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Introdução
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Nessas condições, somente o exercício irregular das atividades funcionais do
servidor público, que desencadeie em descumprimento a deveres ou inobservância
a proibições, devidamente comprovados ou que existam forte indícios dessas infra-
ções é que deverão ser apurados:
"O uso do poder disciplinar não é arbitrário: não o faz a autoridade quando
lhe aprouver, nem como preferir."4
Ou como averba José Armando da Costa,5 sem ofumus bani iuris não há como
se instaurar procedimentos disciplinares:
4 J. Guimarães Mengale, O Estatuto dos Funcionários, volume 11, Forense. 1962, p. 638.
5 José Armando da Costa, Controle Judicial do AIO Disciplinar, Brasília Jurídica, pp. 202/203.
6 Adilson Abreu Dallari, Limitações à atuação do Ministério Público, Malheiros. 2001, p. 38.
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Não é dado à Administração Pública nem ao Ministério Público, simples-
mente molestar gratuitamente e imotivadamente qualquer cidadão por algu-
ma suposta eventual infração da qual ele, talvez, tenha participado.
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competentes ao erro. Esse é um típico caso de abuso de poder por parte da Admi-
nistração Pública.
Esses casos de excesso de apuração por parte do Poder Público é uma constante,
pois vem temperado pelo arbítrio, onde o tempo e futuras despesas gastas com diárias
para a Comissão de Inquérito rompem a barreira da eficiência e da moralidade que
devem estar presentes em todos os atos públicos.
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sem que haja justa causa, contra agentes públicos que renderão ou não espaço na
mídia contra seus nomes. 7
Essa garantia de inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem das
pessoas retira do administrador a discricionariedade de instaurar procedimento dis-
ciplinar contra servidor público sem um mínimo de indício ou plausibilidade de
acusação. Não se admite a acusação genérica, sem justa causa:
A falta de justa causa afasta a figura do possível delito, tendo em vista a ausência
do ato ilícito. O STF vem retirando do Ministério Público o poder de instaurar
inquérito policial sem um mínimo de plausibilidade ou de justo motivo, trancando-o:
7 .. O jornalista transfonna. de bom grado. o inquérito judiciário num duelo simbólico entre o juiz
de instrução e o acusado, no qual o arbitro não é mais o juiz, mas sim o jornalista." (Antoine
Garapon, O Juiz e a Democracia, Editora Revan, 1996, p. 80).
8 Juiz Roberto Barroso, Temas de Direito Constitucional, tomo lI, Renovar, 2002. p. 553.
9 STF, HC n067.039/RS, REI. Min. Moreira Alves, DJ de 24.11.89.
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"( ... ) Ausência de tipicidade penal - Falta de justa causa - Trancamento
de IPM - Pedido deferido. O trancamento do inquérito policial pode ser
excepcionalmente determinado em sede de habes corpus, quando flagrante
- em razão da atipicidade da conduta atribuída ao paciente - a ausência
de justa causa para a instauração da persecutio criminis. Nos delitos de
colúnias, difamação e injúria, não se pode prescindir, para efeito de seu
formal reconhecimento, da vontade deliberada e positiva do agente de vul-
nerar a honra alheia. Doutrina e jurisprudência. Não há crime contra a honra,
se o discurso contumelioso do agente, motivado por um estado de justa
indignação, traduz-se em expressões, ainda que veementes, pronunciadas
em momento de exaltação emocional ou proferidas no calor de uma discus-
são Precedentes." 10
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Necessariamente deverá estar presente o justo motivo não só para a propositura
de ação penal, como também para instauração do processo disciplinar corresponden-
te, pois nessa última situação também não se admite a turbação da honra, da intimi-
dade e da imagem do servidor público, que possui na CF o antídoto necessário para
curar chagas de injustiça perpetradas pelo Poder Público.
Alexandre de Moraes,12 em feliz síntese, grafa que a proteção constitucional da
intimidade e da honra se estende a todos os relacionamentos da pessoa, inclusive as
relações de trabalho:
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"Art. 144 - As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração,
desde que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam
formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.
Falta de objeto é sinônimo de ausência de justa causa. Sendo certo que somente
a irregularidade, recheada de elementos sólidos e concretos é que poderão ser
investidos, sem que haja constrangimento ilegal da honra e da intimidade do agente
público.
Isso porque, mesmo o Estado tendo uma supremacia especial sobre os seus
agentes públicos, ele não pode iniciar um processo punitivo sem que ocorra uma
justa causa, consubstanciadas em provas e fatos legítimos que indiquem o cometi-
mento de uma infração disciplinar ou penal.
Estribado no citado art. 144, e parágrafo único da Lei n° 8.112/90, José Armando
da Costal 3 também se perfilha ao que foi dito:
Caio Tácito, em 1959,14 com o pioneirismo que marca a sua obra identificava
no Direito Público Brasileiro, o respeito ao exercício dos direitos políticos e a
inviolabilidade dos direitos individuais.
13 José Armando da Costa, Controle Judicial e Ato Disciplinar. Ed. Brasília Jurídica, 2002, p. 203.
14 Caio Tácito, O Abuso de Poder Administrativo 110 Brasil, 1959, Departamento Administrativo
do Serviço Público e Instituto Brasileiro de Ciências Administrativas, p. 17.
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Assim, deverá haver falta administrativa, catalogada como tal no Estatuto, para
que seja iniciado o procedimento disciplinar.
A boa fé e a segurança jurídica retiram do administrador público a faculdade
da instauração do procedimento administrativo genérico, sem que haja aparente
transgressão aos princípios disciplinares que regem a vida funcional.
Não funciona o processo disciplinar como "uma caixa de supresas" onde a
ausência de materialidade de uma possível falta funcional poderia proporcionar a
instauração de inquérito administrativo para devassar a vida do servidor, no afã de
se encontrar algo que possa ser usado contra ele.
Não é assim que funciona.
O princípio da boa fé no direito administrativo exige do agente público, no
exercício de seu munus a lealdade, tanto como a sua repartição, como, sobretudo,
com o administrado.
Tivemos a oportunidade de sublinhar em outra oportunidade:
15 Mauro Roberto Gomes de Mattos, O Contrato Administrativo, 2a ed., Ed. América Jurídica,
2002, p. 160.
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instauração do procedimento disciplinar, é retirada a faculdade do Poder Público em
promover a apuração através do aludido inquérito administrativo genérico, sem
elementos ou substâncias:
16 Edilson Pereira Nobre Junior, O Prillcípio da Boa Fé e sua Aplicação no Direito Administrativo
Brasileiro. Sérgio Antônio Fabris, Editor, 2000, p. 261.
17 José Armando da Costa, ob. cito ant., p. 203/204.
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Conclusão
18 "Uma das garantias mais expressivas do processo penal vigente nos países democráticos é a de
que não pode haver processo sem um princípio de prova. sem umfumus bOlli iuris. .. (Weber Martins
Batista. Liberdade Provisória. Forense. 2" ed., 1985. p. 27).
19 "( ... ) II - No Processo Administrativo Disciplinar o ônus da prova incumbe à Administração."
(AGU - Parecer n° AGUIMF - 04/98 (Processo 10168.001291/95-93, de 23 de abril de 1998.)
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