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Saúde Mental na Infância e Adolescência: desafios e as abordagens de intervenção

Atualmente sabemos que a saúde mental é determinada por um leque diverso de fatores que
ultrapassam em larga medida as dimensões exclusivamente centradas na prestação de
cuidados. Muitos desses fatores começam numa numa fase precoce da vida a influenciar e
criar marcas significativas no futuro de cada um de nós em termos de resiliência e de
capacidade de adaptação às várias fases do ciclo de vida. Neste sentido, a saúde mental das
crianças e adolescentes deve ser considerada como uma área absolutamente crucial e
indispensável, não só a nível dos sistemas de saúde, mas igualmente na escola, famílias e locais
de lazer e desporto.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 20% das crianças têm algum tipo de
doença mental ao longo do seu desenvolvimento (2 em cada 10): depressão ou outros
distúrbios do humor, abuso de substâncias (álcool e/ou outras drogas), comportamentos auto-
lesivos e/ou suicídio ou perturbações do comportamento alimentar. O impacto deste grupo de
doenças nesta faixa etária é tão significativo que entre os 15-19 anos, o suicídio é a segunda a
terceira principal causa de morte (dependendo do sexo), seguido de violência na comunidade e
na família (WHO, 2019a). Uma vez atingida a maioridade, a evidência científica revela que os
adultos que desenvolvem doença mental manifestaram sinais de risco ou mesmo de
perturbação mental, no período da infância e/ou adolescência.

Até hoje os dados científica mostram-nos de que 80% dos problemas de saúde mental do
adulto surge antes dos 15 anos de idade e metade até estavam já presentes aos 5 anos (Lee,
2014). Este cenário mostra-nos que, realmente é cada vez mais importante que a intervenção
se inicie na infância, mas é um processo continuado ao longo do ciclo da vida, nos períodos
sensíveis. Apostando mais na promoção e prevenção, e não apenas focar na intervenção
imediata e remediativa na qual vivemos hoje. Sendo que se investirmos na promoção da saúde
e na prevenção da doença iremos ter um retorno tanto maior em termos de resultados quanto
mais cedo o fizermos na vida das crianças e adolescentes, evitando potencialmente um
número considerável de problemas anos mais tarde.

Pessoalmente, eu sinto que a psicologia deve procurar uma visão integradora, centrada nas
crianças, nos jovens e nas famílias, reforçando as relações terapêuticas e tendo sempre em
consideração todas as dinâmicas dos vários sistemas do mesmo.

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A psicoterapia infantil destaca-se como uma modalidade de atendimento psicológico de
crianças, e conceitua-se como uma intervenção que visa a atender o público infantil com
questões diversas que possam causar estresse emocional e interfiram no dia a dia da criança.
Nessa intervenção podem interagir diversos fatores, como a participação familiar e escolar,
assim como a maneira que a criança se insere nessas relações. Quaisquer destes fatores podem
influenciar o curso da psicoterapia e o resultado das intervenções (Deakin & Nunes, 2008;
Cunha & Benetti, 2009; Brzozowski & Caponi, 2013; Christon, McLeod, Wheat, Corona & Islam,
2016; Halfon, Goodman, & Bulut, 2018).

Como a psicoterapia na psicologia é uma prática na qual a diversidade de contextos de atuação


é uma realidade (Oliveira, 2009; Ayres & Barreira, 2014), compreende-se a importância de
entende-la a partir do contexto de execução, haja vista esse fator ser promotor de variações
na atuação (Brito, 2008; Campos & Cury, 2009).

A psicoterapia, como campo de atuação psicológica de âmbito clínico, é conceituada como um


método de tratamento do sofrimento psíquico por meios essencialmente psicológicos (Doron
& Parot, 1998). É um ato de escuta no qual o psicoterapeuta volta-se para o cuidado do
paciente e para a relação deste com seu contexto relacional e social (Ayres & Barreira, 2014). A
psicoterapia objetiva, ou fazer desaparecer sintomas incômodos para o paciente, ou recompor
o conjunto de seu equilíbrio psíquico. Os critérios de cura variam conforme o procedimento
adotado e a teoria de base. Os métodos empregados se baseiam, ora no empirismo do
terapeuta, ora na teoria que garante sua coerência (Doron & Parot, 1998).

Schneider e Torossian (2009), Boaz, Nunes e Hirakata (2012) e Weisz (2014) apresentam a
Psicoterapia Infantil como uma modalidade de atendimento que visa a atender crianças com
dificuldades emocionais que interfiram em seu cotidiano. Os autores ressaltam que o processo
psicoterapêutico da criança envolve múltiplos fatores, como a participação da família e da
escola, as relações estabelecidas pela criança, bem como a sua experiência vivida.Para além
das categorias diagnósticas disponíveis na CID-10 (OMS, 1993), de modo geral, a psicoterapia
se constitui como intervenção destinada ao decréscimo da angústia, de comportamentos
considerados ruins e ao aumento (ou melhora) do funcionamento pró-social (Waumsley &
Swartz, 2011; Ruiz & Perete, 2015; Carvalho, Godinho, & Ramires, 2016).
Foi constatado que as intervenções da prática clínica em psicoterapia infantil diferem entre as
abordagens teóricas da Psicologia. Há uma compreensão conceitual ampla no que se refere ao
objetivo dessa prática e que suas habilidades de desenvolvimento técnico se apresentam
pautadas em diferentes tipos de visão de homem, como podemos ver nas discussões a seguir
em cada abordagem (Moura, Grossi, & Hirata, 2009).

Qual deve ser a estratégia de prevenção e promoção precoce de saúde mental?

A estratégia deve integrar quatro domínios em parceria: saúde, educação, área social, e justiça
e ser implementada através de processos inclusivos, com liderança, visão partilhada e
participação da comunidade em todos os locais onde vivem as crianças: famílias, escolas,
centros de saúde e locais de lazer e desporto. Os objectivos são potenciar as capacidades
individuais e combinam factores de suporte (família, escola, centro de saúde) com os de
capacitação (valorização na comunidade) e de ligação (modelos e pares) para a aquisição de
competências sociais (planeamento, decisão, resiliência), auto-estima e visão optimista do
futuro. Allen Graham considera que a missão de todos (profissionais de saúde e educação e
famílias) é preparar a criança para a escola até aos 5 anos e prepará-la para a vida até aos 18
anos (Allen, 2011)

Não é fácil ser-se criança e adolescente nos dias que correm. Os ritmos de vida, estilos de vida
e níveis de exigência geram dinâmicas muito complexas. Prevenir na idade jovem é uma grande
oportunidade, de a montante, se poderem promover práticas e comportamentos saudáveis,
com impacto positivo na vida adulta. A evidência indica que os benefícios excedem os custos
quando as intervenções são precoces.

Nos dias de hoje, os pais passam os dias a correr, têm cada vez dias mais longos de trabalho e
menos tempo para a família. Chegar cansado, sem ter uma noite seguida de sono há meses, e
cuidar de um bebé/criança com algum problema, inevitavelmente aumenta os níveis de
ansiedade dos adultos que moram em casa, o que se transmite, involuntariamente, para os
mais pequenos, aumentando por sua vez os problemas iniciais das crianças, criando um ciclo
fechado, que precisa de ser interrompido. As perturbações de saúde mental da primeira
infância são mais comuns do que se imagina, sendo por isso frequente a desvalorização dos
problemas e atraso na procura de ajuda. Embora algumas das perturbações (como PHDA,
Autismo, entre outras) não apresentem tratamento curativo, é sempre possível melhorar a
qualidade de vida dos mesmos e da família com uma intervenção adequada, o mais
precocemente possível

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