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UNIVERSIDADE JOAQUIM CHISSANO

Curso de Relações Internacionais e Diplomacia


4º Ano Pós-Laboral
Estudos da SADC

Tema:

Importância da SADC no Desenvolvimento Económico de Moçambique (2008-2019)

Docente: Arnaldo Massangaie

Discentes: Jaime Manuel Muanicota;


Maria manguilaze;
Mariana langa;
Walter vundo.

Maputo, Abril de 2020


Índice

Introdução..................................................................................................................................1
Contexto.................................................................................................................................1
Problematização.....................................................................................................................2
Objectivos de Pesquisa...........................................................................................................3
Objectivo Geral..................................................................................................................3
Objectivos Específicos.......................................................................................................3
Questões de Pesquisa.............................................................................................................3
Hipóteses................................................................................................................................3
Metodologia de Pesquisa........................................................................................................3
Métodos de Pesquisa..........................................................................................................3
Técnicas de Pesquisa..........................................................................................................4
Referencial Teórico................................................................................................................4
Teoria de Integração Económica........................................................................................4
Contexto de Surgimento.....................................................................................................4
Precursores.........................................................................................................................4
Presssupostos......................................................................................................................5
Aplicabilidade....................................................................................................................5
CAPÍTULO 1: PROCESSO DE SURGIMENTO DA SADC...................................................6
1.1. Surgimento da SADC..................................................................................................6
1.2. Objectivos da SADC...................................................................................................7
1.3. Órgãos da SADC.........................................................................................................7
CAPÍTULO 2: PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA NA SADC..........................9
2.1. Zona de Comércio Livre.................................................................................................9
CAPÍTULO 3: CONTRIBUTO DA SADC NO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DE
MOÇAMBIQUE......................................................................................................................12
3.1. Efeitos da Integração Económica da SADC em Moçambique.....................................12
3.2. Vantagens de Moçambique na SADC...........................................................................12
3.3. Desafios de Moçambique na Integração Económica na SADC....................................14
Conclusão.................................................................................................................................15
Referências Bibliográficas.......................................................................................................16
Introdução

A pesquisa teve Moçambique como horizonte espacial e o período de 2008 à 2019 como
horizonte temporal. A escolha de Moçambique prende-se ao facto deste ter sido um dos
principais Estados pioneiros da integração regional na África Austral e dado o seu valor
estratégico para a organização regional.

Quanto ao tempo, a escolha de 2008 como marco inicial para a pesquisa prende-se ao facto
deste ter sido o ano em que o ano em que foi criada a Zona de Comércio Livre (ZCL) na
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) com vista a impulsionar o
comércio entre os Estados membros da Organização. A escolha de 2019 como marco final da
pesquisa prende-se ao facto de ter sido o ano em que foi realizada a 39ª Cimeira dos Chefes
de Estado e de Governo da SADC, onde os líderes da SADC comprometeram-se em criar um
ambiente propício ao desenvolvimento industrial e do comércio intra-regional como uma
alternativa ao desenvolvimento económico dos Estados membros.

Contexto

A SADC é uma organização que procura conseguir uma integração regional mais sólida na
região da África Austral através de um alto grau de harmonização e racionalização capaz de
potenciar os recursos para atingir uma auto-confiança colectiva no sentido de melhorar os
níveis de vida dos povos da região. A criação da ZCL em 2008 tinha como objectivo
principal o de liberalizar o comércio intra-regional de bens e serviços. No entanto, o processo
de integração económica na SADC permanece um processo inacabado, sendo que o objectivo
da organização em se tornar uma União Económica em 2018 ainda não foi alcançado.

Moçambique em específico, para que melhorasse e se mantivesse integrado com a SADC


obtendo vantagens, precisava continuar tendo estabilidade macroeconómica, sobretudo
cumprir com as metas de convergência económica traçadas pelo bloco regional. Nesse
contexto, o governo moçambicano teve o desafio de criar um ambiente de negócios favorável
como forma de incentivar e atrair investimentos nacionais e estrangeiros e maximizar a
utilização do seu potencial económico (Haffner e Mampava, 2010:74). O crescimento médio
do PIB do país nos anos 2010 à 2015 foi de 7%, sustentado pelo investimento estrangeiro,
ajuda externa e pelo capital privado (Banco de Moçambique, 2018)

1
Problematização

O processo de integração na África Austral foi realizado com características específicas dos
Estados da região tendo, como principal alicerce a proximidade geográfica dos países que
iriam integrar o bloco e devido às questões culturais que os uniam, o que implicaria numa
manutenção dos laços económicos entre os países africanos. Em termos concrectos, os
principais objectivos da ZCL da SADC baseiam-se em protocolos de desenvolvimento e
crescimento económico. Segundo Chichava (2007:10), em termos económicos, o processo de
integração regional na SADC implica necessidade de convergência das economias, de modo
a reduzir a heterogeneidade das economias dos Estados membros. Tal processo de
convergência não apenas depende do esforço individual dos Estados membros, como também
implica colaboração intensiva dos seus componentes num trabalho conjunto, de forma a
atingir os objectivos da estabilização, implementação de políticas macroeconómicas comuns,
crescimento, desenvolvimento e competitividade das actividades económicas de todos os
Estados que compõem o bloco regional.

De acordo com Haffner e Mampava (2010:80), as vantagens que Moçambique poderá tirar da
integração regional são vastas. O país tem um grande potencial agrícola com possibilidade de
diversificação das culturas a produzir tanto para o consumo interno como para exportação
(incluindo amêndoa de caju, algodão, madeira). A revitalização da capacidade produtiva
dessas culturas é fundamental no processo da integração de Moçambique na região,
acompanhado pela revitalização da agroindústria para o processamento primário da produção
agrícola com a finalidade de exportação e processamento completo para o consumo interno
(Ibid.). Entretanto, apesar de Moçambique fazer parte da ZCL da SADC, as exportações de
Moçambique para os outros Estados membros da organização regional continuam baixas. As
exportações moçambicanas para SADC oscilam em torno de 21% do total das exportações,
incluindo os mega-projetos (Banco de Moçambique, 2018).

Tendo em consideração os argumentos anteriormente apresentados, torna-se relevante


questionar: Qual foi o contributo da SADC no desenvolvimento económico de Moçambique
entre os anos 2008 e 2019?

2
Objectivos de Pesquisa

Objectivo Geral

 Compreender o contributo da SADC no desenvolvimento económico de Moçambique


entre os anos 2008 e 2019.

Objectivos Específicos

 Identificar os factores que impulsionaram o surgimento da SADC;


 Analisar o processo de integração económica na SADC;
 Avaliar o contributo da SADC no desenvolvimento económico de Moçambique.

Questões de Pesquisa
 Quais são os factores que impulsionaram o surgimento SADC?
 Qual é o estado do processo de integração na SADC?
 Em que medida a integração económica na SADC contribui no desenvolvimento
económico de Moçambique?

Hipóteses
 A dependência económica dos Estados da região da África Austral em relação à
África do Sul pode ter sido o principal motivador o surgimento da SADC.
 O processo de integração económica na SADC pode ser um processo inacabado
devido à falta de complementaridade económica entre os Estados membros da
integração.
 A integração económica na SADC pode ter contribuido para o crescimento do PIB em
Moçambique através do estímulo ao investimento estrangeiro no país.

Metodologia de Pesquisa

Métodos de Pesquisa

Método Estatístico: fundamenta-se na aplicação de dados numéricos e da teoria da


probabilidade na explicação de fenómenos (Marconi e Lakatos, 2003:107). O método foi
importante na leitura de dados concernentes à economia moçambicana.

Método Histórico: pressupõe o estudo de acontecimenos, processos e instituições do passado


para verificar a sua influência na realidade actual (Ibid.). O método foi importante no estudo
da evolução do processo de integração económica na região da África Austral e outros dados
importantes para a pesquisa.
3
Técnicas de Pesquisa

Técnica Documental: consiste na colecta de dados com recurso a documentos oficiais,


arquivos públicos oficiais, entrevistas obtidas com o uso da observação sistemática de um
fenómeno (Lundin, 2016:147). Durante a pesquisa foram usadas publicações oficiais, como o
RISDP.

Técnica Bibliográfica: consiste na recolha de informação das obras, trabalhos elaborados


por outros autores que podem estar publicados, ou não, em livros, jornais ou revistas
científicas (Ibid.). Durante a pesquisa foram analisadas obras que facilitarão o
desenvolvimento do tema.

Referencial Teórico

Teoria de Integração Económica

Contexto de Surgimento

A teoria de integração económica surgiu após a Segunda Guerra Mundial, mas foi Viner que,
na sua obra The Customs Union Issue, publicada em 1950, deu uma nova dimensão à
integração económica, ao defender que a união aduaneira tanto podia criar como podia
desviar o comércio (Wache, 2012:6).

Precursores

A teoria de Integração económica foi defendida principalmente por Jacob Viner (1950) 1 e
Bela Balassa (1961)2. Viner (1950 citado por Wache, 2012:6) deu uma nova dimensão à
integração económica, ao defender que a união aduaneira tanto podia criar como podia
desviar o comércio. A criação do comércio ocorre quando uma parte da produção num
Estado, que é membro de uma união aduaneira, é substituída por importações de baixo custo
de outros Estados membros. Ao passo que o desvio do comércio ocorre quando as
importações a baixo custo provenientes de Estados que não são membros da união aduaneira,
são substituídas por importações de alto custo de Estados membros da união.

Balassa (1961 citado por Pereira, 2008:25) propôs que a integração económica evolui em
cinco estágios: Área de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum, União
Monetária e Económica, e Integração Económica Completa. O último estágio, a integração

1
Viner, Jacob (1950), The Customs Union Issue, Carnegie Endowment for International Peace: New York.
2
Balassa, B. (1961), Teoria de Integração Económica, Clássica: Lisboa.

4
económica completa, propõe a unificação de políticas monetárias, fiscais, sociais e contra-
cíclicas, e requer a existência de uma autoridade supranacional cujas decisões sejam
vinculantes para os Estados membros.

Presssupostos

De acordo com Salvatore (2013:301), a teoria de integração económica defende que o


processo de integração económica passa por cinco fases distintas: Área de Comércio
Preferencial, Área de Comércio Livre, União Aduaneira, Mercado Comum e União
Económica e Monetária. A Área de Comércio Preferencial é uma fase de integração
económica em que se reduzem tarifas para certos produtos entre membros de um bloco
comercial. Na Área de Comércio Livre, os países membros de um determinado bloco
económico removem todas as barreiras comerciais entre si, mas cada país mantém as suas
barreiras em relação à Estados que não são membros do bloco económico.

Numa União Aduaneira eliminam-se todas as barreiras e estabelece-se uma pauta aduaneira
comum em relação ao resto do mundo. O Mercado Comum é uma fase em que para além de
uma pauta aduaneira comum, é permitida a livre circulação de mão-de-obra e de capital entre
os Estados membros. A União Económica e Monetária aprofunda a harmonização chegando
mesmo a unificar as políticas fiscais e monetárias para os membros da união.

Aplicabilidade

A teoria de integração económica foi importante na compreensão do processo de integração


económica na SADC, sendo que a teoria considera que a integração económica passa por
cinco fases. A teoria de integração económica também foi importante na compreensão do
impacto da integração económica no desenvolvimento económico de Moçambique.

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CAPÍTULO 1: PROCESSO DE SURGIMENTO DA SADC

1.1. Surgimento da SADC

A SADC é um organismo inter-governamental que integra dezasseis países da região da


África Austral. A identidade da região basea-se em diversas crenças, culturas e valores.
Enquanto Comunidade, a SADC resulta da transformação institucional da Conferência para a
Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADCC). A SADCC foi criada em
1980 pelos países da Linha da Frente, nomedamente: Angola, Botswana, Lesotho, Malawi,
Moçambique, Swazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe, com o objectivo de coordenar
esforços para o desenvolvimento regional e diminuir a dependência em relação ao Ocidente
em geral e à África do Sul em particular, através de uma maior cooperação regional
(Abramsson e Nilsson, 1994:186). A SADCC também adquiriu a função importante de
angariar apoio internacional e constituir uma fonte financeira para a implementação de vários
projectos dos Estados-membros.

A marginalização do continente africano exerceu uma forte pressão económica, a partir de


baixo, no sentido de uma cooperação regional Sul-Sul por parte dos intervenientes
económicos da África Austral, cooperação essa que os dirigentes políticos tiveram
dificuldades em criar, na década de 1980 (Ibid.:203). Para os dirigentes intervenientes
comerciais da região, o acesso aos mercados e força de trabalho dos países da região seria a
única alternativa para suavizar os efeitos duma diminuição das trocas comerciais à nvel
internacional. Assim, na década de 1990, a cooperação regional foi reforçada com a criação
da SADC.

Em Agosto de 1992, aquando da reunião anual dos chefes de Estado da SADCC, realizada
em Windhoek, a SADCC foi transformada na SADC. Foram também assinados acordos sobre
várias transformações no que diz respeito aos objectivos e ao estatuto jurítico da nova
organização. A adesão da África do Sul na SADC ocorreu dois anos após a criação da
organização, em 1994. A transição para a democracia multipartidária e a ascenção de um
Governo de maioria negra, trouxe consigo a necessidade de transformar a imagem externa da
África do Sul (Gomes et al., 2014:263). Esta transformação prioriza a integração sul-africana
no quadro de cooperação regional, tanto bilateralmente como multilateralmente, como forma
de quebrar com o passado isolacionista e do isolamento político e económico a que esteve
sujeita. A adesão da África do Sul na SADC serviria de base para a modificação do baixo

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nível de complementaridade que caracterizava os países-membros da SADC e desse modo,
mudar as condições de comércio regional.

1.2. Objectivos da SADC

Enquanto que a SADCC funcionou como um fórum de cooperação e coordenação de


projectos, a SADC é uma organização que procura conseguir uma integração regional mais
sólida. Como forma de alcançar este fim, a SADC definiu como objectivos:

 Promover o desenvolvimento e crescimento económico através da integração


regional;
 Envolver valores políticos comuns, sistemas e instituições;
 Promover e defender a paz e a segurança;
 Promover um desenvolvimento sustentado com base numa auto-confiança colectiva, e
uma interdependência dos Estados-membros;
 Promover e maximizar o emprego produtivo e a utilização de recursos na Região;
 Utilizar de forma sustentada os recursos naturais e uma efectiva protecção ambiental;
 Fortalecer e consolidar as afinidades históricas, sociais e culturais e laços entre os
povos da Região.

1.3. Órgãos da SADC

O objectivo principal da SADC, é construir uma região na qual haja um alto grau de
harmonização e racionalização capaz de potenciar os recursos para atingir uma auto-
confiança colectiva no sentido de melhorar os níveis de vida dos povos da região (Calich,
2018:63). Para tal, foram criados órgãos com vista a garantir a implementação de acções
concrectas para o sucesso desse objectivo, dentre os quais destacam-se como principais: a
Cimeira de Chefes de Estado ou de Governo, o Conselho de Ministros e o Secretariado
Executivo.

A Cimeira dos Chefes de Estado ou de Governo é constituída pelos Chefes de Estado ou de


Governo de todos os Estados Membros. Este órgão é a instituição suprema de formulação de
políticas da SADC e é responsável pela orientação política global e pelo controlo das funções
da SADC (SADC, 2012)3. O órgão é é gerido num sistema de Troika que compreende o
actual Presidente da Cimeira da SADC, o Presidente de entrada (o Vice-Presidente na altura)
e o Presidente anterior imediato. O Sistema Troika confirma a autoridade deste grupo para
3
www.sadc.int, Consultado em 13 de Abril de 2020.

7
tomar decisões rápidas em nome da SADC que são normalmente tomadas em reuniões de
políticas agendadas em intervalos regulares, bem como fornecer orientação política às
instituições da SADC entre as Cúpulas regulares da SADC. Este sistema tem sido efetivo
desde que foi estabelecido pela Cúpula em sua reunião anual em Maputo, Moçambique, em
Agosto de 1999. A Cúpula geralmente se reúne uma vez por ano em Agosto/Setembro, em
um Estado membro no qual um novo Presidente e Vice-Presidente são eleitos.

O Secretariado Executivo, por seu turno, é a principal instituição executiva da SADC. Este
órgão é responsável, dentre outros assuntos, pela planificação estratégica e gestão dos
programas da SADC; implementação das decisões da Cimeira e outros órgãos da SADC;
organização e administração das reuniões da SADC; administração financeira e geral;
representação e promoção da SADC; coordenação e harmonização das políticas e estratégias
dos Estados-membros (Calich, 2018:63). O Conselho de Ministros é constituído por
um ministro de cada Estado-membro, de preferência, por um ministro
responsável pelos negócios estrangeiros ou pelas relações exteriores.
Este órgão é superintendente sobre a implementação das políticas da
SADC e a execução dos seus programas; aconselha a Cimeira sobre
questões de política global e sobre o funcionamento e desenvolvimento
da SADC em moldes crescentes e harmoniosos; aprova políticas,
estratégias e programas de trabalho da SADC; recomenda à Cimeira, para
aprovação, o estabelecimento das direcções, comités, outras instituições
e órgãos.

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CAPÍTULO 2: PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ECONÓMICA NA SADC

A nova visão da SADC foi, na sua essência, uma visão de liberalização do comércio e de
plena integração económica da região da África Austral. Uma série de etapas foram definidas
pelo Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional – RISDP (2000-2015) a
alcançar no contexto da Agenda Comum da SADC: (i) formação de uma Zona de Comércio
Livre para apoiar o comércio intra-regional até 2008; (ii) estabelecimento de uma União
Aduaneira com pautas aduaneiras externas comuns para a zona de comércio livre até 2010;
(iii) criar um Mercado Comum, acordando políticas comuns de regulação da produção até
2015; (iv) criar uma União Monetária através da convergência macroeconómica até 2016; (v)
Aceitar a convergência em uma única Moeda e tornar-se uma União Económica até 2018
(SADC, 2003:1). No entanto, na SADC apenas foi concretizada a ZCL.

2.1. Zona de Comércio Livre

Na ZCL em particular, os países-membros de um determinado bloco económico removem


todas as barreiras comerciais entre si, mas cada país mantém as suas barreiras em relação à
Estados que não são membros do bloco económico. Nesta fase os Estados adoptam a regra de
origem4 para parceiros externos como forma de impedir que outros Estados se beneficiem do
acordo de livre comércio. O estabelecimento da ZCL na SADC foi um processo com um
período de gestação. A ZCL foi criada quando um programa gradual de reduções tarifárias,
iniciado em 2001, resultou na obtenção de condições mínimas para a ZCL – houve
eliminação de tarifas em 85% do comércio intra-regional entre os Estados membros da
SADC (SADC, 2012). O Protocolo de Comércio da SADC previa a criação de uma ZCL com
o objectivo de liberalizar o comércion intra-regional de bens e serviços, contribuir para o
melhoramento de clima de investimentos à nível doméstico, assegurar a produção eficiente, e
para impulsionar o desenvolvimento económico, a diversificação das economias e a
industrialização da região.

No âmbito da SADC, a ZCL trouxe algumas vantagens. Em 2014, a região registou um


crescimento do PIB em 5.1%, comparativamente ao ano de 2011, que foi de 4.7% (SADC,
2014:13). Quase metade do PIB regional proveio dos sectores mineiro (15.5%); comércio,
restaurantes e hotéis (15%); finanças, seguros e sector imobiliário (15.6%); e sector
industrial (12%) (Ibid.). O fluxo de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) na região da
SADC também registou um aumento. O fluxo de IDE aumentou em 50 bilhões de dólares

4
A regra de origem determina a proveniência dos bens que podem beneficiar dos acordos negociados.

9
(USD) em 2012, um aumento de 5% comparado ao ano de 2008. Dado que Um dos
constrangimentos enfrentados pela SADC é o fraco desenvolvimento de infra-estruturas, a
maior parte do IDE foi destinado à criação de infra-estruturas regionais como forma de criar
oportunidades de emprego, maiores mercados e oportunidades económicas.

Em 2012, os Estados-membros da SADC aprovaram o Regional Infraestructure


Development Master Plan (2012-2027) com o objectivo de impulsionar o desenvolvimento
de infra-estruturas importantes como estradas, portos, linhas-férreas e portos (SADC,2011)5.
Para a materialização deste plano, a África do Sul concedeu financiamento para diversos
projectos regionais através do Development Bank for Southern Africa (DBSA), um banco sul-
africano. Em 2013, o DBS concedeu um financiamento no valor de 5.6 bilhões de Randes
para projectos de infra-estrutura na região da SADC, especificamente nos sectores de
transportes e energia em Angola, Moçambique e Zâmbia. Em 2017, a Export Credit
Insurance Corporation of South Africa (ECIC) em cooperação com a Nipon Export and
Investment Insurance (NEXI) disponibilizou um financiamento de 4 bilhões de USD para o
Projecto do Porto e Corredor de Nacala entre Moçambique o Malawi (Jones et al, 2017)6.
Este projecto foi considerado um dos maiores empreendimentos bem sucedidos ao nível da
África Austral e Subsaariana.

Apesar dos sucessos registados na ZCL, a mesma também registou alguns desafiosos devido
à diversos factores, como a falta de vontade política, a não-adesão de alguns Estados-
membros ao acordo e a prevalência de interesses nacionais. Moçambique só concluiu o
processo de liberalização do comércio em 2015, no caso das importações da África do Sul e
Angola. A República Democrática do Congo e as Ilhas Seychelles permaneceram fora do
acordo. Além disso, Malawi, Zimbabwe e Tanzânia só eliminaram subsídios para um imposto
de importação de 25% sobre açúcar e produtos de papel em 2015 (SADC, 2012). Além disso,
há exclusões de produtos que, em alguns casos até 2017, permaneceram substanciais (por
exemplo, em alimentos preparados, animais e produtos de origem animal, têxteis e vestuário,
alguns produtos minerais e veículos e partes de veículos). Estes últimos (peças do veículo) e
vestuário usado são as únicas excepções ao acesso isento de direitos aduaneiros da África do
Sul para a SADC.

5
Infraestructure, www.sadc.int, Cosultado em 13 de Abril de 2020.
6
Linklaters advises on Largest Ever Project Financing of Infraestructure in Sub-Saharan Africa,
www.linklaters.com, Consultado em 13 de Abril de 2020.

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Outro obstáculo à ZCL foi a prevalência de interesses nacionais sobre os interesses comuns.
A Tanzânia esteve longe de oferecer acesso isento de impostos à África do Sul, com tarifas
extremas relatadas para arroz, açúcar, produtos lácteos e cereais em particular, como forma
de proteger as suas indústrias (Sandrey, 2013:4). Madagáscar teve várias excepções à sua
oferta sul-africana, sendo 20% aplicado a animais vivos, carne, peixe e produtos de frutas e
legumes na agricultura em 2012 (Ibid.). A Zâmbia apareceu para cobrar impostos sobre
roupas e calçados, em particular da África do Sul. Entretanto, o complexo acordo de açúcar
ainda está em vigor. Este é um acordo que permite aos produtores de açúcar não-membros da
Southern Africa Customs Union (SACU) o acesso fixo à quotas aos mercados da SACU, mas
não fornece acesso aos produtores da SACU à quotas na SADC. Essa medida altamente
protecionista está em vigor para auxiliar a integração regional na região da SADC sem colidir
com os objectivos da SACU.

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CAPÍTULO 3: CONTRIBUTO DA SADC NO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
DE MOÇAMBIQUE

3.1. Efeitos da Integração Económica da SADC em Moçambique

A integração da África Austral tem se tornado um instrumento fundamental para o


crescimento económico em Moçambique. O primeiro efeito do processo de integração
regional começou pela necessidade de Moçambique fazer grandes esforços no sentido de
cumprir com as metas de convergência. Como tal, o país teve que estabelecer estratégias que
levassem ao cumprimento das referidas metas, que directa ou indiretamente tiveram impacto
na economia. A taxa de crescimento da economia de cerca de 7% em média ao ano, entre os
anos 2010 à 2015, foi atingida graças aos grandes investimentos realizados desde a área de
agricultura, infraestrutura, estradas e pontes (incluindo a ponte da unidade e a ponte sobre o
Rio Rovuma que liga Moçambique à Tanzânia), energia elétrica e a eletrificação do país,
melhoramento dos ambientes de negócios, políticos e sociais (Haffner e Mampava, 2010:82).

As estratégias relacionadas ao cumprimento das metas relativas à dívida externa fizeram com
que Moçambique se beneficiasse do perdão parcial e, posteriormente, total da sua dívida aos
membros do clube de Paris. Assim sendo, o Estado pôde realocar os fundos que,
anteriormente, estavam destinados ao pagamento da dívida e pôde investir nas áreas sociais e
de desenvolvimento, definidas como prioritárias no país. No que se refere ao défice
orçamentário, apesar de Moçambique não ter cumprido com as metas, os esforços em curso
tendem a diminuir a dependência externa do orçamento do Estado, através da melhoria da
máquina administrativa na arrecadação de impostos, assim como em acções que levem à
contenção das despesas públicas.

A integração económica na SADC possibilitou que o país captasse investimento estrangeiro.


Em Moçambique, tem-se registado nos últimos anos um aumento claro do investimento
proveniente da SADC, nomeadamente o que tem origem na África do Sul e que abrange
vários sectores de actividade. Entre os mais relevantes está a Sasol, maior empresa nacional,
detida em 50% por capital sul-africano, que opera no sector energético; a Mozal (15% de
capital sul-africano), que se dedica à produção de alumínio,

3.2. Vantagens de Moçambique na SADC

Moçambique é um dos Estados pioneiros das ideias de integração regional, na medida em que
esta pode representar uma alternativa para as economias pequenas, no sentido de ajudar a

12
enfrentar os constrangimentos impostos pela ordem económica internacional. O grau de
abertura de uma economia para com o exterior pode determinar a sua habilidade para a
integração regional, o que pode propiciar mais criação do comércio e aumento do bem-estar
das populações.

Em Moçambique, dentre os factores de produção necessários para competir a nível da região,


a localização geoestratégica de Moçambique na região Austral de África constitui uma
vantagem competitiva. Os portos moçambicanos, as linhas férreas e estradas ligam a maior
parte dos países membros da SADC, para além de constituírem a espinha dorsal dos
corredores de desenvolvimento de Mtwara, Niassa, Beira e Maputo, constituem a essência da
vantagem competitiva de Moçambique no âmbito da integração regional (Chichava,
2011:27). Sob o conceito de Iniciativas de Desenvolvimento Espacial, Moçambique está a
transformar os Corredores de Transportes em Corredores de Desenvolvimento, criando zonas
francas especiais e atraindo investidores nacionais e estrangeiros para projectos na área da
agricultura e pecuária, indústria, turismo e biodiversidade.

Também constituem vantagens competitivas do país as grandes potencialidades na produção


de energia, principalmente largos hidro-recursos, carvão, gás natural e biomassa. De referir
que a hidroeléctrica de Cahora-Bassa tem um potencial estimado em 2075 megawats, dos
quais só cerca de 15% são consumidos no país, através da Electricidade de Moçambique, que
mesmo adicionados aos consumos da MOZAL, não ultrapassariam os 50% (Ibid.). A
dimensão energética de Moçambique, no âmbito das vantagens competitivas, também
engloba o pipeline que transporta combustíveis do Porto da Beira para o Zimbabwe; o
gasoduto que transporta gás natural de Temane (Inhambane) para Secunda, na África do Sul;
o futuro pipeline que transportará combustível do Porto de Maputo para Joanesburgo, na
África do Sul; o mega-projecto de alumínio, que também estabelece a integração entre
Moçambique e a África do Sul. Nesse contexto, Moçambique aparece como o terceiro país
capaz de fornecer energia para a região, depois da República Democrática do Congo, com um
potencial hidroeléctrico estimado em 100,000 MW. O principal importador de energia
continua sendo a África do Sul. Até 2012 Moçambique exportava cerca de 70% da sua
energia total para a África do Sul num universo de 75% exportados (Gomes et al, 2014).

Quanto às condições de procura e oferta, não obstante o país ter altos índices de pobreza
absoluta (46%) em 2016, esforços do governo e das próprias populações têm sido
desenvolvidos, e a cada ano que passa, apesar do aumento da diferença entre pobres e ricos, o

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número de moçambicanos com crescente melhoria do seu nível de vida tem estado a
aumentar no campo e nos centros urbanos. O contacto constante com a mais dinâmica
economia da região (a África do Sul) tem estado a contribuir para a emergência de um grupo
de clientes moçambicanos exigentes e capazes de pressionar e influenciar o sector produtivo
nacional para a inovação e qualidade. É uma vantagem competitiva que se está erguendo e
que tem impacto para o processo de integração regional.

3.3. Desafios de Moçambique na Integração Económica na SADC

Apesar das vantagens competitivas que Moçambique possui na SADC, existem factores que
afectam a possibilidade do país auferir ganhos maiores da integração regional,
nomeadamente: a falta de disponibilidade de mão-de-obra qualificada, fruto da herança
colonial e da guerra de desestabilização, bem como, também de opções políticas que
continuam a adiar a reformulação curricular de todo o sistema de ensino (Chichava, 2011:28).
Outro desafio está relacionado com a falta de indústrias, pois não obstante a campanha
Made in Mozambique, a indústria moçambicana precisa de uma grande reestruturação e
desenvolvimento. Há muitos factores que contribuem para o estágio atrasado da indústria em
Moçambique. A faltade empreendedores arrojados, os altos custos do capital para
investimentos, as altas taxas de tributação ao rendimento, a falta de cultura, mentalidade e
capacidadeempresarial associados a uma visão de curto, médio e longo prazo, são de entre
muitosfactores que podem condicionar o surgimento, desenvolvimento e consolidação de
umsector empresarial forte e dinâmico (Banco de Moçambique, 2018).

Tal como para muitos países da região da África Austral, o principal desafio de Moçambique
é manter a paz, estabilidade política, segurança, democratização e continuidade dos esforços
tendentes à redução dos níveis de pobreza absoluta. A estabilidade política e segurança de
Moçambique dependem também da região. Os resultados dos processos eleitorais no
Zimbabwe e Angola e África do Sul, Botswana, Malawi, Maurícias e Namíbia, podem
funcionar como catalisadores ou minar os esforços de integração regional na SADC. 

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Conclusão

Após a realização do trabalho de pesquisa, foi possível concluir que o processo de integração
regional tem contribuido de forma positiva no desenvolvimento económico de Moçambique.
O primeiro efeito do processo de integração regional começou pela necessidade de
Moçambique fazer grandes esforços no sentido de cumprir com as metas de convergência.
Adicionalmente, as estratégias relacionadas ao cumprimento das metas relativas à dívida
externa fizeram com que Moçambique se beneficiasse do perdão parcial e, posteriormente,
total da sua dívida aos membros do clube de Paris. Assim sendo, o Estado pôde realocar os
fundos que, anteriormente, estavam destinados ao pagamento da dívida e pôde investir nas
áreas sociais e de desenvolvimento definidas como prioritárias no país.

Em Moçambique, dentre os factores de produção necessários para competir ao nível da


região, destacam-se a localização geoestratégica de Moçambique na região Austral de África
constitui uma vantagem competitiva, pois os portos moçambicanos, as linhas férreas e
estradas constituem principais corredores de comércio para os países da região. Também
constitui vantagem competitiva do país, o potencial energético, sendo que Moçambique
aparece como o terceiro país capaz de fornecer energia para a região, depois da República
Democrática do Congo.

Apesar das vantagens competitivas que Moçambique possui na SADC, existem factores que
afectam a possibilidade do país auferir ganhos maiores da integração regional,
nomeadamente: a falta de disponibilidade de mão-de-obra qualificada, fruto da herança
colonial e da guerra de desestabilização, bem como, também de opções políticas que
continuam a adiar a reformulação curricular de todo o sistema de ensino. Outro desafio está
relacionado com a falta de indústrias e a matenção da paz, estabilidade política, segurança,
democratização e continuidade dos esforços tendentes à redução dos níveis de pobreza
absoluta.

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Referências Bibliográficas
Obras

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história de desenvolvimento durante o período 1974-1992, CEEI-ISRI: Maputo.

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Artigos de Revistas

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