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ANÁLISE DE POTENCIALIDADES E LIMITES DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NA

DIREÇÃO DA SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL


INSCRITOS EM REDES AGROALIMENTARES ALTERNATIVAS: ESTUDO DA
INSERÇÃO TERRITORIAL DA REDE TREM NATURAL NO CAMPO DAS
VERTENTES EM MINAS GERAIS
Luciana Lopes Nascimento, graduanda em Ciências Econômicas
Márcio Carneiro dos Reis, Departamento de Ciências Econômicas e
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Planejamento e
Território (DCECO-PGDPLAT/UFSJ).
Shigeo Shiki, DCECO-PGDPLAT/UFSJ
Esse projeto foi submetido ao Edital nº 005/2021/PROPE-UFSJ
INTRODUÇÃO
- A proposição de analisar potencialidades e limites de redes agroalimentares alternativas (RAA) está vinculada aos
objetivos da segurança alimentar e nutricional enquanto uma forma de estratégia de desenvolvimento e objetivo de
política pública.

- Essa pesquisa se valeu de pesquisa bibliográfica e documental, observação direta e participante que envolve diálogos
com membros da Rede Trem Natural e da Associação de Agricultura Familiar Agroecológica de São João del-Rei.

- Os resultados apresentados são parciais e de caráter exploratório, dada a complexidade do tema e do problema
proposto, mas apontando para a continuidade dos esforços de investigação.
ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS
- SAN é vista aqui como estratégia de desenvolvimento e objetivo de política pública na direção de criar condições para
a realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), consistente com

(...) o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade


suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo
como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade
cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.

- Friedmann (2005) está entre os autores que têm chamado atenção para o fato de que a questão-chave para alimentação
e agricultura e para reformular a governança em todas as escalas, é a democracia.
ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS
- Para a avaliação de potencialidades e limites de redes agroecológicas alternativas evidenciam três elementos
distintivos. São eles: a “reflexividade” dos atores, as “práticas de conhecimento” e a “alteridade”.

- Esses movimentos alternativos, as comunidades de prática, não são "oposicionistas". Seu caráter alternativo coexiste
com o sistema neoliberal e tentam mudá-lo de dentro.

- Outro elemento diferenciador, são as relações em rede que emergem e que estão para muito além da compra e venda
de produtos.
PERGUNTAS
1- Em que medida a RAA pode ser caracterizada como uma “comunidade de prática”, “baseada em valores éticos
universais de justiça social e sustentabilidade ecológica”? 2- Essas “práticas” têm contribuído para a constituição de “novos
espaços materiais e simbólicos” que impactam a produção, o abastecimento e o consumo alimentar”? 3-Em meio a essas
práticas pode ser observado a produção de conhecimento que revela similaridade com a convergência, o crescimento e
consolidação de processos de aprendizagem coletiva? 4- Esse processo de aprendizagem tem se expressado através da
perspectiva da alteridade como visto acima? 5- Ou seja, na forma de sustentabilidade ecológica, novas espacialidades,
justiça social, relações de troca personalizadas, formas mútuas de organização social híbridas, mercantis e não mercantis, e
diferentes modos de governança?
REDES ALIMENTARES ALTERNATIVAS E
POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL
- As práticas produtivas e tecnologias agroecológicas são desenvolvidas de maneira sustentável, isto é, adaptadas aos
diferentes agroecossistemas e sistemas culturais das comunidades rurais. Dentre essas práticas e tecnologias se
incluem o uso de recursos localmente disponíveis, evitando o máximo o uso de recursos externos; diversas formas de
valorização da biodiversidade; e o respeito aos conhecimentos tradicionais, os saberes e as práticas locais

- No caso da RTNA, a incipiência do processo de transição é marcada pela informalidade e o voluntarismo das ações
que fazem funcionar os “Intercâmbios Agroecológicos”

- O nosso objeto de estudo é o alimento agroecológico


REDES ALIMENTARES ALTERNATIVAS E
POSSIBILIDADES DE TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL
- O processo de transição agroecológica requer o fortalecimento e a ampliação dos mercados de proximidade como
necessidade natural, não somente por uma questão logística (garantia de frescor), mas por uma questão ética de
produzir e consumir localmente alimentos saudáveis.

- O mercado local desenhado para o funcionamento de cadeias curtas ou o mercado de proximidade, tem na feira livre
de produtos agroecológicos a estratégia principal, exatamente por permitir o estabelecimento de contato direto
produtor-consumidor, criando no local um ambiente de empatia, de confiança, de troca de saberes, de amizade. E isso
permite a construção de confiança do consumidor, que na prática substitui a geração de confiança produzida pelo
sistema de certificação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- A Rede enquanto movimento se resume na produção e difusão de conhecimento ou saberes locais a serem apropriados
pelas comunidades rurais, assim como pelos prossumidores nos centros urbanos.

- A argumentação sobre os motivos pelos quais os atores decidem realizar a mudança nos revela a imprescindibilidade
da participação dos atores socioinstitucionais em momentos ou no processo todo de transição agroecológica.

- A RTNA conta atualmente com dois pólos de mercado, um em Barbacena e outro em São João del Rei, ambos com
uma estrutura incipiente, mas capazes de atender a capacidade produtiva instalada de alimentos agroecológicos.

- No entanto, os gargalos são desafiadores e urge identificá-los e enfrentar a árdua tarefa de transpô-los.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- A ampliação do mercado para instituições formais como supermercados, que não permitem este contato direto
produtor-consumidor, requer a consolidação do sistema de certificação orgânica, para a identificação do alimento por
meio de um selo de certificação, que é a garantia para o consumidor de que está consumindo um alimento saudável.

- Na RTN Não existe uma organização mobilizadora e coordenadora das ações, o que dificulta qualquer ação
programada e o estabelecimento de uma estratégia de desenvolvimento.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à PROPE/UFSJ pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica. ao co orientador Shigeo Shiki, Professor
Colaborador do Departamento de ciências Econômicas da UFSJ, aos membros da RTNA e da AAFAS,aos participantes do
Programa de Extensão Diálogos de Saberes e Práticas para a promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
no território Vertentes em Minas Gerais e em especial agradeço ao professor Márcio Carneiro dos Reis por toda orientação,
incentivo e apoio.
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