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ESTUDO DE CASO

COQUELUCHE
História clínica
MRBS, 5 meses e 17 dias, masculino, branco, natural e procedente do interior do estado, dá
entrada ao ambulatório de pediatria do Hospital Universitário com queixa de tosse
persistente há 9 dias. A genitora refere que a criança, há 9 dias, iniciou quadro de tosse seca
progressiva, chegando a 12 episódios de tosse por dia, e, por vezes, era observado 5
tossidas em uma única expiração, acompanhadas por “perda de fôlego” e de “piado”.
Suplementar, relata, também, que o lactente evoluiu há dois dias, com tosse cheia, sem
expectoração, coriza hialina, além de eventuais vômitos pós-crise paroxística e, a partir do
que genitora descreveu, cianose perioral, o que a motivou procurar o serviço de pediatria
deste hospital. Nega febre, espirros e apneia. A respeito dos antecedentes pessoais e
obstétricos, foi relatado nascimento a termo (39 semanas), de parto natural, com 3480 g e
50 cm, sem intercorrências na gestação, no parto ou no puerpério. É o primeiro filho da
prima gestação (G1P1A0) e fez 8 consultas durante pré-natal. Chorou ao nascer, apresentou
escore de Apgar 8 no 1º minuto e 9, no 5º minuto. Sobre aspectos nutricionais, relata
aleitamento materno exclusivo até o momento.
Conta que a criança tem bom apetite, com deglutição normal, assim como frequência de
evacuações e miccional. Nega alergias alimentares ou medicamentosas. A respeito das
vacinações, recebeu BCG e Hepatite B ao nascer, recebeu 1 dose da vacina pentavalente
(DTP acelular), da VIP, da rotavírus, da meningocócica C e da pneumocócica 10V, no 2º mês
de vida. Residem em casa de alvenaria de 4 cômodos, com luz elétrica, saneamento básico e
coleta regular de lixo; coabitam 5 familiares, sendo que a genitora conta que seu irmão, de
18 anos, vem apresentando crises de tosse há cerca de 4 semanas. A criança é bem
agraciada por todos os parentes, os quais se revezam em seus cuidados.
Exame físico
Geral: Regular estado geral, letárgico, anictérico, hipocorado (+/4+), acianótico, perfusão
distal preservada. Hemorragia conjuntival em olho esquerdo.
Sinais Vitais: TA: 36,9ºC; FC: 172 bpm; FR: 67 irpm; PA: 99×60 mmHg; comprimento: 69 cm;
peso: 9,989 Kg; PC: 45 cm.
Pele e Fâneros: Pele com turgor e elasticidade normais; cianose foi evidenciada na gengiva,
posterior a crise de tosse durante a execução do exame físico. Presença de cicatriz vacinal
de BCG.
Neurológico: Letárgico e pouco abatido; ausência de déficits focais; boa massa e tônus
muscular com preservação da força geral; isocoria pupilar; outros não testados.
Pulmonar: Vestígio de coriza hialina no vestíbulo nasal. Expansibilidade preservada,
murmúrios vesiculares bilaterais, presença de estertores subcrepitantes no hemotórax
direito e de sibilos inspiratórios. Presença de tiragem intercostal leve (+/4+);
Cardíaco: Bulhas ritmicas normofonéticas em 2 tempos, sem sopros. Pulso cheio, rítmico e
simétrico.
Abdome: Abdome flácido, sem cicatrizes; ruídos hidroaéreos presentes; espaço de Traube
livre; sem sinais de irritação peritoneal ou visceromegalias.
Genitália: Anatomia masculina normal, compatível com a idade. Meato uretral tópico.
Exame microbiológico
Cultura de swab perinasal: crescimento de Bordetella pertussis.
Cultura de aspirado nasofaríngeo: crescimento de Bordetella pertussis.
Radiografia de tórax
Hiperinsuflação bilateral com retificação de cúpulas diafragmáticas (figura 1).

Radiografia de tórax. A direita, em sequência anteroposterior; a esquerda, em perfil.


PERGUNTAS
1. O que é a coqueluche?
A coqueluche é uma infecção do trato respiratório causada pela bactéria Bordetella
pertussis. Na medicina chinesa, é chamada de tosse dos 100 dias, pois a tosse persistente
é o sintoma mais comum. A doença é transmitida de pessoa a pessoa e adultos sem
reforço vacinal funcionam como fonte de infecção.
2. Quais os sintomas da coqueluche?
A doença tem três estágios:
Catarral (duração de 1 a 2 semanas)
Inicia-se após período de incubação de 7 a 10 dias em média
Rinorréia (muita coriza)
Conjuntivite com lacrimejamento
Febre baixa
Tosse ocasional
Paroxismo (duração de 1 a 6 semanas)
10 a 15 tossidas por ciclo expiratório
Tosse seca com ruído característico
Vômito após episódio de tosse
Convalescência (duração de 1 a 6 semanas)
A duração da tosse seca (não produtiva) é marcante

3. O tratamento
O tratamento antimicrobiano visa eliminar as bactérias, mas não diminui a duração dos
sintomas. É importante para impedir a transmissão da doença, que ocorre de pessoa a
pessoa. Além disso:
- Suporte ventilatório em casos que necessitam de internação hospitalar
- Tratamento de co-infecção – pode ocorrer infecção concomitante por outros patógenos
do trato respiratório tal como Streptococcus pneumoniae (principal agente de infecções
como otites, sinusites e pneumonias) e Haemophilus influenzae (agente que pode causar
pneumonias e meningite bacteriana)
- Corticóides (anti-inflamatórios) e anti-histamínicos (anti-tussígenos) sem impacto
significativo na melhora ou diminuição dos sintomas

4. Há uma faixa etária que corre mais riscos se infectada?


As crianças com idade menor que seis meses têm maior risco para adquirir a infecção. Em
particular aquelas que não tomaram pelo menos três doses da vacina pentavalente. A
doença é mais grave em crianças com idade menor que dois meses, pois essas ainda não
receberam a primeira dose da vacina. No ano passado foram dois óbitos por coqueluche
no estado de São Paulo. Cerca de 70% dos óbitos por coqueluche ocorrem na faixa etária
de até dois meses.
5. Quem deve se vacinar e quando?
O calendário vacinal contra coqueluche público no Brasil é:
1ª dose aos 2 meses - vacina pentavalente contra Corynebacterium diphtheriae (agente
da difteria), Clostridium tetani (agente do tétano), Bordetella pertussis (agente da
coqueluche), Haemophilus influenzae tipo b (agente de meningite e otite) e vírus da
hepatite B.
2ª dose aos quatro meses
3ª dose aos seis meses
15 meses – tríplice bacteriana - contra Corynebacterium diphtheriae (agente da difteria),
Clostridium tetani (agente do tétano), Bordetella pertussis (agente da coqueluche)
4 anos - tríplice bacteriana - contra Corynebacterium diphtheriae (agente da difteria),
Clostridium tetani (agente do tétano), Bordetella pertussis (agente da coqueluche)
A cada 10 anos deve ser feito o reforço da tríplice bacteriana, mas, atualmente, no
sistema público, o reforço é feito apenas com a dupla (difteria e tétano) e não a tríplice
bacteriana do adulto.
6. As grávidas precisam se vacinar?
Sim, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) recomenda a inclusão
da vacina contra coqueluche a cada gestação. Outra abordagem importante é vacinar
contra coqueluche todos aqueles familiares e profissionais que entrarão em contato
direto com o recém-nascido. O ideal é que o reforço vacinal no adulto seja feito com a
vacina tríplice bacteriana do adulto e não a dupla.

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