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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

BASES CONSTITUCIONAIS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1° Bimestre

Profa Mônica M C Vieira Bortolassi

2023/2
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I) O DIREITO ADMINISTRATIVO E O REGIME JURÍDICO-


ADMINISTRATIVO.

Celso Antônio Bandeira de Mello (BANDEIRA DE MELLO,


2015, p.26) ensina que o Direito Administrativo é um ramo do
Direito Público que estuda a função administrativa que é uma das
funções do Estado. Segundo o autor (BANDEIRA DE MELLO, 2015,
p.29), o Direito Administrativo além de disciplinar o exercício desta
função administrativa, também estuda as pessoas e órgãos que a
desempenham.
A função administrativa é exercida pelo Poder Executivo em
sua função típica. Entretanto, o Poder Legislativo e o Poder
Judiciário também exercem atipicamente a função administrativa.
De fato, a função típica do Poder Legislativo é legislar e a do
Judiciário é julgar. Atipicamente o Legislativo exerce as outras duas
funções, ou seja, este Poder também julga e administra. Da mesma
forma, o Judiciário atipicamente também legisla e administra. Assim
sendo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário atipicamente
administram o próprio Poder quando, por exemplo, abrem um
concurso público ou iniciam uma licitação para compras,
contratação de obras ou serviços.
Portanto, quando a Administração Pública exerce a função
administrativa, ela o faz em uma posição de supremacia em relação
ao particular, em razão da supremacia do interesse público
sobre o interesse privado. Isto não quer dizer que a
Administração Pública seja superior aos particulares, mas que o
interesse público por ela visado é superior ao interesse privado,
como é o caso, por exemplo, da desapropriação, onde o interesse
público está acima do interesse do proprietário do imóvel.
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I.1 Princípios Constitucionais de Direito Administrativo

O art. 37 da Constituição Federal prevê que a Administração


Pública se sujeita aos Princípios da Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Publicidade e Eficiência. Trata-se dos Princípios
expressos ou explícitos que obriga a Administração Direta e Indireta
(MAZZA, 2017, p. 112). Estes Princípios se aplicam aos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário e as entidades da Administração
indireta.

I.1.1 Princípio da legalidade

De acordo om o Princípio da Legalidade, a Administração


Pública só pode praticar um ato previsto em lei. Na hipótese de
inexistência de lei prevendo um determinado ato, a Administração
Pública não poderá praticá-lo.
A Administração pública, por força do Princípio da legalidade,
só pode agir exatamente como determinado pela lei.
A Administração Pública não pode suprir a falta da lei editando
um ato normativo (Decreto, Portaria ou Instrução Normativa por
exemplo).

I.1.2 Princípio da impessoalidade:

O administrador público deve ser neutro não podendo praticar


um ato com o objetivo de favorecer amigos e familiares ou de
prejudicar inimigos ou desafetos políticos devendo ter como objetivo
sempre o interesse público.
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A impessoalidade também se caracteriza pelo fato de a


atuação dos agentes públicos ser imputada ao Estado, como ensina
Maria Sylvia Di Pietro (Di Pietro, 2019, p. 95). Assim sendo, a
responsabilidade pelo ato praticado deve ser imputada ao Estado e
não ao agente público que o praticou.
Por outro lado, o art. 37, parágrafo primeiro da CF dispõe: “A
publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos
órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.”
Assim sendo, Administrador Público não pode utilizar nomes
símbolos ou, imagens para a sua promoção ou de seu partido
político, sob ´pena de violar o Princípio da impessoalidade.

I.1.3 Princípio da Moralidade Administrativa:

O administrador público, ao praticar um ato administrativo, deve


objetivar a moral, a boa-fé, os bons costumes e os princípios éticos.
Trata-se do princípio da ética no Direito Administrativo. Em
consequência, o administrador público deve ser probo ao praticar
um ato administrativo.
A prática de nepotismo, por exemplo, com a contratação de
parentes para a ocupação de cargos de confiança no serviço
público viola o Princípio da moralidade administrativa.
Um ato administrativo imoral não necessariamente é ilegal. De
fato, um ato pode não ser proibido por lei, mas violar a moralidade
administrativa.
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O art. 5º, inciso LXXIII da CF fundamenta a propositura de ação


popular pelo cidadão, entre outras hipóteses, em caso de violação a
moralidade administrativa.

I.1.4 Princípio da Publicidade:

Maria Sylvia Di Pietro ensina que “O princípio da publicidade,


que vem agora inserido no artigo 37 da Constituição, exige a ampla
divulgação dos atos praticados pela Administração Pública,
ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei.” (DI PIETRO,
2019, p. 99).
Portanto, a Administração Pública deve ser transparente na
prática dos seus atos e contratos administrativos, de modo a dar
ciência aos administrados.
A publicidade deve atender ainda a forma prevista na lei. Ex:
publicação do edital de concurso.
O art. 37, §1º da CF ainda prevê que “A publicidade dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social
(...)”
Portanto, a Constituição Federal permite a publicidade de atos,
programas, serviços e campanhas dos órgãos públicos através dos
meios de comunicação social, desde que tenham um caráter
educativo, informativo ou de orientação social, a exemplo das
propagandas sobre campanha de vacinação ou sobre a prevenção
de doenças.
Finalmente, o administrado também tem o direito de obter
informações coletivas ou geral dos órgãos públicos, ressalvada a
hipótese que a lei exige sigilo.
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I.1.5 Princípio da Eficiência:

Este Princípio foi introduzido pela Emenda Constitucional nº


19/98 (BRASIL, 1998). O princípio da eficiência, segundo Maria
Sylvia Di Pietro, apresenta um aspecto que leva em conta a modo
de atuação do agente público, “(...) do qual se espera o melhor
desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores
resultados” e um segundo aspecto relacionado com o “modo de
organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também
com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na
prestação do serviço público”. (DI PIETRO, 2019, p. 111).
Este Princípio é atendido quando, por exemplo, a
Administração pública presta um serviço público com agilidade e
qualidade. Isto é possível graças ao investimento em tecnologia,
programas e em capacitação e treinamento dos agentes públicos.

1.2. PRINCIPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Além dos Princípios constitucionais de Direito Administrativo


acima estudados, existem outros Princípios considerados
infraconstitucionais. São os chamados Princípios de Direito
Administrativo que embora não sejam expressos são decorrentes
dos Princípios acima estudados.

I.2.1 Princípio da autotutela

A Administração Pública deve realizar um controle dos seus


próprios atos podendo anulá-los em caso de ilegalidade, ou
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revogá-los caso não atenda o interesse público, por não ser mais
conveniente e oportuno. Apenas a Administração Pública é
competente para revogar um ato administrativo.

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
MOTIVO ILEGALIDADE INTERESSE PÚBLICO
COMPETÊNCIA ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA PÚBLICA
PODER JUDICIÁRIO
EFEITOS EX TUNC EX NUNC

I.2.1 Princípio da motivação

Este Princípio está relacionado com a obrigação que a


Administração Pública tem de fundamentar os atos
administrativos nas razões de fato e de direito que levaram a
prática deste ato, como forma de controle da legalidade.
As decisões administrativas também precisam ser
fundamentadas.
A motivação não se confunde com motivo. O motivo é o fato
que levou a prática do ato (infração de trânsito). A motivação é a
fundamentação do ato (EX: a fundamentação na notificação da
multa).

I.2.3. Princípio da responsabilidade do Estado

O Estado deve se responsabilizar pelos prejuízos que seus


agentes ocasionarem a terceiros, nos termos do art. 37, § 6º da
CF. O Estado responde de forma objetiva pelos atos ilícitos,
comissivos ou omissivos.
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Além de responder pelos atos ilícitos decorrentes de sua ação


ou omissão, O Estado também responde pelos atos lícitos que
ocasionem prejuízos a terceiros.

I.2.4 Princípio da continuidade do serviço público

De acordo com o Princípio da continuidade os serviços públicos


não podem ser suspensos ou paralisados. Assim sendo, mesmo na
hipótese de concessão do serviço público a Administração
(concedente) tem a obrigação de prestar o serviço público, ainda
que de forma provisória caso o concessionário (contratado) deixe
de prestá-lo.

I.2.5 Princípio da Presunção de legitimidade e veracidade

Por força deste Princípio presume-se que os atos da Administração


Pública são verdadeiros e editados de acordo com a lei. Trata-se de presunção
relativa, pois admite prova em contrário. O ônus da prova cabe ao
administrado.
Suponha, por exemplo, que uma determinada pessoa tenha sido
notificada a pagar uma multa de trânsito, sob o fundamento de que teria
cometido uma determinada infração de trânsito. Através da notificação a
Administração Pública intimará esta pessoa a pagar a multa ou a apresentar o
seu Recurso, dentro de um determinado prazo. O ônus de provar que não
praticou a infração e (ou) de que a multa é ilegal é do administrado. Assim
sendo, se esta pessoa não conseguir provar ovar que não praticou a infração,
presumir-se-á que o ato é verdadeiro e de que foi editado de acordo com a lei.
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II) ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA BRASILEIRA

No Brasil Administração Pública federal, estadual, municipal e distrital é


composta de Administração direta e indireta
A Administração direta é realizada pelos órgãos, sem personalidade
jurídica, integrados nos Ministérios ou diretamente subordinados à Presidência
da República.
A Administração indireta, por sua vez, é desenvolvida por autarquias;
fundações PÚBLICAS DE DIREITO PÚBLICO; empresas públicas e
sociedades de economia mista, os quais possuem personalidade jurídica
própria, como será demonstrado adiante.

1. Desconcentração e descentralização.

- DESCONCENTRAÇÃO: divisão interna de competências e


pressupõe subordinação do órgão administrativo ao Ministério a que se
vincula, Pressupõe uma única pessoa jurídica.
- DESCENTRALIZAÇÃO: pressupõe duas pessoas jurídicas distintas.
NÃO HÁ SUBORDINAÇÃO. EXISTE CONTRLE.

DESCONCENTRAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO
Distribuição interna de competências, Cria-se uma pessoa jurídica distinta
da qual decorre a criação de orgãos da Administração Pública direta
públicos.
Pressupõe apenas uma pessoa Pressupõe mais de uma pessoa
jurídica jurídica
Existe hierarquia e subordinação Não há a subordinação. Existe um
controle previsto na lei
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2. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

A) AUTARQUIAS

 Conceito:

As autarquias são pessoas de direito público, criadas por lei, para


prestar um serviço público, com autonomia (independência) financeira e
administrativa.

O art. 5º do Decreto-lei 200/67 dispõe:

Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:


I -Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com
personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para
executar atividades típicas da Administração Pública, que
requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão
administrativa e financeira descentralizada

As autarquias só podem ser criadas para exercer atividades típicas do


Estado, não podendo explorar uma atividade econômica.
São exemplos de autarquias o INSS - Instituto Nacional do Seguro Social,
o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Banco
Central do Brasil; o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos naturais renováveis, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa
Econômico entre outros e outros mais.

 Criação e extinção

 Criação criadas por lei (art. 37, XIX da CF), cujo projeto é de iniciativa
exclusiva do Chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61 § 1°, a da
CF.
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 Extinção: Pelo princípio do paralelismo das formas, o que é criado por


lei, deve ser extinto por lei. Portanto, as autarquias devem ser extintas
pela lei

 Patrimônio:

O patrimônio das autarquias é considerado público e, portanto,


impenhorável, inalienável e imprescritível (não existe usucapião de bens
públicos).

 Responsabilidade:

A Administração Pública Direta não responde pelos atos da autarquia,


nem pelos danos que ela ocasiona a terceiros.
 A Administração direta não possui responsabilidade
solidária.
 A autarquia deve responder pelas responsabilidades assumidas e
pelos danos que causar a terceiros. A responsabilidade da autarquia é
objetiva, de acordo com o art. 37, § 6° da CF.

 Privilégios da autarquia

 Imunidade de impostos sobre seu patrimônio (não pagam impostos


como o IPTU e o IPVA), renda (não pagam Imposto sobre a renda) e
serviços (não pagam ISS), vinculados a suas finalidades essenciais ou
às delas decorrentes (art. 150, § 2º da CF
 Impenhorabilidade de seus bens e rendas: não é possível que
qualquer bem da autarquia seja penhorado em uma ação judicial.
 Prazo em dobro para responder e para recorrer: as autarquias
possuem os mesmos privilégios processuais que a Fazenda Pública, ou
seja, prazos em dobro para se defender e recorrer.

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