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Apontamentos de Direito Processual III (Executivo)

FDUL 2017/2018
Com base nos manuais dos Professores Lebre Freitas, Rui Pinto e
Marco Carvalho Gonçalves, aulas teóricas do Professor Miguel
Teixeira de Sousa e elementos de estudo da Professora Ana Leal

Tiago Miguel Mouzinho, 4º ano (Turma A - dia)


Nota prévia: dado o facto de ser um preguiçoso com renome, serão utilizadas siglas para
referenciar os Professores.

Lebre Freitas – LF

Rui Pinto – RP

Ana Leal – AL

Miguel Teixeira de Sousa – MTS

Ah e texto não revisto, possíveis erros de gramática (muitos).

1
1. Agente de Execução
Rompendo com o esquema de 1961, a Reforma de 2003 fez surgir esta figura que
costuma ser apontada como um misto de profissional liberal e de funcionário
público que liberta o juiz de praticar actos rotineiros e de mero expediente. Sendo
ainda um entidade privada dotada de ius imperii. Até 2009 foi referenciado como
solicitador de execução, só a partir da mesma data passou a “agente de execução”.
Ele na verdade poderá ser um advogado ou um solicitador em regime de profissão
liberal remunerada. Noutros casos, poderá ser um oficial de justiça (veja-se o art.
722º do CPC).

O agente executivo tem a seu cargo a generalidade das diligências executivas. Quer
isto dizer que, desde a Reforma de 2008, o juiz tem visto os seus poderes a serem
mitigados, a ponto de se falar numa “desjudicialização do procedimento” (assim
refere MTS). RP, no entanto, refere que permaneceu, apesar de tudo, um poder
residual de controlo passivo (a título principal ou acessório) na esfera do juiz. Nisto
discorda Eduardo Sousa e Helena Cabrita, afirmando que o juiz mantinha um
poder geral de controlo – apontando como argumento o art. 265º CPC. RP ressalva
ainda que o juiz readquire o que perdeu para o agente com a mais recente reforma,
onde o legislador procurou respeitar o imperativo constitucional do art. 202º/2 da
CRP. Dedicaremos um capítulo ao juiz adiante.

Apontam-se 3 modelos de processo executivo acerca da posição do juiz executivo e


do agente executivo, a ver:

a) Modelo até à Reforma de 2003 – juiz com controlo total da execução;


b) Modelo escandinavo – a gestão é feita inteiramente por entidades
administrativas;
c) Modelo misto (Português) – dispõe o art. 551º/5 do CPC que o processo só corre
em tribunal quando seja requerida ou decorra da lei a prática de acto da
competência da secretaria ou do juiz até à prática desse acto. Traduz-se em
atribuir um poder geral de controlo ao juiz mas conferir as generalidades das
diligências executivas a uma entidade sem pdoeres de natureza jurisdicional.

O agente tem competência funcional de natureza subsidiária ou supletiva (art.


719º do CPC), tem ainda competências para poder extinguir a acção executiva (veja-
se art. 849º/3 do CPC). Seguindo os ensinamentos de RP, o agente de execução tem
um poder geral de direcção do processo, pois salvo quando a lei determine o
contrário, ele pratica todas as diligências de execução.

A designação é feita pelo exequente de entre os registados em lista oficial (art.


720º/2 do CPC), isto deve ser feito no requerimento executivo (art. 720º/1 e art.
724º/1 c) ) em articulação com o art. 36º/1 da Portaria 282/2013. Na falta de
escolha, não designação ou no caso de o agente recusar dentro dos 5 dias, a escolha
opera pela secretaria segundo escala constante da lista oficial para garantir
aleatoriedade e igualdade na distribuição (art. 720º/2 do CPC).

2
Quanto à substituição, o antigo CPC garantia uma livre substituição operada pelo
exequente e ainda a destituição pelo órgão com competência disciplinar quando
houvesse fundamento em actuação dolosa ou negligente a nível processual ou por
violação grave de deveres impostos pelos estatutos. Hoje, dispõe o art. 720º/4 do
CPC (mais o art. 38 da Portaria 282/2013) que é necessário haver justificação por
parte do execuente, sendo que os efeitos produzem-se a partir da data da
comunicação. O fundamento para a alteração assenta na ideia deste agente ser um
órgão imparcial e independente que serve interesses públicos, não podendo ficar
condicionado ao livre arbítrio do exequente, neste sentido diz-nos Lurdes Mesquita
que colidia com a imparcialidade e independência do agente, causando ainda
dúvidas sobre a natureza da relação jurídica entre agente e exequente. Ainda neste
âmbito, RP apresenta uma crítica face ao 720º/4 do CPC, por esta solução legal não
conferir ao executado meios processuais que lhe permitam afastar o agente de
execução – havendo aqui uma violação da igualdade. A lei também não resolve a
questão de saber se o agente pode ou não responder ao pedido e ainda se o juiz pode
intervir. Pelos vistos não, pela letra da lei, ao referir que a produção de efeitos
começa com a data da comunicação. O espírito da lei também indicia que foi
propositado deixar o juiz fora da relação interna entre exequente e agente de
execução. Parece assim que, na prática, há uma livre substituição sendo as razões
indicadas na fundamentação consideradas processualmente irrelevantes. Ressalva-
se, com Lurdes Mesquita, que nada impede de o agente recorrer aos meios comuns
para combater as “ofensas ao bom nome”, com a reposição da verdade e com o
ressarcimento de danos pelos prejuízos sofridos. Deixamos aqui a anotação de que é
possível o executado proceder à oposição da execução, ainda que sem a
competência para destituir o agente de execução.

A substituição pode então ocorrer:

a) Por iniciativa do exequente;


b) Destituição operada pelo órgão disciplinar;
c) Por morte, incapacidade definitiva ou cessão de funções do agente.

Os deveres do agente de execução são: de legalidade (não colidir contra lei expresa,
não usar meios ou exepedientes ilegais), de imparcialidade e independência, de
diligência (não praticar actos inúteis, de informação, de sigilo e de organização.
Existem ainda aqueles deveres diabólicos para cumprir prazos. A violação destes
deveres podem ser fundamento para que ele seja destituído pelo exequente ou ainda
pela entidade com competência disciplinar.

Sobre a natureza jurídica desta figura: AL refere-nos que é uma figura híbrida,
reúne características de profissional liberal e de oficial de justiça. O agente não tem
qualquer relação laboral ou hierarquica com o Estado ou com o juiz, ele não é um
funcionário público. Já sobre a natureza da relação entre o mesmo e o exequante, ela
é contratual, há ainda uma vinculação do agente de execução (dentro dos limites
legais) às indicações do exequente ( veja-se o art. 751º/2 do CPC). AL diz-nos ainda

3
que ele é um auxiliar do Estado, escolhido (pelo exequente) por via de um negócio
jurídico processual e unilateral. Nas palavras de LF, o agente é um misto de
profissional liberal e funcionário público (no sentido de auxiliar de Justiça). A
Jurisprudencia andou à batatada sobre a questão de saber se é ou não um mandatário
do exequente. Inicialmente considerou-se que sim, hoje a maioritariamente não, a
própria lei acolheu o sentido de não ser. É o que faz mais sentido, como refere RP,
há que atender ao facto de o agente de execução ter um especial dever de
independência e imparcialidade, afastando-o da figura de mero mandatário.

2. Título Executivo
2.1. Noção, Função e Natureza da Figura

Título executivo como bilhete de ingresso no recinto da execução (art. 10º/5 do


CPC)1.

LF: é um pressuposto específico2 da acção executiva com carácter formal


(exigibilidade extrínseca do direito), na medida em que confere um grau de certeza
que a Ordem Jurídica considera suficiente para que haja lugar à acção executiva.
Existem outros pressupostos específicos3 que serão desenvolvidos adiante, para já,
diga-se que complementam o título executivo e tem uma função processual paralela
a este. Em suma, o título executivo é um requisito de admissibilidade da acção
executiva e na falta deste, não há lugar a providências executivas.

O título executivo é uma condição necessária (neste ponto não se colocam dúvidas
doutrinárias) para a acção executiva, não há execução sem título e este tem de
acompanhar o requerimento inicial, salvo execução processada nos autos da acção
declarativa, em que se insere o próprio título. Dúvidas levantam-se na consideração
como “condição suficiente” da acção executiva. Segundo LF, não deve ser
entendida de forma absoluta a ideia de que “dispensa-se qualquer indagação prévia
sobre a real existência ou subsistência do direito a que se refere”, mas antes: “a
obrigação exequenda tem de constar do título e a sua existência é por ele presumida,
só nos termos que se deixam referidos podendo ser ilidida tal presunção4, salvo
recurso à acção declarativa de embargos de executado”. MCG, por sua vez, defende
que o título executivo apresenta uma “eficácia incondicional”, pois dá início à acção
executiva sem necessidade prévia de demonstraçã odo direito e apenas enconra
limites em face da eventual iniciativa do executado.

1
Para que este trabalho pareça rigoroso: nulla executio sine titulo.
2
RP afirma tratar-se antes de um elemento integrante da relação jurídica – uma condição de acção
(neste sentido o AC do STJ 4/04/2006). Excluindo a possibilidade de ser um pressuposto processual
específico.
3
A prestação mostrar-se certa, exigível e líquida. Tendo carácter material, intrinsecamente condicionam a
exigibilidade do direito.
4
Falamos aqui de uma presunção de direito (como a presunção de titularidade do direito real com base na
posse).

4
A acção executiva começa com o acertamento5 e este está contido no título
executivo e por isso o título executivo é a base da execução. Quer isto dizer que ele
determina os fins e limites da acção executiva (art. 10º/5 do CPC), assim como o
tipo de acção, o seu objecto6 e a legitimidade (activa e passiva) para ela (art. 53º/1
do CPC).

Segundo o art. 703º/1 b), c) e d) do CPC, os títulos executivos são documentos


escritos, seguindo João Castro Mendes, eles são objecto representativo de uma
declaração de ciência ou de vontade, constituindo um meio de prova legal plena
(arts. 362º, 371º/1 e 376º/2 CC) para fins executivos.

Natureza: existe uma discussão clássica sobre saber se o título executivo é


verdadeiramente um documento ou um acto jurídico (pela sua estrutura de
comando e subsequente actuação prática da sanção se a ordem judicial não for
cumprida). Parece7 a que ele seja um documento, certa Doutrina costuma apontar a
exigência de uma autonomia paralela entre títulos (no caso dos títulos executivos
negociais, p.e título de crédito) onde o título coincidiria com o negócio jurídico,
para afastar a doutrina do acto jurídico (já ultrapassada). Castro Mendes faz um
construção diferente (em dois pontos de vista), afirmando que é antes um meio legal
de demonstração da existência do direito exequendo (ponto de vista material) e um
documento que legalmente pode servir de base à respectiva execução (ponto de vista
formal). RP defende ser uma forma de representação de um facto jurídico
(documento) – esse facto jurídico é o que constitui a causa de pedir (documenta a
causa de pedir, não se torna nela), o facto aquisitivo do direito à prestação. É assim
um documento pelo qual o requerente de realização coactiva da prestação demonstra
a aquisição de um direito a uma prestação, nos requisitos legalmente prescritos (tem
natureza jurídica de condição formal da realização coactiva da prestação). A posição
de RP parece ser a mais completa.

Título como causa de pedir? O STJ chegou a pronunciar-se positivamente (AC do


STJ 24/11/1983), onde é feita esta coincidência pelo facto de o título executivo
dispensar a indagação do direito a que se pressupõe, sendo ele a causa de pedir da
acção executiva – operaria uma conversão de causa de pedir encarada como facto
jurídico de que resulta a pretensão do exequente para um título executivo, prova
acertada. LF: este pensamento está incorrecto e não se harmoniza com o conceito
de causa de pedir, uma vez que o título executivo não é um facto jurídico. Mesmo
que se tentasse responder positivamente, haveria uma impossibilidade de deduzir a
excepção de litispendência por serem diversas as causas de pedir, quando o mesmo
crédito estivesse representado por dois títulos executivos e ambos fossem

5
Significa que a pretensão material está acertada, não existem mais dúvidas ou controvérsias no processo
de execução; dá-se por provado.
6
Havendo dúvidas, o título não é exequível e o credor tem de recorrer previamente a uma acção
declarativa de condenação ou simples apreciação.
7
Para LF.

5
executados, cada um no seu processo. Em suma, o título executivo documenta os
factos jurídicos que constituem a causa de pedir, sem que ele se torne nela8.

Função: Ferreira de Almeida defende uma função constitutiva ou certificativa


da relação obrigacional, uma vez que a fonte desta reside no acto documentado e por
confirmar a sua existência. MCG apresenta duas funções:

a) A de delimitação do fim da execução: se tem por finalidade o pagamento de


quantia certa, entrega de coisa ou uma prestação de facto;
b) A de estabelecimento dos limites da execução: o credor não pode pedir mais
do que aquilo que o título executivo lhe confere. Ressalve-se que nada obsta a
que o credor peticione o pagamento de juros de mora, contabilizados à taxa de
juro legal, da obrigação constante do título, ainda que o mesmo seja omisso
quanto a essa obrigação de pagamento de juros (art. 703º/2 do CPC). Por
analogia o mesmo vale para o caso de não constar expressamente no título
executivo, o credor requerer a imposição de uma sanção pecuniária
compulsória, à luz do art. 829º-A/4 do CC, desde que esteja em causa a
obrigação de pagamento de uma quantia determinada fixada em sentença de
condenação já transitada em julgado.
c) RP acrescenta e defende uma função de certificação: prende-se com a sua
concepção acerca da natureza supra referida, pela representação da aquisição do
direito à prestação. Assim como uma função delimitadora (também MTS,
afirma delimitar o âmbito subjectivo e objectivo), pois o título determina o
porquê, contra quem e para quê o credor requer a execução. E ainda uma função
constitutiva: atribuição de exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a
correspondente prestação seja realizada através de medidas coactivas impostas
ao executado pelo tribunal (constitui direito à execução, à realização coactiva da
prestação – “documento dotado de execução aparelhada”).

2.2. Classificação

Capítulo apenas desenvolvido por RP.

Um primeiro critério de classificação é da natureza da entidade autora dos efeitos


jurídicos: podem ser públicos ou privados. Nos públicos, temos títulos executivos
judiciais, títulos executivos judiciais impróprios e títulos executivos administrativos;
Nos privados, temos títulos executivos aut~enticos, títulos executivos particulares,
autenticados e simples.

Um outro é sobre tomar a sentença por referência (títulos judiciais, judiciais


impróprios ou parajudiciais e extrajudiciais. O título executivo é a sentença com
valor de caso julgado material (tendencialmente).

8
AC do TR de Coimbra de 17/06/2014 e AC do STJ 10/12/2013.

6
2.3. Espécies

Não são espécies animais, mas podiam ser. O art. 703º do CPC apresenta uma
enumeração taxativa (numerus clausus) dos títulos executivos que podem servir de
fundamento à acção executiva. Consequentemente, as partes não podem
convencionar outras com força executiva a um determinado documento9. Ora refere
Antunes Varela, a lei considera ser de interesse público e por isso exige-se um
mínimo de garantia nas situações em que se recorre a medidas coactivas, para actuar
sobre o património do executado, a exigência é em termos de prova. Mas nada obsta
a que suceda o inverso, onde por convenção as partes pretendam não atribuir força
executiva a um documento que a lei atribua essa força. RP alerta, no entanto, que
não pode haver lugar a interpretações extensivas ou analogias, dada esta norma.
Sobre a enumeração:

i) Sentenças condenatórias – títulos judiciais;


ii) Documentos exarados ou autenticados por notário ou por outras
entidades ou profissionais com competência para tal e que importem a
constituição ou o reconhecimento de qualquer obrigação;
iii) Os títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, neste
caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio
documento ou sejam alegados no requerimento executivo;
iv) Documentos que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.

2.3.1. Sentenças condenatórias

A sentença constitui título executivo, porém é pacífico dizer-se que as de simples


apreciação não podem constituir o mesmo. Efectivamente o tribunal apenas terá de
apreciar a existência ou não de um direito ou de um facto jurídico, a sentença nada
acrescenta acerca dessa existência (mero reconhecimento judicial). Não se concebe
proceder a uma acção executiva, para as de simples apreciação, mesmo de acordo
com o princípio do dispositivo. MCG tem o entendimento, no entanto, de atribuir a
natureza de título executivo às sentenças constitutivas se estas tiverem elementos
condenatórios e, quanto às de mera apreciação se estas imporem (de modo expresso
ou implícito) o cumprimento de uma obrigação, entendimento que nos parece
correcto por de alguma forma corresponder às sentenças condenatórias.

Só as sentenças judiciais de condenação constituem título executivo (salvo o último


entendimento enunciado). O termo sentença abrange o acórdão (art. 156º/3 do CPC).

Para a sentença ser exequível, é necessário que tenha transitado em julgado – que
ela seja insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação (art. 628º do CPC),
salvo se contra ela tenha sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo
(art. 704º do CPC). Efeito meramente devolutivo significa que é possível executar a

9
Sob pena de indeferimento do tribunal; o tribunal indefere liminarmente (ou supervenientemente) o
requerimento executivo por falta de pressupostos essenciais à acção executiva.

7
decisão recorrida na pendência do recurso. Hoje é essa a regra no recurso de
apelação (art. 647º do CPC) e existe sempre no recurso de revista. Refere-nos,
também, Castro Mendes que todos têm efeito devolutivo.

Nos recursos com mero efeito devolutivo, a acção executiva é, por natureza,
provisório e irá sofrer consequências da decisão da causa que seja proferida em
instâncias superiores. Veja-se:

a) De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,


absolvendo o réu/executado;
b) De a modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo uma
condenação parcial do réu (art. 704º/2, 1ª parte, do CPC);

Se pelo tribunal de recurso houver uma decisão e esta seja objecto de recurso para
um tribunal superior:

a) Suspender-se-á (art. 269º/1, d), do CPC) ou modificar-se-á, consoante a decisão


da segunda instância for total ou parcial da anterior, se também tiver efeito
meramente devolutivo;
b) Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com a
decisão definitiva, se pelo contrário for atribuído ao recurso efeito suspensivo, o
qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia proferida (art.
704º/2, 2ª parte, do CPC).

O executado pode pedir para que, na pendência do recurso, a acção executiva seja
suspensa, desde que pague caução, destinada a garantir o dano. No caso de decisão
confirmativa da decisão recorrida, o exequente sairá prejudicado com a demora da
execução e assim garante esse dano – em equiparação com a situação do executado
que se opõe à execução (art. 704º/5 do CPC). Com fundamento em a execução lhe
causar um prejuízo considerável, pode o réu condenado pedir, logo ao interpor
recurso, o efeito suspensivo da execução, “contra prestando” caução (art. 647º/4 do
CPC). As cauções, qualquer uma delas, são prestadas nos termos gerais (façam
anotações) dos arts. 623º do CC e 906º e ss do CPC.

Mediante o art. 703º/1 a) do CPC, a sentença proferida pelo tribunal estrangeiro é


legalmente exequível. Há porém uma exigência de revisão e confirmação pelo
competente tribunal da relação (art. 706º e 979º do CPC). Sendo confirmadas, só
salvo tratado, convenção, regulamento comunitário ou lei especial em contrário, as
sentenças estrangeiras10 têm eficácia em Portugal (art. 978º do CPC).

A confirmação é essencial para a execução mas também, num plano maior, para
qualquer outro efeito de Direito (Registo, Civil, Processo Civil), com a única
ressalva da sua invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar

10
A vida está difícil por isso, com ordem em ganhar dinheiro com direitos de autor, remeto para os
apontamentos rasca de DIP e DUE para compreender esta difícil matéria do que é um tratado ou
regulamento comunitário.

8
livremente pelo julgador (art. 978º/2 do CPC). Para haver esta confirmação é
necessário que se verifiquem os requisitos do art. 980 do CPC:

a) Trânsito em julgado da sentença – não se admite se esta estiver em recurso.


b) A não ocorrência de competência internacional exclusiva dos tribunais
portugueses (art. 63º do CPC) e nem que haja fraude à lei, atribuindo
competência a tribunal estrangeiro. LF crítica este preceito que apenas prevê a
fraude à lei (de prova difícil), sendo uma abertura demasiado arriscada11;
c) O respeito pelo direito de defesa (citação regular do réu, nos termos da lei do
país de origem12) e a observância dos princípios do contraditório e da igualdade
de armas;
d) Ininvocabilidade da excepção de litispendência ou de caso julgado com
fundamento na afectação da causa a um tribunal português;
e) Que a decisão seja conforme à ordem pública internacional portuguesa (art. 22
do CC).

De salientar que está em vigor, para matéria de revisões das sentenças o


Regulamento Bruxelas I e a Convenção de Lugano, reduzindo a aplicação da lei
portuguesa. De todo o modo, estas Fontes/actos internacionais estabelecem o
reconhecimento automático das sentenças, para o caso dos Estados Membros da EU
e para os contraentes da Convenção, sem necessidade de recurso a qualquer
processo: delas conhece qualquer tribunal a título incidental (como resolução de
uma questão prévia de que dependa a decisão a proferir ou para dedução da
excepção de caso julgado).

Sobre os despachos e decisões arbitrais, eles são equiparados (arts. 703º/1 a) e


705º do CPC) a sentenças. Ora refere “os despachos e outras decisões ou actos de
autoridade judicial” que condenem no cumprimento de uma obrigação, assim como
as decisões dos tribunais arbitrais. O Regulamento Bruxelas I e a Convenção
Lugano excluem as decisões arbitrais do seu âmbito. Notamos, no entanto, que os
tribunais arbitrais não são dotados de ius imperii (as suas decisões têm a mesma
força executiva que as produzidas por um tribunal português de 1ª instância) e que
por isso a execução das decisões têm sempre lugar num tribunal judicial. As
decisões dos tribunais arbitrais (estrangeiros) estão sujeitas a revisão (por força da
Convenção de Nova Iorque sobre o reconhecimento e execução de sentenças
arbitrais no estrangeiro).

São exemplos de despachos condenatórios e exequíveis: os que imponham multas às


partes e testemunhas, condenem em indemnizações ou fixem honorários de peritos,

11
O Autor refere que no âmbito da Convenção de Lugano e do Regulamento de Bruxelas I, existem
normas específicas e que só há reconhecimento se essas normas específicas forem respeitadas
(estendendo a normas específicas do ordenamento português, art. 28º da Convenção). Não havendo
recurso a conceitos abertos.
12
LF estende esse entendimento a “que seja também feito em tempo útil”. Efectivamente não basta ele
ser citado, ele tem ter algum tempo para efetivar a sua defesa. Sendo de acordo com a nossa CRP e
constando do art. 27º/2 da Convenção de Lugano.

9
depositários, agentes de execução ou liquidatários judiciais. São também aqueles
que ordenem providências cautelares que não sejam executadas por tipo executivo
previsto nos autos de procedimento cautelar.

A sentença homologatória cabe na categoria de sentenças condenatórias. São


exemplos: sentença homologatória de transacção ou confissão do pedido (art. 290º/3
do CPC) e a de partilha (art. 66º do Regime Jurídico do Processo Inventário). Artur
Anselmo de Castro qualifica-as como títulos jurídicos parajudiciais (formalmente
judiciais pois formam-se no processo, mas com carácter substancialmente
extrajudicial por se tratarem de actos de confissão tácita ou expressa das partes), já
José Alberto dos Reis como títulos judiciais impróprios. LF discorda no que toca a
diferenciamento do tratamento entre títulos judiciais e parajudiciais, na construção
de Anselmo de Castro. Não seria concordante com o Direito português em termos
de regime, no plano da eficácia e da validade, da sentença e no que respeita a
execução. No direito Alemão, é feita uma equiparação às sentenças judiciais (caso
da transacção e na confissão que é legalmente classificada como sentença de
condenação). Segundo LF, a sentença de homologação é uma sentença de
condenação como as outras, sem prejuízo do dispositivo das partes e da sua
formulação como negócios jurídicos de Direito Civil, sujeitos a regime de
impugnação. A sua emissão provoca a exequibilidade. Com apoio a esta posição,
está a letra da lei no art. 290º/3 “…condenando-se ou absolvendo-se…”. LF
considera duvidoso que se possa dispensar a revisão de sentenças homologatórias
proferidas por tribunais estrangeiros (à luz do art. 980º do CPC, é admissível via
certos requisitos). O que faz sentido é a necessidade de revisão uma vez que a
sentença homologatória é uma sentença como as outras e as outras carecem desse
acto interno.

2.3.2. Documento Exarado ou Autenticado por Notário

Eles são títulos extrajudiciais assim como os títulos de crédito. São negociais pois
não se formulam em juízo e são negócios jurídicos produzidos extrajudicialmente.

São títulos executivos (art. 703º/1 b) do CPC). São exarados por notário
(documentos autênticos) o testamento público e a escritura pública. Autenticados
por notário são aqueles não exarados pelo mesmo, mas que são posteriormente
levados, na presença das partes, para que este ateste a conformidade da sua vontade
com o conteúdo. Veja-se, para exemplo do último caso, a hipótese de testamento
cerrado, aprovado por notário (art. 2206º/4 do CC).

O testamento por si não constitui título executivo, ele é um acto de disposição e


radica num acto de transmissão dos bens do testador (acto de disposição de bens por
morte). Porém, poderá ser título executivo, no caso de o testador confessar uma
dívida ou constitui uma dívida que impõe ao sucessor. Em ambos os casos é
necessária a aceitação da herança por parte do sucessor. Em termos de natureza,
para LF, no primeiro caso trata-se de uma condição da transmissão da dívida, já no
segundo caso é uma condição suspensiva da própria obrigação. Exige-se então que a
10
aceitação seja alegada e provada pelo exequente (arts. 54º e 715º/1 do CPC).
Independentemente da aceitação, o título executivo será, neste caso, sempre o
testamento13.

Sujeitos que podem produzir estes títulos de execução: notários, conservadores e


entidades equiparadas do poder de exarar e autenticar documentos, dentro da esfera
da sua competência. Alguns exemplos de áreas, destes títulos de execução: registo
predial, comercial, de automóveis, de navios e aeronaves.

Está abrangido o documento recognitivo, não por formalizar o acto de constituição


de uma obrigação, mas por fazer o reconhecimento pelo devedor, de uma obrigação
pré-existente. São os casos de confissão do acto que constitui a dívida14 (arts. 352º,
358º e 364º do CC) e do reconhecimento de dívida (art. 458º do CC). A sua força
executiva consta do art. 703º/1 b) do CPC. Quanto à prova da obrigação, pode ser
feita mediante o documento original, como por certidão ou fotocópia autêntica (arts.
383º, 384º, 386º e 387º do CC).

Já sobre a promessa de contrato real e a previsão de obrigação futura, consta


dos arts. 707º e 715º do CPC um texto que não satisfaz inteiramente LF. Explica o
Autor que desde a revisão ao CPC de 1961, se tem suscitado dificuldades de
interpretação. Hoje a norma do art. 715º do CPC isenta as dúvidas relativas a
qualquer contrato.

Para a questão dos contratos de mútuo (como documento particular), sendo eles
escritos (art. 1143º do CC), assinados pelas partes, exarados ou autenticados por
notário ou advogado, cabe ver se eles estão abrangidos pela regra do art. 46º/1 c) do
CPC de 1961 que esteve em vigor até Setembro de 2013. Se o caso estiver
abrangido neste período temporal, ter-se-á que discutir a questão dos títulos
executivos forever, questão abordada por MTS (significa Miguel Teixeira de Sousa,
não Joana, não significa muitos), havendo dois caminhos a optar: i) Desconsiderar a
possibilidade de serem títulos executivos (norma transitória assim o define e o CPC
atual não os inclui no elenco taxativo do art. 703º); ii) Considera-los como títulos
executivos pelo facto de estarem ao abrigo de antiga norma que conferia essa
exequibilidade, não tendo as normas transitórias acautelado a segurança e
certeza/confiança dos/nos negócios antes de Setembro de 2013, pois os devedores
não quiseram vir assumir as dívidas, novamente, com essa força de exequibilidade,
acrescendo ainda a jurisprudência do STJ e das Relações que já se pronunciaram
pela inconstitucionalidade dos preceitos transitórios – nesse sentido, são títulos
executivos forever. De nossa parte, somos pessoas de Lei (e cumpridoras, claro),
havendo norma expressa que exclui (melhor, não inclui) estas coisas de serem título
executivo, então não o são. Mas para quem achar que a segunda opção tem razão,

13
Em sentido contrário, para o caso de constituição de dívida que o testador impõe ao sucessor, defendeu
Eurico Lopes Cardoso que seria título executivo, o acto de aceitação da herança. O que é errado.
14
Diferentemente do que acontece em ordenamentos estrangeiros, como o Alemão e o Italiano, o nosso
Direito não distingue as modalidades de obrigação para restringir as possibilidades da confissão formar
título executivo. Sendo exequíveis quaisquer modalidades de obrigação, no caso da confissão.

11
para mais desenvolvimentos terá que dissertar sobre a aplicação retroativa da lei
processual, articulando com a (eventual) possibilidade da CRP permitir, nos
parâmetros de um Estado de Direito Democrático, terá que argumentar a falta de
previsibilidade, a gravidade da consequência e poder referir que estamos perante
uma insegurança que não é tolerável por violar as expectativas jurídicas. Nesse
sentido terá que atender a outros fatores ainda, nomeadamente se existem outros
valores que se possa sobrepor a essa eventualidade destes documentos particulares
não configurarem títulos executivos. Contra-argumentando estes últimos trechos (da
Relação de Évora), veio o IPPC referir: i) não é uma situação de retroatividade
própria, mas sim de aplicação imediata do novo CPC; ii) não existem relações
duradouras imutáveis; iii) questionar se a consideração de documentos particulares
configurados como títulos executivos é motivo para gerar uma expectativa
(legitima) que faça manter viva uma norma que o ordenamento procurou eliminar
(?); iv) executado fica ad eternum nessa eventualidade? A posição de executado
também merece tutela, tendo igualmente direitos assim como o exequente (num
processo de partes); v) A comissão de revisão do processo civil, com esta alteração,
pretendeu afastar os documentos particulares pelo facto de eles não oferecerem
garantias suficientes para garantia de dívida (a ser realizada coativamente na acção
executiva); vi) ida em conta com o reforço da (progressiva) tutela do consumidor
(em especial nos contratos de mútuo). Por estes últimos motivos não configuramos
esses documentos como amigos ou títulos forever. Neste sentido parece indicar
MTS, como ser o caminho a seguir.

2.3.3. Títulos de Crédito

Face ao CPC de 1961, o de 2013 restringiu a exegibilidade dos documentos


particulares (art. 703º/1 c) do nCPC vs art. 46º/1 c) do aCPC). Assim só a letra,
livrança e o cheque são, hoje, documentos particulares que a lei confere
exigibilidade. Alguma Jurisprudencia minoritária discute (com origem na revisão de
1961) se se deve ou não negar a exigibilidade ao cheque, argumentando que é uma
mera ordem de pagamento e não se constitui nem se reconhece uma obrigação.
Porém não procede porque existe uma implícita constituição/reconhecimento de
uma dívida a satisfazer na cobrança de um direito de crédito contra uma instituição
bancária, na hipótese do preenchimento do cheque à ordem ou a sua entrega ao
portador.

Só é exigido o reconhecimento da assinatura do devedor no título de crédito quando


ele não saiba ou não possa ler (sendo assim assinado a rogo). Fora deste caso, o
reconhecimento por notário da assinatura do devedor tem a utilidade de obstar ao
pedido de suspensão da acção executiva pelo executado que, em embargos, alegue a
não genuidade da assinatura.

No caso de prescrever a obrigação cartular de um letra, livrança ou cheque?


Poderá continuar a valer como título executivo (enquanto escrito particular)? A
resposta consta do art. 703º/1 c) do CPC, quando o título de crédito mencione a

12
causa da relação jurídica subjacente, o título vale como documento particular
respeitante à relação jurídica subjacente. Se não constar a causa, há que distinguir se
estamos perante uma obrigação que provem de um negócio formal ou não. Se sim,
não há título executivo, uma vez que a causa é um elemento essencial deste. Se não,
já possuímos título executivo.

Quanto aos documentos estrangeiros, estão sujeitos a legalização, quer sejam os


autênticos ou particulares. Não carem de revisão para serem exequíveis em Portugal
(art. 706º/2 do CPC). A legalização verifica-se com o acto de reconhecimento da
assinatura do oficial público que os emitiu ou atenticou pelo agente diplomático ou
consular português no Estado respectivo, de acordo com as exigências do art. 440º/1
do CPC.

2.3.4. Títlo executivo por força de disposição especial

Estes tipos têm sido classificados como títulos judiciais impróprios, porque são
formados no processo mas não resultam de uma decisão judicial. Atenta-se ao
disposto do art. 703º/1 d) do CPC, alguns títulos executivos resultam de disposição
especial na lei. Veja-se o art. 944º/5 do CPC, no processo de prestação de contas,
o título executivo são as próprias contas apresentadas pelo réu – quando o autor faça
requerimento ao réu para que este pague a importância do saldo que esteja a favor
do primeiro (caso exista esse saldo). Outro exemplo é o caso do processo de
injunção, do DL 269/98 e do DL 32/2003, nos termos do art. 1º do primeiro
diploma e o art. 2º do segundo diploma.

No caso dos títulos administrativos ou de formação administrativa, Massa este é


para ti, temos como exemplo: títulos de cobrança de tributos, coimas, dívidas
determinadas por acto administrativo, reembolso ou reposições e outras receitas do
Estado (art. 148º e 162º do CPPT). São títulos, emitidos por repartições do Estado
(como Autarquias Locais ou outras determinadas pessoas colectivas públicas), que
têm por conteúdo créditos próprios.

Sobre os títulos particulares, teremos com exemplo: acta de reunião da assembleia


de condóminos, assinada pelo condómino devedor, em que se encontrem fixadas as
contribuições a pagar ao condómino; documento do contrato de arrendamento de
prédio urbano, junto com o comprovativo da comunicação ao arrendatário da
resolução ou da denúncia do contrato pelo senhorio dos arts. 1084º, 1097º ou 1101º
do CC, fundado em execução para restituição do local arrendado; documento de
contrato de mútuo (como eu adoro este contrato) concedido pela Caixa Geral de
Depósitos; certificados, passados pelas entidades registadoras de valores mobiliários
escriturais, a estes relativos (art. 84º do CVM, já cá faltava também).

2.4.Consequências da falta de título

13
O título é um pressuposto formal da acção executiva, por isso ele (ou cópio dele)
deve, em regra, acompanhar o requerimento inicial de execução – art. 724º/4 do
CPC. Salvo a aplicação do art. 85º/1 do CPC, onde é apresentado nos autos da acção
declarativa. Se o requerimento não vier acompanhado do título executivo? Alberto
Reis defende que o juiz deve proceder ao indeferimento liminar. Mas LF refere que
se deve atender ao princípio da economia processual e proferir antes um despacho
de aperfeiçoamento (art. 726º/2 do CPC), num convite a corrigir a situação, de
forma a suprir a irregularidade – apresentado o título em falta ou a corrigir o
requerimento.

Ressalva-se que pode haver lugar ao indeferimento, no caso de haver uma manifesta
insuficiência do título. O art. 726º/3 acautela que, se o autor pedir mais do que
aquilo que consta do título, há um indeferimento parcial, naquilo que está em
demasia.

Ainda no mesmo ponto, no caso de o autor deduzir vários pedidos e nem todos
constarem do título, aplica-se a mesma lógica: o juiz deve convidar a aperfeiçoar a
petição inicial, desde que a insuficiência não seja manifesta.

Após o convite a aperfeiçoar, se o autor não aproveitar, há lugar a indeferimento.

Se, entretanto, o executado for citado e a petição devia ter sido recusada, indeferida
ou mandada aperfeiçoar, ele pode desde logo deduzir oposição à execução (art. 729º
a) do CPC).

3. Certeza, Exigibilidade e Liquidez da Obrigação


Mediante o art. 713º do CPC, a prestação deve ser certa, exigível e líquida, caso
contrário, a execução não poderá prosseguir. RP alerta que não se tratam de
pressupostos processuais, uma vez que não respeitam a relação processual, é antes
um rectius, o objecto mediato, da relação material, – a configuração que o próprio
direito a uma prestação deve apresentar para que haja lugar à execução - são
condições materiais15 da acção. Sumariamente:

A) Certeza: a obrigação é certa quando a prestação se encontra qualitativamente


determinada – não será certa quando ainda não se operou a uma escolha da
prestação (art. 400º do CC), acontece com as obrigações alternativas e ainda
quando se trata de uma obrigação genérica de espécie indeterminada (art. 539º
do CC);
B) Exigibilidade: a prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou
o seu vencimento depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma
supletiva do art. 777º/1 do CC, de simples interpelação ao devedor – não será
exigível quando não há vencimentoe quando este não esteja dependente de
interpelação, são os casos: i) obrigação de prazo certo que não decorreu (art.

15
Ao contrário do título executivo que reveste natureza de condição formal da acção; MTS considera que
é a “exegibilidade intrínseca”.

14
779º do CC); ii) prazo é incerto e a determinar pelo tribunal (art. 777º/2 do
CPC); iii) constituição da obrigação foi sujeita a condição suspensiva (arts. 270º
do CC e 715º/1 do CPC); iv) quando haja sinalagma e o credor não satisfez a
contraprestação (art. 428º do CC), aqui a própria lei processual equipara esta
falta de realização às situações de pura inexigibilidade (art. 715º do CPC).
C) Liquidez: quando está apurado o quantitativo da prestação16.

3.1. A Exigibilidade em especial

Para MTS, a exigibilidade é uma condição “relativa à justificação da execução”, já a


certeza e a liquidez seriam condições respeitantes à possibilidade da execução.
Importa justificar este pensamento, desdo logo porque a exigibilidade corresponde a
factos complementares de uma causa de pedir complexa, pelo que nem sempre tem
autonomia, mas também porque a certeza e a liquidez consubstanciam uma
qualidade de determinação do pedido. Para RP (a demonstração de) exigibilidade é
uma condição de procedência do pedido, tanto na acção declarativa como executiva,
uma vez que integra a causa de pedir.

O que parece justificar a execução é o incumprimento – veja-se o caso do art. 817º


do CC (articulado com o art. 601º do mesmo diploma) pois tornam o incumprimento
da obrigação como uma condição aparente. Sem ele não havia necessidade disto
tudo da acção executiva. Mas as pessoas preferem incumprir e dar trabalho com esta
cadeira. Mas o incumprimento não incorpora a causa de pedir.

A exigibilidade é a qualidade substantiva da obrigação que deve ser cumprida de


modo imediato e incondicional após a interpelação do devedor. Qualidade esta
substantiva e não processual. Segundo RP, a obrigação exigível é a obrigação que
está em tempo de cumprimento da obrigação. Por isso a exigibilidade deve ser
entendida no quadro da causa de pedir. A exigibilidade poderá ser:

a) Simples, dispensando o credor de prova, competindo ao executado demonstrar


uma condição resolutiva ou a excepção de não cumprimento;
b) Complexa, como facto constitutivo complementar, cuja variação não releva nem
a ineptidão, nem as excepções de caso julgado ou litispendência.

Por ser integrada na causa de pedir, a sua falta gera improcedência do pedido
(precisamente por ausência de causa de pedir). No entanto, na acção executiva, é
presumida pelo título. Se ela não for exigível, a execução é extinta – por falta de
condição material do seu objecto material (da relação material de dívida ou de
prestação). RP reforça não se tratar de um pressuposto processual.

Quanto ao critério legal e regime, a obrigação é exigível quando, à data da


propositura da execução, se encontre vencida ou se vença mediante interpelação,

16
Exemplo de um acidente de viação que resulta para a vítima a perda de vencimentos durante um
período de doença a determinar.

15
ainda que judicial, não estando dependente de contraprestação, nem o credor em
mora.

A) Obrigações a prazo: presume-se a favor do devedor, via art. 799º do CC,


apenas é exigível com o termo do prazo, art. 805º/2 a) do CC – salvo art. 780º do
CC: perda do benefício do prazo. O prazo pode ter sido estipulado
negocialmente, fixado após a constituição da obrigação, pelo credor (art. 777º/3
do CC) ou em processo especial de fixação judicial do prazo do arts. 1456º e
1457º do CC, previamente à execução. Pode acontecer o credor estar em mora,
por não se ter apresentado no domicílio do devedor a exigir o pagamento - arts.
772º/1 e 813º do CC, onde se aplica o art. 610º/2 b) do CPC para que a
obrigação seja exigível: apenas com a citação para a execução, o devedor fica
em mora e a obrigação se torna exigível, ainda que a obrigação esteja vencida.
B) Obrigações condicionais: a prestação da obrigação está, aqui neste caso,
dependente de condição suspensiva – onde ressalvamos que já a demonstração
de verificação de condição resolutiva compete ao executado – ou de uma
contraprestação simultãnea por parte do credor ou terceiro. Aqui, incumbe ao
exequente proceder, segundo o regime do art. 715º do CPC, à demonstração do
facto externo da exigibilidade da obrigação – verificação da condição que
efectuou ou que ofereceu a sua prestação. O exequente faz exposição dos factos
no requerimento executivo onde juntará a sua prova (art. 724º/1 h), 2ª parte, do
CPC). Haverá sempre despacho liminar judicial para a apreciação da pretensão e
da prova (art. 550º/3 a) do CPC), pois cabe ao juiz apreciar os factos expostos,
conhecer sumariamente da prova e decidir da ocorrência do facto alegado pelo
exequente (condição ou oferecimento da prestação). Por regra estas diligências
têm lugar antes da citação do devedor, sem a sua audição – nada obsta, porém, a
que o juiz considere necessário ouvi-lo antes da sua decisão, onde, nesse caso, o
devedor é chamado (citado) para contestar a verificação da condição ou
prestação, cumulativamente com a oposição à execução. Contudo, sobre este
último entendimento, o devedor é advertido: se não contestar = condição é
considerada como verificada e a prestação como como efectuada ou oferecida,
nos termos do requerimento executivo, sem prejuízo do art. 568º do CPC
(revelia inoperante). Quanto à prova, é sumária, para auferir da admissão ou
exclusão da pretensão executiva.
C) Obrigações puras: fica vencida com a citação do executado. A Reforma de
2003 supriu o 804º/3 do antigo CPC. Porém isto já resultava do art. 805º/1 do
CC e, agora, do 610º/2 b) do CPC: “vale como interpelação 17 a citação para a
acção executiva”. Os juros moratórios contam-se apenas após este momento,
porque até à citação não há mora. Haverá vantagem para o credor se conseguir
provar a interpelação prévia à execução – alegando que a mora já se tinha
iniciado e desse modo, também o direito aos juros (que são preciosos – nada
judeu). Esta consideração da interpelação prévia é inserível no art. 715º do CPC,

17
Sobre o que é a interpelação: é o acto pelo qual o credor comunica ao devedor que deve efectuar a
prestação.

16
dado o seu alcance genérico. Ressalva-se que: se o devedor tiver impedido a
interpelação prévia, a interpelação considera-se feita na data em que
normalmente ocorreria a obrigação vencida (art. 805º/2 c) do CC).

3.2. Liquidez e Certeza em geral: a Determinação

Pode-se dizer que um acto do Estado, na esfera dos particulares, deve estar
determinado a nível qualitativo e quantitativo, no seu objecto. Isto é assim para a
produção de um título judicial com valor de caso julgado, como para a imposição
unilateral de actos materiais. A regra é a não admissibilidade de dedução de
pretensões genéricas (art. 556º do CPC), porém são admitidos, numa restrição,
perante o art. 713º do CPC (pedidos genéricos, ilíquidos ou quantitativamente
indeterminados). Mas a fortiori não se poderão admitir pedidos qualitativamente
indeterminados.

A determinação do pedido é, para RP, um pressuposto processual atípico, porque o


credor está em situação de o poder concretizar – não estão em causa factos
constitutivos do direito alegado. A liquidez e a certeza são aspectos do pressuposto
da determinação.

Vendo melhor este pressuposto da determinação. Ora, o pedido deve estar


determinado no seu objecto – o objecto da obrigação deve estar determinado. A
determinação do objecto da obrigação deve ser feita quando, em face do título, não
estiverem acertadas as suas qualidades ou a sua quantidade. Legalmente:

A) Determinação qualitativa = certeza da obrigação exequenda;


B) Determinação quantitativa = liquidez da obrigação exequenda.

3.2.1. Certeza em especial

Há indeterminação qualitativa da obrigação em dois casos típicos da lei: arts. 539º e


ss do CC e 543º e ss do CC – obrigações genéricas de escolha e obrigações
alternativas. Aqui, segundo RP, é necessário um acto acessório de especificação da
qualidade da prestação. Processualmente vale aqui o regime do art. 714º do CPC.
Sem este acto a obrigação mantém-se indeterminada.

A) Obrigações genéricas de quantidade – indeterminação não respeita à


qualidade mas quanto ao exemplar ou espécime concreto. Há uma operação de
individualização, pesagem ou medição, feita pelo agente de execução (art.
861º/2 do CPC);
B) Obrigações com faculdade alternativa pelo devedor – este escolhe no próprio
requerimento (tão simples, porque é que as coisas não podem todas ser assim?),
ao abrigo do art. 724º/1 h), 2ª parte, do CPC;
C) Escolha da prestação pelo credor – ela também é feita no requerimento
executivo, art. 724º/1 h), 2ª parte, do CPC, acompanhada dos factos que a
fundamentam.

17
D) Escolha da prestação pelo devedor ou por terceiro – ao devedor é o regime
supletivo (arts. 539º, 543º/2 e 714º/1 do CPC). Na falta de escolha deste,
devolve-se ao credor a escolha, art. 714º/3 do CPC e at. 548 do CC. LF diz-nos
que, se a escolha couber ao devedor, mas o prazo convencionado para a escolha
estiver plenamente esgotado à data do requerimento executivo a devolução da
escolha ao credor deu-se mesmo antes da acção executiva. Cabendo a terceiro,
este é notificado para a efectuar, art. 714º/1 do CPC.

3.2.2. Liquidez em especial

A quantificação é exigida até porque estamos a falar de um ataque ao património


do executado, mediante princípios da proporcionalidade que constam do art. 735º/3
do CPC. A liquidação é uma operação que é feita antes da execução, por força do
art. 10º/1 do CPC. Exepcionalmente se pode falar em dedução de pedidos ilíquidos
ou genéricos (art. 556º do CPC). Vejamos os casos:

A) Juros vincendos: a liquidação é feita ex vi art. 716º/2 do CPC, pelo agente de


execução nos casos do art. 703º/2 do CPC;
B) Sanção pecuniária compulsória: cessa nos termos do art. 716º/3 do CPC, no
momento da sua aplicação e é liquidada mensalmente pelo agente de execução,
notificando o executado da liquidação
C) Universalidade de facto ou de direito: este caso é polémico, desde 2003, pois
questiona-se o facto de o exequente ter ou não que liquidar no requerimento o
número de elementos da universalidade. A questão é doutrinária e teve resposta
de Alberto Reis, Castro Mendes e LF. Legalment consta do art. 716º/7 do CPC
– preceito geral e residual.

Sobre os juros de mora, vencem-se conforme o art. 806º/1 do CC, a partir do dia de
constituição em mora do devedor, ou seja, quando por causa que lhe seja imputável,
a prestação, ainda possível não foi efectuada no tempo devido (art. 804º/2 do CC). A
mora ocorre: i) sendo obrigação pura, depois de o devedor ter sido judicial ou
extrajudicialmente iterpelado para cumprir; ii) no termo do prazo certo para as
obrigações sujeitas a prazo; iii) de imediado – se, por um lado a obrigação de facto
ilícito ou, por outro, se é o própro devedor a impedir a interpelação, considerando-se
interpelado em data que normalmente teria ocorrido.

Quanto à taxa de juro aplicável é a legal (art. 806º/2 do CC mais Portaria 291/2003
de 8 de Abril, mais art. 559º/1 do CC) = 4%. Mas isto salvo convenção das partes
em que se estipule um juro moratório mais elevado que o legal, com a exigência de
ser por escrito (art. 559º/2 do CC). Os limites aos juros são as regras da usura e do
anoticismo: arts. 559º-A, 560º e 1146º do CC.

Existem disposições especiais bancárias que não interessam ao menino Jesus.

Procedimentos de liquidação:

18
A) Por simples cálculo aritmético: assenta em factos que ou estão abrangidos pela
segurança do título executivo ou são factos que podem ser oficiosamente
conhecidos pelo tribunal e agente de execução. Em termos gerais: factos
notórios, de conhecimento resultante do exercício das suas funções ou que o
próprio regime permita esse conhecimento (art. 5º/2 c) e art. 412º do CPC). O
autor não tem de alegar aqueles factos para efeitos de prova. A liquidação por
simples cálculo aritmético deve ser feita pelo exequente no requerimento
executivo (art. 724º/1 h) do CPC). Esta liquidação é constituída por uma
especificação no requerimento executivo dos valores que o exequente considera
compreendidos na prestação devida e pela conclusão do requerimento executivo
com um pedido liquido (art. 716º/1 do CPC). Contudo, este valor liquidado pode
ser impugnado em sede de oposição à execução;
B) Por incidente de liquidação: aqui não depende de cálculo aritmético, mas
implica um cálculo aritmético. Em suma assenta em factos que não estão
abrangidos pela segurança do título executivo, não são notórios e não são de
conhecimento oficioso – são passíveis de controversão. Assim, eles carecem de
um acertamento judicial (incidente de liquidação). O credor tem o ónus de
indicar o valor que lhe parece adequado aos factos e o devedor tem o ónus de
contestar quer os factos, quer o valor concluído. O STJ já considerou que a
liquidação incidental visa não o apuramento do que se tenha como novos ou
outros prejuízos mas a determinação do valor dos já considerados.

Finalmente, sobre as consequências da iliquidez da obrigação: se for ilíquido, fora


de casos excepcionais, é de conhecimento oficioso e é sanável (em regra). O tribunal
deve proferir um despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo, liminar
(art. 726º/4 do CPC) ou superveniente (art. 734º do CPC). Na falta de
aperfeiçoamento/correcção = indeferimento do pedido. Além de que pode servir
como fundamento de oposição à execução ao abrigo do art. 729º e) do CPC.
Também pode fundamentar suspensão da execução (art. 733/1 c) do CPC).

4. Pressupostos Processuais
MTS: os pressupostos processuais, na acção executiva, condicionam a
admissibilidade das medidas coativas necessárias à realização da prestação.

4.1. Relativos ao Tribunal


Importa distinguir entre a competência internacional e a interna.

4.1.1. Competência Internacional


A referir que os problemas de competência internacional colocam-se quando
existem situações jurídicas plurilocalizadas no espaço. Ou seja existe mais do que
um ordenamento jurídico em contacto com a relação jurídica. Vigora aqui o
princípio da territorialidade, segundo o qual: cada Estado possui o monopólio das
medidas coativas efetuadas no seu território. Assim, os tribunais portugueses são

19
internacionalmente competentes para conhecer de uma ação executiva, quando se
verifique uma conexão suficientemente forte com o ordenamento português a ponto
de nele ser permitida a adoção de providências adequadas à realização coativa de
uma obrigação (art. 10º/4 do CPC).

Dispõe o art. 59º do CPC que, quando está em causa uma situação plurilocalizada,
os tribunais portugueses são competentes quando se verifiquem os elementos de
conexão evidenciados nos arts. 62º e 63º, ou ainda do art. 94º do CPC.

Por força do princípio do primado do DUE, antes de atendermos às normas


processuais internas, devemos atender ao Regulamento nº 1215/2012 de 12 de
Dezembro. Isto é relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução
de decisões em matéria civil e comercial. Neste Regulamento, está previsto no art.
24º/5 a exclusividade de competência do EM do lugar da execução – cumpre
agora salientar a dúvida doutrinal quanto ao âmbito de aplicação material deste
preceito:

A) Para MTS estabelece-se a competência exclusiva do tribunal da execução (onde


a execução foi instaurada) para apreciar os diferendos (litígios) resultantes do
recurso à força ou coerção aquando da decisão material de decisões e actos – os
embargos de executado e os de terceiro;
B) LF: na linha de MTS e de Dário Moura Vicente, trata-se de uma norma de
extensão de competência circunscrita ao casos de execução de decisões, pois
limita-se a regular (segundo interpretação do Professor) a competência para os
procedimentos declarativos que tenham lugar por causa de uma execução –
a competência para a execução é determinada através do recurso às normas
internas de cada EM;
C) RP: têm competência exclusiva os tribunais do EM do lugar da execução, mas
os tribunais do lugar onde se situam os bens que serão objeto dos atos
executivos – como a penhora, a apreensão a venda e o pagamento. O que o
preceito visa regular é competência ara a execução da decisão com força
executiva, sem nenhuma restrição. Não visa regular a competência internacional
para o conhecimento dos apensos, de natureza declarativa, em sede de execução
de decisões (como a oposição à execução e a oposição à penhora).

Se este Regulamento não for aplicável, aplica-se o regime dos arts. 62º, 63º e 94º do
CPC. Segundo o art. 63º d) existe exclusividade de competência quando haja
execução sobre bens imóveis situados em território português. Observa RP, que este
último preceito encontra-se parcialmente afastado pelo atual art. 24º/5 do
Regulamento nº 1215/2012. Ainda sobre o mesmo preceito, MCG e LF referem que
estão igualmente incluídos os casos de direitos reais menores de gozo sobre os
imóveis e a compropriedade.

Convém salientar que o art. 94º do CPC, terá aplicação quando não haja
competência exclusiva. Quer isto dizer, poderá haver competência convencional

20
(recurso a pactos de jurisdição) está apenas disponível na ausência de competência
exclusiva internacional.

Só após verificada a existência de exclusividade de competência e a competência


convencional (ausência de ambas) dos tribunais portugueses, partimos para o regime
do art. 62º do CPC, ao abrigo dos princípios da coincidência, da causalidade ou da
necessidade18. Em conjunto com o art. 62º deve ser aplicado o 89º/3 do CPC. Em
suma: os tribunais portugueses têm competência internacional se “as medidas
necessárias à realização coativa da prestação puderem correr em território
português”, prevalecendo, portanto a regra da territorialidade.

4.1.2. Competência Interna


A competência é atribuída por dois critérios: o de atribuição positiva e o da residual.
Segundo o primeiro, cabe na competência dos tribunais judiciais todos as ações
executivas baseadas na não realização de uma prestação devida segundo normas de
direito privado. No segundo, os tribunais judiciais são competentes para ações
executivas que não caibam no âmbito da competência atribuída aos tribunais de
outra ordem jurisdicional (art. 40º da LOSJ e 64º do CPC).

Dispõe o art. 60º/1 que é feita uma repartição entre: matéria, valor da causa,
hierarquia judiciária e o território.

1) Em razão da matéria: regra subsidiária que vigora no domínio da acção


declarativa – art. 40º/1 e 80º/1 da LOSJ e 64º do CPC, assim como o art. 209º/1
da CRP – correm nos tribunais comuns ou judiciais. LF e Paula Costa e Silva:
ressalva para os casos dos tribunais arbitrais executarem as suas próprias
decisões, não podem – são incompetentes – pois faltam-lhes os “exercícios de
poderes de autoridade”, que a acção executiva postula. Paula Costa e Silva
salienta que os tribunais do Estado detêm o monopólio da força (de modo
legítimo) e só estes a pode exercer, por título próprio ou por via de delegação.
Mas não poderá haver delegação nos casos dos tribunais arbitrais – eles não
podem praticar actos de coerção (sejam eles de tutela provisória ou definitiva).

Cumpre assinalar a diferença entre os tribunais de competência especializada e


os de competência genérica (art. 80º/2 e 81 da LOSJ – que separa as instâncias
centrais e a locais), as especializadas estão integradas nas centrais e as genéricas
nas locais. Os de competência genérica são os tribunais de comarca stricto
sensu. Os de competência especializada regulam certas matérias como: família,
menores, trabalho, comércio e marítimos.

Existindo uma secção de execução dentro da instância central, esta tem


competência exclusiva, nos termos do art. 129º/1 da LOSJ, essa competência

18
Sobre esta querela, defende Amâncio Ferreira que, para a acção executiva, apenas se aplicam os
princípios da coincidência e da necessidade.

21
estende-se igualmente à execução das decisões proferidas pela secção cível da
instância central (nº3). Têm competência executiva própria, na instância central,
para execução das suas decisões, os casos: dos arts. 111º/2, 112º/2, 113º/2, 122º,
126º/1 m) e 128º/3 da LOSJ – das matérias já elencadas.

2) Em razão do valor da causa: regem os arts. 41º da LOSJ e o 66º do CPC. Se


existir uma secção especializada de execução, é ela mesma a competente para o
conhecimento da execução (129º/1 da LOSJ). Não sendo uma secção
especializada cabe ver o seguinte:
i) Valor da acção executiva for superior a 50 mil euros – é competente a
secção especializada cível da instância central (art. 117º/1 b) da LOSJ);
ii) Valor da acção executiva for igual ou inferior a 50 mil euros – é
competente a secção genérica da instância local (art. 130º/1 d) da LOSJ).

3) Em razão da hierarquia: segundo o art. 85º, 86º do CPC e o art. 42º/1 da


LOSJ, apenas os tribunais da 1ª instância ou de comarca têm competência
executiva (nestes mesmos artigos está a regulação desta matéria por inteiro),
ainda que a sentença condenatória seja proferida pelo Tribunal da Relação ou
pelo STJ (independente da decisão superior). Estes dois últimos não têm
competência executiva. Podemos assim falar em exclusividade de competência
da 1ª instância para execução de sentenças, mesmo as que foram proferidas
por tribunais arbitrais. Os tribunais superiores são puros tribunais de recurso
e de resolução de conflitos de jurisdição e competência.

4) Em razão do território: a regulação está prevista dos arts. 85º a 90º do CPC,
mas é de referir a aplicação subsidiária dos arts. 70º a 84º (em relação ao
processo declarativo). Veja-se ainda, em caso de cumulação de pedidos os arts.
709º/2 a 4 e 56º/3 do CPC.

É importante, antes de mais, distinguir o título judicial e extrajudicial, quanto


à sua natureza, e ainda se estamos perante um tribunal judicial ou arbitral.
Começando pelo último, se estivermos perante uma decisão de um tribunal
arbitral é aplicável o art. 85º/3 do CPC e o 59º/9 da LAV – arbitragem que
tenha lugar em Portugal, é competente o tribunal do lugar da arbitragem. Esta
disposição aplica-se mesmo quando o objeto do processo tenha conexão com
outras ordens jurídicas estrangeiras. Um tribunal arbitral, não tem competência
executiva. A Doutrina maioritária pronuncia-se pela incompetência total, a título
definitivo ou provisório da tutela com recurso à acção executiva, porém há quem
entenda que, face à necessidade e urgência da situação em concreto, o tribunal
arbitral pode, ainda assim, ter competência executiva provisória. B

Se a decisão provir de um tribunal judicial (português), há que distinguir se a


ação declarativa foi colocada no tribunal de 1ª instância ou se foi colocada numa
instância superior (e que funcionou como 1ª instância).

22
No primeiro caso, é competente para a execução o tribunal da comarca em
que foi julgada em primeira instância, art. 85º/1 e 2, a justificação desta
norma reside no facto de a execução de decisão judicial condenatória correr nos
próprios autos, – isto ainda que a sentença proferida tenha sido revogada em
recurso e por isso se execute a decisão de um tribunal superior. Temos de
assinalar que o art. 85º já passou por muito, pobre coitado, antes de 2003
consagrava o princípio da coincidência plena da competência declarativa e da
executiva. No pós 2003, consagrou a estrita coincidência territorial. Hoje temos
uma regra geral a que RP faz uma consideração de iure condendo, pois seria
vantajoso a possibilidade de o credor optar entre estes critérios actuais e o lugar
da situação dos bens que entendesse mais convenientes para a penhorar – mas,
creio eu, que isto coloca dúvidas em termos de forum shopping na escolha de
tribunais, mas eu sou humilde e não percebo muito disto.

No segundo caso, apenas ocorre quando decide um tribunal da Relação ou o


STJ, a execução é promovida no tribunal da 1ª instância do domicílio do
executado (art. 89º/1 do CPC, ou se este não tiver domicílio em Portugal,
mas tiver cá os seus bens, o lugar da situação desses bens (art. 89º/3 do
CPC).

Perante outros títulos executivos que não sejam decisões de tribunais judiciais e
de tribunais arbitrais – aplicamos a regra residual do art. 89º do CPC. Há que
distinguir:
1) Se a execução foi para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia real
– art. 89º/2 do CPC – é competente o tribunal onde a coisa se encontre ou
situe.
2) Nos restantes casos, execução por dívida pecuniária ou de prestação de facto
sem garantia real, é competente o tribunal do lugar do domicílio do
executado ou, em alternativa, tratando-se de ação movida contra pessoa
coletiva ou em que exequente ou executado tenham domicílio na área
metropolitana de Lisboa e Porto, o tribunal do lugar onde a obrigação deva
ser cumprida (art. 89º/1 do CPC).

A consequência de violação de regras de competência gera a incompetência do


tribunal. Esta poderá ser absoluta ou relativa. Sobre esta questão dispõe o art.
104º/1 do CPC: quanto à incompetência relativa, que o tribunal tem, ainda que
oficiosamente, competência para se pronunciar sobre a violação das normas de
competência territorial quando esteja em causa a execução de sentenças (art.
85º/1 do CPC) bem como a execução de títulos extrajudiciais para pagamento de
quantia certa ou para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia real (art.
89º/1, 1ª parte, e 2 do CPC). Por força deste regime fica vedada às partes a
estipulação de pactos de jurisdição que violem normas de competência previstas
no art. 104º do CPC (art. 95º/1 do mesmo diploma).

23
4.2. Relativos às partes
4.2.1. Sobre a Legitimidade
Trata-se de saber quem é parte legítima. Aqui é simples, basta olhar para as partes e
para o título executivo.

Tem legitimidade quem aparecer no título executivo como exequente e executado


(credor e devedor), art. 53º/1 do CPC – nisto consiste aquilo que MCG denomina de
princípio da legitimidade formal ou da coincidência. Esta regra tem um desvio
(na legitimidade passiva para a execução por dívida provida de garantia real) e
exceções (por alargamento a terceiros abrangidos pela eficácia de caso julgado), a
que atenderemos. Há que relatar, ainda, a legitimidade específica do MP para a
acção executiva. Podemos concluir que o título executivo tem uma função de
legitimação processual19.

Há ainda uma irrelevância da efetiva titularidade do direito ou da obrigação,


constantes desse título. Se acção for promovida contra alguém que não figure no
título executivo, haverá lugar a ilegitimidade ativa, porém poderá também haver
lugar a retificação, do nome das partes, no requerimento executivo (sanando-se o
vício).

Quanto à legitimidade nos casos de sucessão e de título ao portador carece de ser


adaptada.

Na sucessão (inter vivos ou mortis causa), quer do lado passivo como ativo, a acção
deve ser promovida contra os sucessores das pessoas que figuram no título
executivo, aí o exequente tem de alegar os factos constitutivos da sucessão (art.
54º/1 do CPC), no próprio requerimento para execução. A explicação deste preceito
tem como base, precisamente, proteger a contraparte, para não ter de promover nova
acção declarativa – e por isso se forma, perante ele, caso julgado (art. 263º/3 do
CPC) –, para não perder o efeito prático pretendido (e não transmitir o seu direito a
terceiro) e ainda por ser uma manifestação do princípio da economia processual.
Cabe contudo, ao exequente, provar liminarmente, os factos constitutivos que alega.
Se a sucessão ocorrer na pendência do processo executivo, é o incidente de
habilitação o meio adequado para a fazer valer, observando-se as normas dos arts.
351º a 355º, do 356º e 357º do CPC, com as necessárias adaptações. Não será
necessário aplicar o incidente de habilitação se a sucessão ocorrer antes da
propositura da acção executiva, basta que se faça prova dos factos constitutivos
(transmissão do direito litigioso, sub-rogação ou morte de uma das partes), como
referido.

19
Entende-se que, se no título executivo não constarem os nomes tanto do credor como do devedor, há
inexistência do título.

24
Assim, o regime muda consoante a sucessão opere antes da acção executiva ou na
pendencia. Antes: art. 54º do CPC. Na pendência: arts. 351º a 357º do CPC. No caso
de haver uma sucessão mortis causa e a execução a correr apenas contra um ou
alguns dos herdeiros, cabe-lhe (lhes) a este (estes) alegar em sede de embargos de
executado, a existência de outros herdeiros não demandados, estando perante uma
exceção dilatória de ilegitimidade.

No caso do título ao portador (exemplo do cheque), se no título executivo não


constar o nome do credor, a execução é promovida pelo portador (art. 53º/2 do
CPC). Trata-se de um caso de ultra titulum, uma derrogação do princípio da
legitimidade formal. As obrigações incorporadas em títulos ao portador
consubstanciam, segundo Nuno Pinto Oliveira, “obrigações de sujeito ativo
indeterminado”, art. 511º do CC. O fenómeno da posse20 do documento passa a ser
condição necessária e suficiente para o exercício do direito cartular, num duplo
sentido: legitima o portador a exercer o direito nele incorporado e impede o
verdadeiro titular de o exercer, se não tiver a posse. O devedor desonera-se
validamente se fizer o cumprimento mediante o portador legítimo do título.

5. Sobre a Oposição à Execução


Estamos perante uma acção declarativa que visa impedir a produção de efeitos do
título executivo. Ela corre por apenso ao processo de execução e tem uma causa de
pedir especial (causa de pedir e pedido próprio). Trata-se de uma contra acção
incidental (e especial) com natureza extintiva quanto aos seus efeitos jurídicos e que
permite ao executado exercer o seu direito de defesa. Não se trata de um ónus,
ninguém tem um dever de deduzir a oposição à execução, mas ressalvamos que é
útil faze-lo, né?

LF, no entanto, refere que se trata de um ónus de excecionar cuja não realização faz
precludir um direito processual de exercício potencial. A oposição realiza-se por
meio de embargos. O executado apenas poderá opôr-se após a sua
citação/notificação.

Importa referir que se inicia com o art. 147º/2 do CPC e obedece às formalidades do
art. 552º do CPC. A não utilização não faz operar o mecanismo da revelia nem
quaisquer efeitos probatórios. Trata-se de um regime excecional, dado o art. 728º/ 3,
face ao art. 139º/3 e pela não aplicação do art. 569º/2, todos do CPC.

5.1.Natureza Processual

Relativo a este aspeto são debatidas 3 hipóteses: i) uma acção constitutiva; ii) uma
acção de simples apreciação negativa de um pressuposto processual; iii) ou uma
20
Brevemente solidificada pela doutrina como um fenómeno de natureza suis generis, doutrina esta
iniciada, com merecido aplauso da nossa parte, por Nuno Alexandre Salpico. Até lá, a nossa doutrina
maioritária andará a leste.

25
acção de simples apreciação negativa da dívida exequenda ou dos seus termos21. RP
refere que tratar-se de uma figura “zebra”, isto é, estamos perante uma acção
constitutiva, por um lado, mas perante uma acção de simples apreciação negativa,
por outro. Com apoio a esta tese híbrida ou mista, invoca o Professor o art. 732º/4 e
5 do CPC.

5.2.Fundamentos
i) Na execução de sentença de tribunais estaduais (art. 729º do CPC, o preceito
é taxativo):
a) Falsidade (art. 372º CC), cujas modalidades podem ser: ideológica ou
material, nesta última está o caso da contrafação. Tem por objecto todo o
processo declarativo, a sentença ou o traslado. A falsidade deve ser
arguida nos termos dos arts 446º a 450 do CPC. Ela pode ser de
conhecimento oficioso se for evidente em face dos sinais exteriores do
processo ou do traslado (art. 372º/3 do CC);

b) Infidelidade (arts. 385º e 387º/1 do CC) encontra um paralelismo com a


falsidade, não dá lugar ao caso do art. 444º/3 do CPC porém serve de
fundamento para oposição à execução. Este vício só é de conhecimento
oficioso quando o processo declarativo original se encontre no tribunal
da execução. De ressalvar que o juiz pode lançar mão do processo para
confronto (art. 436º do CPC) quando existam sinais exteriores do
traslado que revelem falsidade;

c) Falta de pressuposto processual geral, vale para qualquer pressuposto


processual e não se afasta a possibilidade de o vício ser suprido nos autos
do processo executivo (art. 6º/2 do CPC). Sendo o vício suprido, art.
611º do CPC, o juiz faz cessar o fundamento de oposição à execução,
considerando-o improcedente. Se o exequente não sanar, após o
despacho de aperfeiçoamento do juiz ter sido lançado, o juiz deve emitir
um despacho de indeferimento liminar. Porém, se o mesmo omitir esse
dever, há que verificar se o exequente viu a sua oportunidade de sanar
precludir-se no tempo (vejam-se arts. 29º/2, 48º/2 ou 261º do CPC), se
ainda for a tempo, pode sanar o vício, apesar da sua inércia inicial;

d) Falta ou nulidade de citação. O RP pediu-me para fazer uma pesquisa


prévia, sobre o processo de injunção para apresentar em aula. Daí colocar
aqui, caso possa sair na frequência/exame: sim, é possível a citação no
processo de injunção provocar a interrupção da prescrição nos termos do
art. 326º do CC, a Jurisprudência na Relação e no STJ é unânime e a
própria legislação do processo de injunção faz remissão legal para o
preceito em causa, aplicando-se na sua totalidade. Feito o à parte neste
âmbito, moving on. Os casos de falta de citação ocorrem nos casos do
21
Assim esquematiza AL.

26
art. 188º do CPC e, há nulidade nos casos do art. 191º/1 do CPC. A falta
de citaçã apenas fica sanada se o réu intervir no processo sem arguir a
besta (art. 189º do CPC). Sobre a nulidade da citação, tem prazo (art.
191º/2 do CPC). A falta é de conhecimento oficioso (art. 196º do CPC) e
a nulidade tem de ser arguida pelo réu (art. 197º/1 do CPC),
consequências disso: falta = fundamento de indeferimento liminar;
nulidade = mera arguição nos embargos. Ressalva-se que estamos aqui a
falar de citação em termos de acção declarativa. Na acção executiva há,
de imediato, fundamento para anular a execução (art. 851º do CPC);

e) Caso julgado, art. 625º do CPC, apenas é eficaz a decisão que


primeiramente transitar em julgado aquando a existencia de duas
decisões sobre a mesma questão. Esta matéria é de conhecimento
oficioso (art. 578º do CPC);

f) Facto extintivo ou modificativo da obrigação. Abrange as várias


causas de extinção das obrigações (pagamento, dação em cumprimento,
consignação em depósito, novação, remissão, confusão, substituição do
objecto, extinção parcial ou alteração das garantias, a prescrição,
usucapião). A compensação é uma figura especial e foi autonomizada.
Quanto à alínea g), estão em causa excepções peremptórias e a reabertura
do contraditório.

Coloca-se a questão de saber se “por documento” significa somente


prova documental ou se, por outro lado, pode ser por qualquer meio de
prova. MTS entende que pode ser por qualquer meio de prova, indo
contra o entendimento de RP que apenas admite prova documental. A
Jurisprudencia favorece este último entendimento. Parece ser de facto
essa a resposta, pois o legislador ao colocar “qualquer meio” para a
prescrição, parece que quis limitar a prova nas restantes excepções
peremptórias. MTS refere que essa interpretação está ferida de
inconstitucionalidade. LF vai no mesmo sentido de RP, porém admite
que existe um “desafasamento entre direito substantivo e o direito
processual executivo”, um pouco de extremismo da autonomia do título
executivo.

Outra questão, é a de saber se o facto extintivo ou modificativo há de ser


posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração ou
depois dele. MTS refere que é subjectivamente superveniente,
articulando os arts. 729º g) e 588º/2, com o 728º/2 do CPC; LF refere
que “a excepção em sentido próprio não pode ser feita valer na oposição
quando se baseie em pressupostos já verificados à data do encerramento
da discussão” – o Professor retira essa conclusão da análise do art. 860º
do CPC e do aditamento referido no nº3. O preceito não refere os factos

27
impeditivos, porém estes devem estar sujeitos a este regime em apreço,
afirma LF.

g) Compensação, a sua autonomia justifica-se pelo facto de não ser uma


mera defesa. Pois a reconvenção vai além da defesa. Aqui apenas
estamos num plano estritamente de defesa do executado, porém, dada a
caracterízação adjectiva da compensação, seria contrário ao regime
substantivo que a mesma não pudesse servir de fundamento para
oposição à execução. Ela continua a ser uma excepção peremptória e, no
entendimento de LF, estamos perante um ónus de reconvir na acção
declarativa.

O STJ vai no mesmo sentido, de atribuir natureza de reconvenção à


compensação (Ac. 26/04/12), por isso não se admite que, na acção
executiva, o réu possa fazer valer o seu valor superior face ao autor, para
pedir o crédito. A sentença não poderá ser invocada a seu favor, não terá
valor condenatório futuro para o pagamento da diferença entre os dois
créditos, tão pouco se reconhece a dívida e (muito menos) se pode fazer
valer do pagamento forçado dessa dívida. A compensação apenas poderá
ser aqui utilizada como: i) objeção, quando ele declara
extrajudicialmente que quer compensar; ii) excepção propriamente dita,
quando ele declara no requerimento de oposição. LF refere que, com a
autonomização da alína g), o executado fica libertado de fazer prova
(libertação do ónus) de provar por documento, o facto constitutivo do
contracrédito. Assim como a sua declaração de compensar (arts. 847º e
848º do CC). MTS refere que não há limites aos meios de prova, RP
discorda, referindo que a alínea h) deve ser entendida em consonância
com a g) e daí concluir que devem, ambos os preceitos, ter os mesmos
limites.
5.3.Efeitos: a Suspensão

A regra geral é a de que não se suspende o processo de execução. Isto decorre do


art. 733º do CPC. Vai de acordo com a ratio do processo executivo: garantir o
pagamento da dívida exequente. Por efeito suspensivo entende-se a paralisação de
efeitos da pendência. A suspensão opera nos termos previstos na lei (art. 733º do
CPC), mas haverá outro disposto?

Há que colocar a dúvida da aplicação do disposto consagrado no art. 272º/1 do CPC:


segundo LF é possível recorrer a este disposto, uma vez que estamos num processo
declarativo que corre por apenso, é admissível suspender a instância por ocorrência
de causa prejudicial. O Tribunal da Relação do Porto concordou no AC. 17/10/2013.
Não parece que se deva seguir este entendimento, como refere RP, é possível parar
a acção declarativa, mas não a acção executiva legitimada com um título executivo.

28
Por isso não se suspende, nesta sede, com base no art. 272º/1 do CPC pois não foi
visado para a execução.

i) Suspende-se no caso de o embargante prestar caução idónea, de alcance


geral (arts. 733º/1 a) e do mesmo preceito o número 6, com as devidas
remissões legais, arts. 650º/ 3 e 4 do CPC e 623º e ss do CC). Quanto à
delimitação, abrange a quantia em si, os juros de mora, custos de execução,
honorários e custos do agente de execução.
5.4.Aperfeiçoamento e Recusa

6. Penhora
6.1.Conceito

Por um lado é um acto processual, por outro é, igualmente, uma fase processual ou
um conjunto de actos ou sequência dos mesmos.

É um mecanismo ou instituto legal que garante a satisfação do direito do exequente,


mediante a transmissão de direitos do executado, seguida, no caso de ser feita para
terceiro, do pagamento da dívida exequenda. Previamente realiza-se a apreensão
(judicial) de bens (pelo Estado) que são objeto desses direitos patrimoniais, ao
mesmo tempo paralisando ou suspendendo a afetação jurídica desses bens à
realização de fins do executado. Basicamente, este último não poderá exercer
plenamente os seus poderes, oriundos do direito que ele é titular. A afetação é
direcionada à realização dos fins da penhora. A penhora está para o incumprimento,
como o João Massacote está para o aborto. Se abortares, tens o Massacote atrás. Se
incumprires, prepara-te para seres perseguido (penhorado) também (art. 817º do
CC). Lembra-te, não incumpras.

Convém salientar:

a) Penhora incide sobre direitos dos bens (coisas ou prestações) – é o seu objeto
imediato. As coisas são o objeto mediato, no caso dos bens imóveis e móveis;
b) Apreensão é que incide sobre coisas22.

A ter em conta os regimes do CC, arts. 817º e ss; e do CPC, 735º e ss.

6.1.1. Objeto: explica RP que são os direitos dos bens. Conceito jurídico adotado
para a acção executiva: “toda e qualquer situação jurídica ativa disponível de
natureza patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado cuja
titularidade pode ser transmitida forçosamente nos termos da lei
substantiva”.

22
Não, não podemos apreender o Ricardo Serra, pese embora a bondade da solução de jure condendo e
utilidade dessa possibilidade.

29
6.2.Natureza

Pese embora a apreensão de bens (acto judicial) demonstre uma conotação de ius
inperii, pela apreensão dos bens (e poder coercivo do tribunal), a natureza da
penhora é definitivamente civil.

Discute-se é a questão de a penhora assumir uma natureza de garantia real.

MTS pronuncia-se negativamente, correspondendo à perspetiva “processualista”,


sendo o entendimento mais recente, defendendo que é uma “fonte de preferência
sobre o produto da venda dos bens penhorados”. Do mesmo modo, RP nega essa
possibilidade de estarmos perante uma garantia real, assim como Almeida Costa:
“em rigor não é uma garantia real, mas um acto processual que visa criar a
indisponibilidade dos bens adstritos à execução, mediante a produção dos mesmos
efeitos substantivos das garantias reais”.

Este ponto, para tomar posição, carece de articulação com a “Preferência” como
efeito da penhora. Entende-se, na perspetiva processualista que a penhora não é uma
garantia real por ser incompatível com a função de conservação dos bens para
realização de um direito de crédito. A penhora não acompanha a transmissão do
bem, falta-lhe a sequela. O argumento para entrarmos na natureza dos direitos reais
é o art. 822º do CC, por conferir preferência, porém os Autores divergem no
entendimento desta preferência (será processual, real ou pessoal?). Pelo que
também, desculpem por manter a dúvida, pode ser argumento para não conferir essa
natureza de garantia real.

Existem argumentos para não conferir a natureza de garantia real fora o artigo
citado: i) dependência do nascimento e subsistência do direito ser de natureza
processual (não ocorrência de extinção da instância executiva) e não privatística –
argumento este que nos parece falível; ii) só se retira da penhora direitos de natureza
processual, no sentido de ela ser um reflexo da natureza pública do acto de
apreensão dos bens – argumento que nos parece igualmente falível, ora como refere
Castro Mendes, a penhora tem eficácia extraprocessual.

A orientação contrária é a chamada “privatística”, de Menezes Leitão, Santos


Justo, LF, Pinto Duarte e Miguel Mesquita. Menezes Leitão pronuncia-se no
sentido de estarmos perante uma “garantia real judiciária”. Desta última posição diz-
se: penhora é um direito real limitado, o exequente goza da preferência
relativamente aos restantes credores sem garantia real anterior, existe sequela para
se poder executar o bem ou os bens penhorados, mesmo que tenham sido
transferidos para terceiro (todavia extingue-se no caso de haver insolvência do
devedor). LF acrescenta que o interesse do credor está protegido em absoluto, existe
uma plena oponibilidade a terceiros enquanto a penhora subsistir.

Podemos ainda citar uma terceira via ou teoria mista, mas não vale a pena.
Seguimos a solução processualista, parece também ser esse o caminho seguido pela

30
jurisprudência (retiro isto da crítica que LF faz no manual aos acórdãos). Não se
estranhe se não utilizarmos termos como “direito de sequela”, como vem no manual
de LF.

6.3.Espécies/Formas do Acto da Penhora

A Lei distingue entre:

a) Penhora de bens imóveis (arts. 755º e ss do CPC) – realiza-se por comunicação


à conservatória do registo predial competente (arts. 41º, 48º/1 e 60º do CRPred.).
Aqui ocorre transferência de posse meramente jurídica, à qual se segue a feitura
do auto da penhora (arts. 753º/1 e 755º/3 do CPC), a afixação dum edital na
porta ou noutro local visível do prédio penhorado (art. 755º/3 do CPC) e a
tradição material da coisa para o depositário (art. 757º do CPC);

b) Penhora de bens móveis (arts. 764º e ss do CPC) – realiza-se por comunicação


à conservatória quando o bem móvel seja sujeito a registo (art. 768º/1 do CPC).
Depois cabe verificar os casos, sendo um automóvel, navio ou aeronave (nºs 2,4
e 5 do art. 768º do CPC). Se não tiver sujeito a registo, tem lugar com a tradição
material da coisa, há uma remoção para o depositário público ou não, isto salvo
impossibilidade ou grande dificuldade na remoção, lavrando-se auto da
diligência (arts. 764º/1, 2 e 5 + 766º do CPC);

c) E penhora de direitos (arts. 773º e ss do CPC) – se não forem sujeitos a registo,


faz-se por notificação a terceiros: i) penhora de direito de crédito; ii) penhora de
direito a bens indivisos; iii) penhora de direito ou expectativa de aquisição. O
primeiro e último caso realizam-se por via de notificação pessoal (notificação
feita com formalidade e garantias da citação pessoal, prescritas no art. 773º/1 do
CPC – diz-nos Januário Costa Gomes que a falta destes elementos gera
invalidade, produz a nulidade da notificação).

Esta última determina-se por exclusão de partes. Ela tem lugar quando não haja
direito de propriedade pleno e exclusivo do executado sobre coisa corpórea, nem
um haja direito real menor que possa acarretar a posse efetiva e exclusiva da
coisa móvel ou imóvel.

Vejamos os respetivos pontos da penhora de direitos:

i) Penhora do direito de crédito – é uma manifestação da eficácia externa


das obrigações23. O devedor é notificado que o crédito fica à ordem do

23
Sobre este tema remetemos para SALPICO, Nuno Alexandre, Eficácia Externa das Obrigações in tema
de melhoria a Direito das Obrigações.

31
agente de execução (art. 773º/1 do CPC). No prazo de 10 dias, o devedor
pode optar entre as seguintes estratégias:

1) Impugnar a existência de um crédito (775º/1 do CPC), caso em que, se


a penhora se manter, o crédito assume a natureza de litigioso (775º/2 do
CPC);

2) Ou invocar a exceção de não cumprimento de obrigação recíproca


(776º/1 do CPC), podendo seguir-se, por apenso, uma execução acessória
para exigir a prestação do executado, se este confirmar a declaração
(formando título executivo, conforme o art. 776º/2 e 4 do CPC) e o
crédito passa também a ser considerado litigioso se o executado
impugnar a declaração e o exequente mantiver a penhora (art.776º/3 do
CPC);

3) Reconhecer a existência do crédito, art. 773º/2 do CPC, e ele fica


imediatamente assente no âmbito do processo executivo, podendo ser
como tal, adjudicado ou vendido (art. 777º/2 do CPC), reconhecendo-se
a formação de título executivo em que se pode fundar contra o terceiro
devedor por meio de substituição processual (do executado pelo
exequente) ou por ação do aquirente e por apenso ao processo executivo
(art. 777º/3);

4) Fazer qualquer outra declaração sobre o crédito penhorado que


interesse à execução (art. 773º/2);

5) Fazer nada, produzindo efeito cominatório de equivaler ao


reconhecimento do crédito, nos termos do art. 773º/4 do CPC, se a
houver, e transmitidos ao terceiro devedor no acto da notificação,
constituindo título executivo a notificação efetuada e a falta de
declaração (art. 777º/3); mas, se, não pagando o terceiro devedor, contra
ele for proposta execução, é-lhe ainda possível, em oposição provar que
o crédito não existia, com o que a penhora do direito de crédito se
extingue e a venda, a ter tido lugar, é anulada, sem prejuízo do direito do
exequente a haver do terceiro devedor uma indemnização que pode ser
feita valer na própria oposição (art 777º/4 do CPC).

Consistindo o crédito no direito a depósito em instituição bancária ou


equiparada, há que atender às especialidades do art. 780º do CPC.
Januário Costa Gomes refere-nos para articular o preceito com o art.
82º CMVM, para os valores mobiliários escriturais, onde se realiza por
comunicação à respectiva entidade registadora.
ii) Penhora do direito a bens indivisos – o art. 781º do CPC integra
diferentes situações:

32
a) Direito de quota em coisa comum (contitularidade de direitos reais),
é o caso da compropriedade;
b) O quinhão numa universalidade de direito (art. 743º do CPC), são os
casos da herança e meação de bens do casal, a título de exemplo;
c) Direito real de habitação periódica ou outro direito real menor que
não acarrete a posse efetiva e exclusiva do seu objeto;
d) A quota em sociedade civil ou comercial.

O regime de notificação apenas muda no caso das sociedades, a


notificação é feita à sociedade. Nos demais casos, se os bens não forem
sujeitos a notificação é direcionada ao administrador dos bens (se
houver) e aos terceiros titulares ou contitulares dos restantes direitos
implicados. A penhora é considerada feita à data da primeira notificação.
Porém se os bens forem sujeitos a registo, as notificações seguem-se à
comunicação à conservatória, a qual se tem por feito a apreensão.

Os notificados podem contestar a existência do direito penhorado ou


fazer ou fazer, acerca dele, outras declarações pertinentes, art. 781º/2 e 4
do CPC. O silêncio não tem efeito cominatório. Não impede a
possibilidade de ocorrer embargos de terceiro.

Podem os contitulares declarar que pretendem que a venda executiva


tenha por objeto a totalidade do bem ou do património, caso em que,
tendo todos feito tal declaração, a venda abrangerá essa totalidade (art.
781º/2 e 4 do CPC).

iii) Penhora de direitos ou expetativas de aquisição – É o caso de penhora


da posição do promitente comprador fundada em contrato com eficácia
real, bem como a do titular de direito de preferência de origem legal ou
fundado em contrato a que as partes tenham atribuído eficácia real. É
também penhorável, na pendência da condição, o direito que seja objeto
de negócio condicional, cuja alienação, de eficácia subordinada à do
próprio negócio, a lei expressamente admite (art. 274º/1 do CPC) – caso
da expetativa de aquisição de bem vendido com reserva de propriedade.

Aplica-se mutatis mutandis as disposições relativas à penhora de direito


de crédito (art. 778º/1 do CPC). A penhora é feita por notificação à
contraparte (promitente vendedor, pessoa sujeita à preferência, vendedor
reservetário ou comprador sob condição resolutiva), a qual pode
impugnar a existência do direito penhorado, invocar o direito a qualquer
prestação de que a aquisição dependa, reconhecer o direito fazer sobre
ele qualquer outra declaração relevante ou nada declarar, tendo-se neste
caso o direito como reconhecido, nos termos em que se tem por
reconhecido o direito de crédito.
6.4.Função e Efeitos

33
6.4.1. A função da penhora, para LF, é de garantir o interesse do credor e
satisfação do seu crédito (direta ou indiretamente). Como? Apreendendo
judicialmente os bens que constituem objeto de direitos do executado. Mas
não só. Delimita, também, o objeto dos actos executivos subsequentes e
assegura a sua viabilidade. Não estamos perante uma sanção, a função aqui é
de acautelar o exercício do direito de execução sobre o património do
devedor, daí que se diga que a função é de garantia do cumprimento da
obrigação. Neste sentido, tanto LF como RP.
6.4.2. Quanto aos efeitos:
a) Preferência – constituição de preferência a favor do exequente. A penhora
envolve a constituição de um direito real de garantia a favor do exequente (no
entender de LF). O exequente fica com o direito de ser pago com preferência a
qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (art. 822º/1 do CC) –
aqui discute-se a natureza jurídica da penhora, supra referida;
b) Desapossamento – segundo RP, o Estado passa a possuidor dos bens, o
executado (por sua vez) perde a posse (ou transmite-a). Isto equivale a dizer que
o executado perde os poderes de gozo que integram o direito de que ele é titular.
Passam para quem? Para o Tribunal, por via de um depositário que vai exercer
os poderes transferidos. O depositário exerce posse em nome do tribunal, este
último exerce nova posse do bem penhorado24.
c) Indisponibilidade jurídica – Os actos dispositivos subsequentes, por parte do
executado, têm como consequência um desvalor de ineficácia em relação à
execução. O executado mantém a titularidade do direito, porém este direito está
“vazio de conteúdo”. O executado perde os poderes de gozo e não pode dispor
dos bens. O art. 819º do CC não tem uma eficácia plena, isto porque a venda em
si é válida, porém é inoponível à execução. AL e RP falam numa “ineficácia
relativa ou posicional”, isto porque apenas vale para a execução. LF fala aqui de
um direito de sequela, porém não nos parece adequado usar essa expressão, uma
vez que não se trata, verdadeiramente, de uma eficácia erga omnes. Castro
Mendes afirma que é uma eficácia situacional, diversa da inoponibilidade
subjectiva. MTS faz uma ressalva, apesar de considerar a alienação (do bem
penhorado) ineficaz, ela confere uma verdadeira posição de vantagem
processual, isto porque o produto da venda pode servir para o executado realizar
o pagamento do crédito e demais despesas, extinguindo a instância. Aliás, até
um terceiro pode chegar-se à frente e pagar para extinguir a instância.
Compete verificar:
i) Em caso de bens imóveis e móveis sujeitos a registo: a venda é oponível
à penhora se for registada antes da penhora. Se gostaram de reais, ainda

24
Antunes Varela refere-nos que o executado perde a posse e não pode exercer os mecanismos de tutela
da posse, embora mantenha a titularidade do direito. Outra questão desenvolvida é o facto de, se a
penhora for levantada, a posse reinicia-se para o executado. Para efeitos de usucapião, refere-nos o
Professor que somam-se as posses, porque a posse do tribunal é derivada e há lugar a acessão de posse;
Neste sentido, também LF; Em sentido contrário está RP, apelando a uma posse civil.

34
bem porque vem o round 2, a ter em conta o Código do Registo Predial
(doravante CRPred.), art. 5º/4, sobre o conceito de terceiros;
ii) Bens móveis não sujeitos a registo: depende do auto/ notificação da
penhora. Nota: se um tipo quiser vender tudo à pressa, antes da penhora,
receando que os seus bens sejam afetados, pode-se lançar mão de uma
impugnação pauliana ou de um arresto (melhor ainda serão os dois ao
mesmo tempo, como tutela cautelar à penhora).

O que acontece ao direito da pessoa (terceiro) que comprou o bem ao executado


(após penhora) se ocorrer a venda executiva? O terceiro que comprar o bem ao
executado, sendo ele inoponível à execução, adquire propriedade e pode exercer
os poderes sobre o bem. Porém, após a venda executiva o adquirente vê o seu
direito a extinguir-se por caducidade. Se, após a venda executiva, sobrar
dinheiro, sendo produto da venda, pode o sujeito que viu o seu direito caducar,
fora do processo executivo, exercer o seu direito ao remanescente – 824º do CC,
transferência por sub-rogação objetiva para o produto da venda. Porém se nada
restar, ele não fica totalmente a arder, pode exercer os seus direitos em sede
obrigacional.

No caso de a penhora ser levantada, o direito adquire eficácia plena para o tipo
que comprar bens penhorados. Como se nada tivesse acontecido.

6.5.Princípios Gerais
a) Garantia geral das obrigações – em princípio incide sobre todo o património
do devedor (bens que o integram), é a sujeitabilidade da generalidade dos bens
do devedor à execução para satisfação do direito do credor a uma prestação
pecuniária (responsabilidade patrimonial). Pode incidir sobre bens do principal
ou subsidiário (caso do fiador);
b) Apenas estão excluídos os bens que a lei declare como impenhoráveis;
c) Os bens de terceiro só podem ser objeto de penhora em 2 casos – são os
casos: i) sobre eles incide direito real constituído para garantia do crédito
exequendo; ii) quando tenha sido julgada procedente impugnação pauliana de
que resulte para terceiro a obrigação de restituição dos bens ao credor;
d) Existência de desvios relativos a patrimónios autónomos – casos da
penhorabilidade subsidiária;
e) Apenas são executados bens do executado (princípio absoluto) – seja ele
principal ou subsidiário.
6.6. Diligências da penhora: questão do art. 751º do CPC

Estamos no âmbito da fase preparatória e da descoberta dos bens. Há que referir o


facto de a revisão ter eliminado o gradus executonis. Há que articular o art. 751º
com o 724º/1 i) + 724º/3 + 735º/3 e 751º/1 a 3. O entendimento geral é que o agente
de execução não está vinculado ao 751º/2, no caso de haver violação do direito,
desrespeito pelo princípio da proporcionalidade (em sentido estrito e adequação) e

35
pelos regimes da impenhorabilidade. O que diverge é o entendimento de “deve
respeitar as indicações”. Dizem então os autores:

a) LF: há um dever de respeito pela indicação mas com o entendimento da


existência de um limite (não vincular o agente);
b) RP: significa que o agente de execução apenas decide quais os bens entre os
indicados (susceptibilidade de o Professor ter revisto a sua posição no novo
manual);
c) Paula Costa e Silva: no sentido do texto anterior à revisão, diz ainda ser uma
nomeação de bens condicionadora da concretização do objeto da penhora.

Seguimos a primeira posição.

6.7.Impenhorabilidades

Apenas os bens do devedor estão sujeitos à execução, art. 817º do CC e art. 53º do
CPC (âmbito subjetivo da penhora). Exceção a esta regra está o caso do art. 735º/2
do CPC que admite, em casos especialmente previstos na lei, a penhorabilidade de
bens de terceiro à dívida. Porém, este terceiro para a dívida não poderá ser terceiro
para o processo sob pena de ilegitimidade. Terá que haver título executivo contra
este, assim não podemos incumprir os requisitos de legitimidade. O terceiro tem
então de ser considerado executado, caso contrário não poderemos proceder com a
penhora.

6.7.1. Impenhorabilidade absoluta: verificamos que são apenas os bens do


executado salvo a exceção. No entanto, não são todos os bens deste. Existem
bens que não podem ser penhorados ou apenas podem em certas condições.
Trataremos das absolutas, que são entendidas como concretizações do art. 1º
da CRP, da Dignidade da Pessoa Humana e ainda do art. 18º/2 da CRP que
enuncia a proporcionalidade das restrições aos direitos fundamentais.
Ressalvamos desde já que as normas do CPC, em questão, são imperativas,
quer isto dizer que não estão na disponibilidade das partes. São 3 grupos, a
saber:
i) Bens cuja apreensão resulte na ofensa aos bons costumes;
ii) Bens cuja apreensão careça de justificação económica, pelo seu
diminuto valor venal;
iii) Bens isentos da penhora por disposição especial.

Está em causa o art. 736º do CPC – em articulação com muitos outros


preceitos, vejam-se: arts. 2008º/2, 1488º, 2028º, 1105º, 1106º, todos eles do
CC. Por coisas ou direitos inalienáveis temos o caso dos direitos de
personalidade, créditos de alimentos e uso e habitação (alínea a) do art. 736º
do CPC). Na alínea b), há uma presunção jures et de jure dos fins de
utilidade pública e, portanto, não poderão ser penhorados esses bens. Na
alínea c), refere-nos LF que teremos de articular a disposição com outras,
como o art. 280º/2 do CC e o art. 13º/2 + art. 41º/1 da CRP para poder

36
concretizar o preceito, Carvalho Fernandes dá o exemplo de droga e
pornografia penalmente ilícita como bens impenhoráveis por ofenderem os
bons costumes. No caso da d) está em causa a natureza religiosa. Para a e)
são impenhoráveis as coisas no cemitério, estejam elas a ser ocupadas ou
não. No caso da f) não percebo o porquê dos bancos não poderem ser eles a
penhorar, uma vez que são uma cambada de deficientes e atrasados mentais.
Estou a brincar, decorre da especial necessidade dessas pessoas cujo Direito
deve conferir especial proteção (concretização da Dignidade da Pessoa
Humana para MCG). Para a g), há que ter em conta o seu especial estatuto
cuja natureza vai além da natureza patrimonial. A ter em conta a
interpretação restritiva que o TC faz ao art. 736º do CPC uma vez que, em
certos casos, ocorrem sacrifícios excessivos para o exequente e, por isso, há
desvios ao princípio da igualdade. Deve este preceito ser rigoroso na sua
aplicação para não beneficiar o incumpridor.

6.7.2. Bens relativamente impenhoráveis: está em causa o art. 737º do CPC. O


facto de ser relativa quer dizer que apenas se poderá penhorar se forem
cumpridas determinadas condições (só respondem numa determinada
circunstância processual).

O primeiro caso são os bens do Estado e das restantes pessoas coletivas


públicas e afins. A impenhorabilidade só opera não havendo execução para
pagamento de dívida com garantia real. Trata-se, na verdade, de apurar a
natureza pública e os fins de utilidade pública (atividade económica do
Estado mas do sector privado).

O segundo caso consta do nº2 do preceito, aqui teremos de ter em conta


algumas interpretações jurisprudenciais: i) O STJ considera que se aplica a
todas as profissões; ii) As Relações entendem “profissão” no sentido de
“forma a abranger qualquer espécie de atividade lícita, qualquer ocupação,
qualquer arte ou ofício, por mais rudimentar ou modesto que seja; iii) a
Jurisprudência, em geral, considera que o preceito não se aplica a sociedades
e pessoas coletivas (dado o princípio da especialidade, todos os bens seriam
impenhoráveis e conferia assim uma imunidade); iv) uma outra parte da
jurisprudência refere que deve ser feita uma interpretação restritiva do
preceito dada a excecionalidade da norma e o interesse do exequente, na
prática será atribuir uma maior seriedade e exigência ao carácter
“indispensável”. LF interpreta “indispensável” no sentido de “sem os quais é
impossível realizar a atividade habitual”. Um entendimento que
acompanhamos. Exceção a esta norma do nº2 são as alíneas que dali
constam, que podem ser penhoradas, daí o seu carácter relativo, ressalvando
que podem ter que ver com a disponibilidade do processo civil, caso da
alínea a) do mesmo número.

37
O terceiro caso é o nº3. Aqui teremos que fazer, também, algumas
considerações. Primeiro estamos a falar de bens que estão na casa de
habitação efectiva do executado. Casa de habitação efectiva, para MCG
difere de residência permanente, por isso o conceito parece a ser mais lato do
que aparenta à primeira vista. Quanto a “bens imprescindíveis a qualquer
economia doméstica” é um conceito indeterminado e carece de
concretização por via interpretativa. LF refere a necessidade de atender ao
critério da “sobrevivência do devedor”, verificar o que é essencial ao seu
sustento, segundo um padrão mínimo de dignidade social, apreciado ainda
ao nível sociocultural e económico de uma família média portuguesa. O
juízo terá de ser feito no caso concreto. Como refere RP, a ponderação não é
meramente sociológica, mas também axiológica, aferível à luz da Dignidade
da Pessoa Humana nos dias de hoje. A discórdia de RP, com LF, está em
não considerar (o primeiro autor) o conceito legal como um dado estatístico
– da família média portuguesa. Segundo RP deve-se fazer, sim, um juízo
segundo o princípio da Proporcionalidade e da Dignidade da Pessoa
Humana, até por interpretação sistemática com a lógica da penhora assentar
na medida do necessário para garantir o crédito, juizos de proporcionalidade.

Estamos perante uma impenhorabilidade legal por estarem em causa


interesses vitais do executado, a mesma é relativa uma vez que podem estes
bens ser executados caso se trata de execução para o preço da sua aquisição
ou reparação.
6.7.3. Bens parcialmente penhoráveis: a regra consta do art. 738º do CPC.
Januário Costa Gomes interpreta o preceito no sentido de ser apenas
aplicável às pessoas singulares.
6.8.Penhorabilidade Subsidiária

São os casos de:

i) Sociedade comercial em nome coletivo;


ii) Sociedade civil;
iii) Sociedade comercial em comandita;
Relativo à posição de sócios face às sociedades elencadas.
iv) Dívida com garantia real – Se o devedor tiver constituído uma garantia real
para saudar uma dívida, esse bem é executado em primeiro lugar e só depois,
na insuficiência deste, se procede ao resto do património. Esta regra não
opera se o bem for de terceiro e a propositura da acção seja apenas
direcionada ao devedor. Também pode acontecer a renúncia à garantia real
constituída;
v) Fiador – figura que nos vamos concentrar agora.

A fiança ocorre (via legal ou convencional) quando um terceiro assegura, com o seu
património, o cumprimento da obrigação alheia, ficando pessoalmente obrigado
perante o respetivo credor. Tanto o devedor como o fiador são responsáveis. Trata-

38
se de uma garantia pessoal típica. Teremos de ter em conta os regimes dos arts. 627º
e ss do CC e do art. 745º do CPC.

O fiador é igualmente titular passivo de uma obrigação (acessória) da do devedor


principal. Assim, como na situação dos sócios, ele goza do mecanismo do benefício
da excussão prévia, pode exigir a prévia excussão do património do devedor
principal antes dos seus bens responderem pela dívida (arts. 627º/2 e 638º do CC).

O mecanismo não opera automaticamente, carece de invocação, por manifestação de


vontade do devedor subsidiário. Salvo o caso do DL 38/2003 que faz operar
automaticamente, quando o devedor subsidiário só era citado depois da penhora dos
bens do devedor principal ou depois da penhora dos seus próprios bens. Trata-se de
um ónus de alegação deste benefício (art. 745º/1 do CPC). Só após a execução e
venda dos bens do principal, e havendo insuficiência para pagamento do credor, se
pode penhorar o fiador.

Vejamos os casos:

i) Pode o credor colocar a acção executiva só para o devedor principal e, na


insuficiência deste, colocar depois contra o fiador (devedor subsidiário),
havendo um litisconsórcio sucessivo (art. 745º/3 do CPC), se houver título
executivo que conste o nome deste subsidiário. Não dispensa a necessidade
dos nomes dos devedores constarem do título executivo.
ii) Pode o credor colocar acção executiva apenas contra o devedor subsidiário.
Porém, pode ocorrer o que aqui tratamos. Isto é, ele invocar o benefício da
excussão prévia, suspendendo a execução até ao exequente requerer a
citação do devedor principal (art. 745º/2 do CPC).

Até aqui, RP defende que o devedor subsidiário não perdeu a qualidade de


parte, ainda que a sua posição processual se encontra suspensa. Ele só a
perderá findo a execução. A suspensão só termina quando ele for novamente
chamado ao processo. Isto deve-se à acessoriedade que o subsidiário tem.
Ele não deixa de ser parte e termina a suspensão, para no caso de
insuficiência do devedor principal, ele ser chamado para ser executado.

Cabe excluir esta possibilidade no caso de o título executivo ser uma


sentença proferida apenas contra o devedor subsidiário, numa acção em que
o devedor principal não foi chamado. É como que um castigo, pelo facto de
o réu não ter chamado a intervir o devedor principal na acção declarativa
(art. 316º/3 a) do CPC), a menos que ele tenha declarado que não pretendia
renunciar ao benefício da excussão (art. 641º/2 do CC).

A forma desta invocação é por simples requerimento com o prazo de


apresentação (era) até ao despacho ordinatório da penhora (antes da
Reforma), mas hoje remetesse para o prazo dos embargos de executado (art.

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745º/1 do CPC). Não prejudica a possibilidade dele apresentar também
oposição à penhora.

Atenção, ainda neste segundo caso, chamar apenas o subsidiário e ele


invocar o benefício de excussão prévia não funda uma ilegitimidade do
devedor subsidiário por falta de litisconsórcio necessário. Estamos perante
um litisconsórcio voluntário (sucessivo). O marco de voluntariedade está
presente na manifestação de vontade que é expressa na invocação do
benefício de excussão prévia. Não estamos, também, perante um caso de
inexigibilidade, como refere Eurico Lopes Cardoso.

Vamos só relatar mais um caso de fiança. É o caso de haver uma constituição de


garantia real juntamente com a fiança. Há que atender ao disposto do art. 639º do CC.
Teremos de verificar se estamos perante um benefício de excussão real (nº2), uma
espécie de barreira até chegar ao fiador. Imaginemos a existência de uma hipoteca e de
uma fiança. Primeiro vai-se à hipoteca e só depois à fiança. Há por isso como que dois
“benefícios” de excussão, uma vez que o fiador tem como “guarda”, até ser penhorado,
duas barreiras – o devedor principal e a garantia real. Os requisitos constam do nº1, a
garantia tem de ser contemporânea ou anterior à fiança. O “anterior” não é difícil de
perceber, basta a existência de uma garantia real antes da constituição da fiança. O que
se entende por “contemporânea”? Uma posição mais literal exige-se que seja ao mesmo
tempo, no mesmo dia. Porém, refere RP que devemos desconsiderar os elementos
temporais e literais na interpretação do conceito. Contemporânea é “viver na mesma
era”, basta que as duas existam num determinado período (independentemente qual
deles se constituiu primeiro), logo ela até pode ser posterior mas só em determinadas
condições. Quais? RP enuncia que o critério de admissibilidade é o do quadro negocial:
o que as partes procuraram estabelecer, sob o crivo da boa-fé subjetiva aquando a
constituição da garantia real. Isto é, as partes têm de conhecer e saber que a hipoteca é
executada antes da fiança. Parece ser uma posição correta e aderimos a esta.

Salientamos que este regime do benefício da excussão prévia real é aplicável sendo a
garantia prestada por terceiro ou pelo principal. Mas a questão é debatida a nível da
jurisprudência.

Para finalizar, make love not fianças.

6.9.Extensão da Penhora
6.10. O Depositário
A penhora implica, em regra, um depositário:
i) Nas coisas imóveis é o agente de execução (arts. 772º e 783º do CPC)
por aplicação subsidiária do regime a coisas móveis sujeitas a registo.
Quando as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça,
este último designa uma pessoa (art. 756º/1 do CPC);
ii) Nas coisas móveis não sujeitas a registo é também o agente de execução
que efetua a diligência (art. 764º/1 do CPC);

40
iii) Para o estabelecimento comercial, a pessoa é designada pelo juíz, quando
estiver paralisada ou deva ser suspensa a atividade do estabelecimento.

Deveres gerais resultam dos arts. 1187, 1188, 1191 e 1195 do CC. Cabe-lhe
administrar os bens ou direitos penhorados com diligência de um bom pai de
família, com o dever de prestar contas (art. 760º/1 do CPC).

Não há lugar a depositário no caso de penhora de créditos (art. 777º/1 do CPC),


assim como no caso de penhora de direito de expectativa de aquisição quando
não haja lugar à apreensão complementar da coisa que incide, e no de penhora
de (outro) direito potestativo, também não acontece isto na penhora de
automóvel não apreendido.

A remoção do depositário só opera quando não é o agente de execução e quando


o sujeito viole deveres do seu cargo (art. 761º/1 do CPC). Sendo o agente de
execução o depositário, ao violar os deveres, haverá uma atuação dolosa ou
negligente que é sancionada nos termos do art. 720º/4 do CPC – pode haver
destituição. A destituição, na sua ocorrência, provoca todos os efeitos a nível do
processo (não apenas para efeito do depósito). A solução compreende-se à luz da
tutela da confiança e da segurança jurídica que é ambivalente (tanto para
executado, como para o exequente), a pessoa do agente de execução na falta dos
seus deveres deve ser afastado na totalidade.

6.11. Registo
6.11.1. Quando? Efetua-se com a comunicação à conservatória competente.
Acontece nos casos:
a) Imóveis ou direitos reais sobre imóveis;
b) Móveis sujeitos a registo ou direitos reais a incidir sobre eles;
c) Quota de contitular de direito que dê lugar a registo;
d) Quota ou direito sobre quota de sociedade comercial;
e) Direito ao lucro e à quota de liquidação de sociedade em nome coletivo
ou de parte social do sócio comanditado de sociedade em comandita
simples;
f) Direitos de autor;
g) Direito a patente, modelo, desenho ou marca.

Aqui o registo não é obrigatório para conferir eficácia ao direito.

Noutro grupo de casos assim não é, sendo que é obrigatório constituir registo
para o acto da penhora ser eficaz perante terceiros, mas também para ser
condição do prosseguimento do processo de execução. Falando-se aqui de
um ónus do exequente, que só tem lugar após a junção do certificado do
registo da penhora e da certidão dos ónus que incidam sobre os bens por ela
abrangida (art. 755º/2 do CPC). São os casos de:

41
a) Direito de crédito com garantia real sujeita a registo: hipoteca,
consignação de rendimentos e penhor de crédito garantido por hipoteca;
b) Direito ou expetativa real de aquisição de bem sujeito a registo;
c) Bens ou direitos sujeitos a registo que integrem o estabelecimento
comercial.
7. Meios de reacção à Penhora
7.1.Oposição por simples requerimento

Art. 764º/3 do CPC, presumem-se pertencentes ao executado os bens móveis não


sujeitos a registo que estejam encontrados no seu poder (entenda-se posse ou mera
detenção). A presunção é ilidível perante o juiz de execução. Mas tem de apresentar
prova documental inequívoca do direito de terceiro sobre bens penhorados.
Apresentado, o exequente tem 10 dias para se pronunciar sobre o mérito do pedido
apresentado. O juiz decide posteriormente.

Segundo RP temos aqui uma medida legal “fast food”. Independentemente do que
dissermos ao agente de execução, ele vai proceder com as diligências. A presunção
não é absoluta para o juiz. Quanto ao conceito de “prova documental inequívoca do
direito de terceiro”, RP refere “que não gere dívidas razoáveis, seja prova genuína e
evidente”, isto é, que “prove a aquisição do bem, em data anterior à penhora, pelo
terceiro” – exemplo disso é, no caso de estarmos perante sociedades comerciais, o
relatório de contas, os dados da contabilidade (por ser obrigatório terem as mesmas
organizadas), as compras e vendas registadas. No fundo, qualquer documento que
não seja dubitável aos olhos de homem comum e mortal. RP faz a ressalva de que
não se aplica este disposto a bens de estabelecimento comercial ou ao
estabelecimento comercial (doutrina e lei italiana vão nesse sentido).
Definitivamente parece a ser uma posição a seguir, tendo em conta que em inúmeros
preceitos (sistematicamente) as sociedades comerciais são excluídas da lógica da
acção executiva (veja-se o art. 737º e 738º do CPC, a título de exemplo).

Este meio pode ser utilizado tanto por terceiro como por executado, tendo o
procedimento lugar na ação executiva quando estão em causa coisas móveis não
sujeitas a registo (refere-se novamente pois passa muitas vezes despercebido). A
natureza deste meio é executiva. Quanto aos efeitos: não tem efeito de caso julgado
material (neste sentido AL). É cumulável com embargos de terceiro e acção de
reivindicação. Ressalva-se ainda o entendimento de RP: não se aplica este preceito
para terceiro defender a sua posse sobre o bem cuja penhora incide.

7.2.Oposição à penhora

Trata-se de um meio processual privativo do executado, seja ele devedor ou terceiro,


nos termos do art. 784º/1. Mas é (faculdade) exclusiva do executado. O executado
não o pode utilizar para proteger bens de terceiro. Este incidente é feito no processo
executivo e corre por apenso (art. 732º/1 do CPC). Tem-se ainda, em conta, os casos
excecionais do art. 787º/1. Se os bens pertencerem ao terceiro, este tem de reagir de

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dois modos: i) oposição por simples requerimento; ii) acção de reivindição (e tutela
cautelar de reivindicação).

A oposição tem de surtir no prazo de 10 dias a contar da notificação do acto da


penhora se houver citação prévia, art. 785º do CPC (deve ser articulado com os arts.
293º/1 e 294º/2 do CPC para o exequente). Não havendo, somam-se mais 10 dias
(20 dias para os maus a matemática como eu) – arts. 856º/1 e 727º/4 do CPC. Se o
tempo passar e o executado não se opor, há motivo para aquando tentar colocar o
incidente o juiz emita despacho liminar a decretar o indeferimento da oposição. O
exequente tem igualmente 10 dias para responder e depois o juiz decide. Porém, se o
exequente nada disser, opera um efeito cominatório semipleno, por se tratar de uma
omissão de impugnação.

Quanto a efeitos desta oposição, pode gerar suspensão do processo se for prestada
caução, limitadamente, aos bens em causa e se ela for admitida.

Fundamentos de oposição:

a) Impenhorabilidades legais – qualquer modalidade – e os casos em que se


penhora bens em excesso de valor em comparação com a quantia exequenda
(ofensas ao princípio da proporcionalidade) (art. 735º/3);
b) Imediata penhora de bens que só subsidiariamente respondem pela dívida
exequenda – a título subsidiário, pessoal ou real. Existem limites e um ónus. O
executado tem o ónus de indicar nesse articulado quais os bens que deviam ter
sido penhorados em primeiro lugar e não o foram. O limite está em ter que
existir de facto outros bens para responderem em primeiro lugar, caso contrário
não existe nenhuma ilegalidade e a penhora prossegue;
c) Incidência da penhora sobre bens que, não respondendo, nos termos do direito
substantivo, pela dívida exequenda, não deviam ter sido atingidos pela
diligência. LF refere que são causa de impenhorabilidade específica ou derivada
de indisponibilidade objetiva, resultantes de direito substantivo. São o caso de:
1) Bens de herdeiro, que este não tenha adquirido do devedor, por sucessão
deste;
2) Bens excluídos de penhora por convenção entre o credor e o devedor (art.
602º do CC)

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