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Pricila Bertanha
Introdução
Tendências pedagógicas
O que significa estudar o desenvolvimento da Didática no contexto das tendências
pedagógicas? A palavra “didática” vem do grego Didaktiké, que significava a “arte de
ensinar/instruir”. Hoje, a Didática é entendida e concebida como um dos ramos da
Pedagogia, que tem como objetivo estudar o processo de ensinar. Segundo Lopes
(1995), a Didática procura ir além dos métodos e técnicas, tentando associar e entender
as relações escola-sociedade, teoria-prática, conteúdo-forma, técnico-político, ensino-
pesquisa, professor-aluno. Assim, a Didática atual visa ao processo de politização do
professor, ou seja, uma Didática que visa a mudanças no modo de pensar e agir do
professor, para a busca de um ensino democrático.
Por “tendências pedagógicas”, entende-se como a educação escolar foi entendida
e praticada em cada época. Segundo Damis, apud Lopes (1995, p. 13-14):
Assim, observe cada uma dessas tendências, seus significados e como a Didática
foi ou é percebida a partir do Quadro 1 adiante.
Quadro 1 Tendências pedagógicas e concepções de Didática.
TENDÊNCIA SIGNIFICADO PERÍODO COMO A DIDÁTICA FOI/É PERCEBIDA
1) Caracteriza as concepções de
educação onde prevalece a ação de
agentes externos na formação do
aluno, a transmissão do saber
constituído na tradição e nas
1) Disciplina normativa, um conjunto
grandes verdades acumuladas pela
de princípios e regras que regulam o
humanidade e uma concepção de
ensino.
ensino como impressão de imagens
2) Meio principal de transmissão do
propiciadas ora pela palavra do
conhecimento é a exposição oral.
professor ora pela observação
3) Os alunos fazem exercícios
sensorial.
No Brasil, repetitivos.
2) É uma tendência que foi
Pedagogia percebe-se a 4) O aluno é o recebedor da matéria.
conservada ao longo da história
Tradicional partir da vinda 5) O professor tende a encaixar os
educacional.
dos jesuítas. alunos em um modelo ideal de
3) Nesta tendência a escola tende a
homem.
igualar o processo de inculcação de
6) O material concreto é mostrado,
valores e práticas para fortalecer os
mas o aluno não lida mentalmente
laços sociais, promover a coesão
com ele, não repensa, não reelabora
social, incrementar a divisão do
com seu próprio pensamento.
trabalho social, conformar os
7) Memorização.
indivíduos aos padrões da estrutura
social.
4) As ações de ensino estão centradas
na exposição do conhecimento
pelo professor.
1) Entre as características desse 1) É entendida como “direção da
movimento, destacam-se: a aprendizagem”, considerando o
valorização da criança, dotada de aluno como sujeito da
liberdade, iniciativa e interesses aprendizagem.
próprios, sujeito de sua 2) O que o professor tem de fazer é
aprendizagem. Tratamento colocar o aluno em condições
Pedagogia científico do processo educacional, A partir do final propícias para que (partindo de suas
Renovada considerando as etapas sucessivas do século 19. necessidades e particularidades)
do desenvolvimento biológico e possa buscar por si mesmo
psicológico, respeitando as conhecimentos e experiências.
capacidades e aptidões individuais, 3) O professor incentiva, orienta,
individualização do ensino organiza as situações de
conforme os ritmos próprios de aprendizagem, adequando-as às
aprendizagem. capacidades e características
2) Essa tendência assume um individuais dos alunos. Dá
princípio norteador de valorização importância aos métodos e técnicas
do indivíduo como ser livre, ativo e como o trabalho em grupo,
social. atividades cooperativas, estudo
3) O centro da atividade escolar não é individual, pesquisas, projetos,
o professor nem os conteúdos experimentações. O professor ajuda
disciplinares, mas sim o aluno, o aluno a aprender.
como ser ativo e curioso. 4) O centro da atividade escolar não é o
4) O mais importante não é o ensino, professor nem a matéria, é o aluno
mas o processo de aprendizagem. ativo e investigador.
“Trata-se de ‘aprender a aprender’,
ou seja, é mais importante o
processo de aquisição do saber do
que o saber propriamente dito”
(LUCKESI, 1994, p. 58).
1) A didática instrumental está
interessada na racionalização do
ensino, no uso de meios e técnicas
mais eficazes. O arranjo mais
Acabou sendo imposta às escolas Desenvolveu-se simplificado dessa sequência
brasileiras pelos organismos oficiais no Brasil a partir resultou na fórmula: objetivos,
ao longo de boa parte das duas da década de conteúdos, estratégias e avaliação.
Pedagogia
últimas décadas, por ser compatível 1950, 2) O professor é o administrador e
Tecnicista
com a orientação econômica, fortalecendo-se executor do planejamento, o meio
política e ideológica do regime nos anos de de previsão das ações a serem
militar então vigente. 1960. executadas e dos meios necessários
para se atingir os objetivos.
3) A maioria dos livros didáticos
utilizados nas escolas é elaborada
com base na tecnologia da instrução.
1) Não há uma Didática explícita.
2) O professor se põe diante de uma
1) No início dos anos 1960 surgiram os classe com a tarefa de orientar a
movimentos de educação de aprendizagem dos alunos. A
adultos que geraram ideias atividade escolar é centrada na
pedagógicas e práticas discussão de temas sociais e
educacionais de educação popular, políticos.
configurando a tendência que veio 3) O ensino está centrado na realidade
a ser denominada Tendência social, em que o professor e os
Libertadora. alunos analisam problemas e
2) A Pedagogia libertadora tem sido realidades do meio socioeconômico
empregada com muito êxito em e cultural, da comunidade local, com
vários setores dos movimentos seus recursos e necessidades, tendo
sociais, como sindicatos, em vista a ação coletiva frente a
Pedagogia Início dos anos
associações de bairro, esses problemas e realidades. Nesse
Libertadora 60.
comunidades religiosas. Por isso, é processo em que se realiza a
muito utilizado com adultos que discussão, os relatos de experiências
vivenciam uma prática política e vividas, a pesquisa participante, o
onde o debate sobre a trabalho em grupo, vão surgindo
problemática econômica, social e temas geradores que podem vir a ser
política pode ser aprofundado com sistematizados para efeito e
a orientação de intelectuais consolidação de conhecimentos.
comprometidos com os interesses 4) É uma didática que busca
populares. desenvolver o processo educativo no
3) Em relação à escola fundamental, interior dos grupos sociais e, por
não foi organizada uma orientação isso, o professor é o coordenador ou
pedagógico-didática. animador das atividades que se
organizam sempre pela ação
conjunta dele e dos alunos.
Pedagogia 1) Para esta tendência, o que importa 1) O objeto de estudo é o processo de
A partir das
Crítico- é que os conhecimentos ensino nas suas relações com a
décadas de 1970
Social dos sistematizados sejam confrontados aprendizagem.
e 1980.
Conteúdos com as experiências socioculturais 2) A didática tem como objetivo a
e a vida concreta dos alunos, como direção do processo de ensinar,
meio de aprendizagem e melhor tendo em vista finalidades
solidez na assimilação dos sociopolíticas e pedagógicas e as
conteúdos. condições e meios formativos.
2) O ensino significa a tarefa de 3) É uma didática que reflete e busca
proporcionar aos alunos o alternativas para as dificuldades
desenvolvimento de suas educacionais.
capacidades e habilidades
intelectuais, mediante a
transmissão e assimilação ativa dos
conhecimentos.
Fonte: Libâneo (1994, p. 57-71).
Pedagogia Renovada (LIBÂNEO, 1994); Abordagem Humanista (MIZUKAMI, 1986); e Abordagem Cognitivista
(MIZUKAMI, 1986)
Referências
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Repensando a Didática. Campinas: Papirus, 1995.
FRANCO, M. A. S.; PIMENTA, S. G. (Orgs). Didática: embates contemporâneos. São
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FUSARI, J. C. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e
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em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf. Acesso em 07
fev. 2022.
GIMENO SACRISTÁN, J. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução de
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LIBANEO, J. C.; PIMENTA, S. G. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas.
São Paulo: Cortez, 2002.
LIBANEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. p. 57-71.
LOPES, A. O. Repensando a Didática. Campinas: Papirus, 1995.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
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