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2022

CONTRATOS
PÚBLICOS

AULAS PASSADAS
RITA G. E. BRAAMCAMP

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA


1º TESTE

Prática – 20/09/2022 (01)

CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS

Está organizado em duas partes:

 Parte Procedimental – tem os procedimentos que tem que ser observados para serem celebrados os contratos
públicos;
 Parte Substantiva – tem a disciplina substantiva dos contratos administrativos.

Vamos estudar os procedimentos, porque é que é preciso observar procedimento? O procedimento salvaguarda o
princípio da igualdade, da imparcialidade, da justiça, da proporcionalidade, da boa fé (art.266º, nº2 CRP), mas o
art.267º tem um número, o nº5 que diz que é obrigatório observar um procedimento definido por lei, ou seja, não há
contratos sem um procedimento. Não há atividade sem um procedimento, precisamente para salvaguardar que é
tomada a melhor decisão e, em respeito pelos princípios da atividade administrativa. O procedimento serve para
escolher o cocontratante e pode ser geral ou especial. Ele é geral se estivermos a falar do disciplinar do código de
procedimento administrativo, é o procedimento regra e subsidiariamente aplicável quando não haja procedimento
especial. Não havendo nenhum procedimento especial, aplicamos o procedimento geral do código de procedimento
administrativo.

Então tem de existir um procedimento, pode ser mais ou menos complexo. O menos complexo é um ajuste direito, é o
procedimento mais simples. Os procedimentos estão mencionados no art.16º. Quer a escolha do procedimento, quer a
escolha do contrato e do cocontratante, todas estas escolhas são decisões tomadas por um orgão, são decisões
administrativas, pelo menos materialmente administrativas, podem não ser orgânicas administrativas. O órgão decisor,
o que vai escolher o procedimento, o que vai escolher o contrato a celebrar, e os termos do mesmo, e o que vai
escolher ao cocontratante a proposta economicamente mais vantajosa, esse órgão que vai ter a sua competência fixada
no procedimento administrativo ou na lei em geral, essa competência vai depender de um critério de fixação de
competência que é o critério em razão do valor, que é determinado pelo DL nº197/99.

Porque é que nos temos um código dos contratos públicos? O regime dos contratos públicos tem a sua origem no
direito da União da Europeia, resulta da transposição de diretivas que tem dois objetivos:

1. Mercado da livre concorrência → garantir que esse mercado é livre. Como é que se pode achar que a
contratação pode afetar o mercado? A contratação pode afetar o mercado a partir do art.2º. Qual é o âmbito subjetivo
de aplicação do código? É o Estado, as Autarquias Locais, as Regiões Autónomas, as sucessões públicas, as fundações
e institutos públicos. Quem é que tem dinheiro para gastar em contratos públicos? São eles, imaginem o poder que o
Estado tem. Qual é o operador económico que é capaz, com as suas escolhas, de alterar a concorrência? O Estado e as
outras pessoas coletivas públicas que acedem aos recursos financeiros públicos. Porque se invés de escolher a
proposta melhor, insistir em escolher uma empresa que não presta o melhor serviço, mas porque é mais próxima, está-

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se a desvincular a concorrência. A concorrência assenta na ideia que é sempre o melhor que subsiste. Se é esse o
critério, e se sabemos que há operadores capazes de distorcer as regras da concorrência com o seu peso no mercado,
temos que assegurar que esses operados que tem acesso a muito dinheiro, temos de garantir que as regras não são
distorcidas por operadores económicos com grande peso.
2. Poupar recursos financeiros – Se nos vamos obrigar os operados económicos públicos quanto ao mercado a
observar um procedimento transparente e que conferem igualdade de oportunidades para escolher a melhor proposta,
se nos escolhermos a melhor proposta vamos fazer o que? Vamos poupar recursos financeiros. Por um lado, não
distorcemos o mercado e por outro poupamos dinheiro. Tem tudo haver com a cultura de cada um dos países da União
Europeia, porque os Estados membros não são todos iguais, e isso vai interferir nas escolhas legislativas que se fazem.
Também acontece que a própria orientação ideológica tambem vai interferir no regime da contratação pública, se são
partidos tendencialmente mais socializantes tem uma tendência para desconfiar do mercado e ao fazer isso, subtrair do
mercado determinados tipos de contratos, nomeadamente aqueles que estão previstos nos art.5º e seguintes. Se, ao
contrário, tiverem uma visão ideológica mais liberalizante, entendem que os públicos têm concorrência com os
privados e que toda essa constatação tem que estar submetida à contratação pública.

Prática – 27/09/2022 (02)

Tivemos a trabalhar os vários conceitos de entidade adjudicante, contrato público vs contrato administrativo e
procedimento pré-contratual. Estes são os conceitos chaves a partir dos quais nos percebemos a própria estrutura do
código dos contratos públicos. O código tem 3 partes, uma introdutória, a segunda parte é os procedimentos, a terceira
parte é substantiva. Primeiro os princípios, depois os procedimentos e depois o substantivo.

 1ª parte – geral
 2ª parte – procedimental
 3ª parte – substancial

O que é o procedimento? É uma sequência ordenada de atos e formalidades, tendentes à tomada de uma decisão. No
procedimento dizemos que é um conjunto de atos e formalidades, tendentes há formação e manifestação da vontade da
administração ou da sua execução (art.1º do CPA).

Entidade adjudicante, contratos públicos, contratos administrativos, procedimento pré-contratual – estes conceitos
estão todos interligados na medida em que nos só temos contratos públicos quando são precedidos de um
procedimento pré-contratual, e quando o são seguem o regime dos contratos administrativos.

DIFERENÇA ENTRE CONTRATOS PÚBLICOS E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Qual é a diferente entre contratos públicos e contratos administrativos? Os contratos públicos têm uma disciplina
essencialmente nascida do direito da União Europeia e imposta por este. Quais são os grandes objetivos do direito da
União Europeia de fixar os procedimentos pré-contratuais? Qual é a lógica? Por um lado, para proteger o mercado,
para que haja concorrência, e por outro lado porque a concorrência vai permitir poupar recursos financeiros, porque
faz baixar os preços e isso significa poupança de recursos financeiros. Nos temos o regime dos contratos públicos, que
é o regime pré-contratual a que são submetidos os contratos públicos, para garantir o mercado e para garantir

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poupanças de recursos financeiros, e temos os contratos administrativos cujas regras decorrem mais do direito
interno, inspiradas pelo direito francês, em que há uma posição de dominância em razão do interesse público de um
cocontratante público que tem uma posição dominante no contrato, o que é típico dos sistemas de administração de
matriz francesa.

Matéria Antiga: nos distinguíamos o Modelo Anglo-saxónico do Modelo Francês. A grande preocupação pelo
respeito do princípio da legalidade no modelo anglo-saxónico é diferente, a grande preocupação é igualdade perante
lei, estão mais preocupados com a igualdade perante a lei, com a universalidade da lei, do que no modelo francês,
porque aquilo que se pretende historicamente em Inglaterra é que todos sejam obrigados a cumprir a lei, até o Rei e
que ninguém tenha imunidade ou privilégios. Portanto, nessa lógica que todos são iguais perante a lei e que a lei se
aplica a todos de forma igual, é evidente que a administração não tenha prerrogativas especiais. Mas isso também não
era sentido com muita necessidade porque a administração tinha autoridade, era-lhe reconhecida autoridade, não era
questionada a decisão administrativa, mas quando fosse ia ser discutida nos tribunais comuns porque este tambem não
eram temidos. Por isso é que a evolução deles é diferente da nossa, porque a forma de pensar deles não surge de uma
revolução como a nossa. Quando há uma mudança com violência, quando não é uma coisa gradual, de um poder novo
sobre um poder antigo. Qual é a grande preocupação do poder novo? Que o poder antigo não afaste o poder novo e,
por isso é que a separação dos poderes é construída de forma regida. A separação rígida é com receio que os tribunais,
afetos ao poder antigo imposto, consigam bloquear a atuação administrativa, sendo que nos aprendemos que a função
administrativa é o braço armado da função política. A administração é o exército do poder político, porque a
administração é hierarquizada, e é esta replicação do modelo militar que é feito na administração nesta altura para
garantir que a revolução não é parada pelos tribunais. Qual é a fundamentação teórica? O resultado que se pretendia
era garantir que os ideias da revolução fossem executados pelo braço armado que era a execução, mas era preciso uma
justificação. Qual era? Princípio da legalidade. Como? A administração executa a lei, age com fundamento na lei,
isto é, age cumprindo aquilo que é a vontade de todos, porque a lei é aprovada pelo parlamento e se a lei é aprovada
pelo parlamento e administração está a executar a lei, está a fazer aquilo que nos todos queremos, então não vai
precisar de obter o consentimento do particular ou da intervenção do tribunal para executar as suas decisões. Com o
princípio da legalidade concluímos que pode executar as suas próprias decisões, goza do privilégio da execução prévia
porque está a prosseguir o interesse público e a cumprir a lei, e isso justifica que pode executar. Porque ao contrário
do modelo anglo-saxónico, não se considerou que é necessário reformular o direito existente e adaptá-lo à necessidade
do respeito do interesse público como aconteceu no modelo francês. No modelo francês considerou-se que o direito
existente não era adequado, tendo em conta que os interesses que estavam em conflito não eram interesses privados,
era o interesse público e o interesse privado. Nesse conflito, considerou-se durante muito tempo, que o interesse
público deveria prevalecer.

Se olharem para o art.266º, nº1 da CRP, vão ler o seguinte: “a administração está obrigada a prosseguir o interesse
público” e continua a dizer “no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos”. O que é que
isto quer dizer? Que nem todos os fins justificam os meios, ou seja, isto é um dos formulários do princípio da
proporcionalidade. O estabelecimento prisional de Lisboa foi expropriado sem ser paga qualquer indemnização
precisamente na lógica que o interesse público deveria prevalecer sob o interesse privado e, portanto, justificava-se o
sacrifício do poder de propriedade em prole de todos. Hoje em dia já não entendemos assim. Hoje em dia na
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contratação pública o cocontratante público pode com fundamento em razões de interesse público modificar o contrato
ou até extingui-lo, mas essa decisão não o exime de indemnizar os prejuízos que possa causar a sua atuação porque
vivemos num Estado e direito e é assim que se irá respeitar os direitos individuais.

De volta à nossa matéria: o.art.1º âmbito de aplicação do código (parte I). Começa por enunciar que o código
estabelece a disciplina aplicável à contratação pública, isto é, aos contratos públicos (parte II), e o regime substantivo
dos contratos públicos que revistam a natureza de contrato administrativo (parte III). Para definirem o que é que são os
contratos públicos faz referem-se aquilo que não é, não se aplica os artigos 4º e seguintes.

Essencialmente diz-se que a noção de contrato público assenta em dois critérios, que é serem celebrados por uma
entidade adjudicante e serem necessariamente procedidos por um procedimento pré-contratual. Na definição de
contrato públicos entra a definição adjudicante (que está no art.2º) e entra a definição de procedimento pré-contratual.
Quais são os procedimentos pré-contratuais? Aqueles que estão definidos nos art.16º e seguintes, e aplicam-se em
todas as situações que não estejam excluídos. No fundo nos somos obrigados a observar um procedimento pré-
contratual como determina o art.16º para a celebração dos contratos que lá estão indicados. Quando a entidade que
quer celebrar esses contratos é uma entidade adjudicante então estaremos perante um contrato público.

Os procedimentos pré-contratuais são procedimentos que visam escolher o cocontratante e os contratos


administrativos é um regime substantivo em que uma entidade adjudicante celebra um dos contratos previstos no
código que estão identificados no art.16º com exceção do contrato de sociedade (não tem regime substantivo na parte
III dos contratos públicos), mas é um contrato público que depois não é considerado como contrato administrativo
para efeitos do código.

O critério para identificar as entidades adjudicante é um critério material económico, que não se atende à forma, mas
sim à substância, por isso que o nº2 diz que tambem são entidades adjudicante, entidades privadas que são veículos de
entidades públicas. Porque o critério é económico, quem é que tem acesso a recursos financeiros? Quem tem acesso e
quem os controla? Se é uma entidade adjudicante identificada no nº1 então vai ser também considerada entidade
adjudicante nos termos do nº2.

Prática – 04/10/2022 (03)

Treinarmos aplicar o regime do código. O código tem essencialmente dois regimes, um regime procedimental e um
regime substantivo. Parte II do código destina-se a fixar os procedimentos pré-contratuais. São os procedimentos que
vão caracterizar os contratos públicos.

Nós chamamos contratos públicos aqueles contratos que têm de ser procedidos de um procedimento pré-contratual,
definido no código dos contratos públicos. Definição que resulta do art. 1º do CCP.

Art. 1º nº2, os contratos públicos são, têm duas características pelo menos, uma é pela negativa. Como é que nós
definimos o que são contratos púbicos:

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1. São celebrados por uma entidade adjudicante, isso remete-nos para o art. 2º, onde estão identificadas as
entidades adjudicantes;
2. é precedido de um procedimento pré-contratual.

Ora, nós temos de articular este regime, depois, com o art. 16º e com o art. 2º. Porquê?

1. É celebrado por uma entidade adjudicante;


2. Tem de ser procedido por um procedimento contratual que surge na parte II do código. Ou seja, não pode estar
excluído do âmbito de aplicação da parte II do código.

E, quais são os contratos públicos? Quais são os contratos que são submetidos ao regime dos contratos públicos? São
os contratos administrativos.

Porquê? Como é que nós chegamos a essa conclusão? São os contratos, como o código diz, que têm prestações que
devem ser submetidas à concorrência de mercado.

Art. 16º, a formação de contratos que estão ou sejam suscetíveis de estar sujeitos à concorrência de mercado. Quais
são esses contratos cujas prestações estão sujeitas à concorrência de mercado? São os contratos que, com exceção do
contrato de sociedade, estão disciplinados na parte III do código.

Como é que nós sabemos se o contrato é público? Temos de procurar o quê?

1. Saber se estão em causa prestações sujeitas à concorrência de mercado, portanto, prestações que estejam
incluídas nestes contratos, mesmo que o nome dos contratos não seja este. Não interessa o nome, o que
interessa são as prestações;
2. Vamos ver se quem vai querer celebrar esse contrato são entidades adjudicantes. E, se for uma entidade
adjudicante, nós vamos concluir que se vai concretizar a parte II do código, a menos que exista uma norma de
exclusão.

Portanto, no art. 1º devemos pôr, na remissão de contratos públicos, uma remissão para o art. 16º nº2. E nas entidades
adjudicantes, remissão para o art. 2º e que não estejam excluídos do seu âmbito de aplicação, remissão para o art. 4º e
seguintes. Claro que é uma técnica duvidosa que se aplica o regime a menos que não se aplique, estamos a definir uma
coisa por aquilo que não é e não por aquilo que é.

Mas, no fundo, os contratos públicos são aqueles que são celebrados por uma entidade adjudicante e que devam estar
submetidos a um procedimento pré-contratual definido pelos art. 16º e seguintes. E que envolvem prestações sujeitas à
concorrência de mercado. Combinando as disposições todas chegamos a esta conclusão.

Claro que há contratos que estão sujeitos à concorrência de mercado, são celebrados por entidades adjudicantes, mas
depois caem no âmbito de exclusão da aplicação da parte II do código, como resulta dos art. 4º e seguintes. Porquê?
Por estão sujeitos a regras de direito internacional, por exemplo, porque devem estar envolvidos nalgum segredo
incompatível com a publicidade que é obrigatória dar nos procedimentos pré contratuais e transparência. Depois há
outros casos, que tem haver com a sua área de aplicação, por exemplo, o código não se aplica, mas é o código todo,
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não é só a parte I, a parte II ou a parte III, a contratos de trabalho e funções públicas, porquê? Os contratos de trabalho
e funções públicas têm um procedimento próprio de seleção dos trabalhadores. Os contratos de doação de bens
moveis, gratuito. E a aquisição de bens moveis, se formos ao art. 16º, está sujeita, a doação não, nem a aquisição de
bens imóveis.

Já aprendemos porque é que as entidades adjudicantes estão sujeitas a este regime. Porquê? Porque é que as entidades
adjudicantes identificáveis no art. 2º ficam sujeitas ao regime da contratação pública quando celebram contratos com
prestações sujeitas à concorrência de mercado? Porque são sujeitos económicos mais influentes e que podem distorcer
a economia de mercado com a sua atuação e com o seu poder e, portanto, ficam sujeitos à parte II e, portanto, têm de
observar estes procedimentos pré-contratuais para poderem celebrar contratos que envolvam estas prestações.

HIPÓTESES

O instituto do cinema e do audiovisual (ICA) pretende celebrar um contrato de empreitada de obras públicas
para a realização de obras no edifício onde está instalada a cinemateca nacional.

Resposta: temos de aplicar as disposições que observamos previamente, para dizermos:

 primeiro, ver se o instituto do cinema e áudio visual é ou não uma entidade adjudicante;

Onde é que vamos demonstrar que o instituto é uma entidade adjudicante? No art. 2º. O art. 2º identifica as entidades
adjudicantes e os institutos públicos são entidades adjudicantes, portanto, em princípio, estão sujeitos à parte II do
código como diz o art. 1º. Desde que celebrem um contrato cujas prestações estejam sujeitas à concorrência de
mercado. Onde é que temos de ir, ao art. 16º.

 depois, vamos ao art. 16º nº2, que nos diz que os contratos de empreitada estão identificados como um contrato
cujas prestações estão sujeitas à concorrência de mercado.

 portanto, há partida, sendo uma entidade adjudicante e tratando-se de um contrato sujeito à concorrência de
mercado temos de concluir que a menos que o art. 4º e seguintes exclua do âmbito de aplicação da parte II do código,
este contrato, vai ter de observar um dos procedimentos pré-contratuais do art. 16º e seguintes.

Ou seja, esta entidade é uma entidade adjudicante, este contrato é um contrato administrativo, é um dos contratos que
está identificado no art. 16º nº2 e tem uma disciplina na parte III.

Todos os contratos que estão no art. 16º nº2, com exceção do contrato de sociedade, têm um regime substantivo e,
portanto, são qualificados como contratos administrativos típicos. E, portanto, são contratos administrativos para
efeitos do art. 1º. O art. 1º trabalha quer os contratos públicos , diz que são aqueles que são celebrados por entidades
adjudicantes e são submetidos à parte II do código, quer os contratos administrativos, que são, igualmente, celebrados
por entidades adjudicantes e sujeitos à parte III do código.

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A parte III contém o regime substantivo aplicável a execução, modificação e extinção dos contratos administrativos
nos termos do art. 280º. Isto porque os contratos públicos são, em princípio, contratos administrativos, isto é, se estão
precedidos de um procedimento pré-contratual são em rigor contratos que estão submetidos à parte III do código. A
não ser que seja um contrato de sociedade. Os contratos públicos são em regra contratos administrativos também,
estão submetidos à parte III do código. O inverso é que pode não acontecer, pode acontecer existirem contratos
administrativos, celebrados por entidades adjudicantes, mas por uma qualquer razão não estarem submetidos à parte II
do código.

Conclusão: Então, neste exercício, chegamos à conclusão de que estamos perante um contrato público, nos termos do
nº2 e, estamos perante um contrato administrativo, nos termos do nº5. Aplica-se então quer a parte II, quer a parte III,
porque não cabe em nenhuma das disposições do art. 4º e seguintes, não temos aqui situações que possamos afastar a
aplicação da parte II do código. O contrato de empreitada é claramente um contrato que tem um regime substantivo
previsto no código.

II

Suponha que para adquirir uma fotocopiadora no montante estimado de 100 euros a presidência do concelho
de ministros pretende saber se se aplica o CCP. É entidade adjudicante? O contrato é público ou
administrativo?

 primeiro, a presidência do concelho de ministros é uma entidade adjudicante? A presidência do concelho de


ministros é o quê juridicamente? Não é um órgão, o que é que é o órgão? É o governo. Mas o que é que caracteriza um
órgão? É a suscetibilidade de manifestar a vontade imputável à pessoa coletiva. Qual é a pessoa coletiva? É o estado.
O estado é a pessoa coletiva. A presidência do concelho de ministros é um departamento governamental. Como os
ministérios são departamentos governamentais. Não são órgãos, são departamentos governamentais, na medida em
que, são integrados por vários serviços, secretarias gerais, direções gerais, inspeções gerais.

O ministério não é uma entidade adjudicante. Embora, do ponto de vista processual, se reconheça personalidade
judiciária aos ministérios e, embora do ponto de vista fiscal, cada ministério seja tratado como uma pessoa jurídica,
como sabemos a personalidade jurídica é uma coisa, a personalidade judiciária é outra, a personalidade tributária é
outra ainda e para efeitos de contratação é preciso utilizar a personalidade tributária, porquê? Porque a entidade
adjudicante vai ter que utilizar o NIF do Estado diferenciado em função de cada ministério para efeitos orçamentais.
Mas, para efeitos orçamentais, não quer dizer que tenha personalidade jurídica, porque se lermos o código dos
contratos públicos não encontramos lá ministério da defesa nacional, o que é que encontramos? Estado. É o Estado
que tem personalidade jurídica e é o Estado que deve figurar no contrato. Os contratos são celebrados pelo Estado
através dos ministérios, representado pelo ministro tal, com o NIF tal, porque tem personalidade tributária, mas
continua a figurar como parte no contrato o Estado. Não é o ministério.

Prática – 11/10/2022 (04)

Depois de termos trabalhado o conceito de entidade adjudicante, trabalhamos ainda os conceitos de contratos públicos
e contratos administrativos. São conceitos que aparecem no art. 1º.

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E, então, o conceito de contrato público, corresponde a quê? São contratos celebrados por entidades adjudicantes e
precedidos de um procedimento pré-contratual. E quais são os contratos que são precedidos de um procedimento
pré-contratual? São aqueles contratos cujas prestações estão sujeitas à concorrência de mercado. Quais são os
contratos cujas prestações estão sujeitas à concorrência de mercado? São os contratos administrativos,
essencialmente, com exceção do contrato de sociedade. O art. 4º identifica também alguns contratos que, apesar de
serem contratos administrativos, não devam ser precedidos de um procedimento pré-contratual e que não são contratos
administrativos para efeitos de aplicação do código.

O código tem, essencialmente, 3 partes. Uma 1ª parte que é dedicada aos princípios, uma 2ª que é dedicada aos
procedimentos especiais.

Quais são os princípios gerais da atividade administrativa? Proporcionalidade, igualdade, justiça e imparcialidade,
resultam do art. 266º nº2 do CPA.

Quem são as entidades adjudicantes? São aquelas que estão identificadas no art. 2º. E o que é que têm em comum?
Têm peso económico e que gerem recursos financeiros públicos, que são controlados direta ou indiretamente por
entidades públicas. Não é preciso ser o Estado diretamente. Basta que o Estado controle essa entidade, se tiver aquilo
que se chama o controlo efetivo da gestão.

O que são os contratos administrativos? Os contratos administrativos do art. 1º aparecem definidos como os
contratos que ficam submetidos ao regime da parte III do código, ao regime substantivo.

É um regime de influência francesa e porquê? A administração goza do privilégio de execução prévia, presume-se a
legalidade dos atos porque a administração não precisa da autorização dos particulares e dos tribunais para executar as
suas decisões. O que sucede é a evolução da ideia de separação de poderes nos dois modelos, no modelo francês e no
modelo anglo-saxónico, divergiram sobre o sentido princípio da legalidade.

No modelo anglo-saxónico também há princípio da legalidade, também há subordinação à lei, mas para já a lei
funciona mais como um limite do que como um fundamento na administração. Por outro lado, há outra coisa que
afasta os modelos que é a ideia de que tem que haver uma lei especial para a atividade administrativa enquanto no
modelo anglo-saxónico a grande preocupação é a igualdade, a igualdade perante a lei. E essa ideia de igualdade
perante a lei leva a que o direito seja concebido como aplicável a todos sem discriminação para que não haja
privilégios ou imunidades e todos são iguais perante a lei, até se aplica ao rei. Diferente do que se passa no modelo
francês, no sistema de administração executiva, neste sistema entende-se que o interesse público justifica existir uma
lei diferente para a administração. Afastado do interesse privado, onde só estão em causa direitos privados e, portanto,
como só estão em causa direitos privados é igual, são iguais. Mas, quando está em causa a administração que não
prossegue interesses privados, mas prossegue interesses públicos que são de todos, o interesse público no confronto
com o interesse privado faz como seja necessário existir um regime diferenciado para a administração, É AQUI QUE
SE AFASTAM. Porque no modelo anglo-saxónico a preocupação era o rei também se subordinar há lei, não haver
privilégios, nem imunidades, todos estão submetidos à lei, a lei é igual para todos. *Tem graça porque existe um rei,
existem nobre e esses nobres têm por sangue direito a ter determinados títulos, é engraçado haver tanto essa

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preocupação e depois para nós faz-nos confusão não sermos mesmo todos iguais. E nós que vivemos numa República
na estamos habituados a ver tratamentos diferenciados relacionados com o nascimento, vemos tratamentos
diferenciados em relação do poder, por norma. * O modelo francês, que depois inspirou todos os países à volta,
sobretudo no sul da Europa, acabou por, em razão desse interesse público, arranjar uma justificação para a
administração não precisar dos tribunais para executar as suas decisões. E é isso, se formos ver ao regime dos
contratos públicos, vemos que existe a possibilidade de distinção do contrato por iniciativa do cocontratante, é o caso
do art. 232º por razões de interesse público, por exemplo, art. 1334º, e de modificação do contrato também por razões
de interesse público com os limites do art. 313º e se formos ao 278º e seguintes, onde começa o regime substantivo
dos contratos, diz aqui no contrato a propósito dos poderes do cocontratante, art. 302º, que o contraente público tem
poderes diferenciados. E são poderes diferenciados que assentam na tal de que é prosseguido o interesse público e se
justifica que tenham uns poderes diferentes do que seria um contrato em que as partes são privadas e não estão
investidas de nenhum poder público porque não estão a prosseguir o interesse público. O que é que acontece? É,
precisamente, o direito francês que começa a criar estas regras, mas com a globalização do direito os regimes têm
tendência a aproximar-se e, portanto, nós tamos a caminhar no sentido de nos aproximarmos do direito anglo-saxónico
e o direito anglo-saxónico está cada vez mais a ter direito administrativo. Em que são conferidos poderes de
autoridade também às autoridades públicas. Há aqui um caminho de aproximação e temos uma prova desse caminho
de aproximação: art. 8º do diploma que aprovou o CPA, diz uma coisa que foi um travão às 4 rodas que a
administração fez, o professor Freitas do Amaral veio dizer, a respeito da alteração do art. 176º, sem termos dado
conta que tínhamos atravessado o canal da mancha sem avisar, porquê? Porque este artigo exige que para que haja
execução exista norma prévia. Nós ensinamos toda a vida que, se a lei permitia decidir, se a lei confere autotutela
declarativa, também permite executar, autotutela executiva, o princípio sempre foi este e o código de 91 diz isso
mesmo. Isto é, se pode praticar um ato, também pode executar o ato. É uma norma parecida com o que resulta agora
do art. 278º do código dos contratos públicos. E havia este princípio geral que era se tem autotutela declarativa tem
autotutela executiva. E de repente aparece o 276º do CPA a dizer quando a administração decide qualquer coisa, se
quer executar, tem que existir a norma que diz que tem poder para executar, se não existe a norma não tem
competência. Ora, isto, causou o pânico. Basta o particular não aceitar, não aceita o ato e se não aceita ele não produz
efeitos, porque não há competência para executar. E o nosso direito sempre foi construído no pressuposto de que se
pode decidir pode executar, portanto, o legislador nunca se preocupava em dizer se podia executar e como é que
executava, preocupava-se em dizer que ia decidir, não tinha a preocupação de dizer como é que podia executar. Não
era preciso. Mas se se altera essa norma, então esse poder deixa de existir. O que é que se fez? Suspendeu-se esse art.
176º no art. 8º do decreto de lei que aprovou o CPA, e disse assim: vamos suspender a aplicação desta norma até ser
aprovado um novo regime que permita executar os atos administrativos. Esse governo cessou funções e os 60 dias já
passaram anos e o assunto não está resolvido.

Prática – 18/10/2022 (05)

O que é que são entidades adjudicantes? São operadores económicos públicos ou veículos de operadores públicos
que por terem acesso a recursos financeiros públicos têm grande impacto no mercado e que estão identificados no art.
2º do CCP.

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O conceito de entidade adjudicante é importante porquê? Porque o contrato é público quando celebrado por uma
entidade adjudicante, nos termos do art. 1º. É importante porque é a partir dele que construímos a noção de contrato
público, porque só as entidades adjudicantes é que celebram contratos públicos, que ficam submetidos à parte II do
código, isto é, ao procedimento pré-contratual identificados no art. 16º nº2.

E quando é que isso acontece? Quando entidades adjudicantes celebrem contratos cujas prestações estejam submetidas
à concorrência do mercado, são os contratos identificados no art. 16º nº2, que de grosso correspondem aos contratos
administrativos, com exceção do contrato de sociedade.

Contratos públicos são contratos submetidos ao regime da União Europeia que tem o procedimento pré-contratual
definido nos art. 16º e seguintes e os contratos administrativos são aqueles, nos termos do art. 280º, ficam submetidos
à parte III do código. Isto é, tem o regime de direito administrativo e a grande característica é a circunstância de os
poderes permitirem, os poderes do cocontratante público, a este uma certa preponderância que se justifica por razões
de interesse público, por causa do interesse público a prosseguir.

PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

Vamos dedicar-nos agora aos princípios. Os princípios que encontramos na atividade administrativa são também
relevantes aqui, por força do art.1º-A. Encontramos os princípios, desde logo, na CRP, art. 266º nº1 e nº2, enuncia os
princípios. O nº1 começa por dizer que administração está obrigada a prosseguir o interesse público, está obrigada a
prosseguir o interesse público, mas esse princípio não é um princípio absoluto, porquê?

Porque durante muito considerou-se que a prossecução do interesse público justificava tudo, justificava os meios e,
por isso, é que onde hoje temos implantado o palácio da justiça são terrenos em lisboa que estão implantados edifícios
públicos. Esses terrenos foram expropriados sem justa indemnização porque se considerou que era possível expropriar
pelo interesse público, era mais relevante que o interesse privado. Hoje em dia a CRP não o admite, não há
expropriação sem justa indemnização. E, portanto, isso não é possível hoje porque estamos num estado de direito que
não ofende, não suprime, direitos sem tentar, de alguma forma, compensar o lesado. E, por isso, é que todos os fins
não justificam todos os meios.

Qual é o princípio que é relevante para fazer esta equação do que é que justifica a prossecução do interesse público e o
sacrifício dos interesses privados? O princípio da proporcionalidade é, exatamente, o princípio que vai explicar
como é que vamos conseguir encaixar e, nos termos do art. 18º, fazer coexistir os dois direitos sem que um anule o
outro.

Então, temos como 1º princípio, o professor não começa pelo princípio da prossecução do interesse público, começa
pelo princípio da legalidade. E é caso para perguntar, o que é que vem primeiro? Porquê? É a lei que identifica o
interesse público. É a lei que fixa as competências, os poderes, que os órgãos têm para prosseguir os fins, art. 3º CPA.
Portanto, se é a lei que fixa os poderes e os poderes que podem/devem, porque nós aprendemos que a competência é
um poder/dever ser usados, eu estou sempre obrigada a prosseguir o interesse público enquanto administração e por
isso é que a competência é irrenunciável. E, porque é que é irrenunciável? Porque se eu não exercer a competência eu
estou a renunciar à prossecução do interesse público. art. 26º do CPA é uma consequência do princípio da prossecução
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do interesse público e da legalidade, porque é a lei, nos termos do art. 3º, que identifica os fins que devem ser
prosseguidos e os órgãos que são competentes para exercer os meios. E, muitas vezes, o legislador não consegue
identificar todas as soluções e deixa margem de manobra, ao órgão administrativo, para fazer escolhas. Escolha do
procedimento, a escolha do contrato a celebrar, a escolha do cocontratante, a escolha da proposta economicamente
mais vantajosa, etc.

Em sentido amplo a justiça engloba: a igualdade, imparcialidade, proporcionalidade e justiça. Afeiçoar os critérios a
candidatos ou propostas já conhecidas, depois de as conhecer, é uma violação do princípio da imparcialidade. Porquê?

Vamos recuperar os vários princípios:

 Justiça strito sensu, dar a cada um o que é seu;


 Imparcialidade, recai sobre a administração o dever de decidir de forma neutra, isenta, equidistante, despida
de pré-conceitos e pré-juízos que interfiram na decisão e que, normalmente, resultam de fortes relações de
amizade ou de inimizade. São sobretudo consideradas até impedimentos quando constituam relações
familiares, porquê? Porque uma das regras do princípio da imparcialidade é que não baste ser sério é também
preciso parecer, porquê? Porque há circunstâncias que objetivamente se considera que não são suscetíveis de
impedir qualquer pré-juízo ou pré-conceito. Art. 69º do CPA, se eu for pai, mãe, filho, avó, tio, neto...
obviamente, que eu não vou conseguir fazer um juízo neutro, isento, imparcial. A proximidade familiar
interfere com a capacidade de eu decidir de forma neutra, isenta e imparcial, e o legislador reconhece isso.

Prática – 25/10/2022 (06)

HIPÓTESE

III

Dois municípios formaram uma associação, nos termos gerais do Código Civil, para a reabilitação de
património histórico localizado nos seus territórios, a que deram o nome de DOMINIUM. A associação das
duas autarquias viabilizava a obtenção de cofinanciamento dos fundos estruturais da União Europeia, algo que,
cada uma delas de per si, dificilmente o conseguiria.

Tendo em conta a urgência de contratação dos empreiteiros que realizariam as obras de construção, a
associação DOMINIUM fez publicar vários anúncios de "procedimentos abertos", aceitando todas as propostas
que lhe fossem submetidas para a execução dos projetos que integravam o plano comum de reabilitação. Nos
termos desses "procedimentos abertos" afirmava-se que eram aos mesmos aplicáveis as regras dos concursos
públicos previstas no Código dos Contratos Públicos, com algumas adaptações, mas sem diminuição das
exigências principais que o CCP prévia.

A primeira coisa a identificar é se estamos perante uma entidade adjudicante ou não. Analisar o art.2º e dizer que há
uns critérios que são formais, e o princípio é que as entidades adjudicantes são entidades públicas, são aquelas que lá
estão descritas e depois há uma regra material (regra formal são aqueles que são entidades públicas [nº1]) porque
atende à substância e não à forma, o que significa que vão procurar encontrar o que tem em comum as entidades
adjudicantes, que é o poder económico, a utilização dos recursos financeiros públicos. E, portanto, apesar de
formalmente de não surgirem as duas autarquias, os dois municípios, na veste de entidade pública, que a forma que

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assume a associação deveria ser uma comunidade intermunicipal, nos termos do regime público, apesar de não
assumirem a forma pública de associação intermunicipal por não preencherem os requisitos para constituírem uma
associação pública resolveram constituir uma associação privada. Mas, apesar de terem personalidade jurídica de
direito privado, aquilo que o nº2 é que se forem controladas por entidades adjudicantes passam a ser também uma
entidade adjudicante. Portanto, fica um dos pressupostos verificado para que seja possível aplicar a parte II do código.
O que quer dizer que não é porque voluntariamente aceitaram submeter-se ao código dos contratos públicos, não,
estão é legalmente obrigadas a submeter-se e, portanto, não podem dizer que o fazem por opção, fazem-no por
obrigação legal.

Portanto, na hipótese é preciso tomar atenção quando virmos na hipótese a falar de entidades privadas, não interessa
que seja privada, o que interessa é se entidades adjudicantes controlam essa entidade privada. Controlam ou porque
tem a maioria do capital, ou porque tem o maior número de votos ou porque tem direito de veto. Tudo isso significa
que tem controlo efetivo sobre aquela empresa.

Relativamente aos contratos administrativos código diz que um dos critérios é que seja celebrado por um contraente
público. Como é que distinguimos contraente público (art.3º) de entidades adjudicantes (até.2º)? O contraente público
normalmente é uma entidade adjudicante, normalmente coincide. Só não coincidirá nos casos em que seja entidade
adjudicante, mas depois o contrato não seja administrativo, caso de uma entidade adjudicante que vise celebrar um
contrato de sociedade. Mas normalmente é uma coincidência entre entidade adjudicante e contraente público. Porque
os contratos administrativos são aqueles contratos cujas prestação estão identificadas no art.16º, nº2 como sendo
prestações que não estão subtraídas à concorrência.

Então primeira coisa a dizer: nos termos do nº1 do art.2º os municípios são entidades adjudicantes, a associação
privada em princípio não seria por ser uma associação de direito privado. Todavia o nº2 alarga para impedir a fuga
para o direito privado e a fraude à lei de tentar evitar a aplicação do código e alarga o conceito de entidade adjudicante
a pessoas de direito privado que sejam controladas por entidade adjudicante. Afinal vamos aplicar a al.i) do nº1
porque a alínea do nº2 é para situações em que não é exclusivamente constituída por entidades adjudicantes, é
naquelas situações que são mais de fronteira.

Urgência normalmente é um critério para o ajuste direto. Quando o professor fala em urgência, está-se a querer referir
à possibilidade de celebrar um ajuste direto. Esta hipótese era para reabilita, portanto é uma empreitada de obras
públicas, o que signifca que é um contrato administrativo, e o sendo, tem as suas prestações nos termos do art.16º, nº2,
submetidas à concorrência de mercado e, por isso, caso não esteja excluído nos termos do art.4º e seguintes do CPP
vai estar submetido à parte II do consigo, ou seja, também vai ser um contrato público.

Então no fundo é pegar no art.1º para definir contrato público, e para o fazer é preciso identificar a entidade
adjudicante. Saber que as prestações não estão subtraídas à concorrência de mercado (art.16º, nº2), qualificam o
contrato como contrato administrativo. Se o contrato é administrativo as prestações são submetidas à concorrência de
mercado, a menos que o art.4º e seguintes excluam esse contrato, em particular, da aplicação do código dos contratos
públicos.

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Definições de contrato público e contrato administrativo estão no art.1º. O contrato público é aquele que é celebrado
por uma entidade adjudicante e que tem as suas prestações submetidas à concorrência de mercado, a não ser que seja
excluído nos termos do art.4º e seguintes. O contrato administrativo está descrito no art.16º, nº2 com exceção do
contrato de sociedade porque esse não é qualificado como administrativo porque não tem uma disciplina substantiva
na parte III do código. Os contratos administrativos são aqueles que são celebrados por um contraente público e que
tem um regime substantivo definido no código. O que é que tem de especial? Os poderes do art.302º, que resultam da
prossecução do interesse público, que é atingida através da celebração desses contratos, direto ou indiretamente, e que
por essa razão de interesse público justificam que o contraente público tenha poderes exorbitantes. Quais são os
poderes? O de fiscalizar o contrato, rescindir unilateralmente o contrato por razões de interesse público, modificar
unilateralmente o contrato por razões de interesse público. São os poderes que estão no art.302º e que, no fundo,
revelam a especificidade dos contratos administrativos submetidos a um regime de direito público quando comparados
com os contratos civis.

Critérios de adjudicação → a entidade adjudicante é quem tem que escolher qual é o procedimento pré-contratual e
escolhe qual o contrato adequado para a prossecução do interesse público. Ao escolher tem que observar as regras
previstas nos art.16º e seguintes.

É valor do contrato e o tipo de contrato que vão condicionar os procedimentos. O valor e um tipo de contrato são dois
dos critérios usados para a escolha dos procedimentos. Tem que saber o valor do contrato que esta em causa e o tipo
de contrato para depois correrem estas regras e ver o que está em causa. Neste caso é empreitada. Mas atenção que há
sempre uma norma que diz “ajuste direto para a formação de quaisquer contratos” (art.24º), este regime é transversal a
todos os contratos, não é específico da empreitada. Depois tem para a aquisição de bens móveis (art.26º) e para a
aquisição de serviços (art.27º). A professora diz para prestarmos atenção ao tipo de contrato, ao valor do contrato, e
depois ver as regras que são especificas de cada contrato e depois ver, se por acaso, se nas regras comuns a todos os
contratos se não encontram lá a situação que tem pela frente.

Não basta invocar urgência, falta de planeamento não é urgência imperiosa, urgência imperiosa é imprevisível, é
uma causa que não se consegue controlar.

Atenção ao tipo e valor de contrato e ver as regras.

ESCOLHA DO PROCEDIMENTO – nos temos os critérios regra que são os critérios que combinam a natureza do
contrato e valor do mesmo, são esses critérios que servem para identificar, em regra, o procedimento. À medida que
sobe o valor, torna-se mais complexo o procedimento. Mas, depois há critérios matérias de escolha do procedimento, e
esses critérios servem para aligeirar os procedimentos que possam eventualmente ser necessários. São outras regras
que permitem aligeirar os procedimentos e é esse o sentido, isto é, afastar a aplicação de regimes mais rígidos e aplicar
regimes mais flexíveis, menos rígidos com uma tramitação menos exigente.

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2º TESTE

Prática – 08/11/2022 (07)

Pergunta de uma aluna: explicar o art.50º – estabelecimento, retificação e alteração das peças do procedimento.

→ Nº2 – Para efeitos do presente Código consideram-se erros e omissões das peças do procedimento os que digam
respeito a:

a) Aspetos ou dados que se revelem desconformes com a realidade;


b) Espécie ou quantidade de prestações estritamente necessárias à integral execução do objeto do contrato a
celebrar;
c) Condições técnicas de execução do objeto do contrato a celebrar que o interessado não considere exequíveis;
d) Erros e omissões do projeto de execução que não se incluam nas alíneas anteriores. 

Isto tem haver com a eventual má comunicação no caderno de encargos, essencialmente, em que o cadernos de
encargos ou se exprime mal ou diz algo que não é suscetível de ser executado e que quem deteta o erro tem o dever de
o dizer por uma razão, quanto mais cedo se identificar as situações que podem interferir na execução do contrato,
melhor. É uma questão lógica. Tem que se identificar todas as questões o mais cedo possível. Muitas vezes estes
problemas detetam-se na execução, uma pessoa formula em abstrato e acha que é possível e depois vai na prática com
o técnico e este vai tentar executar mas não vai ser possível. A questão do dever de identificar os erros o mais cedo
possível tem haver com o procedimento. O procedimento tem que ser conduzido com todos os elementos possíveis,
todos tem que perceber que o caderno tem aquele problema, para ser possível, em tempo, discutir todos os problemas
que possam existir de forma transparente.

Este regime o que pretende é, como percebem pelo nº1, é algo que tem que acontecer no primeiro terço do contrato,
isto é, antes das apresentações das propostas, para todos estarem na mesma posição. Para garantir que todos tenham
acesso à mesma informação. Qual é a preocupação? Quais são os princípios que estão aqui subjacentes? Por um lado o
princípio da transparência, a pessoa tem que declarar logo, todos aqueles que vão preparar a proposta para concorrer
no procedimento têm que ler com atenção e verificar logo tudo o que podem dizer, porque é este o momento que o
código pretende. Isto é difícil.

Exemplo de algo que aconteceu à professora: teve um procedimento em que o caderno de encargos parecia não
definir de forma clara o que é que se pretendia do aparelho (era para comprar um aparelho telefónico) e quando se
descreveu o telefone falou-se em este precisar de ter duas saídas, uma para auscultadores e outra para ser uma saída de
ligação à internet. Mas a saída era igual fisicamente, tinham um nome técnico igual. E houve um candidato que achou
que as características do bem a adquirir ter duas saída ou uma era a mesma coisa, porque bastava que tivesse essa
potencialidade. O que é que acontece? O telefone ter as duas saídas possibilitava a ligação simultânea à internet e ao
headset e ter só uma saída isso não era possível. O que é que aconteceu? A proposta desse concorrente foi excluída
porque não tinha respeitado o caderno de encargos e eles entendiam que os requisitos não eram cumulativos e, não
pediram nenhuma explicação sobre isso, apesar de poderem ter pedido e além disso, não havia nada que dissesse que
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não eram cumulativos, eram características que o aparelho telefónico tinha que ter e toda a gente entendeu como
cumulativas.

Quando nos lemos uma coisa imaginamos de uma determinada forma, e depois na prática as vezes não é exatamente
igual por isso é que é tão difícil de fazer um caderno de encargos.

Outra pergunta: qual é que é a consequência? O professor disse que o legislador, relativamente à consequência de
não tolerar, que o legislador queria encontrar uma solução onde se percebe quem é que irá pagar pela correção do erro.
O professor concluiu que a lei não é clara.

Resposta: as maiores questões jurídicas que existem são a propósito dos erros e omissões. Tem haver com a
declaração de vontade da entidade adjudicante e perceber se há um erro na declaração, ou se não há nenhum erro na
declaração o que ela disse é aquilo que ela quer dizer, só que ela está em erro sobre como é que se deve executar a
obra, por exemplo.Pode ter uma falha técnica.

Novamente a fazer uma pergunta: esta pergunta que a aluna está a fazer vem no seguimento de um exemplo dado
pelo professor que era sobre a construção de uma estrada no sítio em que se tinha que fazer um aterro e alguém se
esqueceu, que face às características do terreno era preciso fazer uma drenagem para passar a água. Perante esta
situação na fase pré-contratual e na fase contratual, quer do lado do dono da obra como do empreiteiro detetaram o
erro. O que é que acontecia se o erro técnico não fosse manifesto, quem é que iria pagar?

Resposta: obviamente que o caderno de encargos tem que conhecer o sitio onde vai ser feita a obra, não pode fazer um
plano sem saber onde vai ser feita a obra, portanto, havia também uma responsabilidade da … mas se for uma coisa
manifesta, a pessoa que prepara a sua proposta também tinha que ter visto e, portanto, isto significa que se também
não viu, se calhar não é assim uma coisa tão evidente, mas alguém não fez bem o seu trabalho de casa, nem a entidade
adjudicante não viu, o concorrente também não, portanto, se calhar não era assim tão evidente. Nesse caso, tem que se
ver quem teria mais responsabilidade. Tem que se ver de quem é a culpa de não ter sido detetado o erro. Também
podia ser partilhado.

E vai mais uma perguntinha: relativamente ao nº4 diz qual é a consequência, só que depois quando remete para o
art.378º, nº3, o que o professor disse é que parecia que havia uma desresponsabilização da entidade que vai
desencadear o processo, neste caso o dono da obra. Depois também põe outros conceitos como os trabalhos
complementares, que se depois de x tempo é trabalho complementar, se for antes não é considerado. Portanto, prevê
que o empreiteiro suporta metade do valor dos trabalhos complementares do suprimento de erros e omissões
suprimento de erros e omissões cuja deteção era exigível na fase de formação do contrato, mas à contrário, se a
deteção não era exigível na fase da formação do contrato o empreiteiro não suporta metade do valor?

Resposta: isso do valor não ser exigível tem haver com alterações supervenientes das circunstâncias, pode acontecer
haver uma alteração e não era previsível, é algo que não é controlável pela entidade adjudicante.

Pergunta: quando não for exigível o empreiteiro não suporta metade?

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Resposta: a professora diria que sim. Tem haver com a culpa de cada um. Temos que pensar quem é que vai assumir
as consequências do que aconteceu. O que é que é justo? Para ser justo deve suportar as consequências. É isto que as
normas tentam fazer, tentam perceber quem é que deve suportar, consequência de um erro ou de uma omissão. A
quem é que era exigível ter detetado e que não tivesse causado este erro? As vezes é difícil identificar. Mas, o
problema é esse, identificar quem é que deve suportar as consequências deste problema. Onde é que nos devemos
traçar a linha para responsabilizar um outro outro ou se temos que repartir porque nem um nem outro na realidade
podiam ter feito algo para evitar o erro.

Isto acontece muitas vezes na realidade, porque ninguém quer suportar a consequência. A entidade adjudicante não
quer ser ela a suportar, e o concorrente ou cocontratante tambem não quer assumir a responsabilidade. As normas
tentam fazer a repartição justa daquilo que deve ser o risco. Quem é que deve assumir as consequências e com base
nisso temos que argumentar. O professor não está a espera que a gente saiba as soluções, mas quer que façamos
críticas sobre as várias disposições. Ou seja, temos que ver o que vamos considerar relevante para aplicar um
segmento da norma ou outro. O professor vai valorizar mais argumentação do que conhecimento.

Temos que ver quais são os princípios que estão em causa, qual é o interesse do legislador. O legislador quer uma
solução que seja justa e para haver justiça, parte da equação da justiça é a transparência, a igualdade, a
proporcionalidade que são sub-princípios do princípio da justiça, porque são todos manifestações da justiça. E pensar
que são estes princípios que o legislador prendendo e, portanto, temos que pensar em tratar igual o que é igual e
diferente o que é diferente, temos que pensar em soluções que sejam absolutamente necessárias e adequadas e temos
que pensar na decisão neutra, isenta e parcial. É isso que se exige ao próprio interprete da norma, no sentido em que as
soluções tem que respeitar também estes princípios, não só na atividade mas também são princípios dirigindo-se ao
legislador.

E vai mais uma pergunta: o professor já falou no tema dos trabalhos complementares de que antigamente
dominavam-se de trabalhos a mais e que o critério era percentual, era 45% ou 50% e agora é 5%? A diferença é muito
brusca.

Resposta: os trabalhos complementares estão disciplinados no art.370º. Isto tem haver com as alterações ao contrato.
Os trabalhos continuam a fazer referência a 50% do preço. É o “já agora” – já agora que estamos a fazer isto, fazemos
não sei mais o que. Tem haver muitas vezes com o mau planeamento porque se percebe a meio da obra que afinal é
preciso fazer mais qualquer coisa porque o caderno de encargos é deficiente ou não se pensou.

O que é que acontece? Não está previsto no contrato e como sabemos, não há acordo para fazer e por isso tem que
haver novo acordo entre as partes. Porque o dono da obra tem uma posição de supremacia no contrato – basta ver o
art.302º onde percebemos que a cocontratante tem uma série de poderes para modificar o contrato, só que a
modificação tem que ter limites. Quais são os limites? Não provocar um aumento considerável de custos para o dono
da obra [art.370º, nº2, al.b)]. Limite das modificações objetivas a partir do art.311º. O princípio é o pacto sunt
servanda, fazemos um acordo e temos que cumprir o acordo que fazemos. Mas o “já agora” existe e para o prever
permite-se com os limites do art.370 que possam ser realizados trabalhos complementares, antigamente
denominados trabalhos a mais.
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Os trabalhos complementares se lhe for determinado por escrito pelo dono da obra (art.371º, nº1), qual é o problema
muitas vezes dos trabalhos complementares? É que depois fala-se imenso, fica só de boca e torna-se difícil cobrar-se
os trabalhos a mais. A empresa que pratica os trabalhos a mais, deve exigir sempre que qualquer alteração ao contrato
venha ordenada por escrito ou que resulte, por exemplo, das atas que resultam das obras. Quando fazem obras há
sempre pontos de situação que são feitos, em que o dono da obra reúne com o empreiteiro para fazer as medições e ver
se a obra está a progredir tal como foi programada, porque normalmente estas obras tem uma programação para a sua
execução porque o pagamento é feito em função da progressão da obra. São feitas pontualmente reuniões para
verificar se o avanço da obra está a ocorrer exatamente como planeado, isto é, se no primeiro mês fizeram as paredes,
se no segundo mês fizeram o telhado, etc. E isso está tudo planeado. E, portanto, a execução da obra tem de ocorrer
nestes termos para o pagamento ocorrer nestes termos. Se ao fim do primeiro mês não tiverem as paredes erguidas
podem ser aplicadas sanções pelo incumprimento, por isso é que é importante o dono da obra a ir acompanhando para
ter garantias que o dinheiro público está a ser usado convenientemente. E o dono da obra precisa de ser acompanhado
por um engenheiro ou arquiteto para não ser enganado, porque não vai ser um jurista que vai conseguir dar essa
informação, só conseguem ver por exemplo se o prazo está ou não cumprido.

Tem que se fazer comunicações, quem prevê a possibilidade de não conseguir cumprir, por uma razão que lhe é
estranha (exemplo: guerra), tem o dever de comunicar à outra parte atempadamente para se eximir do não
cumprimento pontual das prestações.

Next question from the audience: art.370º, nº4 → o valor dos trabalhos complementares não pode exceder, de forma
acumulada, 50 /prct. do preço contratual inicial – aqui estamos a falar do preço contratual e não o preço base, mas o
professor falou da correção do preço base.

Reposta: nos estamos a falar de deveres e omissões na fase pré-contratual, onde não temos contrato. Quando se deteta
nesta fase tem que se alterar o caderno de encargos e isso pode ter alterações no preço base.

CASO PRÁTICO – PÁGINA 18 DOS SUMÁRIOS

IV

Um instituto público procedeu à adjudicação de um contrato público de prestação de serviços por ajuste direto,
ao abrigo da alínea d), do nº 1, do artigo 20, do Código dos Contratos Públicos. O valor do contrato era de €
10.000. Um potencial interessado, que não foi contactado para apresentar proposta, mas que soube da
adjudicação pela comunicação social, impugnou-a judicialmente, sustentando que teria sido possível à entidade
adjudicante proceder a uma consulta aberta breve, promovendo a concorrência. Teriam sido violados os
princípios da igualdade, da publicidade, da concorrência e da prossecução do interesse público.

Isto tem haver com a escolha do procedimento e com a combinação dos critérios para a escolha do procedimento.
Nos inventamos o procedimento da consulta prévia, inventamos, não está nas diretivas porque o tribunal de contas tem
algumas dúvidas sobre o ajuste direto, que é consultar diretamente uma entidade sem sequer fazer uma explicação
para tentar encontrar uma solução mais barata. O tribunal de contas fez uma recomendação que, mesmo quando fosse
possível utilizar o ajuste direito, deveriam as entidades públicas adjudicantes fazer uma pequena consulta ao mercado,
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tentar convidar pelos menos 3 entidades para tentar obter um preço mais barato. O que é que se fez? Introduziu-se um
limite de 20.000,00€ para um sub-procedimento. Até 20.000,00€ não tem impacto económico suficiente para não fazer
consulta.

Pequenas empresas são as vezes pessoas que prestam serviços e tem uma empresa para facilitar a sua contratação
como prestador de serviços e é por isso que temos tantas micro-empresas. E 20.000,00 € pode fazer uma grande
diferença para uma empresas pequena dessas. Esta ideia de fazer a consulta não resulta das diretivas, mas da
recomendação que o tribunal de contas fez, que depois quando se reviu o coifo em 2017 introduziu-se essa solução de
obrigar a fazer uma consulta quando o contrato seja superior a 20.000,00,€ . É uma forma de tentar introduzir alguma
transparência e alguma concorrência. O que se fazia era que se desdobrava-se o contrato em variadíssimas frações
para conseguir tudo por ajuste direto. O princípio é: não é possível fazer essa fracionamento se o objetivo for baixar o
valor para fugir ªa contratação do regime dos contratos públicos.

Neste caso prático, qual é a questão que se coloca? Saber se o procedimento foi o adequado ou não. Foi o adequado?
Foi, a lei não obriga a que haja consulta pública, esta só é obrigatória quando o valor do contrato exceder os
20.000,00€, não excedendo a consulta pública não é obrigatória.

Se o procedimento não fosse o correto qual era o vício? Formal. Mas como se chama o vício? Há dois vícios formais:
falta de forma legal e preterição de formalidades essenciais. Neste caso é o último e a consequência é a anulabilidade.
Se quisesse impugnar o ato de adjudicação qual é o prazo que tem? Tem o prazo de 1 mês, independentemente da
natureza da invalidade, isto é, nulo ou anulável é sempre impugnável no prazo de 1 mês. O desconhecimento desta
regra leva imensos advogados a perderem processos.

Prática – 15/11/2022 (08)

Tivemos a ver os princípios..

Continuação do caso prático da aula passada:

Um instituto público é uma entidade adjudicante? Sim, art.2º, al.d). O instituto público integra a administração
indireta do Estado e é uma pessoa coletiva pública institucional sujeita a superintendência por parte do Governo.

O instituto público, sendo uma entidade adjudicante há uma forte probabilidade de o contato a celebrar estar
submetido ao CCP. Porque as entidades adjudicantes quando celebram contratos cujas prestações estejam submetidas
à concorrência de mercado tem de observar os procedimentos descritos no nº1 do art.16º. Depois percebermos se as
prestações que estão sujeitas à procedimento pré-contratual definido no código precisamos de consultar o nº2 que
identifica as prestações sujeitas à concorrência de mercado.

Estamos a falar aqui de um contrato de prestação de serviços. O CCP utiliza a expressão “aquisição de serviços”
[art.16º, nº2, al.e)] para distinguir a que aparece na lei geral do trabalho em funções públicas (art.10º, nº3 do LGFP)
que define contrato de prestação de serviços para exercício das funções públicas como um contrato parecido como o
contrato de trabalho, mas sem subordinação. Este contato de prestações de serviços significa signifca que é um contato

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com uma pessoa individual. Se for celebrado por uma pessoa individual estamos a falar de prestação de serviços. Se
estivermos a falar de empresas estamos a falar de aquisição de serviços. Foi esse o sentido que se quis dar e também
se quis dar uma expressão diferente, para obrigar que esta contratação no âmbito do CCP seja uma contratação de
empresa e não de pessoa em nome individual.

Então se estão a fazer essa distinção e se o código fez essa distinção intencionalmente para distinguir a aquisição de
serviços da prestação de serviços com base no sujeito, então estamos a limitar o acesso à apresentação de proposta por
parte de potenciais concorrentes em nome individual se o contrato que estiver a concurso for um contrato de aquisição
e não de prestação de serviços. Pode ser uma limitação inconstitucional. A utilização da expressão aquisição foi
intencional, foi no sentido de obrigar que a aquisição de serviços fosse feita a uma empresa e não a uma pessoa
individual.

Porque é que os contratos de prestação de serviços para exercício de funções públicas são nulos? Porque o art.47º da
CRP obriga que para a administração pública seja procedida de um procedimento pré-contratual próprio. E, portanto,
esse procedimento pré-contratual o art.4º do CCP exclui do âmbito de aplicação do código o contrato de trabalho em
funções públicas, não é aplicável do código dos contratos públicos às relações jurídicas laborais da administração
pública. Portanto, não sendo obrigatória a observância de um procedimento pré-contratual definido no código, será
aplicável outro procedimento pré-contratual que para o caso dos funcionários públicos existe um procedimento pré-
contratual próprio especial. Para estas prestações de serviços o código não estabelece nenhum procedimento próprio
para este procedimento. Como não padece nenhum procedimento próprio significa que se aplica o código do
procedimento administrativo como procedimento regra e não o código dos contratos públicos. Há quem sustente que
deve ser assim por serem pessoas individuais e não estarem abrangidas no contrato de aquisição de serviços.

Numa questão como esta, deveríamos colocar esta questão e dizer que se utilizando a expressão prestação de serviços
se aponta para a contratação de uma pessoa individual e não de uma empresa, como parece ter sido a intenção do
legislador no CCP ao referir-se a aquisição de serviços a uma empresa e não a prestação de serviços definida no
art.10º da LGTFP. Pode ter sido essa a intenção do legislador. Todavia, a LGTFP não prevê nenhum procedimento
pré-contratual específico para a celebração desta prestação de serviços. Tem apenas a preocupação de a disciplinar
para dizer que a prestação de serviços, embora contratada como contrato de prestação de serviços, isto é, sem
subordinação jurídica, foi executada com subordinação jurídica porque há um problema da contratação. Eu contrato
para ser uma prestação de serviços mas depois executo como um contrato de trabalho. Porque? Porque subordino,
porque marco férias, porque faço uma série de coisas que mostram que no final foi executado aquele contrato não
como prestação de serviços, mas afinal foi executá-lo como um contrato de trabalho. Não estou preocupada com o
resultado, mas sim com a própria prestação, estou interessada em que a pessoa esteja disponível para trabalhar e não
que venha apenas apresentar um resultado e eu controlo a forma como executa, dando ordens. Se eu contrato para
prestação de serviços, mas depois depois executo como contrato de trabalho, o contrato converte-se em contrato de
trabalho, só que como não é precedido das regras de recrutamento dedicadas à função pública, é nulo. Sendo nulo, não
há devolução daquilo que tiver sido prestado, porque não é possível, o trabalho foi prestado, havia um enriquecimento
ilícito por parte do Estado se obriga-se à reposição das quantias pagas a título de salário.

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Então neste caso, poderíamos dar a resposta a mencionar esta disposição a dizer que esta disposição parece referir-se
ao art.10º do LGTFP que o legislador parece ter querido distinguir da aquisição de serviços. Contudo, não parece fazer
muito sentido distinguir na aquisição de serviços a aquisição de serviços a pessoas individuais, porque isso seria uma
limitação do acesso a estes procedimentos pré-contratuais que não parece ter qualquer justificação. É uma restrição a
um direito fundamental, da liberdade de celebrar os contratos que quiser com o Estado. Não há fundamento. A
professora disse que sabe o fundamento, o objetivo é evitar que as pessoas individuais depois venham dizer que tem
um contrato de trabalho e, portanto, obrigar as pessoas individuais a constituir-se como empresários para poderem
aceder a estes procedimentos para não haver dúvida.

Neste caso temos um contrato, que apesar de a norma dizer aquisição de serviços, na opinião da professora, não se
pode excluir da noção de aquisição de serviços a prestação de serviços pessoa em nome individual . Não pode. Então a
hipótese diz prestação de serviços, o código diz aquisição de serviços, eu sei que a intenção foi essa, mas essa
tentativa de restrição às empresas não parece compatível nem com o direito da União Europeia nem com o direito
constitucional e, piorando, devem entender que também está incluída aqui a prestação de serviços. Não há nenhuma
norma no código dos contratos públicos que exclua dos concorrentes serem pessoas individuais. Mas o objetivo foi
esse.

Então aquisição de serviços, consideramos que é um contrato cujas prestações estão submetidas à competência de
mercado, o nome não nos interessa o que é interessa é o tipo de prestação. A prestação da prestação de serviços é igual
à da aquisição de serviços (art.16º, nº2) e, portanto, nos chegaríamos à conclusão que seriam aplicáveis um destes
procedimentos pré-contratuais (art.16º).

A questão agora é saber qual., ver agora qual procedimento pré-contratual se aplica. Foi usado o art.20º, não é? O
art.20º diz diretamente respeito à aquisição de serviços. E então? Como sabem, o código combina critérios de valores
e critérios da natureza do contrato. E efetivamente, o contrato nos classificamos como aquisição de serviços, nos
termos do código, e o valor é inferior a 20.000,00€, portanto a norma jurídica fundamenta bem a decisão. A decisão
está bem fundamentada, combinou dos dois critérios, o critério material e o critério da valor.

O que é que o potencial interessado vem dizer? Vem dizer que foi escolhido este procedimento, mas deveria ter sido
escolhido outro procedimento, tendo em conta o princípio da prossecução do interesse público, tendo em conta o
princípio da transparência. Qual é a questão que se coloca aqui? É a escolha do procedimento.

A escolha do procedimento um ato discricionário ou não? Isto é, podia, apesar de a lei permitir utilizar-se um
procedimento mais simples, poderia usar-se um procedimento mais complexo? Se a norma diz “escolha” signifca que
está a dar um poder discricionário. O poder discricionário da administração é um poder que é conferido para que o
orgão, colocado na melhor posição para decidir, escolha uma solução que seja a melhor para a prossecução do
interesse público. É por isso que temos aquelas teses que dizem que o princípio da prossecução do interesse público
tem como consequência que só há uma solução possível, porque só há uma forma de se conseguir prosseguir o
interesse público, que é bem. Portanto, tem que se escolher a melhor solução, se não se escolhe a melhor solução não
se está a prosseguir o interesse público, e é por isso que alguns dizem que nunca há poder discricionário só há uma
solução que é boa.
20
O problema aqui é se os limites constitucionais materiais obrigavam a uma escolha exata, concreta de uma solução.
Nos falamos dos limites orgânicos e dissemos que a competência funcionava com um limite orgânico. Falamos dos
limites formais, a obrigação da fundamento das decisões e a escolha do procedimento tem que ser fundamentada.
Mas isso não está aqui em causa, o procedimento tem que ser observado sob pena de preterição de formalidades
essenciais. Mas, depois também aprendemos que existem limites matérias. Primeiro, o fim principalmente
determinante da prática do ato tem que coincidir com o fim visado na lei, isto é, a escolha do procedimento tem que
ser feita para escolher a melhor solução para a prossecução do interesse público e não porque estamos a tentar
satisfazer um interesse privado qualquer, sob pena dessa escolha vir a ser nula (art.61º do CPA). Há outros limites,
para além do fim relativos ao conteúdo ou objeto do ato. E quais são esses outro limites matérias? São os princípios da
atividade administrativa, que são os sub-princípios do princípio da justiça → igualdade, proporcionalidade, justiça e
imparcialidade.

Aquele princípio que é invocado é o da igualdade. Mas temos que pensar qual é a razão pela qual que o legislador
estabelece que tendo o contrato um determinado valor, a tramitação não é tão exigente . Qual é a razão para isso
acontecer? Também tem haver com o interesse público. Se o contrato é de valor reduzido, não faz sentido ter um
procedimento muito pesado, não vai ter um impacto financeiro assim tão grande. O que esta aqui de errado? O
problema é este: eventualmente de proporcionalidade, por um lado e por outro, outros princípios que resultam do
princípio da prossecução do interesse público que são o princípio da eficiência e eficácia, que no fundo são
consequências do princípio da proporcionalidade, que o procedimento tem que ser necessário e adequado, não pode
ser demasiado complexo, é por isso que os critérios de valor são importantes e levem muitas vezes a que se faça a
divisão em lotes para nunca atingir patamares a que levariam a procedimentos mais complexos. É preciso controlar
para ver se não estão a fazer a divisão em lotes, por se tiverem a fazer, então não fará sentido.

A questão é de saber se a escolha respeitou ou não os princípios que são acolhidos pelo código no art.1º-A . E,
portanto, qual é a conclusão a que chegam? Primeiro, teria sido possível convidar outros interessados se se tivesse
observado, não o ajuste direito, mas a consulta prévia. O art.27º-A – consulta prévia – está revogado. Não vai sair
nada no teste que tenha haver com as alterações. Só entra em vigor em Dezembro para os novos procedimentos. Este
artigo foi um artigo imposto pelo tribunal de contas, que não tinha previsto na diretiva mas o tribunal de contas achava
importante que houvesse uma ocultação das entidades para ver uma ideia do que era o preço de mercado, mas
entretanto já não está em vigor.

Prática – 22/11/2022 (09)

Estávamos a ver a hipótese aqui do instituto público. Na hipótese tínhamos concluído que o instituto público... eu
tinha-vos estado a explicar a diferença entre a aquisição de serviços e a prestação de serviços. Tínhamos visto que o
instituto público é uma entidade adjudicante, nos termos do art. 2º, e que a prestação era uma prestação que
correspondia à aquisição de serviços, portanto, a prestação estava submetida à concorrência de mercado.

Estando submetida à concorrência de mercado e não existindo nenhuma norma que exclua a aquisição de serviços ou
existirá? Vamos aqui, contratos excluídos, os contratos que são excluídos são os contratos de trabalho e funções

21
públicas. O contrato de prestação de serviços não é um contrato de trabalho e funções públicas, portanto, não
poderíamos dizer que estava excluído do âmbito porque não esse o âmbito de aplicação do código.

Lembram-se da diferença aquisição/prestação? Prestação seria uma pessoa individual que estava previsto e a aquisição
seria uma empresa, portanto, seria celebrado ao abrigo do código dos contratos públicos. Só que depois não tem apoio,
essa tese que seria um contrato de trabalho regido pela lei geral de um contrato de trabalho e funções públicas porquê?
Porque a exclusão do âmbito de aplicação só abrange os contratos de trabalho e as prestações de serviço não são
contratos de trabalho. E se forem são nulas. Art. 10º da lei geral do trabalho e funções públicas.

Então, aquela tese segundo a qual a distinção era porque assentava na ideia de que as prestações de serviço estavam
subordinadas à lei geral de trabalho e funções públicas e as aquisições ao código dos contratos públicos falece. Não
tem força porque não tem correspondência na lei.

A seguir, vimos ainda que tinha sido colocado em questão o procedimento. E porque é que o procedimento tinha
sido questionado? Porque não tinham sido ouvidos outras entidades, não tinham sido convidadas mais entidades a
apresentar factos. Existia o regime de consulta prévia possível, mas este valor é um valor que está dentro do ajuste
direto e, portanto, estando dentro do ajuste direto não era ilegal a escolha do ajuste direto como procedimento.

A questão é: mas esses princípios não imporiam outro comportamento? Qual foi a conclusão a que chegámos?
Nós estamos a falar de escolhas, as escolhas são a margem de manobra que é dada à administração e, portanto, a
margem de manobra que é dada à administração é ter poder discricionário.

E quais são os limites ao poder discricionário? São sempre: a competência, a forma pode ser um limite, sobretudo
como limite formal nós temos o quê? A fundamentação, é um limite formal importantíssimo. Porquê? Porque quanto
mais discricionário é o ato mais fundamentado ele tem de ser. Por outro lado, temos limites materiais à escolha,
desde logo, a escolha tem de ser feita com uma finalidade, qual é a finalidade? O fim que tem que ser prosseguido é o
fim do interesse público. O fim principalmente predominante da prática do ato tem que coincidir com o fim visado na
lei.

Isso significa que se o fim prosseguido for um fim privado há desvio de poder, mas um desvio de poder mais grave,
porquê? Porque se há desvio de poder, mas prosseguir outro interesse público é menos grave, mas se há desvio de
poder para prosseguir um fim de interesse público não visado na lei que é o interesse privado do próprio ou de uma
pessoa na sua esfera de relações, então temos um desvio de poder para prossecução do interesse privado que pode ser
crime ou não. E, então, qual é a relevância de ser um fim de interesse privado e não de interesse público? Por
causa da consequência, as consequências são mais graves, primeiro porque pode ser crime e por outro porque aí no
vício que afeta o ato determina o quê? A nulidade ou a anulabilidade? Determina a nulidade.

Sendo que no regime pré-contratual a diferença entre nulidade e anulabilidade é um pouco irrelevante, porque o ato
de adjudicação só pode ser posto em causa no prazo de 1 mês, art. 101º. Portanto, eu faço a adjudicação através de um
ajuste direto não é, e digo escolho este para contratar comigo, é nulo, mas é indiferente, porquê? Porque só há o prazo
de 1 mês para atacar o ato, portanto, é uma nulidade atípica, porque é que tem este regime? É um regime bastante mais
exigente do que o regime de impugnação dos atos administrativos, qual é o prazo geral de impugnação dos atos
22
administrativos? É de, art. 58º do CPTA, é de 3 meses. Mas neste caso é um contencioso urgente. O que significa que
o contencioso no âmbito dos procedimentos pré-contratuais é um contencioso urgente, tem um prazo curtíssimo,
porquê? Independentemente do vício é porque o art. 58º é só para os atos anuláveis, se os atos forem nulos não estão
dependentes de prazo, mas aqui não tem esta ressalva. Aqui só podemos impugnar no prazo de 1 mês, porque é que
será isso? Isto é uma solução imposta do direito da união europeia. Tem haver com a segurança no comercio jurídico,
é impossível para os operadores económicos estarem a esperar tanto tempo, a vida económica não se compadece com
tanta espera e com tanta incerteza e, por isso, os prazos são relativamente curtos para dar mais confiança e mais
segurança.

Sendo que, hoje em dia, com o regime que foi inserido no contencioso pré-contratual, de suspensão automática e
paralisação automática dos efeitos do ato de adjudicação, é muito frequente haver a impugnação para conseguir
exatamente esse efeito de paralisação de uma decisão da administração e, portanto, aqueles que são concorrentes
profissionais utilizam a impugnação em sede de contencioso pré-contratual precisamente para obter o efeito de
paralisar a adjudicação. Tem esse efeito suspensivo automático.

Portanto, este contencioso urgente é um híbrido entre uma providência cautelar e um meio processual principal por
causa deste efeito.

É um mecanismo importante, mas nós no ministério não temos muito contencioso pré-contratual, na experiência da
professora, está desde 2008 a dirigir o serviço de contencioso no ministério, tiveram dois processos de impugnação
pré-contratual, ganhamos os dois. Um ganhamos na secretaria porque os advogados acharam que este prazo tinha
ainda, permitia usar o prazo da multa, os 3 dias de multa, o que não é possível porque este prazo é um prazo de
caducidade do direito de ação, não é um prazo processual e, portanto, quando os prazos são de caducidade no direito
de ação não há multa que valha, não podemos contar com a multa. A multa serve interpor recursos, para apresentar
alegações, contestações, requerimentos fora de prazo porque esses são prazos processuais. Este prazo, o prazo fixado
para exercer o direito de ação é um de caducidade não é um prazo processual e, portanto, não tem multa. Eles
perderam o processo porque intentaram a ação fora de prazo. O outro processo era o processo dos telefones, a
professora acha que já falou aqui, tinha a ver com as características dos telefones, a professora teve a ler o caderno de
encargos para ver as características que tinham sido exigidas e a razão de ser de cada uma delas para perceber se
faziam sentido serem requisitos cumulativos. E claramente que a empresa que impugnou sabia que não cumpria os
requisitos e no fundo a empresa a qual foi adjudicada ganhou pela não comparência das outras, nenhuma das outras
conseguiu apresentar o equipamento com as características que eram exigidas e nós, já tinham intentado a ação ao
abrigo deste novo regime, isto é, a mera imposição de ação de impugnação do ato de adjudicação provocava este
efeito suspensivo automático e nós pedimos o levantamento do efeito suspensivo automático e o tribunal deu-nos
razão. Deu-nos razão por que nós invocamos as razões de segurança, porquê? Porque a aquisição deste equipamento
novo estava solucionada como uma reforma do sistema de comunicações e o sistema de comunicações das
embaixadas e consulados é uma coisa muito sensível. Era um dos objetivos do ministério estabelecer a sua rede de
comunicações com o exterior, torná-la à prova de escutas, isso é impossível, mas foi em consequência de termos tido
algumas interceções e algumas tentativas de intrusão que foram detetadas que foi tomada esta decisão de estabelecer a
rede e uma das coisas que estava então planeada era então a aquisição de aparelhos novos compatíveis com a nova

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rede e, portanto, era indispensável ter para assegurar a invulnerabilidade da rede a prossecução daquele contrato para
garantir então. E foi este argumento que pesou.

No nosso caso, tínhamos chegado à conclusão de que a escolha do procedimento era, então, a adequada, porquê?

*Resposta de uma aluna, o valor está dentro do ajuste direto e, sendo assim, não é ilegal.

Vamos ao artigo, este contrato é um contrato de aquisição de serviços, art. 20º e diz que o ajuste direto é o
procedimento adequado quando for inferior a 20.000.00€. Este contrato é de 10.000.00€, portanto, estava no âmbito
do art. 20º al. d), mas o princípio da igualdade não determinaria a possibilidade de se utilizar a consulta prévia?

A questão é: mas a escolha respeitou o princípio da igualdade? Vamos lá ver, quais são os critérios que nós
utilizamos para a escolha? O legislador combina 2 critérios: a natureza do contrato e o valor e depois determina
uma serie de critérios. E o legislador entende que para um contrato com valor inferior a 20.000.00€ o ajuste direto é
adequado.

Quando se diz que o ajuste direto é adequado está-se a fazer apelo a que princípio? Ao princípio da proporcionalidade
por que logo o art. 266º nº2 diz-nos que deve ser prosseguido o interesse público, mas no respeito dos direitos e
interesses protegidos dos cidadãos e os procedimentos são tão mais complexos, tão mais respeitadores do princípio da
igualdade quanto maior for o valor que estiver em causa, porquê? Tem haver com eficiência e eficácia da
administração. Não faz sentido a administração estar a conduzir um processo complexo moroso para uma coisa de
valor que não tem significado. É uma questão de adequação do esforço, a administração não faz um esforço assim
para ter uma vantagem mínima, para ter um contrato deste valor, não vai correr uma maratona se basta dar um passo.
Porque isto tem haver com a lógica que estes critérios não seriam obrigatórios e, portanto, a mais nunca prejudica,
poderia ter utilizado outro meio? Sim, mas se calhar se utilizar um processo mais complexo é mais transparente, mas é
desnecessário, há também uma razão de economia procedimental que está na base destes critérios. Tem haver com a
eficácia da administração.

Claro que se pode sempre escolher uma forma mais exigente e procedimentos mais exigentes, mas é uma escolha que
a própria administração faz, faz parte do seu poder de escolher e deve escolher em função, precisamente, do princípio
da proporcionalidade. O que é que é que é adequado à vantagem que vai obter. E é nessa lógica que esta escolha não é
ilegal. A outra poderia proporcionar maior transparência, a consulta prévia... a outra empresa veio-se queixar de não
ter tido a oportunidade de participar no procedimento e é verdade que é algo que a constituição também valoriza,
possibilidade de outros também participarem no procedimento, princípio da igualdade, só que também há outros
princípios igualmente relevantes como o da proporcionalidade, da eficácia, da eficiência que justificam que esta
escolha não é desadequada.

O legislador considera que ela não é desadequada e, portanto, não sendo desadequada num compute geral, dentro do
princípio da justiça temos vários sub-princípios o da proporcionalidade que depois explica a atuação, a eficácia e a
eficiência, a igualdade, a imparcialidade e a justiça strito sensu e são eles que permitem fazer o controlo da legalidade
da escolha. Da escolha do procedimento.

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E nós temos limites legais, no fundo, isto funciona como um limite legal, mas dentro do qual legislador pediu que o
esforço que deve ser utilizado para o contrato combinando os critérios do contrato do valor, mas a questão é se eles
são imperativos, isto é, nunca poderia haver uma outra opção que não o ajuste direto. E isso é uma escolha que é feita
pelo próprio dentro daquilo que o legislador considera adequado e razoável.

Neste caso, o legislador considera adequado se o valor for inferior a 20.000.00€ que o contrato para a aquisição de
serviços é razoável que o procedimento seja o ajuste direto. Há outros princípios que relevam e que, como o da
proporcionalidade e da eficácia e da eficiência da administração, levaram a que o legislador considerasse adequada
esta escolha. E, portanto, sendo possível legalmente, a escolha não é desadequada. Não viola o princípio da igualdade.

Prática – 29/11/2022 (10)

Exercício prático da página 19 dos sumários:

Durante a execução de um contrato de empreitada para a reabilitação de uma escola secundária, o empreiteiro
atrasou-se na realização dos trabalhos cerca de 2 meses, para um prazo total de catorze meses. O dono da obra,
a empresa pública Parque Escolar, tinha, nos termos do contrato, a possibilidade de sancionar o empreiteiro
em € 4.000 por cada dia de atraso, e assim o fez, aplicando uma multa total de € 244.000. O empreiteiro veio
defender-se sustentando a violação do princípio da proporcionalidade na determinação do valor da multa,
porque já tinha executado 98% dos trabalhos, e que os únicos que estavam em falta tinham a ver com pequenos
arranjos exteriores, que não punham em causa a ocupação do edifício onde decorrerias as aulas. Além disso, o
novo ano letivo só se iniciaria quatro meses depois do momento em que a multa foi aplicada, e que, portanto,
antes disso tudo estaria concluído.

Resolução:

A empresa pública Parque Escolar, já tínhamos chegado à conclusão, era uma entidade adjudicante.

1ª questão, estamos a falar de um contrato de empreitada, isto significa que as respetivas prestações estão, nos
termos do art. 16º nº2, submetidas à concorrência de mercado. À partida isso quer dizer que o contrato era
administrativo e público.

Administrativo porque tem um regime substantivo definido no código dos contratos públicos, é celebrado por
contraente público, submetido ao regime do código dos contratos públicos por um lado, por outro lado público, porque
estando as suas prestações submetidas à concorrência de mercado, nos termos do art. 16º nº2, e sendo a empresa
pública, Parque Escolar, uma entidade adjudicante e não existindo nenhuma norma dos artigos 4º e seguintes a excluir
o âmbito de aplicação do código dos contratos públicos, a conclusão que tiramos é que este contrato está submetido a
um regime pré-contratual presente no código, logo é um contrato público.

Feita esta primeira análise, vamos analisar o problema que se colocou em sede de resolução do contrato.

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O art. 302º ao enunciar os poderes do contraente público, estabelece, precisamente, que um dos poderes do contraente
público é, al. d), aplicar sanções para a execução do contrato.

É um dos poderes que é reconhecido ao contraente público, o de aplicar sanções para a execução do contrato. É uma
manifestação de um poder de decisão unilateral, porque quando aplica sanções, quando o contraente público aplica
sanções está a praticar atos administrativos. O que significa que é como atos administrativos que vamos impugnar essa
atividade.

Sendo praticados atos administrativos na aplicação de sanções, se tivermos descontentes com a aplicação da sanção
temos de impugnar o ato administrativo da administração e NÃO reagimos como se faria, normalmente, se estivesse
em causa a execução de um contrato, intentado uma ação administrativa sobre a interpretação, qualidade ou
interpretação do contrato.

Se é praticado um ato administrativo que aplica uma sanção temos que impugnar o ato administrativo e isso é
importante sabermos, porquê? Porque a forma, o meio processual, apesar de ser todo o mesmo, ser a ação
administrativa, os pressupostos processuais em relação a cada um dos pedidos é diferente. Se eu estou a impugnar um
ato administrativo aplico o art. 58º do CPTA, tenho 3 meses para impugnar o ato administrativo.

Se pelo contrário, estiver em causa, já não é matéria de contratos é de contencioso, mas é importante percebermos, se
tivermos que pôr em causa o ato vamos ter que pôr em causa os vícios típicos do ato administrativo, que é no fundo
aquilo que está aqui em causa.

Aquilo que está aqui em causa é saber se este ato é válido ou não. Isto é, se nós podemos imputar-lhe um vicio
decorrente da violação do princípio da proporcionalidade. Que é um vício de natureza material.

Vamos então por partes para chegarmos lá. A professora estava a dizer que o CPTA para impugnar atos tem uma
regra, outro prazo diferente, que resulta do art. 58º, que permite de impugnar num prazo de 3 meses, a não ser que o
ato seja nulo, se for nulo podemos impugnar a todo o tempo. Mas se estiver em causa uma ação sobre contratos já
teremos os prazos definidos no art. 41º, isto é, o princípio é que a ação pode ser intentada a todo o tempo.

O art. 41º do CPTA é o regime da ação não tem prazos especiais, a não ser outros que depois veremos quando dermos
contencioso, mas em princípio cai na regra geral.

Temos então o regime contratual, o contrato permite a fixação de multas e a lei permite a fixação de multas pelo
incumprimento. E porque é que isso é permitido? Porque está em causa a persecução do interesse público e o objetivo
é que não haja derrapagens no cumprimento do contrato.

Então, agora a questão que se coloca é a seguinte: pode ser atacado este ato? Pode, em 3 meses, em princípio, e os
fundamentos que podem ser invocados, dos vícios que podem ser invocados, podem passar de ser vícios como a
incompetência, o órgão que aplicou a sanção.

A incompetência afere-se pela entidade pública contratante, quem for o órgão competente para escolher o
procedimento e adjudicar o procedimento vai ser o órgão competente para aplicar a sanção. Verificar quem é que está
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a aplicar a sanção, se para a adjudicação do contrato for competente o Ministro, então, é o Ministro que é competente
para aplicar a sanção.

Temos que ter isto em atenção porque todos os vícios que possam suscitar para impugnar a sanção são vícios que
podem salvar a empresa que estivermos a defender da aplicação da multa.

Portanto, primeiro vício incompetência, sendo que a incompetência é um vício que se calhar não nos leva muito
longe, porquê?

Art. 164º do CPA, o ato administrativo é ratificável a todo o tempo. E a ratificação retroage os seus efeitos, portanto,
elimina por completo o vício. O que significa que este vício não é o melhor dos vícios para ser suscitado porque
corremos o risco de ele ser sanado com a retroatividade dos efeitos ao momento em que ele foi provocado.

Outros vícios que podemos impugnar são os vícios formais. Os vícios formas de falta de fundamentação, falta de
audiência prévia.

A falta de fundamentação se o ato não vier acompanhado dos pressupostos de facto e de direito que determinaram a
aplicação da sanção, porquê? Porque é que tem que ter uma fundamentação? É através da fundamentação que se
consegue defender.

Exemplo: se me dizem que são 254.000.00€. porquê? Como é que eu consigo controlar se o calculo que foi feito está
bem feito ou se está mal feito. Eu preciso de saber qual é o período que estão a considerar para efeitos de
incumprimento, quando é que começou e quando terminou e preciso de saber qual o montante da multa diária que foi
tido em consideração e qual a cláusula especificamente contratada porque só assim é que me consigo defender. Só
assim é que eu consigo perceber porque é que consideram que há uma violação e que a consequência da violação é
aquela que eles dizem. Para isso é que a fundamentação é importante.

Mas a fundamentação tem que ser fornecida logo em sede de audiência prévia dos interessados. Não é dizer em sede
de audiência prévia dos interessados que vamos aplicar uma multa, porque dizer que vamos aplicar uma multa ficamos
mais ou menos na mesma, eu não consigo, não tenho oportunidade de mudar a opinião da administração porque eu
não sei quais são os pressupostos de facto e qual a cláusula ao abrigo da qual consideraram existir violação do
cumprimento, eu assim não me consigo defender.

Portanto, a fundamentação tem que ser prévia, tem que constar da notificação em sede de audiência prévia para nos
podermos então defender, sendo que em sede de audiência prévia podia vir invocar o princípio da proporcionalidade
ou não. Isto porquê?

O que é que nós aprendemos sobre a relevância dos princípios gerais da atividade administrativa? Nós aprendemos em
relação aos princípios gerais da atividade administrativa que eles eram sobretudo relevantes quando estava em causa o
quê? O poder discricionário. Quando está em causa o poder discricionário então os princípios gerais da atividade
administrativa são importantes porque eles fazem com que a margem da discricionariedade reduza. Ora, o que é que
nós sabemos?

27
Sabemos que a lei permite a aplicação de sanções e depois cabe às partes noticiar e a negociação do valor das multas,
das penalidades em caso de incumprimento, funciona como uma auto vinculação. é uma auto vinculação que é aceite
pela contraparte, aceita que sejam aplicadas as multas porque assina o contrato.

Portanto, há aqui uma aceitação do ato, nos termos do art. 56º do CPA, que é uma coisa importante também para
referir. Se há uma aceitação ao assinar o contrato depois também perde um pouco, é aquilo que se chama no direito
civil veniri contra factum improprium, que é eu foi para assinar tava tudo bem, mas depois quando está em causa o
respeito pelo contrato, vou aqui ver e a multa já não gosto. E há de facto, quando a pessoa assina o contrato, uma
aceitação, a pessoa aceitou. Então, há aqui vários aspetos que fazem apelo ao conceito de desproporcionalidade.

Já fixamos aqui vários aspetos relevantes para diminuir o âmbito da discricionariedade, dissemos que as partes
aceitaram aquelas penalidades porque aceitaram o contrato, isso significa que se auto vincularam daquela forma,
naquela forma como ficou tratado o contrato, que o valor corresponde ao exercício de um poder discricionário, que a
entidade pública aceitou delimitar naqueles termos, disciplinar naqueles termos porque como se sabe a auto
vinculação tem a vantagem de obrigar, pré-definir, antecipadamente com melhor objetividade, parcialidade, isenção,
transparência, qual é o critério que vai utilizar no exercício do poder discricionário. Portanto, parece estar de acordo
com aquilo que se prevê.

A questão é, o contrato estaria praticamente todo executado 98%, faltariam apenas 2% na execução do contrato. É um
fator que apela a uma ideia, qual é a ideia que faz apelo aqui? A ideia de que o contrato estaria quase todo executado,
faltariam apenas 2% e os 2% estariam sempre concluídos antes da utilização do equipamento construído. Qual é o
apelo que se está aqui a fazer?

Nos corolários da proporcionalidade que estudamos qual é aquele que parece que parece não está preenchido? O da
necessidade, as penas são necessárias, mas se calhar naquele momento deixa de ser necessário, e aqui também há um
problema de adequação, porquê? Porque o objetivo vai ser cumprido antes do momento da utilização. Por um lado,
parece não ser necessário porque o objetivo vai ser cumprido e, portanto, parece não haver necessidade da aplicação
da sanção e por outro lado, também parece não ser adequado uma vez que o objetivo vai ser cumprido, a instalação do
edifício ficará pronto antes da sua utilização. Portanto, não se afigura ser já necessário nem adequado. Esse é um
aspeto que é referido, mas depois existe um outro argumento.

Qual é o argumento que é utilizado pela entidade adjudicante? O que é que diz o contraente público? O contraente
público diz que se atrasou 2 meses num prazo de 14 meses. O contraente público, a Parque Escolar, diz que 2 em 14
meses já mais significativo do que parece, é uma percentagem maior que 2% em relação a 98%. A proporção 2% para
98% de cumprimento do contrato não é proporção igual em tempo porque 2 meses em 14 é mais significativo, tem um
peso maior. Não diz aí na hipótese, mas é o que está subjacente ao que é afirmado porque é uma questão de comparar
aquela proporção. Por outro lado, há outra questão.

Já adiantada no texto. Grande parte destas obras dependem de financiamento público comunitário, o que é que isto
quer dizer? Isto é que transfigura completamente estas regras do incumprimento. Estas regras do incumprimento, estas
penalidades são fixadas a maior parte das vezes porque o contraente público depende para financiar a obra do

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financiamento comunitário e o financiamento comunitário só é dado se as pessoas cumprirem os prazos. Isto é, se as
pessoas falharem os prazos não vão ter acesso aos financiamentos, o financiamento não é dado em caso de
derrapagem. Se não for executada a obra no prazo que está afixado não vai ser possível obter esse financiamento, isso
significa que quem vai pagar tudo é o Estado português e não o fundo europeu e, normalmente, essas participações são
de 60%, 70% que é muito significativo. A obra fez-se naquele valor porque, precisamente, por causa do fundo, se é
para ser o Estado a pagar ou uma entidade adjudicante não há dinheiro, e o que é que acontece? Se há derrapagem não
financiamento.

Então, voltando à nossa questão, se nós olharmos para este prisma, os 2 meses se determinarem a perda do acesso ao
fundo comunitário então se calhar já é proporcional, já não é excessivo, já não é desadequado, já não é desnecessário
porque, efetivamente, o que a entidade adjudicante e o contraente público é muito e é significativo, se for 60% do
financiamento da obra é muito. Portanto, essa análise da proporcionalidade terá de ser feita a esta luz e não apenas
tendo em consideração aquilo que é alegado pelo empreiteiro. O que é alegado pelo empreiteiro seria relevante se tudo
fosse feito com recurso a financiamento próprio. Estando o financiamento da obra dependente de um fundo
comunitário era preciso ver se o incumprimento determinava ou não a perda do acesso a esses fundos, porque se
determinar então teremos uma desproporcionalidade.

Para invocarmos a desproporcionalidade, se tivermos do lado de defender a empresa, teremos que demonstrar que ela
é desnecessária, desadequada, excessiva e que, portanto, ilegal o ato que a determina. E anulável. A violação dos
princípios determina a anulabilidade do ato.

Prática – 06/12/2022 (11)

Exercício da pág. 19 dos sumários:

VI

Em sequência de uma grave intempérie, uma empresa pública de transporte ferroviário foi encarregada pelo
Governo de assegurar um sistema alternativo de transporte, de modo a permitir que a população não ficasse
privada de uma ligação essencial entre duas povoações, antes servida por comboio.

Essa empresa desencadeou um procedimento de ajuste direto, baseada na alínea c) do nº 1, do artigo 24, do
Código dos Contratos Públicos, mas com consulta breve ao mercado, de modo a contratar quarenta autocarros
que operassem dezoito horas por dia. O critério de adjudicação era o da proposta economicamente mais
vantajosa, em que o preço contaria por 50% e a qualidade de serviço outros 50%.

Dada a urgência na contratação, a prova da qualidade era unicamente feita pela apresentação de uma
declaração dos interessados, de onde constasse a idade dos veículos, sem que nenhum deles poderia ter mais de
dez anos de serviço, a sua lotação (dividida entre lugares sentados e lugares em pé), e a informação de que todos
se encontravam em perfeitas condições.

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Apresentadas as propostas, em número de 5, todas foram aceites, apesar de uma estar incompleta na
identificação dos veículos (faltava a indicação, em dois dos quarenta autocarros, da lotação). O contrato foi
adjudicado a essa proposta, que tinha o preço mais baixo, porque no fator qualidade a menor pontuação dada
não foi suficiente para que não ficasse em primeiro lugar.

Resolução:

Em 1º lugar, começamos sempre pelo princípio, a empresa pública é uma entidade adjudicante porque é considerada
um organismo de direito público, e sendo um organismo de direito público, embora não esteja enumerado como uma
entidade adjudicante no nº1, se for controlada, como é, o Governo mandou aqui uma coisa, portanto é claramente um
instrumento do Governo, e esse é o critério.

O critério da união europeia é aferir se estamos perante um veículo, se a pessoa coletiva for um mero veículo na
atuação de uma entidade adjudicante, então, é um organismo do direito público. Ainda que não tenha personalidade
jurídica de direito público, neste caso, aparentemente, pela descrição da hipótese. Portanto, é uma entidade
adjudicante.

Uma entidade adjudicante, à partida, para celebrar contratos, isto é, quando vai ao mercado, à partida, poderá estar
sujeita, enquadra o âmbito subjetivo da aplicação do código dos contratos públicos ao regime do código dos contratos
públicos.

Portanto, identificamos uma entidade adjudicante, o que é que vamos fazer a seguir? Em 2º lugar vamos ver se o
contrato a celebrar está ou não sujeito, se a prestação do contrato está ou não sujeita à concorrência de mercado e onde
é que vamos procurar essa definição, do que é que são prestações sujeitas à concorrência de mercado? Art. 16º nº2. É
o art. 16º nº1 que identifica os procedimentos e o nº2 identifica os contratos cujas prestações estão sujeitas à
concorrência de mercado.

E então, um contrato de transporte? A concessão de serviços públicos significa o quê? O que é a concessão de serviço
público? a concessão de serviço público é permitir que um operador económico explore um serviço e se passe a pagar
por ele. Aqui se calhar seria a aquisição de serviços, porque é um serviço, o serviço de transporte, o que está em causa.

Então, nós vimos, o 1º passo é identificarmos se estamos perante uma entidade adjudicante ou não, o 2º passo é
identificar se as prestações estão sujeitas à concorrência de mercado, e depois o que é que fazemos? Vamos ver se, por
acaso, 3º passo, não existe uma norma qualquer que, art. 4º e seguintes, exclua o âmbito de aplicação do código.
Encontramos alguma situação que aplique aos contratos de transporte? Não. E no art.5º? Também não. E no art.5º-A?
Não. E no art.5º-B? Não. E no art.6º? Também não. Conclusão, vamos ter que identificar um procedimento pré-
contratual que será aplicável neste caso.

Ora, nós sabemos que o procedimento pré-contratual, a escolha, depende de 2 fatores:

 o valor do contrato;
 o tipo de contrato.

30
Os art. 16º e seguintes assentam nesses critérios, no tipo de contrato e no valor do mesmo.

Aqui não temos valor. Mas sabemos que o critério escolhido foi o ajuste direto. Indo ao ajuste direto, no art. 13º -
escolha do procedimento, quem é que escolhe o procedimento? Quem é que é competente para fazer a escolha do
procedimento? A entidade adjudicante e dentro da entidade adjudicante o órgão que for competente em razão do
valor, isto é um aspeto importante.

Nós estamos nas regras gerais, mas depois temos regras especiais que assentam em critérios materiais, pode ter
acontecido, não sabemos se o critério é um critério material. Resulta doa art. 36º

Foi escolhido o procedimento e vamos ver, 4º passo, o que é que aconteceu neste procedimento.

Neste procedimento a escolha, chama-se adjudicação, recaiu sobre uma proposta que apresentava algumas
irregularidades. É um procedimento de ajuste direto e é um procedimento simplificado, mas não dispensa a preparação
das peças processuais, as peças procedimentais que são? Quais são as peças que têm que ser preparadas? O
caderno de encargos e mais? Temos que ver o que é que é preciso para montar um procedimento destes.

A entidade adjudicante vai ter que dizer o que é que quer, no fundo, vai, através de um regulamento vai fixar os
critérios que vai utilizar para decidir, para escolher, e o que é que faz? Faz isso através de um regulamento,
escolhendo os requisitos que acha por bem ao serviço que devem ter, por um lado, e por outro auto vinculando-se a
uma determinada tramitação procedimental. Portanto, faz um clausulado, são as normas, são os comandos que vai
observar para fazer a escolha. O que é que é isto, como é que isto se chama tecnicamente? É o caderno de encargos,
tecnicamente no direito da contratação pública chama-se caderno de encargos, juridicamente, quando estudamos
direito administrativo, nós chamámos-lhe regulamento que corresponde a quê? É a parte importante da parte técnica.

Um caderno de encargos é um regulamento que fixa as regras que a administração diz que vai observar para fazer a
escolha, o que é que isto significa? A entidade adjudicante está a quê? Está a auto vincular-se. E nós aprendemos que
apesar de ser a própria administração a fixar as regras e ter competência para fixar as regras, ela não pode fazer o quê?
Não pode dizer que não vai seguir as regras.

Não pode fazer isto por causa do princípio da legalidade e do princípio da inderrogabilidade singular do regulamento.

Discutiu-se durante muito tempo se a administração já que podia aprovar o regulamento, se ela tem competência para
aprovar o regulamento, porque carga de água é que não tem competência para aprovar um ato diferente do
regulamento? A competência regulamentar é dela também, foi ela que aprovou o regulamento, depois diz-se, mas isto
neste caso se calhar não faz muito sentido vou decidir de forma diferente, porque é que não pode fazer isso? Não pode
fazer isso por causa do princípio da legalidade e por causa do princípio da inderrogabilidade singular do regulamento.
Onde é que nós vamos buscar o princípio da inderrogabilidade singular? Ao art. 112 nº5 da CRP, este artigo é
importantíssimo porque é ele que formula a hierarquia das normas. Portanto, os comandos em função da forma e do
órgão que os produz têm forças distintas, tem uma força hierárquica distinta, e o princípio é o da equiparação da
forma, isto é, a lei é revogada por lei, o regulamento é revogado por regulamento, e não por um ato inferior, um ato de

31
categoria inferior não pode pôr em causa uma to de categoria superior. Eu não consigo através de ato revogar um
regulamento.

E, portanto, há aqui um problema técnico-jurídico que é: ter um regulamento e ter um ato, que é um comando
individual e concreto, que não é geral e abstrato, ao contrário do regulamento que é, portanto , temos um ato de
categoria inferior a querer pôr em causa um ato de categoria superior, e isso não pode acontecer por causa desta regra.
Tem uma serie de consequências, designadamente, o princípio da inoponibilidade singular que significa que se a
administração se obrigou desta forma, tem que respeitar as regras que ela própria criou. É o mesmo princípio para o
legislador, o legislador se cria uma determinada lei não pode achar que lá por ser legislador não vai cumprir a lei que
criou. A lei aplica-se a todos, é geral e abstrata inclusivamente ao órgão que produz essa própria lei. A administração
tem poder normativo, pode criar o regulamento, mas não pode depois através de ato, assumindo que a competência é
sua e que foi ela que escolheu aquele regulamento, depois dizer que não. Se quer pôr em causa aquilo que aprovou por
regulamento vai ter que o fazer através de outro regulamento, vai ter que revogar aquele e aprovar um novo, com a
dificuldade de que os regulamento não têm a eficácia retroativa.

Depois há outro aspeto e que tem haver com os princípios da atividade administrativa, que princípio é que estará
aqui em causa que impede que se alterem as regras a meio do jogo? A proteção das expectativas sim, e isso está
associado a que princípio? Princípio da transparência, princípio da imparcialidade, outro que está relacionado com a
não alteração das regras de jogo a meio, eu não posso depois de conhecer as candidaturas mudar os critérios isso,
obviamente, põe em causa a imparcialidade, a isenção e viola aquilo que é o princípio da transparência, mas viola
ainda outro princípio, que é o princípio da segurança jurídica e da boa-fé, porque deve ser leal, se diz uma coisa depois
não pode mudar.

Então, fixou aquelas regras, em que se auto vinculou, e isso significa que, se fixou aquelas regras, se não as respeitar a
escolha vai ser legal ou ilegal? Ilegal, por violação do princípio da legalidade, porque o regulamento são normas
jurídicas que entram no bloco da legalidade e, portanto, a escolha se não respeitar aqueles critérios será ilegal.

Art. 74º, critérios de adjudicação. Onde é que nós vamos buscar essa conclusão? É que o critério de adjudicação era
mono-fator ou multi-fator? Era multi-fator porque era o critério da proposta economicamente mais vantajosa e não
estava submetido à concorrência apenas um preço. Só que, neste caso, o que é que acontecia? Havia 5 propostas. Art.
70º nº2, o que é que aconteceu com esta proposta? A proposta não tinha a identificação da lotação dos veículos, em
dois dos veículos apresentados, só que a lotação era um fator que era tido em conta para avaliar a qualidade do serviço
porque a qualidade do serviço era um fator necessário, a julgar pelo júri, para fixar 50% para ordenar as propostas
tendo em conta os critérios de adjudicação. E, portanto, para o júri poder avaliar as propostas precisava de saber a
lotação dos veículos, tinham que ser, o que devia ter o caderno de encargos era idade dos veículos, não podiam ter
mais de 10 anos, se tivessem mais de 10 anos não podia ser admitida a proposta, a lotação dividida entre lugares em pé
e sentados vai interferir na qualidade da prestação do serviço e a condição de que todos se encontravam em perfeitas
condições. Só que 2 dos 40 autocarros não tinham informação da lotação, portanto, o que é que acontece? Se há
fatores que são relevantes para fazer a avaliação da proposta e que não constam da proposta, o que é que acontece? A
ilegalidade afere-se não em relação à proposta, mas em relação à decisão. Os atos da administração é que podem ser
ilegais. A proposta o que podemos dizer é que é uma proposta que não cumpre os requisitos para poder ser avaliada.
32
Al. c), não é possível avaliar esta proposta porque há atributos, designadamente a lotação, que não estão descritos.
Portanto, não é possível fazer avaliação por falta de requisitos da proposta, a proposta não obedece aos requisitos
exigidos no caderno de encargos, que significa que esta proposta tinha que ser o quê? Ou seja, não podem depois dizer
que são só 2 não é relevante, até parece uma boa proposta. Não, se a entidade adjudicante disse que as propostas
tinham que ter aqueles requisitos não pode depois dizer que são só 2 isto é um processo simplificado e tamos com
pressa e parece que esta é a melhor, não, isto não é assim.

Definiram as regras no princípio ou vai o procedimento abaixo, só que tem um problema ir o procedimento abaixo
porquê? Fazer tudo outra vez. Percebendo que houve um erro a administração, sabemos que o interesse público é
volátil, vai-se mudando, não é sempre igual. Isso significa que essa mudança permite à administração pública mudar
de ideias. O que acontece que se há um procedimento, cria expectativas e, portanto, para não haver dúvidas o
legislador disse abriu tem que adjudicar. Portanto, se quer mudar de ideias vai ter que se justificar. Pode haver
necessidade de fazer o procedimento de uma forma que prossiga melhor o interesse público, tem é que se explicar
porque é que se acha que há outra forma que prossiga melhor. E várias vezes a administração muda de ideias e anula o
procedimento e retoma o procedimento para o adequar melhor à satisfação do interesse público.

Mas para que não houvesse abusos estabeleceu-se o poder de adjudicar. Prometeu que ia adjudicar, criou essa
expectativa, tem o poder de adjudicar, é um poder dever. O que é que acontece? Não adjudica, anula o procedimento,
só o pode fazer nas condições que o próprio código prevê e que estão aqui identificadas na lei e terá que indemnizar,
temos na lei causas de adjudicação não identificadas e depois as consequências da mesma, art. 79º.

Prática – 13/12/2022 (12)

EXERCÍCIOS – PÁGINA 23 DOS SUMÁRIOS

QUAL É A CLASSIFICAÇÃO QUE MERECE OS SEGUINTE CONTRATO?

O que se pretende é que os senhores analisem, aplicando aqueles critérios que nos aprendemos. A primeira coisa a
fazer é ver se temos uma entidade adjudicante, porque a definição de contrato público assenta naquela ideia de que um
contrato público é um contrato celebrado por uma entidade adjudicante, prevista no art.2º, cujas prestações estão
submetidas à concorrência de mercado. As que estão submetidas à concorrência de mercado são aquelas que estão no
art.16º, nº2 e que não estejam excluídas dos termos do art.4º e seguintes.

VII

Contrato de compra e venda, por parte de um Município, de um edifício em ruínas, para o transformar em
centro cultural, sendo o custo de aquisição de € 2.000.000, e o das obras necessárias de € 6.000.000.

O município é uma entidade adjudicante? É, art.2º - autarquias locais. À partida, ao ser uma entidade adjudicante, é
possível que este contrato seja um contrato público.

Passo seguinte: vamos ver se as prestações estão submetidas à concorrência de mercado, se as prestações em causa são
prestações que devam estão submetidas à concorrência de mercado. A compra e venda, não é toda a compra e venda
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que é sujeita à concorrência de mercado, porque a compra e venda para estar sujeita à concorrência de mercado tem
que ser uma compra e venda de bens móveis, não pode ser imóveis, porque é um caso de exclusão do âmbito de
aplicação do código dos contratos públicos – art.44º, nº2, al.c). Nos termos termos do código estão excluídos do
âmbito de aplicação os contratos de compra e venda de imóveis. Temos uma prestação que corresponde a um contrato
excluído.

Mas não é só um contrato de compra e venda. Ainda temos a reabilitação. A reabilitação de uma empreitada, sendo
uma empreitada, aplicamos o art16º, nº2, portanto, as prestações estão sujeitas à concorrência de mercado, logo o
contrato seria um contrato público.

E agora? Isto é um contrato misto, e há um regime próprio. O art.32º trata da identificação do regime que se aplica ao
contrato misto, o regime substantivo. Então sobre os contratos mistos, apesar da epígrafe falar da escolha do
procedimento, no fundo o artigo trata do regime dos contratos mistos e diz que o contrato misto pode ser utilizado
como uma forma de subtrair ao regime da concorrência. E neste caso parece ter sido esse o objetivo, porque se a
aquisição de bens móveis, teria subtraída ao regime de aplicação do código, a empreitada não. E ao celebrar um
contrato misto, pode-se tentar dar a entender que aquilo que é verdadeiramente importante é a aquisição do imóvel
para tentar considerar que é a empreitada não é essencial, para tentar aplicar. Aquilo que nos aprendemos em direito
das obrigações é que nos aprendemos o regime do contrato dominante e é também esse o sentido da hipótese do
art.32º. Há teses que apontam nesse sentido. Porém, como se sabe que aplicar o regime do contrato dominante pode
significar subtrair ao regime da contratação pública o contrato dominário (?), se calhar a tese mais conveniente será a
tese da combinação, segundo a qual se aplica a cada uma das prestações o regime respetivo, que depois é a solução
que acaba por dizer o nº6.

Olhando para os valores, nos percebemos que o aspecto mais importante é o da empreitada, porque o valor da
aquisição do imóvel é residual, o mais caro é o da reabilitação. E, portanto, se é esse o mais caro, faria sentido dizer
que o contrato dominante era o da empreitada e não o da aquisição.

O art.32º não sugere nenhuma forma de calcular a dominância, e muitas vezes o que acontece é que no contrato não
está diferenciado o que é que corresponde à aquisição do imóvel e o que é que corresponde à aquisição. Se a
empreitada fosse da responsabilidade do vendedor, se fosse o vendedor do imóvel a assegurar a empreitada e a vender
depois de realizada a empreitada, se calhar não podíamos dizer que era um contrato público porque a empreitada não
era celebrada por um município. Se for só um esquema para o município não subtrair à aplicação do regime da
contratação pública, então estaremos sob uma situação de fraude à lei.

Nos temos um caso com este na presidência portuguesa porque nos alugamos um espaço comercial, era um
estabelecimento, não era só o arrendamento de um espaço físico porque incluía a limpeza, serviço de segurança, o
serviços de apoio. Estava tudo incluído no preço. A questão era saber a utilização dos telefones, dos equipamentos
informático, das secretárias. E a questão era saber se ainda era um contrato de arrendamento ou se perdia a sua
natureza de arrendamento por ter associadas estas pequenas prestações de serviço. E se isso significa ter que justificar
a razão pela qual o contrato ficaria submetido à concorrência de mercado e que teriam que ser usados os adequadas
procedimentos pré-contratuais. Não era o caso para a presidência portuguesa porque a estrutura da missão que
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acompanhou a preparação da presidência tinha do seu lado um instrumento legal, aprovado pela associação do
concelho de ministros para excluir do âmbito da aplicação do código dos contratos públicos a celebração os contratos
da presidência portuguesa até a um determinado valor. O valor excedia esse montante e, portanto, tiveram que fazer
estudos para saber se o valor das prestações era aquele que pesava mais significativamente no contrato ou não para
poderem então considerar que esses contratos tinham que ficar submetidos à concorrência de mercado. Tiveram que
ponderar todos os elementos para perceber se o facto de eles estarem acolhidos se descaracterizava o contrato de
arrendamento e nos consideramos que não por causa da forma de como está redigido o artigo do arrendamento, que é
o art.4º, nº2, al.c) (contratos excluídos) e nos consideramos que o contrato de arrendamento de um estabelecimento
poderia ser considerado um contrato similar, e deveria estar excluído no âmbito da contratação.

Aplicaríamos então o código, porque parece que a empreitada é a parte mais importante. A contratação excluída era a
aquisição do bem imóvel. Para a professora parece que deve ser aplicada a teoria da combinação, isto é, aplica-se à
empreitada o regime da empreitada, mas à aquisição não. Faz-se uma combinação.

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FREQUÊNCIA

Prática – 20/12/2022 (13)

EXERCÍCIOS – PÁGINA 25 DOS SUMÁRIOS

Uma empresa pública do setor da saúde desencadeou um concurso público para a adjudicação de um contrato
público, cujo conteúdo era o fornecimento de um equipamento sofisticado de diagnóstico. Tendo dedicado um
grande esforço à caracterização técnica do equipamento que pretendia, descuidou a elaboração do clausulado
jurídico do caderno de encargos. Faltava, por exemplo, tudo quanto respeitava às reformas de 2017 e de 2021,
começando pelo regime dos trabalhos, bens e serviços complementares. Com a evolução tecnológica, veio a
estar disponível para essa empresa pública uma significativa melhoria da prestação do equipamento, pagando
unicamente 1% mais do que o preço contratual.

Resolução: Portanto, estamos a falar de uma empresa pública, a empresa pública é uma entidade adjudicante típica do
nº1 ou não? Não, do nº2, as empresas públicas não estão identificadas no nº1, mas são qualificadas como entidades
adjudicantes quando o controlo é exercido por uma entidade adjudicante, como acontece nas empresas públicas da
saúde.

A aquisição de um equipamento de diagnóstico, é ou não uma prestação que está ou não sujeita à concorrência de
mercado? Sim, no art. 16º nº2 é uma aquisição de um bem móvel e, portanto, isso significa que é um contrato
administrativo e um contrato público. É um contrato público porque contém aquela prestação sujeita à concorrência de
mercado e é necessariamente procedido de um procedimento pré-contratual. Uma entidade adjudicante a celebrar um
contrato com uma prestação sujeita à concorrência de mercado tem obrigatoriamente de ser procedido de um
procedimento pré-contratual se não tiver excluída do âmbito de aplicação nos termos do art. 4º e seguintes, o que não
é o caso.

Qual é o problema que é suscitado na hipótese? É que o clausulado jurídico no caderno de encargos estava muito
incompleto. E então? Há algum problema que resulte na circunstância de o clausulado jurídico estar incompleto? A
falta do regime jurídico impede que ele possa ser aplicado? Temos que ir ler o art. 280º, este artigo está a dizer que aos
contratos aplica-se o código no nº1, o regime substantivo é o que resulta do código, a menos que o contrato que as
clausulas do contrato afastem o código, ou seja, a regra é: aplicamos o código. Não é preciso o clausulado conter todas
as disposições porque se aplica o regime legal.

Agora, existia uma outra questão, tem haver com a omissão. Na hipótese fala-se na possibilidade de adquirir ‘’uma
significativa melhoria da prestação do equipamento, pagando mais 1% do que o preço contratual’’, parece ser uma
modificação. Quer dizer nós anunciamos que vamos adquirir uma coisa e depois afinal queremos uma coisa
ligeiramente diferente, e a questão é se isto é possível? Porquê? Porque obviamente quando nós abrimos um concurso
para um equipamento temos que manter a palavra, não se mudam as regras a meio do jogo, até porque o anúncio num
determinado sentido pode condicionar até a concorrência. E, portanto, isto, esta questão, seguinte por causa da
evolução tecnológica, como é que se resolve? Como é que o código resolve? A questão que está na hipótese é a
36
seguinte: é feito um aviso de abertura do procedimento para anunciar se se quer comprar um determinado
equipamento e, depois, com a evolução tecnológica percebe-se que há um equipamento mais evoluído, ou seja, o aviso
não está completamente adequado à necessidade. E a questão é, vai tudo abaixo e faz-se de novo porque há uma
alteração superveniente das circunstâncias e é possível fazer isso, é possível a entidade destruir os efeitos de um...

O código estabeleceu pela primeira vez uma norma que era discutida na doutrina que é uma norma a prever o dever de
adjudicação. É aberto um procedimento, feito um aviso, criam-se expectativas, vai ser celebrado um contrato, no
fundo é alguém que faz uma promessa unilateral, é mais ou menos isso que acontece. Á uma proposta negocial que é
formulada e ela tem validade e cria expectativas e precisamente por causa disso discutia-se na doutrina se havia ou se
não havia de adjudicar, porquê? Porque a escolha é o poder discricionário e entre o poder discricionário de escolher
estava também o poder de contratar ou de não contratar. E, então, porque se percebeu que isso podia ser muitas vezes
utilizado como forma de evitar contratar com as pessoas com as quais não se quer contratar. A questão na adjudicação
colocava-se precisamente, entendia-se que ao não adjudicar podia estar em causa anunciar a concorrência e então
estabeleceu-se então o dever de adjudicar sendo que o poder é sempre um poder dever. Uma competência é sempre
um poder dever, as vezes ao não exercermos a competência estamos a renunciar à prossecução do interesse público. E,
por isso, é que se entende a competência como um poder dever. A escolha continua a ser discricionária, mas a partir
do momento em que a entidade adjudicante abre o procedimento e não conclui o procedimento é estranho, tem que ter
uma razão forte. Que razões é que pode ter? As outras situações são estas, por exemplo:

→ nenhum candidato se haja apresentado ou nenhum concorrente haja apresentado proposta;


→ as candidaturas ou todas as propostas tenham sido excluídas;
→ ou (poderia ser a nossa situação) por circunstâncias imprevistas seja necessário alterar as peças do procedimento.

Quando se abriu o procedimento não era previsível que houvesse uma alteração e que essa alteração justifica que o
procedimento vá abaixo, seja anulado e que seja repetido para contemplar essa novidade. Claro que nos casos da
alínea c) é obrigatório dar início a novo procedimento no prazo máximo de 6 meses, isto é, não se pode usar esta
justificação e depois não abrir um novo procedimento.

Esta á uma questão que é um híbrido entre a questão seguinte, na página 26. E então? Só para enquadrar, estamos a
ver aqui o art. 4º do ETAF e o art. 4º do ETAF diz que cabem no âmbito da jurisdição administrativa al. e), atos pré-
contratuais, validado, execução de contratos administrativos ou de quaisquer outros contratos celebrados sob a
legislação de contratação pública e pessoas coletivas de direito público ou outras entidades adjudicantes. Portanto, o
município é uma entidade adjudicante e celebrou um contrato que submeteu ao código dos contratos públicos. Porque
é que submeteu ao código dos contratos públicos? Porque abriu um procedimento pré-contratual e as disposições
substantivas, diz-nos a hipótese que embora não indiquem que correspondem a normas do código dos contratos
públicos, são as normas dos contratos públicos. E, portanto, eu à partida não teria dúvida que este contrato estava
incumbido no âmbito da jurisdição dos tribunais administrativos. Mas há aqui uma outra questão, esta questão tem
haver com o âmbito da jurisdição, penso que está resolvida, no caso de sabermos se este contrato está regido pelo
direito público ou pelo direito privado, que é a alegação, temos que nos socorrer do art. 280º. E o que é o art. 280º
explica a este propósito? O que é que vos parece? Nem que seja pela al. b). Claramente sem eletricidade um município

37
não funciona. Mesmo que não fosse pela al. a), pela vontade das partes submeter a um regime substantivo, que é pela
al. a). A al. d) também chegávamos à conclusão que era um contrato administrativo.

Se um município quiser celebrar um contrato com uma empresa de recolha de resíduos, lixo e etc..., esse contrato está
ou não incluído no regime da contratação pública? O contrato celebrado por um município com uma empresa
municipal, hipótese da página 29. Isto é a chamada contratação in house, foi agora ampliada e é entendida numa forma
muito mais ampla, isto tem tudo haver como a forma que se encara o mercado e a importância que se dá ao mercado,
os partidos tendencialmente mais a esquerda dão menos importância ao mercado e preferem o setor público e portanto
tudo o que seja contratação in house é ali de uma forma mais alargada e abrangente permitindo contratação in house
por exemplo com universidades públicas. Porque se entende que o estado como exerce a tutela em relação a empresas
publicas, institutos públicos, etc... tem um controlo análogo aquele que exerce sobre os seus próprios serviços e
portanto pode contratar de forma livre os serviços dessas empresas publicas e das universidades e dos institutos
públicos... porque para quem tenha uma visão mais favorável ao mercado, os partidos mais à direita, não gostaram
desta alteração que veio alargar o conceito de contratação in house a outra situações e que foi obviamente alvo de
criticas. Quanto mais se subtrai ao mercado menos concorrência há. E, portanto, preferir as publicas em detrimento
das privadas distorce a concorrência. Esta efetivamente excluído nos termos do nº1.

Prática – 03/01/2023 (14)

EXERCÍCIOS – PÁGINA 29 DOS SUMÁRIOS

Um português estabelecido, com grande sucesso, no estrangeiro, entendeu doar um vasto património à Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa. Com essa entidade celebrou um contrato para esse fim.

O contrato de doação é um contrato incluído ou excluído? Está excluído [art.4º, nº2, al.d)]. A doação é um contrato
unilateral e por isso está excluído. Só os contratos que sejam bilaterais é que em princípio estão incluídos desde que
sejam relacionados com bens? Um contrato de compra e venda de um bem imóvel está excluído. O contrato de
arrendamento, de compra e venda de imóveis, esses contratos estão excluídos. E o contrato de transporte? Art.5º-A –
contratos no âmbito do setor públicos – quando é que os contratos de transportes estão excluídos? Se for celebrado
através de… vamos ver a hipótese em que o professor indica o seguinte caso:

Dois Municípios estabeleceram entre si um contrato para promoverem em conjunto o transporte público de
passageiros, recorrendo aos meios materiais e humanos de que já dispunham. O contrato foi celebrado sem
qualquer concurso público, aberto a outras entidades, públicas ou privadas.

Como é que se chama este tipo de contratação? É a contratação in house – o que se passa neste tipo de contratação é
o seguinte: o código dos contratos públicos alargou no art.5º-A alargou os casos da contratação in house a muitas mais
situações do que aquelas que estavam inicialmente previstas, porque tradicionalmente os partidos de esquerda confiam
muito mais no setor público do que no setor privado e, portanto, como confiam mais no setor público e desconfiam
mais no setor privado têm tendência a subtrair à concorrência algumas das atividades que poderiam ser submetidas à
concorrência. Já os partidos mais à direita acreditam na concorrência de mercado e na liberdade, e entendem que os
serviços públicos devem estar em concorrência com os serviços privados. E então o que fazem? Abrem à concorrência
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e reduzem os casos de contratação in house permitida ao mínimo. Antes da revisão do código, a contratação in house
só era considerada como contratação in house se existisse um controlo análogo à direção. Quando é que existe um
controlo análogo à direção? Quando é feita, por exemplo dentro do Estado. O ministério da educação presta um
serviço à presidência do conselho de ministros. Dentro do Estado há um controlo semelhante aquele que existe na
direção. Ou entre os Estado e institutos públicos, porque verdadeiramente os institutos públicos não prosseguem
interesses próprios, os fins são do Estado, embora não exista direção existe subintendência, que é um poder parecido é
o poder de orientar.

A questão é que os municípios não estão entre si numa relação que permita que um mande no outro. Eles estão a
colaborar entre eles e estão ao mesmo nível, chama-se a isso contratação in house horizontal que passou a ser
permitida. Foi a alargada a possibilidade da contratação in house horizontal porque “o contrato estabelece uma
cooperação no âmbito de tarefas públicas que lhe estão atribuídas e apresentam uma conexão relevante entre si ” –
nº5, al.a) – permite a cooperação horizontal. Aquilo que era considerado a contratação in house era a vertical, era
semelhante à hierarquia, quando havia uma cooperação entre pessoas coletivas públicas ou pessoas coletivas, tinham
uma relação semelhante à da hierarquia, quer seja profissionalmente ou da supervisão, não necessariamente da tutela
porque esta não permite orientar. Portanto, era naquelas situações em que existisse superintendências e poder de
orientação. Agora alargou-se a um conjunto de situações em que as pessoas não estão necessariamente na tal posição
em que é semelhante à hierarquia, mas que cooperam entre si. Essa cooperação chamada contração in house horizontal
veio a ser introduzida e é o que legitima, por exemplo, as universidades colaborem com a autarquias ou o que seja e
isso seja subtraído à concorrência. A professora discorda que isso aconteça porque que entende que, não sendo o
ensino uma matéria exclusivamente do Estado, é incube também aos particulares, não vê a razão dos serviços
prestados, nomeadamente de estudos, de pesquisas, de avaliação, trabalhos que possam ser feitos, não possam ser
feitos em concorrência e não possam estar sujeitos à concorrência de mercado. A professora acha que isso corresponde
a uma concorrência desleal com um setor de atividade que deve estar em concorrência e assim deixa de estar porque
consegue obter um financiamento que não teria se tivesse em concorrência. Existiram variadas universidades capazes
de fazer o mesmo estudo.

A professora tem uma visão diferente em relação à saúde por entender que amanhã a saude é mesmo essencial que
haja um forte investimento público. E acha que há aqui uma hierarquia porque a saúde tem a haver com a nossa
própria sobrevivência.

O Ministério da Cultura celebrou um contrato com uma associação que promove atividades teatrais. Nesse
contrato, diz-se que será comprada pelo Estado a lotação de uma sala onde a associação em causa apresenta
realizações dramáticas, até ao montante de € 25.000.

Art.5º – nº4, al.c) - o regime dos contratos públicos, o regime pré-contratual, não é aplicável se estiver em causa um
subsídio. Os financiamentos deste tipo de contratos se for enquadrado como um subsídio, como uma forma de
financiamento do espetáculo sim, mas se não for, se receberem efetivamente os bilhetes e os andarem a dar, então, se
calhar já estamos a falar de uma outra realidade. Uma coisa é o financiamento, isto é, comprar a lotação para o
espetáculo subsistir, outra coisa é ficarem com os bilhetes para o distribuir por outras pessoas, aí estão a adquirir o

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contrato e não a financia-lo. Cuidado com a formulação dos contratos para não estar um suposto financiamento a
mascarar o verdadeiro contrato de prestação de serviços, da aquisição de um bem.

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