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Sumários de apoio
Licínio Lopes Martins
I – Introdução
1. O Direito Administrativo Sancionatório e os tipos de ilícitos
administrativos
1.1. A noção de perigo/risco em Direito Administrativo e as designadas
“medidas de polícia”
De um modo geral, toda a acção administrativa que vise a prevenção, o
controlo ou a resposta a uma situação de perigo deve ser reconduzida à
função administrativa de “polícia”, de “medidas de polícia” e de ordenação
social. P. ex., para além da actividade das típicas forças de segurança, nesta se
deve incluir:
- a actividade de “protecção civil”, enquanto actividade desenvolvida com a
finalidade de prevenir riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave
ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens
em perigo quando aquelas situações ocorram (cf. a Lei de Bases da Protecção
Civil: Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho, alterada pela Lei Orgânica n.º 1/2011, de
30 de Novembro)
- as decisões e medidas que visam efectuar um controlo preventivo do exercício
de actividades particulares (p. ex., autorizações e licenças e outros actos de
controlo prévio);
- bem como, em geral, as acções de fiscalização (p. ex., as levada a cabo pela
Autoridade de Segurança Alimentar e Económica-ASAE - ou por organismos
de protecção do ambiente)
1.2. Ilícito administrativo em sentido estrito
1.2.1. É o que sucede com as sanções administrativas aplicadas no âmbito do
ilícito disciplinar e no contexto do geralmente designado por ilícito
administrativo em sentido estrito
iii) Significa isto que à obrigação imposta associa-se o poder de revogação; o efeito
impositivo da decisão é uma espécie de contrapartida do efeito autorizativo que
esta mesma decisão produz (os actos-compromisso)
(Nota: distinguir do poder de revisão das condições e obrigações - cláusula de
reexame ou reserva de modificação).
iv) Outro exemplo da lei: artigo 22.º da Lei Geral do Trabalho em Funções
Públicas (Lei n.º 35/2014, de 20 de Junho)
“(…)
4 — No exercício das funções ou actividades privadas autorizadas, os trabalhadores da
Administração Pública não podem praticar quaisquer actos contrários aos interesses do
serviço a que pertencem ou com eles conflituantes.
5 — A violação do disposto no número anterior determina a revogação da autorização
para acumulação de funções”.
1.3. Ilícito de mera ordenação social (ilícito contra-ordenacional) – coimas e sanções acessórias
2. As “medidas de polícia”.
2. Medidas de polícia, sanções administrativas, sanções penais
3.4.2.1. Desde que não estejam em causa direitos, liberdades e garantias, a CRP reconhece
competência legislativa concorrente à Assembleia da República, ao Governo e às
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas para a criação de contra-ordenações,
como resulta da alínea q) do n.º 1 do artigo 227.º e do n.º 1 do artigo 232.º da CRP
“Artigo 165.º (Reserva relativa de competência legislativa)
1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo (…):
b) Direitos, liberdades e garantias;
c) Definição dos crimes, penas, medidas de segurança e respectivos pressupostos, bem
como processo criminal;
d) Regime geral de punição das infracções disciplinares, bem como dos actos ilícitos de
mera ordenação social e do respectivo processo;”
d) As regras que visam promover a defesa do arguido no processo penal podem ser
interpretadas de forma menos exigente quando sejam aplicadas no processo
contra-ordenacional.
4.2. Itália: tal como nós, teve uma influência decisiva do direito alemão. O sistema
italiano não conhecia o direito de ordenação social, mas sim um regime geral dos
ilícitos administrativos, cabendo aos Tribunais Comuns a competência para
resolver os respectivos litígios. Em Itália, o regime geral para os ilícitos
administrativos foi criado através da Lei n.º 689/1981, revista em 2015.
1.1.1. A coima é sanção normal do direito de mera ordenação social: constitui uma
sanção administrativa, aplicada por autoridades administrativas, com o sentido
dissuasor de uma advertência social, traduzindo-se na imposição do pagamento de
uma quantia fixada entre os montantes previstos no artigo 17.º do DL n.º 433/82, de
27-10 ou em legislação especial
1.2. Mas isso não significa que a coima seja a única sanção aplicável a factos
punido com contra-ordenação, podendo, para além dela, ser também aplicada uma
sanção acessória (artigo 21.º do DL n.º 433/82, de 27-10)
1.3. O concurso de infracções e a proibição de “bis in idem”
Pode suceder que um facto constitua uma contra-ordenação – isto é, seja legalmente
qualificado como contra-ordenação - e não ser necessariamente sancionado com uma coima:
basta que o mesmo facto constitua simultaneamente crime, sendo o respectivo autor punido
com uma sanção criminal, mas sem prejuízo da aplicação de sanções acessórias previstas para
a contra-ordenação concretamente cometida (artigo 20.º do DL n.º 433/82, de 27-10, sobre o
concurso de infracções: “Se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contra-ordenação, será o
agente sempre punido a título de crime, sem prejuízo da aplicação das sanções acessórias previstas para
a contraordenação”.)
Contudo, o n.º 1 do artigo 78.º do RGCO: “Se o mesmo processo versar sobre crimes e contra-
ordenações, havendo infracções que devam apenas considerar-se como contra-ordenações, aplicam-se,
quanto a elas, os artigos 42º, 43º, 45º, 58º, n.ºs 1 e 3, 70º e 83º”
2.1.1. A extensão do princípio nulla poena sine lege ao ilícito de mera ordenação
social (ilícito contra-ordenacional)
2.2.1. Mas em matéria do Direito de Mera Ordenação Social, a CRP não estabelece
a exigência de que os pressupostos da aplicação de sanções sob a forma de coima
devam estar previstos num diploma com forma legislativa da AR, prevendo
apenas que se insere no âmbito da reserva relativa da competência legislativa da AR
a definição do regime geral de punição dos actos ilícitos de mera ordenação social e
o respectivo processo (artigo 165.º, n.º 1, alínea d))
a) Pelo que a CRP não impede que o ilícito contra-ordenacional seja definido em
diploma legislativo emitido pelo Governo sem autorização legislativa, nem que uma
tal definição seja feita por um diploma de carácter regulamentar
b) Mas o artigo 2.º do RGCO determina a exigência de que a punição como contra-
ordenação esteja prevista em lei anterior, pelo que, em face da mencionada reserva
relativa de competência legislativa, não é legalmente admissível a previsão de contra-
ordenações por via regulamentar, fora dos casos em que tal esteja expressamente
previsto em diploma emitido pela AR ou pelo Governo no uso de autorização
legislativa
Vejamos um exemplo recolhido no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação:
Artigo 98.º “Contra-ordenações”
1 — Sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar, são puníveis como
contra-ordenação (…):
e) As falsas declarações dos autores e coordenador de projectos no termo de
responsabilidade relativamente à observância das normas técnicas gerais e específicas de
construção, bem como das disposições legais e regulamentares aplicáveis ao projecto;
f) As falsas declarações no termo de responsabilidade do director de obra e do director de
fiscalização de obra ou de outros técnicos relativamente:
ii) À conformidade das alterações efectuadas ao projecto com as normas legais e
regulamentares aplicáveis
Nota: esta norma legal, na parte em que remete para as disposições regulamentares aplicáveis,
fornece habilitação legal para que a concreta tipificação das infracção conste dos
regulamentos
A que podem “cumular-se” sanções acessórias:
“Artigo 99.º Sanções acessórias
1 — As contraordenações previstas no n.º 1 do artigo anterior podem ainda
determinar, quando a gravidade da infração o justifique, a aplicação das seguintes
sanções acessórias:
a) A apreensão dos objetos pertencentes ao agente que tenham sido utilizados como
instrumento na prática da infração;
b) A interdição do exercício no município, até ao máximo de quatro anos, da
profissão ou atividade conexas com a infração praticada;
c) A privação do direito a subsídios outorgados por entidades ou serviços públicos”
Outro exemplo tirado do Decreto-Lei n.º 48/2011, de 1-4, que simplifica o regime
de acesso e de exercício de diversas actividades económicas no âmbito da
iniciativa «Licenciamento zero», no uso da autorização legislativa concedida pela
Lei n.º 49/2010, de 12-11, e pelo artigo 147.º da Lei n.º 55-A/2010, de 31-12:
Artigo 28.º “Regime sancionatório”
1 - Sem prejuízo da punição pela prática de crime de falsas declarações e do disposto
noutras disposições legais, constituem contra-ordenação:
a) A emissão de uma declaração a atestar o cumprimento das obrigações legais e
regulamentares, ao abrigo do disposto na alínea f) do n.º 3 do artigo 4.º ou da alínea d)
do n.º 3 do artigo 12.º, que não corresponda à verdade, punível com coima de (euro)
500 a (euro) 3500, tratando-se de uma pessoa singular, ou de (euro) 1500 a (euro) 25
000, no caso de se tratar de uma pessoa colectiva
Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17 de Janeiro, que aprova o Regulamento Geral do
Ruído e revoga o regime legal da poluição sonora, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
292/2000, de 14 de Novembro:
Artigo 28.º “Sanções “
2 - Constitui contra-ordenação ambiental grave:
a) O incumprimento das medidas previstas no plano municipal de redução de
ruído pela entidade privada responsável pela sua execução nos termos do artigo 8.º
Nota: do mesmo modo, também neste caso, na parte em que a lei remete para as
medidas previstas no plano municipal, fornece habilitação legal para que a
concreta tipificação e pressupostos das infracções conste do regulamento (o plano
é aprovado por um regulamento)
c) A aplicação do princípio da legalidade no âmbito contra-ordenacional não se faz com sentido mais
rigoroso da tipicidade penal. Porém, os princípios da segurança jurídica e da tutela da confiança dos
cidadãos exigem que a responsabilidade sancionatória punitiva esteja contida num tipo
sancionador – ainda que disperso por várias normas – que reúna condições mínimas de
determinabilidade. No Acórdão n.º 41/2004: “No que diz respeito à primeira dimensão, é certo que a
Constituição não requer para o ilícito de mera ordenação social o mesmo grau de exigência que requer
para os crimes. Nem o artigo 29º da Constituição se aplica imediatamente ao ilícito de mera
ordenação social nem o artigo 165º confere a este ilícito o mesmo grau de controlo parlamentar que
atribui aos crimes. Está, porém, consolidado no pensamento constitucional que o direito sancionatório
público, enquanto restrição relevante de direitos fundamentais, participa do essencial das garantias
consagradas explicitamente para o direito penal, isto é, do núcleo de garantias relativas à segurança,
certeza, confiança e previsibilidade dos cidadãos (cfr. também os Acórdãos do Tribunal Constitucional nºs
158/92, de 23 de Abril, 263/94, de 23 de Março, publicados no D.R., II Série, de 2 de Setembro de 1992 e de 19
de Julho de 1994, e nº 269/2003, de 27 de Maio, inédito). E se tal não resulta directamente dos preceitos da
chamada Constituição Penal, resultará, certamente, do princípio do Estado de Direito consagrado no
artigo 2º da Constituição”).
d) Exige-se, assim, sempre, que a norma de previsão contenha a identificação do bem jurídico (ou
uma referência aos interesses tutelados ou à ratio da punição) e o essencial no que respeita ao
desvalor da acção (razão de censurabilidade da conduta) e desvalor do resultado (dano social que
se pretende evitar); e que haja uma norma sancionatória que indique claramente quais são as
sanções aplicáveis a cada conduta proibida (ainda o Acórdão n.º 41/2004: “Deste modo, o
problema das chamadas “normas penais em branco” não pode ser transportado nos mesmos
termos do direito penal para o direito de mera ordenação social, já que nada na Constituição
impede que, de acordo com o direito ordinário, quaisquer entidades administrativas competentes
determinem o conteúdo de tais ilícitos e as respectivas sanções. É, no entanto, necessário ainda
distinguir o plano das possíveis fontes normativas deste ilícito do plano da afectação da segurança e
previsibilidade que certas técnicas legislativas possam suscitar. É sobretudo a esse nível que tem ainda
sentido discutir a constitucionalidade das técnicas de remissão do conteúdo ilícito da lei que
prevê a contra-ordenação para outras fontes normativas. (…) Por outras palavras, uma norma
remissiva ainda que no domínio do direito sancionatório público não pode ser vazia quanto à
previsão de factos e à orientação da conduta dos seus destinatários.”. ).
b) Jurisprudência do Tribunal Constitucional: tem entendido que o ne bis in idem terá vigência
no que respeita à cumulação de sanções da mesma natureza. No Acórdão n.º 263/94
estabeleceu a seguinte jurisprudência: “situação diversa é a da convergência ou concurso real
de normas de diferente natureza que sancionam o mesmo facto, dando origem a um concurso
real de infracções. Neste caso, não há que falar em princípio de non bis in idem, muito embora o
legislador possa dar relevância a tal concurso”). Por exemplo, diz-se no Acórdão do Tribunal
Constitucional n.º 263/94 que: “mas é evidente que a problemática do princípio de non bis in
idem se põe relativamente a cada direito sancionatório, sendo certo que só no plano do direito
criminal o princípio tem expressa consagração constitucional. Poder-se-á sustentar, é claro, que o
princípio é aplicável também por analogia nos outros direitos sancionatórios públicos, no
âmbito interno respectivo” (ainda os Acórdãos n.ºs 730/95, de 14-12, 11 306/2003, de 25-6).
A favor da vigência geral do ne bis in idem no direito sancionatório público (incluindo o não
penal), o Parecer n.º 113/2005, do Conselho Consultivo da PGR, publicado no DR, II Série, n.º
128, de 25-7-2006, pp. 9946 e ss.
2.11. O princípio da responsabilidade das pessoas colectivas ou equiparadas -
artigo 7.º do RGCO:
1 - As coimas podem aplicar-se tanto às pessoas singulares como às pessoas colectivas, bem
como às associações sem personalidade jurídica.
2 - As pessoas colectivas ou equiparadas serão responsáveis pelas contra-ordenações
praticadas pelos seus órgãos no exercício das suas funções.
ALEJANDRO NIETO
– Derecho Administrativo Sancionador, 4ª edição, Tecnos, Madrid, 2005
HEINZ MATTES
- Problemas de Derecho Penal Administrativo, ed. Revista de Derecho Privado,
Jaen, 1979
JORGE DE FIGUEIREDO DIAS
- Direito Penal: Parte Geral, Tomo I, Coimbra Editora, 2004
- O movimento da descriminalização e o ilícito de mera ordenação social, Direito Penal
Económico e Europeu: Textos Doutrinários, vol. I, Coimbra Editora, 1998, págs. 19 e segs.
- Para uma dogmática do Direito Penal secundário, Revista de Legislação e Jurisprudência
(RLJ), Ano 116, 1983-84, n.º 3714 e segs. e Ano 117, 1984-85
- Do Direito Penal Administrativo ao Direito de Mera Ordenação Social: das contravenções às
contra-ordenações, Temas básicos da doutrina penal, Coimbra Editora, 2001
NUNO BRANDÃO
- Questões contra-ordenacionais suscitadas pelo novo regime legal da mediação de seguros, Revista Portuguesa
de Ciência Criminal (RPCC), 2007
SÉRGIO PASSOS
- Contra-Ordenações: Anotações ao Regime Geral, 3.ª ed., Almedina, 2009
Sumários de apoio
Licínio Lopes Martins
Introdução
1. O procedimento administrativo geral ou comum de aplicação de sanções
administrativas no âmbito do ilícito de mera ordenação social (contra-
ordenações)
b) Este regime afasta ainda a possibilidade de um processo que tenha por objecto uma
infracção ao Código dos Valores Mobiliários e legislação complementar ser
promovido por outra autoridade administrativa à luz do mencionado regime de
concentração de competências previsto no artigo 37.º do RGCO
1.2.3. O princípio-regra referido e a competência em razão da matéria – artigo
34.º do RGCO
1 - A competência em razão da matéria pertencerá às autoridades determinadas
pela lei que prevê e sanciona as contra-ordenações.
2 - No silêncio da lei serão competentes os serviços designados pelo membro do
Governo responsável pela tutela dos interesses que a contra-ordenação visa
defender ou promover.
3 - Os dirigentes dos serviços aos quais tenha sido atribuída a competência a que se
refere o número anterior podem delegá-la, nos termos gerais, nos dirigentes de
grau hierarquicamente inferior.
Contudo:
b) O considerando acrescenta que: “O exercício desse poder deverá, todavia, ficar sujeito à
intervenção da autoridade judicial”, que pode “pedir à Comissão informações adicionais que
necessita para levar a cabo o seu controlo e na ausência das quais pode recusar a autorização”.
Nos termos do artigo 21.º, n.º 3, o controlo judicial nacional incide apenas sobre o “carácter
não arbitrário e não excessivo” da medida coerciva, não incluindo “a necessidade da
inspecção”, nem podendo “exigir que lhe sejam apresentadas informações que constem do
processo da Comissão”.
2.4.1. Aliás, é o próprio RGCO que impõe uma adaptação – uma adaptação
funcionalmente adequada - do Código de Processo Penal à fase administrativa do
processo de aplicação de contra-ordenações: a aplicação não é (nunca é) automática
O que significa:
a) Que a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal ao procedimento
administrativo sancionatório tem de demonstrar-se como necessária (não é
necessária, desde logo, quando o RGCO ou o regime sectorial aplicável contemple
soluções próprias, sendo certo que, em muitos casos, poderão revelar-se mais
ajustadas as soluções fornecidas pelo Código do Procedimento Administrativo);
b) E, mesmo quando necessária, tem de ser feita com as adaptações que se afigurem
procedimentalmente adequadas, o que, inclusivamente, pode conduzir ao
afastamento de normas ou de regimes daquele Código, por incompatibilidade
estrutural/funcional com a fase administrativa do processo de contra-ordenação
Exemplo:
3. O princípio da legalidade no procedimento de aplicação de contra-
ordenação (“O processo das contra-ordenações obedecerá ao princípio da
legalidade” - artigo 43.º do RGCO):
Artigo 118.º do Código de Processo Penal “Princípio da legalidade”
“1 - A violação ou a inobservância das disposições da lei do processo penal só
determina a nulidade do acto quando esta for expressamente cominada na lei.
2 - Nos casos em que a lei não cominar a nulidade, o acto ilegal é irregular”.
3.1. Contudo:
i) O RGCO não prevê a figura da nulidade, nem sanciona os eventuais vícios que
afectem actos processuais com uma tal sanção;
iii) Para além disso, a invalidade da decisão final pode resultar da aplicação de
leis administrativas e não do Código de Processo Penal (p. ex., vícios de
competência, vícios na delegação de poderes, vícios causadores de nulidades, como
o “desvio de poder sancionatório”, o cerceamento de direitos fundamentais, ou
vícios em decisões sancionatórias adoptadas por órgãos colegiais), sem excluir
eventuais situações de ineficácia.
3.2. Doutrina:
i) As autoridades administrativas assumem as tarefas inerentes ao impulso processual que no Código de Processo
Penal estão a cargo do Ministério Público, mas incumbe-lhes igualmente a competência decisória do processo. O
procedimento das contra-ordenações não pode ser entendido como uma forma de processo penal, tendo autonomia
face àquela forma de procedimento; Para FIGUEIREDO DIAS e COSTA ANDRADE, “O processo administrativo de
carácter sancionatório referente às contra-ordenações é, neste sentido, uno e comandado por uma única entidade:
em regra um ente administrativo” (“Poderes de supervisão, Direito ao Silêncio e Provas Proibidas”, in Supervisão,
Direito ao Silêncio e Legalidade da Prova, Almedina, 209, p. 50.);
ii) A fase administrativa enquadra o exercício dos poderes sancionatórios da Administração Pública de modo pleno,
sendo as decisões proferidas exequíveis, caso não sejam impugnadas, circunstância que tem particular relevo na
determinação da dimensão do contraditório exigível para este procedimento;
iii) O processo das contra-ordenações não visa seleccionar de acordo com critérios predefinidos os casos que são
submetidos a julgamento perante um tribunal, o que é a função das fases preliminares (inquérito e instrução) do
processo penal;
iv) Também não é possível equiparar a fase inicial do processo, até ao cumprimento do artigo 50.º do RGCO, ao
inquérito do processo penal comum, e a fase subsequente ao cumprimento daquele dispositivo, como uma forma de
instrução com o sentido que aquela fase têm no contexto das fases preliminares do processo penal;
v) Embora na fase inicial se proceda a uma recolha das provas que existem sobre o facto potencialmente integrador de
uma contra-ordenação e nesse sentido tem alguma semelhança com o inquérito, o cumprimento do artigo 50. º do
RGCO não assume no contexto do processo a natureza de um acto decisório relativo à submissão a julgamento perante
um tribunal;
vi) Do mesmo modo, o momento do processo posterior ao cumprimento daquele dispositivo não pode ser entendido
como uma forma de impugnação da decisão acusatória;
vii) Concluindo, este conjunto de razões projecta-se na ponderação exigida pelo artigo 41. º, n. º 1, do RGCO, para a
adequação das normas próprias do processo penal ao processo das contra-ordenações, criando particulares
dificuldades na transposição de soluções próprias do processo penal para esta forma de processo.
3.3. O princípio da legalidade na vertente substantiva (tipicidade das sanções
e respectivos pressupostos)
Mas:
c) Vinculada a aplicar uma sanção (se dos factos apurados resultar esta consequência)
4.4.1. Ou seja:
a) As autoridades administrativas, em face do conhecimento de factos
integradores de (uma) contra-ordenação, ficam vinculadas a instaurar o
procedimento sancionatório respectivo e, uma vez instaurado e provados os
factos constitutivos do cometimento de uma contra-ordenação, estão
igualmente vinculadas a aplicar a sanção legalmente prevista;
7.3. O direito de audiência e de defesa na CRP (artigo 32.º, n.º 10: “Nos
processos de contra-ordenação, bem como em quaisquer processos
sancionatórios, são assegurados ao arguido os direitos de audiência e
defesa”.
Nota: para os procedimentos disciplinares da função pública o n.º 3 do artigo 269.º da
CRP (“Em processo disciplinar são garantidas ao arguido a sua audiência e defesa”)
7.4. O princípio da audição e da defesa no Regime Geral das Contra-
Ordenações (artigo 50.º do RGCO, sobre o “Direito de audição e defesa do
arguido”: “Não é permitida a aplicação de uma coima ou de uma sanção
acessória sem antes se ter assegurado ao arguido a possibilidade de, num
prazo razoável, se pronunciar sobre a contra-ordenação que lhe é imputada e
sobre a sanção ou sanções em que incorre”.
7.8. O artigo 50.º do RGCO é o momento procedimental por excelência para o arguido
ser confrontado com a factualidade que lhe é imputada no processo e respectiva
qualificação jurídica. Dispõe este artigo, sob a epígrafe “Direito de audição e defesa do
arguido”: “Não é permitida a aplicação de uma coima ou de uma sanção acessória sem
antes se ter assegurado ao arguido a possibilidade de, num prazo razoável, se pronunciar
sobre a contra-ordenação que lhe é imputada e sobre a sanção ou sanções em que
incorre”
a) Na sequência desta audição o arguido pode requerer quaisquer diligências de prova que
julgue relevantes a bem da sua defesa, que a autoridade administrativa deverá deferir, salvo
impertinência manifesta das mesmas. A intervenção prevista no artigo 50.º surge como um
momento fulcral do processo, situado entre a investigação preliminar e a decisão, assumindo-
se como o espaço natural da defesa
b) O RGCO não especifica uma forma através da qual a audição deva ser efectuada, o que
exige é que ao arguido seja dado conhecimento da factualidade que lhe é imputada e da
respectiva qualificação jurídica. Este conhecimento tanto pode ser levado a cabo numa
audição formal, como através da notificação de uma peça processual que integre aqueles
elementos, ou da notificação dos elementos do processo que os contenham
c) Alguns regimes especiais de contra-ordenações têm optado pela dedução formal de uma
acusação, utilizando o conceito e os requisitos da acusação do Código de Processo Penal, que
não a natureza e a respectiva função processual (cfr. artigo 221.º do Decreto-Lei n.º 94-B/98, de
17 de Abril, na redacção do Decreto-Lei n.º 251/2003, de 14 de Outubro, que estabelece o
regime jurídico do acesso e exercício da actividade seguradora, e artigo 219.º do Regime Geral
das Instituições de Crédito e Sociedade Financeiras, na versão do Decreto-Lei n.º 201/2002, de
26 de Setembro)
d) O RGCO estabelece no artigo 50. º o direito à audição e disciplina no artigo 53. º o regime da
assistência por defensor, permitindo que o arguido se faça acompanhar de defensor em
todos os actos processuais em que intervenha e em qualquer fase do processo. E o n. º 2 do
mesmo artigo impõe que se nomeie defensor “sempre que as circunstâncias do caso revelarem
a necessidade ou a conveniência de o arguido ser assistido”. A nomeação de defensor é feita
pela autoridade administrativa nos termos do regime do apoio judiciário, nos termos da Lei
n.º 34/2004, de 29 de Junho e legislação complementar.
7.9. Doutrina:
a) O “princípio do contraditório e a contraditoriedade estão subjacentes ao normativo do art.
50.º da lei-quadro e pode mesmo dizer-se que constituem a trave mestra de qualquer
procedimento sancionador”, pelo que “o desrespeito ou a simples compressão dos direitos de
audiência e de defesa constituem nulidades insupríveis que afectam a validade do processo
e inviabilizam a aplicação correcta de qualquer sanção”. Pelo que “não pode, por conseguinte,
deixar de entender-se que no processo por contra-ordenação devem ser dadas ao arguido
possibilidades de contestar as provas contra ele recolhidas, de formular a sua defesa, de sugerir
diligências probatórias, de arrolar testemunhas, etc.” (cfr. GOMES DIAS, Breves Reflexões Sobre o
Processo de Contra-Ordenação, in Contra-ordenações, Escola Superior de Polícia, 1985, p. 138 e
Revista do Ministério Público, Ano 5.º, Volume 20 – Dezembro de 1984, p. 107.)
b) A “consagração do direito de audiência prévia do interessado como princípio geral do
Direito Administrativo português não poderia deixar de ter reflexos ao nível do
procedimento de aplicação de sanções acessórias pela prática de contra-ordenações. Trata-
se, aliás, de uma área prioritária da sua aplicação, isto sem prejuízo de se reconhecer a
relevância das situações de urgência e de excepção” (cfr. FERNANDA PALMA e PAULO
OTERO, A Revisão do Regime Legal do Ilícito de Mera Ordenação Social, Revista da Faculdade de
Direito, Volume XXXVII – 1996, p. 577)
c) O direito de audição e de defesa implica o direito à pronúncia por parte do arguido sobre
a factualidade que lhe é imputada e respectiva qualificação jurídica, a que acrescem os
demais elementos para que este fique a conhecer a totalidade dos aspectos relevantes para a
decisão nas matérias de factos e de direito, menção que abrangerá todo o conjunto de
circunstâncias relevantes para a determinação da sanção. Para além deste direito ao
conhecimento do objecto do processo contra-ordenacional em sentido amplo, o direito de
audição e de defesa implica o direito a intervir no processo, apresentando provas ou
requerendo a realização das mesmas (cfr. SIMAS SANTOS e JORGE LOPES DE SOUSA,
Contra-ordenações – Anotações ao Regime Geral, 4.ª Edição, Vislis, 2007, p. 276.).
9.1. Neste âmbito, adianta alguma doutrina que os documentos e informações que o
visado (ainda mero suspeito) disponibilize às autoridades administrativas durante a
investigação e instrução do processo no âmbito do ilícito de mera ordenação social e que,
posteriormente, venham a ser usados como prova contra o próprio, deverão considerar-se
nulos e, como tal, não devem ser usados como prova, por tal método, para além de
comprometer o direito de defesa ou de reduzir as possibilidades de defesa, afrontar o
princípio nemo tenetur se ipsum accusare, revelando-se um meio de obtenção de prova
auto-inculpatória, vendo-se igualmente comprometido o princípio da presunção da
inocência, sendo que todas estas garantias deverão considerar-se decorrentes do n.º 10 do
artigo 32.º da Constituição.
9.2. Em termos gerais, correlaciona-se com esta temática o regime do CPA, relativo à
instrução do procedimento (artigos 115.º e 120.º)
Artigo 115.º (Factos sujeitos a prova): “1 — O responsável pela direção do procedimento deve
procurar averiguar todos os factos cujo conhecimento seja adequado e necessário à tomada de uma
decisão legal e justa dentro de prazo razoável, podendo, para o efeito, recorrer a todos os meios de
prova admitidos em direito”.
Artigo 120.º (Produção antecipada de prova):
“1 — Havendo justo receio de vir a tornar-se impossível ou de difícil realização a produção de
qualquer prova com interesse para a decisão, pode o órgão competente, oficiosamente ou a pedido
fundamentado dos interessados, proceder à sua recolha antecipada.
2 — A produção antecipada de prova pode ter lugar antes da instauração do procedimento”.
9.3. No Direito da União Europeia, o direito à não auto-inculpação é mencionado no
parágrafo 23.º do Regulamento do Conselho n.º 1/2003, segundo o qual “as empresas
não podem ser forçadas a admitir que cometeram uma infracção, mas são de qualquer
forma obrigadas a responder a perguntas de natureza factual e a exibir documentos,
mesmo que essas informações possam ser utilizadas para determinar que elas próprias
ou quaisquer outras empresas cometeram uma infracção”.
9.4.1. Estes direitos foram vertidos para os artigos 41.º e 47.º da Carta dos Direitos
Fundamentais e, mais especificadamente, para o Regulamento do Conselho n.º
112003, de 16/12/2002, e o Regulamento da Comissão n.º 773/2004, de 7/4/2004,
que já foi alterado pelo Regulamento n.º 1792/2006, 23/10/2006, e pelo
Regulamento n.º 622/2008, de 30/6/2008.
9.4. Jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha
a) Na Alemanha, quando a lei imponha deveres de colaboração e informação, os
elementos de prova obtidos desta forma fora do processo contra-ordenacional não
podem ser valorados contra o arguido. Desde 1981 que a jurisprudência do
Tribunal Constitucional Federal considera que é desconforme com a Constituição a
obrigação de, através de declarações dos visados, estes terem de fornecer
informações que suportem a aplicação de sanções, “Na medida em que fora do
processo contra-ordenacional deveres administrativos e compulsórios de
informação e cooperação atinjam o arguido e, portanto, ele não beneficie do
direito ao silêncio, os conhecimentos adquiridos deste modo não podem ser
valorados no processo contra-ordenacional a seu desfavor (especialmente no
direito tributário e no direito da concorrência)”
Exemplo:
iii) A Lei n.º 50/2006, de 29 de Agosto, que aprova a lei quadro das contra-
ordenações ambientais, determina o seguinte no artigo 9.º:
1 - As contra-ordenações são puníveis a título de dolo ou de negligência.
2 - Salvo disposição expressa em contrário, as contra-ordenações ambientais
são sempre puníveis a título de negligência.
Assim:
i) Neste regime, a regra é a de que as contra-ordenações ambientais também
são puníveis a título de negligência;
ii) Mas se uma norma determinar que uma determinada infracção só é
punível a titulo de dolo, da “acusação” devem constar os factos integrativos
deste tipo legal (os factos imputados ao arguido devem permitir extrair esta
qualificação jurídica contra-ordenacional - » princípio da tipicidade). Mas já o
apuramento do grau de gravidade da infracção – e, portanto, do grau de culpa
do agente – terá de decorrer de um juízo específico de valoração da prova a
fazer na fase instrutória.
Fase de defesa e audiência do arguido
1. Os três momentos fundamentais do exercício do direito de defesa pelo arguido
no procedimento sancionatório
1.1. Momento da “acusação” ou, como diz a lei, no momento em que “a contra-
ordenação que lhe é imputada” – artigo 50.º do RGCO (Nota: o procedimento
administrativo de contra-ordenação não tem uma estrutura acusatória como o processo penal,
ficando, assim, afastada a aplicação do regime da acusação em processo penal, previsto no artigo
283.º do Código de Processo Penal)
O arguido pode, neste momento:
a) Pronunciar-se sobre a contra-ordenação que lhe é imputada, contestando-a;
b) Alegar as suas razões para convencer ou persuadir a autoridade administrativa a não
avançar com a sua pretensão sancionatória
c) Aceder aos elementos do processo (direito de acesso que é naturalmente mais amplo a
partir da imputação da contra-ordenação, pois com esta extingue-se o “segredo interno” do
processo, ainda que este se mantenha em “segredo externo”)
1.3.1. Sendo que, para este efeito: “1 - Todas as decisões, despachos e demais
medidas tomadas pelas autoridades administrativas serão comunicadas às
pessoas a quem se dirigem” (artigo 46.º do RGCO, sobre a comunicação de
decisões)
Fase da decisão
1. Os elementos essenciais da decisão – artigo 58.º do RGCO (“Decisão
condenatória”)
1 - A decisão que aplica a coima ou as sanções acessórias deve conter:
a) A identificação dos arguidos;
b) A descrição dos factos imputados, com indicação das provas obtidas;
c) A indicação das normas segundo as quais se pune e a fundamentação da
decisão;
d) A coima e as sanções acessórias
1.1. Nota: as sanções acessórias nunca são automáticas; pressupõem sempre
um juízo autónomo da autoridade administrativa
Síntese final:
1. Nesta fase – fase administrativa - o processo de aplicação de sanções no âmbito do
ilícito de mera ordenação social reveste uma natureza administrativa (e não
judicial). O processo administrativo não é um processo jurisdicionalizado; é um
procedimento administrativo de natureza sancionatória, ainda que sujeito a
especiais particularidades de regime;
3. A natureza administrativa do processo implica que não haja lugar à transposição, para esta
fase, do princípio do contraditório, da imediação e da oralidade, tal como são configurados
pelo Processo Penal
Nota: a jurisprudência, tem entendido que o recurso, ainda que não tenha as conclusões formalmente
escritas, seja aceite, na medida em que o mesmo pode ser interposto pelo arguido sem necessidade de
intervenção de advogado. Neste sentido, o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 265/01, para além
de afirmar que, na fase administrativa do processo, valem as garantias de audição e de defesa do
arguido, declarou a inconstitucionalidade da interpretação dos artigos 59.º, n.º 3, e 63.º, n.º 1, do
RGCO, nos termos da qual a falta de formulação de conclusões na motivação do recurso
judicial/impugnação judicial da coima aplicada pela autoridade administrativa implicava a rejeição
do recurso. Esta interpretação das referidas disposições do RGCO viola os direitos ao recurso e a
um processo equitativo garantidos pelo n.º 10.º do artigo 32.º da Constituição.
1.1. Modo de contagem do prazo do recurso de impugnação (artigo 60º do
RGCO):
1. O prazo para impugnação da decisão da autoridade administrativa suspende-se
aos sábados, domingos e feriados.
2. O termo do prazo que caia em dia durante o qual não for possível, durante o período normal, a
apresentação do recurso transfere-se para o primeiro dia útil seguinte.
4. Audiência de julgamento
Artigo 64º do RGCO: o juiz pode decidir do caso mediante audiência de julgamento ou
através de simples despacho quando não considere necessária audiência de julgamento e o
arguido ou o Ministério Público não se oponham. (n.ºs 1 e 2)
Artigo 69.º do RGCO: o Ministério Público deve estar presente na audiência de
julgamento
5.2. Decisões judiciais que admitem recurso (artigos 73.º a 75.º do RGCO)
1. Pode recorrer-se para a Relação da sentença ou do despacho judicial
proferido nos termos do artigo 64.º quando:
a) For aplicada ao arguido uma coima superior a 50.000$00 (=249,50€);
b) A condenação do arguido abranger sanções acessórias (p. ex., a perda de objectos,
inibição de conduzir no âmbito do Código da Estrada);
c) O arguido for absolvido ou o processo for arquivado em casos em que a autoridade
administrativa tenha aplicada coima superior a 50.000$00 (=249,50€) ou que tal coima
tenha sido reclamada pelo Ministério Público;
d) A impugnação judicial for rejeitada (situação referida em 4.1. e prevista no artigo 63.º, n.º2, do
RGCO));
e) O tribunal decidir através de despacho não obstante o recorrente se ter oposto a tal.
2. Para além dos casos enunciados no número anterior, poderá a Relação, a requerimento do
arguido ou do Ministério Público, aceitar o recurso da sentença quando tal se afigure
manifestamente necessário à aplicação do direito ou à promoção da uniformidade da
jurisprudência.
3. Se a sentença ou o despacho recorrido são relativos a várias infracções ou a vários arguidos e se
apenas quanto a alguma das infracções ou a algum dos arguidos se verificarem os pressupostos
necessários, o recurso subirá com esses limites.
5.3. A decisão judicial de admoestação não é recorrível para o Tribunal da Relação (nos
termos do n.º 1 do artigo 73º do RGCO). Cfr., p. ex., o Acórdão da Relação de Lisboa, de
14-1-2004, disponível em dgsi.
Pelo que:
i) O Tribunal da Relação funciona como tribunal de revista, só conhecendo e
apreciando questões de direito;
ii) Na medida em que neste tipo de processos não há lugar à gravação da prova e à
respectiva transcrição, o recurso limitar-se à apreciação da matéria de direito (artigo
66.º do RGCO);
iii) Não obstante, tendo em conta a jurisprudência do Acórdão da Relação do Porto,
de 19-4-2006, disponível em dgsi “…pode o recurso, para além das questões de
direito, ter ainda por fundamento qualquer dos vícios enumerados no artigo 410.º,
n.º 2 do CPP, “desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida, por si só ou
conjugado com as regras da experiência comum”.
Muito obrigado pela Vossa atenção!
1. Introdução
1.1. No direito do urbanismo, é comum a distinção entre as temáticas do
planeamento urbanístico (enquanto actividade jurídica de produção de
planos) e as da gestão urbanística (actividade que se prende com a concreta
ocupação, uso e transformação dos solos, seja esta realizada directamente
pela Administração Pública ou pelos particulares sob a direcção,
promoção, coordenação ou controlo daquela)
vii) a não demolição total ou parcial das construções que ameacem ruína ou ofereçam
perigo para a saúde pública e para a segurança das pessoas, que seja ordenada pela
câmara municipal (artigo 89.º, n.º 3);
- Pelas coimas devidas por factos anteriores quando a decisão definitiva que as
aplicar for notificada durante o período do exercício do seu cargo e lhes seja
imputável a falta de pagamento;
“Artigo 47.º
Proteção do consumidor
(…)
3 — (…) compete às entidades reguladoras a resolução de
conflitos entre operadores sujeitos à sua regulação, ou entre
estes e consumidores, designadamente:
e) Emitir recomendações ou, na sequência do tratamento das
reclamações, ordenar aos operadores sujeitos à sua
regulação a adoção das providências necessárias à reparação
justa dos direitos dos consumidores”
Muito obrigado pela Vossa atenção!
Licínio Lopes Martins