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COMER
como ato político
sumário apresentação
2 s etapas do sistema alimentar, que vão desde a semente plantada
capa até o prato servido, estão interligadas e se afetam mutuamente.
Neste ciclo, da mesma forma que a produção de alimentos determi-
Comer como ato político: na o consumo, a escolha do que comemos também determina o que
escolha que faz a diferença é produzido e a maneira como é produzido. Assim, o aumento da de-
manda por alimentos da agricultura familiar contribui com o meio
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ambiente e com a qualidade de vida do consumidor e do agricultor,
boas práticas já que esta forma de produção, além de promover a saúde, contribui
para o estabelecimento de relações de trabalho mais justas e para
Experiências pelo Brasil maior distribuição de renda. A ampliação do contato entre quem
consome e quem planta é um ponto-chave para a estruturação de
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sistemas alimentares locais sustentáveis. Também contribui para o
políticas desenvolvimento e para a valorização das identidades culturais, que
se manifestam por meio da gastronomia e dos hábitos alimentares.
públicas Atenta à discussão, o quarto número da Revista Ideias na Mesa
dedica-se a esta reflexão e apresenta experiências que mostram como
O consumo político nas nossas escolhas podem contribuir para ampliar a produção de ali-
iniciativas públicas mentos saudáveis e sustentáveis do ponto de vista social, econômico e
ambiental. Seja bem-vindo à discussão e boa leitura!
Comer como
omprar alimentos em feiras orgânicas ou agroeco- relação à procedência dos alimentos, valorizando mais
lógicas, verificando a procedência e conhecendo produtos locais ou regionais”, afirma a nutricionista.
pessoalmente o produtor, e optar por produtos e em- Embora também reconheça a falta de números
presas que estabeleçam o compromisso com relações precisos, a Associação Brasileira de Supermercados
ato político:
justas e sustentáveis no processo produtivo. Estamos (Abras) calcula que as vendas de produtos orgânicos
falando de uma forma cidadã de comprar, conhecida vêm crescendo em torno de 20% a 30% ao ano, e que a
como consumo político. Individual ou coletivamente, tendência é aumentar.
os consumidores brasileiros que fazem essa opção se Pesquisa do Instituto Akatu, entidade dedicada ao
multiplicam e integram grupos que buscam consumir consumo consciente, indica que 28% dos consumidores
o que contribui com a saúde e o bem-estar das pessoas brasileiros já têm hábitos sustentáveis de compras, pre-
a diferença
das. Entre elas, maior conscientização sobre os riscos e as compras com base em informações dos rótulos.
impactos causados pelo modo de cultivo baseado, por Esse movimento vem sendo acompanhado por pro-
exemplo, no monocultivo, nos agrotóxicos e no uso fissionais que se dedicam ao estudo sobre o consumo,
de transgênicos. Pode-se dizer que, por trás da ideia da produção de alimentos orgânicos e a valorização
de politização do consumo, está a baixa confiança na da agricultura familiar no país, como Fátima Portilho,
qualidade da alimentação contemporânea e o pensa- doutora em Ciências Sociais e professora da Universi-
mento de que cada objeto ou alimento traz uma histó- dade Federal Rural do RJ (UFRRJ).
ria que afeta diretamente a saúde, o meio ambiente e Segundo Fátima, várias ações cotidianas e o modo
a vida das pessoas. de ingestão dos alimentos são de grande importância
Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisado- para que o ato de comer se torne político. Um de seus
ra em alimentos do Instituto Brasileiro de Defesa do artigos, assinado com outros pesquisadores, afirma: os
Consumidor (Idec), percebe a crescente mudança de anos 90 representaram uma virada histórica na con-
atitude do consumidor, embora admita que ainda figuração da alimentação como campo político. Com
não existam números oficiais sobre esse movimento. isso, cada garfada passa a articular experiências locais
Apenas 34 grupos de consumo responsável e 330 feiras a eventos que ocorrem no cenário global. Por exemplo,
de alimentos orgânicos no país foram catalogadas no quando evitamos consumir alimentos industrializados
mapa de feiras orgânicas produzido pelo órgão. ricos em açúcar, gorduras saturadas e sódio e que pro-
“Para mim, é visível o aumento da procura por ali- duzem grande quantidade de lixo ou quando optamos
mentos mais saudáveis e sustentáveis, pelo aumento do por comer um vegetal da época in natura, em detri-
número de locais que ofertam esse tipo de produto. Os mento de outro processado, estamos incentivando ou
consumidores estão ficando mais exigentes também em apoiando uma causa.
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Foto cedida pelo projeto
capa boas práticas
O consumo político
valorizando a agricultura familiar Em outro texto, publicado na revista Agriculturas,
O crescimento do número de cooperativas de consu- da AS-PTA, associação dedicada à agricultura familiar
mo de produtos orgânicos e agroecológicos e comércio e à agroecologia, sobre as qualidades da agricultura fa-
justo vem reforçando o papel da produção agrícola fa- miliar, o especialista em sociologia agrária, Jan Douwe
miliar no país, modo de produção fundamental para van der Ploeg ressalta que o ambiente político é extrema-
aumentar de maneira efetiva a oferta interna de ali- mente importante para o destino da agricultura familiar.
mentos saudáveis, garantindo a segurança alimentar Segundo ele, embora ela possa sobreviver em ambientes
e nutricional dos brasileiros. adversos, condições favoráveis podem ajudá-la a atin-
Em artigo assinado com Lívia Barbosa, Fátima Por- gir o seu potencial máximo, sendo fundamentais ações
tilho qualifica essa ação como um exemplo de aliança conjuntas do Estado, dos organismos internacionais, de
e adesão à causa rural pelos consumidores e seus mo- entidades da sociedade civil e dos movimentos sociais.
vimentos organizados. Segundo as pesquisadoras, a Jan Ploeg vê a agricultura familiar como uma forma
tendência de valorização de produtos oriundos de pro- de vida e nela os integrantes do grupo “têm o controle
cessos produtivos considerados “tradicionais e autên- sobre os principais recursos, investem a maior parte da
ticos” tem se refletido no visível aumento da demanda sua força de trabalho e dela retiram a sua renda e os
por produtos orgânicos, agroecológicos, artesanais, alimentos que consomem”. Também explica que esse
ou oriundos da agricultura familiar, favorecendo uma modo de viver é “parte de um fluxo que une passado
preocupação maior com os atores que fazem parte presente e futuro, contendo uma história e mantendo
desse cenário. uma conexão com o entorno e com a cultura local”.
Coletivo de Consumo Rural
Urbano de Diadema – SP
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Rural Urbano de Diadema. Além de o que lhe permitiu testemunhar uma
fornecer alimentos saudáveis e segu- forma de agricultura sustentável do
ros à comunidade, o grupo promoveu ponto de vista ecológico e, principal-
o consumo crítico, responsável, so- famílias fazem parte mente, social.
lidário e o comércio justo, tornando Ana Paula considera a distribuição
produtores e consumidores figuras do Coletivo e compram do produto uma questão central para
centrais na ação. alimentos direto permitir que pequenos produtores e co-
Uma das participantes assíduas do produtor operativas possam encontrar um preço
da compra coletiva em Diadema, Ana competitivo, mas que ao mesmo tempo
Paula Musatti Braga, diz que há anos remunere dignamente o trabalhador
procurava uma forma de comprar do campo. “Colaborar para viabilizar a
com regularidade os produtos do Mo- produção de pequenos produtores as-
vimento dos Trabalhadores Sem Terra. A consciência sentados, remanescentes de quilombos e da população
sobre a importância de alimentos livres de agrotóxicos indígena, cujos frutos são resultado de uma luta políti-
veio a partir de uma somatória de fatores, principal- ca, é o que eu considero a maior “vantagem” da compra
mente depois que amigos próximos passaram a utili- desses alimentos. Acredito que essa forma de produção
zar uma dieta rigorosa por problemas de saúde. “Junto pode servir de exemplo e estímulo para pessoas exclu-
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Foto cedida pelo projeto
boas práticas
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boas práticas
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boas práticas
Preocupados em formar hábitos saudáveis de alimen- Valorizar a cultura alimentar regional e divulgar recei-
tação desde a primeira infância, acadêmicos da Uni- tas saudáveis à base de alimentos nutritivos e de quali-
versidade Federal da Grande Dourados desenvolveram dade. Esse foi o foco do concurso de receitas direciona-
um projeto de Educação Alimentar e Nutricional para do para alunos da rede de ensino de Coruripe, Alagoas.
alunos do Centro de Educação Infantil, que fica no A iniciativa é resultado de uma ação conjunta entre as
campus da universidade. secretarias municipais de Saúde e Educação do muni-
A primeira interação com as crianças foi realizada cípio, com o objetivo de promover um debate criativo
Curitiba/Paraná
com a ajuda de fantoches em formato de hortaliças, sobre a importância da alimentação saudável na pre-
Circuito de Alimentação Saudável para verificar as suas preferências alimentares. Em se- venção de doenças e na promoção da saúde. O projeto
Preocupada com o perfil nutricional das crianças, a Se- de como plantar e cultivar os alimentos; depois, vai ao guida, as crianças fizeram uma visita à horta agroeco- foi realizado durante cinco meses, de 10 de abril a 11 de
cretaria Municipal de Curitiba, no Paraná, criou o pro- minimercado, onde encontra réplicas de alimentos e lógica criada pelos acadêmicos, onde puderam identifi- agosto de 2010. O tema “Promovendo Saúde através de
jeto Circuito da Alimentação Saudável, uma proposta embalagens de produtos alimentares, onde ela simu- car as hortaliças que já conheciam. As crianças fizeram Receitas Saudáveis e Nutritivas” permitiu a criação de
de EAN intersetorial, realizada de forma lúdica e inte- la uma compra e recebe orientações de nutricionistas a colheita de folhas e temperos para levar pra casa e um clima de cooperatividade e interesse entre os par-
rativa, com o objetivo de levar às crianças atitudes e com relação aos alimentos escolhidos. também receberam uma muda para cuidar e acompa- ticipantes do concurso, cerca 100 alunos apresentaram
práticas alimentares mais saudáveis. O Circuito realiza Na sequência, a criança assista a um vídeo sobre a nhar o crescimento. O teatro de fantoches da Turma receitas fáceis e criativas, que foram testadas. Durante
uma abordagem inicial com a apresentação de um ví- importância da higiene de mãos, assim como dos ali- das Hortaliças animou a turminha, que demonstrou as etapas do concurso foram trabalhadas questões como
deo educativo com noções básicas para uma vida mais mentos, para a prevenção de doenças. Na última estação, grande aceitação em relação ao que foi ensinado. Pos- o alimento visto como fonte de prazer, o resgate dos va-
saudável. A seguir, a criança passa por várias estações. as crianças recebem orientação sobre o aproveitamento teriormente, pais e merendeiras observaram melhor lores da alimentação e práticas alimentares regionais.
Inicialmente, ela visita a horta, onde aprende como integral dos alimentos e aprendem como preparar recei- aceitação das crianças por hortaliças na alimentação
frutas e hortaliças são produzidas, e também noções tas mais nutritivas. oferecida em casa e na escola.
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políticas públicas
relações mais justas e sustentáveis de produção de ali- modalidade Compra Institucional foi uma experiência
O consumo político nas iniciativas públicas mentos, priorizando a agricultura familiar. Restauran- muito enriquecedora para o Ministério da Defesa. Di-
tes universitários, hospitais e ministérios têm iniciado ferente das demais modalidades de aquisição, foi pos-
O consumo pautando a produção no experiências positivas na modalidade Compra Insti- sível conversar diretamente com o produtor e expor
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Além de oferecer uma alimentação adequada e tucional do PAA, como nos exemplos da Universidade as necessidades e expectativas quanto ao padrão dos
Após 10 anos de história, o Programa de Aquisição de saudável às pessoas atendidas pelo PAA, essa estraté Federal do Paraná, Grupo Hospitalar Conceição (GHC) alimentos a serem fornecidos para suprir nossos refei-
Alimentos (PAA) se volta à valorização do eixo consu- gia pretende ainda contribuir para a diversificação da e Ministério da Defesa. tórios, e ainda verificar in loco o objeto antes de adquiri
mo. A estratégia é estimular que as entidades que rece- produção da agricultura familiar fornecedora do Pro “Ofertar alimentos de qualidade a seus servidores -lo. Resultado desse diálogo próximo foi a qualidade e a
bem doações de alimentos do PAA demandem alimen- grama. A variedade da produção contribui tanto para civis e militares sempre foi uma preocupação do Minis- variedade dos produtos já entregues e a perspectiva de
tos diversificados e ofertem alimentação adequada e a oferta de alimentação adequada e saudável quanto tério da Defesa, bem como realizar aquisições visando contribuir para a ampliação da economia da agricul-
saudável às pessoas atendidas pelo Programa. Uma das para a qualidade de vida dos agricultores e equilíbrio à vantajosidade administrativa, incluindo assim a eco- tura familiar”(Patrícia Magalhães, primeiro-tenente
ferramentas desenvolvidas é o Manual de Orientação do meio ambiente, promovendo a sustentabilidade so- nomicidade. O processo de aquisição de alimentos pela (RM2-T) – Ministério da Defesa).
para Oferta de Alimentação Adequada e Saudável, desti- cial, econômica e ambiental.
nado a essas entidades. O manual tem como objetivo Outra ação desta estratégia é o curso de autoapren-
oferecer subsídios para que elas façam pedidos ade- dizagem de 30 horas que abordará de forma prática o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as políticas públicas
quados ao público atendido, a partir do diálogo com os conteúdo do manual. O curso será lançado em dezem-
agricultores familiares. bro, pela rede Ideias na Mesa: www.ideiasnamesa.unb.br.
O Marco de Referência de Educação Alimentar I) sustentabilidade social, ambiental e econômica;
e Nutricional para as políticas públicas tem o II) abordagem do sistema alimentar, na sua inte-
objetivo de promover a reflexão e orientação gralidade;
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políticas públicas entrevista
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Ideias na Mesa: Como as pessoas podem colocar em ção nas cidades e o desemprego. E com isso, temos uma IM: A questão do preço desses produtos também é um IM: E você acha que esse caminhar para a sensibiliza-
prática o conceito de comer como um ato político? sociedade mais equilibrada, menos estresse, menos desafio, porque, em geral, eles são mais caros do que os ção pode vir por meio de um trabalho de educação?
Elaine Azevedo: Dá para colocar em todas as ins- vulnerabilidade social... O outro aspecto é o ambien- produtos feitos em larga escala. Como lidar com isso? Como os profissionais podem ajudar nesse processo?
tâncias da vida. Mas, na alimentação, é comprando tal, porque não dá para ter comportamentos saudáveis EA: Sim, mas são mais caros porque a demanda ainda é EA: Sim. O trabalho começa nas escolas com educa-
do agricultor familiar agroecológico e optando por e respirar um ar poluído, beber águas contaminadas, baixa. Se a demanda aumenta, o produto tende a barate- ção alimentar para todos os alunos desde a educação
alimentos locais e orgânicos, pois assim você estará ter solos erosivos, viver sem florestas... Esse é o contex- ar. O consumo passa a ser uma estratégia de viabilização infantil. Ensinar a comer bem e a optar por alimentos
apoiando e incentivando práticas verdadeiramente to da saúde ambiental. Então, na verdade, tudo isso é para que mais pessoas tenham acesso. Consumir mais orgânicos. Nas universidades, ampliando o conceito e a
saudáveis! Comer localmente é um ato político quando saúde! E se as pessoas não ampliarem esse conceito, orgânicos significa dar garantia ao produtor de que o percepção dos estudantes (futuros profissionais) sobre
você pensa no gasto energético despendido na produ- se só pensarem em uma perspectiva micro, teremos que ele vai produzir vai ser comprado. Isso possibilita saúde. Você não pode querer que as pessoas transmitam
ção dos alimentos, no resgate das tradições alimenta- todas as repercussões que já estamos vendo na saúde, o aumento da produção. Os representantes comunitá- saúde se elas estão vivenciando doença. O contexto das
res regionais e no apoio ao agricultor que está perto de no ambiente, nas relações sociais... Não funciona! Es- rios e políticos também começam a perceber o que você universidades saudáveis, que é uma discussão da pro-
você que recebe retorno financeiro para investir no lo- pecialmente porque, nessa perspectiva micro, a gente quer e passam a incentivar mudanças nas políticas pú- moção da saúde, sugere tornar mais saudável o ambien-
cal... Do mesmo modo, quando acaba se voltando para uma blicas, começam a questionar se te acadêmico para que os jovens
você compra alimento de uma questão apenas quantitativa o transgênico e o agronegócio estudantes experienciem o que
multinacional ou um alimento da alimentação: restringe isso, precisam ser tão desigualmen- é mudar seus hábitos alimen-
que degrada o meio ambiente e tira aquilo, troca esse alimen- te fortalecidos. Na realidade tares e seu estilo de vida para
ignora o processo familiar de “Comer localmente to... Por isso o livro fala em saú- brasileira repleta de iniquida- poder multiplicar essa experi-
produção, você está fazendo de humana, social e ambiental. des sociais parece arrogante e “Mudar primeiro ência. Vivenciar a salutogênese
é um ato político
uma escolha política também. Porque o contexto de saúde que socialmente questionável você para mudar o mundo. em vez da patogênese.
E isso tem de estar muito cla- à medida que você se tem dentro da área de saúde dizer que todo mundo tem de
ro: quem você está apoiando. A (medicina, nutrição, farmácia) comprar alimentos orgânicos; Isso é muito mais IM: E, para finalizar, como
pensa no gasto
gente precisa se conscientizar é muito reducionista. não vai ser assim, mas a gente desafiante do que você avalia a coexistência da
desse potencial do consumidor. energético despendido sabe que uma classe que tem produção orgânica e da produ-
IM: Quais os desafios que as melhor poder aquisitivo pode mudar a política pública ção hegemônica, baseada no
na produção dos
IM: No seu livro, você afirma pessoas podem enfrentar ao mudar a realidade da outra. E ou mudar a indústria. agronegócio e na utilização de
que a produção e o consumo de alimentos, no resgate optar pelo consumo político? um alimento melhor merece agrotóxicos?
alimentos orgânicos trazem EA: Quando você passa a co- custar mais, como todo produto É preciso desafiar EA: O fato de se ter opções e
das tradições
resultados que ultrapassam mer alimentos familiares or- superior. E eu sempre pergunto: as pessoas a sair dicotomias é extremamente
a dimensão da saúde. De que alimentares regionais gânicos, por exemplo, você qual o real valor de um alimento importante, porque é no an-
maneira? tem de se mobilizar mais. Você barato que destrói a natureza, da zona de conforto, tagonismo que se desperta o
e no apoio ao agricultor
EA: A partir de uma premissa não consegue ir a um super- exclui o agricultor familiar e mudar paradigmas.” senso crítico. Sem opções, sem
da saúde coletiva, eu conside- que está perto de você” mercado e comprar tudo. Você promove doenças? O que não se a possibilidade de escolha, a
ro que a saúde faz parte de um vai ter de comprar o alimento gasta na feira vai para a farmá- gente só tem um padrão, um
contexto socioambiental. Os numa feira, pegar o leite com cia e para hospitais... caminho a seguir. Então, ter a
reflexos do consumo de orgâni- um produtor que mora perto, agricultura orgânica, a agri-
cos, em âmbito micro, individu- adquirir o alimento integral IM: Mas como conseguir cons- cultura familiar, a agricultura
al, podem ser observados na ingestão de alimentos que em um empório, mas tudo é questão de prioridade. cientizar o consumidor do seu papel nesse contexto? convencional, o agronegócio, ter ou não transgênico,
apresentam valores nutricionais equilibrados, ausên- Quando você prioriza sua saúde, esses movimentos EA: Mudanças politicas, exigem primeiramente mudan- ter controvérsias em xeque é extremamente mobiliza-
cia de toxicidades, maior durabilidade e características se encaixam no seu ritmo de vida. Quando você tem ças internas. Mudar primeiro para mudar o mundo. Isso dor para a sociedade. Estamos num momento frutífe-
sensoriais originais. Mas existem reflexos também na uma ajudante em casa, passa a enfatizar o preparo de é muito mais desafiante do que mudar a política públi- ro. De muitas dúvidas, incertezas, mas porque há mais
saúde social e ambiental, que significa manter os indiví- uma comida mais saudável, um pão integral., sucos ca ou mudar a indústria. É preciso desafiar as pessoas a possibilidades, e isso é fruto da reflexividade contem-
duos e o meio ambiente saudáveis. Alimento saudável frescos, em vez da limpeza. Outro ponto é que às ve- sair da zona de conforto, mudar paradigmas. Os movi- porânea. Cabe agora ao consumidor assumir a impor-
deve ser saudável para quem ingere, para quem planta zes você vai ter de ser aquele promotor de ações polí- mentos orgânicos, os movimentos de compras susten- tância de adotar hábitos de vida mais conscientes e
e para o planeta. ticas: vai à prefeitura e pergunta onde tem agricultor táveis, do comércio justo e responsável, dentre outros assumir o controle social cobrando do Estado e do sis-
familiar perto, onde reciclar seu lixo, vai a uma feira que fomentam práticas conscientes, devem trabalhar tema agroalimentar a produção e a oferta de alimentos
IM: E como o consumo político afeta a saúde social e convencional procurar agricultores familiares, vai ao com uma premissa de sensibilização, proporcionando mais saudáveis.
ambiental? condomínio ou dentro do seu local de trabalho suge- o autoconhecimento e a valorização da natureza, para
EA: À medida que o produtor permanece com dignidade rir grupos de compras coletivas de alimentos orgâni- que as pessoas possam perceber o que estão perdendo e
no campo, tendemos a reduzir o risco da superpopula- cos, promove hortas urbanas. o que podem ganhar ao fazer escolhas melhores.
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saiba mais
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