentadas durante os eventos. visa garantir, de forma gradativa, a inserção produtiva e sentido foram melhorados os sistemas de produção do
de gado e de ovelhas. Após o ingresso no projeto Plano “A gente gostou muito de trabalhar com a palma. melhoria da renda e da qualidade de vida dos agriculto- feijão-caupi, milho, mandioca, hortaliças e também das
Brasil Sem Miséria (PBSM), passou a cultivar também Também foi bom aprender a fazer a silagem, que tem res. Outra meta é reduzir a carência de água das famílias criações de ovinos, caprinos, suínos, galinhas caipiras e
fruteiras como goiaba, abacate, cajá e acerola, esta última ajudado muito com a alimentação dos animais na seca”, por meio de alternativas de captação de água de chuva de peixes em um sistema alternativo. Foram introduzi-
já produzindo frutos. destaca o agricultor. para uso humano e animal. das forrageiras como mandacaru sem espinhos, leucena,
A região onde Macedo vive com a família é constan- Com ações previstas até julho de 2015, o projeto Ino- gliricídia, palma miúda em plantio adensado, moringa e
temente castigada pelos efeitos da seca. A água é escassa, vação participativa de tecnologias para o fortalecimento Unidades de Aprendizagem Familiar sabiá. Os agricultores também receberam mudas frutí-
Uma das estratégias de atuação do projeto é a trans- feras de manga, ata, graviola, cajá, acerola, abacate, ma-
Produção de Palma em Paulistana (PI) ferência de tecnologia por meio de Unidades de Apren- mão, caju e maracujá silvestre.
dizagem Familiar (UAFs), instaladas em propriedades Território Vale do Guaribas - O Território Vale do
rurais familiares. As UAFs reúnem um conjunto de ativi- Guaribas (PI) abrange uma área de 22.822,40 Km² e é

DIVULGAÇÃO EMBRAPA
dades tradicionalmente realizadas pelas famílias e outras composto por 39 municípios. A população total do ter-
com potencial para serem desenvolvidas na região. ritório é de 340.286 habitantes, dos quais 180.816 vivem
As famílias e propriedades foram selecionadas para na área rural, o que corresponde a 53,14% do total. Pos-
a instalação das Unidades levando-se em consideração sui 47.428 agricultores familiares, 1.193 famílias assen-
a existência de uma estrutura mínima que possibilitasse tadas e 20 comunidades quilombolas. O IDH médio da
as ações de transferência de tecnologias, a receptividade região é de 0,60. ◆
Agricultores participam de curso de silagem em Unidades de Aprendizagem Familiar

DIVULGAÇÃO EMBRAPA
512 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 513
EMBRAPA EMBRAPA

mento sobre as tecnologias que serão utilizadas. As par- de irrigação que levará a água da cisterna aos pomares
cerias celebradas com o Ministério do Desenvolvimento foram adquiridos com recursos do PBSM.
Social e Combate à Fome (MDS), o Ministério do Desen- Segundo Ênio Girão, pesquisador da Embrapa

RICARDO MOURA
volvimento Agrário (MDA), o Instituto Nacional de Co- Agroindústria Tropical, o projeto de Inovações Tecnoló-
lonização e Reforma Agrária (Incra), a Fundação Banco gicas vem gerando resultados visíveis em pouco tempo:
do Brasil (FBB), o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), o “No caso dos quintais produtivos, as famílias recebem
Sebrae, agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural, uma cisterna com capacidade de 52 mil litros para arma-
dentre outros, têm garantido a ampliação dos recursos zenar água da chuva que servirá para irrigar as fruteiras
humanos e financeiros, de forma a assegurar o fortaleci- e hortaliças. Há produtores que já estão lucrando com
mento da agricultura familiar e de assentamentos rurais. essa atividade e que atualmente vivem do cultivo de hor-
Os quintais produtivos consistem na articulação entre tas”, ressalta.
as cisternas de enxurrada e um sistema de irrigação que Para Helenira Ellery, pesquisadora da Embrapa
permite ao agricultor contar com fornecimento de água Agroindústria Tropical, o trabalho feito com agricul-
ao longo de todo o ano. Na localidade de Sítio Merejo, no tores familiares geralmente é iniciado com tecnologias
município de Doutor Severiano (RN), o agricultor Cícero simples e de baixos custos, sendo acessíveis para essas
Antonio Correia de Oliveira, 35, se anima ao falar da pro- famílias e facilmente reaplicáveis, favorecendo os bons
dução de frutas. São elas que podem finalmente tornar resultados e a continuidade do trabalho realizado. As fa-
sua atividade sustentável. Desde jovem, Cícero planta fei- mílias contam com a assistência técnica da Cooperativa
jão, milho e tomate sem obter muito sucesso. As perspec- de Trabalho para o Desenvolvimento Sustentável do Alto
Quintais produtivos ampliaram a renda do agricultor Cícero Oliveira tivas melhoraram quando ele passou, juntamente com o Oeste Potiguar (Codesaop), um dos parceiros da Em-
irmão, a produzir laranja, banana, goiaba e graviola. brapa nesse projeto. “Os quintais produtivos têm sido o

Quintais produtivos
Atualmente, o agricultor obtém entre R$ 2 e R$ 3 mil grande destaque desse trabalho no Alto Oeste Potiguar e
com a venda das frutas. Um grande aliado, nesse sen- isso se deve ao fato de que a região tem uma boa propen-
tido, é a compra do alimento pela Companhia Nacional são para fruticultura. O que chama atenção nesse proces-
de Abastecimento (Conab) e pela prefeitura a fim de so é a simplicidade de como é feito. Trata-se de uma tec-
que seja utilizado na merenda escolar. O crescimento da nologia social largamente estudada que evita desperdício

ampliam renda de
produção ocorre de maneira sustentável com o forneci- de água, trazendo um maior grau de satisfação já que é
mento regular de água. A cisterna de placa e o sistema realizada no semiárido,” destaca a pesquisadora. ◆

HELENIRA ELLERY
agricultores
N
o Brasil, cerca de 16,2 milhões de brasileiros dústria Tropical (Fortaleza,CE) vem implantando tecno-
encontram-se abaixo da linha da pobreza, vi- logias sociais para a inserção produtiva de 880 famílias do
vendo com menos de R$ 70 por mês per ca- território do Alto Oeste Potiguar (RN) por meio do Pro-
pita. A maioria desse universo de pessoas vive na região jeto de Inovações Tecnológicas para Agricultura Familiar.
Norte e Nordeste. O Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) Fogões ecoeficientes, fossas verdes e quintais produ-
visa agregar transferência de renda, acesso aos serviços tivos são as primeiras tecnologias selecionadas. As ações
públicos e inclusão produtiva por meio da incorporação foram iniciadas em setembro de 2012, quando 80 técni-
de tecnologias sociais e produtivas. A Embrapa Agroin- cos de assistência técnica da região receberam treina- Tecnologia da Embrapa garante irrigação em pomares e hortas

514 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 515
EMBRAPA EMBRAPA

EUGÊNIA RIBEIRO
Sisteminha Embrapa leva
segurança alimentar para
famílias de Parnaíba (PI)
H
á cerca de três anos a realidade da família O Sistema Integrado de Produção de Alimentos, o Sis-
de Delzione Barros Santos, moradora do teminha Embrapa, teve sua unidade piloto implantada em
Assentamento Cajueiro, em Parnaíba (PI) 2012, na Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvi-
começou a mudar quando o então marido, José Santos, mento da Parnaíba, coordenada pela Embrapa Meio-Nor-
conheceu o Sistema Integrado de Produção de Alimen- te. E mesmo funcionando há pouco tempo, já é possível
tos, tecnologia desenvolvida pela Embrapa, mais co- observar alguns casos de sucesso envolvendo essa tecnolo-
nhecida pelo nome de Sisteminha Embrapa. gia de produção integrada de alimentos que consiste num
Antes de instalar a tecnologia no quintal de sua rodízio de produção que envolve a produção integrada de
casa, ela e a filha Danielli, ambas pescadoras artesanais, frutas, hortaliças, aves, pequenos animais e peixes, com a
passavam os dias pescando, à procura de peixes nas la- recirculação de nutrientes a partir da criação de peixes.
goas e rios da região. “Antes a gente ia para o rio tentar Dias depois de conhecer a tecnologia, a família de
a sorte. Às vezes até três dias seguidos e não pegava o Delzione fez um empréstimo para a compra do material
suficiente para um almoço. Agora estamos em casa e necessário para a instalação dos tanques destinados à
quando a gente quer comer um peixe, é rapidinho. Bas- piscicultura e solicitou à Embrapa o apoio para implan-
tar ir ao quintal e pegar em um dos tanques. É muito tação e manutenção do Sisteminha. Eles iniciaram o tra-
melhor do que ir tentar a sorte nos rios e ainda correr balho com a instalação de um tanque feito de galhos de
risco de ser pega por uma arraia ou pegar alguma do- madeira, papelão e plástico, e com a criação de galinhas
ença de pele”, comenta Danielli. e cultivo de hortaliças.

516 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 517
EMBRAPA EMBRAPA

Mesmo com a separação do casal em 2014, Delzione, de fome. “Era muito sacrifício por quase nada. Esse traba- porção do pescado produzido semanalmente, além de
a filha, Danielli, e o neto Ítalo, prosseguem com as ativi- lho representa o fim de muitas coisas ruins que a gente já proporcionar a produção de uma ampla variedade de

EUGÊNIA RIBEIRO
dades e já ampliaram os tanques para criação de peixes passou”, conclui. vegetais que são irrigados com seus efluentes e resíduos
e produção de outros alimentos. Atualmente, a família sólidos gerados”, Esses e outros resíduos orgânicos tam-
tem cinco tanques, alguns de taipa, outros de tijolos (não Dinâmica de funcionamento da tecnologia bém são destinados à criação de minhocas, onde ocorre
mais de galhos e papelão), e produzem tilápia, ovelhas, O Sistema Integrado de Produção de Alimentos, Sis- a transformação do material em húmus, que retorna ao
galinhas poedeiras e de corte, porquinhos da índia e teminha Embrapa, utiliza a piscicultura intensiva prati- cultivo dos vegetais.
codornas. Fazem compostagem e têm um minhocário, cada em pequenos tanques construídos com materiais O Sisteminha Embrapa - idealizado por Guilherme
além disso, plantam milho, hortaliças (tomate, couve, diversos, como papelão e plástico. O tanque para a pro- durante tese de doutorado na Universidade Federal de
alface, cenoura, cebolinha etc), fruteiras e capim para dução de peixes tem capacidade para 5 mil litros de água. Uberlândia, em Minas Gerais, ganhou recentemente
alimentar os animais. O sistema de produção deve ser montado em lotes de 100 dois prêmios nacionais, um da Embrapa e outro da
Para Delzione e Danielli, a presença do Sisteminha a 1000 metros quadrados. Fundação Banco do Brasil. Também recebeu dois prê-
em suas vidas representa a garantia de dignidade. Am- Segundo o pesquisador da Embrapa Meio-Norte, mios internacionais, o Red Innovagro, em Córdoba, na
bas reiteram que foi a partir do início desse trabalho que Luiz Carlos Guilherme, a partir da recirculação dos Espanha, e outro pela Academia de Ciências de Cuba.
deixaram de viver de favores de parentes e passaram a se nutrientes provenientes do tanque de peixes, é possível Estão em andamento dois projetos de Cooperação
autossustentar. “Já comprei uma moto para vender a sobra obter um sistema de produção integrado e escalonado Técnica Internacional na Plataforma MarketPlace, na
da produção na cidade e outro dia fui ao cinema. Agora eu de frutas, hortaliças, aves e pequenos animais, e todos África - um em Gana e outro em Uganda, no formato
posso pagar. Antes eu era invisível. Com o que ganhamos os módulos se beneficiam, em algum momento, da tradicional do Sisteminha, e outro para testar o uso da
trabalhando, podemos nos alimentar bem e temos uma produção de nutrientes do tanque de peixes, capaz de energia solar. ◆
vida melhor do que antes”, comenta Danielli, acrescentan- produzir cerca de 25 quilos de tilápia em três ciclos por
do que o Sisteminha representa para ela o fim de uma era ano. Ao final de cada ciclo, os peixes chegam a pesar de Com o Sisteminha Embrapa é possível produzir peixes, galinhas, ovelhas, hortaliças e grãos e ainda
obter húmus com a instalação de um minhocário
150 a 200 gramas.
O pesquisador explica que os módulos de produção
são organizados de acordo com a disponibilidade e in-
EUGÊNIA RIBEIRO

EUGÊNIA RIBEIRO

EUGÊNIA RIBEIRO
teresse do produtor, podendo variar entre hidroponia,
horticultura, criação de aves, criação de minhocas, com-
postagem, produção de frutas, etc.
Até outubro de 2014 haviam sido instaladas 37 uni-
dades do Sisteminha, a maioria no Piauí e Maranhão,
onde foram beneficiadas, principalmente, famílias em
situação de fome e comunidades indígenas. De acordo
com Luiz Carlos Guilherme, o Sisteminha não tem como
objetivo principal o lucro, mas a segurança e soberania
alimentar. “O tanque alimenta uma família com uma
EUGÊNIA RIBEIRO

EUGÊNIA RIBEIRO

518 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 519
Itaipu Binacional
ITAIPU ITAIPU

Cultivando Água Boa:


o programa que “pode mudar
a vida de milhões de pessoas”
O
secretário-geral da Organização das Nações

Itaipu Binacional
Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, disse que o
Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Bi-
nacional, “é uma iniciativa que tem potencial para trans-
formar a vida de milhões de pessoas, porque apresenta
possibilidades extraordinárias”. A declaração foi lida no
dia 30 de março, na sede da ONU, em Nova York, na so-
lenidade de entrega do Prêmio Água para a Vida 2015.
O Cultivando Água Boa (CAB), desenvolvido na
Bacia do Paraná 3, no Oeste paranaense, conquistou o

Agricultura familiar
primeiro lugar na categoria “Melhores práticas em ges- Itaipu recebe prêmio pelo CAB
tão da água”, concorrendo com 40 iniciativas de todos
os continentes. O diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge lantes, é uma distinção que vai dar ainda mais força para
Samek, o diretor-geral paraguaio, James Spalding, e o di- continuarmos nesse caminho.”

com sustentabilidade
retor de Coordenação, Nelton Friedrich, participaram da Nelton Friedrich também destacou a importância da
cerimônia de entrega da premiação. premiação, “que marca a nossa vida e a de todos os nossos
No comunicado, o secretário-geral da ONU disse que parceiros”, lembrando que a gestão do programa é coletiva.
“é uma honra dar esse prêmio à Itaipu, porque vocês fi-
zeram por merecer”. Ban Ki-Moon visitou a usina no co- Gestão da água
meço de 2015, quando teve a oportunidade de conhecer No total, participaram do prêmio dez práticas inscritas Iniciativas da Itaipu dão suporte para que pequenos produtores se desenvolvam
de perto várias iniciativas socioambientais. pela Europa, 11 pela África, 20 pela Ásia, 23 pela América
A chancela da ONU, a mais importante para a Itaipu Latina e Caribe e um pela Oceania. O Brasil inscreveu sete nos três fundamentos da sustentabilidade: ambiental, social e econômico
na área ambiental, soma-se a diversos outros prêmios já trabalhos. A escolha das melhores práticas foi feita por um

N
conquistados pelo CAB. Uma placa alusiva ao prêmio foi comitê especial da ONU, formado por especialistas em o ano de 2003, a Itaipu Binacional passou gião da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná Parte 3 – BP3
entregue por Blanca Elena Jiménez-Cisneros, secretária meio ambiente, água e desenvolvimento sustentável. por uma revisão de seu planejamento estra- (a parte da região Oeste do Paraná e Sul do Mato Grosso
do Programa Internacional de Hidrologia da ONU. Criado em 2010, o Prêmio da ONU para as “Melhores tégico. A empresa, uma das maiores produ- do Sul conectada com o reservatório da usina por meio
Em seu discurso de agradecimento na sede da ONU, práticas em gestão da água” tem como objetivo promover toras de energia limpa e renovável do planeta, incluiu em da rede hídrica).
Samek afirmou que o prêmio “é o reconhecimento ao esforços para atingir os compromissos internacionais com sua missão a responsabilidade socioambiental e o estí- Foi nesse momento que nasceu o Programa Cultivan-
compromisso e ao esforço conjunto de uma extensa rede a água e questões relacionadas, estabelecidos para 2015, mulo ao turismo e ao desenvolvimento tecnológico em do Água Boa, hoje o principal programa da binacional,
de parceiros, com os quais compartilhamos esta distinção”. reconhecendo os programas que garantem a gestão da sua região de influência. premiado no Brasil e no exterior.
Na mesma linha, Spalding disse que, para a Itaipu, água e do desenvolvimento sustentável, a longo prazo. Esse compromisso se traduziu em uma série de pro- Como a água é matéria-prima para a geração de ener-
esse é um reconhecimento a um trabalho desenvolvido Conheça, nas próximas páginas, algumas práticas do jetos destinados a sanar passivos ambientais e sociais e gia, a Itaipu elegeu esse elemento como fundamento de
há mais de uma década. “Ser escolhido entre 40 postu- Cultivando Água Boa. ◆ estabelecer novos meios de produção e consumo na re- suas ações socioambientais. Cuidar da água tendo em

520 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 521
ITAIPU ITAIPU

coletivos nas microbacias, com a adoção de técnicas de Um dos resultados práticos é que, hoje, graças ao in-
produção que viabilizem a sustentabilidade econômica, centivo dado pelo Programa Nacional de Alimentação

Itaipu Binacional
ambiental e social das propriedades rurais – meta de Escolar à aquisição direta, 40% dos alimentos consumi-
uma das principais iniciativas do CAB, o Desenvolvi- dos nas escolas municipais dos 29 municípios são produ-
mento Rural Sustentável. zidos por agricultores familiares da BP3.
O programa apoia a difusão do sistema de produção O programa também atua no apoio à pesquisa, de-
agroecológica através de uma rede de Assistência Téc- senvolvimento e ensino da agricultura familiar e orgâ-
nica e Extensão Rural (ATER) voltada para a produção nica, atendendo às demandas da região. Essa linha de
orgânica e em conversão. O acesso à rede é gratuito para atuação é viabilizada através de convênios com a Uni-
todos os agricultores familiares da área. A rede baseia-se versidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) para
na difusão de práticas sustentáveis de produção, focada a capacitação de professores, pesquisadores e alunos, e
em arranjos produtivos locais. Essa difusão é viabilizada através da participação na Rede Paranaense de Pesquisa
através de contratos e convênios formais entre as orga- em Agroecologia. A iniciativa também apoia a inovação
nizações patrocinadoras (Itaipu e prefeituras) e as or- tecnológica, como o uso da homeopatia na agropecuária,
ganizações executoras e parceiras (Centro de Apoio ao cursos, seminários e publicações.
Pequeno Agricultor – CAPA, Cooperativa de Trabalho Outra linha de atuação é o fortalecimento do processo
e Assistência Técnica do Paraná – Biolabore e Emater), de certificação e comercialização de produtos orgânicos e
atendendo a todas as associações e cooperativas de agri- da agricultura familiar, que se dá através do associativismo
cultores parceiras do projeto. e do cooperativismo. É realizado através do apoio à criação
de uma marca regional (Vida Orgânica), que é adminis-
trada pela Cooperativa Agroecológica e da Agricultura
Familiar (Cooperfam), e do incentivo à participação das

Itaipu Binacional
cooperativas em eventos nacionais e internacionais para
capacitação técnica e divulgação de produtos.
O Programa Desenvolvimento Rural Sustentável
também estimula a divulgação dos benefícios da pro-
Recomposição de matas ciliares: uma das muitas iniciativas do Programa Cultivando Água Boa dução orgânica à população, buscando a criação de vín-

vista sua quantidade e qualidade, para atender a seus


usos múltiplos (não apenas a geração de energia, mas
Itaipu Binacional

Itaipu Binacional
também a produção de alimentos, o turismo, o sanea-
mento, entre outros), é o objetivo principal do Cultivan-
do Água Boa. Agricultura orgânica
O programa vem implantando uma série de medidas
de conservação e proteção do meio ambiente nas micro-
bacias hidrográficas dos 29 municípios que compõem a

Itaipu Binacional
Bacia do Paraná 3, tais como a proteção de nascentes, a
recuperação de matas ciliares, a readequação de estra-
das rurais, a instalação de abastecedouros comunitários,
terraceamento e conservação de solos, entre outras me-
didas que visam a evitar o carreamento de resíduos de
solos e agrotóxicos das lavouras para os rios.
Um dos objetivos do programa é tratar dos passivos
ambientais da agricultura local, principalmente a produ-
ção de dejetos e uso intensivo de agrotóxicos. Daí a ne-
Soltura de peixes no reservatório cessidade de se trabalhar, além da solução dos passivos Produtos da Agricultura Familiar Feira Vida Orgânica

522 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2015 | 523
ITAIPU ITAIPU

culos sociais, ambientais e comerciais diretos, do meio participação ativa dos seus pares. Nas reuniões, são cons- miliar Sanga Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon
rural com o urbano. Isso se dá através da realização de truídas as diretrizes e ações, garantindo legitimidade aos (PR), que reúne 33 pequenos produtores e tornou-se, em

Itaipu Binacional
palestras em escolas e da promoção e participação em resultados alcançados. 2014, a menor unidade geradora conectada ao Sistema
eventos, com estandes, materiais promocionais e venda No início do programa, eram 188 beneficiárias. Hoje, Interligado Nacional (SIN).
de produtos orgânicos da agricultura familiar. a iniciativa atende a 1.290 famílias, incluindo agriculto- O projeto foi desenvolvido pela Itaipu Binacional,
A promoção da agricultura sustentável leva em conta res, assentados da reforma agrária e crédito fundiário, em parceria com a Fundação Parque Tecnológico Itaipu
aspectos técnicos e econômicos para o desenvolvimento indígenas, quilombolas e apicultores. (FPTI), a Emater (órgão de assistência técnica e exten-
e perpetuação da agricultura familiar. Por isso, o progra- “Houve também uma ampliação da área de atuação. são rural do governo do Paraná) e a prefeitura de Ma-
ma incentiva a diversificação da produção e a melhoria Inicialmente eram 13 municípios, passando para os atu- rechal Cândido Rondon, e conta com avaliações técni-
da gestão das propriedades. Esse trabalho é realizado pe- ais 25. A rede de ATER conta, atualmente, com 32 téc- cas da equipe da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia
riodicamente pela ATER durante visitas às propriedades nicos envolvidos”, informa Sérgio Angheben, Gestor do Produtos da Coofamel (SC).
rurais, realizadas em intervalos de 15 a 90 dias, confor- Programa Desenvolvimento Rural Sustentável do CAB. Cerca de R$ 3,8 milhões foram investidos no projeto,
me o tipo de atividade produtiva. Outros resultados: 23 feiras Vida Orgânica, com to- agricultura familiar, agricultores assentados, comunida- o que permitiu a instalação de biodigestores em todas
Luís Arruda, de São Miguel do Iguaçu, é um dos tal de 53.000 participantes; 59 Instituições envolvidas; des indígenas, pescadores, catadores de materiais reci- as propriedades, de 25,5 quilômetros de gasodutos en-
agricultores assistidos pelo programa. Com apoio da 10 agroindústrias orgânicas construídas ou ampliadas; cláveis e jovens de comunidades carentes. tre elas e de uma microcentral termelétrica a biogás. A
rede ATER, ele deixou de lado os agrotóxicos há mais assessoria a 22 associações e sete cooperativas de pro- Conforme explica o diretor administrativo da Coofa- infraestrutura inclui também um sistema de armazena-
de 10 anos, para começar uma diversificada produção dutores orgânicos e/ou da agricultura familiar; 14 feiras mel, Wagner Gazziero, a região às margens do reserva- mento de biogás, filtros de purificação (para obtenção de
orgânica. Hoje, o sítio de 4,8 hectares conta com mais semanais e 10 pontos fixos de venda de produtos da agri- tório de Itaipu é bastante propícia para este tipo de pro- biometano com 95% de pureza, semelhante ao gás natu-
de 50 diferentes culturas e plantas, demonstrando que cultura familiar. dução. “Enquanto a média nacional é de 1 kg por caixa, ral veicular – GNV), secador de grãos e grupo motoge-
mesmo uma pequena área pode abrigar uma produção aqui, nesta área de proteção ambiental, conseguimos até rador de 75 kW.
sustentável. Além disso, incrementou a renda familiar Apicultura 2,5 kg por caixa”, aponta, destacando ainda a clareza e Com um rebanho de cerca de mil cabeças de bovinos
em mais de 80%. As ações de recuperação e conservação da biodiver- o sabor do mel: “mais floral e suave, por causa da mata e 3 mil de suínos, o condomínio gera cerca de 15,8 mil
Alguns dos produtos ali cultivados são café orgânico, sidade nas microbacias hidrográficas, associadas aos jovem e diversificada”. metros cúbicos de dejetos por ano. Durante o processo
abacaxi, morango, palmito pupunha, cítricos e grande novos hábitos de produção e consumo dos produtores de decomposição, esses dejetos produzem 266,6 mil me-
variedade de verduras. “Com a ajuda dos técnicos da Itai- locais, permitiu uma melhoria geral das condições am- Energia limpa tros cúbicos de biogás/ano, que, por sua vez, produzem
pu, troquei os agrotóxicos por defensivos naturais que eu bientais. Os remanescentes florestais foram reconecta- Além do Cultivando Água Boa, Itaipu tem vários ou- 445 mil kWh/ano, quantidade de energia suficiente para
mesmo produzo”, explica. dos por meio das matas ciliares dos rios, permitindo um tros projetos. Um dos mais promissores, com impactos abastecer cerca de 2.200 residências de porte médio.
maior fluxo genético entre espécies da flora e da fauna. diretos sobre a sustentabilidade de pequenos produtores, Em cada propriedade há um medidor que indica a
Metodologia Um dos resultados observados pelos agricultores da re- é o Condomínio de Agroenergia para Agricultura Fa- quantidade de biogás enviada à microcentral, permitin-
O Desenvolvimento Rural Sustentável possui um Co- gião foi justamente o retorno das abelhas.
mitê Gestor que se reúne a cada 60 dias. O comitê é com- Em 2006, enquanto norte-americanos e europeus
posto por organizações representativas dos setores da so- acusavam o desaparecimento de abelhas, os produtores

Itaipu Binacional
ciedade civil, dos agricultores e dos governos, e permite a rurais da BP3 se uniram para criar a Coofamel, coopera-
tiva com cerca de 500 famílias de apicultores que, juntos,
respondem por uma produção anual de 219 toneladas de
mel. Dentre os 15 itens que compõem o mix de produtos,
Itaipu Binacional

destacam-se várias qualidades de mel, além de própolis


e mel de abelha jataí, que tem propriedades medicinais.
As vendas da Coofamel atualmente se estendem a oito
estados brasileiros e ao Distrito Federal, totalizando 411
pontos de venda.
A cooperativa também recebeu apoio do CAB atra-
vés do programa Desenvolvimento Rural Sustentável, no
sentido de auxiliar na organização dos produtores e na
capacitação para ganhar mercados no Brasil. Esse tra-
Produtos de qualidade ao alcance de todos balho também é desenvolvido com outros segmentos da

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do um rateio proporcional das receitas geradas com a o mecânico, os vendedores e prestadores de serviços,
venda de energia. os produtores individuais ou cooperados, todos se be-

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O biogás gerado também pode ser utilizado para neficiam dessa nova realidade obtida com a geração de
outros fins nas propriedades, como aquecimento de energia e a eficiência energética a partir do biogás, fonte
água, cozimento de alimentos, esterilização de equipa- renovável hoje desperdiçada”, afirma o superintendente
mentos, acionamento de motores, enfim, para elevar a de Energias Renováveis da Itaipu, Cícero Bley Júnior.
eficiência energética. Outra aplicação econômica que Em outubro de 2014, a Agência Nacional de Ener-
tem sido objeto de estudos é o uso do biometano como gia Elétrica (Aneel) incluiu, pela primeira vez, o biogás
combustível para veículos leves e pesados, para movi- em um leilão para contratação de energia de reserva. A
mentação de safras. energia de reserva é utilizada para suprir eventual insu-
Outro produto da biodigestão dos dejetos, o ferti- ficiência da energia produzida pelas usinas hidrelétricas,
lizante, é rico em nitrogênio, fósforo e potássio, o que aumentando, assim, a segurança do SIN.
torna possível aumentar a produtividade. Aplicado so-
bre pastos, o biofertilizante induz um crescimento mais Referência
rápido da pastagem e, consequentemente, melhora a ali- O Condomínio de Agroenergia Sanga Ajuricaba deu
mentação do gado, que produz mais leite. base para outros projetos semelhantes, como nas peque-
Em 12 meses, Pedro Regelmeier, um dos produtores nas farinheiras de Pernambuco (parceria com a Chesf),
do Ajuricaba, economizou R$ 2.500 em fertilizantes mi- em Santa Catarina (com a Eletrosul), em Entre Rios do
nerais e aumentou em R$ 1.800 a renda com o leite, um Oeste (PR) e no município de Toledo (PR), onde ocor-
impacto significativo nas receitas de um agricultor fami- re uma grande mobilização de produtores em conjunto
liar. Ele ainda substituiu o gás de cozinha pelo biogás em com a prefeitura.
sua residência. O governo do Uruguai também assinou memorando
“O biogás constitui um novo produto do meio rural. de entendimento com Itaipu para instalar um condomí-
Em torno dele, surge uma cadeia local de suprimentos nio semelhante no Departamento (Estado) de San Jose,
e demandas que gera desenvolvimento. O eletricista e próximo a Montevidéu.

Microcentral Termelétrica a Biogás em Marechal Cândido Rondon

Itaipu Binacional
A proposta de gerar energia com biogás em condomí- O SE4ALL é uma iniciativa global da ONU que tem
nios, em que biodigestores são conectados por um gaso- o objetivo de promover o acesso universal à energia,
duto a uma só central geradora, é genuinamente brasilei- aumentar a eficiência energética e o uso de energias
ra. Na Europa, são feitos grandes biodigestores, altamente renováveis, mobilizando recursos públicos e privados.
tecnificados, para os quais são transportados dejetos. Itaipu também viabilizou a implantação do Centro
O Ministério de Minas e Energia, a Aneel, a Agên- Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CI-
cia Nacional do Petróleo (ANP) e a Empresa de Pesquisa Biogás-ER), com sede no Parque Tecnológico Itaipu
Energética (EPE) acompanham o projeto, que também (PTI), em parceria com a Organização das Nações
vem sendo observado pela Onudi Internacional, pela Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) e
FAO América Latina e Caribe, pela Organização Latino- outras entidades.
-Americana de Desenvolvimento de Energia (Olade) e A binacional apoia ainda as ações da Força Tare-
por outros organismos internacionais. fa 37 – Biogás-Espelho, criada pela Agência Interna-
O projeto tem sido apresentado em fóruns nacionais cional de Energia (IEA), com o apoio da Organização
e internacionais – como na reunião do conselho consul- Latino-Americana de Energia (Olade), escritório re-
tivo do programa Energia Sustentável para Todos (SE- gional da FAO para América Latina e Caribe, Insti-
4ALL), estabelecido pela Organização das Nações Uni- tuto Internacional de Cooperação para a Agricultura
Pedro Regelmeier: mais renda com o biogás das (ONU), em Nova York, em julho de 2014. (IICA) e a Onudi.

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Plantio direto: homenagem


aos pioneiros do sistema que
revolucionou a agricultura Jorge Miguel Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional Técnicas de conservação de solo e água: plantio direto e faixa de proteção

O
Paraná enfrentava um terrível dilema no início No começo, o processo sofreu muita resistência. ato, deu uma contribuição decisiva. Nascia uma nova ge- Itaipu e Embrapa também são parceiros no projeto
da década de 1970. Grandes extensões de ter- Nonô Pereira diverte-se ao lembrar que os pioneiros da ração de semeadoras. Solo Vivo, para avaliar o impacto do plantio direto (e
ras férteis estavam ameaçadas pela erosão. Um técnica eram chamados de “visionários, poetas, filósofos Fundamental também foi o envolvimento de todas outras medidas conservacionistas, como a proteção
drama que poderia comprometer toda a cadeia produtiva e até de loucos” pelos produtores da época. as forças vivas do setor rural – instituições públicas de de matas ciliares, adequação de estradas, terracea-
do Estado, com graves consequências para a economia. A arma para enfrentar a desconfiança e o preconceito pesquisa e de assistência técnica, cooperativas, universi- mento e práticas agroecológicas) em microbacias do
Filho de agricultores no Oeste do Paraná, eu vi o era a informação. Em outras palavras: mostrar aos agri- dades, associações de agricultores e indústrias de imple- Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso
problema bem de perto. Quando chovia forte, a enxur- cultores que o plantio direto garantia resultados econô- mentos agrícolas. do Sul e Goiás.
rada levava tudo pela frente: destruía a lavoura e carre- micos, com redução dos custos de produção e aumento O esforço e a dedicação deram resultado. Hoje, o Aqui vale um parêntese: o ato de criação da Embrapa
gava uma imensa quantidade de terra. Córregos e rios da produtividade. De quebra, apresentava ganhos am- plantio direto está presente em 95% das plantações de e o Tratado de Itaipu foram assinados no mesmo dia, 26
ficavam avermelhados. bientais importantes, com a preservação dos recursos grãos do Paraná e em cerca de 30 milhões de hectares do de abril de 1973, quando o plantio direto dava os primei-
Era como se as veias da nossa terra estivessem abertas, naturais e a sustentabilidade da atividade agrícola. Brasil, quase a metade de toda a área plantada do País. ros passos no Brasil. Uma coincidência histórica, que re-
fazendo escorrer a principal riqueza da região: o solo fértil. Ao mesmo tempo, foi preciso adaptar o velho maqui- Paralelamente, a modernização do campo e o desen- força o compromisso das duas instituições na promoção
Hoje, o Brasil bate recordes sucessivos de produção e nário agrícola, para que pudesse ser utilizado no sistema volvimento da agroindústria abriram novas frentes: a de boas práticas.
é um dos principais exportadores de alimentos do mun- de plantio direto. Técnicos e pesquisadores, em parceria conversão da proteína vegetal em animal, por exemplo. Itaipu ainda mantém uma página em seu portal na in-
do. O Paraná, especialmente a nossa região oeste, onde com a indústria, se empenharam no trabalho. A família Aqui, no Oeste do Paraná, não é exagero afirmar que se ternet destacando o plantio direto como uma das priorida-
está localizada a usina hidrelétrica de Itaipu, destaca-se do gaúcho Roberto Otaviano Rossato, da empresa Seme- planta milho e colhe-se frango temperado, embalado e des do Programa Desenvolvimento Rural Sustentável, do
como referência em produtividade e conservação. pronto para consumo. Programa Cultivando Água Boa (CAB), com abrangência
Mas o que aconteceu neste intervalo de apenas 40 em toda a Bacia Hidrográfica do Paraná 3. O endereço é
anos, que reverteu o processo de erosão, afastou o risco A Itaipu e o plantio direto www.itaipu.gov.br/meio-ambiente/plantio-direto.
de desertificação de áreas cultiváveis e transformou radi- Itaipu Binacional A história de Itaipu com o plantio direto é antiga. Todas essas iniciativas mostram que ainda há muitos
calmente a agricultura do Estado e do País? A empresa apoia e divulga a técnica desde a década de desafios a serem superados no campo – e devemos estar
A resposta passa pela história de três agricultores 1990, ao perceber que apenas a faixa de proteção do preparados para enfrentá-los. Nenhum desafio, porém,
paranaenses, pioneiros na técnica do sistema de plantio lago seria insuficiente para garantir a qualidade da água, deve ser maior que as pessoas. Sempre digo: a gratidão é
direto: Herbert Bartz, de Rolândia, Franke Dijkstra, de principal recurso para geração de energia. o sentimento mais importante do ser humano.
Castro, e Nonô Pereira, de Ponta Grossa. Uma das iniciativas foi a criação de uma certificação Por isso, em fevereiro, durante o Show Rural Coo-
Angustiado com o declínio acelerado das lavouras do plantio direto de qualidade, em parceria com a Federa- pavel, de Cascavel (PR), uma das maiores feiras de tec-
nacionais, Bartz visitou a Europa e os Estados Unidos em ção Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP). nologias do Brasil, lançamos o livro “Plantio Direto: a
1972. Queria saber como os produtores de fora enfren- Esse projeto foi desenvolvido de 2011 a 2013 em 226 pro- tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira”,
tavam o problema. Logo percebeu que as velhas técni- priedades da Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3). pela Editora Parque Itaipu. A obra resgata a história do
cas agrícolas – queima da palha, revolvimento do solo Atualmente, Itaipu, Fundação Parque Tecnológico Itai- plantio direto no Brasil e o papel decisivo dos pioneiros.
– estavam agravando o processo de erosão. Era preciso pu (FPTI) e FEBRAPDP desenvolvem uma versão atuali- Foi emocionante reunir Herbert Bartz, Franke Dijkstra
inverter a lógica e quebrar paradigmas. Ou seja, cultivar zada do sistema de certificação. O trabalho tem como par- e Nonô Pereira no mesmo evento. Os três transformaram a
sem revolver a terra, promover a rotação de culturas e ceiros a Embrapa, Iapar, Emater, Universidade Estadual de agricultura e orgulham o nosso Estado. Devemos, portan-
manter a cobertura vegetal do solo. Jorge Miguel Samek Londrina e Instituto Rio Grandense do Arroz. to, uma enorme gratidão a esses heróis paranaenses. ◆

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A SETE MIL METROS
DE PROFUNDIDADE,
ENCONTRAMOS
ENERGIA PARA GERAR
OPORTUNIDADES.

Uma empresa pioneira na exploração do pré-sal sabe como superar desafios.


Por isso, a gente investe na diversificação da matriz energética a partir de
matérias-primas renováveis. Nossa parceria com agricultores familiares
e pequenos produtores amplia o desenvolvimento regional, gerando
renda e criando caminhos para uma sociedade mais justa e sustentável.
Tão importante quanto crescer é ter responsabilidade social e ambiental.

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