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Sebenta de Contencioso
Administrativo
Prof. Dr. António Francisco de Sousa e Prof. Dr. Diogo Feio
Nota Introdutória
Bom estudo!
16.02.2021
No entanto, se, por um lado, estas matérias estão relacionadas com o direito
administrativo no plano substancial, há também uma relação muito especial com o modo
de organização dos tribunais no âmbito da justiça administrativa (direito judiciário
administrativo).
2. Processo Administrativo
3. Justiça administrativa
3.1. Contencioso administrativo VS Contencioso Tributário
decisões essas com força executiva e suscetíveis de, em determinados prazos, assumirem
estabilidade de caso resolvido, se não forem impugnadas.
Esta evolução deve também tomar em atenção o modo como se entende a vinculação
a administração à lei e ao Direito, a divisão que existe quanto aos poderes do legislador,
da administração e do juiz ou, por fim, ao entendimento de sujeitar a administração ao
interesse público ou à garantia e proteção dos direitos e interesses dos administrados.
Houve uma passagem do modelo objetivista totalmente centrado no ato, para um modelo
em que os elementos subjetivistas ganham importância. É de relevar a importância da
legalidade do ato administrativo.
3.2.2. Atualmente
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Conclusão:
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1. Fase com 150 anos que se inicia em 1832 – tem por base o modelo francês
de recurso de anulação (com base objetivista) admitindo-se um contencioso
de plena jurisdição em matérias limitadas (centradas no ato administrativo:
ações de responsabilidade, ações sobre contratos e certos recursos eleitorais).
a. Estes 150 anos são de um processo virado para o ato administrativo.
Apesar de tudo, notaram-se evoluções, como a admissibilidade de
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Análise do art268ºCRP:
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comum, uma única forma de ação, que corresponde à anterior ação administrativa
especial.
→ Em 2019, houve alterações, fundamentalmente no ETAF, portanto, em matéria de
organização territorial da gestão dos tribunais fundamentalmente de 1ª instância,
e na previsão da especializada dos Tribunais Administrativos de círculo.
→ No plano do processo administrativo, as alterações não foram muito estruturais,
mas foram no sentido de uma tutela jurisdicional efetiva e eficiente.
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Ao falarmos de jurisdição administrativa, vimos que os litígios têm por base relações
jurídicas administrativas e, portanto, é o conceito de relação jurídica administrativa que é
conveniente definir-se. A relação jurídica será a relação social disciplinada pelo Direito
pressupondo duas partes (elemento subjetivo), a existência de normas jurídicas que sobre
elas vão tomar uma posição essencial e a existência de posições jurídicas ativas e passivas
(este é um ponto muito importante quando falamos de relações jurídicas no âmbito do D.
Público; D. Público é aquele em que o Estado intervém porque tem uma posição de
superioridade). Falamos da relação jurídica como relação jurídica interpessoal, porque
interessam-nos as relações jurídicas intersubjetivas, na medida em que são estas que os
tribunais administrativos vão considerar, (principalmente as que têm elementos externos).
Assim, a ideia que deve ficar é que a relação jurídica é externa, no sentido de ser uma
relação entre o órgão administrativo e um particular (ou outro órgão de natureza
administrativa, mas que não seja meramente interna, não tenha a ideia regimental de uma
relação.
Com isto, não podemos concluir que as relações jurídicas internas são uma área reservada
da Adm. onde não entram os tribunais, o caráter interno de uma relação, não é salvo
conduto para que ela estava fora da relação administrativa, na medida em que se tem de
olhar para: o conjunto de relações internas que podem ser admitidas; a complexidade do
aparelho administrativo do Estado (enquanto pessoa coletiva); e ainda a existência de
relações jurídicas atípicos, isto é, relações entre unidades orgânicas do Estado e outras
pessoas coletivas; por exemplo, as relações que existem nas federações entre Estados
federados e Estados federais).
Deve-se ter em conta que há uma diversidade funcional de pessoas coletivas públicas,
pelo que muitas vezes, a medida que tome uma pessoa coletiva pública tem influência nas
decisões tomadas por outros órgãos pelo que não se pode considerar que sejam meramente
internas, na estrita medida em que a decisão tomada por órgão da AP tem influência nas
competências de outros órgãos, o que leva a que elas tenham uma vertente de
possibilidade de impugnação dos atos que estejam em causa. Portanto, para efeitos de
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Por sua vez, temos de considerar dentro da justiça administrativa algumas relações
interadministrativas que nós vemos como internas do Direito Administrativo:
→ Para este efeito, importa o art268ºnº1CRP que se refere a direitos que os cidadãos
têm, mas é, em especial no seu nº4 que se garante a tutela jurisdicional efetiva dos
direitos ou interesses legalmente protegidos dos cidadãos (onde se vê novamente
o reconhecimento de direitos; a impugnação de atos administrativos; e a
impugnação de normas regulamentares. Surge logo aqui a tutela de direitos e
interesses legalmente protegidos. Vai ser importante concretizar quais serão estes
direitos e interesses legalmente protegidos e, além disso, no processo
administrativo podem estar em causa posições de vantagem ou posições de
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desvantagem para qualquer uma das partes, sendo que quando pensamos nos
particulares pensamos em posições de vantagem ou posições que não são de
vantagem:
o Posições de vantagem: a ideia de vantagem tem como contraponto uma
obrigação/dever por parte da Administração. Surge então como conceito
relevante, apesar de toda a controvérsia doutrinal que aí existe, a ideia da
existência de um direito subjetivo. Apesar da difícil concretização
doutrinal é importante para distinguir posições jurídicas (relacionadas com
os direitos subjetivos) de simples interesses de facto.
▪ Posições jurídicas VS Simples interesses de facto
• Posições subjetivas vão implicar a existência de uma
norma jurídica que proteja efetivamente um bem do
particular, seja numa lógica direta (em que surgem direitos
subjetivos), seja numa lógica indireta, isto é, como
resultado de um interesse público principal, pelo que
surgem os interesses legalmente protegidos. O direito vem
diretamente da norma e cria o direito na esfera jurídica do
sujeito. Os interesses legalmente protegidos vêm na
sequência do interesse público. Portanto, a atividade
jurisdicional no plano administrativo é muito uma
atividade de interpretação da norma e de determinação da
existência ou não, por parte da norma, da consideração da
adequação de um direito subjetivo que é concedido aos
particulares.
• Interesses de facto não têm por base uma norma jurídica,
sendo que ou são vantagens genéricas que todos nós temos,
por exemplo, com o bom funcionamento da Administração.
▪ É importante salientar que existe uma lógica gradativa entre
direitos, podendo existe direitos subjetivos plenos, direitos
limitados e interesses legalmente protegidos (aqui diz-se que os
interesses são juridicamente protegidos)
• Os direitos subjetivos podem ter uma distinção:
o Direitos subjetivos obrigacionais: têm na sua base
a administração de prestações. Hoje, pensamos na
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o Posições de desvantagem:
▪ Sujeições: correspondem, no fundo, às posições jurídicas dos
particulares que surgem como contraponto de direitos potestativos da
Administração, mas que são, sobretudo, características de contraponto
relativamente a poderes jurídico-públicos gerais ou especiais. Pense-
se, por exemplo, na situação do expropriado que perde a sua
propriedade, mas recebe uma indemnização, o mesmo acontecendo,
por exemplo, no poder tributário, na medida em que se impõe aos que
ficam numa situação de sujeição)
▪ Deveres: devem ser entendidos no sentido amplo e incluem:
obrigações concretas dos particulares e que decorrem da lei, normas
administrativas (regulamentos) ou atos administrativos. Podem
também surgir na sequência da assinatura de um contrato
administrativo. Os deveres têm de se fundar na lei (enquanto norma
jurídica), ou num contrato. A previsão é, muitas vezes, uma previsão
direta, que se retira logo da lei ou do contrato, mas pode também ser
uma previsão indireta, quando seja o resultado do exercício de poderes
administrativos legalmente previstos.
▪ Ónus Jurídico: existem na situação em que o titular do poder tem a
necessidade de adotar um certo comportamento caso pretenda alcançar
o efeito jurídico favorável, por exemplo, a lógica do ónus da prova,
isto é, aquele que tem o ónus da prova tem de cumprir um
comportamento para atingir um resultado favorável, tem de provar
algo. Há na doutrina quem diga que o ónus pode ser visto como uma
figura mista que não é uma posição desfavorável. O professor
concorda no ónus como dever jurídico.
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Porém, uma coisa é certa, é que as posições jurídicas da Administração são sempre
dominadas por uma ideia de poderes de autoridade é por isso que fazemos a distinção
entre o que é ou não administrativo, por exemplo, quando um funcionário de uma
escola/universidade vai comprar um resma de papel, não vai atuar com o seu poder de
autoridade e obrigar a que lhe entreguem a mesma; tem sempre de pagar o preço da coisas
devida, nunca se esquecendo da lógica do Princípio da Especialidade e da Legalidade.
Isto tudo dentro do âmbito do Direito Público.
A Administração Pública, na lógica dos seus poderes, tem-nos como poderes deveres,
porque são poderes que visam alcançar os interesses públicos de um determinado
particular ou de toda a comunidade, são, por isso, poderes que a autoridade não pode
alienar ou renunciar. Para além destes meios gerais, a Administração também é titular de
direitos concretos, que muitas vezes resultam dos exercícios dos seus poderes no
contexto de situações de vida prática. Estamos perante a ideia de deveres e direitos
obrigacionais, mas também podem surgir direitos absolutos e concretos (por exemplo,
direitos reais sobre bens do domínio público), bem como deveres gerais de abstenção
(por exemplo, o Estado não pode pôr em causa as nossas liberdades). Também o Estado
pode ter direitos potestativos ou sujeições quando estão em causa contratos
administrativos. Em resumo, o Estado pode ter os seus direitos gerais que são funcionais;
pode ter direitos concretos que podem ser absolutos; obrigacionais; de abstenção; e
podem ser potestativos ou sujeições se vierem de contratos administrativos.
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Em relação aos tribunais arbitrais, releva o Art209ºnº2 CRP, “2. Podem existir
tribunais marítimos, tribunais arbitrais e julgados de paz. Portanto, são casos em que a
própria CRP admite que exista nesses tribunais o exercício da função jurisdicional
(obviamente que estes tribunais não são órgãos de soberania; os juízes-árbitros são
cidadãos em que se configura uma decisão de exercício de poderes públicos por privados).
Quando os juízes arbitrais estejam a decidir, estão sempre a fazê-lo sob a lógica do
direito das normas jurídicas constituídas, pelo que não o podem fazer por uma base de
conveniência ou oportunidade, nem podem julgar a equidade. Podem determinar pedidos
cautelares e ordens preliminares, mas o que é importante reter é que são casos em que
claramente se aplica a função jurisdicional.
Não se deve confundir a lógica da função jurisdicional exercida por verdadeiros tribunais
com a ideia de arbitragem administrativa de conflitos a estabelecer por entidades
administrativas.
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Por outro lado, são incluídos na resolução da justiça administrativa, os casos que vão
para os tribunais arbitrais.
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conteúdo de fiscalização que é feito por esta justiça administrativa hoje leva a que
se possa fazer uma bifurcação: os poderes administrativos estão relacionados com
os poderes de decisão da Administração perante o facto concreto e os poderes de
jurisdição correspondem à fiscalização da Administração ou à garantia da
legalidade. Portanto, o poder administrativo decide e, por outro lado, o poder
judicial fiscaliza ou gera garantia.
o Antigamente, a doutrina fazia esta distinção de forma diferente: nos
tribunais estava em causa apenas o princípio da legalidade e era nos
tribunais que se aplicava este princípio. Já na Administração, está
implícito o princípio da discricionariedade. Logo, a Administração era
discricionária e os tribunais eram aplicadores da legalidade. Dentro desta
ideia, a Administração estava apenas limitada por princípio de
discricionariedade, mas estabeleceu-se um princípio de que na
Administração estavam presentes as ideias e de mérito e boa
administração.
▪ Nesta visão doutrinal, anterior à que foi referida (em que na
Administração está presente uma lógica de decisão e nos tribunais está
presente uma lógica fiscalização), na Administração estava presente o
interesse público, enquanto nos tribunais estão presentes a noma e os
juízos jurídicos. Chegando a existir a distinção entre o princípio da
legalidade e o princípio da discricionariedade.
• Isto é, hoje em dia, quando distinguimos a parte da jurisdição
administrativa da parte da Administração pública, pensamos: a
jurisdição administrativa existe para fiscalizar a atuação da
Administração ou garantir a aplicação do princípio da
legalidade, já a Administração existe para decidir. No entanto,
houve tempos em que se dizia que a Administração estava
dominada pelo princípio do interesse público e os tribunais
estavam dominados pelos princípios jurídicos e de aplicação
das normas, como se a aplicação das normas não fosse também
de interesse público. Porquanto, chegou-se a distinguir entre
legalidade (para os tribunais) e discricionariedade (para a
Administração). O problema não está no facto da
Administração também atuar de acordo com princípios de
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Hoje em dia, tem que se repor esse princípio. Vejamos para o efeito os Arts24º e 37º
ETAF que se referem à competência que tem a secção de contencioso administrativo de
cada Tribunal Central Administrativo (repare-se que tem fundamentalmente competência
quanto a recursos). A grande exceção é a dos Arts 37º c) e 44º ETAF que se referem à
competência dos TAC em que lhes é concedida, em princípio, a competência para
conhecer em 1ª instância de todos os processos de âmbito de jurisdição administrativa.
Portanto, hoje, a possibilidade de os Tribunais Centrais Administrativos e o STA
conhecerem em 1ª instância de questões que lhe sejam suscitadas é verdadeiramente
excecional: artigos 24º (relativo à competência da secção de contencioso administrativo
do STA) 37º (relativo à competência da secção de contencioso administrativo dos TCA)
e 44º (em relação à competência dos TAC, portanto, 1ª instância) ETAF. Apesar de tudo,
o art24º nº1 ETAF refere-se ao conjunto de pedidos sobre os quais tem competência, mas
repare-se que são competências relativas às mais altas figuras dos nossos órgãos de
soberania, a processos de eleições e a execução das suas próprias decisões, havendo a
regra de lhe competir, no fundo, os recursos de revista sobre matérias de Direito que
venham dos TCA e também de decisões TAC, aqui no chamado recurso per saltum (não
passando pelos TCA).
Os tribunais administrativos podem ser:
→ Tribunais permanentes: referimo-nos aos TAC’s, aos TCA’s, bem como ao
STA.
o STA
▪ O STA tem um presidente e duas grandes secções (contencioso
administrativo e contencioso tributário) e três subsecções. As
decisões são tomadas por tribunais coletivos, seja compostos por 3
juízes ou pelo plenário e têm um juiz relator (aquele que tem a
especial responsabilidade pela produção do acórdão). A aprovação
do acórdão tem de ser por maioria, os acórdãos têm de ser
fundamentados e podem ser juntos aos relatórios declarações de
voto.
▪ Naturalmente, os votos de vencido são especialmente relevantes
para se perceber com sentido crítico o que está determinado pela
jurisprudência. Veja-se para este efeito as determinações do
Art17ºETAF que se encontra no capítulo relativo ao STA e aí se
diz: que o julgamento em cada secção compete ao relator e a dois
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→ Tribunais arbitrais
o Quanto aos Tribunais Arbitrais, estes têm como base um ato voluntário
sendo constituídos ad hoc. Têm na sua base compromissos arbitrais.
Verifica-se que muitas vezes nos contratos administrativos constam de
compromissos arbitrais (isto é, as partes acordaram que aquando um futuro
litígio, recorrer-se-á aos Tribunais Arbitrais; por exemplo, no Código dos
Contratos Públicos, em matérias relativas à contratação pública está
prevista a utilização de centros de arbitragem institucionalizada, pelo que
apenas não será admitida essa hipóteses quando esteja em causa casos
mais complexos de valor mais elevado ou em que inexista um centro
competente para fazer esse julgamento)
o Quanto às matérias que cabem nos Tribunais Arbitrais, considera-se:
matérias de contratos; responsabilidade civil extracontratual; processos
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Repartição de competências
Quando falamos de repartição de competência, referimo-nos à repartição em razão da
matéria, do território e em razão da hierarquia. Esta, em geral, com a reforma do
contencioso administrativo melhorou, pois começou-se a determinar como regra que a 1ª
instância será a dos TAC, o que gerou uma maior facilidade em relação a esta divisão.
→ Repartição de competências em razão da matéria
o Os TAC são, em regra, os tribunais de 1ª instância, mas há exceções
por exemplo: o Art24º ETAF que se refere a um conjunto de matérias
em que é o próprio STA que deve atender ao que está em causa. O
Art44º ETAF que se refere à competência dos TAC refere: “Compete aos
tribunais administrativos de círculo conhecer, em primeira instância, de
todos os processos do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal que
incidam sobre matéria administrativa e cuja competência, em primeiro
grau de jurisdição, não esteja reservada aos tribunais superiores.”.
Portanto, é o próprio artigo que se refere a competência dos TAC
admitindo exceções, que acontecem, por sua vez, quando esteja em causa
atuação ou omissão de órgãos superiores do Estado (no Art24º ETAF isso
é claro); processos relativos a eleições; ações de regresso entre juízes ou
propostas contra juízes do STA, dos Tribunais Centrais Administrativos
ou dos magistrados do MP que exerçam nestes tribunais funções; pedidos
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o Como conclusão: hoje o STA deve ser visto como STJ, tendo o recurso de
revista das decisões do TCA, recurso per saltum dos TAC e intervenção
relativamente à uniformização de jurisprudência.
25.03.2021
→ Quanto aos conflitos de jurisdição, podemos ter conflitos com outras jurisdições
ou conflitos dentro da própria jurisdição. Quando falamos de conflitos com outras
jurisdições, falamos de casos em que há um conflito entre a jurisdição
administrativa e jurisdição comum, pelo que para esse efeito, a resolução de
conflitos de competência é feita por um tribunal de conflitos estabelecido para
essa matéria.
o Quando a situação seja entre o STA e o Tribunal de Contas, o Presidente
do STJ e 2 juízes de cada uma das jurisdições em causa (2 juízes
administrativos e 2 juízes do Tribunal de Contas) formaram um coletivo
que pode resolver o conflito de jurisdição.
o Dentro da lógica da jurisdição administrativa, importa o Art23º nº1 ETAF
que se refere às competências do presidente do STA e que é completado
pelo Art23º nº2 ETAF que se refere às competências do Presidente do STA
tem para conhecer dos conflitos de competência. Por sua vez, o Art36º
ETAF referindo-se as competências do Presidente de cada Tribunal
Central Administrativo, estabelece no Art36ºnº1 d) ETAF que será
competente para conhecer dos conflitos entre os TAC e os Tribunais
Tributários, juízos de competências especializada da área de jurisdição
respetivo Tribunal Central Administrativo.
Importa o Art216º CRP, que se refere às garantias que os juízes têm, pelo que são:
inamovíveis; irresponsáveis (não podem ser responsabilizados pelas suas decisões);
exercem as suas funções em exclusividade; têm um conjunto de incompatibilidades
determinadas por lei. Estes princípios, no fundo, são semelhantes entre os tribunais
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Tem a ver com um conjunto de matérias, desde logo o direito de acesso aos tribunais,
isto é, o direito que existe de obter uma decisão judicial num prazo razoável, mediante
um processo equitativo, sendo no fundo um direito à efetividade das sentenças, isto é,
o direito à prestação da justiça (Art205º nºs 2 e 3 CRP). As decisões dos tribunais são
obrigatórias, sendo que a lei regula a execução dessas decisões relativamente a qualquer
autoridade.
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→ Vimos que tem existido uma maior amplitude, não se ficando a forma
processual pela impugnação dos atos, pelo que se tivermos uma distinção entre
ação administrativa comum e ação especial, hoje, essa designação é irrelevante.
A ação administrativa comum abarca: impugnação de atos administrativos; a
condenação à prática de atos administrativo; declaração de ilegalidade de omissão
de normas. Tudo o que era considerado especial antes desta concentração de tudo
na ação administrativa, isto é, no início tínhamos uma situação em que se
distinguiam as ações administrativas comuns, das especiais. As ações
administrativas especiais eram muito importantes porque lá estava a impugnação
do ato administrativo; a condenação à prática de ato à Administração; ou a
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Cumulação de pedidos
A cumulação de pedidos tem no atual regime legal uma circunstância de maior abertura
e menos rigidez quanto aos meios processuais, estando o seu regime previsto no Art4º
CPTA. É admitida a cumulação de pedidos quando exista uma conexão entre os
pedidos em causa com a mesma e única causa de pedir; ou então quando haja uma
situação de prejudicialidade ou dependência do pedido, isto é, uma relação de
prejudicialidade onde se pretende que para que o pedido principal avance, é preciso que
outro que é a sua base esteja resolvido); ou mesmo quando seja diferente à causa de
pedir, a precedência dos pedidos esteja dependente dos mesmos factos ou de igual
aplicação de normas jurídicas.
Quando falamos de valor, falamos da utilidade económica de um pedido que vai ser
expresso em moeda legal, sendo que o valor é importante para determinar se há recurso
da sentença proferida em 1ª instância e qual o tipo de recurso.
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Aqui não se falará do princípio da legalidade, desde logo porque esses subprincípios, por
exemplo, na classificação de VIEIRA DE ANDRADE não assumem assim uma
relevância tão grande, porque se centra naquilo que são os elementos mais relevante para
efeitos de andamento do processo.
Para percebermos os Princípios processuais há elementos que não podem ser esquecidos.
Desde logo, o processo é entre duas partes, sendo decidido por um terceiro (o
Tribunal). Note-se que assentamos na ideia de que na base em que existe um pedido e
de que se pretende um processo justo. Na procura de uma solução de interesse
público, baseando-se num princípio de inquisitório (o juiz não está limitado pela prova
determinada pelas partes).
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O contencioso administrativo existe no nosso país por uma opção de criar uma
jurisdição administrativa própria, mas o professor diz que o contencioso
administrativo não indispensável num Estado de Direito, ou seja, a existência de uma
jurisdição administrativa não é uma exigência do Estado de Direito, sendo que este último
exige sim a existência de uma justiça administrativa efetiva (isto significa uma tutela
jurisdicional efetiva). Se esta tutela jurisdicional for feita por tribunais comuns ou
tribunais administrativos, esta é já uma questão de opção. O debate dogmático acerca
desta matéria foi feito à escala continental, sendo que, por exemplo, no Reino Unido não
segue a mesma orientação que nós e que, mesmo países que optaram por criar uma
jurisdição administrativa não seguiram exatamente a nossa opção, existindo uma tutela
jurisdicional efetiva, mas não tribunais administrativos.
NOTA: A lei 114/2019 e a lei 118/2019 são as alterações mais recentes feitas no ETAF.
A consulta destas leis será importante no exame, pelo que o professor alerta para que se
verifique se os códigos estão atualizados.
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Os terceiros responsáveis serão os cidadãos (aliados dos seus advogados) porque têm
o poder e o dever de reclamar à Administração e o direito de recorrer aos tribunais, uma
vez que temos uma democracia viva, pelo que os cidadãos têm o poder e o dever de
defender os seus direitos e, em alguns casos, até interesses públicos (por exemplo,
interesses difusos através de associações). Os cidadãos têm o dever de contribuir para
uma melhor Administração.
tutela jurisdicional efetiva, uma vez que o prazo razoável é um pressuposto para
a existência da mesma. Assim sendo, Portugal não é um Estado de Direito neste
aspeto. Tal tem sido condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos,
sendo esta uma primeira crítica fundamental ao contencioso administrativo, neste
caso quanto à tutela jurisdicional efetiva.
→ A efetivação desta tutela jurisdicional abarca não só uma decisão judicial com
força de caso julgado, mas também a execução da decisão e providências
cautelares (sejam estas conservatórias ou antecipatórias), assegurando o efeito útil
da decisão.
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→ Não há interesse legalmente protegido ou direito que não possa ser defendido
adequadamente junto dos tribunais administrativos, designadamente para obter o
referido neste artigo.
o Note-se que a forma mais importante de atuação da administração são atos
jurídicos, no entanto, em quantidade, a Administração acaba por praticar
mais atos materiais do que jurídicos. Por sua vez, dentro dos atos jurídicos,
os mais importantes são os atos administrativos.
→ Temos os tribunais a darem ordens diretamente à Administração, condenam esta
última à adoção de um comportamento. Esta ideia chocava no séc. XIX, numa
época em que se tinha uma noção de separação de poderes em que o poder judicial
não se podia intrometer no poder executivo/administrativo. Portanto, a
Administração administrava e os tribunais julgavam. Esta ideia era entendida
como uma sobreposição dos tribunais à Administração, sobreposição essa que
anulava a ideia de separação de poderes. Hoje em dia não é assim que se entende:
a Administração administra sim, mas fá-lo num quadro de Direito, podendo os
tribunais dar ordens à Administração para que a lei e o Direito se cumpram.
→ Temos, então, neste art2ºnº2CPTA a descrição do âmbito da tutela jurisdicional
efetiva. O nº1 deste artigo contém uma definição deste princípio da tutela
jurisdicional efetiva e o nº2 enumera as diferentes vias de efetivação dessa tutela
jurisdicional: condenação da Administração à prática de atos devidos; a anulação
de atos administrativos; interpretação e execução de contratos administrativos,
intimações; providências cautelares; etc.
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O novo regime instituído pelo CPTA consagrou este princípio da tutela jurisdicional
efetiva plena, nomeadamente neste art2ºCPTA que deve ser conjugado com o
art37ºCPTA, bem como com artigo da CRP que consagra este princípio. Por outro lado,
os tribunais detêm poderes e plena jurisdição, sendo que quaisquer pretensões de natureza
jurídico-administrativa podem ser deduzidas perante os tribunais administrativos. Os
tribunais administrativos estão em condições de responder a quaisquer tipos de questões
processuais que surjam de relações jurídico-administrativas. No entanto, o
art212ºnº3CRP determina que “Compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais.” Isto significa que esta
formulação da CRP não se compadece totalmente com este princípio dos poderes de plena
jurisdição dos tribunais administrativos.
→ Os princípios não são tidos, por alguma doutrina, como algo para ser levado a
sério. Esta era uma doutrina que vigorava no passado, mas que atualmente não
tem enquadramento constitucional. No entanto, ainda há quem não leve a sério os
princípios. Os princípios são complementos essenciais da juridicidade das normas
positivas, aportando valores para o direito positivo, sendo um direito superior
indispensável à conformação e aplicação de normas inferiores.
→ A nova redação do art2ºnº1CPTA exige, para além do prazo razoável, o respeito
pelo princípio do processo equitativo. Este é um complemento importante da
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→ Princípio da proporcionalidade
→ Princípio da imparcialidade
→ Princípio da boa-fé
→ Princípio da igualdade: é a pedra da sustentação do sistema jurídico de um
Estado de Direito Democrático, uma vez que nele se funda o próprio Direito. A
igualdade de direitos e a proibição do arbítrio são imperativos fundamentais da
justiça material efetiva.
o A desigualdade de Direito exige sempre uma fundamentação jurídica
suficientemente forte, clara e objetiva. Esta ponderação faz-se em duas
fases: primeiro verifica-se o tratamento discriminatório, ou seja, a conduta
representa uma discriminação. Em caso afirmativo, temos de passar à
segunda pergunta – está o tratamento discriminatório justificado jurídico-
constitucionalmente? – se a resposta for negativa, verifica-se a violação
do princípio da igualdade.
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Por força da CRP, podem ser invocados por qualquer cidadão, não necessitando para isso
de previsão expressa da lei, decorrendo diretamente do Estado de Direito, sendo
princípios próprios do mesmo.
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Não pode existir uma Administração que não reconheça o direito à igualdade de
oportunidades. O princípio geral da igualdade exige não só a igualdade na criação do
direito (igualdade da lei) como a igualdade de aplicação da lei e do Direito. A igualdade
na criação da lei resulta da vinculação do Estado aos Direitos fundamentais. Deve
distinguir-se o tratamento desigual do tratamento essencialmente igual. A intensidade da
proteção aumenta se o atingido não poder influenciar o tratamento desigual, se a
desigualdade dificultar o gozo de direitos. A ingerência intensa faz aumentar as
exigências de justificação jurídica. No caso de desigualdade de baixa intensidade, o
controlo jurisdicional da igualdade será também menor. S
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É sempre recomendável olhar para a estrutura do CPTA, uma vez que esta já reflete uma
dogmática jurídica. Há aqui uma sequência lógica, uma seleção das matérias mais
importantes. Iremos olhar com atenção e tentar compreender toda esta lógica, já que isto
nos ajudará a compreender todo o sistema. A estrutura do CPTA contem as matérias numa
determinada ordem e, para nossa compreensão, será importante atentar nesta ordem.
▪ Competência
▪ Atos Processuais
▪ Valor das causas e formas do processo
o 2ª Parte: Ação administrativa comum -- Na primeira versão do CPTA,
distinguia-se entre ação administrativa comum e ação administrativa
especial. No entanto, estas últimas deixaram de existir, passando a existir
apenas a ação administrativa. Porquanto, o legislador estabeleceu regimes
particulares, mas tudo dentro da categoria geral da ação administrativa
o 3ª Parte: regimes particulares (ação administrativa em especial)
o 4ª Parte: processos urgentes
o 5ª Parte: processos cautelares
o 6ª Parte: conflitos de competência jurisdicional e de atribuições
o 7ª Parte: recursos jurisdicionais
o 8ª Parte: execução
o 9ª Parte: arbitragem
o 10ª Parte: Disposições finais e transitórias
A parte mais importante será a relativa à ação administrativa. Com a reforma do CPTA,
em 2015, todos os processos passaram a tramitar-se na forma de ação
administrativa, depois de ser entendida a desnecessidade do modelo dualista, com
exceção obviamente dos processos urgentes.
Os processos, com as suas regras próprias (arts96ºssCPTA), podem assumir três tipos:
91
→ Ações populares: não são ações especiais, mas espécies qualificadas de ações.
Exemplos: ação popular local e ação popular social (art9ºnº2CPTA). Extrema
importância do art9º CPTA que vem conferir legitimidade processual para a
defesa de interesses públicos e interesses difusos.
Depois das definições dos arts35º e 36ºCPTA das formas de processo, atente-se no
art37ºCPTA.
→ Primeiro artigo da parte principal do CPTA, de acordo com o professor, uma vez
que explora o objeto da ação administrativa. O objeto distingue-se do conteúdo,
sendo que quando se fala em objeto estamos a tentar ver o âmbito de aplicação da
ação administrativa, a realidade sobre a qual incide a ação.
→ Artigo extenso no sentido formal
→ Seguem a forma da ação administrativa, com a tramitação regulada no capítulo
III do presente título, os processos que tenham por objeto litígios cuja apreciação
se inscreva no âmbito da competência dos tribunais administrativos e que nem
neste Código, nem em legislação avulsa sejam objeto de regulação especial,
designadamente:
a) Impugnação de atos administrativos; -- O contencioso já não é apenas o
contencioso de impugnação de atos, mas continua a ser, maioritariamente, este
contencioso. É claro que atos materiais da Administração que podem ser ilegais,
o ato administrativo é uma regulação individual e concreta como define o
legislador no art148ºCPA. O ato administrativo é realmente a principal forma de
atuação da Administração. Pelo menos é a mais importante juridicamente porque
contem a tal regulação individual e concreta. Atos no sentido de decisões da
Administração que podem ser impugnados.
b) Condenação à prática de atos administrativos devidos, nos termos da lei ou de
vínculo contratualmente assumido; -- repare-se que os tribunais podem condenar
a administração a atos administrativos devidos. São ordens que os tribunais dão à
Administração e esta possibilidade de os tribunais darem ordens à Administração
e de fornecerem prazos à mesma para o seu cumprimento, não afeta a separação
de poderes. Porquanto, no séc. XIX tal era inconcebível, uma vez que a separação
de poderes era entendida como a não interferência na ação de uns e outros poderes.
92
Este entendimento não tem atualidade, sendo que hoje a separação de poderes
permite que os tribunais, no cumprimento da sua função jurisdicional, possam
condenar a Administração à prática de atos administrativos devidos. Isto não
resulta de uma posição de superioridade, mas apenas do cumprimento da sua
função. Cada órgão de soberania com os seus poderes próprios atribuídos pela lei
c) Condenação à não emissão de atos administrativos, nas condições admitidas
neste Código; -- pode ser necessário condenar a Administração a um non facere,
a uma omissão
d) Impugnação de normas emitidas ao abrigo de disposições de direito
administrativo; -- este contencioso não existi a até este código, sendo que antes
as normas administrativas não podiam ser diretamente impugnadas. Hoje em dia,
não só os atos de aplicação dessas normas, mas como as próprias normas podem
ser impugnadas (diretamente).
e) Condenação à emissão de normas devidas ao abrigo de disposições de direito
administrativo;
f) Reconhecimento de situações jurídicas subjetivas diretamente decorrentes de
normas jurídico-administrativas ou de atos jurídicos praticados ao abrigo de
disposições de direito administrativo; -- se a Administração não reconhece
posições jurídicas subjetivas que resultes de normas administrativas ou atos
administrativos, pode ser condenada a esse reconhecimento por parte do tribunal
g) Reconhecimento de qualidades ou do preenchimento de condições; -- muitas
vezes a qualidade de funcionário
h) Condenação à adoção ou abstenção de comportamentos pela Administração
Pública ou por particulares; -- a adoção de um comportamento ou de um non
facere: aqui não estão propriamente em causa atos administrativos ou
regulamentos, estão apenas, de uma forma mais genérica, em causa
comportamentos.
i) Condenação da Administração à adoção das condutas necessárias ao
restabelecimento de direitos ou interesses violados, incluindo em situações de via
de facto, desprovidas de título que as legitime;
j) Condenação da Administração ao cumprimento de deveres de prestar que
diretamente decorram de normas jurídico-administrativas e não envolvam a
emissão de um ato administrativo impugnável, ou que tenham sido constituídos
por atos jurídicos praticados ao abrigo de disposições de direito administrativo,
93
e que podem ter por objeto o pagamento de uma quantia, a entrega de uma coisa
ou a prestação de um facto;
k) Responsabilidade civil das pessoas coletivas, bem como dos titulares dos seus
órgão ou respetivos trabalhadores em funções públicas, incluindo ações de
regresso; -- estas ações de responsabilidade civil são interpostas nos tribunais
administrativos e a forma dessa ação é a de ação administrativa.
l) Interpretação, validade ou execução de contratos; -- os contratos
administrativos têm muitas vezes uma relevância economicamente importante,
consubstanciando, por exemplo, contratos de parcerias público-privadas, podendo
levantar-se questões de interpretação, validade ou com a própria execução do
contrato.
m) A restituição do enriquecimento sem causa, incluindo a repetição do indevido;
n) Relações jurídicas entre entidades administrativas.
2 - [Revogado].
3 - Quando, sem fundamento em ato administrativo impugnável, particulares,
nomeadamente concessionários, violem vínculos jurídico-administrativos
decorrentes de normas, atos administrativos ou contratos, ou haja fundado receio
de que os possam violar, sem que, solicitadas a fazê-lo, as autoridades
competentes tenham adotado as medidas adequadas, qualquer pessoa ou entidade
cujos direitos ou interesses sejam diretamente ofendidos pode pedir ao tribunal
que condene os mesmos a adotaram ou a absterem-se de certo comportamento,
por forma a assegurar o cumprimento dos vínculos em causa.
Temos nos arts37ºss o objeto da ação administrativa, estando o foco neste artigo
37ºCPTA. Com a revisão de 2015, deixou de haver a dualidade supramencionada,
falando-se apenas de ação administrativa. No atual regime, com a exceção dos processos
urgentes, todos os processos de contencioso administrativo que seguem a forma de
processo de ação administrativa. Não obstante haver uma única forma de processo e
diversos preceitos gerais, existem diversas disposições particulares especialmente
adaptadas às principais pretensões correspondentes às formas típicas de exercício
administrativo.
94
Nos termos do art163ºnºs 2 e 3 (“2 - O ato anulável produz efeitos jurídicos, que podem
ser destruídos com eficácia retroativa se o ato vier a ser anulado por decisão proferida
pelos tribunais administrativos ou pela própria Administração.
3 - Os atos anuláveis podem ser impugnados perante a própria Administração ou perante
o tribunal administrativo competente, dentro dos prazos legalmente estabelecidos.”), os
atos administrativos anuláveis podem ser impugnados perante a Administração (a
chamada de impugnação administrativa em forma de recurso hierárquico) ou perante o
95
→ Esta sanção é dita compulsória, porque a sanção pecuniária não tem um fim
declarativo, mas sim obrigar a Administração a cumprir e essa sanção pode
repetir-se e agravar com o tempo, diferentemente da sanção meramente
sancionatória. Por outro lado, a pena de prisão ou a pena pecuniária não pode ser
repetida porque a pena está sujeita as garantias de legalidade, não podendo ser
repetida sem autorização da lei nem agravada sem a mesma.
o Neste sentido, a sanção pecuniária compulsória não tem caráter punitivo,
mas caráter compulsório (obrigar a Administração a cumprir alguma
coisa). Assim, ela pode ser agravada ou repetida.
96
Isto aplica-se aos tribunais superiores, especialmente quando estão em causa direitos
fundamentais. Comprova-se assim que sem se violar a separação de poderes julgar é ainda
administrar, sendo exemplo disso o art37ºh) quando prevê expressamente a possibilidade
de condenação da Administração à adoção ou omissão de comportamentos.
A al i) 37º resolve agora uma dúvida que subsistia no regime anterior, no sentido de que
os tribunais administrativos podem condenar a Administração à adoção de condutas
necessárias ao estabelecimento de direitos ou interesses violados.
Relacionado com esta matéria está o art346ºCC quanto à prova, “1. Àquele que invocar
um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito alegado.
2. A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado
compete àquele contra quem a invocação é feita.
3. Em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como constitutivos do direito.”.
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O ato impugnável é o conceito processual de ato que não coincide inteiramente como o
conceito substantivo de ato administrativo previsto no art148ºCPA. O ato inimpugnável
a que se refere o art38ºCPTA é, antes de mais, aquele ato que contem uma mera definição
de situações jurídicas sem, contudo, apresentar um conteúdo regulador do caso concreto
(isto é, uma decisão pode produzir efeitos numa situação concreta no sentido do artigo
148ºCPA). É ato impugnável o ato lesivo de direitos ou interesses legalmente protegidos,
mas a garantia de proteção contenciosa é alargada a todos os atos que, embora não sendo
lesivos de direitos ou interesses legalmente protegidos, gozam de eficácia externa.
Não é ato impugnável, mas ato meramente confirmativo o ato que tem por objeto um ato
lesivo anteriormente praticado. É possível a impugnação de um ato meramente
confirmativo por quem não impugnou um ato que não foi comunicado nem tenha sido
notificado ao destinatário. Porque a fundamentação da decisão é parte integrante do ato,
não se pode dizer que o ato que repete o conteúdo do ato previamente praticado é
necessariamente ato confirmativo dele e, muito menos, que um ato sobre assunto idêntico
é confirmativo dele. Uma diferente fundamentação pode alterar os pressupostos de
decisão e assim retirar ao segundo ato o caráter de ato meramente confirmativo.
O ato administrativo impugnável deve destinar-se a produzir efeitos externos, isto é, deve
destinar-se a produzir efeitos na ordem jurídica suscetíveis de atingir a esfera jurídica de
um ente público ou privado de modo a desencadear um efeito útil da remoção do ato. O
CPA exige que o ato administrativo impugnável produza eficácia externa: se o ato da
Administração não tem efeito externo não é impugnável.
99
ser impugnados diretamente junto dos tribunais administrativos se, ainda que tenham sido
praticados sob a forma de ato legislativo, contiverem uma decisão materialmente
administrativa, não se enquadrando na função legislativa. São atos que formalmente
surgem numa lei, mas não se enquadram na função legislativa, mas sim na função
administrativa. Os atos praticados no âmbito da função administrativa, mesmo que
praticados pelo legislador ou pelos tribunais, são atos da Administração e são suscetíveis
de impugnação contenciosa nos tribunais administrativos, verificando-se, naturalmente,
os tais requisitos da impugnação contenciosa. A função administrativa compreende os
atos de execução de atos legislativos e podem compreender, por sua vez, por exemplo, a
produção de leis e a prestação de serviços destinados a satisfazer necessidades coletivas.
100
abstratas. As leis-medida têm a sua intencionalidade de opção política original, ainda que
de conteúdo concreto. Praticado um ato sob forma administrativa ele só será ato
administrativo ele só será administrativo se estivermos perante o exercício da função
administrativa.
O Direito administrativo dá lugar à aplicação das regras gerais do ónus da prova. O ónus
da prova recai sobre a parte a quem a parte aproveita, não depende da posição das partes,
mas na sua posição substantiva jurídico-material convocada jurisdicionalmente. Salvo
disposição da lei em contrário tendo sido determinado o ónus da prova, ele subsiste intacto
ao longo de todo o processo.
Portanto, do objeto da ação administrativa, passamos para o ato impugnável. Para precisar
este conceito de ato impugnável, chama-se a atenção para a fundamentação que faz parte
do ato. A fundamentação pode contribuir para descortinar se estamos perante um ato
confirmativo ou não.
101
Neste sentido, torna-se, por vezes, necessário que se peça ao tribunal a declaração e
inexistência do ato. Porquanto, não existe um dever de obediência a um ato nulo, uma
vez que este não produz efeitos.
Interesse em agir
O demandante tem interesse em agir quando o direito carece de tutela jurisdicional efetiva
manifesta-se no interesse em recorrer a via jurisdicional, no uso da forma do processo
adequada para fazer valer o interesse jurídico e material violado ou posto em perigo.
102
20.02.2021
Processo eletrónico
Os processos nos Tribunais Administrativos são eletrónicos, sendo constituídos por uma
informação estruturada.
→ Esta foi uma alteração que, na altura, criou algumas dificuldades técnicas.
Os atos processuais devem, assim, ser praticados por escrito, por via eletrónica. No
entanto, o art24ºnº5CPTA consagra exceções a este princípio, mas, em regra, vigora o
princípio do processo eletrónico.
→ Contencioso eleitoral
→ Contencioso pré-contratual
→ Intimação para prestação de informações, consulta de documentos ou
passagem de certidões
→ Intimação para a defesa de direitos, liberdades e garantias
→ Providências cautelares
103
→ Isto é de uma grande utilidade prática porque, infelizmente, temos ainda muitos
serviços públicos que não salvaguardam devidamente estes direitos.
Temos ainda a intimação para defesa de direitos, liberdades e garantias e, por fim, as
providências cautelares.
→ O julgamento dos processos urgentes tem lugar com prioridade sobre os demais,
logo que o processo esteja pronto para decisão.
→ O juiz, perante esse requerimento, analisa o bem fundado do interessado e, em
princípio, intima os serviços e entidades para precisamente permitirem a consulta
de processo, a prestação de informações, etc. Até porque, por exemplo na
prestação da informação, a Administração, muitas vezes, não é muito clara
relativamente a certas decisões, adotando critérios que não são muito claros,
objetivos e transparentes como deviam ser e, por vezes, essa falta de clareza
resulta da falta de interesse em ser cumpridora escrupulosa da lei.
o A nossa Administração tem de ser clara, objetiva e transparente, sendo
estes requisitos essenciais de uma boa administração. No entanto, estes
requisitos não permitem, por vezes, atingir certos objetivos e quem tem o
poder tende a abusar do mesmo (na opinião do professor).
O interesse prático dos processos urgentes reside no facto de estes serem baratos e céleres,
tendo, assim, bastante utilidade para os cidadãos e também para os operadores do Direito
(advogados, …)
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105
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Esta matéria vem prevista no art67ºCPTA quanto aos pressupostos desta condenação,
sendo que a condenação em si vem prevista nos arts66ºssCPTA. Há uma secção do CPTA
especificamente dedicada à condenação à prática de ato devido, sendo que a ação
administrativa pode ser utilizada para obter a condenação da entidade competente à
prática, dentro de um determinado prazo, de um ato administrativo ilegalmente omitido
ou recusado como, por exemplo, a emissão de uma licença.
Falamos aqui da impugnação direta da norma e não da impugnação indireta que resulta
da impugnação de atos administrativos que concretizam a norma. Esta impugnação direta
é uma novidade no nosso ordenamento jurídico, uma vez que antigamente apenas era
possível a impugnação indireta (tal alterou-se com a entrada em vigor do atual CPTA).
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O sucesso de uma ação nos tribunais administrativos começa logo com a satisfação de
determinadas exigências formais.
A instância constitui-se com a propositura da ação e esta considera-se proposta logo que
a petição inicial seja recebida pela secretaria do tribunal para o qual é dirigida a
propositura da ação. É preciso pagar a taxa de justiça e com essa prova de pagamento da
mesma a secretaria dá entrada da petição e então inicia-se a instância.
→ O pedido tem de ser formulado expressa, clara e objetivamente para que o juiz
fique a saber, sem margem para dúvidas, em que consiste o pedido e também se
este é legítimo ou não: formular o pedido é declarar o valor da causa – as causas
têm valor, nos termos da lei, e esse valor tem de ser declarado sendo relevante
juridicamente, por exemplo, para efeitos de eventual recurso.
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Chama-se a atenção para o art78ºA (introduzido em 2015) que versa sobre o regime dos
contrainteressados: quando o autor não conheça no todo ou em parte a identidade e
residência dos contrainteressados, pode requerer à Administração, previamente à
propositura da ação, a passagem de certidão em que constem estes elementos dos
contrainteressados. Este artigo veio colmatar uma lacuna relativamente a esta matéria.
Tentativa de reconciliação
Este é um regime novo que está previsto nos arts87ºA ss CPTA, tendo sido introduzidos
posteriormente à entrada em vigor do código. Esta consagração demonstra a tendência
evolutiva do contencioso administrativo de se aproximar ao regime do processo civil,
prevendo o art87ºA a realização de audiência prévia e o art87ºC a tentativa de conciliação
e mediação.
Esta tentativa de conciliação deve ser explorada ao máximo, sendo que grande parte dos
conflitos que surgem entre a Administração e particulares resultam, em larga medida, da
falta de diálogo. Esta permite a resolução do litígio sem mais delongas, sendo uma medida
que a favor da economia processual.
1 - Quando a causa couber no âmbito dos poderes de disposição das partes, pode ter
lugar, em qualquer estado do processo, tentativa de conciliação ou mediação, desde que
as partes conjuntamente o requeiram ou o juiz a considere oportuna, mas as partes não
podem ser convocadas exclusivamente para esse fim mais do que uma vez. É claro que a
mediação pressupõe que as partes estejam de acordo em resolver as coisas através da via
consensual. Na opinião do professor, a mediação devia ser encarada na Administração
Pública como algo normal, evitando-se que muitos processos dessem entrada e, tendo
dado entrada, o legislador admite na mesma esta tentativa de conciliação e mediação. No
entanto, muitas vezes, a Administração não pretende dialogar, preferindo ter uma postura
autoritária e distante, mas isto não corresponde ao modus operandi normal de uma
110
27.04.2021
Contrainteressados
Exemplos de contrainteressados:
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quer manter a decisão, vai aproveitar a audiência prévia para corrigir alguns erros
que eventualmente possa ter cometido. Ao corrigir esses erros, embora mantendo
a decisão, está a retirar a possibilidade de anulação judicial da deliberação e,
portanto, muitas vezes, a forma mais inteligente de lidar com este tipo de decisões
(quando é visível que o júri quer colocar na vaga um qualquer candidato) será não
“abrir o jogo”, ver os erros que sabe que à partida levaram à anulação da decisão.
Isto quando se percebe que o júri já está “fixado” numa decisão. Se o júri não
alterar a decisão, há base sólida para ir a tribunal e, com segurança, obter a
anulação da decisão do júri, uma vez que existem vícios que, pela sua gravidade,
levam automaticamente à anulação do ato.
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Audiência Prévia
c) Discutir as posições das partes, com vista à delimitação dos termos do litígio, e suprir
as insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto que ainda subsistam
ou se tornem patentes na sequência do debate;
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conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir, assegurando um
processo equitativo.
3 - O despacho que marque a audiência prévia indica o seu objeto e finalidade, mas não
constitui caso julgado sobre a possibilidade de apreciação imediata do mérito da causa.
4 - Não constitui motivo de adiamento a falta das partes ou dos seus mandatários.
Este artigo e os seguintes consubstanciam um passo na direção certa, uma vez que
promovem o diálogo entre as provas, sendo uma das formas de realizar uma justiça mais
consensual e muitíssimo mais célere.
A audiência prévia também vem prevista, obviamente, nos arts87ºB e 87ºC, sendo que
este último versa sobre a tentativa de conciliação e mediação que pode ter lugar em
qualquer estado de processo, desde que as partes conjuntamente o requeiram e o juiz
concorde. Isto é uma inovação, sendo eu o processo nos tribunais administrativos era
predominantemente escrito, sendo que tal só não acontecia em casos muito excecionais.
Antigamente não existiam sequer salas de julgamento, mas a evolução tem caminhado
neste sentido de aproximar um pouco os tribunais administrativos do processo nos
tribunais civis, especialmente naquilo que pode contribuir para uma justiça mais célere.
O professor entende que estes são passos na direção certa, acreditando que não se deve
prender nas exceções do art89ºCPTA, entendendo que aqui vigora o princípio da boa-fé.
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Estas exceções são obstáculos ao conhecimento da matéria em causa. É claro que, nos
limites da boa-fé, estas exceções podem e devem ser invocadas. O que e aqui exigido é
considerado importante para a boa administração.
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Salienta-se esta figura que permite que, num tribunal de primeira instância, surgindo uma
dúvida, este tribunal pode pedir uma pronúncia ao STA. Já conhecemos a figura do
reenvio prejudicial do Direito da União Europeia e esta figura de que falamos agora
assemelha-se a esse reenvio. Esta consulta prejudicial para o STA está prevista no
art93ºCPTA.
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voto, uma vez que ao participar nos debates pode apresentar argumentos
que alteram a opinião dos seus colegas, influenciando a formação da
vontade coletiva) não se forma a vontade coletiva. Salienta-se que os atos
praticados sob coação são nulos.
Conteúdo da sentença
Vem previsto no art94ºCPTA, sendo que as sentenças estão sujeitas a um forte rigor
porque o legislador quer assegurar que as mesmas configurem a materialização da justiça
no caso concreto e, para isso, ela deve cumprir determinadas exigências formais, mas
também materiais.
→ Esta identificação das partes, mas sobretudo do objeto do litígio visa, logo à
partida, identificar a matéria sobre a qual vai ser proferida a sentença, enunciando
as questões de mérito que ao tribunal compete apreciar, ao que se segue a
exposição os fundamentos de Direito. Não é só o ato administrativo que tem de
ser fundamentado, a fundamentação é essencial para se obter uma boa decisão,
sendo que quando o legislador obriga a Administração a fundamentar os seus atos
fá-lo, não só por uma questão de garantia dos administrados, mas também por
uma preocupação de ponderar a melhor decisão. O mesmo acontece com a
sentença judicial, a fundamentação faz parte da sentença, tal como nos atos
sujeitos a fundamentação.
→ A fundamentação permite mostrar aos destinatários a racionalidade e os bons
fundamentos da decisão do tribunal. Portanto, aqui falamos de fundamentos de
facto e de direito.
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→ Devem estes factos ser discriminados por uma questão de transparência, clareza e
objetividade.
Estes estão previstos no art95ºCPTA, sendo o legislador muito exigente devido à sua
preocupação com o garantir que a decisão realize a justiça no caso concreto.
→ O juiz tem mesmo de apreciar todas as situações e questões que lhe sejam
suscitadas pelas partes como, por exemplo, a boa-fé das partes. Isto significa que
este tem de se pronunciar sobre tudo.
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→ Tem de apreciar todas as questões submetidas, sem prejuízo da lei lhe exigir o
conhecimento oficioso de outras.
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Execução da Sentença
Esta é uma matéria é muito importante, tendo sofrido alterações ao longo dos anos. É
fundamental para a garantia dos direitos dos administrados.
Agora isto não acontece, sendo que quando a Administração é condenada terá de
cumprir e é aqui que surge esta matéria da execução da sentença. No art158ºCPTA
vem prevista a obrigatoriedade das decisões judiciais, sendo que o processo
executivo está consagrado nos arts157ºssCPTA.
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→ Há aqui uma certa supremacia das decisões judiciais, sendo este um princípio
que obriga as entidades públicas e privadas e prevalece sobre quaisquer
autoridades administrativas.
O art159ºCPTA consagra a inexecução ilícita das decisões judiciais: “1 - Para além dos
casos em que, por acordo do interessado ou declaração judicial, nos termos previstos no
presente título, seja considerada justificada por causa legítima, a inexecução, por parte
da Administração, de sentença proferida por um tribunal administrativo envolve:
a) Responsabilidade civil, nos termos gerais, quer da Administração quer das pessoas
que nela desempenhem funções;
b) Responsabilidade disciplinar, também nos termos gerais, dessas mesmas pessoas.
2 - A inexecução também constitui crime de desobediência qualificada, sem prejuízo de
outro procedimento especialmente fixado na lei, quando, tendo a Administração sido
notificada para o efeito, o órgão administrativo competente:
a) Manifeste a inequívoca intenção de não dar execução à sentença, sem invocar a
existência de causa legítima de inexecução;
b) Não proceda à execução nos termos que a sentença tinha estabelecido ou que o
tribunal venha a definir no âmbito do processo de execução.”
121
vez que o objetivo é restituir a situação que existiria se não tivesse ocorrido a
ilegalidade. Salienta-se a idade da reforma como limite.
11.05.2021
Nos artigos iniciais relativos às funções dos tribunais, na sequência do que determina
a CRP, o Código determina que é função dos tribunais assegurar a tutela jurisdicional
efetiva, concretamente assegurar o controlo da legalidade. O legislador exclui o
controlo da oportunidade e conveniência, portanto, que a competência dos tribunais é
assegurar o controlo da legalidade, sendo que esse controlo não abarca poderes
discricionários.
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Há, portanto, uma omissão do controlo jurisdicional, havendo um recuo forte dos
próprios tribunais que tem como reflexo uma desproteção dos cidadãos, uma vez que
estes últimos recorrem aos tribunais, pedindo o controlo dos atos da Administração,
e os tribunais, muitas vezes, afirmam que não podem controlar porque entendem
tratar-se de competência própria da Administração. Perante este tipo de decisões, resta
ao cidadão apenas aceitar, não havendo mais nada a fazer.
123
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→ Esta é uma posição de parte da doutrina, com a qual o professor está em pleno
desacordo, uma vez que a discricionariedade administrativa não depende do
tribunal, mas sim do legislador, já que só ele confere poderes à Administração.
o O conceito negativo de discricionariedade, isto é, a discricionariedade
como um espaço em que o tribunal administrativo não pôde ou não
quis controlar, significa a negação da discricionariedade e constitui um
perigo para a proteção jurídica dos cidadãos.
o Este conceito negativo reflete-se como desvantagem também para a
Administração, pois não delimita com exatidão os seus poderes. Até o
125
126
Em geral, verifica-se uma redução da discricionariedade a zero. Esta figura foi criada
em 1987. Quando um poder discricionário, atribuído pelo legislador, se converte, pela
aplicação de princípios vigentes, dá-se a criação de um poder vinculado.
127
Reflexo que a noção de poder funcional tem no que respeita a esta vontade subjetiva
e à vontade funcional do titular do órgão
128
saber se este é legítimo ou bem exercido. No entanto, o poder público é um poder da lei
e não pessoal e este poder configura a ideia de que “o poder é dever”.
→ Foi contra este entendimento que se insurgiu a ideia de que o interesse público é
pilar fundamental do Estado de Direito sendo um problema essencialmente
jurídico e não antijurídico, surgindo no Direito e existindo para este. O primeiro
e fundamental interesse público, que condiciona todos os outros interesses
públicos, reside na observância da lei, antes de mais, da CRP e do Direito. Como
Estado de justiça material, o Estado de Direito apenas admite a justa apreciação
ou a justa valoração. Tudo para além disto é inconstitucional e ilegal, a justa
apreciação e valoração traduzem-se numa única decisão, no caso concreto. Esta é
uma questão que exige um controlo jurisdicional tão intenso quanto possível,
porque só este é capaz de assegurar a justiça material, por isso, o tribunal, não
pode limitar-se a cumprir mínimos.
o O tribunal exerce este controlo máximo presumindo-se que tenha
condições concretas para tal exercício. O controlo máximo pode ser um
controlo pleno (e tem de ser pleno no caso do poder vinculado), mas em
certas circunstâncias tal plenitude não é possível, o que interessa é que no
caso concreto o tribunal vá tão longe quanto possível (cumpre-se aqui o
princípio da tutela jurisdicional efetiva).
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18.05.2021
A sentença -- revisão
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Esta sentença, no mínimo, será anulável, sendo que, no caso de haver a fundamentação
exigida por lei, ela faz parte do ato. Se a fundamentação for obscura, a consequência é a
anulabilidade do ato, sendo que consubstancia um vício de violação de lei. Se isto é válido
para o ato administrativo, por maioria de razão, deve ser válido para a sentença.
Quando alguém vê que a sua pretensão vingou, o tribunal manda as partes dialogarem
para chegar a acordo, sendo que se não chegarem a acordo o tribunal vai promover as
diligências necessárias. É muitas vezes aqui que o cidadão pode não ser indemnizado.
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