Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3° Ano
Pós Laboral
Discente
Deomilca Tomás
Contexto
Do ponto de vista contextual, a pesquisa insere-se num contexto em que a nível internacional,
verifica-se um crescente uso dos recursos energéticos (R.E), em particular do GN, como
instrumento de política externa. O GN é utilizado como um instrumento de poder pelos
Estados fornecedores, estes, que olham para esse recurso como um meio para o exercício da
influência e alcance dos seus objectivos de política externa (P.E) perante os Estados
consumidores (Cesnakas, 2016:9-10). Deste modo, verifica-se a preocupação por parte das
1
Macauhub, (2017): Grupo Sasol inicia Produção de Petróleo em Moçambique dentro de 2 a 3 anos,
Moçambique. Disponível em https: ̸ ̸ macauhub.com. Consultado no dia 14 Março de 2021.
organizações internacionais assim como empresas multinacionais com os impactos das
actividades económicas governamentais. Assim sendo, estas fornecem ferramentas práticas
para que as empresas transnacionais e os Estados implementem directrizes para que possam
fazer face aos problemas sociais, económicos e ambientais que apoquentam os Estados em
particular Moçambique de modo a conduzir um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Problematização
Na compreensão do papel das multinacionais questiona-se o papel que estas desempenham no
desenvolvimento das comunidades locais. Procura-se entender o motivo pelo qual os países
em desenvolvimento como Moçambique optam por aceitar o estabelecimento de
multinacionais como a SASOL. As respostas a estas perguntas vêm-nos de autores como
Barros (2004: 15) que diz:
No que concerne aos objectivos, o trabalho tem como objectivo geral: Reflectir em torno do
papel da SASOL no desenvolvimento económico de Moçambique.
No que tange aos objectivos específicos, o trabalho apresenta os seguintes:
Analisar o papel que a SASOL tem desempenhado para o desenvolvimento
econômico de Moçambique;
Analisar a política interna da SASOL com relação ao desenvolvimento das
comunidades circunvizinhas.
A partir dos objectivos específicos foram levantadas as seguintes questões de pesquisa:
Qual é o papel da SASOL no desenvolvimento económico de Moçambique?
Qual é a política interna da SASOL com relação ao desenvolvimento das
comunidades circunvizinhas?
Com base nas questões colocadas, surgem duas hipóteses orientadoras:
A presença da SASOL em Moçambique estimula o desenvolvimento económico deste
país.
A política interna da SASOL estimula o desenvolvimento das comunidades
circunvizinhas.
O presente capítulo pretende analisar como a SASOL cria ligações entre sectores de
actividade, possibilitando a expansão directa ou indirecta da produção das actividades que se
ligam tecnologicamente e via demanda final com outras actividades da área, criando a
integração Intersectorial. O capítulo divide-se em duas partes: a primeira parte situa a SASOL
no âmbito da Legislação Moçambicana. Aqui procura-se entender as bases jurídicas que
orientam a acção da SASOL em Moçambique. A segunda parte procura analisar a
contribuição desta empresa no desenvolvimento da economia moçambicana.
Nesta secção pretende-se discutir a legislação que regula as actividades da SASOL. Esta
necessidade leva-nos à lei do investimento, que é a Lei n˚3/93, de 24 de Junho e ao
regulamento das Zonas Francas Industriais que foi aprovado pelo decreto n˚ 62/99, de 21 de
Setembro com as alterações aprovadas pelo decreto n˚ 35/2000 de 17 de Outubro e pelo
Decreto n˚ 16/2002, de 27 de Junho. Pretende-se perceber até que ponto estas duas leis
regulam as actividades do Investimento Directo Estrangeiro como é o caso da SASOL, para
que esta companhia promova o desenvolvimento das comunidades locais.
A lei do investimento no seu artigo 7 na alínea a) afirma claramente que o investimento tem
como um dos seus objectivos “a implantação, reabilitação, expansão ou modernização de
infra-estruturas económicas destinadas à exploração de actividade produtiva ou à prestação
de serviços indispensáveis para o apoio à actividade económica produtiva e do
desenvolvimento do país” e na alínea o) acrescenta como um dos objectivos “a redução e
substituição de importações”.
Às facilidades legais acrescenta-se a denúncia mencionada por Kassotche (1999: 67) segundo
o qual as multinacionais evitam pagar os impostos inventando truques de contabilidade para
aumentar os lucros e diminuir os encargos fiscais. O que a ser verdade o país com a SASOL e
outras companhias com o mesmo estatuto perde duplamente. Perde porque tem uma
legislação facilitadora e perde porque a é ludibriado contabilisticamente.
Em Moçambique, o gás foi descoberto 1962 quando a Guff Oil encontrou gás nos campos de
Pande. Em 1970, o potencial para o gás de Moçambique na África Austral estava a tornar-se
evidente. Numa profecia pioneira do projecto, o então director geral da companhia
distribuidora de gás SASOL, Frans Coetzee no ano de 1970, escreveu aos seus colegas:
“Acredito que o gás natural pode, lucrativamente, ser traduzido de Moçambique para África
do Sul” (Abdulahé, 2011: 33).
No entanto, anos de conflitos regionais, a guerra civil e diferenças políticas impediram que a
visão de Frans Coetzee se tornasse realidade. É, só agora, 30 anos mais tarde, que os dois
países estão mais perto do que nunca de serem ligados por um gasoduto de gás natural
(SASOL, 2000). Com efeito, em Outubro de 2000, o Governo de Moçambique, a Empresa
Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) e a SASOL assinaram dois contratos conferindo a esta
última os direitos sobre os campos de gás de Pande e de Temane que resultaram na
constituição da empresa SASOL Petroleum Temane, Lda. (Revista da empresa). Os
accionistas da empresa são a SASOL, o Governo Moçambicano representado pela empresa
Nacional de Hidrocarbonetos e o Governo da República da África do Sul representado pelo
“Central Energy Fund”. Além do gasoduto, também foram construídas reservas e instalações
de processamento de Temane na província de Inhambane. O gasoduto percorre um trajecto de
520 km em Moçambique, atravessando o rio Limpopo perto de Macaretane em Chokwe e o
rio Incomati mais a sul, antes de atravessar a fronteira Sul-Africana perto da Vila de Ressano
Garcia. A partir dai, o gasoduto muda de direcção para Oeste e prolonga-se por mais 345 km
dentro da África do Sul, de Komatiport até Secunda, passando por Kaapmuiden, Badplaas, e
Bethakl, (Moçambique, 2002).
A SASOL tem estado empenhada em devolver a dignidade social as populações por onde
passa o gasoduto e outras comunidades. Um dos dirigentes da empresa, este projecto
multifacetado, envolve todo e tudo, rumo ao sossego social nas comunidades (Ibid: 34-35). A
SASOL está a trabalhar na exploração do gás de Pande e de Temane. Neste âmbito, chamou a
si a Responsabilidade Social de apoiar o desenvolvimento das populações vizinhas dos seus
projectos, pois o sucesso do seu empreendimento, não depende só da parte técnica, depende
também de olhar para o lado humano-social das populações.
É necessário que as populações tenham algo visível, uma vez que em termos visíveis, o
gasoduto atravessa muitas comunidades, razão pela qual a empresa tem esta componente
social para o seu apoio. Os investimentos realizados nas comunidades são de acordo com as
exigências delas, isto é, a SASOL nunca impõe. As populações indicam aquilo que é sua
prioridade e a empresa apoia. O impacto sobre estas iniciativas é enorme, e o alcance não tem
horizontes, nas diferentes fases de apoio, a SASOL através do departamento, tem feito um
trabalho em coordenação com o Governo, (Ibid).
1.4.2. Saúde
Em Moçambique a área de saúde ainda é muito crítica, consubstanciada pela falta de meios
básicos para um bom funcionamento como é o caso da exiguidade de recursos humanos,
infra-estruturas, medicamentos. Assim a SASOL tem efectuado as seguintes acções: Em
Moine, uma localidade do distrito de Magude, a morte espreitava continuadamente no seio
das populações, para além de falta de água, não havia um centro de saúde, ou algo parecido
que pudesse minimizar o sofrimento das comunidades. O transporte custa 30 Meticais. São
camiões de lenha e carvão, que eram obrigados a transportarem mulheres grávidas, e outras
pessoas debilitadas pelas enfermidades. Com esforço e coordenação das comunidades, do
Governo e da SASOL, construi-se um centro de Saúde nesta localidade de Moine em nos
finais de 2004 orçado em USD 340.000. E hoje há júbilo na localidade.
Já não se morre a caminho de Magude. Já não se vai empoleirado nos camiões de lenha e de
carvão. As mulheres têm maternidade. A saúde materno-infantil tem espaço. As doenças de
transmissão sexual (DTS) têm sido tratadas na unidade sanitária (Ibid: 37).
Para além deste centro de saúde de Moine, a SASOL realizou varias outras acções:
Construção de 3 centros de saúde orçados em 1.239.000 USD, dos quais um centro de
saúde está na província de Inhambane;
Comparticipa ao programa de prevenção e combate a malária concretamente na
distribuição de redes mosquiteiras, fumigação de casas de residentes de Maputo,
Inhambane e Gaza;
Construção de dois centros de saúde em Moine e Mangungumeta em Inhambane;
Implementação do programa de HIV/SIDA em Matlafala em Sasolburg- Africa do
Sul;
Foi reparado o telhado do Hospital de Vilanculos;
Co-financia as campanhas de sensibilização do uso do preservativo nas comunidades.
1.4.3. Desporto
Na área do desporto, a SASOL apoia principalmente no desenvolvimento nas modalidades de
futebol, a título de exemplo:
Construção de um estádio regional de desportos em Vilânculos;
Foi fornecido equipamento desportivo a clubes em Vilânculos;
Foi lançado o programa de desenvolvimento de futebol na província de Inhambane;
Como forma de evitar litígios com as comunidades, a SASOL trabalha directamente com as
populações beneficiárias das suas acções, em uma base de consultas. O que quer dizer que a
maior parte dos projectos até neste momento implementados nas diversas regiões e os
patrocínios que a SASOL tem dado, provém de solicitações efectuadas pelas próprias
comunidades e depois de analisadas uma por uma, dentro das prioridades e disponibilidades,
são financiados os pedidos aprovados.
Feito trabalho, constatou-se que a SASOL está a criar uma integração sectorial devido à
quantidade de serviços que esta companhia solicita às empresas nacionais e estrangeiras. Um
exemplo desta integração é a exploração de gás natural em Pande e Temane, província de
Inhambane, tendo depósitos de grande dimensão daquele produto sido descobertos há alguns
anos na bacia do Rovuma norte de Moçambique o que significa que a economia tira proveitos
do estabelecimento desta multinacional, mas este proveito é mais notório no crescimento
económico e menos no desenvolvimento do país.
A legislação Moçambicana é omissa em relação àquilo que as multinacionais em geral e a
SASOL em particular devem fazer em prol das comunidades locais.
A SASOL é um ponto de articulação, sobre o qual vários sectores de actividade interagem
criando a integração sectorial. Porém esta integração é vulnerável, pois depende duma única
unidade, no caso a SASOL. Se esta companhia (SASOL) falir a integração chega ao fim,
porque não há pontos de articulação adicionais.
O crescimento económico que se verifica em Moçambique com a contribuição da SASOL é
ilusório, pois os lucros não ficam no território nacional, mas contam na Balança de
Pagamentos.
Esta é uma das razões que leva a disparidade entre o crescimento económico e o
desenvolvimento em Moçambique.
Lista de Referências
BARROS, (de) G. (2004), “ Efeitos dos Grandes Projectos” in The World Bank News,
Maputo.
CESNAKAS, Giedrius (2016), Energy resources as the tools of foreign policy: the case of
Russia, Lithuanian Foreign Policy Review, vol. 35, 9-40.
Gil, António Carlos. (1999). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Edição. Editora
Atlas. São Paulo.
Marconi, Marina de Andrade e Eva Maria Lakatos. (2003). Metodologia Científica: Ciência
e Conhecimento Científico; Métodos Científicos; Teoria, Hipóteses e Variáveis; Metodologia
Jurídica. 2ª Edição. Editora Atlas: São Paulo.
SASOL (South African Coal, Oil and Gas Corporation), Social Development Report, 2006.
TRIOLA, Mário F. (2008), introdução à Estatística, 10ª Edição, Editora LTC: Rio de
Janeiro.