Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Programa de Pós-Graduação de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa

Disciplina: A História nas Literaturas Africanas de Língua Portuguesa


Sigla: FLC6387 - 1
Tipo: POS - presencial

Docentes Responsáveis Carga horária: Créditos: Duração: Período Dia/Horário


Mário César Lugarinho 2º sem - 2022
120 h 8 12 Semanas 3ªs feiras / 15h às 19h
Helder Maia 23 de agosto a 22 de novembro de 2022

Forma de Seminários e/ou trabalho final monográfico


avaliação: individual.

⋅ Reconhecer as interfaces entre o discurso histórico e historiográfico com o discurso literário.


⋅ Verificar os modos de constituição de identidades nacionais autônomas e de consequente superação da colonialidade.
Objetivos ⋅ Assinalar a presença e a ausência de fontes historiográficas na formulação da história dos Palop’s.
⋅ Observar, através da análise de obras literárias significativas das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, os
procedimentos de fixação, ficcionalização e interpretação da História dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Se a constituição dos discursos da identidade nacional recorreu a uma história autônoma para além do colonialismo, as
nações que emergiram das ruínas dos impérios coloniais europeus recorreram, entretanto, largamente à Literatura como
forma de fixação e constituição desses discursos. A ausência de uma historiografia produzida sob modelos tradicionais
impostos pela ciência histórica, tal qual o Ocidente a concebia, levou intelectuais africanos a recorrerem à Literatura como
Justificativa forma de recomposição de suas histórias nacionais na medida em que a história oral e a memória não eram reconhecidas
como fontes para a historiografia, até a publicação da obra monumental História Geral da África (UNESCO, 1991) – a literatura
efetivamente, assim, ocupou por boa parte do século XX o lugar da História. Investigações produzidas a partir das
independências vêm preenchendo lacunas sem, no entanto, contradizer ou, melhor, anular a contribuição que o texto literário
ofereceu às identidades nacionais enquanto a história era discurso instrumentalizado pelo colonialismo português.

Plano de Curso

Aula Data Conteúdo Leituras recomendadas e obrigatórias*



01 23/08 Teoria da Literatura e historiografia. ⋅ Eagleton, Terry. “Posfácio”.
História, Memória, Literatura. ⋅ Le Goff, Jacques. “Memoria”. In: Le Goff. J. História & Memória. Campinas: Unicamp,
A História na Literatura X A Literatura na 1990.
⋅ Veyne, P. Como se escreve a história?
História.
⋅ White, Hayden. “Discurso historico y escritura literaria.”
02 30/08 Nação, nacionalismo: a história ⋅ Anderson, Benedict. Comunidades imaginadas.
desmemoriada ⋅ Guibernau, Montserrat. Nacionalismos: o estado nacional e o nacionalismo no século
XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
03 13/09 A literatura e a história literária como ⋅ Lourenço, Eduardo. A literatura como interpretação de Portugal.
biografia da nação. ⋅ Oliveira Fernandes, Mário António. A Formação da Literatura Angolana (1851- 1950).
⋅ Sousa e Silva, J. Norberto. Bosquejo
04 20/09 Colonialismo: história, historiografia. Os ⋅ Costa, Sergio. Desprovincializando a teoria.
estudos pós-coloniais, a História e a ⋅ Saïd, E. Cultura e Imperialismo.
Literatura. ⋅ Hall, Stuart: “The West and the Rest: Discourse and Power”.
05 27/09 A tradição historiográfica e as fontes ⋅ Caldeira, Alindo Manuel. “O Poder e a Memória Nacional: heróis e vilãos na mitologia
historiográficas dos Países Africanos de salazarista”. In: Penélope: ler e desfazer a história (Lisboa), 15 (1995):121-139.
Língua Oficial Portuguesa ⋅ Dias, Jill. História da Colonização – África (sécs. XVII-XX). Ler História, 21 (1991): 128-
145.
⋅ Henriques, Isabel Castro. Colonialismo e História. Lisboa.
06 04/10 A literatura colonial portuguesa e as ⋅ Lugarinho, Mata. Um campo de batalhas abandonado: a literatura colonial portuguesa
literaturas nacionais dos Palop’s: a como provocação à história literária dos Palops. In: Veredas - Revista da Associação
disputa pela história e pela memória. Internacional de Lusitanistas, v. 36, p. 26-40, 2022
07 11/10 Quem é Nzinga Mbandi? Mito, História e ⋅ Lugarinho & Maia. “Uma Rainha em Três Continentes: Gênero e Sexualidade em torno
Literatura de Nzinga Mbandi”. In: Wieser, Doris; Falconi, Jessica. (Org.). Declinações: Gênero e
Nação nas Culturas e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. 1ed.Lisboa: Almedina,
CES/UCoimbra, 2022, v. 1, p. 249-271.
08 18/10 O Gênero e a Sexualidade de Nzinga ⋅ HEYWOOD, Linda. Jinga de Angola: a Rainha Guerreira da África. São Paulo:Todavia,
Mbandi, um problema histórico e literário 2019.
⋅ MILLER, Joseph. Poder político e parentesco: os antigos estados Mbundu em Angola.
Luanda: Arquivo Histórico Nacional, 1995.
⋅ CADORNEGA, António de Oliveira. História geral das guerras angolanas. 3 t. Lisboa:
Agência-Geral do Ultramar, 1972.
09 25/10 Nzinga Mbandi 1 ⋅ seminário
10 01/11 Nzinga Mbandi 2 ⋅ seminário
11 08/11 Nzinga Mbandi 3 ⋅ seminário
12 22/11 Encerramento
* em vermelho –leitura obrigatória

Bibliografia Geral:

1. AGUALUSA, José Eduardo. A Rainha Ginga. Rio de Janeiro: Foz, 2015.


2. ALEXANDRE, Valentim. “O império português (1825–1890): ideologia e economia”. In: Análise Social, vol. XXXVIII (169), 2004: 959–979
3. ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992;
4. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
5. ARAGÃO, Rui. Portugal, o desafio nacionalista: psicologia e identidade nacionais. Lisboa: Teorema, 1985.
6. ARENAS, Fernando. Lusophone Africa beyond independence. Minneapolis: The University of Minnesota Press, 2011.
7. ASHCROFT, Bill et alii (org.) The Empire writes back: theory and practice in post-colonial literatures. London/New York: Routledge, 1989.
8. ASHCROFT, Bill et alii (org.) The Post-Colonial Studies Reader. London/New York: Routledge, 2006.
9. ASSMANN, Aleida: “Cânone e Arquivo”. In: Alves, Fernanda Mota; Soares, Luísa Afonso; Rodrigues, Cristiana Vasconcelos (org.):
Estudos de Memória. Teoria e Análise Cultural. Ribeirão, V.N. Famalicão: Húmus, 2016, pp. 75-86.
10. BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e Estética: a teoria do romance. São Paulo, Hucitec/Unesp, 1988.
11. BARRETO, Luis Filipe. Caminhos do saber no renascimento português: estudos de história e teoria da cultura. Lisboa: Imprensa
Nacional/Casa da Moeda, 1985. 21. BELLA, John. Os primeiros passos da Rainha Njinga. Braga: O cão que lê, 2011.
12. BELLA, John. O regresso da Rainha Njinga. Braga: O cão que lê, 2012.
13. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo, Brasiliense, 1984.
14. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: magia e técnica / arte e política. São Paulo, Brasiliense, 1985.
15. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança de velhos. 2ª ed. São Paulo, T.A. Queiroz / Edusp, 1987.
16. CADORNEGA, António de Oliveira. História geral das guerras angolanas. 3 tomos. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1972.
17. CALDEIRA, Arlindo Manuel. “O poder e a memória nacional: heróis e vilãos na mitologia salazarista”. In: PENÉLOPE, FAZER E
DESFAZER A HISTÓRIA, 15 (1995), p. 121-139.
18. CAMPOS, Fernando. “A data da morte da Rainha Jinga D. Verônica”. África, Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, 4:79-103,
1981.
19. CAMPOS, Fernando. Conflitos na dinastia Guterres através da sua cronologia. África: Revista do Centro de Estudos Africanos da USP,
n.27-28, p. 23-43, 2007.
20. CAVAZZI DE MONTECUCCOLO, António. A relação de Antonio Cavazzi de Montecuccolo, in: Njinga, Rainha de Angola. Lisboa: Escolar
Editora, 2010.
21. CORDEIRO DA MATTA, Joaquim Dias. A verdadeira rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de
1883. Lisboa: Typographia Lisboa, p. 229-232, 1882.
22. COSTA, Sérgio. “Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21,(60), fev
2006: 117-134.
23. DIAS, Jill. História da Colonização: África (séc. XVII–XX). In: Ler História, 21, 1991: 123·l.45.
24. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. 2ªed. São Paulo: Marins Fontes, 1997.
25. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 2ª ed. Rio de Janeiro, forense Universitária, 1987. 51. GAGNEBIN, Jeanne-Marie. História e
narração em W. Benjamin. São Paulo, Perspectiva, 1994.
26. GAMA, Basílio da. Quitubia. In: Obras poéticas de José Basilio da Gama. Rio de Janeiro: Garnier, 1920.
27. GRAMSCI, Antonio. Literatura e vida nacional. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1985.
28. GUIBERNAU, Montserrat. Nacionalismos: o estado nacional e o nacionalismo no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
29. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo, Vértice/Revista dos Tribunais, 1990.
30. HALL, Stuart: “The West and the Rest: Discourse and Power”. In: H. Stuart (ed.). Modernity: Introduction to the Modern Societies. Oxford:
Blackwell, 1996, pp. 185-227.
31. HENRIQUES, Isabel Castro. Colonialismo e História. Lisboa: CeSA/FCT, 2015.
32. HENRIQUES, Isabel Castro. “A historiografia africana: História, Ideologias, Interdisciplinaridade (séculos XIX-XX). In: Henriques, I. C. A
África e o Mundo: Circulação, apropriação e cruzamento de conhecimentos. Lisboa: Caleidoscópio, 2021. P. 17-50.
33. HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
34. HOBSBAWN, Eric. Nação e nacionalismo, desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
35. JARA, René & TALENS, Jenaro. “Comparatismo y semiótica de la cultura” In: Eutopias: Teorias/Historia/Discurso, Minneapolis/Valencia,
Hiperión, v. III, 1987: 2-3, 5-17.
36. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, Unicamp, 1990.
37. LIMA, Luís Costa. O Controle do Imaginário. São Paulo, Brasiliense, 1984.
38. LOURENÇO, Eduardo. O labirinto da saudade: psicanálise mítica do destino português. 4ª ed. Lisboa: Dom Quixote, 1991.
39. LUGARINHO, Mário César. Manuel Alegre: mito, memória e utopia. Lisboa: Colibri - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional/
Universidade Nova de Lisboa, 2005.
40. LUGARINHO, Mário; MATA, Inocência. Um campo de batalhas abandonado: a literatura colonial portuguesa como provocação à história
literária dos Palops. In: Veredas - Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, v. 36, p. 26-40, 2022
41. LUGONES, María. Colonialidade e gênero. Tabula Rasa. Bogotá.Nº 9: 73-101, jul-dez,2008.
42. MATA, Inocência: Estudos pós-coloniais: Desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas, Porto Alegre, v. 14, n. 1, 2014, p. 27-42.
43. MERQUIOR, José Guilherme. A astúcia da mímesis: ensaios sobre lírica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1972.
44. MIGNOLO, Walter. “Os esplendores e as misérias da ‘ciência’: colonialidade, geopolítica do conhecimento e pluri-versalidade epistêmica”.
In: SANTOS, B. S. (org.). Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Cortez,
2004. p. 667-710.
45. MOHANTY, Chandra Talpade: “Under Western Eyes: Feminist Scholarship and Colonial Discourses”. In: boundary 2, Vol. 12/13, Vol. 12,
no. 3 - Vol. 13, no. 1, On Humanism and the University I: The Discourse of Humanism, 1984, pp. 333-358.
46. MPLA. História de Angola. Porto: Afrontamento, 1975.
47. OLIVEIRA FERNANDES, Mário António. A Formação da Literatura Angolana (1851- 1950). Icalp, n. 10, p.51-79, dez, 2010.
48. PEPETELA. A gloriosa família: o tempo dos flamengos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
49. PEPETELA. “Sobre a gênese da Literatura Angolana”. In: União dos Escritores de Angola, http://www.ueangola.com/index.php/criticas–e–
ensaios/item/57–sobre–a–g%C3%A9nese–da–literatura–angolana.html . Acesso em 28/03/2011.
50. SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
51. SANTOS, Afonso M. dos. "Memória, história, nação: propondo questões". In: Memória e História. In: Tempo brasileiro, 87, 1986: 9–18.
52. SANTOS, Boaventura de S. “Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências”. In: SANTOS, B. S. (Org.).
Conhecimento prudente para uma vida decente. São Paulo: Cortez,2004. p.777-881.
53. SANTOS, Eloína Prati dos. “Pós-colonialismo e Pós-colonialidade”. In: FIGUEIREDO, Eurídice. (org.). Conceitos de Literatura e Cultura.
Juiz de Fora, UFJF, 2005.
54. SILVA PEREIRA, António Xavier. A rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de 1882. Lisboa:
Typographia Lisboa, p. 230-231, 1881.
55. SILVA PEREIRA, António Xavier. Ainda a rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de 1884. Lisboa:
Typographia Lisboa, p. 141-144, 1883.
56. TORGAL, Luis Reis. Estado novo, estados novos. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2009.
57. VEYNE, Paul. Como se escreve a História? Lisboa, Edições 70, 1980.
58. WIESER, Doris: “A Rainha Njinga no diálogo sul-atlântico: género, raça e identidade”, Iberoamericana, XVII, 66, 2017, pp. 31-53.

Você também pode gostar