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UCAM - UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

JÚLIA BLAKENEY DIAS

OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS APLICADOS AO DIREITO


ADMINISTRATIVO

Artigo Científico Apresentado à Universidade


Candido Mendes - UCAM, como requisito parcial
para a obtenção do título de Especialista em
Direito Administrativo.

RIO DE JANEIRO, RJ
2018 Julia Blakeney Dias

Resumo

O presente artigo científico tem o objetivo de demonstrar os principais princípios explícitos na


Constituição Federal aplicáveis no Direito Administrativo, e colocados em prática no caso concreto
sem o objetivo, no entanto, de se esgotar o tema. Para tanto, foi utilizada como referência não
apenas a Carta Magna, mas também a melhor doutrina e jurisprudência. Inicia-se realizando uma
breve explanação sobre o que seja o Direito Administrativo, em seguida explica-se o que vem a ser
Princípios e sua importância no nosso ordenamento jurídico, para então explicar de forma breve, o
que vem a ser os princípios explícitos, qual seja, os que estão presentes no caput do artigo 37 da
Constituição Federal, além de demonstrar atuais posicionamentos de tribunais sobre o tema.

Palavras-chave: Direito Administrativo. Constituição Federal. Princípios


constitucionais explícitos. Análise jurisprudencial. Professor. Supervisor.

1.Introdução

O direito administrativo consiste no ramo do direito público que visa estudar as


normas jurídicas no que tange ao exercício da função administrativa do Estado.
Ou seja, é o conjunto de regras que se impõem às pessoas jurídicas de direito
público e às pessoas jurídicas de direito privado que exercem função
administrativa, estas últimas como delegadas do Estado, realizando os fins
desejados pela ordem jurídica e, objetivando o bem comum. Nesse sentido,
Nohara¹ explica que "podemos compreender que o Direito Administrativo abrange
os entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração
Pública na consecução do interesse público".

2.Sobre os Princípios

Basicamente os princípios constituem o fundamento, alicerce e base de um


sistema, e que condicionam as estruturas subsequentes, garantindo-lhe validade.
Vale ressaltar que tais princípios não necessitam estar presentes na legislação,
tendo validade e lançando seus efeitos independente de existência de positivação
ou não. Segundo Alexy² ,os princípios são mandamentos de otimização, que se
caracterizam pelo fato de poderem ser cumpridos em diferentes graus. A medida
imposta para o cumprimento do princípio depende: das possibilidades reais
(fáticas), extraídas das circunstâncias concretas; e das possibilidades jurídicas
existentes. É importante frizar que, na era pós-positivista, os princípios foram
alçados dos Códigos às Constituições, ganhando status de normas jurídicas de
superior hierarquia. Antes eram tidos como pautas supletivas das lacunas do
ordenamento, conforme orientação do art. 4ᵒ da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro, mas com o avanço da hermenêutica jurídica sabe-se que eles
não são só sugestões interpretativas, pois eles têm caráter vinculante, cogente ou
obrigatório, como bem explicou Nohara³ . Portanto, os princípios jurídicos são as
ideias centrais do sistema, que norteiam toda a interpretação jurídica, conferindo a
ele um sentido lógico e harmonioso. Os princípios estabelecem o alcance e
sentido amplo das regras existentes no ordenamento jurídico. É importante ainda
ressaltar que não há hierarquia entre os princípios, mas que um poderá prevalecer
sobre o outro, ao se analisar o caso concreto. A Constituição Federal, no caput do
art. 37, estabelece, expressamente, cinco princípios da Administração Pública
(direta e indireta): legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. Nesse momento, cada um deles será dissecado da forma mais objetiva
possível.

2.1 Princípio da legalidade

O princípio da legalidade diz respeito à subordinação da Administração Pública à


vontade do povo, isto é, o exercício da função administrativa só pode praticar as
condutas autorizadas em lei (a despeito do particular, que poderá fazer tudo aquilo
que a lei não proíba). Fundamenta-se explicitamente Artigos 5º, II, 37 e 84, IV, da
Constituição Federal e dele derivam vários outros princípios de extrema
importância, tais quais o princípio da finalidade, da razoabilidade, da isonomia e
proporcionalidade, por exemplo. Nesse sentido, vale conferir a jurisprudência
separada que decide que, em ação referente a cobrança indevida de tarifa de
esgoto, o tribunal compreendeu que: "Considerando-se que, em nenhum
momento, o legislador concedeu à ré EMBASA a possibilidade de fixar
unilateralmente as tarifas a serem cobradas dos usuários, tal omissão conforma
verdadeiro obstáculo à atuação proativa do Administrador, em homenagem ao
princípio da legalidade administrativa." Segue a ementa do julgado.

Ementa

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE ORDINÁRIA. TARIFA


DE ESGOTO. NATUREZA JURÍDICA. TARIFÁRIA. FIXAÇÃO DO PREÇO.
ATRIBUIÇÃO. CHEFE DO EXECUTIVO. DELEGAÇÃO AO CONSELHO DE
ADMINISTRAÇÃO DA CONCESSIONÁRIA. SILÊNCIO DA LEI. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE ADMINISTRATIVA. INVIABILIDADE. RESTITUIÇÃO. PERÍODO
ANTERIOR À REGULAMENTAÇÃO. POSSIBILIDADE. FORMA SIMPLES.
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. FIXAÇÃO. SENTENÇA REFORMADA.
APELO PROVIDO.

(Classe: Apelação,Número do Processo: 0121148-63.2000.8.05.0001)

2.2 Princípio da impessoalidade

Tal princípio tem duplo aspecto: em um primeiro momento, estabelece o dever de


imparcialidade na defesa do interesse público, impedindo discriminações e pri-
vilégios indevidamente dispensados a particulares no exercício da função
administrativa. Estabelece ainda que, a atuação dos agentes públicos é imputada
ao Estado, portanto, as realizações não devem ser atribuídas à pessoa física do
agente público, mas à pessoa jurídica estatal a que estiver ligado. Um exemplo
bastante comum de vedação que o princípio da impessoalidade impõe é que
políticos se aproveitem se obras públicas para se promoverem, como podemos
ver no presente julgado, em que houve o tribunal entendeu existir desrespeito a
impessoalidade no caso concreto.

STJ - AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgInt no


AREsp 820235 MA 2015/0284527-0 (STJ)
Data de publicação: 02/08/2018

Ementa: ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO


INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROPAGANDA
INSTITUCIONAL. PROMOÇÃO PESSOAL DO ADMINISTRADOR. VIOLAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA CONFIGURADO. 1. Nos moldes do que dispõe o art. 37 , § 1º ,
da Constituição Federal , a publicidade dos atos governamentais deve sempre
guardar um caráter exclusivamente educativo, informativo ou de orientação social,
sendo absolutamente vedada a publicação de informativos que visem ao proveito
individual do administrador. 2. Diante das premissas fáticas estabelecidas pelo
Tribunal de origem, não há como se afastar a prática de improbidade
administrativa prevista no art. 11 da Lei nº 8.429 /1992, porquanto demonstrado o
dolo, no mínimo genérico, de fazer uso de propaganda institucional para o fim de
obter proveito pessoal. 4. Agravo interno a que se nega provimento.

2.3 Princípio da Moralidade

Tal princípio busca evitar que a Administração Pública se distancie da moral, na


medida em que obriga que a atividade administrativa seja pautada não só pela lei,
mas também pela boa-fé, lealdade e probidade. Evidencia-se que tanto os
agentes quanto a Administração devem agir conforme os preceitos éticos. Com o
objetivo de proteger a moralidade, foram criados alguns remédios constitucionais
na legislação brasileira, dentre eles, os que merecem maior destaque são: Ação
Popular, Ação Civil Pública de Improbidade, Controle Externo Exercido pelos
Tribunais de Contas e Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).

Nesse sentido, Maria Sylvia Zanella Di Pietro 4 entende que “também merece
menção o artigo 15, inciso V, que inclui entre as hipóteses de perda ou suspensão
dos direitos políticos a de “improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4º.
Também vale ressaltar o artigo 5º, inciso LXXIII, que ampliou os casos de
cabimento de ação popular para incluir, entre outros, os que implique a moralidade
administrativa”

2.4 Princípio da Publicidade

Impõe o dever de divulgação oficial dos atos administrativos e está presente


também no livre acesso dos indivíduos a informações de seu interesse e de
transparência na atuação administrativa, sendo protegido pelo remédio
constitucional habeas data. Como os agentes públicos atuam na defesa dos
interesses da coletividade, a vedação de condutas sigilosas e atos secretos visa a
garantia da natureza funcional de suas atividades. Portanto, a publicidade dos
atos administrativos constitui medida voltada a exteriorizar a vontade da
Administração Pública divulgando seu conteúdo para conhecimento público; tornar
exigível o conteúdo do ato; propiciar a produção de efeitos do ato administrativo;
e, ainda, permitir o controle de legalidade do comportamento. É exatamente o que
se observa nesse julgado, em que podemos ver como o princípio da publicidade
está ligado ao da legalidade e, neste caso concreto, à moralidade administrativa.

TJ-DF - 20150110234658 DF 0004925-91.2015.8.07.0018 (TJ-DF)

Data de publicação: 06/08/2018

Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. AGENTE PÚBLICO. NEGATIVA DE FORNECIMENTO DE
INFORMAÇÕES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE. IMPROBIDADE
CONFIGURADA. PENALIDADES CORRETAMENTE IMPOSTAS. 1.É dever do
agente público dar publicidade aos atos oficiais, além de prestar contas e
submeter-se à fiscalização empreendida pelos órgãos competentes, prestando as
informações necessárias e solicitadas, quando administra bens e valores públicos,
de acordo com o disposto no Art. 70 da Constituição Federal . 1.1. A inobservância
desse dever constitui ato de improbidade administrativa, conforme prevê o Art. 11 ,
inc. VI , da Lei 8.429 /92. 2. Reconhece-se que o agente violou o seu dever de dar
publicidade a processos administrativos e de colaborar com ações fiscalizatórias,
violando o disposto no Art. 4º da Lei n. 8.429 /92, segundo o qual "os agentes
públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e
publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos".

2.5 Princípio da Eficiência

Hely Lopes Meirelles5 definiu o princípio da eficiência, como:

“o que se impõe a todo o agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição
e rendimento profissional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se
contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o
serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros”,
e acrescenta que “o dever da eficiência corresponde ao dever da boa administração”.

Este princípio diz respeito tanto ao servidor público, como também a


administração pública, que deve atentar para uma boa administração, tornando o
aparelho estatal menos burocrático e mais tecnológico, com um quadro de pessoal
profissionalizado, visando maior agilidade na prestação do serviço. No que tange
ao servidor público, este deve ter resguardada a sua dignidade, responsabilidade
e capacidade de criação, para que possa cumprir suas funções de forma coesa,
sempre tendo como escopo a supremacia do interesse público.

3. Conclusão

Deve-se buscar de forma constante o máximo de eficiência possível por parte dos
gestores públicos, sem deixar de lado o trabalho responsável e ético, tendo como
fim a busca do bem público. Para tanto, foi deixada em nossa Constituição
Federal, princípios explícitos e implícitos que visam resguardar os direitos do
cidadão e potencializar a máquina pública, sempre com escopo na supremacia do
interesse público sobre o privado. Não se pode se olvidar jamais dos princípios,
institutos de suma importância no nosso ordenamento jurídico, sob pena de se
afrontar não apenas legislação infralegal, mas também à Carta Magna, a que
todos devem obediência no Estado Democrático de Direito.

Referências

¹ NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p.
6

² ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Tradução de Ernesto


Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2002. p.
83.

³ NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p.
54

4
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di, Direito Administrativo, São Paulo, Ed. Atlas,
2009;

5
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros,
2002

BIBLIOGRAFIA

MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva,


2014.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. Princípios do Direito Administrativo .

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.Disponível em
http://www.lfg.com.br. 05 de janeiro de 2009.

https://alexismadrigal.jusbrasil.com.br/artigos/444137118/os-principios-
constitucionais-do-direito-administrativo

https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/134963299/principios-do-direito-
administrativo

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