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TEMA: 2:

 Princípios de Direito Administrativo;


 Função do Direito Administrativo;
 Importância do Direito Administrativo.

1. Princípios de Direito Administrativo


Cada ramo jurídico, apresenta um conjunto de Princípios de Direito, cuja compreensão é
essencial para o estudo das matérias que os disciplinam. Os Princípios de Direito são
produto de elaboração doutrinária, consubstanciando uma ideia superiormente
informadora de todo o sistema jurídico ou de uma parte do referido sistema, sendo que
as regras e soluções consagradas na legislação decorrem dos Princípios Gerais de
Direito.
Neste âmbito podemos elencar a existência dos seguintes Princípios que orientam o
Direito Administrativo, a desenvolver posteriormente:

a) Princípio da Legalidade
Como o próprio nome sugere, esse princípio diz respeito à obediência à lei. 1 No Direito
Administrativo, determina que em qualquer actividade a Administração Pública deve
estar estritamente vinculada à lei. Assim, se não houver previsão legal, nada pode ser
executado administrativamente, pois os interesses públicos de que a administração se
ocupa são definidos por lei e a administração tem obrigatoriamente que os prosseguir.
A legislação tem na vida do Estado um papel importante, pois ela aparece como um juiz
que deve conduzir um processo ou proferir uma sentença. Importa aqui referi que, tudo
tem que está normalizado, e cada um dos agentes públicos estará adstrito ao que a lei
determina. Então, é expressão do princípio da legalidade a permissão para a prática de
actos administrativos que sejam expressamente autorizados pela lei, ainda que mediante
simples atribuições de competência, pois esta também advém da lei.

b) Princípio da Prossecução do Interesse Público


Segundo este Princípio a actividade administrativa tem por finalidade a satisfação das
necessidades colectivas. Portanto, este é um dos princípios mais importantes do Direito
Administrativo por ser tão essencial e intrínseco à Administração Pública, não cabendo
a esta decidir quais os interesses públicos a prosseguir na medida em que estes se
1
Encontramos muitas variantes dele expressas na nossa Constituição.
encontram expressos na lei, por isso é considerado maís do que um princípio é uma
legalidade.
Daqui se entende que a Administração Pública não pode prosseguir interesses privados,
porém tal não significa que a prossecução de um interesse que é publico, não tenha
vantagens em especial para um particular, falando-se nesse caso em interesses privados,
no entanto, a finalidade do interesse é que poderá manifestar-se privada sob pena de
invalidade. Suponhamos o seguinte exemplo, se um particular é titular de uma
propriedade suscetível de conter energia eólica, esse particular terá, efetivamente, que
ceder a propriedade para se colocar essa energia, contudo esse titular receberá uma
remuneração anual por ceder o terreno, como isto quer dizer-se que está em causa um
interesse publico que se traduz na preservação ambiental e ao mesmo tempo um
interessa privado em especial, que será as remunerações auferidas pelo particular
anualmente.
Importa referir que, caso a Administração Pública prossiga interesses alheios ao
interesse público, essa actuação traduzir-se-á em ilegal na medida em que, irá contra o
princípio da legalidade e a Administração Pública só poderá exercer actos que estejam
expressos na lei, caso contrário o acto será considerado inválido.

c) O Princípio da Supremacia do Interesse Público


Segundo este Princípio, o interesse colectivo se sobrepõe sobre o interesse do particular,
na medida em que na sua actuação a Estado deve agir numa posição de superioridade
em relação ao particular. Disso depreende-se que sempre que houver confronto de
interesses publico e privado, o interesse que deve prevalecer é o coletivo. É o que ocorre
nos casos de desapropriação por utilidade pública, por exemplo.
Ex: Determinado imóvel que deve ser disponibilizado ao Estado para a construção de
uma estrada. Aqui o interesse do proprietário se conflitua com o da coletividade que
necessita dessa estrada como via de acesso. Assim seguindo este princípio deverá haver
a desapropriação do imóvel para a construção da estrada, devendo igualmente proceder-
se a indenização particular.
O que significa dizer que:
No confronto entre o interesse do particular e o interesse público, prevalecerá sempre o
segundo, no qual se concentra o interesse da coletividade, o que não significa,
inquestionavelmente que o Poder Público possa imotivadamente desrespeitar os direitos
individuais.
É necessário que os interesses públicos tenham supremacia sobre os individuais, posto
que visam garantir o bem-estar coletivo e concretizar a justiça social.

d) Princípio do Privilégio de Execução Prévia


Segundo este princípio, a Administração Pública pode de acordo com a lei impor
coactivamente aos particulares as decisões unilaterais que a mesma tiver tomado no
exercício da actividade administrativa, sem recurso prévio aos tribunais.
Quer isso dizer que, uma vez definido o direito aplicável ao caso, a Administração
Pública pode impor as consequências de tal definição aos seus destinatários, mesmo
contra a oposição destes e sem a prévia intervenção de um Tribunal.
Por exemplo: quando no culminar de um processo disciplinar a Administração Pública
decide pela expulsão de um funcionário.
Esta decisão tem força executória própria e pode ser imposta coactivamente ao visado
se este não acatar voluntariamente.
Entretanto, ao visado assiste o poder de impugnar a decisão tomada pela Administração
no tribunal competente.
Todavia importa aqui realçar que, o recurso contencioso de anulação da decisão não tem
em regra efeito suspensivo, ou seja, não impede que a decisão tomada seja aplicada, daí
que enquanto decorre no tribunal o processo contencioso, em que se irá analisar e
decidir se o acto administrativo de expulsão é legal ou ilegal, o particular visado tem de
obedecer a decisão tomada, e senão o fizer a Administração Pública pode impor
coactivamente a sua observância.
A faculdade de execução previa permite a administração fazer os seus direitos
prevalecerem perante o particular e só então, caso um particular tenha sido prejudicado
pela actuação da administração é que pode recorrer aos Tribunais Administrativos que
por sua vez deliberara sobre a matéria.
É importante realçar que, o Princípio do Privilégio de Execução Prévia é característico
do Sistema Administrativo tipo executivo como é o caso de Moçambique, sendo que
não deve ser confundido com a executoriedade, pois o privilégio de execução prévia
trata-se apenas de um dos vários princípios que englobam a executoriedade que por sua
vez é uma característica do acto administrativo, sendo graças a esta executoriedade que
a Administração Pública executa coerciva e imediatamente as suas decisões
independentemente de sentença judicial.
a) Princípio da Hierarquia Admistrativa
A actividade administrativa é exercida com base numa relação hierárquica, que
corresponde ao vínculo jurídico típico de supremacia e subordinação estabelecido entre
o superior hierárquico e o subalterno, sendo que o superior hierárquico tem sobretudo o
poder de direção e o subalterno tem sobretudo o dever de obediência, sendo essa relação
necessária para que estes dois ou mais agentes actuem para a prossecução de atribuições
comuns.
Portanto, os órgãos da Administração Pública devem ser estruturados de forma, para
que haja uma relação de coordenação e subordinação entre eles, onde cada um é titular
de atribuições definidas na lei. Assim, como consequência disso, surge a possibilidade
de revisão de actos dos subordinados, delegação e avocação de atribuições, aplicação de
penalidades do ponto de vista do subordinado, há o dever de obediência.

b) Princípio da Impessoalidade
Impessoalidade implica que os administrados que preenchem os requisitos previstos no
ordenamento possuem o direito público subjetivo de exigir igual tratamento perante o
Estado. Do ponto de vista da Administração, a atuação do agente público deve ser feita
de forma a evitar promoção pessoal, sendo que os seus atos são imputados ao órgão,
pela teoria do órgão.
Tratar todos de forma igualitária, impessoal, obedecendo ao princípio da igualdade a
fim de atingir a finalidade pública e o interesse da coletividade. A responsabilidade
recai à entidade como um todo e não a pessoa física do agente. É vedada a utilização de
nomes, símbolos ou imagens para promoção em publicidade e campanhas dos órgãos
públicos.

c) Princípio da Publicidade
É este mais um vetor da Administração Pública, e diz respeito à obrigação de dar
publicidade, levar ao conhecimento de todos os seus atos, contratos ou instrumentos
jurídicos como um todo. Isso dá transparência e confere a possibilidade de qualquer
pessoa questionar e controlar toda a atividade administrativa que, repito, deve
representar o interesse público, por isso não se justificam de regra, o sigilo.
publicidade surte os efeitos previstos somente se feita através de órgão oficial, que é o
jornal, público ou não, que se destina à publicação dos atos estatais. Dessa forma, não
basta a mera notícia veiculada na imprensa.
Com a publicação, presume-se o conhecimento dos interessados em relação aos atos
praticados e inicia-se o prazo para interposição de recurso, e também os prazos de
decadência e prescrição.

d) Princípio da Eficiência
Os agentes públicos devem agir com rapidez, perfeição e rendimento. Importante
também é o aspecto econômico, que deve pautar as decisões, levando-se em conta
sempre a relação custo-benefício. Construir uma linha de distribuição elétrica em rua
desabitada pode ser legal, seguir a Lei de Licitações, mas não será um investimento
eficiente para a sociedade, que arca com os custos e não obtém o benefício
correspondente.
A Administração Pública deve estar atenta às suas estruturas e organizações, evitando a
manutenção de órgão/entidade subutilizados, ou que não atendam às necessidades da
população.
Por sua vez o Título XI Capítulo I, da Constituição da República consagra os
princípios fundamentais da Administração Pública, nomeadamente:
 Princípio do Respeito pelos Direitos e Liberdades Fundamentais dos Cidadãos;
 Princípio da Legalidade Administrativa;
 Princípio da Igualdade;
 Princípio da Imparcialidade;
 Princípio da Ética;
 Princípio da Justiça;
 Princípio da Descentralização e Desconcentração;
 Princípio da Fundamentação dos Actos Administrativos.

2. Função do Direito Administrativo


Aqui apresentam-se duas teorias, nomeadamente:
a) "Green light theories,"
Emitem luz verde à Administração para que actue e submeta aos particulares à primazia
do interesse Público.
Assim, a função do Direito Administrativo é autoritária, conferindo poderes de
autoridade à Administração Pública de modo a que ela possa fazer sobrepor o interesse
colectivo aos interesses privados.
b) " Red light theories",
Emitem luz vermelha ao poder detido pela Administração face ao particular desarmado
e ameaçado por aquele poder.
Assim, a função do Direito Administrativo é garantística, reconhecendo direitos e
estabelecendo garantias em favor dos particulares frente ao Estado, de modo a limitar
juridicamente os abusos do poder executivo, e a proteger os cidadãos contra os excessos
da autoridade do Estado.
Assim sendo:
A função do Direito Administrativo não é por consequência, apenas “autoritária”, como
sustentam as greens light theories, nem é apenas “garantística”, como pretendem as red
light theories, este Direito desempenha uma dupla função que consiste em:
Legitimar a intervenção da autoridade pública para a realização do interesse colectivo e
proteger a esfera jurídica dos particulares de forma a impedir o esmagamento dos
interesses individuais.
Deste modo:
As funções supra podem ser condensadas no seguinte, o Direito Adninistrativo, tem a
função deorganizar a autoridade do poder e defendera liberdade dos cidadãos.

 Especificamente no Direito Administrativo Moçambicano


Tendo em conta o exposto acima, a CRM é elucidativa ao preconizar no n.º 1 do artigo
248.º que:
“A Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação orespeita os
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.”
Por outro lado, ao explanar sobre o Direito Administrativo em Moçambique CISTAC
(2009) refere que “A Administração Pública Moçambicana tem poderes de decisão e de
execução. Por outras palavras, o que caracteriza o Direito Administrativo Moçambicano
na ordem das prerrogativas, como, em regra geral, em qualquer outro sistema de
administração executiva, é a faculdade que lhe é conferida de tomar decisões
juridicamente executórias e de garantir a suaexecução material”.
Porém, o autor também explica que “O Direito Administrativo Moçambicano não
integra apenas prerrogativas para Administração. A Administração Moçambicana tem,
também, obrigações específicas que não existem, regra geral, no Direito privado, isto
implica, que a referida Administração está numa situação paradoxal na qual essa está
desprovida de direitos reconhecidos aos particulares.
Assim, o sistema administrativo vigente em Moçambique consagra um Direito
Administrativo com uma dupla função, conferindo poderes de autoridade à
Administração Pública para a realização do interesse colectivo e por outro lado
impedindo a violação dos direitos e interesses legítimos dos particulares, estabelecendo
sujeições à Administração e oferecendo garantias aos particulares.

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