Você está na página 1de 12

OAB XXXIII EXAME / 1ª FASE

DIREITO ADMINISTRATIVO
1. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

De início, quando se fala em princípios, é preciso ter em mente que os princípios fazem parte do denominado
“Regime Jurídico Administrativo”, isto é, conjunto de regras e princípios que regulam a atividade administrativa, ou seja, a
relação entre a Administração Pública, seus agentes públicos e os administrados, tudo para que a finalidade pública seja
atingida.

Frise-se, que de acordo com a doutrina em geral, existem dois princípios basilares do direito administrativo,
que fundamentam a existência de todos os outros, quais sejam, o da SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O
PRIVADO E O DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO.

PRINCÍPIO EXEMPLO

Prerrogativas

Supremacia do Desapropriação Requisição


Interesse Público Administrativa Cláusulas
sobre o privado - Exorbitantes
Poder de Autotutela
Autoexecutoriedade/Imperativida
de Prerrogativas da Fazenda
Pública Impenhorabilidade dos
bens públicos
Poder de Polícia
Limitações – proibição de renúncia de receitas, taxas, tributos, já que a
coisa pública não é de propriedade da Administração Pública e sim do povo
Indisponibilidade (Art. 1º, parágrafo único da Constituição Federal)
do Interesse
Público

Regra geral, quem cuida do interesse público não pode dele dispor, isto é, o administrador público só pode
realizar alguma conduta de dispor de um bem ou interesse público se o povo autorizar.

1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Antes de iniciar o estudo sobre o princípio em comento, cabe destacar que a Constituição Federal destaca um
capítulo inteiro, qual seja, o VII, do título III para falar sobre a Administração Pública, elencando, desde logo, no art. 37,
caput, os princípios aos quais a Administração Pública obedecerá, destacando assim a importância da Administração Pública
para o ordenamento jurídico constitucional.

Dessa forma, é preciso que o candidato a concurso esteja atento à diferenciação entre a LEGALIDADE GERAL
(Art. 5º, II, da CF/88) da LEGALIDADE ADMINISTRATIVA (Art. 37, caput, da CF/88).

A legalidade geral, ou privada, dispõe que os cidadãos estão livres para fazer tudo o que não estiver proibido
em lei, já a legalidade administrativa dispõe que os administradores públicos e todos que participem da Administração
Pública só podem praticar atos que estiverem previstos em lei.

Nesse sentido, o princípio da LEGALIDADE é um dos primeiros destacados no art. 37, e não à toa, pois tal
princípio é um dos mais importantes do Direito Administrativo e da Administração Pública, servindo de parâmetro e baliza
para todos o que lidam com a atividade administrativa.

CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Av. Santos Dumont, 2626, loja 30 – Aldeota – Fortaleza/CE
Fone: (85) 9-9681-5000 1
Sateonline.memberkit.com.br
CINTIA - cintiabhs2004@gmail.com - IP: 201.17.210.169
OAB XXXIII EXAME / 1ª FASE

Assim, conforme José dos Santos Carvalho Filho “O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da
conduta dos agentes da Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei.
Não o sendo, a atividade é ilícita.”

CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Av. Santos Dumont, 2626, loja 30 – Aldeota – Fortaleza/CE
Fone: (85) 9-9681-5000 2
Sateonline.memberkit.com.br
CINTIA - cintiabhs2004@gmail.com - IP: 201.17.210.169
Vale destacar que a doutrina ainda cita a LEGALIDADE POSITIVA E NEGATIVA, sendo aquela a necessidade de
reserva legal, isto é, os atos só podem ser praticados mediante autorização legal. Já a legalidade negativa diz respeito à
necessidade de primazia da lei, isto é, os atos administrativos não podem contrariar a lei.

1.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

O segundo princípio comentado é da impessoalidade, que diz respeito à necessidade da Administração Pública,
no seu agir, nas suas condutas, tratar a todos de forma impessoal, sem discriminações, sem interesses pessoais.

O princípio acima tem seu fundamento no art. 5º, I, da CF/88 , pelo qual “homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. Ora, se a Constituição disse que homens e mulheres são iguais, em sua
dignidade, em seus direitos, é porque não deve existir tratamento diferenciado como regra por parte da Administração a
todos, sejam homens, sejam mulheres.

Assim, o princípio preleciona que a finalidade a ser alcançada pela Administração Pública é sempre pública, e
NUNCA privada, não podendo haver favorecimentos e até mesmo perseguições.

Vale citar que algumas legislações destacam que a atuação impessoal deve ser priorizada, e a atuação pessoa
deve ser desconsiderada, sob pena de ofensa à Constituição Federal.

A doutrina cita que ato administrativo que é praticado sem observância da impessoalidade, com fins privados,
é ato com desvio de finalidade, a ser anulado pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário, desde que provocado.

A lei da ação popular expressamente menciona esse vício, conforme dispõe o art. 2º, “e” da Lei n. 4.717/196.

A lei n. 9.826/1974 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do Ceará) prevê hipótese em que o
servidor descumprirá ordem de superior hierárquico quando não tiver a ordem como causa uma necessidade administrativa
ou pública, ou visar a fins não estipulados na regra de competência da autoridade da qual promanou ou do funcionário a
quem se dirige e a ordem configurar abuso ou excesso de poder ou de autoridade, conforme art. 192, V e VI.

A Constituição Federal, no art. 37, §1º também prevê o princípio da impessoalidade.

Assim, a atuação administrativa deve evitar perseguições ou favoritismos, sob pena de ofender o princípio
constitucional da impessoalidade previsto expressamente no texto constitucional.

Exemplo corrente de violação a tal princípio é a remoção de servidor público de um município para outro,
como forma de punição, tendo em vista ser o mesmo de ideologias políticas diversas do Prefeito. Tais condutas são comuns e
quando chegam ao Poder Judiciário são anuladas por ofensa à impessoalidade.

Cabe também observar, que é em face do princípio da impessoalidade, que são tidos como legais e aceitáveis
os atos administrativos praticados servidor irregularmente investido na função pública, pois, se os atos praticados pelo
agente são imputados ao Estado, a atuação, ainda que de servidor irregular, foi do Estado e não do servidor.

Por fim, saliente-se que, foi com base também no princípio da impessoalidade que o STF editou e aprovou a
súmula vinculante n. 13 (nepotismo).

Em face disso, quando um Prefeito nomeia, para ser assessor especial, sua companheira, fica claro que a
nomeação foi motivada por motivos pessoais, e não em razão das qualidades profissionais que eventualmente o nomeado
possa ter.

ATENÇÃO, o próprio STF entende não ser aplicável a súmula acima descrita e não configurar hipótese de
nepotismo, a nomeação dos parentes citados para CARGOS POLÍTICOS, vez que estes estão previstos na Constituição Federal,
sendo uma exceção trazida pela própria carta constitucional.
No entanto, o STF também entende que, em algumas situações, mesmo para cargos políticos, é possível a
configuração do nepotismo, como na hipótese de ajuste mediante designações recíprocas.

Por outro lado, não será ofensiva ao princípio da impessoalidade, de acordo também com o STF, a nomeação
de parentes ocupantes de cargos efetivos, vez que a norma proibitiva do nepotismo dirige-se a cargos comissionados,
funções de confiança e gratificadas.

1.3.1.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE

O princípio da moralidade, além de um padrão de conduta a ser seguido por todos os que lidam com a coisa
pública, é um complemento ao princípio da legalidade, pois a atuação administrativa legal, mas contrária à moral e aos bons
costumes administrativos também caracterizar-se-á como um ato ilegal.

Vale destacar, que a MORAL ADMINISTRATIVA DIFERE DA MORAL COMUM, pois aquela exige que a atuação do
administrador seja pautada por padrões éticos, de boa-fé, de probidade pública.

É importante citar, que vários dispositivos da Constituição Federal trazem a noção de moralidade e probidade
administrativa, como o art. 37, §4º que traz a noção de improbidade administrativa, o art. 5º, LXXIII que se refere à ação
popular de ato lesivo à moralidade administrativa e, por fim, o art. 85, V, que prevê o crime de responsabilidade do
Presidente da República por ato que atente contra a probidade na administração.

Ademais, a noção de moralidade não é subjetiva, isto é, do agente responsável pela conduta, mas sim uma
noção objetiva, ou seja uma conduta praticada de acordo com os padrões de ética e de boa-fé objetiva.

Exemplo de ato imoral é a nomeação de parente para ocupar cargo em comissão na Administração Pública,
conforme verbete sumular vinculante n. 13 do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido
o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Por fim, saliente-se que, foi com base também no princípio da moralidade que o STF editou e aprovou a súmula
vinculante n. 13 (nepotismo).

Em face disso, quando um Prefeito nomeia, para ser assessor especial, sua companheira, fica claro que a
nomeação foi motivada por motivos pessoais, e não em razão das qualidades profissionais que eventualmente o nomeado
possa ter, sendo também imoral o referido ato, passível até de ação por improbidade administrativa, conforme se comprova
pelo disposto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992, pelo qual “Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente” (...)

ATENÇÃO, o próprio STF entende não ser aplicável a súmula acima descrita e não configurar hipótese de
nepotismo, a nomeação dos parentes citados para CARGOS POLÍTICOS, vez que estes estão previstos na Constituição
Federal, sendo uma exceção trazida pela própria carta constitucional.

Por outro lado, não será ofensiva ao princípio da impessoalidade, de acordo também com o STF, a nomeação
de parentes ocupante de cargos efetivos, vez que a norma proibitiva do nepotismo dirige-se a cargos comissionados, funções
de confiança e gratificadas.

1.4. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE


A regra na Administração Pública é que os atos administrativos sejam públicos, pois considerando vivermos
num Estado Democrático de Direito, no qual as decisões mais importante à República são tomadas pela maioria da vontade
do povo, e com fundamento no direito, não é interessante que as condutas do administradores públicos sejam sonegadas do
maior interessado, e titular da coisa pública, isto é, o povo.

Dessa forma, para que o povo possa controlar os atos administrativos, se faz necessário ter acesso amplo ao
seu conteúdo, no intuito de questionar, administrativa ou judicialmente, sua legalidade e atendimento aos comandos
constitucionais.

No entanto, a própria Constituição faz ressalvas a essa regra geral, conforme está delineado no art. 5º, XXXIII.

Ou seja, quando o acesso à informação puder causar prejuízo à segurança da sociedade e do Estado, a
informação não será prestada, e a negativa de acesso não ofenderá a Constituição Federal, pois é esta que traz a exceção.

É importante ainda ter em mente que, a publicidade, princípio administrativo, não se confunde com a
publicação, sendo esta uma das hipóteses de publicidade, umas das formas da publicidade ocorrer.

Atenção, pois o princípio da publicidade não restará cumprido com a divulgação do ato praticado pela
Administração Pública na VOZ DO BRASIL, a exigência de publicidade, conforme seja o ato individual ou coletivo, se perfaz
com a comunicação ao destinatário do ato ou a publicação no Diário Oficial do Estado.

ATO INDIVIDUAL→COMUNICAÇÃO AO INTERESSADO


ATO COLETIVO→PUBLICAÇÃO ATRAVÉS DO DIÁRIO OFICIAL

1.3.1.4.1. Instrumentos para garantir a publicidade

Abaixo listamos alguns instrumentos hábeis a assegurar o princípio da publicidade:


a)direito de informação – art. 5º, XXXIII da CF/88
b)direito de petição – art. 5º, XXXIV da CF/88
c)habeas data – art. 5º, LXXII da CF/88

Vale apenas destacar que se a informação a ser buscada pelo cidadão for de interesse coletivo geral, em caso
de negativa, o fundamento do pedido será o art. 5º, XXXIII e a ação a ser impetrada é o MANDADO DE SEGURANÇA. Mas, por
outro lado, se as informações forem de interesse pessoal do requerente, o fundamento do pedido deverá ser o art. 5º, LXXII
da CF/88 , e ação deverá ser HABEAS DATAS.

1.5. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

O princípio da eficiência foi um dos últimos a ser inserido no art. 37 da Constituição Federal, através da
Emenda Constitucional n. 19/1998, que introduziu no sistema constitucional a reforma administrativa, propugnando por uma
Administração Pública GERENCIAL e não mais BUROCRÁTICA.

Nesse sentido, evidenciam-se os controles de resultado em detrimento dos controles de meio, o que importa à
Administração Pública é que o serviço público ou a atividade administrativa seja prestado, em UM MENOR TEMPO, com um
MENOR CUSTO, isto é, levando ECONOMIA aos COFRES PÚBLICOS.

Podem ser citados abaixo, alguns instrumentos constitucionais que visam cumprir o princípio da eficiência, a
saber:

a) estágio probatório
b) avaliação periódica de desempenho – Art. 41, III, da CF/88
c) duração razoável do processo (administrativo e judicial) - Art. 5º, LXXVIII da CF/88
d) Parcerias da Administração Pública – Lei 11.079/2004 (parcerias público-privadas), Lei 9.897/99 (concessões e permissões
de serviços públicos)
Vale dizer, que a pretexto de observar a duração razoável do processo, em busca da eficiência, não é correto à
Administração Pública fixar um prazo para que o processo seja concluído. Em verdade, a razoável duração do processo e a
eficiência serão observadas em cada caso concreto. NÃO É UMA FÓRMULA AUTOMÁTICA.

Por fim, saliente-se que, foi com base também no princípio da eficiência que o STF editou e aprovou a súmula
vinculante n. 13 (nepotismo).

Em face disso, quando um Prefeito nomeia, para ser assessor especial, sua companheira, fica claro que a
nomeação foi motivada por motivos pessoais, e não em razão das qualidades profissionais que eventualmente o nomeado
possa ter, e, em face do parentesco, o nomeado não será forçado ou estimulado a sempre cumprir o princípio da eficiência,
tendo em vista que em caso de ação ineficiente não correrá risco de perder o cargo.

ATENÇÃO, o próprio STF entende não ser aplicável a súmula acima descrita e não configurar hipótese de
nepotismo, a nomeação dos parentes citados para CARGOS POLÍTICOS, vez que estes estão previstos na Constituição Federal,
sendo uma exceção trazida pela própria carta constitucional.

No entanto, o STF também entende que, em algumas situações, mesmo para cargos políticos, é possível a
configuração do nepotismo, como na hipótese de ajuste mediante designações recíprocas.

Por outro lado, não será ofensiva ao princípio da impessoalidade, de acordo também com o STF, a nomeação
de parentes ocupante de cargos efetivos, vez que a norma proibitiva do nepotismo dirige-se a cargos comissionados, funções
de confiança e gratificadas.

2. PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS (INFRACONSTITUCIONAIS)

2.1. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

Também denominado pela doutrina de princípio da sindicabilidade o princípio da autotutela diz respeito à
necessidade da Administração Pública controlar seus próprios atos, seja anulando os que contenham algum vício de
legalidade, seja revogando os que se tornem inconvenientes e inoportunos, bem como a possibilidade do poder judiciário
também controlar esses atos, desde que provocado.

Quando houver anulação pela própria administração, a questão versa sobre a legalidade do ato, e aquela não
precisa de requerimento para proceder à anulação do ato. Ademais, o próprio Poder Judiciário pode realizar a anulação do
ato administrativo, MAS DESDE QUE PROVOCADO.

Cabe falar, que a doutrina entende que a palavra “pode”, presente nas duas súmulas, está equivocada, tendo
em vista que quando o ato tornar-se ilegal, a Administração Pública não tem o poder de avaliar se anula ou não o ato, ele
tem o dever de anular. Mesma situação se aplica à revogação, pois quando o ato se tornar inconveniente e inoportuno a
Administração Pública deverá revoga-lo.

Por fim, cabe mencionar que o Superior Tribunal de Justiça editou súmula de jurisprudência sobre a
possibilidade de instauração de procedimento administrativo-disciplinar com fundamento em DENÚNCIA ANÔNIMA,
justamente com fundamento no princípio da AUTOTUTELA.

Vale salientar, por fim, que sempre será possível ao Poder Judiciário analisar o aspecto de legalidade do ato da
Administração Pública, mas desde que provocado.

2.2. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO

O princípio em comento diz respeito à necessidade da Administração Pública expor os fundamentos de fato e
direito que embasaram a edição do ato administrativo, tendo em vista que dessa forma o povo pode, de forma mais
abrangente, controlar os atos administração, se souber por quais motivos o poder público praticou o ato.

A legislação infraconstitucional prevê expressamente o citado princípio, como se percebe pelo art. 2º,
parágrafo único, VII da Lei n. 9.784/1999 (Lei do processo administrativo federal).
A Constituição Federal de 1988, por sua vez, prevê no art. 93, IX que as decisões administrativas do dos
tribunais serão motivadas.

Atenção, a MOTIVAÇÃO NÃO SE CONFUNDE COM O MOTIVO, sendo aquela, como já se disse, a necessidade
de exposição escrita dos fundamentos de fato e direito pelos quais a Administração Pública se baseou para tomar a decisão.
Por outro lado, o MOTIVO é um dos requisitos do ato administrativo, ou seja, é o fato que autoriza a realização do ato
administrativo.

A doutrina majoritária apregoa que todos os atos administrativos, sejam eles VINCULADOS OU
DISCRICIONÁRIOS, devem ter motivação. Por fim, em alguns casos, a MOTIVAÇÃO NÃO SERÁ NECESSÁRIA, a exemplo dos
seguintes atos:

• motivação evidente (atos de gesticulação de policiais); •motivação inviável (sinais de trânsito emitidos por semáforo);
• nomeação e exoneração de cargo comissionado.

Ademais, a regra é a motivação dos atos administrativos, conforme se observa pela redação do art. 50 da Lei n.
9.784/1999.

Também vale citar o que a doutrina chama de motivação “aliunde”, situação na qual a motivação de um ato é
realizada com a remissão a um outro ato anterior, isto é, expõe-se os motivos de fato e de direito do ato, mas relacionados a
outro anteriormente praticado.

2.3. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

O princípio da segurança jurídica é considerado um subprincípio do Estado Democrático de Direito, tendo em


vista que os cidadãos devem ter a segurança, com fundamento num Estado de Direito, que não serão surpreendidos com
modificações repentinas.

Assim, qualquer modificação de norma jurídica que seja aplicada sobre a relação na Administração Pública não
poderá retroagir para alcançar situações passadas (pretéritas), sob pena de ofensa ao princípio e de ilegalidade da conduta.

ATENÇÃO, o princípio em apreço NÃO ESTÁ EXPRESSAMENTE PREVISTO na Constituição Federal de 1988, mas
ESTÁ EXPRESSAMENTE PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO, a saber pela Lei n. 9.784/1999 (Lei do Processo
Administrativo Federal), que dispõe no art. 2º que a Administração Pública obedecerá o princípio da Segurança Jurídica.

Ademais, no art. 2º, parágrafo único, XIII, tem-se a conceituação do princípio da segurança jurídica, pelo qual
“interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada
aplicação retroativa de nova interpretação”.

Isto é, se a Administração Pública tem um novo entendimento sobre determinado assunto, ela não pode
aplicar essa nova interpretação, a situações passadas, sob pena de ofensa ao princípio da segurança jurídica.

De acordo ainda com a Lei 9.748/1999, a Administração Pública tem o prazo decadencial de 5 anos para anular
ato administrativo do qual decorram efetivos favoráveis ao destinatário, salvo comprovada má-fé, ou seja, se a
Administração não exerceu o direito no prazo mencionado, ainda que ilegal, os efeitos do ato administrativo permanecerão,
com base na segurança jurídica.

2.4 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE

O princípio ora comentado diz respeito à necessidade de que os serviços públicos sejam prestados de forma
permanente, sem interrupções abusivas e indevidas, e está expressamente previsto na Lei 8.987/1995, no seu art. 6º, §1º, de
acordo com o qual:

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos
usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas

Ocorre que o §3º do art. 6º permite a descontinuidade do serviço nas hipóteses de razões técnicas ou
segurança das instalações e por inadimplemento do usuário. Dessa forma, seria possível à concessionária de fornecimento de
energia elétrica realizar o corte no fornecimento pelo inadimplemento do usuário.

→IMPOSSIBILIDADE DE CORTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM HOSPITAIS, CRECHES, ESCOLAS, PRONTO-SOCORROS

→É POSSÍVEL O CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA A PESSOAS JURÍDICAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS


ESSENCIAIS, DESDE QUE HAJA NOTIFICAÇÃO E A INTERRUPÇÃO NÃO ATINJA AS UNIDADES PRESTADORAS DE SERVIÇOS
INDISPENSÁVEIS À POPULAÇÃO.

→É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito decorrer de irregularidade no
hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela concessionária.

Por fim, como garantia ao princípio da continuidade dos serviços públicos, dispõe o art. 58, V, da Lei 8.666/1993, que nos
casos de serviços essenciais a Administração Pública poderá ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços
vinculados ao objeto do contrato, na hipótese de necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo
contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.

2.5. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE

O princípio da razoabilidade diz respeito à proibição de condutas imoderadas, abusivas, irracionais,


desequilibradas, inadequadas, desmedidas, incoerentes ou desarrazoadas do interesse público.

O princípio em apreço tem sido aplicado com maior ênfase no campo do regime disciplinar, no qual algumas
vezes a administração toma decisões que são desarrazoadas, imoderadas em relação ao ato ilícito que lhe deu causa,
cabendo ao Poder Judiciário, desde que provocado, anular o ato decisório imoderado.

Já no que se refere ao princípio da proporcionalidade, vale destacar que busca-se com ele o equilíbrio entre as
condutas praticadas e as razões que as ensejaram.

Dessa forma, para diferenciá-lo da razoabilidade, imagine a situação de uma falta leve praticada por um
servidor, mas que quando da aplicação da sanção em razão da falta vem a sofrer uma penalidade grave. Tal ato sancionador
deve ser anulado por violação à proporcionalidade.

O STF divide o princípio em três subprincípios, quais sejam, o da necessidade, adequação e proporcionalidade
em sentido estrito.

Para finalizar, cabe destacar um conhecido provérbio que sintetiza bem o princípio: “não se usam canhões
para matar pardais”.

3 OUTROS PRINCÍPIOS

3.1 Princípio da descentralização ou especialidade

Constituem princípios fundamentais da organização administrativa: I – Planejamento; II – Coordenação; III –


Descentralização; IV – Delegação de Competência; V – Controle (art. 6º do Decreto-Lei n. 200/67).

O princípio da descentralização ou especialidade recomenda que, sempre que possível, as funções


administrativas devem ser desempenhadas por pessoas jurídicas autônomas, criadas por lei especificamente para tal
finalidade. É o caso das autarquias, fundações públicas, empresas públicas
e sociedades de economia mista (art. 37, XIX, da CF).

3.2 Princípio da presunção de legitimidade


Como são praticados exclusivamente com a finalidade de aplicação da lei, os atos administrativos beneficiam-
se da legitimação democrática conferida pelo processo legislativo.

Assim, os atos administrativos são protegidos por uma presunção relativa (juris tantum) de que foram
praticados em conformidade com o ordenamento jurídico. Por isso, até prova em contrário, os atos administrativos são
considerados válidos para o Direito, cabendo ao particular o ônus de provar eventual ilegalidade na sua prática.

Em razão dessa presunção, mesmo que o ato administrativo tenha vício de ilegalidade (ato nulo) fica garantida
sua produção de efeitos, até o momento de sua retirada por meio da invalidação.

3.3 Princípio da isonomia

O princípio da isonomia é preceito fundamental do ordenamento jurídico que impõe ao legislador e à


Administração Pública o dever de dispensar tratamento igual a administrados que se encontram em situação equivalente.

Exige, desse modo, uma igualdade na lei e perante a lei. Atos administrativos e leis não podem desatender a
esse imperativo de tratamento uniforme.

Seu fundamento constitucional é o art. 5º, caput, da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”

02. PODERES ADMINISTRATIVOS

Inicialmente, cabe mencionar que como a Administração Pública está submetida ao regime jurídico de direito
público, com prerrogativas e limites, os poderes administrativos são prerrogativas que a Administração tem para bem
desempenhar a função administrativa.

É preciso também destacar, que no exercício dos poderes, pode ocorrer o abuso de poder, que tem como
espécies o excesso de poder e o desvio de poder, consistindo aquele quando o agente atua além da competência legalmente
definida. Já o desvio de poder acontece quando o agente pratica o ato visando fins particulares, não definidos em lei.

PODER VINCULADO E DISCRICIONÁRIO

Há intensa divergência sobre se o caráter vinculado ou discricionário da atuação da Administração caracteriza


ou não um dos poderes administrativos. No entanto, é preciso mencionar que as bancas de concurso em geral tem admitido
a atuação administrativa vinculada ou discricionária como poderes.

O PODER VINCULADO ocorre quando na atuação administrativa não há margem de liberdade ao agente
público, isto é, este é apenas um executor do que está contido na lei, como por exemplo na concessão de licença para
construir.

O PODER DISCRICIONÁRIO, por sua vez, acontece quando na atuação administrativa, mesmo subordinado à lei,
o agente público tem uma margem de liberdade, quando existe a possibilidade de proferir decisão sancionatória na qual
existe o percentual mínimo e máximo da punição, como por exemplo suspensão de 30 a 90 dias.

2.1 PODER REGULAMENTAR

É o poder conferido à Administração Pública de expedir normas gerais, isto é, atos administrativos gerais e
abstratos, com o intuito de complementar as leis administrativas, facilitando a compreensão do texto legal.
É necessário que se entenda que o poder regulamentar é espécie do poder normativo, e é atribuição do
Presidente, na esfera federal, dos Governadores e Prefeitos nas esferas estaduais e municipais.

Se os chefes dos executivos acima mencionados, sob a justificativa de regulamentar a lei, exorbitarem do poder
regulamentar, caberá ao poder legislativo, com fundamento no art. 49, V, da Constituição Federal sustar os efeitos desse ato.
dos limites de delegação legislativa

A forma como o poder regulamentar se exercita é pelo decreto, isto é, ato normativo destinado apenas a
especificar e melhor aplicar a lei genericamente prevista, cabendo aos chefes dos executivos tal providência, conforme
disposição do art. 84, IV, da CF/88.

Vale ainda mencionar a existência de decretos autônomos, nos termos do art. 84, VI da CF/88, ou seja, são
decretos que não regulamentam nenhuma lei, mas dispõe de situações constitucionalmente permitidas de serem instituídas
por decreto.

Por fim, se o decreto é regulamentador, isto é, instituído pra regulamentar uma lei, e ofender esta, haverá
controle de legalidade, mas, por outro lado se houve decreto autônomo fora das hipóteses constitucionais, sendo ofensa
direta à Constituição, haverá controle de constitucionalidade.

2.2. PODER HIERÁRQUICO

É poder que possibilita a coordenação, supervisão, controle, delegação, avocação de competência e punição a
servidores, frisando que a hierarquia se dá no âmbito de um mesmo órgão ou pessoa jurídica, não ocorrendo entre pessoas
jurídicas diversas.

• ATENÇÃO: NÃO HÁ HIERARQUIA ENTRE A ADMINISTRAÇÃO DIRETA E A INDIRETA!

O PODER HIERÁRQUICO NÃO SE APLICA A PARTICULARES, SOMENTE AOS AGENTES PÚBLICOS SUBMETIDOS A DISCIPLINA
INTERNA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

É preciso mencionar que, para que haja a avocação de competência, deve existir uma relação de subordinação
entre os órgãos, mas na delegação, é possível delegação para órgão não subordinado ao delegante.

Vale destacar, que alguma situações não podem ser delegadas, nem tampouco sofrer avocação, conforme
menciona os arts. 12 e 13 da lei n. 9.784/1999.

2.3. PODER DISCIPLINAR

O poder disciplinar consiste na possibilidade de a Administração aplicar punições aos agentes públicos que
cometam infrações funcionais. Assim, trata-se de poder interno, não permanente e discricionário. Interno porque somente
pode ser exercido sobre agente público, nunca em relação a particulares, exceto quando estes forem contratados da
Administração ou houver entre eles alguma vinculação especial, como o preso submetido à disciplina da execução penal
na unidade prisional, o aluno de escola pública e os menores infratores recolhidos em centros de reabilitação.

Assim, é possível a aplicação do poder disciplinar a uma empresa que é contratada pelo Estado para prestação
de serviço, se esta descumpre alguma cláusula contratual, sendo possível a aplicação de sanção ao particular, em razão do
vínculo contratual existente entre eles.

Atenção, pois em regra o poder disciplinar é discricionário, tendo a Administração Pública certa liberdade na
gradação da sanção a ser aplicada, MAS, CUIDADO, NÃO HÁ MARGEM DE LIBERDADE NÃO APLICAÇÃO OU NÃO DA SANÇÃO.
OCORRIDA A FALTA, DEVE HAVER PUNIÇÃO, não havendo escolha entre punir ou não.

Por último,é interessante não confundir o poder disciplinar da Administração Pública, destinado aos servidores
e a particulares com algum vínculo especial, com o Poder Punitivo do Estado, direcionado a todos aqueles que praticarem
uma infração penal.
2.4. PODER DE POLÍCIA

Poder de polícia é a atividade da Administração Pública, baseada na lei e na supremacia geral, consistente no
estabelecimento de limitações à liberdade e propriedade dos particulares, regulando a prática de ato ou a abstenção de fato,
manifestando -se por meio de atos normativos ou concretos, em benefício do interesse público, de forma PREVENTIVA OU
REPRESSIVA.

O poder de polícia, em regra, é discricionário, isto é, a Administração Pública possui um espaço de decisão, com
base na conveniência e oportunidade, para decidir acerca das situações que lhes são apresentadas.

Contudo, haverá situações nas quais esse poder será vinculado, como é o caso da licença para construir, que
constitui-se em típico poder de polícia, mas se o particular preencher os requisitos legais à concessão daquela, não caberá à
Administração indeferi-la.

O conceito legal do poder de Polícia está presente no art. 78 do Código Tributário Nacional.

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando


direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966)

Vale destacar que a doutrina costuma classificar o poder de polícia em ciclos, quais sejam:

1º - ordem de polícia - INDELEGÁVEL


2º - consentimento de polícia – DELEGÁVEL
3º - fiscalização de polícia - DELEGÁVEL
4º - sanção de polícia - INDELEGÁVEL

A ordem de polícia se caracteriza pelas ordens dadas pela Administração Pública ao particular, as quais são
fundamentadas pela imperatividade, impondo restrições, dentro do limite legal, independentemente da concordância do
particular, previstas em algumas vezes na própria legislação.

O consentimento de polícia constitui-se nas situações em que o particular necessitar realizar alguma atividade
sujeita à autorização por parte do poder público, como é o exemplo da autorização de fechamento de rua ou da licença para
dirigir.

A fiscalização consiste em uma das principais atividades do poder de polícia, isto é, fiscalizar e controlar
atividades, em nome do bem comum e da ordem pública.

Por último, a sanção de polícia poderá ser aplicada quando for verificada a ocorrência de descumprimento de
ordem ou dispositivo legal, como a apreensão de mercadorias.

Por fim, vale destacar que o Poder de Policia não é privativo das Polícias Administrativas previstas no art. 144
da CF/88 , mas de todos os órgãos públicos a quem a lei atribui tal competência.

Foi com base no fundamento acima mencionado que o STF decidiu por outorgar às guardas municipais o poder
de fiscalização e aplicação de sanção no trânsito, por constituir típico exercício do poder de polícia.

2.4.1. PODER DE POLÍCIA EM SENTIDO AMPLO E SENTIDO ESTRITO

O poder de polícia em sentido amplo se relaciona com as LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS e LIMITAÇÕES


LEGISLATIVAS, como por exemplo, as legislativas constituem-se em leis que regulam alguma atividade sujeita alguma
fiscalização, como uma lei que exige alvará para funcionamento de alguma atividade.
Já o poder de polícia em sentido se refere apenas às LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS, decorrentes das
atividades de fiscalização e repressão do poder público.

2.4.2. POLÍCIA ADMINISTRATIVA E POLÍCIA JUDICIÁRIA

A polícia administrativa é aquela conhecida como preventiva e ostensiva, pois atua na garantia da ordem
pública e da incolumidade das pessoas, com base no art. 144 da Constituição Federal.

Já a polícia judiciária tem sua atuação voltada à investigação de crimes e contravenções penais e a missão de
levar elementos probatórios ao Ministério Público para a propositura de ação penal.

Assim, é possível que as polícias administrativas exerçam poder de polícia, mas não é correto que as polícias
judiciárias o façam, sob pena de desvirtuamento da Constituição Federal.

Por fim, destaque-se que as sanções de poder de polícia prescrevem em 5 anos, contados da prática do ato, ou
no caso de infração permanente, quando tiver cessado, conforme dispõe o art. 1º da Lei 9.873/1999.

Você também pode gostar