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D’AMBROSIO, Ubiratan.

Educação Matemática: da
teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996.
Monise Clara Orso1; Regina Orso2.

1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação (PPGPE), na Universidade
Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. E-mail: moniseorso@hotmail.com
2
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGE), na Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Erechim. E-mail: regina_orso@hotmail.com

Data do recebimento: 18/07/2018 - Data do aceite: 28/08/2018

Ubiratan D’Ambrósio nasceu em São do em Educação Matemática do Instituto de


Paulo, no dia 8 de dezembro de 1932. É Geociências e Ciências Exatas da UNESP, em
um matemático e professor universitário Rio Claro, e em outras instituições. Também
brasileiro. Doutor em matemática, é um dos no livro se reflete a interpretação do autor, de
pioneiros no estudo da etnomatemática. É como ele vê o movimento da educação mate-
professor emérito de Matemática da Univer- mática em todo o mundo, analisando, também
sidade Estadual de Campinas (UNICAMP). o processo de globalização. Além disso,
Atualmente é professor do Programa Pós- procura explicitar a evolução da matemática
-Graduação em Educação Matemática da e da educação, analisando as tendências de
Universidade Bandeirante de São Paulo. ambas. Os capítulos do livro apontam para
Lecionou no programa de História da Ciên- uma abordagem holística da educação mate-
cia da Pontifícia Universidade Católica de mática. Trazendo, como uma das propostas,
São Paulo (PUC); professor credenciado no a procura pela realização de uma educação
Programa de Pós-Graduação da Faculdade para a paz e, em particular, uma educação
de Educação da Universidade de São Paulo; matemática para a paz, vendo a educação
professor do Programa de Pós-Graduação como a estratégia mais importante para isso.
em Educação Matemática do Instituto de O livro é composto pela introdução e seis
Geociências e Ciências Exatas da Univer- capítulos. Nos três primeiros capítulos foram
sidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita feitas considerações de caráter geral abordan-
Filho (UNESP); e professor visitante no do aspectos de cognição, e nos três últimos
Programa Sênior da FURB/Universidade foram abordados, então, aspectos mais dire-
Regional de Blumenau. tamente ligados à sala de aula. Cada capítulo
O livro, intitulado Educação Matemáti- é composto por subtítulos que vislumbram o
ca: da teoria à prática, tem como objetivo assunto abordado.
mostrar as tendências da educação matemáti- No capítulo 1, o autor trata sobre o co-
ca, nos últimos dez anos, no curso de mestra- nhecimento, a sua organização intelectual,

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social e sua difusão. Nesse capítulo podem-se de hoje, visando o futuro, tendo como de-
enquadrar praticamente todos os enfoques safio desenvolver um programa dinâmico,
modernos ao conhecimento. Muitos esforços apresentando a ciência de hoje relacionada a
deram origem aos modos de comunicação e problemas de hoje e ao interesse dos alunos.
às línguas, às religiões e às artes, assim como Nesse capítulo, é realizado um resumo sobre
às ciências e à matemática, enfim, a todo o a história da matemática ocidental até o início
conhecimento. Assim, D’ Ambrósio afirma da Idade Média, no qual conta um pouco da
que “todo o conhecimento é resultado de história desde a espécie Homo sapiens até
um longo processo cumulativo de geração quando a Igreja passou a exercer um poder
[...].” (p.18). Destacam-se, nesse capítulo, paralelo no Império Romano, quando a Igreja
quatro dimensões na aquisição das teorias católica organizou-se com uma estrutura mui-
do conhecimento: a sensorial, a intuitiva, a to parecida com a do Império, e ao decorrer
emocional e a racional. Ao falar da comunica- do capítulo, então, pontos sobre a matemá-
ção, explica que o processo de gerar conheci- tica são abordados, como as distribuições
mento como ação é enriquecido pela relação de recursos e a repartição das terras férteis
com outros sujeitos, que estão imersos no que deram origem a formas matemáticas e à
mesmo processo, por meio da comunicação, divisão de recursos, desenvolvendo frações
mas considerando que nenhum indivíduo é e a geometria. O autor também aponta que
igual a outro na sua capacidade de captar e a matemática chegou até nós por meio dos
processar informações de uma mesma reali- escritos em papiros, mediante hieróglifos,
dade. A partir da segunda metade do século assim como o conhecimento egípcio. Neste
XV, após as grandes navegações, resultou-se capítulo também são revelados fatos sobre
numa globalização da visão de mundo e da a Idade Média e o Islão, a cristianização,
ação política (ciência moderna), que a partir as fundamentações filosóficas, sendo que,
de então sintetiza a base de um programa de nessa época, os algarismos romanos ser-
pesquisa sobre geração, organização e difu- viam apenas para representação, mas foram
são do conhecimento. Em todas as culturas, o desenvolvidos sistemas de contagem, utili-
conhecimento que é gerado pela necessidade zando pedras, ábacos e as mãos, inclusive,
de uma resposta a situações e problemas dis- nessa época foram desenvolvidos modelos
tintos está subordinado a um contexto natural, geométricos. Outros pontos também são
social e cultural. O autor finaliza o capítulo, destacados nesse capítulo, como a expansão
falando sobre as relações intra e interculturais do Islão, que proporcionou a introdução das
e multiculturalismo, visando o potencial que equações. A tolerância Islâmica que per-
a teleinformática tem hoje em dia. mitiu a evolução da tradição judaica, com
No capítulo 2 é realizada uma breve intro- uma matemática mais prática do que a dos
dução à matemática e à sua história. Podemos gregos. Nos séculos XV e XVI houve um
entender que a história da matemática é es- grande desenvolvimento da matemática nos
sencial para perceber como teorias e práticas mosteiros e nas universidades. Nessa época,
matemáticas foram criadas, desenvolvidas os conhecimentos que passariam a se chamar
e utilizadas no contexto específico de cada matemática começaram a ser organizados e a
época. Conhecer a matemática historicamen- serem conhecidos por especialistas. A mate-
te permite melhorar nossas hipóteses e nos mática e seu ensino no Brasil teve início em
orienta no aprendizado e no desenvolvimento 1928, e em 1937 foi fundada a Universidade
da matemática de hoje, assim a matemática do Brasil. Nessa instituição inicia-se a forma-
do passado serve de base para a matemática ção dos primeiros pesquisadores modernos de

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matemática no Brasil. Desde então a pesquisa No capítulo 5, o autor aborda a prática na
da matemática, no Brasil, vem crescendo sala de aula, começa significando a palavra
consideravelmente. pesquisa, sendo que a pesquisa, para o autor,
No capítulo 3, o autor aborda assuntos é o elo entre teoria e prática. Partindo para a
relacionados ao currículo, à educação e à matemática experimental, modelos e proje-
avaliação. Dentro da avaliação em geral, o tos, o autor fala que esse caráter experimental
autor fala sobre como a situação do Brasil da matemática foi removido do ensino e que
está difícil e grave, questionando o modelo esse pode ser um dos fatores que contribu-
de aprovação por ciclos, em que o aluno é íram para o mau rendimento escolar. Cabe
submetido a exame somente após dois anos ao professor mudar essa realidade, cuidar
ou três de escolaridade, e questionando este sua própria atualização e seu aprimoramento
método os professores acabam retornando profissional, e assim tornar a experimentação
ao método tradicional. Relacionado ao cur- parte fundamental das aulas, principalmente
rículo, é abordada a questão da sua estrutura, as de matemática. Seguindo para a área dos
por quem é criado, e sua definição, sendo ela: projetos, podemos dizer que o professor
“currículo é a estratégia para a ação educati- deve ter coragem para enveredar projetos nas
va.” (p.68) Seguindo, o autor apresenta uma aulas, e assim o autor lista alguns projetos
proposta de avaliação na qual afirma que que seria interessante serem trabalhados nas
ela serve para que o professor veja quanto o aulas. Partindo para a pesquisa qualitativa
aluno aprendeu, para que tenha algo palpável que muitas vezes é chamada de etnográfica,
como resultado de suas práticas, para assim participante ou inquisitiva, ou naturalista,
compreender se o processo de ensino e de podemos dizer que a pesquisa é focalizada
aprendizagem em que ele está inserido está no indivíduo, com toda sua complexidade,
sendo desenvolvido de maneira adequada e na sua realidade sociocultural e natural.
para os sujeitos do processo. Posteriormente o autor nos mostra como é
organizada a pesquisa. Finalizando o capítulo
No capítulo 4 entra a parte da pesquisa
é levantada a questão da sala de aula, e do
na área da matemática e um novo papel para
professor como pesquisador.
o professor. Começando pela sociedade
do conhecimento e pesquisa, o autor nos No capítulo 6, dentro da educação multi-
mostra que no que diz respeito a ciência e cultural, fica bem explícito que é importante
tecnologia a escola tem a função de estimular haver reconhecimento da subordinação dos
a aquisição, organização do conhecimento conteúdos pragmáticos à diversidade cul-
que está integrado na sociedade. Seguindo, tural que impera num país como o Brasil.
é trabalhada a questão do que faz um bom Igualmente deve ser reconhecida a variedade
professor, quais as maneiras de ensinar e o de estilos de aprendizagem, o que leva ao
que fazer para tornar-se um bom professor, desenvolvimento de novas metodologias. Se-
e o quanto é importante que o professor não guindo, o autor fala sobre o problema político
se atenha apenas à sua matéria e sim que vá que apesar de dizerem que é ultrapassado está
além. Passando para a parte em que o autor sim, presente, havendo classes dominantes e
dá um novo conceito para currículo, mostra subordinadas. O autor refere-se a uma “mate-
a passagem de um currículo cartesiano, que mática dominante”, que é um instrumento de
é estruturado previamente à prática educa- dominação. Essa matemática e os que a domi-
tiva, a um currículo dinâmico, que reflete o nam mostram-se como superiores, podendo
momento sociocultural dos alunos e que a assim eliminar a “matemática do dia a dia”.
escola está vivendo. E partindo dessa linha de raciocínio o autor

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apresenta mais complementos e citações que perspectivas sobre a ética da diversidade.
fundamentam sua ideia quanto ao problema Finalizando, usa a seguinte frase: “Atin-
político existente. gir a paz total é nossa missão maior como
Na conclusão o autor retoma alguns educadores, em particular como educadores
pontos importantes do livro e acrescenta seu matemáticos.” (p.114)
posicionamento, e colabora, apontando suas

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