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DIDÁTICO
PARA O
ENSINO DE
ESTATÍSTICA:
A CIDADANIA
NA/PELA
MATEMÁTICA
numéricos afetados por uma multiplicidade de causas. Esses métodos fazem uso da
Matemática, particularmente do cálculo de probabilidades, na coleta, apresentação,
análise e interpretação de dados quantitativos (p.10).
Na China, no século XXIII a.C., o Imperador Yao, decretou que fosse feito um
recenseamento com fins agrícolas e comerciais. Também na região da Mesopotâmia
foram encontrados registros na biblioteca de Assurbanipal, com diversas informações
sobre o Império Assírio. Há ainda informações sobre o Censo hebraico e o Censo de
Israel no tempo de Moisés cerca de 1700 a.C. cuja referência nos remete à Bíblia
Sagrada (1993) no Livro de Números Capítulo 1, Versículo 2, “Tomai a soma de toda a
congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famílias, segundo as casas de seus
pais, conforme o número dos nomes de todo homem, cabeça por cabeça;”.
No século XVI a.C., os egípcios realizavam censos periodicamente. Os
romanos e os gregos já realizavam censos por volta dos séculos VIII a IV a.C., sendo
que os romanos fizeram 72 censos entre 555 a.C. e 72 d.C. No período 578-534 a.C.
(IBGE, 2010), o imperador Servo Túlio mandou realizar um censo de população e
riqueza que serviu para estabelecer o recrutamento para o exército, para o exercício dos
direitos políticos (cidadania) e para o pagamento de impostos.
Há outras referências bíblicas aos censos. Por exemplo, no Segundo Livro de
Samuel, relatando o levantamento do número de homens do povo de Israel e de Judá e
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Toda a terra refere-se aos domínios do Império Romano.
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O mesmo autor também argumenta ainda que o jornal poderia ser utilizado
basicamente de duas maneiras: a primeira, como objeto de estudo, e a segunda como
fonte de informações e apropriação de conhecimento.
Nesta pesquisa usaremos as mídias impressas, jornais e revistas, como fonte de
informações e apropriação de conhecimento na perspectiva de proporcionar um
ambiente de criticidade em sala de aula e obter de forma contextualizada os conteúdos
básicos de Estatística Descritiva. Nosso pressuposto é que a estatística lida com dados
(números) em um contexto, e nesse caso, o das notícias e informações, presentes nessas
mídias.
A inserção das mídias impressas na sala de aula de matemática pode ser
justificada pelo vínculo existente entre a Estatística com a sociedade da informação dos
tempos atuais. Segundo Lopes (2004)
A complexa sociedade contemporânea exige a qualificação de uma diversidade de
informações. A estatística, com os seus conceitos e métodos para coletar, organizar,
interpretar e analisar dados, tem-se revelado um poderoso aliado neste desafio que é
transformar a informação tal qual se encontra nos dados analisados que permitem ler e
compreender uma realidade. Talvez por isso, se tenha tornado uma presença constante
no dia-a-dia de qualquer cidadão, fazendo com que haja amplo consenso em torno da
idéia necessária da literacia estatística, a qual pode ser entendida como a capacidade
para interpretar argumentos estatísticos em textos jornalísticos, notícias e informações
de diferentes naturezas (p. 187).
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O ENSINO DE ESTATÍSTICA
O ensino de estatística no Ensino Médio teve lugar no Brasil, pela primeira vez
na década de 1950, por meio do livro do professor Oswaldo Sangiorgi editado pela
Companhia Editora Nacional, destinado a alunos do então Curso de Magistério. Isso no
período anterior a inserção da Matemática Moderna na Educação Matemática brasileira.
Na década de 1960, o Brasil buscou uma direção para o ensino das ciências,
tidas hoje como ciências exatas. Assim, seguiu uma linha de ação de países centrais do
chamado “bloco ocidental” que patrocinaram alguns projetos de maneira a nortear o
ensino da época que era tradicional e precisava de reformulação para melhorar o
processo de aprendizagem. Para isso, foi promulgada a LDB 4024/61. As propostas para
o ensino de ciências orientavam-se pela necessidade de que o currículo atendesse aos
conhecimentos científicos e seus avanços. As novas concepções educacionais se
voltaram do eixo das questões pedagógicas, dos aspectos lógicos para aspectos
psicológicos, com a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem.
De acordo com os PCN:
[...] a formação e expansão de centros de Ciências e de Matemática, em vários
Estados, teve a finalidade de preparar professores para o desenvolvimento de ensino
proposto nos projetos traduzidos e em produções próprias que tiveram grande
influência na década seguinte. (BRASIL, 1998)
Nesse contexto, observa-se que não podemos utilizar apenas modelos a serem
seguidos e reproduzidos sem significado para os alunos. Cabe trabalhar a Estatística
como um cidadão deve compreendê-la, relacioná-la à vida social, às ações, aos valores e
às capacidades dos indivíduos. De acordo com Lopes (1998),
Não basta ao cidadão entender as porcentagens expostas em índices estatísticos como
o crescimento populacional, taxas de inflação, desemprego, [...] é preciso
analisar/relacionar criticamente os dados apresentados, questionando/ponderando até
mesmo sua veracidade. Assim como não é suficiente ao aluno desenvolver a
capacidade de organizar e representar uma coleção de dados, faz-se necessário
interpretar e comparar esses dados para tirar conclusões. (p. 19)
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Competência de área 6 - Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de
gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. (Matriz do
novo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM).
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Programas de avaliação em larga escala são políticas públicas de avaliação dos sistemas de educação.
Para tanto, utiliza-se de testes cognitivos aplicados de forma amostral, ou censitária, aos estudantes da
rede de ensino a ser avaliada para aferir a proficiência em conteúdos como Matemática e Língua
Portuguesa. O resultado dessas avaliações produz escores indicativos do desempenho dos estudantes e,
por conseguinte, do trabalho escolar. (SAERJ, Matrizes de Referência para Avaliação, 2009, p. 14)
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A mesma visão é defendida por Gadotti (2003), para quem "a ação
transformadora só pode ser eficiente quando fundada nas relações entre teoria e prática,
isto é, na vinculação de qualquer idéia com suas raízes sociais". O que equivaleria dizer,
na vinculação de qualquer idéia com a cultura na qual ela surge.
Compartilhamos com os autores a ideia de que ensinar não é somente
transmitir conhecimentos de livros didáticos, mas também transmitir uma cultura que
gere a criatividade e, consequentemente leve à ação transformadora para que o
educando forme um consenso em torno de verdades e busque a sua autonomia. É nesse
sentido que procuramos conduzir nossa prática, de maneira participativa, buscando
instruí-la com os conceitos de uma prática colaborativa. Para argumentar essa visão
tomamos as palavras de Freire (1996, p. 12) “Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender” e a elas acrescentamos as orientações de Gadotti (2003),
Para o educador não basta ser reflexivo. É preciso que ele dê sentido à
reflexão. A reflexão é meio, é instrumento para a melhoria do que é
específico de sua profissão que é construir sentido, impregnar de
sentido cada ato da vida cotidiana, como a própria palavra latina
“insignare” (marcar com um sinal), significa. (p. 39)
ensino mais eficiente. De outro modo, em parceria com outros professores e alunos
discutirem o ensino e suas estratégias para superar a visão tecnicista e neoliberal, já
denunciada por Duarte (2001) e Facci (2004) entre outros (SAVIANI, 1996; GATTI,
2008).
Tendo como princípio que não se pode dizer que alunos são educados e
professores são os educadores, buscamos dinamizar o trabalho pedagógico na interação
aluno-professor e aluno-aluno, segundo uma perspectiva colaborativa, proporcionando a
negociação e a construção dos significados entre todos que participam dos momentos da
aula.
Nesse contexto, Freire, (1987), enfatiza a importância do diálogo em sala de
aula.
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que,
mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando
que, ao ser educado, em diálogo com o educando que ao ser educado,
também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que
crescem juntos [...] agora ninguém educa ninguém, como tampouco
ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis
que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os
descreve ou os deposita nos educandos passivos. (p.68).
[...] para que a educação, tanto prática quanto como pesquisa, seja
crítica, ela deve discutir condições básicas para a obtenção do
conhecimento, deve estar a par dos problemas sociais, das
desigualdades, da supressão etc., e deve tentar fazer da educação uma
força social progressivamente ativa (p. 101).
O passo seguinte consistiu numa apresentação oral dos cartazes e do que foi
vivenciado nas etapas anteriores, com a participação de todos os componentes de cada
grupo. Ocorreu certa resistência por parte de alguns grupos, pois esta apresentação não
foi previamente estabelecida pelo professor pesquisador como parte das atividades. Tal
resistência foi facilmente superada, pois os participantes já estavam habituados a
apresentarem seminários em outras disciplinas, particularmente as disciplinas
pedagógicas da formação específica de seu curso. Dessa forma as apresentações
ocorreram de maneira muito natural aos alunos e eles mesmos passaram a chamá-las de
seminário. A Figura 4 traz o momento da apresentação de um dos grupos.
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Em alguns textos podemos perceber que nosso objetivo geral fora alcançado. A seguir
apresentamos alguns exemplos dessas produções:
cidadania quando registra ‘[...] nos ajudam a entender e analisar melhor as reportagens e
os seus anúncios dentro das estatísticas’.
dos alunos’. A conclusão do grupo reafirma a importância dessa prática, uso das mídias
em sala de aula, para auxiliar a aprendizagem do aluno. Chama também a atenção que
no cotidiano ele ‘[...] não será limitado quando for ter que ler alguma notícia com
gráfico’(sic).
É oportuno destacar que os participantes desse estudo tiveram contato com os
conceitos de Estatística durante o primeiro semestre de 2010, dentro de uma perspectiva
tecnicista. Mas os resultados apresentados nos levam a inferir que o trabalho baseado
numa abordagem diferenciada trouxe contribuição ao grupo pesquisado no sentido de
despertar o interesse pelas aulas, como podemos observar nas falas dos participantes
transcritas no Quadro 6, denominado “Falas dos participantes durante as apresentações
dos cartazes” e também a partir das produções textuais mostradas nas figuras anteriores.
A adoção dessa abordagem, instrumentalizada pelas mídias impressas, possibilitou o
compartilhamento de ideias permitindo a apropriação do conhecimento e a formação de
um indivíduo crítico e criativo. Dentro dessa perspectiva o conhecimento, em tese,
deixa de ser simplesmente absorvido, consumido, assimilado passivamente e passa ser
produto do processo de elaboração e mediação dos conceitos.
A próxima etapa consistiu na aplicação de um Teste Avaliativo (doravante
TA), nos mesmos moldes do TD, ou seja, montado a partir do ENEM e contendo 16
questões objetivas. A finalidade era produzir um parâmetro de comparação com o Teste
Diagnóstico da primeira etapa, verificando se houve influência da intervenção didática,
realizada na segunda etapa, em relação aos conceitos presentes nos itens deste último
teste. Participaram dessa avaliação 113 alunos.
Título
Fonte
Fonte: Censo 2000 e Pnad de 2001,
Colunas indicadoras cujos dados foram agrupados pela F.G.V. Tabela
retirada da Folha de São Paulo de 11/04/2003.
quantitativa ela deve ser organizada neste exemplo disso pode ser visto nos
eixo em ordem crescente de valores, seguintes gráficos que retratam o mesmo
enquanto no caso de variáveis conjunto de dados, mas que podem ou
qualitativas elas podem ser dispostas no não dar a impressão de maior ou menor
eixo em qualquer ordem. crescimento do número total de linhas
Dados qualitativos: a ordem não importa: telefônicas no mesmo período de tempo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, P.- Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, 23ª edição,
São Paulo, Paz e Terra, 1996.
GHIRALDELLI Junior, Paulo . Didática e teorias educacionais (o que você precisa saber
sobre). Rio de Janeiro: DP&A, 2002.