Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio Claro/SP
2015
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Campus Rio Claro-SP
Programa de Pós-graduação em Educação Matemática
Rio Claro/SP
2015
Carmen Rosane Pinto Franzon
Comissão Examinadora
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Arlete de Jesus Brito – Orientadora
Departamento de Educação – UNESP/Rio Claro – SP
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Fumikazu Saito
Departamento de Matemática – PUC/São Paulo – SP
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Vieira Teixeira
Departamento de Matemática – UNESP/Rio Claro – SP
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Rosa Lúcia Sverzut Baroni
Departamento de Matemática – UNESP/Rio Claro – SP
During his life, Leibniz pursues the goal to create a universal language that
perfectly communicates the thought and thus allows the knowledge of all things.
According to him, the viability to the construction of a universal language
accrues from the fact that all the knowledge sustains itself on a finite number of
basic concepts or simple ideas which can be identified and hierarchically
structured. In his conceiving for the preparation of such language is necessary:
defining the simple ideas; setting a proper system of signs - what he calls
universal characteristic; and establishing the logical rules in order to compose
complex ideas – or, as he’s defined, rational grammar. We have defined the
main goal of this paper as to present a survey on a universal language, in
particular about the universal characteristic and to investigate the paths taken
by Leibniz in this pursuit. From this purpose it courses the following secondary
objectives: to verify how Leibniz develops his research in Binary Arithmetic, that
consists on materialization of the universal characteristic; and briefly to present
his rational grammar. To support our goal, we introduce some discussions on
the foundation of a universal language that took place on seventeenth century
and first decades of the eighteenth century, as well as their importance for the
development of science. We have concluded that Leibniz has kept his ideas
about creating a definitive and complete symbolism. However, he ends up
recognizing the magnitude of this project and the multiples difficulties about it.
His efforts, though, contributed for the development of science, especially on
mathematics, with the creation of the Infinitesimal Calculus and the
improvement of Binary Arithmetic. In the construction of this text, we try to
articulate three types of analysis: the historiographical, the epistemological and
the historic-contextual.
Introdução ......................................................................................................... 6
Introdução
1
“[...] si l’on pouvoit trouver des caracteres ou signes propres à exprimer toutes nos pensées,
aussi nettement et exactement que l’arithmètique exprime les nombres ou que l’analyse
geométrique exprime les lignes, on pourroit faire em toutes les matières autant qu’elles sont
sujettes au raisonnement tout ce qu’on peut faire em arithmètique er Géometrie. [...] Or les
caracteres qui expriment toutes nos pensées, composeront une langue nouvelle, qui pourra
estre écrite, et prononcée: cette langue sera très difficile à faire, mais très aisée à apprendre.
Elle sera bien tost recue par tout le monde à cause de son grand usage, et de sa facilité
[merveilleuse] <surprenante> <et elle servira merveilleusement à la communication de plusieurs
peuples ce qui aidera à la faire receuvoir>.[...] [Cette langue sera le plus gran organe de la
raison.] [...] J’ose dire que cecy est dernier effort de l’esprit humain, et quand le projet sera
executé, Il ne tiendra qu’aux hommes d’estre heureux puisqu’ils auront um instrument qui ne
servira pás moins à exalter la raison, que le Telescope ne sert à perfectionner la veue.”
(LEIBNIZ in OC, p. 155 -157)
2
Para se referir à Linguagem universal, Leibniz utiliza diversos termos: alfabeto do pensamento
humano, lingua universalis, língua racional, gramática racional, gramática filosófica, lingua
philosophica, lingua rationalis, lingua generalis, lingua nova, scritptura universalis. Aos projetos
7
que são ligados ao uso de simbolismos adequados inspirados na Álgebra denomina por
characteristica universalis ou characteristica realis, ou ainda caractéristique réele.
3
Segundo Pombo (1997) projetos de linguagens a posteriori são “[...] aqueles que, operando
sobre materiais linguísticos já constituídos, tanto lexicais como sintáticos, os procuram
combinar, reformar e/ou aperfeiçoar [...]” (POMBO, 1997, p. 29)
4
Pombo (1997) define projetos a priori como “[...] aqueles que supõem a invenção total de um
novo léxico e o estabelecimento das suas regras funcionais (seriam predominantemente deste
tipo os projectos filosóficos) [...]” (POMBO, 1997, p. 29)
5
“Cui studio cum intentius incumberem, incidi necessario in hanc contemplationem
admirandam, quod scilicet excogitari posset quoddam Alphabetum cogitationum humanarum, et
quod literarum hujus Alphabeti combinatione et vocabulorum ex ipsis factorum analysi omnia et
inveniri et dijudicari possent.” (LEIBNIZ in GP VII, p. 185).
8
6
“Cependant quoyque cette langue depende de la vraye philosophie, elle ne depend pas de sa
perfection. C’est à dire cette langue peut estre établie, quoyque la philosophie ne soit pas
parfaite: et à mesure que la science des hommes croistra, cette langue croistra aussi. En
attendant elle sera d’un secours merveilleux et pour se servir de ce que nous sçavons, et pour
voir ce qui nous manque, et pour inventer les moyens d’y arriver, mais sur tout pour exterminer
les controverses dans les matieres qui dependent du raisonnement. Car alors raisonner et
calculer sera la méme chose.” (LEIBNIZ, ? in OC, p. 28)
10
e artigos a este respeito, apesar do assunto ter permeado grande parte dos
estudos que Leibniz realizou durante sua vida e deles terem resultado seus
principais trabalhos em matemática.
Feitas estas considerações e para situar o leitor, faremos a seguir uma
exposição sucinta sobre as motivações que levam Leibniz à tentativa de criar
uma Linguagem universal e, consequentemente, em relação à Característica
universal.
Na concepção de Leibniz, por serem vagas, as palavras da língua
corrente frequentemente conduzem ao erro. Ele observa as notae7 utilizadas
pelos aritméticos e algebristas e deduz que elas são o que de melhor existe
para as pesquisas. Inspirado nesta simbologia, Leibniz imagina que é possível
criar uma linguagem de tal forma que por meio dela se torne viável verificar a
validade de ideias conhecidas e descobrir novas verdades. Em um manuscrito
datado de 1679 que, escreve ele
7
De acordo com Bacon no De Augmentis, “As notae rerum, que significam as coisas sem a
obra e o intermédio das palavras são de dois tipos: um baseado na analogia outro na
convenção. Do primeiro tipo são os hieróglifos e os gestos, do segundo tipo os caracteres reais
de que falamos [...]. Ocorre que hieróglifos e gestos tem alguma semelhança com a coisa
significada: são uma espécie de emblema, e por essa razão os chamamos notas [...]” (BACON
apud ROSSI, 1992, p. 274). Devemos observar que a tradução de notas para o latim é notae.
Então, o termo notae significa símbolos ou emblemas.
8
“Et comme j’ay eu le bonheur de perfectionner considerablement l’art d’inventer ou analyse
des Mathematioiens, j’ay comencé à avoir certaines vues toutes nouvelles, pour reduire tous les
raisonnemens humains à une espece de calcul, qui serviroit à decouvrir la verité, [...], cette
methode serviroit comme dans les Mathematiques, á approcher autant qu’on le peut sur le
donné et à determiner exactement ce qui est le plus probable.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 25)
12
9
“[...] par ce moyen on n’arriveroit pás seulement à une connoissance solide de plusieurs
importantes verities, mais encore qu’on parviendroit à [une] l’Art d’inventer admirable, et à une
analyse qui feroit quelque chose de semblable en d’autres matieres, à ce que l’Algebre fait
dans les Nombres.” (LEIBNIZ in OC, p. 175)
13
Na busca por tais caracteres, Leibniz toma por princípio que eles devem
denotar, tanto quanto possível, a natureza das coisas. Leibniz exemplifica esta
ideia, em carta destinada a Henry Oldenburg (1618-1677), considerando que
nesta língua o nome que
10
“Nomen tamem quod in hac língua imponetur, clavis erit eorum omnium quae de auro
humanitus, id est ratione atque ordine sciri possunt, cum ex eo etiam illud appariturum sit,
quaenam experimenta de eo cum ratione institui debeant.” (LEIBNIZ in GP VII, p. 13)
11
“I call a symbol a visible sign representing thoughts.
The characteristic art is thus the art of forming and ordering symbols so that they reproduce
thoughts, i.e. so that they have the relation to each other that thoughts have to each other.
An expression is an aggregate of symbols representing the thing which is expressed.
The law of expressions is this: just as the idea of a thing to be expressed is composed from the
ideas of those things, an expression of a thing is composed from the symbols for those things.”
(LEIBNIZ in < http://www.leibniz-translations.com/symbol.htm>, acesso em 15.07.2013)
14
Para Leibniz, um símbolo é tão mais útil quanto mais próximo estiver da
coisa a que se refere. Ele define ‘coisa’ como ‘o que pode ser pensado’, e
considera que a linguagem para nomear as coisas deve estar tão próxima da
realidade, como havia estado àquela utilizada por Adão, cuja gênese foi
perdida.
Nesse sentido, na obra As palavras e as coisas, Foucault (2010) analisa
uma ideia muito importante para a época, que era consenso geral, de que as
palavras mais ocultam do que revelam as coisas.
Este filósofo analisa que “[...] sob sua forma primeira, quando foi dada
aos homens pelo próprio Deus, a linguagem era um signo das coisas
absolutamente certa e transparente, porque se lhes assemelhava.”
(FOUCAULT, 2010, p. 49). A ideia defendida por Foucault é que, segundo a
tradição hermética, o nome realmente representa o essencial do que a coisa é,
pois eles são depositados por Deus sobre aquilo que designam. Ocorre que
“essa transparência foi destruída em Babel para punição dos homens. “[...] As
línguas foram separadas umas das outras e se tornaram incompatíveis [...]”
(FOUCAULT, 2010, p. 49). A partir de então, com diversas línguas instituídas,
as marcas da nomeação se perdem e os nomes das coisas passam a ser mera
convenção.
Especialmente no século XVII e início do século XVIII, os estudiosos
vêem em tal questão um problema para o avanço do saber e entendem que se
faz necessário criar uma Linguagem universal que elimine a confusão das
línguas naturais e supere suas imperfeições. Dentre os diversos eruditos que
defendem essa ideia podemos citar Seth Ward (1617-1689), professor de
astronomia em Oxford. Rossi (2004) comenta que ele via
John Wallis (1616-1703), matemático britânico, por sua vez, também não
fica alheio à discussão em torno da linguagem e da escrita. Fazendo referência
a tais questões em sua obra De álgebra (Sobre a álgebra), trata do problema
da escrita em geral e também da escrita oculta. O autor foi um dos cultores da
álgebra e considera os caracteres utilizados nessa parte da matemática um
aspecto particular do problema dos sinais, das cifras e das escritas. Na obra
Mathesis universalis (Ciência Universal), de 1657, dentre outros assuntos,
enumera as vantagens que as técnicas dedicadas ao fortalecimento da
memória oferecem para o matemático.
Devemos lembrar que, os eruditos que se dedicam a essa busca
consideram que essa nova língua será artificial, pois será construída utilizando
um artifício humano dado por Deus, a razão, entidade que possibilita ao
homem obter o conhececimento das coisas e dele se apropriar.
Para que esta linguagem cumpra seus objetivos, deve ser criada de tal
forma que reflita imediatamente as coisas e noções definidas a partir do
conhecimento que se tem da natureza, de modo que, por fim, resulte em uma
chave universal para desvendar a natureza. Nas palavras de Leibniz,
16
12
“Quicunque de aliquo argumento loqui aut scribere volt, huic ipse linguae genius non tantum
verba, sed et res suppeditabit. Ipsi cujusque rei nomen clavis erit omnium quae de ea dici,
cogitati, fieri um ratione debeant.” (LEIBNIZ in GP VII, p. 13)
17
13
Rossi (2004) comenta que Comenius se dedica à busca “[...] de um método, de uma lógica e
de uma linguagem capazes de permitir ao ser humano penetrar e dominar tudo e garantir a
posse da enciclopédia, ou seja, da sabedoria universal” (ROSSI, 2004, p. 261). Dessa forma
podemos entender ‘pansofia’ como ‘sabedoria universal’.
19
14
“Cependant quoyque cette langue depende de la vraye philosophie, elle ne depend pas de
sa perfection. C’est à dire cette langue peut estre établie, quoyque la philosophie ne soit pas
parfaite: et à mesure que la science des hommes croistra, cette langue croistra aussi. En
attendant elle sera d’un secours merveilleux et pour se servir de ce que nous sçavons, et pour
voir ce qui nous manque, et pour inventer les moyens d’y arriver, mais sur tout pour exterminer
les controverses dans les matieres qui dependent du raisonnement. Car alors raisonner et
calculer sera la méme chose.” (LEIBNIZ, ? in OC, p. 28)
21
Fonte: <http://www.rarebookroom.org/Control/leiart/index.html> e
<http://www.ime.unicamp.br/~calculo/history/leibniz/leibniz.html> Acesso em 03.01.2014.
15
“Il y a plus de 20 ans que je [me fis un projet admirable] trouva la demonstration de cette
importante connoissance, et que je m’avisa d’une methode qui nous mene infalliblement à
l’analyse generale des connoissances humaines. [j’ay esté souvent surpris que les hommes ont
negligé] comme on peut juger par un petit traité que je fis imprimer à lors, ou il y a quelques
choses qui sentent le jeune homme et l’apprentif, mais le fonds est bom, et j’y basti depuis la
dessus autant que d’autres affaires et distractions me pouvoient permettre.” (LEIBNIZ in OC, p.
175)
22
16
Frisamos que neste trabalho não nos alinharemos com a concepção de paradigma científico,
que conforme o autor significa um conjunto de crenças, técnicas e valores compartilhados por
uma comunidade que serve de modelo para a abordagem e soluções de problemas.
25
O autor sustenta este ponto de vista afirmando que, de acordo com ela,
as ideias de Galileu não devem ser estudadas em comparação com as
concepções adotadas pela ciência moderna, mas sim em relação às
partilhadas por seu grupo, seus contemporâneos e sucessores imediatos.
Para evitar anacronismos tentamos articular o aspecto epistemológico
com o contexto histórico, como recomenda Alfonso-Goldfarb (2008), pois para
ela os anacronismos cometidos ao se fazer história da ciência decorrem em
grande parte da falta de articulação entre estes aspectos.
Ainda, em relação à completa fidelidade dos acontecimentos históricos,
consideramos assim como Lima (2006), que por sermos “[...] criaturas
históricas, não podemos deixar de ser parciais. Por mais arraigada que a
quimera positivista se mantenha, ela empobrece a escrita da história. A
exatidão é, muitas vezes, sinônimo de superficialidade.” (LIMA, 2006, p. 95). É
preciso entender que uma exposição totalmente transparente e imparcial dos
fatos históricos torna-se inatingível, uma vez que a verdade historiográfica é
condicionada à ação de um agente, que interpreta os fatos e estabelece
critérios para a consumação do trabalho.
Por sua vez, Dias (2012), baseado em (1990), Ginzzburg (1989),
Ferreira (1998) e Portelli (1996), comenta que a partir da década de 1970, a
ampliação do conceito de fonte histórica adquire relevância, deixando de ser
vista “[...] ancorada na analogia da água que brota da pedra ou da terra,
inodora, insípida, incolor, transparente, cristalina, límpida para saciar a sede de
informações históricas do historiador.” (DIAS, 2012, p. 303). Assim, o poder de
prova atribuído a documentos diminui, importando mais ter em conta que
perguntas foram feitas em função dos problemas enfrentados pelo historiador e
em que se apoia para interpretar seus achados, além das respostas a que
chega.
Também consideramos, assim como Foucault (2002) na obra
Arqueologia do Saber, que se até então para escrever história tentava-se
reconstituir o passado por meio da crítica a documentos, interpretando-os,
verificando o que eles dizem e se dizem a verdade, se são autênticos ou não,
hoje as perspectivas mudaram. A tarefa primordial da história não é a
interpretação de documentos, determinando simplesmente se o que neles
consta é verdadeiro ou não, mas sim procurar definir, no seu interior, relações,
26
17
O título original completo da obra é The proficience and advancement of learning: divine e
humane (Da proficiência e do progresso do conhecimento: divino e humano). Bacon escreve
33
esta obra em inglês, pois “[...] pretendia, assim, atingir um público mais amplo, objetivando
ganhar apoio para a grandiosa empresa científica que projetava; tinha consciência de que o
trabalho científico era algo muito dispendioso e não poderia ser realizado por um único
indivíduo.” (ANDRADE, 1999, p. 09).
18
Bacon se refere indistintamente à Filosofia e à Ciência. Na obra O progresso do
conhecimento utiliza tanto o termo Filosofia Natural quanto Ciência Natural para identificar a
mesma área de conhecimento.
34
Em relação à Poesia, afirma que ela deve ser sumamente livre, a não
ser quanto à medida das palavras e é tomada em dois sentidos: no que diz
respeito às palavras, incluída, então, na arte da Retórica, ou no que diz
respeito ao conteúdo, sendo então parte da História Simulada. Divide a Poesia
em Poesia Narrativa, que é uma mera imitação da história; Representativa ou
Dramática, que é como uma História Visível; e Alusiva ou Parabólica, que é
utilizada quando se quer expressar algum propósito ou ideia particular.
Quanto à Filosofia, Bacon inicialmente a subdivide de acordo com o
modo de contemplação pelo homem, podendo este olhar se dirigir a Deus, à
Natureza ou ao próprio Homem estabelecendo respectivamente a Filosofia
Divina, a Filosofia Natural e a Filosofia Humana ou Humanidades. Adiante, se
refere a elas como Radius Refractus, Radius Directus e Radius Reflectus.
Porém, antes de discorrer sobre cada uma dessas filosofias, observa a
necessidade de estabelecer e constituir uma “[...] ciência universal, que, com o
nome de Philosophia Prima, filosofia primitiva ou suprema, seja como a via
principal ou comum que há antes que os caminhos se dividam e separem.”
(BACON, 2007, p. 136). Nela estão encerrados os princípios e axiomas
comuns que são gerais e indiferentes para as diversas ciências. Um dos
exemplos que utiliza para justificar essa noção é que a regra “Se a coisas
desiguais se acrescentam coisas iguais, as somas serão desiguais” (“Si
35
19
Para Bacon o estudo das formas essenciais ou diferenças verdadeiras “[...] são em número
de poucas e de cujas graduações e coordenações nascem toda a variedade que vemos.”
(BACON, 2007, p. 151), e faz parte da Metafísica.
37
que trata das normas para submeter, aplicar e acomodar a ele a vontade do
homem.
Quanto ao Conhecimento Civil, Bacon o divide em três partes:
Conversação, Negociação e Governo, correspondentes respectivamente à
prudência de comportamento, à prudência de negócios e à prudência de
governo. Especialmente em relação ao Governo, comenta que a parte mais
pública dele são as leis, e estas são até então feitas tanto por filósofos quanto
por jurisconsultos, mas não por estadistas. Com isso finaliza a divisão da
Filosofia e passa a fazer comentários sobre a Teologia Sagrada e Inspirada,
que “[...] na nossa língua chamamos Saber Divino [...]” (BACON, 2007, p. 310).
Entende que a Fé Cristã é a que merece ser louvada, “[...] pois neste aspecto
mantém e conserva a áurea mediania entre a lei dos pagãos e a lei de Maomé,
que abraçaram os dois extremos [...]” (BACON, 2007, p. 311). Considera, então,
que a teologia tem duas partes principais: o conteúdo informado ou revelado e
sua natureza. E delas se originam seus quatro principais ramos: Fé, Moral,
Liturgia e Governo. A Fé contém a doutrina de Deus, de seus atributos e de sua
obra, na Moral está contida a lei que revela o pecado, a Liturgia consiste nos
atos recíprocos que há entre Deus e o homem, e finalmente o Governo da
Igreja diz respeito ao patrimônio, seus privilégios, seus ofícios e jurisdições e
as leis eclesiásticas.
Termina sua obra afirmando que, “[...] deste modo compus, por assim
dizer, uma pequena esfera do mundo intelectual, com tanta veracidade e
fidelidade como me é possível.” (BACON, 2007, p. 325).
A Figura 3 a seguir ilustra a classificação das ciências proposta por
Bacon, esquematizado por nós durante a pesquisa.
39
Figura 3 - Esquema da classificação do conhecimento proposta por Bacon na obra O progresso do conhecimento
20
No século XVII, duas correntes filosóficas são predominantes: o racionalismo, cujo precursor
é René Descartes, e o empirismo com Francis Bacon. Tanto o racionalismo quanto o empirismo
se opõem às ideias que estavam em vigor até então. Eles têm diferentes formas de explicar o
caminho para atingir o conhecimento. Nas palavras de Brito: “Segundo o empirismo, nosso
conhecimento é erigido por um grande número de experiências sensíveis e da indução. Já para
o racionalismo, o conhecimento é conseguido exclusivamente por via racional e dedutiva.”
(BRITO, 1995, p. 74). Em outras palavras, enquanto que para Descartes só é possível chegar
ao conhecimento de todas as coisas mediante o método edificado exclusivamente na razão,
para Bacon, o verdadeiro caminho para atingir o conhecimento é recolher “[...] os axiomas dos
dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em
último lugar, os princípios de máxima generalidade.” (BACON, 1999, p. 36). Kant, por outro
lado, cria um novo pensamento filosófico a partir do que há de melhor tanto no empirismo
quanto no racionalismo.
41
Quantitates Moratur et Singulare pro Illis Calculi Genus que traz uma exposição
sistemática e organizada de ideias e resultados sobre o Cálculo Infinitesimal,
obtidos por Leibniz desde 1673. O texto é considerado atualmente como o
marco do nascimento do Cálculo Infinitesimal.
21
“[...] conseille-t-il d’adjoindre à La Société un observatoire, dês bibliothèques, dês musées
d’histoire naturelle et d’arts et métiers, dês cabinets de médailles et d’antiquités, un jardin
zoologique et botanique, breuf, un veritable Theatrum Naturae et Artis” (LC, p. 517)
47
em latim fluentemente.
A leitura das obras destes filósofos certamente formam as bases de sua
erudição nos clássicos e na filosofia escolástica. Os livros contém a mesma
tradição aristotélica da educação que ele recebe tanto na escola quanto na
universidade. É este provavelmente, um dos motivos pelo qual o jovem
precocemente se interessa por lógica.
Na opinião de Parkinson (2002), sua educação formal é bastante
tradicional. Leibniz é iniciado nesta educação aos sete anos de idade, quando
entra na Escola Nicolai (Nikolaischule), em Leipzig. A escola, fundada em 11 de
março de 1395 por católicos com permissão do papa Bonifácio IX, traz no
programa curricular literatura alemã, história, latim, grego, teologia e lógica. A
aritmética é ensinada somente no nível elementar e não há geometria no
currículo. A lógica estudada é a aristotélica. O principal livro utilizado nesta
disciplina é o Compedium Logicae Peripateticae (Compêndio de Lógica
Peripatética), além de um manual de Melanchthon.
Philipp Melanchthon (1497-1560), colaborador de Martinho Lutero –
primeiro teólogo sistemático da Reforma Protestante – auxilia na organização e
reforma das escolas da Alemanha. Chega a instalar em sua casa uma escola
experimental onde faz experiências pedagógicas por cerca de dez anos.
“Melanchton está entre os educadores do século XVI que adotavam o ‘novo
estilo’, ou seja, que omitiam a memória das partes da retórica.” (YATES, 2007,
p. 291). Os manuais acadêmicos e escolares escritos por ele são utilizados até
o século XVIII, em diversos lugares da Europa, inclusive em instituições ligadas
a Roma.
49
Fonte:
<http://books.google.com.br/books?id=qu5OAAAAcAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false> Acesso em 12.10.2013.
22
“Nor were the intellectual horizons of the University of Leipzig, which Leibniz entered in 1661,
much wider; here again, the emphasis was on traditional Aristotelian doctrine.” (PARKINSON,
2002, p. x)
50
23
"[…] Weigel wanted the whole of philosophy to be given the rigour of a mathematical
discipline; in this, he is a precursor of Leibniz's ideas about a Universal Characteristic."
(Parkinson, 2002, p. xi)
51
referida por Leibniz como Analysis Euclidea (Análise Euclideana). Além disso,
para Weigel, o número é o conceito fundamental na descrição do universo, e
por isso pode ser considerado um neopitagórico. Em seus ensinamentos em
matemática, destaca a importância da aritmética, tanto no plano teórico quanto
no prático. Segundo Parkinson (2002), Leibniz posiciona-se de acordo com
este pensamento no De Arte Combinatoria, em 1666. De alguma forma, todas
estas ideias o influenciam em seus trabalhos posteriores.
Juntamente com o aprendizado por meio das leituras das obras da
biblioteca de seu pai, de seus estudos na escola e na universidade e do
aprendizado com Weigel, Leibniz deve muito de sua educação também a dois
professores da Universidade de Leipzig: Johann Adam Scherzer (1628-1683) e,
com maior intensidade, Jakob Thomasius (1622-1684).
Johann Adam Scherzer, teólogo luterano, é professor de filosofia, de
hebraico e de teologia. Jakob Thomasius, é professor de retórica, dialética e
filosofia moral na Universidade de Leipzig, onde também tinha sido estudante.
Antes de sua morte em 1684, faz publicações em todas as áreas relevantes da
filosofia e orienta trabalhos acadêmicos numa série de assuntos. É considerado
um importante conciliador, filósofo reconhecido e eminente historiador de
filosofia. Em seus ensinamentos, entremea argumentos do aristotelismo com o
platonismo e com outras escolas filosóficas. Thomasius é mentor e conselheiro
de Leibniz desde a época em que este frequentava a Universidade de Leipzig.
Além de aliar-se aos estudiosos da época, Leibniz dedica-se à teologia,
ao direito, à filosofia e à matemática com o intuito de participar das disputas24
na universidade, que constituem requisito obrigatório para ascender de um
estágio a outro.
Leibniz finaliza sua formação jurídica no ano de 1666, obtendo o título de
bacharel em leis. Apresenta o trabalho De Arte Combinatoria, obtendo assim a
posição de professor de filosofia de Leipzig. Conta, então, com a idade de vinte
anos e está preparado para se candidatar à obtenção do grau de doutor em
Direito. Por outro lado, poderia ensinar filosofia, porém prefere concorrer a uma
das doze tutorias em Direito, na universidade em que se forma. As tutorias são
24
Disputas são debates abertos entre alunos previamente escolhidos e sob a supervisão de um
professor. Um dos alunos defende uma tese e o outro contrapõe-se a ela. Ao final de uma
disputa, a defesa da tese é publicada. Este tipo de exercício é difundido pelo método
escolástico de ensino.
52
25
Quando nos referimos às atividades profissionais, utilizamos a nomenclatura atual, visto que
as funções que Leibniz exerce em cada uma equivalem ao que se faz hoje nas mesmas
atividades.
26
Eleitorado de Mainz (ou, Mogúncia) refere-se a um arcebispado que faz parte do Sacro
Império Romano-Germânico. Os eleitores, ou príncipes eleitores, são escolhidos dentre os
mais importantes donos de terras do império. Dentro dos seus territórios eles são governadores
praticamente independentes. Cada príncipe tem um ministério especial com algumas
obrigações. O eleitor do Arcebispo de Mainz, na época, é o arquichanceler do império do Reino
Germânico e ocupa uma das sete cadeiras do Conselho dos Eleitores.
53
27
“Although he is ‘anything but a Cartesian,’ he does ‘maintain the rule that is common to all
these innovators of philosophy, nothing ought to be explained in bodies except through
magnitude, figure, and motion’” (LODGE, 2004, p. 31)
28
“The one question is whether Aristotle´s abstract theories of matter, form and change should
be explained by magnitude, figure and motion.” (LODGE, 2004, p. 32)
55
Porém, nessa época Leibniz está dedicado a projetos para as minas das
montanhas Harz. Essas jazidas são importante fonte de renda de Hanôver e,
por terem sido exploradas durante séculos, desde o século XI, seus poços se
aprofundam cada vez, o que dificulta a drenagem da água. Friedrich consente
que Leibniz trabalhe em projetos para a melhoria e expansão dessas minas.
obra Protogaea que “Temos a região mais elevada da baixa Alemanha e a mais
fecunda em metais.” (LEIBNIZ in PAPAVERO et all, 1997, p. 19).
Leibniz se dispõe a tentar drenar a água das minas com bombas de
vácuo auxiliadas por cataventos. De 1680 a 1686 dispende de boa parte de seu
tempo nas montanhas. Estes empreendimentos, em sua maioria malogrados,
causam perturbações nas rotinas dos trabalhadores além de despesas extras.
No entanto, a busca por soluções para a mineração de Harz em Hanôver
permite a Leibniz visitar diversas minas em vários lugares, momentos em que
aproveita para estudar fósseis e formações geológicas. Destas expedições
resulta a obra Protogaea. Na opinião de Papavero (1997), a “[...] experiência
levou-o a formular uma nova hipótese sobre a formação da Terra e a origem
dos fósseis, sendo por isso considerado um dos fundadores da Geologia
moderna ao lado de Steno.” (PAPAVERO et all, 1997, p. 06).
No intuito de fazer com que Leibniz se afaste das minas e se dedique à
tarefa para a qual fora contratado, qual seja, a pesquisa sobre a Casa de Welf,
Ernst August lhe garante remuneração permanente. Esta oferta foi prontamente
aceita, Leibniz, contudo, deixa Harz somente em dezembro de 1686, quando,
então, passa a cumprir a sua parte do acordo.
Depois de ter esgotado o material disponível em Hanôver, obtém
permissão para fazer uma viagem pela Bavária, Áustria e Itália em busca de
mais informações sobre as dinastias. Em outubro de 1687, inicia esta viagem
cujo objetivo oficial é levantar informações sobre a Casa de Welf. Novamente,
aproveita a jornada para outros fins além do proposto. Mesmo assim ao
retornar a Hanôver, em meados de 1690, têm considerável material para
compor a história dos Welf.
Ernest August morre em 1698, sendo sucedido por Georg Ludwig (1660-
1727), seu primogênito, mais tarde rei George I da Grã-Bretanha e Irlanda.
Leibniz, como já apontado, durante muitos anos se ocupa de questões políticas,
dentre elas, a questão da sucessão inglesa. Porém não é possível determinar
até que ponto tenha exercido influência na promulgação da Lei de Sucessão de
1701, que faz de Georg Ludwig o sucessor do trono inglês. Leibniz se torna
amigo da esposa de Ernest August, a princesa eleitora de Hanôver, Sophie von
Hannover (1630-1714), uma admiradora da vida inteira. Sua filha, Sophie
Chalotte (1668-1705), eleitora de Brandenburg torna-se também amiga de
61
Leibniz escreve muito, mas em vida tem poucas obras publicadas. Ele é
um autor extremamente produtivo e deixa uma impressionante quantidade de
escritos. A maior parte consiste em cartas, pequenos ensaios, esboços e
anotações particular. Atualmente, a maior parte de seus manuscritos está
disponível para consulta na rede mundial de computadores.
Seus três primeiros trabalhos, como já declarado anteriormente, são
destinados a finalização de cursos acadêmicos. O primeiro é Disputatio
metaphysica de Principio Individui, de 1663, quando se qualifica como
conferencista em filosofia; depois, em 1666, apresenta o trabalho intitulado
Dissertatio de Arte Combinatoria, quando obtém o título de bacharel em leis e
finalmente em 1667, o De Casibus Perplexis in Jure, para obter o título de
63
doutor em direito.
Das três obras, é possível que a de maior peso seja o De arte
combinatoria, apesar de Leibniz o considerar, sob vários aspectos, imaturo, o
trabalho de um “[...] homem jovem recém-saído da escola [...]”29 (PARKINSON,
2002, p. xii), conforme suas palavras. Na obra, entretanto, estão contidas
algumas das ideias básicas de sua lógica e a ideia do alfabeto do pensamento
humano, cuja importância plena ele disse ter compreendido somente depois.
Também está contido o ideal de união entre as nações representado por meio
da proposta de uma Linguagem universal. Ribnikov (1987) comenta que
Dissertatio de Arte Combinatoria é um trabalho cuja importância transcende a
época em que é escrito porque apresenta a primeira construção sistemática da
combinatória enquanto disciplina científica, a qual mais tarde, por volta do ano
de 1700, é melhorada por Leibniz com o desenvolvimento do sistema de
índice30.
De certa forma, as questões tratadas nessa obra estão em consonância
com alguns questionamentos feitos em sua tenra juventude. Parkinson (2002)
comenta que quando Leibniz tinha treze ou quatorze anos, já escrevia
observações interessantes sobre lógica e questionava seus tutores a respeito
do que se denominam categorias, dentro da lógica.
29
“[…] young man just out of school […]” (PARKINSON, 2002, p. xii)
30
Esta disciplina é aperfeiçoada, depois de Leibniz, por Bernoulli na obra Arte de La suposición
em 1713, onde a Combinatória é utilizada para resolver problemas teórico-probabilísticos. No
século XX, a Análise Combinatória é mais profundamente estudada adquirindo amplas
possibilidades de aplicação.
31
“Leibniz’s problem was this: there are, he said, categories for simple terms, i.e. for concepts,
by which concepts may be arranged systematically to form propositions – why, then, are there
not categories for complex terms (i.e. for propositions) by which truths may be arranged
systematically to form deductive arguments?” (PARKINSON, 2002 p. x).
64
uma vez que organizar as verdades da maneira como está propondo já é feito
em geometria. Dá conta de que em geometria as proposições já são arranjadas
de acordo com a dependência uma da outra. Leibniz deseja utilizar esse
método em outras áreas do conhecimento. Buscando a solução para o seu
questionamento, deduz que tal sistematização é possível se, primeiramente, for
estabelecido um estudo das categorias dos termos simples. Estes termos
simples devem constituir o que denomina, posteriormente, como alfabeto do
pensamento humano.
No mesmo período em que mantém correspondência com Thomasius,
de 1663 até 1672, o jovem filósofo trabalha em temas nas áreas de lógica
(Tratado sobre a arte das combinações de 1666), jurisprudência (Um exemplo
de questões filosóficas concernentes à lei de 1664), teologia (Confissão da
natureza contra os ateístas de 1668), metafísica (a carta para Thomasius
datada de abril de 1669, mas publicada apenas em 1671), física (Teoria do
Movimento Universal de 1671), e metodologia filosófica (o prefácio do texto de
Marius Nizolius (1498-1576) também de 1671).
Leibniz estuda latim detidamente, adquirindo um sofisticado estilo de
escrita. Admira Nizolius, quem defende a pureza e eloquência de estilo além de
promover o gosto pela literatura correta e elegante. Mario Nizzoli ou
simplesmente Nizoli, eminente estudioso italiano, é conhecido na época, pelo
livro Ciceronianus Thesaurus (O Tesouro ciceroniano), um dicionário das
palavras que ocorrem em Cícero.
Em 1670 Leibniz prepara a edição da obra Antibarbarus Philosophicus
(O filósofo anti bárbaro) de Nizolius. Esta obra havia sido publicada
anteriormente sob o título de De veris principiis et veras ratione Philophandi
(Dos verdadeiros princípios e do verdadeiro método de filosofar) e nela Nizolius
critica os escolásticos pelas corrupções que introduzem na língua latina.
Leibniz fica tão impressionado com sua solidez e elegância que elabora notas
críticas, as quais fazem parte de uma nova edição desta obra, em que expõe a
obstinação daqueles que são ligados a Aristóteles. Esse fato mostra o interesse
de Leibniz pela questão da melhoria da linguagem, sendo favorável ao tema de
estudo de Nizolius, considerando que “[...] um estilo puro em latim é uma rota
mais segura para o conhecimento e a sabedoria do que o barbarismo lógico e
linguístico da filosofia universitária." (ROSS, 1984, p. 13).
65
quando este abdica do trono. Para defender seu ponto de vista, emprega um
método incomum, valendo-se de argumentos dedutivos.
Outro assunto a que se dedica é a questão do bem e do mal, um assunto
que iria desenvolver até o fim de seus dias. Em 1673, quando vai de Londres
para Paris, redige um longo diálogo que nomeia Confessio Philosophi
(Confissão de Filósofos), discutindo o problema do mal. Em seguida, escreve o
ensaio De vera methodo philosophiae et theologiae ac de natura corporis
(Sobre o verdadeiro método da filosofia e teologia e da natureza do corpo) no
qual ratifica suas inquietações em relação à questões metodológicas. Assegura
que o importante é saber sobre o bem da alma e a verdade na teologia, temas
que nem a física nem a matemática falam diretamente.
Em 1671, produz escritos sobre as leis do movimento e suas
fundamentações metafísicas e os apresenta à comunidade de estudiosos no
intuito de ser aceito em alguma sociedade científica. Um dos textos, intitulado
Hyphotesis physica nova (Novas hipóteses da física), de subtítulo Theoria
motus concreti (Teoria do movimento concreto), é apresentado à Royal Society,
e o outro, Theoria motus Abstract (Teoria do movimento abstrato), à Académie
des Sciences. É aceito como membro da primeira em abril de 1673, e sete
anos depois, em março de 1700, é convidado a tomar parte na segunda
sociedade.
Em 1678 e 1679, além dos trabalhos técnicos envolvendo as minas,
estuda diversos temas. Compõe uma série de notas originais sob o título
Calculus Universalis (Cálculo Universal), nas quais tenta formular um cálculo
lógico. Mantém também correspondência com Nicolas Malebranche (1638-
1715) sobre metafísica. Elabora um projeto para sua enciclopédia inspirado na
obra Ecyclopedia de Johann Heinrich Alsted (1588-1638). Também faz grande
avanço em seu trabalho sobre dinâmica, opondo-se ao princípio de
conservação de movimento de Descartes.
Em 1686, fica preso por algum tempo nas montanhas Harz devido a uma
tempestade de neve e aproveita o tempo livre para compor uma de suas
principais obras, o Discours de Métaphysique (Discurso da Metafísica). Nela
apresenta sua primeira tentativa de resumir as ideias principais de sua filosofia.
Chega a enviar uma sinopse para Antoine Arnauld, dando início a uma profícua
troca de correspondências filosóficas. As críticas de Arnauld forçam Leibniz a
67
32
Texto traduzido por Cleonice Narciso e Magda Lourenço a partir das Oeuvres de Blaise
Pascal editadas em 1908 por Brunschvieg e Boutrox, Paris: Les Grands Ecrivans de la France,
vol 1, pp. 303-314. Revisão de Olga Pombo. Disponível em
<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/pascal_traducao.htm>. Acesso
em 29.09.2013.
69
Fonte:
<https://archive.org/stream/sourcebookinmath00smit#page/172/mode/2up/search/leibniz>.
Acesso em 27.09.2013.
Fonte: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm>.
Acesso em 27.09.2013.
Explica que a máquina é composta por três filas de rodas cada uma com
dez dentes e ligadas por correias. Apresenta desenhos e, por meio de
exemplos, demonstra o funcionamento para multiplicação e divisão .
33
Leibniz registra a ideia somente em 1685, alguns anos depois da máquina ter sido inventada.
34
Texto traduzido por Cleonice Narciso e Magda Lourenço realizada a partir da versão inlesa
do texto latino feita pelo Dr. Mark Holmes, David Eugene Smith (ed.), A Source Book in
Mathematics, New York: Dover, 1959, pp. 173-181. Revisão de Olga Pombo. Disponível em
<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm>. Acesso
em 29.09.2013.
71
Fonte: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/a%20mao/leibniz_traducao.htm>
Acesso em 27.09.2013.
36
No caso o termo regularidade é usado no sentido de semelhança.
77
37
No presente texto, quando utilizamos o termo ‘clássico’, ou ‘classicismo’, com o intuito de
indicar um período de tempo, estamos nos referindo ao período classificado por Foucault como
‘período clássico’, que se inicia por volta dos meados do século XVII e vai até o século XVIII.
78
38
Para Foucaul, epistémê é o campo onde os conhecimentos são “[...] encarados fora de
qualquer critério referente a seu valor racional ou a suas formas objetivas, enraízam sua
positividade e manifestam assim uma história que não é de sua perfeição crescente, mas,
antes, a de suas condições de possibilidade [...]” (FOUCAULT, 2010, p. xviii e xix)
79
39
Foucault define “[...] duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental: aquela
que inaugura a idade clássica e aquela que, no início do século XIX, marca o limiar da nossa
modernidade.” (FOUCAULT, 2001. p. xix)
40
Máthêsis neste caso pode ser entendida como a ciência universal da medida e da ordem.
Foucault enuncia que “Quando se trata de ordenar as naturezas simples, recorre-se a uma
máthêsis cujo método universal é a Álgebra” (FOUCAULT, 2010, p. 99).
41
“Na sua perfeição, o sistema de signos é essa língua simples, absolutamente transparente,
que é capaz de nomear o elementar; é também esse conjunto de operações que define todas
as conjunções possíveis.” (FOUCAULT, 2002, p. 86)
80
relata que "Os utopianos aprendem as ciências em sua própria língua, rica e
harmoniosa, intérprete fiel do pensamento [...]” (MORUS, 2001, p. 119)
Assim como More, Bacon escreve uma obra utópica: a Nova Atlântida.
Nessa obra, segundo Brito (2011), Bacon “[...] coloca como o fulcro da
felicidade, não a organização econômica política e social, mas a existência de
uma instituição denominada Casa de Salomão ou Colégio da Obra dos Seis
Dias. Nesse colégio, sábios investigam a natureza por meio da empiria e
desenvolvem conhecimentos e produtos que levam o bem estar a todos de
Nova Atlântida.” (BRITO, 2011, p. 53). Nesta obra Bacon não se detém em
questões relativas à linguagem. Apenas menciona, sem revelar maiores
detalhes, que o povo deste lugar domina várias línguas, e que falam entre si
em espanhol. Enuncia que no primeiro contato que os estrangeiros têm com os
habitantes da ilha, estes lhes entregam um pergaminho e, “Nesse rolo estavam
escritas, em hebraico e grego antigos, em bom latim escolástico e em espanhol
[...]” (BACON, 1999, p. 224). É curioso que Bacon neste texto, que é de 1624,
mesmo criando uma sociedade quimérica, não tenha idealizado uma linguagem
a ser utilizada pelos habitantes da ilha, como More fez em Utopia, já que, antes
disso, em 1605, havia descrito em O Progresso do Conhecimento, as
vantagens de se utilizar os caracteres reais, que levam a uma língua ideal.
Eco (2001) salienta que no século XVII, tempo de muitos conflitos, tanto
por questões nacionalistas quanto por questões religiosas – época da
sangrenta Guerra dos Trinta Anos – e talvez em contraposição a eles, surja,
entre os pensadores, um espírito de concórdia e paz universal.
Neste contexto, é publicado, em 1614, o manifesto Fama Fraternitatis
R.C. (Conformação da Fraternidade R.C.), como segunda parte de um escrito
alemão anônimo intitulado Allgemeine und general Reformation, der gantzen
weiten Welt (Reforma geral e universal de todo o Mundo). O manifesto
conclama a existência de uma sociedade capaz de levar os homens a
conhecer tudo o que Deus possa permitir. De acordo com o documento,
42
“[…] there might be a Society in Europe, which might have Gold, Silver, and precious Stones,
sufficient for to bestow them on Kings, for their necessary uses, and lawful purposes: with which
such as be Governors might be brought up, for to learn all that which God hath suffered Man to
know, and thereby to be enabled in all times of need to give their counsel unto those that seek it,
like the Heathen Oracles: Verily we must confess that the world in those days was already big
with those great Commotions, laboring to be delivered of them; and did bring forth painful,
worthy men, who brake with all force through Darkness and Barbarism, and left us who
succeeded to follow them: and assuredly they have been the uppermost point in Trygono igneo,
whose flame now should be more and more brighter, and shall undoubtedly give to the World
the last Light.” (YATES, 1972, p.301)
43
“The same should be done in Germany today where there is no dearth of learned men,
‘magicians, Cabalist, physicians, and philosophers’ who ought to collaborate with one another.
The traveler learned the ‘Magia and Cabala’ of the east, and knew how to use it to enhance his
own faith and to enter into ‘the harmony of the whole world, wonderfully impressed on all
periods of time’” (YATES, 1972, p. 60)
85
do manifesto.
É interessante notar que os dois manifestos insistem na necessidade de
que não se revelassem a identidade de seus integrantes. No entanto, eles
afirmam que, de alguma forma, saberão a opinião de todos em qualquer língua
que escrevam e que todos que enviarem seu nome poderão manter contato
com eles, pessoalmente ou por escrito, embora esteja descrito no manifesto
Fama Fraternitatis o caráter da invisibilidade da sociedade, segundo a qual, “[...]
nosso edifício (mesmo que cem mil pessoas o contemplem bem de perto)
permanecerá para sempre intocável, indestrutível, e invisível para o mundo
ímpio.”44(YATES, 1972, p. 312).
De toda parte da Europa chegam apelos aos rosacrucianos. Os
historiadores cujos escritos consultamos não explicitam de que maneira tais
apelos chegam ao conhecimento dos rosacruzes.
Em 1616 é publicado um terceiro manifesto, desta vez em alemão, na
cidade de Estrasburgo, sob o título de Chymische Hochzeit Christiani
Rosencreutz (Núpcias alquímicas de Christian Rosencreutz). É o mais longo
dos três manifestos e contém a narrativa da ida de Christian Rosencreutz a um
casamento realizado em um castelo. O texto é dividido em sete partes
correspondendo aos sete dias da jornada de Christian Rosencreutz, talvez uma
alusão à criação do mundo em sete dias como está descrita no livro Genesis.
Em poucas palavras, trata-se de uma alegoria alquímica, abordando o tema do
casamento e da morte. Utiliza-se a imagem do casamento, união entre sponsus
e sponsa, fazendo analogia à fusão dos elementos (casamento alquímico); e
da morte, o nigredo, em analogia ao processo de transmutação pelo qual
passam os elementos (morte alquímica).
O casamento alquímico está representado na Figura 13 a seguir, nos
emblemas da escola de Michael Maier (1568-1622), médico, filósofo e
alquimista alemão. O Rei e a Rainha com vestes reais representam a
finalização de uma transformação alquímica, denominada conjunção, obtida
por meio das forças arquetípicas adversárias do Sol (Rei) e da Lua (Rainha).
Ou ainda, a união dos princípios do enxofre (Rei) com o mercúrio (Rainha).
44
“Also our building (althoug one hundred thousand people had very near seen and beheld the
same) shall for ever remain untouched, undestroyed, and hidden to the wicked world.” (YATES,
1972, p 312).
86
45
“The Sixty Day was occupied by hard work with furnaces and other alchemical apparatus.
The alchemists succeeded in creating life, in the form of the alchemical Bird. Processes in
connection with the creation and tending of this Bird are described in a humorous and sprightly
manner” (YATES, 1972, p. 90)
46
Círculo de Tubinga, ou Tübingen em alemão, era um dos muitos grupos de filósofos e
pessoas cultas, que tinham sonhos reformistas e buscavam uma sociedade ideal, do qual
Andreae fazia parte. Tübingen é uma cidade localizada no atual estado de Baden-Württemberg,
cuja capital é Sttuttgart, e se localiza no sudoeste da Alemanha.
87
47
Enoch é o filho de Caim, personagens do Antigo Testamento da Bíblia cristã.
48
“These characters and letters, as God hath here and there incorporated them in the Holy
Scriptures, the Bible, so hath he imprinted them in all beasts. So that like as the mathematician
and astronomer can long before see and know the eclipses which are to come, so we may verily
foreknow and foresee the darkness of obscurations of the Church, and how long they shall last.
From the which characters or letters we have borrowed our magic writing, and have found out,
and made, a new language for ourselves, in the which withal is expressed and declared the
nature of all things. So that it is no wonder that we are not so eloquent in other languages, the
wich we know that they are altogether disagreeing to the language of our forefathers, Adam and
Enoch, and were through the Babylonical confusion wholly hidden.” (YATES, 1972, p. 318 e 319)
88
49
“Medieval science was defined and shaped by university culture and its official language, Latin.
Science was the body of knowledge created in the universities by professors, passed down to
students through lecture, commentary, and disputation, and embodied in a textual tradition
whose language was Latin, the lingua franca of the learned elite. A language spoken only in the
classroom and completely controlled by writing, Latin symbolized the barriers that divided
learned from popular culture in the Middle Ages.” (EAMON, 1994, p. 93)
89
50
“[…] at the so-called information ‘explosion’ - a metaphor uncomfortably reminiscent of
gunpowder - which followed the invention of printing. Information spread ‘in unprecedented
amounts and at unprecedented speed’.” (BURKE, 2000, p. 03)
51
“It is customary to view printing with moveable type as the solution to a problem, as a way of
adjusting the supply of texts to meet the increasing demand for them in the late Middle Ages, a
time when the numbers of literate laymen and women were increasing.” (BURKE, 2000, p. 01)
91
52
“With the advent of professional translators, the growth of printing houses specializing in
vernacular literate, ant the explosion of vernacular publication, the old distinction, Latin/lettered
versus vernacular/unlettered, began to break down.” (EAMON, 1994, p. 95)
53
“The humanist astronomer Johann Regiomontanus noted in 1464 or thereabouts that
careless printers would multiply errors, and another humanist, Niccolò Perotti, put forward a
project for scholarly censorship in 1470. Even more serious was the problem of information
92
retrieval and, linked to this, the selection and criticism of books and authors.”(BURKE, 2000, p.
03)
93
54
No século XVI, o rei Henrique VIII da Inglaterra patrocina uma reforma religiosa que provoca
mudanças nas áreas econômica e social. Ele cria uma igreja nacional e torna-se, além de
chefe político, chefe religioso da Inglaterra. Com este poder, confisca dois terços do solo inglês
que até então estavam em poder de Roma, tornando-se inimigo do Papa. Depois disso, sob o
reinado de sua filha Elizabeth I, a Inglaterra torna-se a maior potência protestante da época e
adquire extraordinária força política.
94
55
Bacon caracteriza três tipos de falsos saberes. O saber fantástico decorrente das
imaginações fúteis; o saber contencioso causado pelas disputas fúteis e o saber delicado
advindo de afetações na forma de dizer as coisas. De acordo com Bacon, os escolásticos
desenvolveram o saber contencioso e o saber delicado. O saber delicado é aquele no qual as
palavras se tornam mais importantes do que o assunto estudado. Nas palavras de Bacon
(2007), os escolásticos “[...] se davam a liberdade de cunhar e compor termos novos para
expressar seu sentido próprio e evitar o rodeio, sem consideração à pureza, à elegância e, por
assim dizer, à legitimidade da frase ou palavra.” (BACON, 2007, p. 46). Por sua vez, o saber
contencioso refere-se à inflexibilidade de posições assumidas, que forçosamente alimentam
oposições acirradas e levam a contestações fúteis. Segundo Bacon, os escolásticos,
“Destroem a solidez das ciências com minúcias dialéticas.” (“Quaestionum minutiis scientiarum
frangunt soliditatem.”) (BACON, 2007, p. 51).
96
Por outro lado, Bacon entende que uma língua filosófica é necessária
para eliminar os obscurecimentos da mente, os Idola 56 , que impedem o
conhecimento verdadeiro. No livro Novum Organum Scientiarum: sive indicia
de interpretatione naturae57, (Novo Método (ou Nova Linguagem) da Ciência:
ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza) publicado em
1620, Francis Bacon descreve quatro gêneros de ídolos: Ídolo da Tribo, da
Caverna, do Foro e do Teatro58.
Na concepção de Bacon, os enganos que se impõem por meio das
palavras, ou são nomes de coisas que não existem ou nomes de coisas que
existem, mas cuja noção é confusa, e são mal definidas, são os Ídolos do Foro.
Ele entende que para nos aproximarmos das coisas é preciso, primeiramente
rejeitar os nomes que não correspondem a coisas reais e, em segundo lugar,
aprender a construir palavras que correspondam efetivamente às coisas.
Segundo Bacon, “[...] a fortuna, o primeiro móvel, as órbitas planetárias,
o elemento fogo e ficções semelhantes, que têm origem em teorias vazias e
falsas.” (BACON, 1999, p. 47) são exemplos de palavras para coisas que não
56
Um dos alicerces da filosofia baconiana é a destruição dos Idola (os Ídolos), ou seja, das
falsas ideias que derivam da própria natureza humana, ou dos dogmas filosóficos difundidos
pela tradição.
57
‘Organum’ é uma palavra latina traduzida geralmente por ‘organismo’ ou ‘instrumento’.
‘Instrumento’ no sentido de ‘instrumento do pensamento racional’ e, portanto, ‘método’. De
acordo com o Novissimo diccionario latino-portuguez de L. Quicherat, Prudentius – considerado
o maior poeta cristão da Antiguidade – usa ‘organum’ no sentido de ‘língua’ ou ‘linguagem’.
Venantius Fortunatus – outro grande poeta cristão – usa palavra no sentido de ‘língua ou voz
humana’. Assim Novum Organum Scientiarum tanto pode ser traduzido por Novo Método da
Ciência, quanto Nova Linguagem ou Nova Língua da Ciência.
58
No original Idola Tribus, Idola Specus, Idola Fori e Idola Theatri. Os Ídolos da Tribo se
fundamentam na natureza humana. Nesta doutrina “[...] as percepções tanto dos sentidos
quanto da mente guardam analogia com a natureza humana e não com o universo” (BACON,
1999, p. 40). Por este motivo os sentidos do homem não devem ser a medida das coisas. Os
Ídolos da Caverna, nomenclatura inspirada no Mito da Caverna descrito na República de Platão,
correspondem aos enganos cometidos pelos homens enquanto indivíduos. Segundo Bacon
(1999) “[...] cada um – além das aberrações próprias da natureza humana em geral – tem uma
caverna ou cova que intercepta e corrompe a luz da natureza” (BACON, 1999, p. 40). Ídolos do
Foro são os provenientes das relações e da ação mútua das pessoas entre si e dizem respeito
ao modo como usamos a língua. Para Bacon os homens são arrastados a inúmeras
controvérsias e fantasias devido a definições e explicações defeituosas causadas pelo mau uso
de palavras. Para ele “[...] as palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam
espantosamente o intelecto” (BACON, 1999, p. 41). Os Ídolos do Teatro são os enganos que
entram no espírito do homem por meio das diversas doutrinas filosóficas e pelas regras
defeituosas das demonstrações. Ele afirma, então, que “[...] não pensamos apenas nos
sistemas filosóficos, na sua universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas
das ciências que entram em vigor, mercê da tradição, da credulidade e da negligência.”
(BACON, 1999, p. 41). Para Bacon, os ídolos só são dissipados pela prudência do espírito e
negação da pressa.
97
existem. Para livrar-se delas, é suficiente rejeitar a teoria que criou estas
palavras. Por sua vez, a palavra úmido é um caso de noção confusa, pois
significa coisas diferentes, dentre outras possibilidades pode significar: “[...]
tudo que se expande facilmente em torno de um outro corpo, tudo que é em si
mesmo indeterminável e não pode ter consistência, tudo o que cede facilmente
em todos os sentidos [...]” (BACON, 1999, p. 47). Neste caso, o problema é
mais complexo porque tem conexão com a abstração das coisas, que, quando
feita de modo superficial e inexperiente, ocasiona noções confusas. Bacon
reflete que as noções devem ser abstraídas corretamente das coisas e
corresponder a elas, pois quando a noção é construída de forma vaga e
imprecisa, o nome dado à coisa ressente da falta de uma definição. Para ele,
não se trata de dar uma definição no sentido de apontar o campo de aplicação
da palavra, restringindo seu sentido. Não lhe parece útil usar definições
precisas como as dos matemáticos, uma vez que quando se trata de coisas
naturais e materiais as definições são feitas por palavras e palavras geram
outras palavras. De acordo com Rossi (2004), Bacon defende que é necessário
criar as noções das coisas, e para tanto “[...] elaborar, com base em um ‘estudo
dos casos particulares, assim como da sua série e ordem’, uma noção que
reconduza a diversidade dos comportamentos à unidade e sirva de critério para
explicar tal diversidade.” (ROSSI, 2004, p. 289). Na opinião de Bacon, a criação
de uma nova linguagem é uma alternativa para evitar estes equívocos.
Outra motivação elencada pelos historiadores, talvez de menor
importância, que justifica a intenção da construção de sistemas universais que
superem a diversidade das línguas naturais é o aumento, na época, do
intercâmbio político, econômico, científico e religioso entre os países.
Além disso, nos séculos XV e XVI, quando os europeus, principalmente
portugueses e espanhóis, lançam-se em grandes navegações, são
descobertas rotas marítimas que os levam a ter contato culturas
completamente diferente das que até então conhecem. Pombo (1997) lembra
que os relatos dessas viagens colocam o homem europeu em contato não só
com novas culturas, mas também com novas línguas naturais, fato que origina
um movimento de curiosidade e criatividade linguísticas.
Assim, os europeus percebem que o mundo é bem maior do que
imaginam e que existem plantas, animais, técnicas e práticas desconhecidas
98
para eles, que não se encaixam na classificação até então estudada. Podemos
verificar que entre meados do século XVI e meados do século XVII, a área de
estudos que atualmente denominamos como ciências da natureza sofre
acentuado impacto em decorrência das novas descobertas nos campos da
botânica, zoologia, mineralogia, geologia e biologia, especialmente em relação
à quantidade de dados. Para que se tenha uma ideia, o tratado Herbarum
verae icones (Ervas corretamente simbolizadas), de 1530, escrito por Otto
Braunfels (1488-1534) tem registradas duzentas e cinquenta e oito espécies de
plantas. Em 1623, menos de cem anos depois, o naturalista suíço Gaspar
Bahuin (1560-1624) registrou em torno de seis mil espécies no tratado Pinax
theatri botanici (Lugar botânico das árvores). E em 1686, menos de sessenta
anos depois, saía o primeiro volume de uma obra monumental, a Historia
plantarum (História das plantas) de um dos fundadores da botânica enquanto
ciência, John Ray (1627-1705) contendo a descrição de dezoito mil espécies
de plantas.
Com tantas novas espécies, se torna difícil, se não impossível,
memorizar o nome de tantas plantas bem como suas características. Conclui-
se então que é necessário criar um novo método de classificação pois o
disponível àquele tempo se torna ineficaz.
Joseph Pitton de Tournefort (1656-1708), professor de botânica,
comenta que os antigos davam nomes às plantas de acordo com as virtudes e
as possibilidades de uso de cada planta, auxiliando a medicina, mas ofuscando
a botânica. A este respeito afirma que a fim de que a botânica se tornasse
ciência seria preciso “[...] que se inicie o estudo das plantas mediante o estudo
de seus nomes.” (TOURNEFORT apud ROSSI 2001, p. 344). Para ele, as
características de uma planta deveriam “[...] ser entrelaçadas tão estritamente
com o seu nome a ponto de resultar inseparáveis do mesmo.” (ROSSI, 2001, p.
344). Assim, aprendendo o nome das coisas, estaríamos sendo instruídos a
respeito de sua natureza. Então “[...] se as ligações, as contraposições e as
relações entre os termos da linguagem reproduzem as ligações, as
contraposições e as relações entre as coisas, nomear equivale a conhecer.”
(ROSSI, 2001, p. 344). Antes de dar nome às coisas da natureza, é necessário
então proceder à tabulação de tais coisas, ou seja, classificar as coisas das
ciências naturais. Mas, para fazer essa tabulação, é preciso primeiro fazer um
99
59
Lineu o nomeou por ‘Poa bulbose’. Tournefort o nomeou por ‘Gramen Xerampelinum,
miliacea, praetenui, ramosaque sparsa canícula, sive Xerampelinum congener, arvense,
aestivum, gravem minutíssimo semine’.
100
60
“A mood of great enthusiasm was generated and thoughts turned to far-reaching vistas of
some universal reformation, in education, in religion, in advancement of learning for the good of
mankind. […] In this thrilling hour when it seemed that England might be the land chosen by
Jehovah to be the scene of the restoration of all things, when the possibility dawned that here
imaginary commonwealths might become real commonwealths, invisible colleges, real colleges,
Hartlib wrote to Comenius and urged him to come to England to assist in the great work.”
(YATES, 1972, p. 228,229)
101
61
[...] may well have understood better than we do the meaning of the mystery of the R.C.
Brothers and their Invisible College.” (YATES, 1972, p. 228)
102
62
“The best on't is, that the conerstones of the Invisible or (as they term themselves) the
Philosophical College, do now and then honour me with their company...men of so capacious
and searching spirits, that school-philosophy is but the lowest region of their knowledge (...);
persons that endeavour to put narrow-mindedness out of countenance, by the practice of so
extensive a charity that it reaches unto everything called man, and nothing less than an
universal good-will can content it.” (BOYLE apud YATES, 1972, p. 235)
63
“[…] encourages the thought that, though the framers of the manifestos did not intend the
story of Christian Rosencreutz to be taken as literally true, it might yet have been true in some
other sense, might have been a divine comedy, or some allegorical presentation of a complex
religious and philosophical movement having a direct bearing upon the times.” (YATES, 1972, p.
68)
103
Na verdade, Yates (1972) conclui por fim que o termo se refere a “Nada
menos do que o velho ludibrium, a velha brincadeira sobre a invisibilidade
sempre associada aos Irmãos Rosa Cruzes e seu colégio.”64 (YATES, 1972, p.
235).
Segundo Stump (1996), quando o número de pessoas ligadas a um
Colégio Invisível, torna-se demasiado grande, ou os membros se dispersam, ou
se transformam em instituições mais estruturadas e visíveis, como as
academias e as sociedades científicas. Existem especulações de que o Colégio
Invisível, ou, um dos Colégios Invisíveis, mais tarde, tenha se tornado a
organização precursora da Royal Sociedade.
É possível que Comenius defenda a criação de algum tipo de
organização semelhante ao Colégio Invisível, pois no manuscrito Via Lucis ele
afirma que “Deveria existir um colégio, ou uma sociedade secreta, devotada ao
bem comum da humanidade, governado por leis e regras.”65 (COMENIUS apud
YATES, 1972, p. 231).
Da mesma forma que Bacon, Comenius é um forte defensor da
necessidade de se criar uma Linguagem universal para as ciências, tema
central de seus projetos. Rossi (2004) comenta que, para Comênio, assim
como para os seguidores de Lullio, a criação de uma Linguagem universal ou
língua filosófica perfeita teria dois objetivos:
64
“It is the old ludibrium, the old joke about invisibility always associated with the R.C. Brothers
and their college.”(YATES, 1972, p. 235)
65
“There should be a College, or a sacred society , devoted to the common welfare of mankind ,
and held together by some laws and rules” (COMENIO apud YATES, 1972, p. 231)
104
66
“The world near the beginning of this book, is like a comedy which the wisdom of God plays
with men in every land. The play is still on; we have not yet reached the end of the story and
greater advances in man’s knowledge are at hand. God promises us the very highest stage of
light at the very end. […] When all instances and rules have been collected, we may hope that
‘an Art of Arts, a Science of Sciences, a Wisdom of Wisdom, a Light of Light’ shall at length be
possessed. The inventions of pervious ages, navigation and printing, have opened a way for the
spread of light. We may expect that we stand on the threshold of yet greater advances.”
(COMENIUS apud YATES, 1972, p. 230)
67
“So will the light of the Gospel, as well as the light of learning, be spread throughout the
world.” (YATES. 1972, p. 231)
105
68
“Enfin l’esprit humain prenait conscience de son unite, et de l’unité de la science; tour ce
grand movement d’idées, cette renovation des sciences, et la réforme de la Logique qui en était
à la fois la condition et le résultat, devaient naturellement suggérer la création d’une langue
philosophique et scientifique plus logique que les langues vulgaires, qui serait commune à tous
les savants, et par suíte internationale.”(LC, p. 56).
108
69
“Ceux qui ecriront en cette langue ne se tromperont pás pourveu qu’ils evitent les <erreurs de
calcul et> barbarismes, solicismes et autres fautes de grammaire et de construction; De plus
109
cette langue aura une proprieté merveilleuse, qui est de fermer la bouche aux ignorans. Car on
ne pourra pás parler ny ecrire en cette langue que de ce qu’on entend: on si on osa le faire, il
arrivera de deux choses: une ouque la varité de ce qu’on avance soit manifeste <à tout le
monde>, on qu’on apprenne em écrivant on en parlant.” (LEIBNIZ in OC, p. 156)
70
Estenografia (ou taquigrafia): arte e método de escrever tão rápido como uma pessoa fala,
por meio de sinais e abreviaturas. Criptografia (ou esteganografia): “[...] língua secreta para
codificar mensagens.” (ECO, 2001, p. 241, 242).
71
‘ars inveniendi’ é uma expressão latina que significa ‘arte de descobrir’, ou, ‘método de
inventar’, ou ainda ‘ciência da descoberta’. Na expressão temos ‘ars’ que é um substantivo
significando ‘arte, método, artifício, ciência, tudo que é de indústria humana’; e ‘inveniendi’ que
é um verbo significando ‘achar, encontrar, descobrir, inventar’.
110
qualquer leitor, qualquer especialista em linguagem inteligível, tal como até hoje
muitos homens eruditos tentaram.”72 (LEIBNIZ, 1666, p. 89).
Vale salientar que a escrita universal apresentada não é inspirado na
Álgebra ou na Aritmética, uma vez que, naquela época, Leibniz era um
principiante no campo da matemática, mas a exemplificação da teoria sobre
este tema é elaborada no campo da matemática.
Figura 14 - Capa e primeira página da obra Dissertatio de Arte Combinatoria.
73
Fonte: <http://www.rarebookroom.org/Control/leiart/index.html.> Acesso em 18.10.2013.
72
“[...] scripta universalis, id est cuicunque legenti, cujus cunquae lingua perito intelligibilis,
qualem hodie complures viri eruditi tentarunt [...]”. (LEIBINZ, 1666, p. 89)
73
Em relação ao diagrama constante desta figura Yates (2010) interpreta que “[...] o quadrado
dos quatro elementos está associado ao quadrado lógico de oposição, [e isto] mostra que
Leibniz compreendia o llullismo como lógica natural.” (YATES, 2010, p. 472)
111
uma língua que é inteligível para todos que a lerem [...]”74(LEIBNIZ, 1666, p.
43), e logo depois, apresenta um exemplo dessa escrita na disciplina de
matemática. Acrescenta, no decorrer do texto, comentários a respeito de outros
projetos sobre este assunto, ora criticando-os, ora aprovando-os.
Para construir a teoria da Lógica Inventiva, começa estipulando diversas
definições até chegar ao conceito do que denomina complexiones. Afirma que
à “Variabilidade de uma associação chamamos ‘complexiones’, por exemplo,
quatro coisas podem ser juntadas de quinze maneiras diversas” 75 (LEIBNIZ,
1666, p. 04).
Podemos deduzir que o significado que Leibniz dá ao termo
complexiones é o mesmo significado que atribuímos atualmente a todas as
combinações simples, considerando os subconjuntos com todas as
quantidades possíveis de elementos. Se tomarmos o conjunto formado pelos
elementos: A, B, C e D, temos as seguintes combinações: Combinações de
quatro elementos tomados um a um (A, B, C, D); combinações de quatro
elementos tomados dois a dois (AB, AC, AD, BC, BD, CD); combinações de
quatro elementos tomados três a três (ABC, ABD, BCD, ACD) e finalmente
combinações de quatro elementos tomados quatro a quatro (ABCD), que são
quinze combinações, ou seja, ‘as quinze maneiras diversas que quatro coisas
podem ser juntadas’, conforme as palavras de Leibniz.
Em seguida apregoa que, para certa complexion ser determinada, o
maior conjunto deve ser dividido em partes iguais assumidas como a menor.
Afirma ainda que cada parte terá um número determinado de elementos que
será representado por um expoente. Ou seja, ele define complexion como cada
uma das combinações com certo expoente, sendo o expoente a quantidade de
elementos do subconjunto, como fazemos hoje na Análise combinatória. Por
exemplo, uma complexion com expoente três será a ‘combinação de quatro
elementos tomados três a três’. Ou seja, por complexiones ele entende todas
as complexion.
Exemplifica da seguinte forma:
74
“[...] id est cuicunque legenti, cujuscun’que línguae perito intelligibilis [...]” (LEIBNIZ, 1666, p.
43)
75
“Variabilitatem complexionis dicimus complexiones, v. g. Res IV modus diversis 15 invicem
conjungi possunt.” (LEIBNIZ, 1666, p. 04).
113
Afirma então que é hora de passar a outra parte da Lógica inventiva, que
diz respeito às proposições. Para Leibniz uma função de sua arte de inventar é
a de encontrar os possíveis sujeitos de uma proposição, sabendo qual é o
predicado, e os possíveis predicados de uma proposição, conhecido o sujeito.
Em suas palavras:
76
“Si totum A B C D. Si tota minora constare debent ex 2, partibus, v.g, AB.AC.AD.BC.CD
exponens erit 2. Si ex tribus, v.g, ABC.ABD.ACD.BCD exponens erit 3. Dato Exponente
Complexiones ita scribemus: si exponens est 2. Com2nationem (combinationem) si 3.
Con3nationem (conternationem) si 4. Con4nationem, etc.” (LEIBNIZ, 1666, p. 04).
77
Os números entre parênteses indicam a posição do subconjunto na classe.
114
78
“Propontio componitur ex subjecto & praedicato, omnes igitur propositiones sunt
com2nationes. Logicae igitur inventivae propositionum est hoc problema solvere: 1. Dato
subjetcto praedicata, 2. Dato praedicato subjecta invenire utrag tum affirmative, Tum negative.”
(LEIBNIZ, 1666, p. 31)
115
descrevê-lo.
Enunciamos a seguir uma parte deste ensaio, retirada de sua obra
Dissertatio de Arte Combinatoria:
79
“Ergo classis I, in qua termini primi: 1. Punctum. 2. Spatium. 3. intersitum. 4. adsitum seu
contiguum, 5. dissitum, seu distans. 6. Terminus, seu quae distant. [...] 9. Pars. 10. Totum. 11.
Idé. [...] 14. Numerus [...]. Classis II. I Quantitus est 14.9, 2. Includens est 6.10. [...] III. I.
Intervallum est 2.3.10, 2. Aequale 11. . [...] IV [...] 3. Linea . I(2) [...] ” (LEIBNIZ, 1666, p. 42 e
43)
80
“Scalenum est cujus est (3) non (3)” (LEIBNIZ, 1666, p. 43)
81
Triângulo escaleno é quinto elemento da quarta classe (figura), cujo segundo elemento da
segunda classe (contorno) consiste de (3) terceiro elemento da oitava classe (segmento de reta)
não (3) segundo elemento da terceira classe (igual).
82
“[...] seu Logica inventiva disseruimus, cujus quasi praedicamenta ejus modi Terminorum
tabula absolverentur, fluit velut Porisma: seu usus XI. Scriptura Universalis, id est cuicunque
legenti, cujuscun’que línguae perito intelligibilis [...]” (LEIBNZ, 1666, p. 43)
116
83
“Verum constitutis Tabulis vel praedicamentis artis nostrae complicatoriae, majora emergent.
Nam Termini primi ex quorum complexu omnes alii constituuntur, signentur notis, hae notae
erunt quase alphabetum. Commodum autem erit notas quam máxime sieri naturaes, v. v. preo
uno punctum, pro numeris puncta; pro relationibus Entis ad Ens lineas [...] Ea si recte constituta
fuerint & inbgeniose, scriptura haec universalis aeque erit facilis quam comanis, & quae posit
fine omni lexico legi, simulque imbibetur ominum rerum fundamentalis cognitio.” (LEIBNIZ, 1666,
p. 44)
117
Ao imaginar que pode haver povos que não saibam ler algarismos
arábicos, Becher oferece outra maneira de representar os números mediante
pontos e traços colocados em torno de uma estrutura.
84
Pasigrafia “[...] é definida pela enciclopédia Larousse do século XIX como ‘[...] a arte de
escrever ou imprimir no único idioma que se sabe de modo a poder ser lido e entendido, sem
necessidade de tradução, em qualquer outro idioma que se ignora desde que o leitor saiba a
sua língua e conheça a arte de escrever’.” (POMBO, 1997, p. 80)
123
85
“J’avois consideré cette matiere avant le livre de Mr. Wilkins, quand j’estois un jeune homme
de 19 ans, dans mon petit livre de Arte Combinatoria, et mon opinion est que les Caracteres
veritablement reels et philosophiques doivent repondre à l’Analyse des pensées. Il est vray que
ces Caracteres pressupposeroient la veritable philosophie, et ce n’est que presentement que
j’oserois entreprendre de les fabriquer. Les objection de M. Dalgarno et de M. Wilkins contre la
methode veritablement philosophique, ne sont que pour excuser l’imperfection de leurs essais,
et marquent seulement les difficultés qui les en ont rebutés” (LEIBNIZ in GP III, p. 216).
126
estar são representados por pequenos círculos, os pronomes por pontos etc.
Por exemplo,
86
“[…] treat the science of mind by means of geometrical demonstrations […]” (LODGE, 2004, p.
64).
133
87
“On comprend, des lors, pourquoi il élève son projet bien audessus des divers essais de
Langue universelle, et pourquoi il tient à les em distinguer radicalement. Il y a, selon lui, autant
de différence entre Langue universelle de Wilkins, par exemple, et as propre Caractéristique,
qu’entre les signes de l’Algèbre et ceux de la Chimie, entre les chiffres arithmétiques et les
symboles dês astrologues, ou entre les notations de Viète et celles d’Hérigone. Or l’avantage
capital qu’il attribue à sa Caractéristique sur tous les autres systèmes de caracteres réels, c’est
qu’elle permettra d’effectuer les raisonnements et les démonstrations par un calcul analogue
aux calculs arithmétique et algébrique. Em somme, c’est la notation algébrique qui incarne pour
ainsi dire l’idéal de la Caractéristique, et qui devra lui servir de modele” (LC, p. 83 e 84)
134
88
“This, however, I dare to say, that nothing can easily be conceived which is more effective for
the perfection of the human mind; and once this theory of philosophizing has been accepted,
the time will come, and come soon, when we shall have no less certainty about God and the
mind than about figures and numbers, and when the invention of machines will be no more
difficult than the construction of geometrical problems.”
89
“On voit que Leibniz emprunte désormais aux Mathématiques son ideal Logique et mêmê
esthétique.” (LC, p. 63)
135
então expresso por 2.3, ou seja, seis. Assim, 2x3 = 6, isto é, animal x racional =
homem.
Em outras palavras, para que uma proposição seja verdadeira, é
necessário que a relação sujeito/predicado, como fração (S/P) resulte em um
número inteiro. Ou seja, o número atribuído ao sujeito deve ser exatamente
divisível pelo número atribuído ao predicado. Por exemplo, a proposição “Todos
os homens são animais” pode ser reduzida à fração 6/2, onde, 6 é o número do
sujeito (homem) e 2 é o número do predicado (animais). O resultado da divisão
é o número inteiro 3. Daí conclui-se que a proposição é verdadeira. Se
quisermos saber se o ouro é metal devemos verificar se o número atribuído ao
ouro é divisível pelo número atribuído ao metal.
Em 1678, no fragmento Lingua Generalis, Leibniz propõe um projeto da
língua universal, possivelmene inspirado no projeto de Dalgarno, que, segundo
Couturat (1901), exerce influência sobre o pensamento de Leibniz até a
maturidade.
Neste projeto Leibniz apresenta um sistema de tradução de números por
letras, que consiste em atribuir números às ideias de maneira que o registro
escrito possa ser falado. Primeiramente todo o conhecimento humano é
decomposto em ideias simples e então a cada ideia é atribuído um número.
Leibniz então estabelece uma correspondência entre as nove primeiras
consoantes (b, c, d, f, g, h, l, m, n) e os algarismos de 1 a 9 respectivamente.
Às vogais (a, e, i, o, u) faz corresponder às potências de 10, ou seja, (1, 10,
100, 1000, 10000) respectivamente. Considera ainda que esta série pode ser
prolongada usando ditongos. Com este sistema, o número 81374 se escreve e
pronuncia Mubodilefa, pois m = 8 e u = 10000, então Mu = 80000; b = 1 e o =
1000, então bo = 1000... e assim por diante. A vantagem dessa notação sobre
a que Dalgarno executa em Ars Signorum é que cada sílaba indica (pela vogal)
sua ordem decimal, de modo que seu valor independe da posição da sílaba.
Ou seja, o mesmo número poderá ser expresso pela palavra Bodifalemu, pois
será 1000+300+4+70+80000=81374.
Para Leibniz, o fato de poder inverter as sílabas das palavras é uma
vantagem que pode tornar a língua artificial mais agradável e harmoniosa. Ele
sugere que assim seria possível criar uma língua musical.
Leibniz é levado a mostrar a utilidade de sua Característica. Ele
136
91
“In signis spectanda est commoditas ad inveniendum, quae máxima est quoties rei naturam
intimam paucis exprimunt et velut pingunt, ita enim mirisice imminuitur cogitandi labor” (Leibniz
in LC, p. 86)
92
“Cette characteristique consiste dans une certaine écriture ou langue (car qui a l’une peut
avoir l’autre) qui rapporte parfaitement les relationes des nos pensées. Ce charactere seroit tour
autre que tout ce qu’on a projetté jusqu’icy. Car on a oublié le principal qui est que les
characteres de cette écriture doivent servir à l’invention et au jugement comme dans l’Álgebre
et dans l”Arithmetique” (LEIBNIZ in GP VII, p. 22-23)
93
“[...] s’apreçoit que le problème est moins simple et moins facile qu’il ne le croyait d’abord;
etm au lieu de créer a priori et de toutes pièces une langue purement conventionnelle, il adopte
une méthode a posteriori, moins arbitraire et moins téméraire. Il prenda pour point de départ les
langues vivantes, et il em extraira par l’analyse logique, d’une part, les idées simples à exprimer
et à combiner, et d’autre part, une grammaire rationnelle, em simplifiant em régularisant et em
fondant ensemble les grammaires des différentes langues.” (LC, p. 63 e 64)
138
94
Lógica de Port Royal é a designação popular para a obra La Logique ou l’Art de penser, de
Antoine Arnauld e Pierre Nicole, publicada em 1662. Esses dois eruditos dirigiram um
movimento no convento de Port Royal desprezando as autoridades eclesiásticas e apoiando o
movimento denominado Jansenismo (doutrina religiosa criada pelo bispo Cornelius Jansenius).
139
substitui a comparação simultânea das partes (ou das grandezas) para uma
ordem cujos graus se devem percorrer uns após outros.” Leibniz, na mesma
direção deste raciocínio, entende que é plausível que exista uma estrutura
lógica comum, implícita às formas sintáticas das várias línguas.
Em agosto de 1677 no texto Dialogus de connexione inter res et verba
(Conversa filosófica conectando a coisa e a palavra), Leibniz escreve que “Se
os caracteres podem aplicar-se ao raciocínio, deve haver neles uma
construção complexa de conexões, uma ordem que convenha com as coisas,
se não nas palavras individuais (o que seria melhor), pelo menos na sua
conexão e flexão. (LEIBNIZ apud POMBO,1997, p. 251). Ele retoma esta ideia
nos Novos Ensaios. Afirma que “[...] as línguas constituem o melhor espelho do
espírito humano, e (que) uma análise exata da significação das palavras
ajudaria, melhor que qualquer outra coisa, a conhecer as operações do
entendimento.”(LEIBNIZ, NE, p. 263)
Então, é possível que Leibniz tenha cogitado que, quando estivesse
concluída a criação da Característica universal, ou seja, os termos primitivos
estivessem estabelecidos juntamente com uma simbologia, seria necessário
estabelecer uma forma para os termos se relacionarem, e isso seria feito por
meio de regras lógicas contidas em uma gramática.
Neste momento, Leibniz se depara com um problema: para instituir esta
gramática é preciso ter uma linguagem, à qual é destinado seu emprego, e por
outro lado, para a instituição do vocabulário, supõe-se que haja uma gramática
preliminarmente estabelecida. A solução encontrada por Leibniz é de buscar
uma língua natural para auxiliá-lo na confecção de tal gramática. Ou seja,
Leibniz procura uma língua auxiliar que desempenhe temporariamente o papel
da língua universal. Após alguma hesitação, decide utilizar o latim e, tomando o
que há de melhor na gramática das diversas línguas, como recomendado por
Bacon, tentar criar uma gramática bastante simplificada, que denomina
gramática racional ou gramática filosófica.
Neste ponto, vale retomar alguns conceitos em relação à língua latina.
Nela, as funções sintáticas são ditas casos, ou declinações, que são
identificadas pela terminação da palavra e regidas por preposições próprias a
cada caso. São os seguintes casos: Nominativo (função de sujeito), Vocativo
(função de chamamento), Acusativo ou Oblíquo (objeto direto), Genitivo (indica
140
95
En définitive, tout le discours peut se réduire au seul nom substantif Ens u Res, au seul verbe
substantive est, à dês noms adjectifs (exprimant des qualités) et aux particules, qui servent à
relier tous les mots précédents et à indiquer leurs relations (LC, p. 70)
142
96
Os períodos entre aspas simples foram retirados do texto Analysis Linguarum de Leibniz.
144
97
“’rational grammar’, which will transform relational arguments into forms which traditional logic
can handle” (PARKINSON, 2002, p. xix, xx)
98
“Aristoteles enim, cum Organon et Metaphysica scriberet, notionum imtima magno ingenio
rimatus est. Joachimus Jungium Lubecensis vir est paucis notus etiam in ipsa Germania, sed
tanto fuit judicio et capacitate animi tam late patente, ut nesciam an a quoquam mortalium, ipso
etiam Cartesio non excepto, potuerit rectius expectari resturatio magna scientiarum, si vir ille
aut cognitus aut adjutus fuisset.” (LEIBNIZ in GP VII, p. 186)
145
99
“For example, it is impossible to give a syllogistic proof of a valid argument such as ‘Because
a horse is an animal, the head of a horse is the head of an animal’.” (PARKINSON, 2002, p. xix)
146
100
“A valid inference can be made from the positing of one relation to the positing of the other:
Christ is the son of David. Therefore David is his father.” (DIETERICUS apud ASHWORTH,
1967, p. 76).
101
“[...] If Abraham is the father of Isaac, then Abraham is not the son of Isaac.”
(ASHWORTH,1967, p. 77). No caso Dietericus considera a relação ‘filho de’ como o contrário
da relação ‘pai de’. (ASHWORTH, 1967, p. 77).
147
102
“[...] firmly in a context of logical argumentation, rather than being isolated among the
categories or the topics; and this point alone would be sufficient to establish Jungius’s
superiority over his predecessors and near-contemporaries” (ASHWORTH, 1967, p. 78).
103
“[…] the aequipollentia per inversionem relationis, the consequentia a compositis ad divisa et
a divisis ad composita, the consequentiae simplices a rectis ad obliqua procedents, and the so-
called oblique syllogism.” (ASHWORT,1967, p. 77)
104
“’Plato est philosophus eloquens, ergo Plato est philosophus, item ergo Plato est eloquens’;
Paulus est doctior Pedro, Ergo Paulus est doctus.” (JUNGIUS, 1638, p. 122)
105
Predicado monádico: predicado que se aplica a um indivíduo. Ex: Maria é bonita. (bonita se
refere apenas à Maria) Predicado diádico: predicado que envolve dois indivíduos. Ex: Maria
admira Clara. O termo ’admira’ está relacionando Maria e Clara.
106
“Omnis Planeta per Zodiacum movetur, Ominiz Planeta est Stella, Ergo omnis Planeta est
Stella, quae per Zodiacum movetur.” (JUNGIUS,1638, p. 122)
148
Jungius se reporta.
A equivalência lógica per inversionem relationis é caracterizada pelo fato
de que o sujeito de uma afirmação é parte do consequente de outra; e as
partes principais de ambas as afirmações são correlacionadas. Exemplifica
com a frase: “Davi é o pai de Salomão, também Salomão é o filho de Davi.”107
(JUNGIUS, 1638, p. 89). Na primeira afirmação, as partes principais dos
predicados são ‘pai de’ e ‘filho de’ e Salomão e Davi são alternadamente sujeito
e predicado. As partes correlacionadas são a relação (pai de) e seu contrário
(filho de); e o sujeito e predicado são os termos da relação. Jungius faz um
relato completo da equivalência lógica entre uma relação e seu contrário.
Mas, o que ninguém tinha estudado até então, a mais importante
inferência relacional discutida por Jungius é a inferência a rectis ad obliqua (do
reto ao oblíquo), que, diferentemente das outras inferências, é válida apenas
na lógica de predicados poliádicos108. Jungius afirma que, nesta inferência, o
sujeito e o predicado do antecedente são obliquamente (estão em algum caso
que não o nominativo) unidos ao consequente por alguma noção de relação.
Cita então como exemplo a relação de ‘describere’ (desenhar, traçar), na frase
‘Circulus est figura; ergo qui circulum describit, is figuram describit (Todo círculo
é uma figura, portanto, quem desenha um círculo, desenha uma figura.). No
antecedente: ‘Circulus est figura’, circulus e figura estão no caso nominativo.
No consequente: ‘qui circulum describit, is figuram descrit’, circulum e figuram
estão no caso acusativo ou oblíquo.
Leibniz cita como Jungius classifica as inferências do argumento a recto
ad obliqum109:
Affirmative inverse: Omne reptile est animal; ergo qui creavit omne animal, is omne reptile
creavit. 3º Négative: Quidam opulentus non est felix; ergo quaedam opulentia non est felicitas.”
(LEIBNIZ apud LC, p. 75)
111
Exemplos retirados do texto Grammaticae Cogitationes, manuscrito de Leibniz em OC p.
287.
150
Ele entende que a análise das partículas e flexões por meio de perífrase
revela as relações primitivas. Por exemplo, a frase Paris est amator Helenae
(Paris é amante de Helena), que contém o genitivo Helenae (genitivo de
Helena), não pode ser transformada com a mesma configuração da frase Ensis
Evandri. Leibniz verifica então que se tratam de duas proposições dentro de
uma só.
Nestas situações, para evitar as funções sintáticas, Leibniz decompõe a
proposição em duas ligadas pela conjunção ‘enquanto’ (quatenus ou et eo ipso).
Então a sentença Paris est amator Helenae (Paris é amante de Helena) passa
a ser: Paris amat et eo ipso Helena amatur (Paris ama enquanto Helena é
amada), onde Helena está no nominativo. Daí, substituindo os verbos como
visto anteriormente, a frase se transforma em Paris est amator, et eo ipso
Helena est amata (Paris é amante enquanto Helena é amada). Seguindo com a
mesma análise, a frase Ensis quem habet Evander (A espada que Evandro
possui) se transforma em Ensis est <ensis> Evandri (A espada é <espada> de
Evandro), e depois, em Ensis est supellex quatenus Evander est dominus (A
espada é um instrumento enquanto Evandro é o proprietário.)112
Ou seja, para explicar e suprimir os diversos casos, Leibniz decompõe a
proposição em outras duas associadas pela conjunção quatenus ou et eo ipso
(como/enquanto).
Segundo Kneale (1972), Leibniz comenta a inversão de relações de
112
Op. Cit. p. 287.
151
Jungius (por exemplo: ‘Tito é maior que Caio’ para ‘Caio é menor que Tito’) e
demonstra que sabe da necessidade de uma expansão da lógica pela teoria
das relações. Segundo Kneale, para Leibniz ‘Tito é maior que Caio’ significa o
mesmo que ‘Tito é tão grande quanto Caio é pequeno’, isto é: “[...] os factos
relacionais podem ser resolvidos em conjunções de factos atributivos. Esta
doutrina é certamente falsa [...] mas Leibniz prestou um serviço à filosofia ao
tentar expô-la de uma forma tão clara” (KNEALE, p. 329).
Ainda conforme Kneale (1972), certamente Leibniz pretende que a forma
lógica das proposições se torne mais simples e mais regular do que nas
línguas naturais, pois
113
“Et comme j’ay eu le bonheur de perfectionner considerablement l’art d’inventer ou Analyse
des Mathematiciens, j’ay commence à avoir certaines vues toutes nouvelles, pour reduire tous
les raisonnemens humains à une espece de calcul” (LC, p. 84)
152
116
“Quoi qu’il em soit, Il importait, pour faire ressortir l’unité de l’ouvre philosophique et
scientifique de Leibniz, de montrer que son invention mathématique La plus célèbre et La plus
féconde, celle qui a revele son génie et consacré as gloire aus yeux dês savants, se rattachait
dans as pensée à sés recherches de Logique, et n’était pour lui qu’une application on une
branche particulière de as Caractéristique universelle” (LC, p. 87)
117
“Fieri potest, ut non nisi unicum sit quod per se concipitur, nimirum Deus ipse, et praeterea
nihilum seu privatio, quod admirabili similitudine declaratur.”(LEIBNIZ in LC p. 430)
154
‘1’ seriam os símbolos das únicas ideias simples, já que são os únicos
algarismos usados na Aritmética binária e deles se originam todos os outros
números. A respeito de seu sistema Leibniz comenta que:
118
“Imensos hujus expressionis usus nunc non attingo: illud suffecerit annotare quàm mirabili
ratione hoc modo omnes numeri per Unitatem et Nihilum exprimantur. Quanquam autem spes
nulla sit homines in hac vita ad hanc seriem rerum arcanam pervenire posse, qua patent
quanam ratione cuncta ex Ente puro et nihilo prodeant, sufficit tamen analysin idearum eousque
produci, quousque demonstrationes veritatum requirunt.” (LEIBNIZ in OC, p. 431)
119
“[...] tout cela se trouve & se prouve de fource.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 225)
155
120
“J’ai employé depuis plusieurs années la progression la plus fimple de toutes, qui va de deux
en deux; ayant trouvé qu’elle sert à la perfection de la science des Nombres. Ainsi je n’y
156
employe point d’autres caracteres que 0 & 1, & puis allant à deux, je recommence.” (LEIBNIZ in
GM VII, 1863, p. 223, 224)
121
“Itaque 10 est 2, e 100 est 4, et 1000 est 8, e 10000 est 16, et ita porro. [...] e generaliter
Numerus progressionis Geometricae a binário incipientis exprimitur dyadide per unitatem tot
e e
nullitatibus praefixam, quot sunt unitates in progressionis Geometricae exponente seu 2 = 10 ,
Tabulaque ita stabit.” (LEIBNIZ in GM, VII, p. 228)
157
122
“Quoties unitas transferenda seu addenda est sedi sequenti ex praecedente, memoriae ergo
in sequenti sede notetur punctum, verb. gr. si 11 et 1 (seu 3 et 1) in unum addi debeant, utique
in sede ultima 1 et 1 est 10, scribatur 0, notetur 1 per punctum in sede sequenti. Rursus in sede
penúltima 1 et 1 (nempe quia punctum ibi significat 1) fiet 10, scribatur 0 et notetur 1 in sede
antepenúltima. Jam in sede antepenúltima non est nisi punctum seu unitas translata, quod
significat 1 et fiet 100” (LEIBNIZ in GM VII, p. 228,229)
158
Depois disto, Leibniz demostra como fazer cada uma das quatro
operações.
A seguir, exibe uma série de números do ‘zero’ ao ‘63’, embora afirme
que é do 1 ao 64, comentando que completa com ‘zeros’ à esquerda até o
maior dos números, provavelmente para que possam ser deduzidas
propriedades da construção da tabela, que corresponde à escrita dos números.
Em suas palavras: “Série dos números naturais de 1 a 64123. Os zeros que não
são precedidos por um 1 podem ser omitidos, mas acrescentamos até o maior
123
Apesar de Leibniz afirmar que é uma tabela do 1 ao 64, o que aparece é a numeração de
zero a 63.
159
124
“Series Numerorum naturalium ab 1 ad 64. Possunt omitti 0, quas non praecedit 1,
adjecimus tamen ut progressus periodorum magis appareret.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 232)
160
125
“[...] Nombres Quarres, Cubiques, & d'áutres puissances; item les Nombres Triangulaires,
Pyramidaux & autres Nombres figurés, ont aussi de semblables périodes: de forte qu’on on
peut écrire les Tables tour de suite, sans calculer. Et une prolixité dans le commencement, qui
162
donne enfuite le moyen d’épargner le calcul, & d´aller à l’infiniti par régle, est infiniment
avantageuse.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 224)
126
“On voit ici d’un coup d’oeil la raison d’une propriété célébre de la progression Géometrique
double en Nombres entiers, qui porte que si on n’a qu’un de ces nombres de chaque degré, on
en peut composer tous les autres nombres entiers au – dessous du double du plus haut
degré.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 224)
163
qualquer número dado retorna a outros de base dois. Como nos exemplos,
sete corresponde a quatro (22) mais dois (21) mais um (20); treze corresponde a
oito (23) mais quatro (22) mais um (20).
Afirma que sua maneira de contagem por dois também possibilita a
realização de todas as operações aritméticas. Dá exemplos das operações de
adição, subtração, multiplicação e divisão. No trabalho De Dyadicis, Leibniz
descreve os métodos de realização das operações, enquanto que no
Explication apresenta os exemplos de uso.
127
“[...] jê ne recommande point menière de compter, pour la faire introduire à la place de la
pratique ordinaire par dix. Car outre qu’on est accoutumé à celle-ci, on n’y a point besoin d’y
apprendre ce qu’on a déjà appris par Coeur: aini la pratique par dix est plus abregée, et les
nombres y sont moins longs. Et si on étoit accoutumé à aller par douze ou par seize, il y auroit
encore plus d’avantage. Mais le calcul par deux, c’est-à-dire par 0 e par 1, em recompense de
as longueur, est le plus fondamental pour la science, et donne de nouvelles découvertes, qui se
trouvent utiles ensuite, même pour la pratique des nombres, et surtout pour la Géométrie, dont
la raison est que les nombres étant reduits aux plus simples príncipes, comme 0 eet 1, il paroit
partout um ordre merveilleux.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 225)
165
128
São os seguintes trigramas:
129
Na época, Leibniz considera os hexagramas como o sistema simbólico mais antigo, porém,
posteriormente foram encontrados os ideogramas sumérios que são mais antigos que estes, de
cerca de 3.500 a. C.
130
“Il n’y a gueres plus de deux ans que j’envoyai au R. P. Bouvet Jésuite, François célébre, qui
demeure à Pekin, ma maniere de compter par 0 & 1; & il n’em fallut pás davantage pour lui faire
reconnoître que c’est la cles dês Figures de Fohy. Ainsi m’écrivant le 14 Novembre 1701, il m’a
envoyé la grande Figure de ce Prince Philosophe qui va à 64, & ne laisse plus lieu de douter de
la vérité de notre interprétation; de sorte qu’on peut dire que e Pere a déchiffré l’Enigme de
Fohy à l’aide de ce que je lui avois communiqué. Et comme ces Figures sont peut-être le plus
ancien monument de science qui soit au monde, cette restitution de leur sens, aprés un si
grand intervalle de tems, paroîtra d’autant plus curieuse.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 226, 227)
166
131
“Il y a plusieurs Figures Lineaires qu’on lui attribue. Elles reviennent toutes à cette
Arithmétique; mais il suffit de mettre ici la Figure de huit Cova comme on l’appelle, qui passe
pour fondamentale, & d’y joindre l’explication qui est manifeste, pourvû qu’on remarque
premierement qu’une ligne entiere signifie l’unité ou 1, & fecondement qu’une ligne brisée
signifie le zero ou 0.” (LEIBNIZ in GM VII, p. 22)
167
132
"Et j’avois raisonné làdessus dans les commencemens de mes etudes, m’estant hazardé de
publicr um pétit traité de l’Arts des combinaisons[ ...]. Or puisque toutes [les] conaissances
humaines se peuvent exprimer par les lettres de l’Alphabet, et qu’on peut dire que celuy qui
entend parfaitement l’usage de l’alpahbet, sçait tout; il s’em suit, qu’on pourra calculer le
nombre des verités dont les hommes son capables < et qu’on peut determiner > la grandeur
d’um ouvrage qui contiendroit toutes les connaissances < humaines > possibles; et ou il y auroit
tout ce qui pourroit jamais estre sçû, ecrit, ou invente; et bien au dela. Car il contiendroit non
seulement les verités, mais encor les faussetés que les homes peuvent enoncer; et meme des
169
pretendre aux avantages où cette Methode pourroit mener.” (LEIBNIZ in LC, p. 118)
171
conhecimento se desenvolve;
Criar atividades didáticas envolvendo a história da Matemática,
utilizando as informações sobre Aritmética Binária que constam do
presente texto e que podem auxiliar os professores a trabalhar este
conteúdo tanto na Licenciatura quanto em cursos de Informática;
Estudar mais detalhadamente a Gramática Racional;
Explorar os estudos de Leibniz que culminam com a criação do Cálculo
infinitesimal, uma das consequências da tentativa de criar uma
característica universal;
Aprofundar as questões relativas às classificações das coisas da
natureza e a necessidade de criar uma língua que por meio do símbolo
desvele as características do objeto.
Referências Bibliográficas
BACON, F. Nova Atlântida. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. In: Coleção
Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural. 1999.
175
<http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k110843d.r=la+logique+leibniz.langPT>.
Acesso em 10.05.2010.
<http://ia700308.us.archive.org/15/items/mathematischesch04leibuoft/mathema
tischesch04leibuoft.pdf>. Acesso em 6.10.2013.
<http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k625780.r=dissertatio+de+arte+combinatori
a+leibniz.langPT> Acesso em 10.03.2010.
<http://fumikazusaito.files.wordpress.com/2014/02/palestra-fumi.pdf> Acesso
em 22.05.2014.