Você está na página 1de 15

DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

1 ª Aula

PERSPECTIVA HISTÓRICA
DA DIDÁTICA
Caros(as) alunos(as), antes de iniciar nossos estudos da disciplina “Didá-
tica” é necessário fazer uma reflexão sobre o contexto histórico do pensa-
mento didático, baseados nas argumentações teóricas, dos distintos pensa-
mentos e períodos da educação que propiciaram formas diferenciadas nas
metodologias de ensino. A construção desses conhecimentos por meio da
reflexão e leituras será fundamental tanto para o estudo de outras discipli-
nas do curso, quanto para a vida profissional. Para iniciar, é importante
sabermos que, na construção histórica do pensamento didático, existe a
contribuição de inúmeros teóricos que podemos denominar de precursores
da educação: sendo que cada um deles argumenta acerca da educação con-
forme o período histórico, econômico, político e social vigente da época.
Desse modo, vamos refletir e construir juntos um entendimento sobre esse
assunto. Lembrem-se de que esta aula foi preparada para que vocês não
encontrem grandes dificuldades. Contudo, podem surgir dúvidas no decor-
rer dos estudos! Quando isso acontecer, anotem, acessem a plataforma
e utilizem as ferramentas “quadro de avisos” ou “fórum” para interagir
com seus colegas de curso. Sua participação é muito importante e estamos
preparados para ensinar e aprender com seus avanços.
Ah, é importante ainda que leiam e se posicionem criticamente em relação
aos objetivos de aprendizagem e às seções de estudo desta aula.

Boa Aula! Bons estudos!


7
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• definir o termo didática;


• compreender o contexto histórico da Didática como um método educacional;
• conhecer os teóricos que fizeram história em relação ao pensamento didático;
• identificar as metodologias utilizadas pelos teóricos e suas respectivas técni-
cas educativas.

SEÇÕES DE ESTUDO

SEÇÃO 1 − Didática: definição e funcionalidade enquanto disciplina e método edu-


cacional
SEÇÃO 2 − O processo histórico de construção da didática
SEÇÃO 3 − Autores que contribuíram para a concepção da didática como prática
educativa

DIDÁTICA: DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE ENQUAN-


SEÇÃO 01
TO DISCIPLINA E MÉTODO EDUCACIONAL

Para iniciarmos nossa primeira aula, vamos primeiro ao conceito de didática:


Segundo o Dicionário Brasileiro Globo (1996), didática se refere à arte de ensinar,
aplicação dos métodos científicos na orientação do ensino, tornando-o prático e eficiente.
Assim, o próprio dicionário menciona que didático diz respeito ao ensino, ou seja, que tem
por finalidade instruir. Dessa forma, uma pessoa didata é alguém que instrui algo relacionado
ao ensino, independente do tipo de ensino, seja educacional, musical, esportivo dentre ou-
tros. Assim, podemos perceber que no nosso cotidiano falamos frequentemente sobre ações
didáticas, comentamos acerca de um ou outro professor que tem ou não didática para instruir/
ensinar. Mas, quando nos perguntamos sobre o que é didática e quais são as suas funciona-
lidades, nem sempre temos condições de prover uma definição sucinta sobre esse assunto.

8
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

Vejamos:

Curiosidade: Didática é uma disciplina técnica e que tem como objeto específico a
técnica de ensino (direção técnica da aprendizagem). A Didática, portanto, estuda a téc-
nica de ensino em todos os seus aspectos práticos e operacionais, podendo ser definida
como: “a técnica de estimular, dirigir e encaminhar, no decurso da aprendizagem, a
formação do homem” (AGUAYO apud PILETTI, 1987, p. 42-43).

Partindo do pressuposto acima, podemos então conceituar a didática como uma dis-
ciplina que: estuda a técnica de ensino em todos os seus aspectos práticos e operacionais.
Perceberam o quanto a didática é importante e abrange as diversas áreas?! Vamos
adiante...
Didática: funcionalidade como disciplina e método
Para se compreender a finalidade da Didática, é importante refletir sobre o contexto
educacional em que a escola está inserida. Ou seja, o sistema educacional de ensino faz par-
te de um contexto social, econômico e político constituído como sendo um grupo coeso da
sociedade. Assim, mesmo que a escola tente planejar e seguir seus próprios princípios edu-
cativos, desarticulados dos objetivos e finalidades impostos pela sociedade dominante, não
conseguirá manter-se em funcionamento por muito tempo, pois é preciso que as articulações
estejam em consonância entre os grupos. Então, a escola ou o fenômeno educacional neces-
sita expor que não é neutro e nem apolítico.

CONCEITO

Apolítico significa dizer que não se envolve ou não tem interesse em política. Mas a
educação, por si só, já é um ato político, em que pessoas (comunidade escolar: profes-
sores e alunos) se reúnem para dialogar, refletir, socializar conhecimento, aprender, en-
sinar, dentre outras funções, buscando, assim, uma transformação cotidiana com vistas
à sociedade mais justa, igualitária e humana. Fonte: https://meuartigo.brasilescola.uol.
com.br/educacao/educacao-politica-demerval-saviavi.htm. Acesso em: 15 de fev. 2020.

Portanto, o modo como organizamos a nossa sobrevivência, como nos comportamos


e pensamos, tem muitas ligações com a história de vida do homem do passado. Assim, quan-
do estudamos o passado histórico, não o fazemos apenas para conhecê-lo, mas também para
descobrir os caminhos que foram trilhados pelos homens na construção do desenvolvimento
da humanidade, que nos fizeram refletir e pensar hoje, sobre a concepção da Didática enquan-
to disciplina e método utilizado por educadores para ensinar.

Nesse sentido, esta análise que leva em conta a “não neutralidade” da


prática pedagógica evidencia a relação entre o caráter social-indivi-
dual da educação escolar. Segundo essa relação, a função da escola,
justificada pela integração e adaptação do homem ao progresso e ao
desenvolvimento da sociedade, destaca somente o seu caráter indivi-
9
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

dual-social, estando a prática escolar voltada, apenas, para o desen-


volvimento e a preparação do aluno segundo as exigências colocadas
pelas condições e necessidades predominantes na realidade. Nesse
sentido, as diferentes teorias e práticas do ato de ensinar, ao enfatiza-
rem em cada momento ora o professor e a transmissão do saber, ora o
aluno e o processo da aprendizagem, ora a organização racional dos
meios e procedimentos, ora a qualidade total, evidenciam a prepara-
ção individual do homem no que se refere aos conhecimentos e aos
hábitos, e às habilidades e aos valores necessários à sua sobrevivên-
cia. Em outras palavras, não sendo neutras, a teoria e prática de uma
forma de ensino articulam as finalidades individuais de educação do
homem a um modelo de sociedade, por meio da atividade de quem
ensina, de quem aprende, do como se ensina e dos meios utilizados,
e contribuem para a manutenção – superação da prática social mais
ampla (DAMIS, apud VEIGA, 1996 p. 10).

Para exemplificar a conceituação teórica acima, segue abaixo um esquema referente


ao processo didático enquanto método de ensino:

Fonte: Gráfico elaborado pela autora do texto.

Assim, é possível compreender sua funcionalidade como análise das articulações en-
tre “o como ensinar” e a forma como a sociedade está organizada mediante as transformações
econômicas, políticas, sociais e ideológicas ocorridas desde o interior da sociedade feudal.
Considera-se, ainda, que a Didática, em sua temática central, tem a proporcionali-
dade de guiar ou mesmo instrumentalizar o processo ensino – aprendizagem em que estão
envolvidos alunos e professores. Partindo-se, dessa reflexão, fica evidente o enfoque da di-
10
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

dática, como disciplina técnica ministrada em cursos de formação profissional da educação,


que tem como predominância, habilitar o profissional para obter competências e habilidades
do como organizar, desenvolver e avaliar o ensino.
Portanto, a didática participa da educação do ser humano, enquanto uma ação huma-
na, como campo de conhecimento e principalmente como uma disciplina nos cursos voltados
a área educacional. Exemplo: Pedagogia / Letras / Educação Física / Ciências Biológicas /
Psicologia, dentre outros cursos que tenham a licenciatura em suas habilitações.

Tanto a Didática como a Metodologia estudam os métodos de ensino. Há,


no entanto, diferença quanto ao ponto de vista de cada uma. A Metodologia estuda os
métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor.
A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos mé-
todos de ensino.
Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízos de realidade, e a Didática
nos dá juízos de valor.

→ Juízos de realidade são juízos descritivos e constatativos.


Exemplo: Dois mais dois são quatro.
2+2=4

→ Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas.


Exemplo: Os velhos merecem nosso respeito.

Fonte: http://vereadorelbio.blogspot.com.br/2011/12/idosos-com-todo-o-respeito.
html. Acesso em: 20 de fev. 2020.

A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser metodologistas


sem ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem ser metodologistas, pois não
podemos julgar sem conhecer. Por isso, o estudo da Metodologia é importante por
uma razão muito simples: para escolher o método mais adequado de ensino precisa-
mos conhecer os métodos existentes (PILETTI, 1987, p. 43).

Após vermos a definição de didática e metodologia, vamos para nossa próxima se-
ção que será um breve passeio ao contexto histórico sobre a didática. Então vamos adiante...

11
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA DI-


SEÇÃO 02
DÁTICA

Para pensar e refletir sobre a Didática como disciplina nos cursos de formação de
professores, é necessário, estudar e reviver teoricamente ou mesmo através da leitura dessa
seção, como os aspectos socioeconômicos, políticos e educacionais, são usados como pano
de fundo para identificar as propostas pedagógicas presentes na educação, considerando o
papel da Didática como mecanismo importante para essa reflexão, de se pensar como se for-
malizou essa técnica da Didática enquanto disciplina metodológica.
De acordo com Veiga (2005), esse estudo sobre a contextualização histórica da di-
dática, está apresentado de duas formas, ou seja, a primeira está relacionada ao papel da
Didática antes de sua inclusão nos cursos de formação de professores a nível superior, a qual
compreende o período histórico de 1549 a 1930; e no segundo momento, se reconstrói histo-
ricamente o contexto da Didática a partir da década de 1930.

O PERÍODO 1549/1930:
ORIGEM DA DIDÁTICA NO
CONTEXTO EDUCACIONAL

A autora também argumenta que: “Os jesuítas foram os principais educadores de


quase todo o período colonial [...] no Brasil, de 1549 a 1759”. A tarefa educativa estava dire-
cionada para a catequese e instrução dos indígenas e negros, considerados como uma popu-
lação de baixa renda. Porém para a elite colonial, outro tipo de educação era ofertado. Nesse
sentido, “[...] índios e negros foram catequizados e os descendentes dos colonizadores foram
instruídos” (VEIGA, 2005, p. 33-34)
Assim, o plano de instrução Ratio Studiorum, trazido da Europa para o Brasil, re-
sultava em uma orientação universalista adotada por todos os jesuítas, conforme o uso dos
procedimentos metodológicos e elitistas destinados aos filhos dos colonos.

Ratio Studiorum visava a formação do homem universal, humanista e cristão.

Veiga (2005, p. 34) argumenta que de acordo “com a orientação jesuítica, a ação pe-
dagógica era marcada pelas formas dogmáticas do pensamento, contra o pensamento crítico”.
Assim, o ensino era completamente distante da realidade de vida das pessoas, em que “privi-
legiavam o exercício da memória e o desenvolvimento do raciocínio, [...] e os livros a serem
comentados eram rigorosamente selecionados.” Dedicavam atenção especial ao preparo dos
12
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

professores ou padres-mestres, dando ênfase à formação do caráter e à formação psicológica


para conhecimento de si mesmo e do aluno.
Dessa forma, não era possível pensar em uma prática pedagógica e, muito menos,
em uma Didática que pudesse ser desenvolvida numa perspectiva crítico-reflexiva no contex-
to educacional, pois a educação, a qual era aplicada naquele momento, estava condicionada a
uma pedagogia de dominação, ou seja, uma pedagogia que utilizava a tendência tradicional.
Os pressupostos didáticos dissolvidos na Ratio enfocavam instrumentos e regras me-
todológicas compreendendo o estudo privado, alma do processo de aprendizagem em que o
professor prescrevia o método de estudo, a matéria e o horário. É assim que o enfoque sobre o
papel da Didática, ou melhor, da Metodologia de Ensino como era denominada pelos jesuítas,
estava centrado no caráter meramente formal, tendo por base o intelecto, marcado pela visão
essencialista de homem.
Foi nesse contexto, que a metodologia de ensino, por meio da Didática, foi entendida
como um conjunto de regras e normas visando a orientação técnica do ensino e do estudo.
“Esta metodologia difundida pelos jesuítas foi o alicerce de uma tradição didática, centrada
no método e em regras de bem conduzir a aula e o estudo, supostamente neutros e desvincu-
lados da nossa realidade” (VEIGA, p. 2005, p. 40).
Segundo a autora, o plano Ratio Studiorum dominou a educação no Brasil até a ex-
pulsão dos jesuítas por Pombal, em 1759. Após esse período, não ocorreram no país grandes
movimentos pedagógicos, como também foram poucas as mudanças sofridas pela sociedade
colonial durante o Império e a República.

Romanelli apud Veiga (1987, p. 36) enuncia as dificuldades decorrentes da expulsão


dos jesuítas, destacando: de um lado, o desmantelamento de toda uma estrutura de en-
sino, a substituição de uma ação pedagógica com perfeita transição de um nível escolar
para outro pela diversificação das disciplinas isoladas; por outro, professores leigos co-
meçaram a ser admitidos para as “aulas-régias” introduzidas pela reforma pombalina.

No campo educacional, eliminou-se o ensino religioso das escolas públicas, passan-


do o Estado a assumir a laicidade*. É aprovada então, a Reforma de Ensino que procurou
introduzir disciplinas científicas nos currículos escolares. Dessa forma, a escola cumpriu um
papel social e político específico de reproduzir a realidade social existente.

* Laicidade segundo o Dicionário Brasileiro Globo, 1996, refere-se ao mesmo que en-
sino laico, ou seja, tornar laico ou leigo: excluir o elemento religioso como organização
do Estado no processo educacional.

É assim que a didática está centrada no intelecto e na essência, atribuindo um caráter


dogmático aos conteúdos, sendo seus métodos, princípios universais e lógicos. A didática
13
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

é compreendida como um conjunto de regras visando assegurar aos futuros professores as


orientações necessárias ao trabalho docente.
Veiga (2005) menciona que a orientação curricular, a qual regulamentava o fun-
cionamento das Escolas Normais de diferentes províncias, inseria no currículo, disciplinas
de cultura geral e de natureza pedagógica (Pedagogia, Metodologia e Prática de Ensino em
escolas primárias anexas).
Dessa forma, é importante apontar a diversidade de nomenclaturas empregadas com
relação às “cadeiras” pedagógicas, que atualmente correspondem à disciplina de Didática,
tais como:

métodos e processos de ensino,


metódica pedagógica,
metódica e pedagogia teórica e prática,
pedagogia e metodologia,
pedagogia e direções de escolas.

Nessa perspectiva histórica, Veiga (2005) argumenta que a Educação passa a ser
percebida como instrumento de ação política contra a ordem vigente, como meio de recom-
posição do poder político. No período de 1931 a 1932 foi criado o Conselho Nacional de
Educação, a fim de contribuir para com a organização do ensino comercial, a adoção do re-
gime universitário para o ensino superior bem como a organização da primeira universidade
brasileira: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
A origem da Didática, como disciplina dos cursos de formação de professores em
nível superior, está então, vinculada à criação dessa referida Faculdade, em 1934, sabendo-se
que a qualificação do magistério era colocada como ponto central para a renovação do ensino.
Veiga (2005, p. 49) menciona que no período de 1939, as Faculdades de Filosofia e
de Educação formavam professores para lecionar somente no curso secundário, deixando de
lado a formação de licenciados para as demais áreas do ensino: normal, industrial, comercial
e agrícola. Em abril de 1939, o Decreto-Lei n° 1190 estendeu a formação superior de profes-
sores para o ensino normal, equiparando o nível de formação de professores para essas áreas
de ensino.
Por força do artigo 20 do Decreto-Lei n.º 1190/39, a Didática foi instituída como
curso e disciplina. Com duração de um ano, o Curso de Didática constituía-se das seguintes
14
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Es-


colar, Fundamentos Biológicos da Educação, Fundamentos Sociológicos da Educação. Com
isso, a antiga disciplina Metodologia do Ensino Secundário desdobra-se nas disciplinas Didá-
tica Geral e Didática Especial. O curso de Didática, portanto, substituiu a anterior formação
pedagógica que concedia o direito ao exercício do magistério.
De acordo com Veiga (2005), a formação para o magistério, conforme a instância
federal, no que se refere à legislação educacional, foi aos poucos sendo alterada para que, em
1941, o curso de Didática pudesse ser considerado um curso independente, denominado de
“três mais um”, ou seja, três anos de bacharelado, seguindo-se um ano de Didática (licencia-
tura).
A Didática é entendida então, como um conjunto de ideias e métodos, privilegiando
a dimensão técnica do processo de ensino, fundamentada nos pressupostos pedagógicos e
validados na experiência e constituídos em teoria.
Nagle (1985, p. 152-164) explicita que a Didática representa o momento de reflexão
e prática, quando é possível verificar se determinadas propostas educacionais estão sendo
realizadas, e em que grau, ou seja, refere-se ao trabalho docente, sendo uma disciplina com-
prometida com a formação do professor.
Após essa rápida retrospectiva histórica acerca da didática, vamos para nossa próxi-
ma seção que será sobre os principais teóricos que contribuíram para o processo de ensino.

AUTORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A CONCEPÇÃO


SEÇÃO 03
DA DIDÁTICA ENQUANTO PRÁTICA EDUCATIVA

O papel da didática na formação do professor contemporâneo é de fundamental im-


portância para a construção de um profissional ético, competente e qualificado para atuar na
área educacional de forma dinâmica e prazerosa, desempenhando sua função de educador
com muita satisfação e amor na profissão.
Segundo Nóvoa (1999, p. 16), o mínimo que se exige de um educador é que ele
seja capaz de sentir os desafios do tempo presente, de pensar na sua ação, nas continuidades
e nas mudanças do trabalho pedagógico, como também de participar criticamente na constru-
ção de uma escola mais atenta às realidades dos diversos grupos sociais.

Nessa perspectiva, torna-se necessário destacar a experiência de alguns teóricos /


15
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

precursores que foram considerados fundamentais para a compreensão da educação como


forma de contextualizar a didática mediante um processo educativo.
A seguir, apresentamos estudos de onze teóricos que contribuíram para com o
processo de ensino: na concepção didática.

• Jan Amós Comênio (1592-1670)

É considerado o maior educador e pedagogista do século XVII. Defendia a ideia de


que a educação era o caminho para atingir a salvação e a felicidade, elaborando uma peda-
gogia que objetivava a universalização da educação, ou seja, todos têm direito à educação e
reafirmava que a esta não poderia ter nenhum vínculo com confissão religiosa, mas sim laica,
conforme estudado na seção 2 desta aula.
Publicou a obra Didática Magna, em 1657, contendo suas principais ideais sobre
educação contendo assim, os mais importantes tratados educacionais escritos até a atualida-
de, considerando a existência da diversidade entre os homens, mencionando que seriam ne-
cessários muitos métodos para ensiná-los. No plano da didática prática, é mérito deste autor,
a pesquisa e a valorização das metodologias que são consideradas ativas até os dias atuais.

• Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Sua concepção teórica influenciou a Educação da Modernidade, pois foi ele quem
centralizou a questão da infância na educação, quanto ao respeito às peculiaridades infantis,
evidenciando a necessidade de não considerar a criança como incapaz, mas alguém que em
seu próprio contexto, cabe ao adulto compreendê-la, uma vez que, a seu ver, a educação não
deveria objetivar a preparação da criança para o futuro, mas sim, ser a própria vida da criança.
Publicou a obra Emílio em 1762, e nesse livro estruturou a educação em cinco par-
tes, de acordo com as diferentes fases a serem vividas por Emílio (criança imaginária), desde
seu nascimento até a idade de 25 anos.

• Johan H. Pestalozzi (1746 – 1827)

Seu sistema pedagógico tinha como pressuposto básico, propiciar à infância a aqui-
sição dos primeiros elementos do saber, de forma natural e intuitiva. Foram considerados
um dos precursores da educação nova , dando maior ênfase ao ato de aprender do que ao ato
de ensinar e ressaltou a importância de definir a educação em função das necessidades de
crescimento e desenvolvimento da criança, considerando que seu projeto educativo tinha a
intuição como fundamento básico para atingir o conhecimento.

16
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

• Frieddrich W. August Froebel (1782 - 1852)

Em sua principal obra “A Educação do ser humano”, publicado em 1826, destacou


a atividade livre e o jogo como elementos essenciais para a educação da criança. E no ano de
1837, fundou o primeiro jardim de infância – Kindergarten, em Blankenburg. Concretizou o
projeto educativo mediante essa fundação e ressaltava que a atividade era essencial ao desen-
volvimento infantil, realizada através do jogo. Percebia nos movimentos das crianças uma
intencionalidade exploratória que possibilitava o crescimento e sua concepção de currículo
se fundamentava no desenvolvimento das bases de percepção.

• Ovide Decroly (1871-1932)

A pedagogia deste autor tem como base, a partir da educação no século XX, o inte-
resse infantil, partindo de uma psicologia associativa. Com crianças anormais, iniciou suas
atividades educativas em 1901. Sua proposta de trabalho estava alicerçada nas atividades
individuais e coletivas da criança, sustentadas em princípios da psicologia, uma vez que, de
início, suas experiências foram concretizadas em sua própria residência, onde pode observar,
diretamente, o desenvolvimento infantil.
Centrado inicialmente na figura do professor, o processo educativo, deslocando o
foco, passou a ter a criança como figura principal, o que desencadeou mudanças significa-
tivas nas maneiras de conceber os processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento
infantil.

• John Dewey (1859-1952)

Em sua abordagem sobre educação, considerava que o método científico deveria


subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal maneira que o conhecimento fosse trabalhado de
forma experimental, socialmente, desde a infância. Para o autor, o caminho mais viável para
aprender era fazendo. Por esse motivo, foi considerado o criador da proposta de trabalho
tendo o projeto como recurso pedagógico, ou seja, criou o método de ensino, voltado para
projetos educativos. Isso proporcionou superar aquela visão de que cabia ao professor a res-
ponsabilidade integral pelo conhecimento a ser adquirido pela própria criança.

• Maria Montessori (1870 - 1952)

Desenvolveu um trabalho educativo com crianças ditas anormais naquele contexto


de 1898 a 1900, em que pesquisou, idealizou e aplicou um método que as levaram a atingir
um grau de desenvolvimento além do esperado. E a partir desse resultado, verificou-se que
seu método poderia ser muito mais utilizado com crianças “normais”. Fundou a “Casa dei
17
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

Bambini” em 1907.
Em sua concepção de educação, estava implícita e explícita a ideia de liberdade, me-
diante o processo educacional como meio propício para desencadear a conquista e o exercício
dessa liberdade. Sua teoria está relacionada à organização do ambiente, materiais adequados
dentre outras características que sejam atrativas às crianças para a realização das atividades.

• Célestin Freinet (1896 - 1966)

Foi considerado um educador revolucionário, cultivando na educação o aspecto so-


cial. Partia do princípio de que as atividades naturais das crianças se desenvolviam em grupo,
cooperando e vivenciando diversas experiências relacionadas com o conhecimento. Idealizou
e colocou em prática uma pedagogia que tinha a criança inserida em seu meio e, principal-
mente, consciente desse meio. Privilegiou atividades que realmente fizesse sentido à vida da
criança.
Pautado na observação dos interesses das crianças e de sua própria intuição, uma
vez que, seu objetivo, foi o de dinamizar as atividades educativas por meio da introdução
de mecanismos que a levassem a se comunicar e a expressar seus pensamentos, construindo
diversos pontos de vistas próprios com relação do mundo vivido, superando aquela visão de
conhecimento imposto nos manuais escolares.

• Henri Wallon (1879-1962)

Em sua concepção, argumenta que o indivíduo é social não como resultado de cir-
cunstâncias externas, mas sim em virtude de uma necessidade interna. Foi um médico que
trouxe grandes contribuições para o campo educacional, considerando que seus estudos na
área da neurologia contribuíram, para a compreensão da plasticidade do cérebro humano.
Dedicou-se ao estudo do desenvolvimento infantil, vinculado aos aspectos motriz,
afetivo e intelectual da criança, enfatizando que esse desenvolvimento só é possível de ser
realizado à maneira que se permite à criança viver experiências significativas, pois defende a
questão de que, o sujeito e o objeto, afetividade e inteligência, se desenvolvem mutuamente.
Ressaltou que a criança é um todo: corpo e emoções, e que não se pode dissociar afetividade,
movimento, inteligência e formação do eu como pessoa.

• Lev Semenovich Vygotsky (1896 - 1934)

Buscou compreender o ser humano em processos constantes de interação social.


Suas preocupações foram direcionadas para o entendimento das origens sociais e das bases
culturais do desenvolvimento individual. Defendia a questão de que o aprendizado pressupõe
uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida
18
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

intelectual daqueles que as cercam. Considera por excelência o contexto cultural e social das
crianças, tendo como fundamental importância a mediação simbólica e a linguagem e o pen-
samento, como fatores necessários para compreensão dessa teoria.

• Jean Piaget (1896 - 1980)

Sua perspectiva interdisciplinar pode ser apontada mediante as contribuições que


proporcionou ao campo da psicologia, biologia, sociologia, lógica, física e matemática. Di-
vidiu seu estudo sistematizado em quatro níveis que abrange todas as faixas etárias, sendo: a
primeira infância (de zero a dois anos); a primeira infância (de dois a sete anos); englobando
a imitação / jogo simbólico / desenho / as imagens mentais bem como, a linguagem, seja
egocêntrica como a socializada.
É importante destacar que acima foram citados apenas alguns dos teóricos im-
portantes para contextualização do pensamento didático.

ALMEIDA, Ordália Alves. História da educação: o lugar da infância no contexto educa-


cional. Fascículo 1. Cuiabá: EDUFMT, 2006.

RETOMANDO A AULA

Chegamos, assim, ao final da primeira aula. Espera-se que


agora tenha ficado mais claro o entendimento de vocês sobre
a conceituação do termo didática, o contexto histórico e pre-
cursores. Vamos, então, recordar:

SEÇÃO 1 – DIDÁTICA: DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE ENQUANTO


DISCIPLINA E MÉTODO EDUCACIONAL

A Didática em sua compreensão tem como finalidade a reflexão no contexto edu-


cacional em que a escola está inserida, uma vez que, dentro desse contexto possui questões
sociais, políticas e econômicas. Também é possível mencionar que a Didática estuda a téc-
nica de ensino em todos os seus aspectos práticos e operacionais nos cursos de formação de
licenciaturas.

SEÇÃO 2 – O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA DIDÁTICA

No contexto histórico da educação, a didática passou por várias transformações de


nomeações, legislações e perspectivas de ideias para trabalhar a didática como metodologia
19
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

de ensino ou disciplina de cursos de formação docente, visando assim, um conjunto de ideias


e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino, fundamentada nos pres-
supostos pedagógicos e validados na experiência e constituídos em teoria.

SEÇÃO 3 – AUTORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A CONCEPÇÃO DA


DIDÁTICA ENQUANTO PRÁTICA EDUCATIVA

Vimos, na seção 3, os principais autores que desenvolveram estudos e teorias acerca


da educação em seus métodos de ensino, desde o século XVII ao século XX visando ob-
ter um panorâmico de teóricos que foram considerados precursores no âmbito educacional.
Destaca-se que foram apresentados alguns dos teóricos principais, mas não todos os autores
que fizeram história na educação, principalmente relacionado à educação brasileira, que po-
derá ser pesquisado em livros de História da Educação Brasileira, conforme mencionado na
bibliografia geral da disciplina.

Caso você tenha ficado com dúvidas sobre a Aula 1, mande perguntas para o e-mail:
elizabete.velter@unigran.br ou acesse as ferramentas “fórum”,“quadro de avisos” e/ou
“chat” e interaja com seus colegas de curso.

Afinal, você é o personagem principal de sua aprendizagem!

SUGESTÕES DE LEITURAS, SITES, VÍDEOS E FILMES:

LEITURAS

DEWEY, John (Autor); NASCIMENTO, Renata Gaspar (Tradutor). Experiência e


educação. 1ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SITES

Site Docente de José Carlos Libâneo. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.


br/SiteDocente/ home/disciplina.asp?key=5146&id=3552 Acesso em: 28 de maio. de 2020.

FILMES

- O Sorriso de Mona Lisa


20
DIDÁTICA - Elizabete Velter Borges

- Ao Mestre com Carinho

VÍDEOS

BARBOSA, Ivana. Quatro Pilares da Educação. Disponível em: http://www.youtu-


be.com/watch?v=hMbUkK9oGGY. Acesso em: 25 de maio. de 2020

MINHAS ANOTAÇÕES:
_____________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

21

Você também pode gostar