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DA LINGUA PORTUGUESA
ÜRGANIZADORA PATRICIA LIMA NOGUEIRA
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@Pearson
METODOLOGIA DO ENSINO
DA LÍNGUA PORTUGUESA 1
Pearson Education
El\ilPRESA CIDADÃ
METODOLOGIA DO ENSINO
DA LÍNGUA PORTUGUESA 1
Organizadora
Patrícia Lima Nogueira
Doutoranda em administração
Mestre em engenharia de produção pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Professora de graduação e pós-graduação nas modalidades presencial e EAD
Consultora em sistemas de gestão e tecnologia da informação
Diretora executiva da empresa NOGL
Pearson : 1 1
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2015
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SUMÁRIO
Apresentação ..........................................................................................VI 1
Prefácio ....................................................................................................... IX
Fonologia ................................................................................................... 78
Visão estrutura lista ............................................................................... 80
V.1sao
- ge rat1v1
. .sta .................................................................................... 81
Fonologia do português brasileiro ................................................ 82
e discussões para reflexão. Além disso, possuem uma estrutura didática que propõe uma
dinâmica única, a qual convida o leitor a levar para seu dia a dia os aspectos teóricos apre-
sentados. Veja como isso funciona na prática:
A seção "Panorama" aprofunda os tópicos abordados ao mostrar co1no eles funcionam
na prática, pro1novendo interessantes reflexões.
Leia a seguir a posição do filósofo Renato Janine, então ministro da educação (abril a setembro de
2015), a respeito da educação brasileira.
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A diagramação contribui para que o estu-
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Todas essas características deixa1n claro
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que os livros da Bibliografia Universitária
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Pearson constituem um importante aliado
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.. para estudantes conectados e professores ob-
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jetivos - ou seja, para o mundo de hoje - e
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muito tempo.
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Boa leitura!
PREFÁCIO
Contexto e conceitos
- - - - - - - Objetivos de aprendizagem
• Estudar, em um contínuo histórico, os fundamentos, conceitos e teo-
rias que constituem alicerces para o entendimento da metodologia
e da didática.
• Assimilar o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula.
• Aprender, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais, quais os ob-
jetivos, os conteúdos, as orientações didáticas e a avaliação aplicados
ao ensino brasileiro.
• Verificar reflexiva e criticamente as teorias que pensam a fala e a es-
crita e suas respectivas abordagens na sala de aula.
- - - - - - - - - - - - - - - - Temas
• 1 -Abordagem dos fundamentos epistemológicos, históricos
e metodológicos
Neste tema, vamos conceituar a didática e a metodologia, apresen-
tando suas diferenças e semelhanças. Vamos conhecer um pouco
sobre a periodização na história das práticas educacionais brasileiras
e seus protagonistas, assim como das noções básicas de comunica-
ção e linguagem.
• 2 - Aprender e ensinar na escola
Os possíveis percursos quanto ao processo de ensino e à aprendiza-
gem são aqui desenvolvidos e oferecidos, não como um caminho
obrigatório, mas como possibilidades para o trabalho docente.
• 3 - Objetivos, conteúdos, orientações didáticas e avaliação
em língua portuguesa para a educação
Debruçamo-nos sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para
pensar os objetivos, os conteúdos, as orientações e as avaliações esta-
belecidos no âmbito federal para aplicação em toda a educação pública
brasileira, considerando o modo como esses aspectos podem iluminar
e contribuir para as práticas pedagógicas dentro da escola.
=3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
• 4 - Fala e leitura
Na verdade, muito mais do que a fala e a leitura, este tema en-
globa a tríade escrita, fala e leitura e como esses assuntos, espe-
cialmente a ora lidade e a escrita, são polêmicos nos processos
de ensino.
Introdução - - - - - - - - - - ----
Esta unidade cumpre o papel de orientar, mediar e ajudar você, leitor,
a entender os conceitos fundantes da metodologia da língua portu-
guesa, exemplificando algumas das práticas que podem ser adotadas
na sala de aula.
A princípio, tomaremos nota sobre as definições de metodologia, mé-
todo e didática, com atenção às suas semelhanças e diferenças. A im-
portância desta última, entendida como ciência da educação, será
ressaltada, especialmente, por sua influência nas ações docentes. Fa-
remos um percurso histórico e evolutivo pelas práticas educacionais
brasileiras e seus protagonistas, de modo a entender como cada épo-
ca evidencia perspectivas distintas para pensar a educação. Abordare-
mos algumas noções básicas de comunicação e linguagem e, além
de uma discussão detalhada sobre esses conceitos, você encontra
aqui uma revisão das principais teorias da comunicação e das funções
de linguagem. Para completar o primeiro tema, estudaremos a pers-
pectiva ocidental das histórias da filosofia, da pedagogia e da psicolo-
gia, enfatizando o processo de ensino e aprendizagem com base nos
pressupostos de algumas correntes teóricas.
Observaremos, no Tema 2, como a instituição escola se organizou e
estabeleceu relações entre o conhecimento, o professor e os alunos
nas diferentes abordagens pedagógicas. Outro elemento importante
das ações docentes é a organização do seu trabalho, por isso aborda-
remos o que é o planejamento, com explicações sobre o planejamen-
to educacional e escolar, os plano de ensino e o plano de aula.
Apresentaremos, ainda, um modelo de plano, uma espécie de roteiro
para quem nunca o fez. Também poderemos compreender como as
relações que se estabelecem entre professor, aluno e conhecimento
interferem nos processos educativos e como se constrói o saber para
esses atores.
Será feita uma pausa para a análise dos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais (PCN) e como eles podem auxiliar o docente na execução de seu
Contexto e conceitos) e
trabalho, compartilhando seu esforço diário em fazer as crianças do-
minarem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como
cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em
nossa sociedade. Os objetivos, conteúdos, orientações e avaliações
que esse documento apresenta são um referencial para a arte do pro-
fessor, respeitando a pluralidade cultural brasileira.
Finalmente, concluímos a unidade com um viés linguístico que marca
nosso estudo da escrita, da fala e da leitura. Para além dos respectivos
conceitos, tratamos sobre o modo como essas modalidades da língua
se entrecruzam e como a escrita, historicamente, foi considerada (e
continua sendo) superior à fala.
Fundamentos epistemológicos
De acordo com o dicionário on-line Priberam, epistemologia ( do
grego episteme - conhecimento científico, ciência; logos - raz.ão,
estudo) significa:
1. Reflexão geral em torno da natureza do conhecimento huma-
no, especialmente nas relações que se estabelecem entre o
sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradi-
cionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento.
=3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Método e metodologia
Você saberia dizer, a partir de seus conhecimentos prévios,
as diferenças e semelhanças entre didática e metodologia? Para
ajudá-lo a responder, é interessante pensar que a palavra método,
do latim methodus, constitui-se dos prefixos meta e hodos, cujo
significado diz respeito à via, ao caminho. Ou seja, são passos,
etapas, que devemos seguir para atingirmos determinados objeti-
vos. Os métodos se aplicam, portanto, a todas as áreas do conhe-
cimento para as quais a técnica, a precisão e o planejamento são
fundamentais.
De acordo com Ana Maria Liblik (2012, p. 27):
De maneira geral, o método científico compreende algumas eta-
pas, como a observação, a form ulação de uma hipótese, a experi-
mentação, a interpretação dos resu ltados e, por fim, a conclusão.
[...] Os dados obtidos devem ser mensuráveis e permitir uma aná-
lise chamada lógica, que esteja de acordo com outras teorias já
existentes. A lógica é um dos ramos da fi losofi a, um instrumento
do pensar "certo" pautado no já co nsagrado saber científi co. Para
isso, usamos a razão.
Didática
Tendo em mente a ideia de que, quando dispomos de distintos
ca1ninhos (métodos) para chegar a algum lugar predeter1ninado,
pensamos para escolher os itinerários possíveis (metodologia). Nes-
se contexto, a didática cumpre uma função de oferecer referenciais
teóricos e visões de mundo que permitam a escolha consciente de
Contexto e conceitos) e
um método. Um professor, ao definir suas opções, poderá empre-
gar estratégias e técnicas diversificadas, tornando o método único .
Por isso, podemos dizer que uma pessoa é didática considerando
sua escolha p ara ensinar seus alunos com eficácia, embasamento,
criativ idade.
Liblik (2012, p. 30-31 ) relata que a palavra didática:
[...] vem da expressão grega techné didaktiké, que pode ser trad u-
zida como ciência ou arte de ensinar, sendo incorporada ao nos-
so vocabulário em 1844. Essa ciência, para permitir fazer escolhas
metodológicas, estu da muito mais do que métodos e técnicas de
ensino. Didática é uma reflexão sistemát ica e a busca de alterna-
tivas para os problemas da prática pedagógica. Tanto a reflexão
como a busca de alternativas estão ligadas aos diferentes momen-
tos educacionais, às diferentes abordagens pedagógicas.
1549 Chegada ao Brasil dos primeiros jesuítas chefiados pelo padre Manoel da Nóbrega.
1759 Expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal.
1932 Divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
1947 Elaboração do anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).
1961 Promulgação da primeira LDBEN.
Entrada em vigor da Lei n. 5.540 (reforma universitária), regu lamentada pelo Decreto n. 464,
1969 de 11 de fevereiro de 1969, e aprovação do Parecer n. 252/1969, que introduziu as hablitações
técnicas no curso de pedagogia.
1980 Realização da primeira Conferência Brasileira da Educação (CBE).
1991 Realização da sexta (e última) CBE.
1996 Realização do I Congresso Nacional de Educação (Coned) e promulgação da segunda LDBEN.
Fonte: Saviani (2008, p. 16).
Comunicação e linguagem
A existência de um indiv íduo no mundo e sua educação des-
de o nascimento são muito marcadas pela comunicação e lingua-
gem. Um recém-nascido quando chora, por exemplo, pode estar
dizendo que sente f orne; aprendemos as primeiras palavras nos
comunicando com nossa família, fato que segue na escola, na uni-
v ersidade, na vida. Fazemos uma entrevista para um emprego nos
expressando por meio da linguagem v erbal.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Links
A biografia intelectual de Roman Jakobson espelha, de certo modo, o próprio
caminho da linguística contemporânea rumo à arte e à antropologia. Acesse
o lin k para ler sua obra denominada Linguística e comunicação. O prefácio,
especialmente, traz muitas informações para você saber mais sobre as ideias
desse pensador multifacetado: <www.fc.ul.pt/sites/default/files/R.%20Jacko-
bsonFilipePamplona.pdf>.
Sobre Claude Shannon e seu artigo "Uma teoria matemática da comunica-
ção''. acesse: <www.numaboa.com.br/criptografia/historia/553-shannon#>.
Referente
Mensagem
Código
Funções da linguagem
As seis funções da linguagem definidas por Jakobson são um
desenvolvimento do modelo comunicativo que estudamos, cada
uma delas corresponde a um dos elementos.
[ Características:
• sonoridade - a mensagem tem um ritmo particular e, às vezes, rimas;
• emprego da conotação, com metáforas e outras figuras de linguagem.
Função emotiva Função conativa
ou expressiva Função fática (ênfase no canal) ou apelativa (ênfase
(ênfase no emissor) Intenção do emissor: estabelecer ou manter aberto o canal de comunicação. no receptor)
Intenção do emissor: dar Características: Intenção do emissor: levar o
vazão a seu mundo • as mensagens têm pouco ou nenhum conteúdo informativo; receptor a tomar
interior, a seus • o emissor busca travar contato com o receptor ou verificar se há ruídos. determinada atitude.
sentimentos, desejos Características:
e sonhos. • uso do imperativo: faça
Função metalinguística (ênfase no código)
Características: coma, compre;
Intenção do emissor: questionar ou comentar o próprio cód igo.
• emprego da 1ª- pessoa Características: • uso do vocativo ("coma,
do discurso (eu, meu, meu filho") e de pronomes
comigo); • itens do cód igo são usados para falar sobre o próprio cód igo; que se dirigem
• uso de aspas ou outro destaque nos itens mencionados (você sabe escrever "exceção"?).
• uso de interjeições (ai, diretamente ao receptor
puxa, tomara); ("você deveria fazer isso").
• uso de sinais de
pontuação que
n
o
conferem subjetividade :::,
,.....
ao texto, como o ponto rt>
A
de exclamação e as o
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reticências ( que alegria!; n
o:::,
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Fonte: Guimarães (2012, p. 13). o
V\
fl
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Filosofia e educação
Assimilados esses primeiros conceitos relacionados à metodo-
logia, à didática e à linguagem, vamos estudar de forma sintética
o pensamento de três importantes filósofos: Platão, Aristóteles e
Tomás de Aquino. Todos se debruçaram sobre o papel da educa-
ção para o desenvolvimento e a formação humana e suas ideias são
vistas, ainda hoje, no campo das práticas de ensino e aprendizagem.
Platão
Platão foi um filósofo grego que viveu entre os anos 427 e
347 a.C. Estudou inúmeros te1nas, entre eles política, ética psi-
cologia, metafísica, filosofia da linguagem e filosofia da educa-
ção (NOGUEIRA JR, 2013).
A decadência da vida pública em Atenas, por causa de corrup-
ção, injustiças nos tribunais e má gestão política, levou o filósofo
a pensar que a formação adequada e com vistas ao desenvolvi-
mento das virtudes, especialmente de crianças e jovens, poderia
salvar a cidade dessa conjuntura. Desse modo , é emblemático e
metafórico o mito da caverna que evidencia a existência de duas
realidades, a saber: a realidade sensível e aparente, marcada pelo
corpo; e a realidade essencial, ou seja, a alma, o lugar das ideias.
Uma alegoria nos mostrará agora a situação dos homens em face
da verdadeira luz. Suponhamo-los cativos, acorrentados em um lo-
ca l subterrâneo, com o rosto voltado para a parede oposta à entra-
da e impossibilitados de ver algo além dessa parede. Iluminam-na
os reflexos de um fogo que arde fora, sobre uma elevação, em cuja
metade passa um caminho bordejado por um pequeno muro. Atrás
desse muro, desfilam pessoas carregando sobre os ombros obje-
tos heteróclitos, estatuetas de homens, animais etc. Desses objetos,
os cativos enxergam somente a sombra projetada pelo fogo sobre
o fundo da caverna; do mesmo modo, ouvem apenas os ecos das
palavras que os portadores trocam entre si. Habituados desde a in-
fância a contemplar essas imagens vãs, a escutar esses sons confu-
sos cuja origem ignoram, vivem em um mundo de fantasmas que
tomam por realidades. Se um deles, liberto de suas cadeias, for ar-
rastado para a luz, sentir-se-á de início ofuscado e nada disti nguirá
do que o circunda. Por instinto, dirigirá o olhar para as sombras que
não lhe feriam os olhos e, dura nte algum tempo, crê-las-á mais rea is
do que os objetos do novo mundo para onde o transportaram. Mas,
Contexto e conceitos) E
quando seus olhos se acostumarem à ambiência luminosa, poderá
perceber esses objetos refletidos nas águas e, depois, fitá-los direta-
mente. À noite, contemplará a lua e as conste lações e, enfi m, tornar-
-se-á capaz de aguentar o fulgor do sol. Então, compreenderá que
sua vida anterior não passava de um sonho sombrio e lastimará os
antigos companheiros de cativeiro (PLATÃO, 1965, p. 35).
Aristóteles
Aristóteles (3 84-322 a.C .), discípulo de Platão, viv eu na Grécia
antiga e seguiu, a princípio, uma filosofia marcada pela pesquisa
experimental, cuja metodologia se caracteriza pela a observação
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Tomás de Aquino
Tomás de Aquino (1224-1274) nasceu em Nápoles, Itália, e teve
forte influência no surgimento da escolástica ou filosofia da escola.
Contexto e conceitos) E
Suas ideias devem ser entendidas no contexto da filosofia cristã da
Europa Medieval, cuja premissa é atingir a verdade religiosa pelo
uso da razão. Uma dualidade entre fé e razão , claro que a primeira
sempre em detrimento da segunda (NOGUEIRA JR., 2013).
Influenciada por Aristóteles, a educação aquiniana segue um
raciocínio que tem início na experiência, em que o conhecimento
é estabelecido da seguinte maneira:
[...] corpo e alma não estão cindidos, o intelecto é a essência da
alma, mas, sem os sentidos que pertencem ao corpo, não poderia
ter experiência sensível. Assim, as sensações são os dados forne-
cidos pelos sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) que,
retidos pela memória (faculdade sensitiva), criam as condições
para que o ser humano seja capaz de gozar a experiência, isto é,
a capac idade de verificar que determinados encadeamentos de
eventos repetem os efeitos, permitindo a prudência (faculdade
intelectual). Depois dessas faculdades sensíveis, o próximo está-
gio do conhecimento é a técnica, que se refere à capac idade de
defi nir as ca usas, isto é, o porq uê de alguma coisa ser o que é ou
estar em determinado estado. Por fim, temos a etapa mais alta do
conhecimento, a teoria. Nesse caso, estamos diante de leis gerais,
dos princípios que estabelecem algo. O que está em jogo é a acei-
tação da matéria diante de um cenário dualista, que considera o
corpo e o lugar do erro (NOGUEIRA JR., 2013, p. 56-57).
Idade Idade
Idade Média Idade Moderna
Pré-história Antiga eomtemporânea Século
476-1453 1453-1789
4000-3500 a.e 3500 a.e.- 1789-? XXI
Séculos V-XV Séculos XVI-XVIII
-476 d.e. Séculos XVIII -XX
Idade Paleolítico Antiguidade Alta idade Média Séculos XVI Século XIX
da Mesolítico Oriental
Pedra Neolítico Antiguidade Ba ixa Idade
Idade Idade do Clássica Idade Média Século XVII
dos Cobre Média Plena
Metais Idade do Antiguidade Idade Século XVIII Século XX
Bronze Tardia Média
Idade do Tardia
Ferro
Fonte: Nogueira e Leal (2013, p. 20).
Filosofia
Podemos considerar a filosofia a ciência-mãe, pois é a mais
antiga das três áreas com as quais propomos a nos envolver aqui.
O termo tem origem no grego filos, que significa amor, e so.fia,
sabedoria. E' a ciência do saber. Historicamente, podemos orga-
nizá-la nos seguintes períodos: Idade Média (século IV a. C. ao
V d.C.), Idade Média (século V ao XV), Idade Moderna (século
XVI ao XVIII) e Idade Contemporânea (século XVIII ao XIX),
até à atualidade. Vejamos o que marca de modo geral cada um
desses momentos (NOGUEIRA; LEAL, 20 13).
• Antiguidade ( ou período Arcaico) - período marcado pelo
pensamento mítico, que constituiu uma das primeiras tentati-
v as humana de explicar o mundo. Ou seja, a interpretação da
realidade se dava por meio das lendas e mitos narrados oral-
mente, sem cuidados críticos ou racionais, buscando explicar
fatos e fenômenos naturais e culturais. Esse conhecimento
era ensinado às crianças e transmitido entre gerações pela
palavra falada. Tempos mais tarde, desenvolveu-se, na con-
tramão dos mitos, uma tomada de consciência por parte do
homem, que, por meio da escrita, passou a expressar pensa-
mentos teorizantes e mais racionais, sem deixar, no entanto,
de considerar a sabedoria oral. Tal fato distingue os períodos:
Contexto e conceitos) E
• Clá ssico - destaca-se a figura dos sofistas, filósofos
que usavam de argumentos capciosos para mostrar o
mecanis1no das falácias retóricas e cujo modo argu-
1nentativo, com o passar do tempo, popularizou expres-
sões pejorativas como "sofisma".
• Helenístico - Sócrates, Platão e Aristóteles são pen-
sadores desse momento, responsáveis pelo desenv olv i-
mento da ciência filosófica.
Psicologia
Links
Mesmo sem ser pedagogo, o cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um
dos pensadores mais influentes da educação. Sua atua lidade e repercussão
na sala de au la devem-se, principalmente, ao incessante trabalho em com-
preender como se desenvolve a inteligência humana. Acesse os links a se-
guir para descobrir e entender o pensamento de Piaget: <revistaescola.abril.
com.br/formacao/jea n-piaget-428139.shtml> e <revistaescola.abril.com.br/
formacao/formacao-continuada/sujeito-epistemico-piaget-611940.shtml>.
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e
social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém,
essa ideia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução coman-
dada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon
(1879-1962). Veja ma is em: <revistaescola.abril.com.br/formacao/educador-
-integral-423298.shtml> e <educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/
henri-wallon-307886.shtml>.
Pedagogia
Composta pelos prefixos gregos paidós (criança), agein ( condu-
zir) e lógos (raz.ão ), a pedagogia se refere ao ensino das crianças. Já
na Grécia antiga (demarcada historicamente entre 1100 e 146 a. C. ),
encontram-se traços do que viria a ser a pedagogia, principalmente
nas teorizações filosóficas. "Nesse período, a figura do pedagogo já
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Saiba mais
O que mais diferenciava o Liceu de Aristóteles da Academ ia de Platão eram
os estudos das ciências naturais. Aquele desenvolveu a lógica para servir de
ferramenta ao raciocínio, objetivando a elaboração de uma visão científica da
realidade. Este era poeta, narrava mitos.
No Liceu, o hábito de caminhar discutindo filosofia era considerado o grande
regulador das ações, uma vez que a prática habitual das virtudes, pela repe-
tição de atos, torna-se uma segunda natureza, para a qual se faz necessário
Contexto e conceitos) E
uma disposição de caráter. Assim, diferente de Sócrates e Platão, para Aristó-
teles o mero conhecimento do bem não dirigiria o homem para uma ação
justa, ao passo que a virtude pode tornar-se um hábito. A razão potencializa
a escolha e o discernimento para a prática das virtudes.
Contrariando Platão, que via nos filósofos os melhores homens para gover-
nar, Aristóteles condicionava o filósofo a afastar-se da vida política, exercendo
sua plena liberdade, dedicando-se à pesquisa filosófica, à vida contemplati-
va. Mas vê nos homens políticos a possibilidade da transformação da cidade
e dos homens, orientando seus atos para uma conduta ética, pela razão, que
os conduzirá à prática da virtude.
Assim,o fim último do Estado é avirtude com vistas ao bem comum. Compete
ao Estado a educação, provendo os meios para aformação moral dos cidadãos.
Enfim, como explanamos anteriormente, para Aristóteles, o modo de vida
teorético ou filosófico é o mais elevado, revelando-se na dimensão ética, um
modo de vida virtuoso, pois o conhecimento de que se tem compreensão se
estabelece como uma espécie de práxis teorética.
Planejamento
A escola é palco de um dos fenômenos mais belos que po-
demos presenciar : a intercessão, entre professores e alunos , dos
saberes construídos ao longo da história pelo ser humano . Antes
Contexto e conceitos) E
que isso ocorra, cabe aos professores o planejamento de seu pró-
prio trabalho.
O docente, no entanto, não se encontra totalmente sozinho
nessa tarefa. No Brasil, por exe1nplo, o planejamento educacional
é arquitetado em traços gerais (ressaltando que as peculiaridades
e especificidades são sempre oriundas do trabalho indiv idual do
professor e seu modo de pensar o ensino) pelo Ministério da Edu-
cação (tv'.IEC) por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional (LDBEN) e também dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN). Leia no box " Saiba mais" informações sobre o
:tvffiC, a LDBEN e o PCN.
Saiba mais
O Ministério da Educação, órgão da administração federal direta, tem como
área de competência os seguintes assuntos:
política nacional de educação;
educação infantil;
• educação em geral, compreendendo ensino fundamental, ensino mé-
dio, ensino superior, educação de jovens e adu ltos, educação profissio-
nal, educação especial e educação a distância, exceto ensino militar;
avaliação, informação e pesquisa educacional;
pesquisa e extensão universitária;
magistério;
assistência fi nanceira a famílias carentes para a escolarização de seus fi-
lhos ou dependentes.
Nesse sentido, a importância do Ministério da Educação é promover o ensino
de qualidade, estimulando financeira, política e pedagogicamente iniciativas
estaduais, municipais e regionais desenvolvidas por todas as instituições de
ensino, da creche à universidade, incluindo centros de pesquisa, museus e or-
ganizações não governamentais nas diversas áreas do conhecimento como
forma de desenvolver a capacidade de construção do pensamento científico
e tecnológico e de inovação no país. Conheça a história desse Ministério em:
<portal.mec.gov.br/institucional-o-mec/historia>.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Naciona l (LDBEN) estabelece em seu
art. 1.uque"a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de en-
sino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
nas manifestações cultura is. § 1-º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições pró-
prias"(BRASIL, 1996).
Acesse o texto legislativo na íntegra em: <www.pla na lto.gov.br/CCIVIL_03/
leis/L9394.htm>.
Finalmente, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) podem ser encontra-
dos em: <portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01 .pdf>.
Exemplo
1. Data ou semana - data aproximada ou semana de trabalho.
Pierre Lévy
Pierre Lévy nasceu na Tunísia, em 1956. Suas pesquisas se con-
centraram na área da cibernética e da inteligência artificial, em que
aborda o papel das tecnologias na esfera da comunicação e a per-
formance dos sistemas de signos na evolução da cultura em geral.
Suas ideias relativas à produção e difusão de conhecimento
são 1narcadas por três elementos fundamentais e indissociáv eis:
o sujeito, aquele que conhece; o objeto, o que é conhecido; e o
mediador, meio pelo qual o conhecimento se firma. Por sua vez,
também existem três conjuntos tecnológicos de transmissão do
conhecimento: oral, escrito e informático-midiático.
Pensando na sociedade contemporânea, g lobalizada, influen-
ciada diretamente pela Internet e pela velocidade informativa e
interacional, o professor assu1ne u1n papel de um "animador da
inteligência coletiva" e isso conduz a uma mudança de postu-
ra. Em outras palav ras, a ideia cristã de uma educação em que o
professor é o único detentor de conhecimento não é válida aqui.
O ensinar adquire uma nova configuração, por causa da propaga-
ção de agentes emissores, da produção e circulação de conheci-
mento e do aprendizado contínuo. Nesse ambiente, é muito mais
interessante provocar o aluno, de modo que ele se sinta desafiado
a debater, a pesquisar na Internet e nas bibliotecas e a pensar em
soluções mesmo que imagéticas.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Animais
Seres vivos
Essa pirâmide pode ser aplicada dentro das salas de aula. O pro-
fessor, durante o planeJamento de aula, identifica os conceitos mais
abrangentes em sua disciplina, delimitando sua estrutura básica e
facilitando o aprendizado por parte do aluno, que assimilará a orga-
nização em sua própria estrutura cognitiva.
Por sua vez, a aprendizagem significativa também discrima al-
guns conceitos para seu entendimento :
• Leveza - co1no uma aula poderia ser leve? Será que ela pode-
ria ser leve? Ser leve como um pássaro ou como uma pluma?
Um pássaro alça voo sabendo aonde quer chegar, ele tem um
rumo previamente definido. Uma pluma se perde em meio ao
vento. E então?
• Rapidez - "Poxa, essa aula não acaba nunca?". Essa frase tem
um sentido pejorativo, pois o tempo cronológico é sempre o
mes1no, mas dependendo da situação, nosso te1npo particular,
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Fique atento
Sugestões de au las de acordo com o currículo de cada disciplina, além de
recursos multimídia como vídeos, fotos, mapas, áudios e textos, que tornam
o conteúdo mais dinâmico e interessante para o aluno, estão nas seções Es-
paço da Aula e Recursos Educacionais, do Portal do Professor. Fique atento e
acesse o site: <portaldoprofessor.mec.gov.br/orientacoes.html>.
Orientações didáticas
Estudaremos, agora, algumas orientações para o trabalho didá-
tico com esses conteúdos, tendo em mente os objetivos que vimos
há pouco.
Importante ressaltar que determinados objetivos só podem
ser alcançados se os conteúdos tiverem um tratamento didático
específico, ou seja, se houver uma estreita relação entre o que e
como ensinar. Por exemplo, se o objetivo é incutir nos estudantes
uma atitude crítica em relação aos seus próprios textos, a revisão
crítico-reflexiva (não somente gra1natical) desses textos deverá
ser o procedimento adotado. Para isso, é preciso estar claro para o
aluno o que ele pretende com seu texto, pois revisar é um ato que
envolve articulação, edição. Como já vimos ao longo desta uni-
dade, considerar o conhecimento prévio do aluno é um princípio
didático para todo professor que pretende ensinar procedimentos
de revisão quando o objetivo é - muito mais do que a qualidade da
produção - a atitude crítica diante do próprio texto.
A construção de conhecünento por parte do aluno não env olve
somente informações a ele oferecidas, mas também e, principal-
mente, o tipo de tratamento para com essas informações. Voltamos,
então, à natureza didática do ensino e da aprendizagem, em que a
intervenção pedagógica do professor tem valor decisivo, por isso
faz-se necessária a avaliação constante dessas práticas.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Prática de leitura
O escopo do trabalho com a leitura é a fonnação de leitores e
escritores competentes, pois a possibilidade de conceber textos
eficazes está intimamente associada à prática de leitura, que nos
fornece a matéria-prima para a escrita ( o que escrever) e contribui
para a composição de modelos ( como escrever).
A leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo
de construção do signifi cado do texto, a partir dos seus objetivos,
do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o
que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador,
do sistema de escrita etc. Não se trata simplesmente de extrair in-
formação da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por
palavra. Trata-se de uma atividade que implica compreensão, na
qual os sentidos começam a ser constituídos antes da leitura pro-
priamente dita. Qualquer leitor experiente que conseguir analisar
sua própria leitura constatará que a decodificação é apenas um
dos procedimentos q ue utiliza quando lê: a leitura fluente envol-
ve uma série de outras estratégias como seleção, antecipação,
inferência e verificação, sem as quais não são possíveis rap idez e
proficiência. É o uso desses procedimentos que permite controlar
o que vai sendo lido, tomar decisões diante de dificuldades de
compreensão, arriscar-se diante do desconhecido, buscar no texto
a comprovação das suposições feitas etc. (BRASIL, 1997b, p. 41).
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s:
Q) Renovadas
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...
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Comportamentalismo Humanismo Cognitivismo Sociocultural
o Ao final do Ao final do período Quando acontece, é Dura nte todo Durante o período
"'"'Q)
V período letivo. letivo. Suas ações são no fina l do processo. o processo letivo e a vida.
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e. As notas são baseadas em reforços, educativo,
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..... reflexos da ta nto positivos inclu indo o
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V aquisição do quanto negativos, final.
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Exemplos
Veja, a seguir, exemplos de instrumentos avaliativos:
Fala e leitura
Fala
Não raro, no que diz respeito aos estudos linguísticos, a fala
é estudada em paralelo à escrita. Nesse sentido, podemos trazer à
tona quatro perspectivas para que possamos pensar essa questão.
A primeira se concentra no código, ou seja, em um sistema de
signos, como já aprendemos, e entende tanto a fala quanto a escri-
ta de for1na muito fechada e separada, evidenciando um precon-
ceito gritante, em que a fala configura o terreno caótico, repleto
de erros, e a escrita, por sua vez, quando pautada nas gramáticas
normativas, marca o uso correto da linguagem. Essa distinção ain-
da é muito praticada nas salas de aula e nos livros didáticos, que
estudam exclusivamente a língua escrita, ao passo que a fala é
apenas mencionada.
A segunda perspectiva tem influência das ciências sociais, por
isso os aspectos cultural e cognitivo cumprem um importante papel,
mas supõem que os povos com capacidade de cognição avançada,
considerados " cultos" e com domínio da escrita, são superiores aos
povos ágrafos , marcados especialmente pela oralidade, pela fala.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Estabelecimento
de objetivos
Seleção
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Verificação
Leia a seguir a posição do fi lósofo Renato Janine, então ministro da educação (abril a setembro de
2015), a respeito da educação brasileira.
speramos que a unidade tenha iluminado No tema "Aprender e ensinar na escola': entende-
A oratória
- - - - - - - Objetivos de aprendizagem
• Aprender o que é a fala e como ela é parte integrante da comunica-
ção e linguagem humana.
• Estudar o conceito de variação linguística e algumas possíveis práti-
cas pedagógicas para trabalhá-la em sala de aula.
• Assimilar a fonologia e suas diferentes visões ao longo de sua cons-
trução como ciência e também, especificamente, a fonologia do por-
tuguês.
Temas
• 1 - Como funciona a fala
A partir do pensamento de Saussure, vamos estudar o ato individual,
fisiológico, psíquico e social que origina a fala, atentando-nos ao
modo como ela dá vida à comunicação humana, desde conversas
informais até gêneros mais elaborados, por exemplo, as palestras,
seminários e debates.
• 2 - Variação linguística
A língua tem sua diversidade marcada pelo uso de seus falantes, que
variam conforme o tempo histórico, o lugar, o grupo social, o meio
(oral, escrito) e o estilo (formal, informal). Neste tema, vamos nos
envolver em tal universo multivalente e mostrar como o professor
pode desenvolver práticas para adotá-lo em suas aulas.
3 - Fonologia
Vamos aprender resumidamente dois dos mais importantes pontos
de vista - estruturalista e gerativista - que influenciaram a constru-
ção da fonologia como ciência para, então, nos determos na fonolo-
gia do português brasileiro.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Introdução - - - - - - - - - - - -
Nesta unidade, vamos entender como atitudes tomadas por instinto,
por exemplo o simples ato de pronunciar uma sílaba, são ações com-
plexas que envolvem partes do corpo e processos cerebrais avançados,
em um âmbito que poderíamos considerar interno, e influências do fa-
tor externo, por exemplo, o meio social em que vivemos.
O linguista suíço Ferdinand de Saussure foi, em grande medida, res-
ponsável pela autonomia da ciência linguística; por isso, a partir de
seus estudos pensaremos a origem da fala como uma interação fi-
siológica e psíquica individual e seu funcionamento na comunicação
social. Todos os dias, comunicamo-nos conosco mesmos e com todos
ao nosso redor, isso ocorre em conversas banais sobre o clima até ex-
posições orais que exigem todo o cuidado e elaboração, por exem-
plo, palestras, seminários e debates, gêneros que serão vistos em suas
especificidades.
Ao transmitir suas ideias por meio da linguagem (verbal ou não ver-
bal), o indivíduo expressa todo um conjunto de fatores (tempo his-
tórico, lugar, grupo social, meio e estilo) que influem diretamente na
maneira como ele o faz. Portanto, a subjetividade que define cada ser
humano também torna a língua e o uso por parte de seus falantes um
processo muito diverso. Tal fato traduz o conceito de variação linguís-
tica, que será tema de nosso estudo. Para além disso, veremos tam-
bém algumas possíveis práticas pedagógicas para o professor inserir
a variação em seus planos de aula e estar atento a essas nuances que
o aluno traz de seu universo particular para dentro da escola.
Finalmente, dedicaremos um tempo para aprender resumidamente
a visão estruturalista, que tem em Saussure seu maior expoente, e a
visão gerativista, representada por Noam Chomsky, como distintos
pontos de vista que contribuíram para a constituição da fonologia
como ciência. Em seguida, mostraremos as particularidades da fono-
logia aplicada ao português falado no Brasil.
A B
Saiba mais
A aprendizagem segundo Vygotski (1896-1934)
Esse processo, mediado por uma pessoa mais experiente, irá delimitar a zona
de desenvolvimento proximal (ZDP), que se caracteriza pela distância entre
o nível de desenvolvimento real (NDR) (o que a criança sabe realizar sozinha,
sem auxílio) e o nível de desenvolvimento potencial (NDP) (o que a criança
faz com a mediação de um adulto) (NOGUEIRA; LEAL 2013, p. 92-93).
Nesse sentido, o professor pode potencializar e disparar a aprendizagem dos
conceitos científicos por meio da cognição social e cultura l que o aluno ad-
qu iriu em seu território natal, diríamos. Em sua comunidade, no sentido mais
amplo do termo.
Exposição oral
A fala muito nos envolve com a exposição oral, ou seja, na ma-
neira como falamos em público e para um público. O professor, por
excelência, lida co1n essa prática todos os dias, explicando e expondo
oralmente os conteúdos programáticos de sua respectiva disciplina.
Também os gregos e os romanos, nos primórdios da civ ilização,
há mais de 2 mil anos, se preocupavam com a arte de falar em pú-
blico para informar, convencer, influenciar ou entreter os ouvintes.
A essa arte do bem falar denominamos oratória ou retórica.
A oratória) E
Entendamos por retórica a faculdade de descobrir de modo teórico
o que é adequado a cada caso com o intuito de persuadir. Esta não
é seguramente a função de nenhuma outra arte; pois cada uma das
outras apenas é instrutiva e persuasiva nas áreas da sua competên-
cia, por exemplo, a medicina sobre a saúde e a doença; a geometria
sobre as variações que afetam as grandezas; a aritmética sobre os
números. A retórica parece ter a fac uldade de descobrir os meios de
persuasão sobre qualquer questão dada. E por isso afi rmamos que,
como arte, suas regras não se aplicam a nenhum gênero específico
de coisas (ARISTÓTELES, 2005, p. 95-96).
Variação linguística
A língua portuguesa, falada por seus 244 milhões de usuá-
rios ao redor do mundo, é viva, dinâmica (FALANTES ... , 2013).
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
• O r retroflexo ("r caipira") nas zonas rurais de São Paulo, sul de Minas e do Paraná, em
Na pronúncia palavras como porta e verde.
• Os chiante dos cariocas, em palavras como festa e arroz.
Na morfologia
• A forma tu fazes (com concordância regular), usada em certas áreas de colonização
açoriana em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e em áreas urbanas do Maranhão
e
e do Pará. Ela se contrapõe à forma tu faz (com concordância irregular), usada em
na sintaxe
contextos informais em quase todo o país.
• A construção "sei, nãd' (em vez de "não sei"), comum no Nordeste.
No • As formas bergamota (região Sul), mexerica (São Paulo e Minas Gerais) e tangerina
vocabulário (Rio de Janeiro e resto do país) para designar a mesma fruta.
Oralidade Escrita
O momento de produção e o de recepção Há defasagem entre o momento de produção
do texto são simultâneos. e o de recepção.
É possível negociar o sentido com o O autor deve antecipar possíveis dúvidas
interlocutor e, também, corrigir-se. do leitor e trata r de esclarecê-las ainda no
momento de produção.
O texto é coconstruído: para comunica r- O autor produz o texto solitariamente e, depois,
se melhor, os interlocutores interagem o o leitor deve reconstruir seus significados
tempo todo, usando tanto a linguagem também sozinho.
verbal quanto a não verba l.
É impossível "voltar atrás" no que foi dito. É possível revisar o texto quantas vezes for
necessário.
O processo de produção é transparente: o O processo de produção fica oculto: o leitor
interlocutor "vê" seus erros e correções. tem acesso apenas ao texto final.
É impossível consultar outras fontes É possível consultar outras fontes e checar as
durante a produção. informações.
O planejamento é local: enquanto está O planejamento é global: a pessoa planeja o
falando uma frase, a pessoa pensa na texto como um todo e, caso se desvie do plano
próxima. inicial, pode aceitar a nova ordem ou voltar atrás.
Tende a haver maior tolerância a erros e, Tende a haver maior cobrança e, portanto, ma is
portanto, mais informalidade. formalidade.
A obediência à norma padrão costuma ser A norma padrão costuma ser seguida com mais
menos rígida. Por exemplo: as marcas de rigor, até porque é possível revisa r o texto.
plural às vezes desaparecem.
Predomínio de frases curtas e simples: "Para a primeira aula, está prevista uma revisão
"Bom dia, pessoal! Hoje a gente vai dar uma dos fundamentos de cálculo, a começar
recordada na equação de segundo grau. pela equação de segundo grau. Os alunos
Vamos abrir o livro na página 10 que eu resolverão uma série de problemas em sala, sob
já explico''. Predomínio de frases longas e a supervisão do professor'.'
complexas.
Predomínio da voz ativa e da ordem direta: Uso frequente da voz passiva e da ordem indireta:
"Vamos revisar os fundamentos de cálculo". "Serão revisados os fundamentos de cálculo''.
Abundância de "frases quebradas" Maior linearidade na composição das frases:
(a nacolutos): "Essas optativas, precisa fazer o "Para inscrever-se nas disciplinas optativas, é
pré-requisito primeiro''. preciso ter cumprido os pré-req uisitos''.
Menos formal
Fonte: Bowen (apud TRAVAGLIA, 2002, p. 54).
Proposta I
Com o intuito de provocar a reflexão diacrônica, é possível
apresentar algum texto do português arcaico para que o aluno pos-
sa ver mais claramente a evolução histórica da língua, fazendo
também um esforço de adaptação ao português contemporâneo
pelo aluno. Como exemplo, selecionamos uma cantiga de amor
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Proposta li
O texto a seguir é de autoria de José de Souza Martins, pro-
fessor aposentado do departamento de sociologia da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo e fala sobre o nheengatu, a primeira língua nacional do Bra-
sil, hoje praticamente extinta.
O nheengatu, também conhecido como língua geral, é a verdadei-
ra língua nacional brasileira. O nheengatu foi língua desenvolvida
pelos jesuítas nos séculos XVI e XVII, com base no vocabu lário e na
pronúncia tupi, que era a língua das tribos da costa, tendo como
referência a gramát ica da língua portuguesa, enriquecida com
palavras portuguesas e espanholas. A líng ua geral foi usada corren-
temente pelos brasileiros de origem ibérica, como língua de con-
versação cotid iana, até o século XVIII, quando foi proibida pelo rei
de Portugal. Mesmo assim, continuou sendo falada. Da língua ge-
ral, ficou como remanescente o dialeto caipira, tema de dicionário
e objeto de estudos linguísticos até recentes. Sobraram pronúncias
da língua tupi, reduções e adaptações da língua portuguesa. Um
jesuíta, no século XVI, já observara que os índios da costa t inham
grande dificuldade para pronunciar letras como o "ele" e o "erre''.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Inteligência linguística
A linguage1n, inerente ao ser humano, dispara e potencializa
o desenvolvimento e a formação dos indivíduos, e os primeiros
propósitos comunicativos são exemplos disso. Desde o olhar de
um bebê atento a tudo o que o cerca até a boa desenvoltura quanto
à comunicação quando adulto, a inteligência linguística estimula
e exercita as habilidades humanas no campo da língua e de seu
uso e1n todos os âmbitos e fases da vida. De acordo com Meyer
(2012), essa questão é entendida mais detalhadamente
Fonologia
Para entender a fonologia, vale retomar o pensamento de Saussure
(2006, p. 21 ), visto no início desta unidade, a respeito da língua como
A oratória) E
[...] um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíd u-
os pertencentes à mesma comun idade, um sistema gramatical que
existe virtualmente em cada cérebro o u, mais exatamente, nos cére-
bros de um conj unto de indivíd uos, pois a língua não está comp leta
em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo.
Visão estruturalista
Para as correntes estruturalistas, o elemento sonoro prevale-
cia sobre os demais (morfológico ou sintático) e, mais uma vez,
retomamos nosso Ferdinand de Saussure, pois essa vertente da
fonologia alicerça suas bases a partir das contribuições publicadas
na obra Curso de linguística geral, em 1916. Em poucas palavras,
pode1nos dizer que a fonética tem como foco a fala e a fonologia,
a língua, separando, assim, essas duas ciências, por conta de seus
diferentes objetos de estudo.
Saussure considera a língua um sistema de signos linguísticos
que são entidades psíquicas de duas faces : um conceito e uma
imagem acústica. Foi essa ideia de sistema, de estrutura, que deu
base ao estruturalismo linguístico.
Saiba mais
Um signo é uma entidade formada por uma parte material, o significante; e
uma parte imaterial, o significado. Por exemplo, quando penso em uma jane-
la, é impossível "pegar" meu pensamento: o significado de janela em minha
cabeça é imaterial. Porém, posso torná-lo real por meio de um significante - a
palavra janela que se materializa em letras, na escrita; e em sons, na fala.
Visão gerativista
O nome mais relevante para essa perspectiva é N oam Chomsky :
linguista, filósofo, ativista político norte-americano e professor de
linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Aqui, di-
ferentemente dos estruturalistas, que se limitavam à descrição, os
gerativistas descrevem e explicam os dados linguísticos. Nesse
sentido, Cho1nsky evidencia uma nova dicotomia, fundamentada
na oposição entre o conhecimento de uma pessoa sobre as regras
de sua língua, fato denominado competência, e o uso efetivo dessa
língua, ou seja, o desempenho. Por isso, para esse grupo o compo-
nente sintático, que está no campo da competência, tem primazia
para a explicação dos dados (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-
-VOLCÃO, 2015, p. 97).
A partir dessa dicotomia, percebem-se maiores possibilidades
de uso da língua, pois o conceito de competência é utilizado para
explicar de que modo os falantes têm a faculdade de criar e reco-
nhecer enunciados que nunca falaram ou ouviram.
A fonologia é, então, um módulo da gramática e as regras feno-
lógicas geram ou transformam as formas subjacentes ( do domínio
da competência) em formas de superfície (do domínio do desem-
penho). A noção de que fonemas, de acordo com Seara, Nunes e
Lazzarotto-Volcão (2015, p. 100), não mais pensados como unida-
des mínimas, mas como traços distintivos que opõem as palavras
entre si e são identificados a partir da representação das capacida-
des fonéticas gerais do ser humano, sem considerar nenhuma língua
específica.
Todos esses modelos estudam a organização da cadeia sonora
da fala. Mas o que vem a ser isso? Todos nós, falantes do portu-
g uês brasileiro, temos uma intuição de como os sons da nossa
fala se organizam, e essa intuição é geralmente colocada em
uso de maneira mais explícita, por exemplo, quando emprega-
mos uma palavra estrangeira em nosso dia a d ia sem conhe-
cimento explícito dessa língua estrangeira. Vejamos a palavra
skate, q ue vem do inglês e que apresenta uma estrutura so-
nora que não é própria do portug uês brasileiro, formada pelo
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Sons
foneticamente Contrastes fonológicos
semelhantes
p/b pata ['pate] bata ['batel
t/d tela ['tele] dela ['dele]
k/g cala ['kale] gala ['gale]
dld3 tique ['tÍik1] dique ['d3ik1]
f/v fossa ['fose] vossa ['vose]
J/3 chato ['fato] jato ['jato]
t/s taco ['tako] saco ['sako]
diz dona ['done] zona ['3one]
J;tJ chique ['Jik1] tique ['tik1]
3id3 giz ['3is] diz ['d3is]
s/ J caço ['kaso] cacho ['kaJo]
Baixa a
Fonte: Engelbert (2012, p. 87).
lábio-
bilabial dental alveolar pós-alveolar retrofl exa palatal velar uvular faringa! glotal
-dental
Oclusiva p b t d t ct. c J k g q G 71
1
Nasal m 11] n rt J1 1) N
Vibrante B r R
Tepe(ou f t
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Fricativa <!) p f V 9 õ s z f 3 ~ ~ ç J X y X I{ n ç h fi
Fricat. l 13
lateral
\) .I ·l j U[
Aproxi-
mante
Aprox. 1 l Á. L
lateral
Em pares de símbolos tem-se q ue o símbolo da d ireita representa uma consoa nte vozeada. Acredita-se serem
impossíveis as articulações nas áreas sombreadas.
Meia-fechada 0 --- r o
(ou média-alta)
Meia-aberta
(ou média-baixa)
Quando os símbolos aparecem em pares, aquele da direita representa uma vogal arredondada.
Diacríticos Pode-se colocar um diacrítico acima de símbolos cuja representação seja prolongada na
parte inferior, por exemplo Ij.
Outros símbolos
1. Como se constitui o circuito da fala para o em sala de aula e demonstrar que todas
pensamento de Saussure e qual sua impor- possuem uma gramática legítima.
tância para a língua de uma comunidade? b. A afirmativa é falsa. Valorizar as variantes
2. Quais os fatores que marcam a diversidade não significa negar ao aluno o direito ao
do uso da língua na oralidade e na escrita? acesso à variante-padrão da língua e o
3. Para falar em público, ou seja, expor oralmen- aprendizado da adequação da linguagem
te algum tema, qual o passo fundamental? nos diferentes contextos.
4. Como deve um professor trabalhar com ava- e. A afirmativa é falsa. Os professores preci-
riação linguística na sala de aula? sam conhecer uma nova concepção, mas
s. Análise a afirmação a seguir e assinale a alter- esta não tem reflexos claros na prática pe-
nativa correta: Mudar a concepção de língua dagógica.
como uma entidade abstrata para a concep- d. A afirmativa é verdadeira. A concepção de
ção de língua como um produto sócio-histó- língua como produto sócio-histórico pres-
rico implica não ensinar a variante-padrão da supõe que o objetivo da escola é ensinar
língua na sala de aula. a língua portuguesa a pessoas que não
a. A afirmativa é verdadeira. Os professores sabem o idioma.
devem valorizar as variantes dos alunos Fonte: (exercício 5) Lima (2014, p. 171-172).
fosse muito importante para o país oriental, o primei- "Nossa abordagem do idioma é mais tradicional,
ro curso do idioma criado no Japão foi mais voltado voltada a ensinar o aluno a não só ler em portu-
para o português de Portugal. Entretanto, a iniciativa guês, mas também a se comunicar com os brasilei-
teve o importante papel de pelo menos garantir que ros e ter alguma fluência no idioma que representa
o ensino de português fosse mantido oficialmente um grande desafio. É muito difícil para os alunos
no sistema educacional japonês. dominarem a língua portuguesa''. afirmou Kono.
Só em 1964 a Universidade Sophia de Tóquio, uma
instituição particular, criou um departamento de Obstáculos para a aprendizagem
Kono ingressou em 1967 e iniciou seus estudos do De acordo com o pesquisador, alguns dos maiores
idioma falado no Brasil. No mesmo ano, a Univer- obstáculos para os japoneses aprenderem portu-
sidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto também guês são inerentes à própria dificuldade que têm
estabeleceu um Departamento de Estudos Luso- em aprender línguas estrangeiras, de forma geral,
-Brasileiros para ensinar português. consequente à falta de semelhanças do idioma ja-
Já em 1979 também foi fundado um curso de por- ponês com outras línguas.
tuguês falado no Brasil na Universidade de Estudos Ao contrário das línguas românicas, como portu-
Estrangeiros de Osaka, que, em outubro de 2007, guês, espanhol, italiano, francês e o romeno, que
passou a ser uma faculdade da Universidade de têm afinidades entre si que facilitam o ensino e a
Osaka, para a qual Kono foi o primeiro professor aprendizagem, ainda não se sabe exatamente qual
contratado. a raiz e a origem do idioma japonês.
Na década de 1990 - que marca a terceira etapa do Uma das hipóteses levantadas por Kono é que a
contato dos japoneses com a língua portuguesa, língua japonesa - que é extremamente peculiar e
quando o Japão mudou sua política de imigração não tem distinção fonética entre as letras L e R, por
e muitos brasileiros foram trabalhar no país -, a exemplo - seja resultado do cruzamento de várias
Universidade de Tenri também criou um curso de línguas, como o pidgin e o crioulo.
português. Porém, o curso foi abolido em 201 O. "As "Gramaticalmente, a língua coreana é a mais próxima
universidades japonesas, especialmente as particu- do japonês, mas a fonologia e o léxico são diferentes.
lares, estão cortando cursos, que não só os de por- Então, nesse sentido somos 'órfãos' em relação à filia-
tuguês, em função da diminuição da população do ção a famílias linguísticas e para dominarmos qual-
país nos últimos anos''. quer língua, especialmente as ocidentais, é preciso ter
Segundo ainda Akira Kono, o corpo docente que garra, perseverança e nos esforçarmos muitd'.
ensina português no Japão é composto, em sua Outra barreira para ensinar e aprender a língua portu-
maioria, por professores japoneses, graduados em guesa, segundo o pesquisador, é o fato de esta dividir
português por uma das quatro universidades que entre o português europeu e o brasileiro, que tem em
oferecem cursos voltados do idioma. Mas nem alguns aspectos suas próprias normas gramaticais.
todos são especialistas no ensino de português No português falado em Portugal, por exemplo, de
como língua estrangeira. acordo com Kono, ainda se ensinam as seis formas
A oratória) E
verbais (eu, tu, ele, nós, vós e eles), ao passo que no Outro problema para ensinar o português do Brasil
Brasil elas estão sendo reduzidas para quatro, com no Japão, de acordo com ele, é o desconhecimen-
o desaparecimento do pronome tu e a substitui- to sobre aspectos culturais, políticos, geográficos
ção de nós por"gente" ou "a gente". e históricos do país, que é, em parte, compensa-
"Estou mu ito sensibilizado e pretendo escrever um do pelo envio de estudantes japoneses ao Brasil
artigo sobre essa mudança radical e a simplificação para conhecer a rea lidade brasileira, pela leitura
do paradigma de pronomes na língua portuguesa de livros e audição de músicas de compositores
no Brasil, com a expansão cada vez maior do uso brasileiros.
de 'a gente' ou 'gente' em vez de nós, substituindo o "Eu me apaixonei pela língua portuguesa e
verbo na terceira pessoa, que está fazendo com que aprendi várias expressões ouvindo música popu-
o uso do sujeito seja mais frequente'; disse Kono. lar brasileira de compositores como Noel Rosa,
'~á havia reparado antes nessas mudanças por Chico Buarque e Caetano Veloso. Esse é um ótimo
meio de trabalhos publicados por linguistas brasi- método que eu adoto em sala de aula'; disse o
leiros, mas estou percebendo, por meio da leitura pesquisador, que se interessou em aprender por-
de jornais e de outras publicações do Brasil dispo- tuguês ao ouvir no rádio ainda criança a versão
níveis na Internet, que esses fenômenos, até então em inglês de Garota de Ipanema, de Vinícius de
mais observados na linguagem falada, estão pene- Moraes e Tom Jobim, cantada por Frank Sinatra.
trando cada vez mais na linguagem escrita''. Con-
Fonte: Alisson (2012).
tudo, ele ava lia que essas mudanças são positivas,
fazem parte do processo natural de evolução de Exercício
qualquer língua que é um mecanismo dinâmico e
está em constante mutação, e já ocorreram fenô- A imigração japonesa, de modo mais restrito,
menos semelhantes com outros idiomas, como o mas não menos importante, também aportou
inglês e o francês. elementos culturais para a formação da diversi-
Já a recente reforma ortográfica da língua portu- dade que caracteriza o Brasil, e a língua é parte
guesa, que aboliu, por exemplo, o uso do trema potencial desse movimento. Nas falas do profes-
em algumas pa lavras, segundo Kono, prejudicou o sor Akira Kono, podem-se observar muitas ques-
ensino e a aprendizagem do idioma por estudan- tões sobre ensino e aprend izagem de língua
tes estrangeiros. portuguesa, suas dificuldades e práticas, além
"A retirada do trema de palavras como'frequente'e de traços de variação linguística. Quais seriam,
'cinquenta'fez com que nossos alunos acabassem na sua opinião, essas questões abordadas no
pronunciando expressões de forma errada. Essa texto supracitado?
reforma ortográfica não teve muito cabimento':
avaliou.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
aussure distingue língua e fala, definindo melhor, à região onde o falante nasceu ou mora;
a primeira como um sistema geral, abstra- a variação diastrática, marcada pelo grupo social
to, sistemático, usado por toda uma co- a que pertence o falante e também pelo nível de
munidade; e a segunda como as manifestações escolaridade, pelo sexo, pela faixa etária, pela pro-
concretas, individuais, assistemáticas da utiliza- fissão; a variação diamésica, que ocorre no meio
ção desse sistema. Apesar desse caráter assis- pelo qual se dá a comunicação, oral ou escrito; e a
temático, observamos que para a comunicação variação diafásica, relacionada ao estilo, ao modo
cotidiana, especialmente em atos de exposição de falar, mais formal ou informal a depender da
oral, nos quais se transmite conhecimento, o ser circunstância da fala. Para completar esse tema,
humano pode usar de recursos retóricos, pes- apresentamos três práticas que os professores
quisa e planejamento para transmitir sua ideia podem adaptar à própria realidade escolar para
ao mundo com cuidado, de modo que ela seja trabalhar com os alunos o conceito de variação
potente e eficaz. linguística, especialmente a partir de um texto
Nesse sentido, aprendemos que as palestras são mais arcaico, a "Cantiga da Ribeirinha"; de outro
adotadas em um contexto profissional com uso que fala sobre o nheengatu, língua indígena con-
menos formal da linguagem. As conferências mar- siderada por muitos estudiosos como a I íngua
cam o ambiente acadêmico ou científico e são original do Brasil; e a canção "Velhos amigos·: do
mais formais. Os seminários, nas escolas e univer- Emicida.
sidades, podem ser traduzidos como uma "aula" Dedicamos o último tema ao estudo da fonolo-
pensada e transmitida por um ou mais alunos a gia, que nos oferece caminhos mais científicos
sua turma; fora dessas instituições, assumem o e seguros para entendermos algo que, muitas
significado de exposições seguidas de discussão. E vezes, realizamos de modo instintivo, a saber: a
nos debates, dois (ou mais) debatedores apresen- compreensão de quais sons e combinações "po-
tam visões conflitantes sobre determinado tema demos" ou "não podemos" produzir em determi-
para uma plateia, que também pode participar. nadas línguas. Estudamos a visão estruturalista,
Esses distintos usos da oralidade, ou melhor, da defendida por Saussure, para a qual o elemento
fala, nos remetem ao conceito de variação lin- sonoro prevalecia sobre os demais (morfológico
guística marcada justamente pela diversidade de ou sintático), e a visão gerativista, representada
apropriações que fazemos da língua, tornando por Noam Chomsky, que evidencia a oposição
esta dinâmica e viva. Estudamos, então, a varia- entre o conhecimento de uma pessoa sobre as
ção diacrônica que se dá ao longo do tempo, regras de sua língua, competência, e o uso efe-
extremamente notável em textos escritos do pas- tivo dessa língua, desempenho, de modo que o
sado; a variação diatópica, relacionada a lugar, ou componente sintático, presente no campo da
A oratória) E
competência, tem primazia para a expl icação par mínimo, par análogo, par suspeito, alofo-
dos dados linguísticos. Finalmente, mostramos ne, distribuição complementa r e apresentando
as particularidades da fonologia aplicada ao quadros descritivos da análi se fonológica do
português falado no Brasil, distinguindo fonema, português.
UNIDADE
A leitura e a escrita
- - - - - - - Objetivos de aprendizagem
Estudar o conceito de letramento e de gêneros textuais e descobrir
como ambos se relacionam com a leitura.
Aprender os procedimentos didáticos que tornam a leitura um ato
eficaz e potente de conhecimento e criação.
Assimilar a escrita por meio dos elementos que estruturam o texto -
frase, parágrafo e o texto como um todo.
Conhecer a textualidade e como seu domínio é vital para o enten-
dimento reflexivo e crítico de um conteúdo lido e da construção de
um texto inédito.
Temas
1 - Tipos de leitura
A leitura implica a formação de um leitor curioso por natureza, por-
tanto, a questão do letramento é um dos primeiros passos nesse
sentido e pode ser mediado pelos gêneros textuais, que facilitam
a apropriação dos usos da língua e, logo, diferentes aprendizagens.
2 - A leitura na escola
Ao praticar a leitura, o aluno está construindo conhecimentos, bus-
cando o saber; alguns passos contribuem para esse processo, como
localização, seleção e utilização de informações, aos quais vamos nos
dedicar neste tema.
3-A escrita
Vamos ver que a escrita transforma a fala e nossos conhecimentos, por
isso aprenderemos os aspectos mínimos que constituem um texto -
a frase, o parágrafo e o texto como um todo-, afinal a boa escrita é
muito mais do que uma sequência de frases coerentes.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
4 - O ato de escrever
Veremos como o ato de escrever é uma atividade que deman-
da um acúmulo de experiências e um esforço para aprender a
aprender sempre mais, a cada leitura e a cada vivência indivi-
dual e coletiva.
Introdução - - - - - - - - - - - -
Para entendermos o papel da leitura na formação do aluno-leitor, es-
tudaremos o letramento que, muito mais do que uma habilidade de
codificação e decodificação, envolve também interpretação e compre-
ensão. Nesse sentido, dedicaremos algumas páginas para corroborar
como o conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de
diferentes tipos de material escrito pode ser mediado pelos gêneros tex-
tuais. Veremos algumas práticas pedagógicas a eles associadas e, final-
mente, mencionaremos algumas questões sobre os materiais didáticos.
As práticas de leitura podem acontecer em diversos lugares, educa-
cionais ou privados, mas sempre evidenciam nossa ânsia pela cons-
trução de conhecimentos, pela busca do saber. Nesse movimento,
veremos que o leitor é independente e autônomo, mas, para isso,
precisa aprender alguns procedimentos, como localizar e selecio-
nar fontes de cons ulta por conta própria. Aqui, você vai conhecer as
principais estratégias para tornar esse processo mais fácil e dinâmico.
Juntos, vamos estruturar uma matriz de leitura, que poderá ser trans-
mitida aos alunos, na sala de aula, de forma eficaz e potente.
O texto não é apenas uma concatenação de palavras e frases escritas. Ele
também deve apresentar coesão, coerência e adequação ao contexto,
entre outros atributos. Vamos retomar as aulas de português e aprender
essas questões mais gramaticais e linguísticas que marcam a escrita.
Finalmente, retomaremos os fatores linguísticos (coesão e coerência)
e fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionali-
dade, informatividade e intertextualidade) que conferem textualidade
a um texto, aos quais devemos estar atentos no ato de escrita.
Tipos de leitura
Como vimos na primeira unidade deste livro, a modo de
introdução, a leitura constitui um processo por meio do qual
o leitor realiza um trabalho ativo de construção e reconstrução
A leitura e a escrita) E
do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhe-
cimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre
a língua, por exemplo, características do gênero e do sistema de
escrita etc. Não se trata simplesmente de extrair infonnação, ten-
tando dar sentido a cada letra e palavra, mas de Uina atividade que
implica co1npreensão.
Nesse sentido, conforme ressaltam os Parâmetros Curriculares
Nacion ais (BRASIL, 1997b, p. 41), o ensino de língua portuguesa
deve "valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso
aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição es-
tética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função
de diferentes objetiv os".
No entanto, v alorizar a leitura não se resu1ne a pedir aos alunos
que leiam um texto, uma vez que a aquisição dessa habili dade não
se dá deforma natural, seu domínio exige ensino e aprendizagem,
inicia-se na família, potencializa-se na escola e aprofunda-se ao
longo da vida do suJeito. O percurso da aprendizagem da leitura
deve considerar a fluência, qu e implica
[. ..] rapidez de decifração, precisão e eficiência na extração do sig-
nificado do material lido. Essa flu ência exige que o leitor seja ca -
paz de canalizar a capacidade de atenção para a compreensão do
texto, fazendo uso, por exemplo, das estratégias de leitura que es-
tudamos anteriormente (SIM-SIM; DUARTE; FERRAZ, 1997, p. 27).
Saiba mais
Letramento
Textos literários ficcionais São textos voltados para a narrativa de fatos e episódios
do mundo imaginário (não real). Entre estes, podemos
destacar: contos, lendas, fábulas, crônicas, obras teatrais,
novelas e causos.
Textos do patrimônio oral, poemas e Os textos do patrimônio oral, logo que são produzidos,
letras de músicas têm autoria, mas, depois, sem um registo escrito, tornam-se
anônimos, passando a ser patrimônio das comunidades.
São exemplos: trava-línguas, parlendas, quadrinhas,
adivinhas e provérbios. Também fazem parte deste
agrupamento os poemas e as letras de músicas.
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Textos com a finalidade de registrar e Tais textos analisam e narram situações vivenciadas pelas
analisar as ações humanas individuais sociedades, tais como biografias, testemunhos orais e
e coletivas e contribuir para que as escritos, obras historiográficas e noticiários.
experiências sejam guardadas na
memória das pessoas
Textos com a finalidade de construir São textos mais expositivos que socializam informações,
e fazer circular entre as pessoas o por exemplo, notas de enciclopédia, verbetes de
conhecimento escolar/científico dicionário, seminários orais, textos didáticos, relatos de
experiências científicas e textos de divulgação científica.
Textos com a finalidade de debater temas Com base neste agrupamento, os sujeitos exercitam suas
que suscitam pontos de vista diferentes, capacidades argumentativas. Cartas de reclamação, cartas
buscando o convencimento do outro de leitores, artigos de opinião, editoriais, debates regrados
e reportagens são exemplos de textos com tais finalidades.
Textos com a finalidade de divulgar Também aqui a persuasão está presente, mas com a
produtos e/ou serviços - e promover finalidade de fazer o outro adquirir produtos e/ou serviços
campanhas educativas no setor da ou mudar determinados comportamentos. São exemplos:
publicidade cartazes educativos, anúncios publicitários, placas e faixas.
Textos com a finalidade de orientar São os chamados textos instrucionais, tais como receitas,
e prescrever formas de realizar manuais de uso de eletrodomésticos, instruções de jogos,
atividades diversas ou formas de agir em instruções de montagem e regulamentos.
determinados eventos
Textos com a finalidade de orientar São eles: agendas, cronogramas, calendários, quadros de
a organização do tempo e do espaço horários, folhinhas e mapas.
nas atividades individuais e coletivas
necessárias à vida em sociedade
Textos com a finalidade de mediar as São textos que fazem parte, principalmente, dos espaços
ações institucionais de trabalho: requerimentos, formulários, ofícios, currículos
e avisos.
Textos epistolares utilizados para as mais Cartas pessoais, bilhetes, e-mails, telegramas medeiam as
diversas finalidades relações entre as pessoas em diferentes tipos de situações
de interação.
Textos não verbais Os textos que não veiculam a linguagem verbal, escrita,
tendo, portanto, foco na linguagem não verbal, tais
como histórias em quadrinhos apenas com imagens,
charges, pinturas, esculturas e algumas placas de trânsito
compõem tal agrupamento.
Fonte: Bra si 1(201 2. p. 8-9).
A leitura e a escrita) E
Para o ensino infantil, por exemplo, temos a figura do conta-
dor de histórias, que é muito importante para garantir à criança
a vivência enriquecedora de experimentações sensório-motoras.
Já para o ensino fundamental e médio, um caminho bastante
contemporâneo pode ser buscado na atuação dos rappers, que
também são contadores críticos de histórias. Suas canções nar-
ram fatos, costumes do dia a dia brasileiro, mas com o viés da
justiça social, política, econômica e cultural.
Quanto aos gêneros, em virtude da ênfase na oralidade, são
recomendadas às crianças pré-leitoras a musicalidade e a sonori-
dade das palavras, proporcionando o contato com estruturas po-
éticas e narrativas que se repetem, por exe1nplo, nas cantigas de
roda. São estruturas fáceis para a 1ne1nória e para a reprodução em
outros contextos linguísticos.
Citamos ainda a teatralização das brincadeiras, que dá conta
da vivência com os gêneros presentes no cotidiano dos alunos
e que são naturalmente registrados. O importante, nesse caso,
é estar atento ao relato dos alunos, para que situações possam
ser aproveitas e elaboradas nas brincadeiras e histórias contadas
a eles. Obviamente, o teatro é uma atividade multipotente, que
pode e deve ser usada para todas as idades, do ensino infantil ao
médio .
De acordo com Fernandes e Paula (2012), quando a criança já
foi apresentada à escrita alfabética, ela também é instigada à lei-
tura para extrair significados, estabelecer sentidos entre o código
e seu mundo particular. A opção por ultrapassar as fronteiras dos
contos de fadas e fábulas por meio de textos mais desafiadores
que elas mesmas consigam ler traz à tona o saudáv el desafio da
independência. Nas séries finais do ensino fundamental,
[...] já podemos ter em vista a formação do leitor silencioso, alter-
nado leitura coletiva e individual na sala de aula. Principalmente se
considerarmos o estilo de vida contemporâneo, é importante ter
a sala de aula como um espaço de leitura - simplesmente leitura,
desprovida de avaliações ou debates. É o início da formação do
hábito de leitura . Podemos começar com pouco tempo, e é uma
ótima oportunidade para t raba lhar com a diversidade de gêneros,
disponibilizando aos alunos uma gama de possibilidades para que
escolham o que será lido por eles, sozinhos (FERNANDES; PAULA,
2012, p. 62).
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Exemplo
Para os alunos do ensino médio, o professor pode propor a criação de um
cartaz publicitário a partir de uma pintura ou obra famosa, explorando a in-
tertextualidade. Esse tipo de atividade desperta no aprendiz a capacidade de
buscar referências outras, expandir o conceito que ora se estuda por meio
de relações com outros gêneros textuais ou, no caso desse exemplo, visuais.
Também é uma forma de retomar as leituras, as experiências culturais e ex-
pressá-las intertextual e intervisualmente. Observe a Figura 3.1 .
A leitura na escola
As práticas de leitura podem se realizar em um ambiente edu-
cacional convencional, como a escola ou a faculdade, ou em outros
A leitura e a escrita) E
contextos, como o trabalho e o ambiente privado de nossas casas.
Em todas elas, no entanto, a finalidade é, principalmente, a constru-
ção de conhecimentos, a busca pelo saber.
Nessa construção e busca, o leitor tem muita autono1nia, mas,
para isso, precisa aprender a localizar e selecionar fontes de consulta
por conta própria, precisa " aprender a aprender" sozinho. Aqui, você
vai conhecer as principais estratégias para tomar esse processo mais
fácil e dinâmico, descobrindo as fontes de consulta mais adequadas
a cada situação, selecionando-as de maneira criteriosa, identificando
os pontos-chave do texto lido e, finalmente, utilizando-os para seu
estudo ou como subsídio para a produção de outros textos. Vamos,
juntos, construir uma matriz de leitura, que poderá ser transmitida
aos alunos, na sala de aula, de f onna eficaz e potente.
Todos os dias, pessoas das mais diferentes idades e f armações,
com as mais variadas finalidades, buscam informações em textos
impressos e na Internet. Quem, ao menos uma vez ao dia, não usa
o Google para pesquisar algo ?
Essa busca de informações pode parecer simples, mas implica
atitudes intelectuais. A era da Internet fez e faz essas atitudes serem
automáticas e, na maioria das vezes, inconscientes, mas conhecê-
-las contribui enormemente para nosso propósito de ensinar e de
educar para a leitura. De acordo com Guimarães (2012, p. 171 ),
[...] há décadas, a biblioteconomia e a ciência da informação estu-
dam como as pessoas buscam informações e como esse processo
pode ser melhorado. Com base em tais estudos, os pesquisadores
dessas áreas desenvolveram o conceito de letramento ou alfabe-
tização informacional.
Localizar Selecionar
Utilizar informações
informações .. informações ..
com precisão e criatividade
com eficiência de maneira criteriosa
• O que é literatura?
• Qual o histórico da literatura brasileira?
• Em que contexto histórico e literário podemos estudar Gui-
marães Rosa?
• Quais suas principais obras?
• Sobre o que é a literatura desse escritor mineiro?
• Como a crítica e o público receberam, e continuam ainda hoje
recebendo, sua obra?
Com base nessa lista de perguntas, você pode imaginar quais
seriam as fontes mais adequadas: uma biblioteca, alguma univer-
sidade que tenha especialistas em Guimarães Rosa, algum museu
dedicado a ele, livros específicos sobre literatura brasileira e sobre o
autor etc. Na Internet, o universo se torna vasto e, ao mesmo tempo,
perigoso, pois nos coloca diante de todo tipo de texto. Por isso, são
reco1nendados sites oficiais de instituições, como o do Instituto de
Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, do Museu da
Língua Portuguesa e de várias universidades públicas brasileiras,
uma vez que têm bastante credibilidade.
Exemplo
Vai ficar mais fácil entender a diferença analisando um exemplo. Leia este
fragmento de uma reportagem publicada na Agência Brasil:
Criação/
Construção descoberta -
-criação de duebra de
Reconstrução vanguarda paradigma
-mest rado e
doutorado
Interpretação
própria-
paráfrase
Interpretação
reprodutiva -
cópia benfeita
Mediação editorial
Essa matriz de leitura que traçamos - localização, seleção e
utilização de informações - pode realmente ser aplicada como um
roteiro, não somente na escola, mas também em diversos âmbitos
profissionais, inclusive, no editorial, em que a leitura se faz todos
os dias, em todas as horas.
Você sabe como se produz um livro? De acordo com Guimarães
(2012, p. 178-180), os processos editoriais podem variar quanto
ao grau de complexidade, mas, em geral, envolvem as seguintes
etapas:
• Primeiro, os originais são analisados pela editora. Como pro-
d uzir um livro custa dinheiro, a editora não investirá no lan-
çamento de uma obra se não tiver a expectativa de que ela
será bem receb ida pelo público.
• Caso os originais sejam aprovados, seguem para as mãos de
um editor. Ele analisará aspectos macroestruturais da obra,
tais como a adequação ao público-alvo, a distribuição do
conteúdo pelos capítulos, a eventual ausência de tópicos
importantes (cuja inclusão será solicitada ao autor) ou apre-
sença de tóp icos dispensáveis (que podem ser eliminados),
entre outros itens.
• Depois dessas transformações de maior porte, o material
segue para um preparador ou copidesque. Essa pessoa me-
lhorará as construções frasais, esclarecerá trechos obscuros,
A leitura e a escrita) E
zelará pela padronização - enfim, cuidará de todos os de-
talhes para que o material chegue com a maior qualidade
possível às mãos do leitor.
• Finalmente, depois de diagramado, o livro vai para um revi-
sor, que fará uma verificação final, a fi m de pegar erros (inclu-
sive gramaticais ou de digitação) que tenham passado pelas
outras etapas.
A produção de um livro é, por definição, u1n trabalho coletivo.
Entre o autor e o leitor, existe toda uma camada de agentes que
executam a denominada mediação e produção editorial.
Mas, pensando em tempos de Internet, espaço onde qualquer
um pode publicar seu livro, editado na forma de um e-book ou
simplesmente na forma de posts em um blog, por exemplo, ,
pode-
mos questionar o papel mediador das editoras, não ? E bem pos-
sível que algumas dessas "produções independentes" tenham um
alto nível de qualidade. No entanto, será que textos assim, que
não passaram pela mediação editorial, são boas fontes de consulta
para estudo ou para as informações e citações necessárias à prepa-
ração de outros textos? Essa pergunta nos leva de volta ao assunto
central do presente tópico : a seleção das informações.
Os textos que não passaram por uma mediação editorial (como
artigos publicados em blogs e páginas pessoais) não são "proibi-
dos" - eles podem ser consultados livremente e, co1n frequência,
trazem informações relevantes e originais. Mas não podem cons-
tituir a única fonte de consulta, muito menos ser citados em um
texto acadêmico, como uma monografia. Por quê? Porque, justa-
mente por não terem passado por uma mediação, essas fontes não
foram validadas.
Mesmo com todas suas falhas , o processo editorial continua
sendo a melhor maneira de garantir a qualidade de um texto es-
crito. Afinal, participa desse processo uma série de profissionais
especializados que empregam suas diversas expertises para corri-
gir e aprimorar os originais. Se, mesmo com essa intermediação,
os livros impressos pelos meios convencionais já saem com erros,
imagine sem ela!
Resumos
- 1
- 1
Críticos
Descritivos
(resenhas)
- - -
- Esquemáticos
-
- -
Lineares
Ficou para trás aquela história de que só as mulheres têm Ficou para trás aquela história de que só as
seu ritual de beleza diário. Como os homens estão cada mulheres têm seu ritual de beleza diário.
vez mais preocupados com a aparência, investem tanto Hoje, os homens investem tanto quanto
quanto elas em tratamentos estéticos e produtos que elas em tratamentos estéticos e produtos
melhoram a apresentação pessoa l. que melhoram a apresentação pessoal.
Fonte: Guimarães (2012, p. 190).
A leitura e a escrita) E
A seleção é muito semelhante à do cancelamento: a única di-
ferença é que as informações eliminadas pelo cancelamento estão
"perdidas para sempre", ao passo que as informações eliminadas
pela seleção podem, sim, ser recuperadas por inferência.
No exemplo visto (Quadro 3. 3), por que alguém investiria em
tratamentos estéticos e produtos que 1nelhora1n a apresentação
pessoal? Obviamente, porque está preocupado com a aparência.
Logo, a informação destacada no original pode ser inferida por
outras afirmações feitas no texto. Ao eliminá-la, o autor do resumo
realiza uma operação de seleção.
A escrita
Como vimos na Unidade 1, a aprendizagem da escrita envolve
dois processos concomitantes: co1npreender a natureza do sistema
de escrita da língua e o funcionamento da linguagem que se usa
para escrever. Em outras palavras, é possível produzir textos sem
saber grafá-los e é possível grafar sem saber produzir; o domínio
da linguagem escrita se adquire muito mais pela leitura do que pela
própria escrita; não se aprende a ortografia antes de se compreender
o sistema alfabético de escrita; e a escrita não é algo oposto à fala,
pelo contrário, ambas se transformam mutuamente em um processo
dinâ1nico.
Na escrita, podemos ver todo esse movimento dinâmico, por
isso, a partir de agora vamos estudar os aspectos mínimos que
constituem um texto: a frase, o parágrafo e o texto como um todo.
Para isso, continuaremos seguindo os estudos desenvolvidos por
Thelma Guimarães (2012, p. 131 -163), no livro Comunicação e
linguagem.
Certamente, um bom texto é mais do que uma sequência de
frases bem escritas. Ele também deve apresentar coesão, coerên-
cia e adequação ao contexto, entre outros atributos. Entretanto,
não se pode negar que tudo começa com frases bem escritas. Nos-
so estudo partirá, então, da frase e, depois, vamos para o parágrafo
e para o texto como um todo.
A frase
Va1nos retomar nossas aulas de língua portuguesa para diferen-
ciar três noções elementares : frase, oração e período.
De acordo com Guimarães (2012, p. 132), "frase é um enun-
ciado dotado de sentido completo. Na fala, ela é marcada por
uma entonação específica; na escrita, é encerrada por ponto (fi-
nal, de interrogação ou de exclamação) ou por reticências". Veja
alguns exemplos de frases: "Cuidado!"; "Bom dia, professora!";
A leitura e a escrita) E
"Trabalho digno o desse artesão"; "Onde está a biblioteca?" ; "Re-
solvemos marcar o ensaio às 1Ohoras" .
Como você percebe por esses exemplos, as frases podem ou
não conter verbo. As frases que não contêm verbo - "Cuidado!'' .
"Bom dia, professora! "; "Trabalho digno o desse artesão" - são
denominadas frases nominais. As frases que contê1n verbo são
chamadas de períodos (Figura 3.5).
Cada segmento de um período organizado em torno de um verbo
ou locução ve rbal (formada por verbo auxiliar+ verbo principal, por
exemplo, andei emagrecendo, foi marcado) chama-se oração. Um
período pode estar formado por uma única oração - nesse caso, é
chamado de período simples - ou por duas ou mais orações - nes-
se caso, recebe o nome de período composto (GUIMARÃES, 2012,
p. 132).
Frase
1
1 1
Sem verbo = Com verbo =
frase nominal período
1
1 1
Duas ou
Ex.: Ai, Uma oração só =
mais orações =
que preguiça! período simples
período composto
Coordenação
De acordo com a definição tradicional, o período composto por
coordenação é aquele em que as orações são independentes, isto
é, podem ser compreendidas separadamente. Além disso, elas têm
valor sintático idêntico: dentro do período, nenhuma é mais impor-
tante que a outra. Elas podem estar sünplesmente justapostas, sem
a intermediação de u1na conjunção " Vão-se os anéis, ficam os de-
dos" . Ou, então, podem estar unidas por uma conjunção coordenati-
va: " Vão-se os anéis, mas ficam os dedos". Nesse caso, a conjunção
confere determinados significados ao período, como a ideia de opo-
sição, adição, alternância etc. (GUIMARÃES, 2012).
Subordinação
Nos períodos compostos por subordinação, as orações são de-
pendentes - não podem ser compreendidas separadamente. Uma
delas, chamada de oração subordinada, completa o sentido da ou-
tra, a oração principal. Veja:
Osalunos T
A PNAD é realizada anua lmente. Ela é a mais Realizada anualmente, a PNAD é a mais
completa pesquisa do IBGE. Busca traçar um perfil completa pesquisa do IBGE. Ela busca traçar um
socioeconômico da população brasileira. Inclui em perfil socioeconômico da população brasileira,
seus critérios educação, trabalho e habitação, entre incluindo critérios como educação, trabalho e
outros itens. habitação, entre outros.
Fonte. Guimarães(2012, p. 141).
O parágrafo
Tendo em mente a frase como um dos elementos que com-
põem o texto, podemos passar à próxima estrutura: o parágrafo .
De acordo com Guimarães (2012, p . 144), o parágrafo, em geral,
apresenta a seguinte composição: "tópico frasal + desenvolvimen-
to + conclusão. O tópico frasal co1npõe-se de um ou dois períodos
que concentram a principal ideia do parágrafo. Tal ideia é am-
pliada e explanada no desenvolv imento, formado pelos períodos
seguintes e pode conter, ainda, uma conclusão" .
Mas essa não é uma estrutura obrigatória, pois existem pa-
rágrafos claros e coerentes que não utilizam tópico frasal (aliás,
existem parágrafos claros e coerentes dos mais diversos tipos e
formatos).
Ao estudarmos o tópico frasal, o que devemos ter em mente é
o fato de ele ser a maneira 1nais fácil e segura de começar. Para
o redator iniciante, ele é um guia seguro na construção de bons
parágrafos. Com a prática, a pessoa vai se sentir à v ontade para
ousar outras construções.
A grande vantagem do tópico frasal é que ele permite lidar
mais facilmente com dois "ingredientes" indispensáveis à boa re-
dação: as generalizações e as especificações. Ambas explicadas
por Guimarães (2012, p. 146):
Na escola, você aprendeu a diferenciar substantivos concret os -
como lápis, homem, cachorro - de abstrat os - como saudade, ilu-
são, permanência. Contudo, a noção de concret o e abst rato que
vamos lhe apresentar agora é outra.
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Exemplos
Exemplo 1
O método comparativo
Comparar é uma tendência natural e uma importante fonte de intuições e de
descobertas em todos os campos do conhecimento. (Tópico frasa! - genera-
lização. Também aqui as palavras introdutórias estabelecem um tópico frasa!,
nesse caso, sobre o que o ato de comparar pode proporcionar.)
Na análise das línguas, a comparação e o confronto levam, às vezes, ao esta-
belecimento de tipologias (como a que distinguia, tradicionalmente, entre
línguas monossilábicas, aglutinantes e flexivas); outras vezes, à busca de ca-
racterísticas supostamente inerentes a toda língua humana (como nos le-
vantamentos acerca dos "universais da linguagem" realizados pela linguística
estrutural americana nas décadas de 1950 e 1960). (Desenvolvimento- espe-
cificações. A partir da ideia central de que a comparação é fonte de intuições
e de descobertas em todos os campos do conhecimento, desenvolvem-se
argumentos específicos para demonstrá-la, por exemplo, o estabelecimento
de tipologias e a busca de características inerentes.)
Nesses casos, a comparação nada tem a ver com a genealog ia. (Conclusão.
A partir do que foi exposto no desenvolvimento, chega-se a uma conclusão.)
O Exemplo 1 comprova que o tópico frasal pode ser formado por dois pe-
ríodos, como dito anteriormente. Esse exemplo também ilustra um caso
frequente: muitos parágrafos-padrão não apresentam conclusão porque
seu último período dá uma "deixa" para a introdução do parágrafo seguin-
te. Nesse caso, a "deixa" é a pergunta "como alguém nos convenceu de que
precisávamos comprar um apetrecho específico para a higiene buca l?''. Já no
Exemplo 2, existe uma conclusão propriamente dita; observe-se, no entanto,
que ela não tem um fim em si mesma - seu objetivo é acrescentar uma nova
informação, que será desenvolvida no parágrafo seguinte.
Coesão e coerência
Um bom texto é mais do que uma sequência de frases bem
escritas. Como vimos até aqui, tomar as decisões adequadas para a
composição das frases e dos parágrafos já é um estágio avançado
para compor um bom texto.
Contudo, ainda falta estudarmos essas tão conhecidas pala-
vras: coesão e coerência. O que torna um texto verdadeiramente
bom é algo que não pode ser isolado; é uma espécie de "fluido"
que banha todas as partes e forma um todo significativo. O nome
desse fluido é coesão, e é ele que permite ao leitor reconstruir ou-
tro atributo fundamental do texto: a coerência.
Para expandir esses conceitos, vale dizer que a coerência é o
sentido, a relação lógica, e a não contradição entre as partes de
um texto; esses elementos são estabelecidos pelo leitor-escritor
com base em seu conhecimento do mundo e em suas referências
de leituras anteriores. A coesão, por sua vez, é o próprio conjunto
formado pela articulação textual desses elementos.
A leitura e a escrita) E
Por mais que pareça fácil e simples, não raro o aluno comete
algumas falhas nesse sentido. Vejamos, por exemplo, o enunciado
a seguir, que apresenta uma série de ideias aparentemente bem
"costuradas", mas cujo sentido é impossível apreender:
Laura vai à biblioteca. A biblioteca é construída com cimento
e tijolos. Materiais que hoje em dia são muito caros. Também
os foguetes são muito caros porque são lançados no espaço.
Segundo a Teoria da Relatividade, o espaço é curvo.
Em contrapartida, há enunciados sem qualquer mecanismo
coesivo e ainda assim coerentes
Meu irmão comprou um disco de vinil; ele vai fazer um show
amanhã.
Mas, antes, é preciso definir com mais precisão o que são meca-
nismos coesivos, utilizados para estabelecer a coesão em um texto.
Eles fazem parte daqueles responsáveis por estabelecer a chamada
coesão sequencial; além dela, há a coesão referencial e a recorren-
cial. Confira a definição desses três tipos de coesão e dos mecanis-
mos que os promovem no Quadro 3.8.
r • M ecanismos d e coesao.
Quadro 38
"
Mecanismos de coesão referencial
Fazem referência a algo que já foi mencionado ou ainda será mencionado no texto
Substituição - o termo citado antes é substituído por um pronome, numeral ou advérbio.
Adorei Fortaleza. Estive lá ano passado.
Vânia e Ana têm a mesma fraqueza: ambas são generosas demais.
PedrQ entrou em contato com QS e~ritQres, mas~ não ~ responderam.
Reiteração - o termo citado antes é repetido ou retomado por meio de palavras de sentido semelhante.
Repetição: Modo normal - nesse modo, o motor funciona a mil rotações por minuto.
Sinônimos: Esse cachorro faz festa para todo mundo. Éum cão muito simpático!
Palavras de sentido mais geral (hiperônimos): Marcos comprou um Porsche. Ele adora carros esportivos.
(específico > geral)
Palavras de sentido mais específico (hipônimos): No Paraná, não faltam opções de ecQturismQ. Uma boa
pedida é conhecer o Cânion Guartelá. (geral > específico)
Expressões nominais definidas (sua compreensão depende do conhecimento de mundo do leitor): Mick
Jagger desembarca no Brasil hoje. O voca lista dos Rolling $tones pretende divulgar seu novo álbum.
Nomes genéricos (gente, pessoa, coisa): Tenho .u.m..a coisa para lhe dizer:~ melhor pararmos de nos encontrar.
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
A venda de carros novos cresceu ligeiramente no último mês. Já a de usados despencou.(= a venda de usados)
Ritmo e outros recursos fonológicos - neste caso, a conexão entre as ideias é ativada pelo som e ritmo das
palavras.
A menin inha empinou o narizinho e pôs a mão na cinturinha.
Mecanismos de coesão sequencial
Assim como os de recorrência, esses mecanismos têm como objetivo "fazer progredir o texto, fazer caminhar
o fl uxo informacional''. A diferença é que na coesão sequencial não há retomada de itens já mencionados.
Sequenciação temporal - indica a ordem temporal em que ocorrem os fatos do texto.
Ordenação linear: O aeroporto foi fechado para pousos e decolagens. Filas enormes formaram-se no portão
de embarque.
Marcadores (ou conectivos) lógicos: Queria lhe pedir um favor, mas não tenho coragem.
Fábio fala inglês fluentemente; mesmo assim, está desempregado há um ano e meio.
Além de bonitos, os descansos para panela são muito práticos.
Fonte: Guimarães (2012, p. 153-155).
\.. .,J
• Queria tanto falar com Débora, até mesmo porque não sei onde
encontrá-la. (Incoerente)
Não saber onde encontrar Débora só aumenta meu desejo
de falar com ela. (Coerente)
• É muito comum os jovens falarem sobre a conquista da liber-
dade, sendo que muitos deles não sabem o verdadeiro senti-
do dessa palavra. (Incoerente)
É muito comum os jovens falarem sobre a conquista da li-
berdade, porém muitos deles não sabem o verdadeiro senti-
do dessa palavra. (Coerente)
• A energia nuclear não apenas é eficiente e econômica: pode
provocar terríveis acidentes, com consequências gravíssimas
para toda a população do entorno. (Incoerente)
Embora seja enciente e econômica, a energia nuclear pode
provocar terríveis acidentes, com consequências gravíssimas
para toda a população do entorno. (Coerente)
Saiba mais
A incoerência gerada pela má escolha de mecanismos coesivos é, na ver-
dade, um subtipo de uma categoria maior: a incoerência gerada pela má
escolha de palavras e expressões em geral. É comum, por exemplo, que re-
datores iniciantes empreguem termos de conotação positiva em contextos
negativos, ou vice-versa - o que também provoca incoerência. Veja alguns
exemplos:
Exemplo
Há mais de 2.000 anos, na Grécia Antiga, arte e educação estavam imbrica-
das, séculos mais tarde ocorreu um distanciamento entre essas duas formas
de expressão humana. No modelo atual de educação, verifica-se um pre-
domínio da dimensão epistêmica, ou seja, da sabedoria em detrimento das
dimensões várias do ser humano. Enquanto o modelo grego de educação
envolvia todas as dimensões, a educação do homem na era contemporânea
é um privilégio de apenas uma das dimensões, a epistêmica, priorizando sua
preparação como mão de obra para o mercado de trabalho. A desqualifica-
ção da estética nos nossos modelos de educação escolar mudou o modo de
ser do homem, de um modo de ser criativo, passou-se para um modelo de
dominação, no qual o homem se submete.
O ato de escrever
Ao longo de sua evolução, o homem, na transformação da natu-
reza e de si mesmo, utilizou inúmeros instrumentos e ferramentas,
de madeira e pedra lascada, passando pelo metal, até o compu-
tador, a Internet e as máquinas. Segundo Lima (2014), também
o gênero textual, da forma como é concebido no interacionismo
sociodiscursivo, perpassa esse entendimento.
Saiba mais
Interacionismo sociodiscursivo
mos que as práticas de linguagem são das capacidades de linguagem e, logo, de diferen-
. - - - - - - - - - - - - - - - - - - Temas
• 1 - Produção de textos
Neste tema, vamos estudar a subjetividade para Freud e a intera-
t ividade para Piaget no processo de conhecimento do aluno que,
em um movimento ambivalente, marcado por suas experiências e
culturas e por suas interações com o meio, se deixam reflet ir nas pro-
duções textuais.
• 2 - Análise das produções de textos
A correção do professor e o uso do material didático influenciam a pro-
dução textual do aluno e, nesse processo, a palavra "erro" é como uma
sombra que paira sobre a cabeça do professor e pode afetar o ânimo
do aprendiz. Neste tema, vamos ver como essa expectativa de sempre
encontrar falhas pode ser antiproducente na sala de aula.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Introdução - - - - - - - - - - - -
O texto será o fio condutor de nossa última unidade. Vamos pensar
como a língua portuguesa também se constitui a partir do texto, seja
ele produzido pelo aluno, mediado pelo professor, seja estabelecido
nos materiais didáticos, escritos por autores consagrados.
Para isso, faremos uma aproximação teórica aos estudos de Sigmund
Freud e de Jean Piaget, traçando um caminho para a prática docente
na sala de aula cujo destino é justamente o aluno, construtor ativo de
conhecimento. Como a interação com seu meio e suas experiências
de vida deve mediar a aprendizagem? Que papel cumpre a educação
no "embate" positivo entre a cultura letrada do professor e a cultura
particular do aluno? O texto traz marcas desse processo de ensino e
aprendizagem; é ele um reflexo do aluno?
No contexto da sala de aula, quando pensamos no trabalho de cor-
reção textual, o objetivo deveria ser ponderar com o aluno o que ele
deseja expressar, a partir de uma orientação por parte do docente ou
não, e como pretende fazê-lo. Obviamente, nesse processo, dificul-
dades e facilidades virão à tona. Mas, não raro, a postura do profes-
sor se dá mais sobre os defeitos do que sobre as qualidades do texto
produzido, de modo que a correção se transforma em um trabalho
de se atentar, quase unicamente, às "possíveis violações linguísticas"
Língua portuguesa na prática)E
Produção de textos
Munidos dos conhecimentos de leitura e escrita assimilados na
Unidade 3, vamos, agora, estudar a produção de texto. Mas, antes,
vale a pena ler algumas palavras introdutórias, a modo de uma
aproximação teórica, sobre o processo de ensino e aprendizagem
e sobre a relação professor-aluno. Para tanto, mencionaremos as-
pectos do pensamento de Sig1nund Freud e Jean Piaget.
Saiba mais
Nascido Sig ismund Schlomo Freud em 6 de maio de 1856, em uma família
judia, na atual República Tcheca, Sigmund Freud, nome que assume poste-
riormente, faleceu em Londres, em 23 de setembro de 1939. Mudou-se para
Viena ainda criança, onde permaneceu até 1938, transferindo-se com alguns
fam iliares para a Inglaterra em razão da perseguição nazista. Cursou medicina
na Universidade de Viena, onde dedicou sua formação ao estudo da neuro-
logia. Após uma temporada de trabalho com Jean-Martin Charcot, em Paris,
Freud passou a utilizar o método hipnótico no tratamento das doenças ner-
vosas, sem obter muito sucesso. Do fracasso do tratamento com a hipnose,
tem origem o método analítico exposto em A interpretação dos sonhos, uma
de suas obras ma is importantes. Por essa nova via, Freud chega a uma de
suas mais famosas e difundidas contribuições ao tratamento psicológico: o
complexo de Édipo. Autor de uma vasta obra, Freud escreveu e publicou suas
ideias até o fim de seus dias. A edição de suas obras completas abrange os
escritos compreendidos entre 1886 e 1939 e está dividida, na edição brasilei-
ra, em 24 volumes (SORIA, 2015). Sa iba mais acessando: <arethusa.ffich.usp.
br/node/94>.
Saiba mais
Jean Piaget nasceu na Suíça em 1896. Considerado uma criança precoce;
desde cedo, demonstrou interesse pela observação da natureza e pela orga-
nização sistematizada dos dados coletados. Durante a adolescência, traba lhou
como assistente do diretor do Museu de História Natural em sua terra natal.
Ainda na adolescência, in iciou os estudos, especialmente interessado pelas
questões epistemológicas, que o acompanhariam por todo seu trabalho
como pesquisador. Entretanto, precisou escolher entre a biologia e a filosofia
aos 18 anos, para definir sua profissão. Optou pela formação universitária em
biologia e, aos 20 anos, doutorou-se em malacologia, ramo da zoologia que
estuda os moluscos. Piaget, desde a adolescência, desejou criar uma teoria
biológica do conhecimento e, perseguindo esse ideal, acabou buscando na
psicologia da inteligência o meio termo para seus interesses biológicos e
epistemológicos. A psicologia é a ciência que investiga o comportamento
humano e, portanto, investiga como o ser humano aprende e se apropria do
conhecimento.
Por meio do trabalho de padronização dos resu ltados de testes de inteli-
gência, Piaget encontrou um espaço de trabalho privilegiado, no qual pôde
analisar não somente os resultados dos testes, mas também a regularidade
das respostas das crianças e a análise verbal do raciocínio delas. O encontro
com a criança levou Piaget a retornar à Suíça, em 1921, trazendo consigo
esses dados que dão início à construção da teoria da epistemologia gené-
tica. Piaget elaborou um método próprio de pesquisa, o método clínico, e
iniciou sistematicamente as investigações sobre o desenvolvimento infantil
e a construção da inteligência.
O autor produziu uma vasta obra, com mais de 50 livros e 300 artigos. Rece-
beu ma is de 30 doutoramentos honoris causa, foi diretor do Instituto Jean
Jacques Rousseau, na década de 1920, subdiretor geral da Unesco, na déca-
da de 1940, encarregado do Departamento de Educação da Suíça, professor
universitário. Depois de mais de 60 anos dedicados à pesqu isa, Piaget faleceu
em Genebra em 1980 (CAETANO, 201 O).
Para saber mais, acesse: <www.ip.usp.br/portal/ index.php?option=com_
content&id= 1797:a-epistemologia-genetica-de-jean-piaget&I temid=97>.
Língua portuguesa na prática) E
Estágio sensório- Está dividido em três subestágios, sendo marcado, inicialmente, por coordenações
-motor (do sensoriais e motoras de fundo hereditário (reflexos, necessidades nutricionais).
nascimento até + 2 Posteriormente, ocorre organização das percepções e hábitos. Por último, é
anos) caracterizado pela inteligência prática, que se refere à utilização de percepções e de
movimentos organizados em "esquemas de açãd; que gradtivamente vão se tornando
intencionais, dirigidos a um resultado. A criança começa a perceber que os objetos a
sua volta continuam a existir, mesmo que não estejam sob seu campo de visão.
Estágio pré-operatório Surgimento da função simbólica, aparecimento da linguagem oral. Característica
(entre os 2 e os 6/ 7 egocêntrica de pensamento (centralizado nos próprios pontos de vista),
anos) linguagem e modos de interação. A lógica do pensamento depende da percepção
imediata e as operações mentais reversíveis não são possíveis.
Estágio operatório Pensamento mais compatível com a lógica da realidade, embora ainda precise da
completo (entre os realidade concreta. Reversibilidade de pensamentos. Uma operação matemática,
6/7 e os 11 / 12 anos) por exemplo, pode ser reversível. Compreende gradativamente noções lógico-
matemáticas de conservação da massa, volume, de classificação etc.
O egocentrismo diminui, surgindo uma moral de cooperação e respeito mútuo
(moral de obediência).
Estágio operatório Pensamento hipotético-dedutivo. Capacidade de abstração. O egocentrismo
formal (por volta dos tende a desaparecer. Construção da autonomia, com avanços significativos nos
11 / 12 anos em diante) processos de socialização.
Fonte: adaptado de Nunes e Silveira (2009 apud NOGUEIRA; LEAL, 2013, p. 138).
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
A prática textual
A partir dessas aproximações teóricas, podemos traçar um
caminho para a prática docente na sala de aula em que o co-
nhecimento é uma constn ,ção, que se dá na interação do aluno
com o ambiente, com sua família, amigos e, de maneira espe-
cial, com o professor. Cumpre importância vital nesse processo
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Texto 1
Este texto trata do Acordo Ortográfico, da "Última flor do Lácio,
inculta e bela", de 1990, a partir de três olhares de pesquisadores e
professores do Brasil, Moçambique e Portugal. Ou seja, é resultado
da história iniciada pelo período conhecido como "Grandes Nave-
gações''. começo da colonização portuguesa e da disseminação
da língua e cultura lusitanas.
Nesta época, conforme Costa (1988, p. 14), dos 300.00 homens
que compunham a população economicamente ativa de Portu-
gal, 30.000 eram marinheiros que colaboraram fortemente para a
presença de Portugal como metrópole em diferentes continentes.
Além de Portugal, hoje, apenas os seguintes países têm a língua
portuguesa como língua oficial: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Brasil, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Apesar, e talvez por isso, da imensa fraqueza em termos da con-
solidação do mundo da lusofonia, de 1911 a 2008 - período de
97 anos - a língua portuguesa sofreu quatro reformas ortográfi-
cas. Questionamos: como, em tão pouco tempo - falando-se de
línguas que gozam de respaldo e oficialidade - se muda tão pro-
fundamente a grafia de uma língua, a golpes de decretos, sobretu-
do quando faladas em comunidades linguísticas visivelmente em
transição?
Em países em que os cidadãos, em sua quase totalidade, não são
leiturizados, qual a real necessidade de uma unificação da lín-
gua portuguesa? As nações falantes teriam, com a reforma, um
instrumento político que se reverteria em seu benefício, ou so-
mente os contratos entre esses países não mais necessitariam
de "tradução" e nem de adequação, como já ouvimos defenso-
res desta unificação usarem como argumento fundamental?
(BUQUE et ai., 2008, p. 4-5).
Texto 2
O professor Pasquale Cipro Neto defendeu revisão no Acordo Or-
tográfico da Língua Portuguesa. "O texto do acordo é tão cheio de
problema que foi preciso a Academia [Brasileira de Letras] publicar
nota explicativa [sobre pontos do acordo]. Por que foi preciso isso?
Porque há problemas''. ressaltou o professor, ao participar do se-
gundo dia de debates sobre o assunto na Comissão de Educação
do Senado.
Segundo Pasquale, o Brasil saiu na frente dos demais países sig -
natários na implementação do acordo, impedindo uma adoção
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Texto 3
Você tem dúvidas sobre o novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa? [ ...] Foram acrescentadas aquelas três letrinhas
ao alfabeto: K, W e Y, e caiu o trema. [ ... ] Sobre acentuação, ela
expl ica que somente as paroxítonas perderam os acentos. "O
primeiro gru po de acent os que ca iu foi o das duplinhas EEM
e 00. Por exemplo: leem, veem, deem, creem, deem, perdoo,
voo, abençoo. São hiatos q ue antes tinham acento. Agora fica-
ram sem acen to".
O segundo agrupo de acento que caiu é o do ditongo aberto: ei e
oi. Por exemplo, ideia; assembleia; paranoico; e heroico. No entan-
to, o acento se mantém em "herói" porque esta palavra é oxítona,
então mantém o acento. Então lençóis, papé is, pastéis porque são
oxítonas. Outro acento que caiu foi q uando dá uma quebra de di-
tongo, quando o U ou I são antecedidos de ditongo. Por exemplo:
feiura, Sauipe.
E, por fim, caíram todos os acentos diferenciais: para (verbo parar);
pelo (do cachorro); pelo (verbo pelar). A líng ua portuguesa só tem
dois acentos diferenciais, agora, com o Acordo Ortográfico: pode e
pôde (passado do verbo poder) e o verbo "pôr" mantém o acento
porque ele é monossílabo (TEM DÚVIDAS ..., 2015).
E o material didático?
São vários os materiais que podemos utilizar na sala de aula
para o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa, mas o livro
didático impresso, assim como os cadernos de exercícios, os di-
cionários e os compêndios gramaticais são muito comuns em todo
o sistema educacional brasileiro .
Não estamos afirmando aqui que o uso desses 1nateriais é nega-
tivo para as práticas escolares; no entanto, adaptar esses materiais,
modificando-os, ressignificando-os, pode ser uma atitude,
trans-
formadora tanto do ensino quanto da aprendizagem. E uma forma
outra de atrair a atenção dos estudantes para a aula, motivando-os
a uma busca cada vez maior do conhecimento, privilegiando sua
qualidade e significância.
De acordo com Ferro e Bergmann (2013, p. 53):
[...] fica clara a importância de uma interferência do professor na
adaptação dos materiais preexistentes aos interesses e aos objeti-
vos de seus alunos. Quaisquer modificações nesses materiais pre-
cisam, no entanto, ser feitas de maneira cuidadosa e criteriosa, já
que devem fazer parte de um todo coerente metodologicamente.
É necessário, portanto, refleti rmos sobre quais fatores devem ser
considerados na elaboração e na adaptação dos materiais didá-
ticos, assim como quais deles podem fazer parte do processo de
aprendizagem de maneira a enriquecê-lo e maximizá-lo. Para isso,
discutiremos um pouco os objetivos mais gerais de nossos alunos
e o currículo que os rege.
Gênero acadêmico
Nesta unidade, mais especificamente no tópico "Produção e
circulação de textos escritos", estudamos uma proposta matricial,
fundamentada em cinco etapas, para mostrar a possibilidade de
desenvolver práticas pedagógicas com gêneros de diversos agru-
pamentos em diferentes anos escolares. Também trabalhamos o
gênero argumentativo com a feitura de uma carta argumentativa
sobre a escola de nossos sonhos.
Agora, vamos nos atentar ao gênero acadêmico, em wn senti-
do mais amplo, ou seja, não somente relacionado ao ensino supe-
rior, mas também aos ensinos fundamental e médio. Acreditamos
que textos desse gênero, a exemplo da resenha, do resumo, do
relatório e do artigo científico, funcionam como instrumentos no
processo de aprendizagem porque exigem do aluno a capacidade
mais avançada de articular leitura e escrita por meio de sua refle-
xão, crítica e argumentação, ou melhor, por 1neio de sua opinião
como sujeito individual e social, bem como do professor, que de-
verá mediar as realidades de dentro e fora dos muros da escola,
já que esses textos, não raro, tratam de assuntos de fora trazidos
para dentro da sala de aula. Também o professor deverá respeitar
a opinião do aluno e ensiná-lo e guiá-lo a usar a leitura e a escrita
de dados reais de maneira ética, de acordo com os traços caracte-
rísticos do gênero e1n questão.
Comecemos, então, pelo resumo e, já com uma prática inter-
textual, selecione um filme e assista com toda a turma, em seguida,
peça a produção de um resumo da obra de no máximo uma folha.
Leia os textos escritos pelos alunos e identifique as dificuldades
e os acertos para, em um segundo momento, serem comentados
Língua portuguesa na prática) E
Discurso literário
Ao falarmos sobre língua portuguesa, leitura e escrita, a litera-
tura poderia ser sinônimo ou mesmo significado , pois integra em
si todos esses conceitos.
3 Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Link
Da Cantiga daGuarvaia (século XII) às obras modernistas (sécu lo XX), veja um
painel das escolas literárias brasileira e portuguesa e as principais caracterís-
ticas de cada movimento em: <guiadoestudante.abril.com.br/estudar/jogos-
-mu lti mid ia/escolas-1 itera rias-bra silei ra-po rtug uesa-70 2798.sht m1>.
preenchido por histórias que ampliassem nossos alfabetizadas enquanto preparam biscoitos. Com
horizontes. Nossa pesquisa é um manifesto positi- essas experiências por perto, já passou da hora de
vo, que observa o lado cheio do copo em busca o Brasil perder a "síndrome do vira-lata" e começar
dos sinais do futuro no presente - como o ama- a valorizar as experiências com raiz nacional. Além
nhã é feito de um material chamado hoje, legitimar disso, não podemos ignorar que vivemos em um
o futuro que está no presente é cultivar o que já mundo cuja diversidade cultural deve mais nos
existe de promissor. Escolhemos visitar não apenas un ir do que afastar. Visitando Índia, Argentina, In-
escolas de ensino básico, mas também faculdades glaterra, África do Sul, entre outros países, perce-
e organizações de aprendizagem. Cada um desses bemos que, por mais avançado que um sistema
espaços tem pelo menos três anos de existência, educaciona l possa ser considerado em relação a
ou seja, já carregam um histórico. Cada um se re- outro, as mesmas questões humanas e essenciais
laciona diretamente com o principal critério de nos unem, sendo uma delas bastante clara: qual
seleção definido por nosso coletivo: a diversidade. é o propósito da educação? A escolha por buscar
Da escola no Capão Redondo, na periferia de São inspiração também fora do Brasil se pautou na ne-
Paulo, que não fecha seus portões, até a escola na cessidade de derrubar as fronteiras para conectar
Indonésia, onde alunos do mundo inteiro apren- as iniciativas. O momento em que vivemos anseia
dem em aulas que estimulam a aprendizagem pelo fortalecimento de redes e plataformas que,
com todos os sentidos. Temas como empreende- hoje, operam isoladamente. A conexão dos pontos
dorismo, jogos, sustentabilidade, cultura e arte são dispersos é o elemento catalisador das mudanças.
os fios condutores de cada um dos capítulos. Ao A estadia em cada escola durou em média cinco
escolhermos a diversidade como o corte transver- dias. Para buscar múltiplas perspectivas, entrevista-
sal, propomos que se imagine um mundo em que mos professores, alunos, ex-alunos, pais e fu ndado-
diferentes metodologias e abordagens convivam res. Observamos aulas, pa rticipamos de reuniões
paralelamente, em que a linearidade dos caminhos internas. Distantes de um olhar teorizador e cata-
é substituída pela sinuosidade da criatividade. logador, nosso foco era entender a rotina e, ainda
mais, captar a atmosfera do lugar, dos princípios
A derrubada das paredes invisíveis
que movem as ações. Ora observamos como es-
A primeira escola que visitamos fica em São Paulo. tudantes, ora como educadores ou com um olhar
Durante as pesquisas, descobrimos vá rias iniciati- de pai e mãe.
vas brasileiras que mereciam ser retratadas no livro.
Os princípios vão aos quatro cantos do mundo
Escolhemos quatro exemplos bastante simbólicos
de mudanças sig nificativas na educação contem- Cada iniciativa que abordamos nasceu em contex-
porânea: uma escola pública que experimentou tos bastante particulares, e exatamente por isso
colocar em prática sua autonomia pedagógica ao são releva ntes - por respeitarem suas condições
quebrar, literalmente, algumas das suas paredes; locais. Contaremos histórias de espaços de apren-
uma escola particular que instiga os alunos a es- dizagem que valorizam seus contextos sociais para
tudar temas pelos qua is se interessam; uma es- responderem aos seus desafios. De escolas que são
cola pública para jovens e adultos, com aulas em organismos vivos em constante mutação, que se
que pessoas de todas as idades estudam juntas; alimentam do entorno, que respeitam a diversi-
e, por fim, uma instituição onde as crianças são dade. As práticas realizadas podem ser diferentes,
Língua portuguesa na prática)E
mas há vários princípios em comum levados a sé- analfabetos funcionais, ou seja, não compreendem
rio - a autonomia, a cooperação e a sustentabili- o que leem - é o que revela a Pesquisa Nacional por
dade são alguns deles. "Quando temos princípios, Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, divulgados
eles viajam. Os princípios vão aos quatro cantos do pelo IBGE. Existem escolas brasileiras que não têm
mundo'; comentou Rachel Lotan, diretora da Esco- nem mesmo espaços físicos dignos para alunos. E
la de Formação de Professores de Stanford (STEP), não podemos nos esquecer das transformações que
em um seminário sobre formação de professores se deram no mundo - na expansão de possibilida-
realizado na Universidade de São Paulo (USP). O des promovida pela Internet, por exemplo. Para Pilar
va lor dos pri ncípios só vem à tona qua ndo os pra- Lacerda, um dos desafios brasileiros é dar conta, ao
ticamos. Pilar Lacerda, educadora e ex-secretária de mesmo tempo, de demandas dos séculos XIX, XX e
Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), XXI. Do espaço físico, do analfabetismo e da reinven-
tem uma história engraçada nesse sentido. Ela con- ção da sala de aula. Até os números nos relembram
ta que o princípio da autonomia aparece na ma io- que as instituições são, essencialmente, grupos de
ria dos planos pedagógicos brasileiros, que visam pessoas. Aliás, este livro só existe por causa de uma
formar cidadãos críticos e ativos, mas raramente força que envolveu diferentes grupos de apoiadores.
esses planos são respeitados. Quando ela visitava Inicialmente, investimos parte do nosso dinheiro no
escolas, uma cena se repetia: o tal "cidadão crítico" projeto sem almejar retorno, e contamos com a do-
sempre se encontrava na sala da diretora, sendo ação de uma amiga, uma pessoa física que acreditou
repreendido por sua capacidade de crítica e sub- no nosso sonho. Depois, criamos uma campanha de
versão. Os espaços de aprendizagem deste livro financiamento coletivo na Internet, no site Catarse.
consideram seus princípios como o ar que respi- me, e exatas 566 pessoas contribuíram com a gente,
ram, exercitam seus propósitos na rotina. As experi- totalizando uma arrecadação de 56 mil reais. Assim,
ências que abordamos são exemplos de iniciativas falamos em nome do Coletivo Educ-ação e de mais
que, mesmo com suas fragilidades - afinal, não são uma rede de centenas de pessoas que acompanha-
perfeitas - , buscam não se cristalizar, não cair na ram nosso blog e criaram esse projeto com a gente.
mesmice, não se corromper com a mornidão. Este livro é um símbolo de um desafio coletivo glo-
bal: para trabalharmos juntos, precisamos encontrar
O desafio compartilhado
os pontos que nos unem, os propósitos que nos
O sistema educacional brasileiro é um gigante: há colocam na mesma mesa. Não desenvolvemos um
aproximadamente 51 milhões de alunos na edu- projeto para reforçar o valor dessa ou daquela teoria,
cação básica, do ensino infa ntil ao ensino médio, não estamos defendendo uma linha pedagógica.
somando escolas públicas e privadas, em dados do Queremos, na verdade, mostrar que há pontos em
Censo Escolar 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de comum em projetos inovadores, os quais indicam
Geografia e Estatística (IBGE). Esse número corres- uma direção promissora, que talvez faça germinar
ponde à população de cinco Suécias, um dos países sociedades mais saudáveis.
que visitamos. Há quase 200 mil escolas no país, sen-
A polinização de ideias
do que 84,5% dos alunos estão matriculados em es-
colas públicas, com os outros 15,5% em instituições Disparar uma infinidade de perguntas e inquieta-
privadas. Os jornais alardeiam que 8,6% dos brasilei- ções é um dos objetivos deste livro. E se a educa-
ros são ana lfabetos; outros 20,4% são considerados ção forma l e informal andassem de mãos dadas?
~ Metodologia do ensino da língua portuguesa 1
Ese as pessoas aprendessem fazendo? Ese a criati- na área da educação. Nós acreditamos no poten-
vidade fosse mais valorizada durante os processos cial da educação para redescobrir a felicidade e
de aprendizagem? E se as relações entre profes- exercitar a capacidade de sonhar. Nossa jornada
sores e alunos não fossem tão hierárquicas? E se agora ganha concretude em um livro com licença
aprender e brincar se tornassem sinônimos? E se aberta, para que estas ideias se espalhem pelos mil
você pensasse nos seus próprios "e se.. '.'? Todos cantos do mundo.
somos criadores de realidades e, para afirmarmos
Fonte: Gravatá et ai. (2013, p. 10-14).
essa capacidade, é fundamental questionarmos
que futuro almejamos fomentar. É fundamental in-
Exercício
terrogarmos as raízes do nosso próprio pensamen-
to. A missão de nosso projeto é polinizar ideias e Diante do que estudamos ao longo dessas quatro
olhares. É um convite para que você sonhe com unidades e da leitura específica do texto supracita-
a gente. Um convite para sonhar com processos do, qual é o poder da educação para o sujeito em
que geram mais cooperação do que concorrência, sua individualidade, para a sociedade em sua co-
com uma diversidade de caminhos inspiradores letividade e para o mundo em sua universalidade?
esta unidade, a última de nosso livro, que, vale ressaltar, precisam ser considerados em
No terceiro tema, vimos como o letramento, a alfa- esse tema trabalhando a potencialidade do discur-
betização, a oralidade e os gêneros e os tipos tex- so literário como formador de um aluno que seja
tuais são entrecruzados pelas práticas de leitura e leitor, crítico e escritor em língua portuguesa.
de escrita e, por isso, vitais para o ensino da língua Por meio de novas aproximações teóricas, reto-
portuguesa, cuja abordagem deve ser pautada na mando Piaget e Vygotski, estudamos que, para
inter e multirrelação dos aspectos gramaticais e ambos, o jogo pode ser empregado no processo
dos usos reais da linguagem. de ensino e aprendizagem como um método es-
Dedicamo-nos, portanto, ao gênero acadêmico, timulador do desenvolvimento cognitivo, social,
em um sentido mais amplo, ou seja, não apenas psicomotor e linguístico, ou seja, por meio dessas
relacionado ao ensino superior, mas também ao atividades a cria nça aprende a aprender, adquire
ensino fundamental e médio, cujos textos expres- conhecimentos, relaciona-se com os outros, ainda
sivos, ou seja, a resenha, o resumo, o relatório e o mais se consideramos os jogos de equipe, desco-
artigo científico, funcionam como instrumentos bre seu corpo e seus movimentos e, finalmente,
no processo de aprendizagem, exig indo do aluno comunica-se em linguagem verbal e não verbal.
uma disposição e capacidade mais avançada de É uma metáfora para a educação formadora, em
articular leitura e escrita por meio de sua reflexão, que o alu no é um microcosmos, subjetivo, cheio
crítica e argumentação, e do professor, uma me- de cultura e experiências que são potencializadas,
diação que considere o universo letrado da escola orientadas, polidas pela mediação da educação,
e o universo particular do aprendiz. Concluímos pela presença do professor.
REFERÊNCIAS
ISBN 978-85-430-1709-9