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CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
INTRODUÇÃO
sendo tendência dos dias de hoje a opção por um modelo subjectivista ainda
que não puro : a Administração tem o dever de executar as sentenças dos
tribunais administrativos, os modelos organizativos administrativistas estão
ultrapassados ( já que ninguém defende que o poder de decisão em matéria de
contencioso administrativo deva caber a órgãos da Administração activa ), etc.
Os Modelos Organizativos :
A) Tendo em conta o órgão a quem é atribuída a competência para decidir
(órgãos da Administração activa , tribunais , ou autoridades “judiciárias” –
estes últimos órgãos administrativos independentes, com funções de
controle ), pode-se dizer que existem 3 modelos básicos de organização ou
Modelos organizativos
verdadeiros tribunais judiciais , mas as sentenças por eles ditadas não têm
verdadeira força executiva ou esta encontra-se limitada perante a
Administração (esta sujeita a publicação por esta, ou dependendo da boa
vontade administrativa em executar).
Conclusão : os modelos administrativistas , puros ou mitigados, já não existem
actualmente e a generalidade dos países adoptou modelos organizativos
judicialistas , tendo-se tornado inquestionável, com a emergência do Estado
de Direito social, a jurisdicionalização plena do contencioso administrativo .
ser o recurso contencioso contra actos), bem como a nova figura impugnatória
do pedido de declaração de ilegalidade de normas (abrangendo também os
regulamentos );
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Igualdade das partes → Art. 6º: Tal como prevê o homólogo Art. 3º-A CPC ,
consagra-se a possibilidade de os tribunais administrativos aplicarem sanções
a qualquer das partes por litigância de má fé (incluindo, no entendimento
actual contrário ao tradicional, as próprias entidades administrativas ) –
importante contributo para esta igualdade é a obrigatoriedade das partes ao
pagamento de custas (Art. 189º ). O tribunal deve assim, na prossecução deste
objectivo, actuar com imparcialidade , auxiliando e informando do mesmo
modo qualquer uma das partes, em ordem a garantir a sua igualdade no
processo.
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Excepções ao art.º 9º, n.º1 : legitimidade activa nas acções sobre contratos
administrativos e no âmbito da acção administrativa especial :
A) Legitimidade activa nas acções sobre contratos ⇒ Art.º 40º CPTA : ao
contrário da solução tradicional do Art.º 825º do Código Administrativo , as
acções sobre contratos administrativos deixam de poder ser propostas
somente pelas entidades contratantes , isto porque, quer na fase pré-
contratual quer na fase de execução contratual, releva o interesse público e
de terceiros interessados , nomeadamente no que diz respeito à discussão
sobre a validade dos contratos. Quais então esses “ terceiros ” alheios à
contratação que passam a estar legitimados para invocar a sua invalidade
total ou parcial? ⇒ Art.º 40º, n.º1 CPTA
1º - MP e outros detentores da acção pública ⇒ Art.ºs 51º ETAF e 40º, n.º1,
al. b) CPTA (semelhante ao Art.º 77º, n.º1 , quanto ao contencioso da omissão
ilegal de normas regulamentares )
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5º - Interessado que tenha sido prejudicado pelo facto de não ter sido, pura e
simplesmente, adoptado o procedimento pré-contratual exigido por lei ⇒
Art.º 40º, n.º1, al. c) : caso paradigmático do interessado em participar num
concurso público cuja realização a lei impunha, quando a Administração afinal
não proceda à sua realização, porventura optando ilegalmente pela conclusão
de um ajuste directo (escolha discricionária do candidato por parte da
Administração) e celebrando, desse modo, um contrato também ele ilegal .
6º - Quem tenha sido ou possa vir a ser previsivelmente lesado nos seus
direitos ou interesses pela execução do contrato
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especial , tramitada nos termos dos Art.ºs 78º e ss . Por seu turno, nos Art.ºs
50º e ss., o CPTA estabelece um conjunto de requisitos de que depende a
actuação em juízo desses quatro tipos de pretensões especiais, referindo-se
designadamente à questão da legitimidade para a dedução das mesmas. No
âmbito desta nova forma de processo está bem patente a filosofia do novo
contencioso administrativo , numa busca de um equilíbrio entre dimensão
subjectiva e objectiva : aquela forma de processo destina-se a proporcionar
aos cidadãos a mais efectiva tutela dos seus direitos e interesses ao mesmo
tempo que diz respeito ao exercício de poderes de autoridade por parte da
Administração no respeito pelo Princípio da Legalidade e ao abrigo da
prossecução do interesse público . Vejamos agora os requisitos relativos à
legitimidade activa no âmbito de cada uma dessas quatro pretensões:
impugnação de AA, condenação à prática de AA legalmente devido,
impugnação de regulamentos e declaração de ilegalidade por omissão de
regulamento.
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c) MP, embora este aqui não intervenha com o genérico propósito previsto no
art.º 51º ETAF . Esta alínea circunscreve assim o âmbito do exercício da acção
pública às situações de omissão ilegal em que (1) o dever de praticar o AA
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que ele não seja anulado e se mantenha pelo contrário na ordem jurídica , ou
que ele não seja praticado e se mantenha tudo como está , isto
respectivamente, nos processos de impugnação e de condenação à prática de
actos devidos. Aroso de Almeida dá um exemplo – ao interesse do vizinho que
pretende a impugnação de uma licença de construção contrapõe-se, pelo
menos, o interesse do proprietário em cuja esfera jurídica a licença constituiu
o direito de construir. Isto porque ambos são titulares de verdadeiros direitos
subjectivos , cuja consistência jurídica é posta em causa em tal processo
impugnatório (como o seria num processo de condenação).
Assim, embora o objecto destes processos se defina por referência à posição
em que a Administração se encontra colocada (se é ou não anulado o acto por
ela praticado ou se esta é ou não condenada a praticar um acto), os contra-
interessados surgem, ao abrigo da previsão do n.º1 do art. 10º , como
verdadeiras partes demandadas , em situação de litisconsórcio necessário
passivo e unitário com a entidade pública . Assim, os mesmos deverão no
processo ser citados, em virtude das consequências gravosas que da sua falta
resultaria: quer a sua ilegitimidade passiva (cfr. art.ºs 78º, n.º2, al. f ) , 81º,
n.º1 e 89º, n.º1, al. f ) ), quer a inoponibilidade da decisão judicial que
porventura venha a ser proferida à revelia dos contra-interessados (cfr. art.º
155º, n.º2 ).
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d) O CPTA , ao abrigo das regras dos Art.ºs 51º e 59º, n.ºs 4 e 5 , não exige que
os AA tenham sido objecto de prévia impugnação administrativa para que
possam ser objecto de impugnação contenciosa, isto é, a utilização de vias de
impugnação administrativa não é necessária para aceder à via contenciosa .
Assim, não se pode dizer que só existe interesse processual no recurso à via
contenciosa quando o autor demonstre ter tentado infrutiferamente remover
o acto pela via administrativa extrajudicial . Com efeito, a nossa lei admite o
recurso directo à via judiciária , pelo que o autor pode por ela optar de
imediato sem ter de explicar a sua opção . Não obstante, nos termos do art.º
51º, n.º1 , todos os AA com eficácia externa poderem ser objecto, desde logo,
de impugnação contenciosa , ressalvam-se as situações de impugnações
administrativas necessárias , quando previstas expressamente na lei . Aqui
sim, o recurso directo à via contenciosa faz com que a sua pretensão seja
rejeitada , porque a lei exige o prévio recurso administrativo e não reconhece
o interesse processual daquele que recorre directamente à via contenciosa .
Assim, na ausência de determinação legal expressa em sentido contrário,
todos os actos administrativos com eficácia externa podem ser, desde logo,
objecto de impugnação contenciosa.
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Pluralidade de partes :
→ O CPTA admite nos mais amplos termos a existência de situações de
pluralidade de partes, seja sob a forma de coligação , seja sob a forma de
litisconsórcio , necessário ou voluntário . Quanto à coligação , veja-se o art.º
12º CPTA . Quanto ao litisconsórcio , são aplicáveis as regras supletivas do
processo civil , nomeadamente o art.º 28º CPC .
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A Parte Geral do CPTA termina com o Capítulo V, dedicado ao valor das causas
e às formas do processo.
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Nos termos do Art. 460º n.º2 CPC , o processo especial aplica-se aos casos
expressamente designados na lei (são situações por isso específicas ou
particulares ), sendo o processo comum aplicável a todos os casos a que não
corresponda processo especial . O mesmo é dito no Art. 37º n.º1 CPTA , que
delimita o campo de aplicação da Acção Administrativa Comum . Nos termos
dos Arts. 35º e 37º n.º1, seguem portanto a forma da acção administrativa
comum todos os processos em que não seja formulada nenhuma das
pretensões para as quais o CPTA estabelece um modelo especial de tramitação
(previstas no Art. 46º do diploma). A acção administrativa comum é, assim, o
processo comum do contencioso administrativo , não por uma qualquer razão
estatística ou quantitativa (sendo indiferente o facto de ser ou não a forma
de processo mais utilizada ), mas porque a ele não são inerentes quaisquer
exigências especiais que obriguem um tratamento ou tramitação especial,
como acontece com o caso paradigmático da impugnação de AA . Por este
motivo determina o Art. 5º que, sendo cumulada uma pretensão de natureza
especial com uma outra que não apresente qualquer especificidade e que por
isso possa ser tramitada segundo o modelo processual comum, deverá a acção
ser tramitada segundo a forma especial de processo , uma vez que não
desaparecem pelo simples facto da cumulação as razões que justificam a
recondução do processo à forma da acção administrativa especial .
Dir-se-á, por outro lado que, ao passo que a acção administrativa especial
tem por objecto a fiscalização do exercício dos poderes de autoridade da
Administração , a acção administrativa comum surge antes vocacionada para
dirimir litígios emergentes de relações jurídicas paritárias . Esta é a regra,
sendo a excepção o exercício de tais poderes de império , submetidas à forma
de processo especial , de acordo com um Princípio de tipicidade .
Um aspecto importante a referir neste âmbito é o que diz respeito ao
preceituado no Art. 38º n.º1 , nos termos do qual os tribunais administrativos,
no âmbito de processos não-impugnatórios , submetidos à forma da acção
administrativa comum , podem conhecer, a título incidental , da ilegalidade
dos actos administrativos que já não possam ser impugnados . Não está aqui
em causa qualquer solução substancial que trave o decurso do prazo de
impugnação de um AA ilegal no sentido de evitar a sua consolidação na ordem
jurídica. Não, o que está aqui em causa é uma solução estritamente
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O CPTA institui e regula, nos Arts. 46º e ss. CPTA , uma forma específica de
processo a que dá o nome de acção administrativa especial , devendo seguir a
tramitação especial desta forma de processo (prevista nos Arts. 78º e ss.
CPTA) os quatro tipos de pretensões enunciados pelo n.º2 do Art. 46º CPTA:
1º - Impugnação de AA , dirigida à respectiva anulação ou declaração de
nulidade ou inexistência
2º - Condenação à prática de AA ilegalmente recusados ou omitidos
3º - Impugnação de normas regulamentares, dirigida à declaração da
respectiva ilegalidade
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Por outro lado, a impugnação dos AA de conteúdo positivo pode não ser total ,
isto é, pode dizer respeito apenas a algumas cláusulas por ventura acessórias
que nele tenham sido introduzidas levando o interessado a julgar que aquele
acto não satisfaz cabalmente as suas exigências ou interesses . Neste caso,
bastará ao interessado pedir a impugnação de tal acto, pedindo a sua
anulação na parte em que ele lhe seja desfavorável .
Imagine-se, todavia, a situação do AA que se destina a produzir efeitos no
futuro, quando o interessado pretendia o início imediato da produção dos
seus efeitos . Neste caso, considera-se que a sua pretensão foi parcialmente
indeferida por aquele acto, para o efeito de se reconhecer ao interessado a
possibilidade de deduzir um pedido de condenação à prática do acto nos
termos em que ele deveria ter sido praticado . Assim, com o pedido de
impugnação do AA (que, não obstante, não é puro acto de indeferimento ,
apesar de não satisfazer cabalmente os interesses do seu destinatário), o
interessado deverá cumular o pedido de condenação da Administração à
prática do acto devido, ao abrigo do disposto nos Arts. 47º n.º2 a) e 70º n.º3
CPTA.
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Por isso, ele não pode ser impugnado, como determina o artigo 53º:
Art. 53º a) – não pode o acto meramente confirmativo ser aproveitado para
reabrir um litígio (inútil), daí que não possa ser impugnado por quem tenha
impugnado a decisão anterior, que o novo acto se limita a confirmar.
Art. 53º b) – se o acto anterior não tiver sido impugnado mas tiver sido
notificado ao autor, não pode este vir impugnar o acto confirmativo daquele.
Art. 53º c) – se o acto anterior não tiver sido impugnado mas tiver sido
publicado , sem que houvesse necessidade de o mesmo ter sido notificado ao
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autor, não pode este vir impugnar o acto confirmativo, na medida em que,
com a publicação , o acto anterior ter-se-á tornado autonomamente oponível
ao autor , que o deveria ter impugnado tempestivamente.
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Diremos, assim, com Aroso de Almeida , que o Art. 53º CPTA vale, em segunda
linha, para os actos de execução ou de aplicação de AA, na parte ou na
medida em que eles se limitem a reiterar a definição introduzida pelo acto
que executam ou aplicam .
5. Impugnabilidade de AA ineficazes
→ Diz-se correntemente que a eficácia dos AA é requisito da respectiva
impugnabilidade , pretendendo com isto dizer-se que um AA só será
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b) quando seja seguro ou muito provável que o acto irá produzir efeitos – no
respeito pelo Art. 7º, caberá ao tribunal determinar o alcance desta fórmula
genérica que apresenta o exemplo da ineficácia do acto se dever apenas ao
facto de o mesmo estar sujeito a uma condição suspensiva ou a um termo
inicial que dependa da vontade do beneficiário – caso do empreendimento
público cuja construção se insere na vontade política dos governantes ,
estando aquela apenas dependente do cumprimento de algumas formalidades.
• Nestes casos, considera-se existir interesse processual desde que se
justifique o fundado receio das consequências que resultarão da produção de
efeitos (cuja probabilidade é fortíssima ou quase certa ) e eventual execução
do acto (ainda) ineficaz .
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A impugnação de actos ineficazes é, nos termos do Art. 54º n.º1 , uma mera
possibilidade e não um ónus sujeito a prazo , pelo que só a partir do momento
em que se preencham os requisitos de que depende a sua eficácia é que
começam a correr os prazos de impugnação e que, portanto, se constitui o
ónus da impugnação tempestiva dos actos ineficazes . Assim se compreende o
disposto no n.º3 do Art. 59º , o qual pressupõe a eficácia do acto a impugnar
e, por isso, não se aplica se esse acto estiver sujeito a publicação obrigatória .
Isto porque, neste caso, só após a publicação obrigatória é que se constitui o
ónus da sua impugnação e começam a correr os respectivos prazos.
Desde que ainda não tenha expirado o mais longo dos prazos de impugnação –
prazo de 1 ano de que dispõe o MP –, qualquer das pessoas ou entidades
legitimadas a impugnar podem fazê-lo mesmo já depois de decorrido o prazo
de 3 meses dentro do qual, em princípio, o deveriam ter feito. Isto desde que
o tribunal considere demonstrada a ocorrência de uma das circunstâncias
taxativamente previstas no n.º4 do Art. 58º CPTA , que determinou que a
tempestividade da apresentação da petição não pudesse ser exigível a um
cidadão normalmente diligente :
a) se o interessado não impugnou no prazo de 3 meses por ter sido levado em
erro pela Administração ou por esta ter agido mesmo de má fé – caso da
Administração que havia prometido ao interessado revogar o acto apesar de
na verdade o não ter feito;
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• Como resulta do Art. 58º n.º3 CPTA , conjugado com o n.º4 do Art. 144º
CPC, os prazos de impugnação de AA contam-se segundo uma regra de
continuidade estabelecida pelo Art. 144º CPC : os prazos são contínuos ,
suspendendo-se nas férias judiciais (salvo o caso de o impugnante ser o MP),
e no caso de terminarem num dia em que os tribunais estejam fechados ou
haja tolerância de ponto , serão prolongados para o primeiro dia útil seguinte .
O Art. 59º n.º1 (cfr. também o Art. 132º n.º1 CPA ) torna bem claro que a
notificação , garantida no Art. 268º n.º3 CRP , é condição absoluta de
oponibilidade dos AA aos destinatários que deles devam ser notificados (cfr.
Arts. 66º e ss. CPA ), independentemente da eventual publicação obrigatória ,
começando os prazos de impugnação a correr deste o momento da
notificação . Só não são, entretanto oponíveis aos interessados a notificação
ou a publicação incompreensíveis , que não dêem sequer a conhecer o sentido
da decisão (Art. 60º n.º1 ). Diversamente, quando essa notificação padeça de
deficiências menores , caberá aos interessados requerer a notificação das
indicações em falta ou a passagem de certidão que as contenha (Art. 60º
n.º2), sendo que esse requerimento, apresentado no prazo de 30 dias,
interrompe o prazo de impugnação do acto (Art. 60º n.º3 ), dispondo a
Administração de um prazo de 10 dias para responder ao requerimento (Art.
71º CPA). No caso de esse mesmo requerimento vir a ser indeferido ou não
der integral satisfação ao pedido no prazo devido, o interessado pode pedir
que a Administração seja judicialmente intimada a fornecer-lhe as
informações ou a passar a certidão requeridas (cfr. Arts. 60º n.º2, in fine e
104º e ss. CPTA ): o processo de intimação judicial é um processo acessório ou
instrumental em face de outros meios de tutela, e produz um efeito
interru ptivo do prazo de impugnação do AA (cfr. Arts. 60º n.º3 e 106º), com a
ressalva prevista no n.º2 do Art. 106º CPTA .
Deduz-se ainda do n.º4 do Art. 60º , por outro lado, que o interessado deve
ser admitido a suprir as falhas (cfr. Arts. 88º e 89º) de que possa enfermar a
petição apresentada, sempre que essas falhas sejam imputáveis a erros ou
omissões cometidos na notificação ou na publicação do acto , os quais não são
oponíveis ao interessado .
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III – Da Instância
→ Os Arts. 61º-65º CPTA consagram um conjunto de aspectos relativos ao
desenvolvimento da instância nos processos de impugnação de AA. Não são
preceitos relativos à marcha do processo , porque não se reportam a
momentos necessários da tramitação processual, mas são relativos a
vicissitudes por que pode passar a instância, que apenas podem ter lugar em
processos de impugnação de AA, entre os quais se contam os fenómenos de
modificação objectiva e subjectiva da instância .
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b) Nos restantes n.ºs do Art. 65º têm-se em vista, como resulta do seu n.º2,
todas as hipóteses em que, por qualquer motivo, a produção de efeitos do
acto impugnado cesse ou se esgote , o que naturalmente compreende a
hipótese de revogação abrogatória ou extintiva , mas também as situações
em que a eficácia do acto se tenha esgotado, seja pelo puro decurso do
tempo porventura pré-estabelecido, seja por dele terem sido extraídas todas
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É facto inegável que, quanto mais amplo for o objecto de um processo, mais
estável será, na verdade, a definição que dele resulta: se o processo for
julgado procedente, os limites que da sentença decorrem quanto à actuação
futura da Administração serão tanto mais extensos quanto mais alargada tiver
sido a apreciação que o tribunal tiver realizado .
Defende Aroso de Almeida que a previsão do n.º2 do Art. 95º CPTA não
representa um desvio ou excepção ao princípio do pedido , segundo o qual as
indagações do juiz estão limitadas à causa de pedir, aos factos que foram
invocados pelo autor e pela contraparte . O autor sustenta a sua posição no
entendimento de que a pretensão anulatória deve ser vista em termos
unitários ou plenos , abrangendo todos os vícios que justifiquem a
ilegalidade enquanto fundamento do próprio processo de impugnação . Ou
seja, na verdade, todas as possíveis causas de invalidade de que padeça o
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Nos termos dos Arts. 67º n.º1 a) e 69º CPTA , existe um prazo legal para a
prática do acto devido, após o qual o interessado se pode considerar
dispensado de continuar a aguardar a decisão da Administração , ficando
habilitado ou legitimado a exigir contenciosamente o acto devido . Na
ausência de disposição especial, as regras a que obedece esse prazo
continuam a ser determinadas pelo Art. 109º n.ºs 2 e 3 CPA .
Por outro lado, em casos de omissão ou recusa de um órgão subordinado ,
haverá lugar à interposição de recurso hierárquico necessário sempre que
este seja exigido por lei especial . Este recurso, que tem por objecto a própria
conduta factual de inércia do subordinado , deverá, por analogia, estar sujeito
ao prazo de interposição previsto no n.º1 do Art. 69º CPTA . Nestes termos,
tendo sido interposto recurso hierárquico necessário sem que tenha havido
qualquer resposta do superior, o recurso deve considerar-se tacitamente
indeferido para o efeito de permitir que o interessado requeira ao tribunal
administrativo competente a condenação da Administração (enquanto pessoa
colectiva pública ) à prática do AA devido .
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Pode dizer-se, em bom rigor, que sempre que esteja em causa o exercício de
poderes discricionários da Administração, a densificação do conteúdo da
sentença condenatória passa, em maior ou menor medida, pela identificação
e afirmação das ilegalidades de que enfermava o acto de recusa . É esse
accertamento judicial que projecta um efeito preclusivo mais ou menos amplo
sobre o subsequente reexercício do poder por parte da Administração.
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Por outro lado, o lesado por uma norma directamente aplicável mas já
incidentalmente julgada ilegal por três vezes, não está obrigado a pedir a
declaração de ilegalidade com força obrigatória geral , podendo pedir que a
declaração seja proferida com efeitos circunscritos ao seu caso de modo a
evitar o risco de se ver confrontado com uma decisão de limitação de efeitos .
O interessado pode pedir a declaração de ilegalidade sem força obrigatória
geral, sem prejuízo da faculdade que igualmente lhe assiste de pedir a
declaração com força obrigatória geral . É este o sentido da expressão “ sem
prejuízo do disposto no número anterior ” do n.º1 do Art. 73º CPTA .
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• Por outro lado, o Art. 100º CPTA estende o âmbito de aplicação deste
regime a actos jurídicos que não são AA pré-contratuais , mas que o CPTA
equipara, para estes efeitos, a esses actos – cfr. os n.ºs 2 e 3 . Quanto ao n.º3,
está-se a pensar primacialmente nos casos das pessoas colectivas de direito
privado obrigadas por lei a adoptar , ou que optem por o fazer , procedimentos
pré-contratuais previstos e regulados por normas de direito público – caso do
DL n.º197/99
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2. Intimações
→ Ao passo que os processos de impugnação urgente são processos especiais
de impugnação de AA , os processos de intimação são processos urgentes de
imposição , isto é, dirigem-se à emissão de uma imposição , ou seja, à
obtenção, com carácter de urgência, e por isso no âmbito de um processo
célere, de uma pronúncia de condenação . Ao lado dos processos de intimação
previstos no CPTA, outros pode haver que, consagrados em legislação
especial , se destinem igualmente a intimar a Administração a um determinado
comportamento , como é o exemplo da intimação judicial para a prática de
acto legalmente devido (um destes processos existe actualmente em matéria
urbanística, consagrado no Art. 112º do Regime Jurídico da Urbanização e da
Edificação ).
Vejamos quais os previstos no CPTA:
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• Semelhança entre o Art. 105º e o Art. 67º - são ambos processos dirigidos à
imposição de deveres à Administração , quer quando esta tenha permanecido
omissa, quer quando ela tenha respondido à pretensão do interessado, mas
no primeiro caso pretende-se a obtenção de uma simples prestação
(informação, certidão , documento ), de um acto interno ou operação material ,
ao passo que no segundo está em causa a prática de um AA que traduza o
exercício de poderes de autoridade da Administração . Daí que este processo
urgente seja desde logo tramitado segundo a forma da Acção administrativa
comum (está em causa a adopção de simples actuações ou actos reais e não a
prática de AA), o que não acontece com a intimação para protecção de D,L ,G
ou outras que o legislador preveja expressamente.
• Pode este processo ser movido contra a Administração (Art. 109º n.º1 ) ou
contra particulares (Art. 109º n.º2 ).
No primeiro caso, o processo tanto pode dirigir-se à adopção ou abstenção de
operações materiais como à emissão ou não emissão de AA, nos termos do
n.º3 do Art. 109º CPTA . É, por isso, um instrumento que se define pelo
conteúdo impositivo, condenatório , da tutela jurisdicional a que se dirige,
cobrindo de modo transversal todo o universo das relações jurídicas
administrativas. Pode assim, nomeadamente, sobrepor-se, quer à acção
administrativa comum , quando a tutela do direito fundamental passe pela
adopção ou abstenção de uma conduta ou prestação (que não envolva a
prática de um AA), quer à acção administrativa especial , quando a tutela do
direito fundamental envolva a prática de um AA ilegalmente recusado ou
omitido .
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Situação diversa desta é a que se prevê no Art. 131º CPTA : está em causa o
decretamento provisório de providências cautelares em situações de
particular urgência , relacionadas com a tutela, em tempo útil, de direitos
fundamentais . Neste caso, esta providência é concedida logo no início do
processo cautelar e destina-se a evitar o periculum in mora do próprio
processo cautelar , evitando os danos que possam ocorrer na própria
pendência do processo cautelar. É o caso da situação de recusa de visto de
permanência de uma pessoa no território nacional : trata-se de uma questão
que não tem de ser definida imediatamente e por isso se compadece com uma
definição cautelar que assegure a sua permanência em território nacional,
durante todo o tempo em que esteja pendente o processo principal, podendo
diversamente vir a ser expulsa se esse processo vier a ser julgado
improcedente. Esta providência, ao contrário do que acontece com a figura
paralela da intimação para protecção de Direitos, Liberdades e Garantias
(processo principal urgente ), não está a dar (e em definitivo) uma decisão
sobre o mérito da causa, que só à sentença final cumpre proporcionar .
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uma vez que não se pode pronunciar sobre factos em relação aos quais uma
das partes não tenha tido oportunidade de se pronunciar
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