Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
Este capítulo tem por tema a década de 1990 no Brasil. Ele visa traçar um
panorama do período, destacando suas diferentes correntes de pensamento, a
fim de subsidiar a análise de livros didáticos dessa época, objeto de estudo da
pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Historiografia da Língua
Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (GPeHLP), nos
dois últimos anos, tendo em vista a publicação da obra História Entrelaçada
9.
Como, metodologicamente, um dos passos investigativos seguidos pelo
Grupo é a aplicação dos princípios analíticos propostos por Koerner (1996),
neste capítulo, apresenta-se o princípio da contextualização, cuja finalidade é
caracterizar o espírito de época. Em outras palavras, busca-se detalhar as
linhas de pensamento presentes no âmbito político, econômico, científico,
educacional, filosófico e cultural que circulavam na sociedade brasileira
naquele momento. Delineia-se, assim, o clima de opinião que influenciou a
produção de obras didáticas na década de 1990, bem como apontam-se as
influências desses materiais nas formas de pensar desse momento histórico.
Assim, são objetivos do capítulo:
A) Objetivo geral
Fornecer subsídios sobre o espírito de época aos demais autores desta obra
na elaboração de seus capítulos.
B) Objetivos específicos
I. contextualizar a década de 1990, com foco principal no ensino de Língua
Portuguesa;
II. apresentar a legislação educacional em vigência no período;
III. traçar um breve panorama dos estudos linguísticos desenvolvidos nessa
época;
IV. relacionar esses estudos às concepções de ensino e de aprendizagem
presentes na escola brasileira nos anos 1990.
O trabalho estrutura-se em três partes, além da introdução e da conclusão.
Na primeira, são retomados aspectos da década de 1980 que persistiram nos
anos 1990, principalmente do ponto de vista político, econômico e
educacional. Na segunda, são focalizados aspectos político-econômicos e
científicos, sobretudo, linguísticos, marcantes do período em estudo. Na
terceira, são apresentadas a legislação educacional e algumas modificações na
educação brasileira.
II — CONTEXTUALIZAÇÃO DA DÉCADA DE
1990: QUESTÕES POLÍTICO-ECONÔMICAS E
LINGUÍSTICAS
2.1 As questões político-econômicas
Foi a partir dos anos 1980 que o mundo passou a viver a globalização,
fenômeno do modelo econômico capitalista que propõe a mundialização do
espaço geográfico por meio da interligação econômica, política, social e
cultural em âmbito global. Esse processo ocorre em diferentes escalas e
apresenta consequências distintas entre os países, sendo as nações ricas as
mais beneficiadas porque, entre outros fatores, ampliam seu mercado
consumidor por intermédio de suas empresas transnacionais, instalando suas
filiais em diversos países e objetivando a unificação de suas atividades de
produção. Palma e Mendes (2008), destacam:
O Brasil também se beneficiou com a globalização, pois as grandes empresas transnacionais sempre
procuraram vencer seus concorrentes e aumentar seus lucros, ou seja, produzem suas mercadorias
nos países que mais vantagens lhes oferecem, buscando, assim, vender seus produtos no mundo
inteiro. Com isso, há um aumento nas exportações e os consumidores de vários países passam a ter
acesso a muitos produtos brasileiros. Essa inserção do Brasil no mercado internacional resultará em
alterações na economia (PALMA e MENDES, 2008, p. 158).
Marcílio (2005) aponta os contrastes que a globalização instaura na
organização mundial. De um lado, tem-se o enfraquecimento dos organismos
internacionais em decorrência da dominação absoluta dos Estados Unidos e,
de outro, há a luta pela sobrevivência dos países emergentes — entre eles o
Brasil, em razão de seu endividamento e do pagamento de juros altíssimos —
levando-os a se unirem em organismos supranacionais como o Mercosul.
Nesse contexto, mostra ainda essa autora que ocorre a expansão do
narcotráfico e do crime organizado. Há também transformações profundas no
mundo do trabalho e “assiste-se ao capitalismo sem trabalho, sem seguridade
social e de produção industrial internacionalizada. Multiplica-se o trabalho
informal, sem proteção social” (MARCÍLIO, 2005, p. 338).
Apesar desse cenário internacional, Vieira considera que a década de 1990
teve um significado especial para o Brasil, uma vez que profundas mudanças
sociais, econômicas, políticas e culturais aconteceram no país. Houve a
consolidação da democracia, a estabilização da economia, que controlou a
inflação e possibilitou o desenvolvimento das políticas sociais,
“especialmente na área da educação, onde se registraram os maiores avanços
nos últimos anos. Houve igualmente uma crescente valorização da educação
pela sociedade em todo o país. O Século da escola foi se consolidando
aceleradamente” (MARCÍLIO, 2005, p. 339).
Nesse período, tivemos dois presidentes — Fernando Collor de Mello
(1990-1992) e Fernando Henrique Cardoso (1994-1998) — eleitos por
votação direta do povo. Contudo, o primeiro não cumpriu o mandato, tendo
perdido o cargo por impeachment, e, assim, ficou no comando do país seu
vice, Itamar Franco (1993-1994).
A primeira ação do novo presidente foi estabelecer um pacto entre os
partidos políticos, principalmente com o Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com
vistas a garantir a governabilidade do país. Essa coalização objetivava pôr
fim à crise instaurada com o afastamento do presidente eleito após um longo
período de ditadura. Ainda em 1993, foi realizado o plebiscito, previsto na
Constituição de 1988, para a escolha do sistema e da forma de governo:
monarquia ou república; presidencialismo ou parlamentarismo, tendo como
resultado a escolha do regime republicano presidencialista.
Economicamente, a inflação apresentava altos índices, impedindo
investimentos no Brasil e dificultando a vida do povo. Foi nesse contexto que
Fernando Henrique Cardoso foi nomeado Ministro da Fazenda, em 1994, e
elaborou um plano econômico que introduziu uma nova moeda, o Real,
equiparada ao dólar, ou seja, um real equivalia a um dólar americano. Além
da mudança na moeda, Cardoso também propôs a redução dos gastos
públicos e a privatização de empresas públicas.
Skidmore (2003) afirma:
Havia várias razões para o sucesso inicial do Plano Real. O plano foi inteligentemente concebido e
implementado, e foi ajudado pelo nível de reservas cambiais estrangeiras que a equipe de Fernando
Henrique Cardoso havia herdado, as quais (cerca de US$ 40 bilhões em julho de 1994) constituíram
as maiores reservas do Brasil em sua história e estavam entre as maiores do mundo. Essas imensas
reservas davam ao país um amortecedor para seus cortes de tarifas. Na verdade, foram perdidos
US$ 10 bilhões em reservas durante os primeiros oito meses do Plano quando o corte prematuro
das tarifas levou a um boom de importações, mas ainda havia um amortecedor suficientemente
grande para suportar essa perda. A grande colheita agrícola de 1994, que manteve baixos os preços
dos alimentos, foi outra grande lufada de sorte.
Houve sorte também do lado político. A maioria da população brasileira realmente queria o fim da
inflação volátil. Além disso, os adversários mais prováveis do Plano, os economistas de esquerda,
estavam desorganizados, desmoralizados e reduzidos em número (SKIDMORE, 2003, p. 313).
O sucesso do Plano Real e a contenção da inflação foram elementos
fundamentais para o sucesso da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à
Presidência da República em 1994, levando-o a vencer as eleições com 54%
dos votos, no primeiro turno. O segundo presidente eleito por voto direto,
depois da ditadura, governou de 1995 a 1998 e, reeleito em 1998, governou
até 2002.
Os três primeiros anos do novo governo tiveram como prioridade a
estabilização econômica do país, visando ao combate à inflação, objetivo
alcançado muito mais rapidamente do que se esperava. De um índice
inflacionário de 2.489%, em 1993, chegou-se a 1.000% em 1994, 22% em
1995, em 11%, em 1996 e 4% em 1996 (cf. SKIDMORE, 1998). O resultado
positivo decorreu de um controle rígido do orçamento federal, cuja estrutura
possibilitava déficits contínuos, embora a redução de tarifas trouxesse
incertezas a longo prazo para a balança comercial.
O sistema financeiro havia tido uma grande expansão na década de 1980,
com os lucros originados da “flutuação inflacionária”, obtida pelos bancos
nas transações financeiras. A queda da inflação comprometeu os lucros dos
bancos, levando muitos deles à falência, situação que exigiu do governo
custosas operações de resgate.
Diante desses desafios, a estabilização tornou-se fundamental,
determinando a redução dos gastos públicos, que deveria ocorrer não só no
nível federal, mas também no estadual. A privatização foi o caminho
escolhido para solucionar a questão. Segundo Skidmore (1998),
... isso estava apenas começando a ocorrer no Brasil, onde a maioria dos compradores no início da
década de 1990 havia pago com bônus governamentais não negociáveis. Não obstante, em
dezembro de 1997 o governo podia mostrar um sucesso considerável, tendo privatizado (por venda
ou arrendamento) mais de cinquenta empresas em áreas como aço, fertilizantes e minérios de
ferro. Em quase todos os casos, a eficiência aumentou imediatamente (SKIDMORE, 1998, p. 319).
Destaca esse autor que, além das medidas econômicas, o governo devia
debruçar-se sobre a situação social dos brasileiros, com vistas a melhorá-la,
superando as grandes desigualdades sociais. Para tanto, seria fundamental
enfrentar a deterioração dos serviços públicos, a necessidade de investimento
público em educação, na saúde, nos transportes e nos meios de comunicação;
porém os fundos federais não estavam disponíveis a curto prazo. Ao lado
dessa conjuntura, a necessidade de equilibrar o orçamento inviabilizava
também a liberação das verbas. Nesse momento, gestos simbólicos foram
tomados pelo governo, para amenizar os problemas, como a instalação de
computadores em salas de aula.
Para Skidmore (1998), a reforma agrária era outro desafio a ser enfrentado,
sobretudo no Sul e na Bacia Amazônica, local em que 23 trabalhadores foram
mortos por proprietários de terras no Pará, em abril de 1996, em reação ao
movimento dos trabalhadores. O governo propôs uma rigorosa investigação
sobre o caso, mas não obteve resultados positivos, ficando evidente sua
incapacidade de controlar a violência, como a onda de assassinatos
semelhantes que já havia ocorrido no Amazonas em agosto do ano anterior.
Também o desmatamento na Amazônia não foi controlado no governo de
Fernando Henrique.
O autor ainda mostra que, como o governo estava ciente de que pouco
poderia fazer pelo bem-estar do povo brasileiro, lançou o Programa
Comunidade Solidária, dirigido por Ruth Cardoso, cuja estratégia era
“identificar os municípios necessitados no país e prestar assistência
estratégica a governos e organizações locais. Isso tinha um valor simbólico (e
provavelmente político), e poderia servir também para estimular esforços de
autoajuda em nível local” (SKIDMORE, 1998, p. 320). Em razão da falta de
verbas, na educação, foram realizadas ações pontuais, como o aumento do
salário dos professores das escolas públicas de 1º e 2º grau, que eram muito
baixos, e o estabelecimento de uma rede de TV educacional para todas as
escolas.
Nesse período, a inflação foi controlada, aspecto que favoreceu os
brasileiros menos privilegiados, uma vez que o poder aquisitivo médio dos
consumidores aumentou, os preços dos alimentos baixaram, motivados pelas
colheitas abundantes, e o salário mínimo subiu, “o que refletia uma política
deliberada de usar o salário mínimo para visar os mais pobres” (SKIDMORE,
1998, p. 321). A classe média, porém, foi a que mais dificuldades passou
nesse momento, em função do aumento do aluguel, das mensalidade
escolares, das refeições em restaurantes e em todos os serviços pessoais.
Em 1998, Fernando Henrique foi reeleito presidente. No segundo mandato,
houve crises internacionais, forte desvalorização do real, a crise do apagão e
outros acontecimentos que motivaram a queda da popularidade do Presidente.
CONCLUSÃO
Embora tenha havido grandes avanços na escolaridade nos anos 1990 e
excelentes pesquisadores que influenciaram — e ainda influenciam — o
aprimoramento do processo de ensino e de aprendizagem e os estudos sobre a
aquisição da língua — e embora ela tenha sido assumida como fundamental
para o desenvolvimento econômico e social —, a proposta de ensino-
aprendizagem de língua portuguesa não se concretizou totalmente, pois não
chegou ao ensino efetivo da modalidade oral, como propõem os PCN e não
surgiram novas propostas de metodologias e de avaliação para maior
efetividade da prática pedagógica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PCN: Introdução aos PCNs, Secretaria de Educação
Fundamental. Brasília: MEC/SEF 1997
BRASIL. Constituição Federal de 1988. s/d. [1988]. Disponível em: http://www.saude.am.gov.br.
Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988, p. 137-141.
CARNEIRO, Lucianne; LÓPEZ, Gabriela. Avanços nos anos 1990 na escolaridade. O GLOBO.
15/03/2013.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Tradução de Diana Myriam
Lichtenstein et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino — Exercícios de militância e divulgação. Campinas,
SP: Mercado de Letras — ALB, 1996.
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. A Democracia: da Política Educacional dos Partidos e do Governo
Federal à Nova LDBN 9.394/96. In História da educação brasileira. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2006,
p. 158-173.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
____; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1989.
____. Interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1992.
KOERNER, Konrad. Questões que persistem em historiografia linguística. In Revista ANPOLL, nº 2, p.
47-70, 1996.
MARCÍLIO, Maria Luiza. História da escola em São Paulo e no Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo: Instituto Fernand Braudel, 2005.
MEGALE, Heitor; CAMBRAIA, César Nardelli. Filologia Portuguesa no Brasil. In DELTA. São Paulo:
EDUC, Volume 15, número 3, 1999, p. 1-22.
MOTA, Carlos Guilherme; LOPEZ, Adriana. Realizações: breve balanço da modernização tardia. In:
História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora 34, 2015, p. 928-933.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990.
PALMA, Dieli Vesaro; MENDES, Maria de Fátima. A Moderna gramática portuguesa de Evanildo
Bechara: uma proposta linguística para o século XXI. In BASTOS, Neusa Barbosa; PALMA, Dieli
Vesaro (orgs.). História entrelaçada 3 — A construção de gramáticas e o ensino da língua
portuguesa na segunda metade do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira (Lucerna), 2008, p. 157-
182.
PALMA, Dieli Vesaro; FRANCO, Maria Ignez Salgado de Mello. A década de 1980: suas
características principais. In BASTOS, Neusa Barbosa; PALMA, Dieli Vesaro (orgs.). História
entrelaçada 8 — Língua portuguesa na década de 1980: gramática, redação e educação. São Paulo:
Terracota, 2018, p. 09-27.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: ALB: Mercado de Letras,
1996.
SETUBAL, Maria Alice (coord). Educação básica no Brasil nos anos 90. São Paulo: Cenpec, 2001.
SKDIMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
SILVA, Rosa Virgínia Mattos. Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo: Contexto,
1989.
____. Contradições no ensino de português — a língua que se fala X a língua que se ensina. São Paulo:
Contexto; Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1995.
SOARES, Magda. Português na escola: história de uma disciplina curricular. In BAGNO, Marcos
(org.) Linguística da norma. São Paulo: Edições Loyola, 2012, p. 141-161.
VIEIRA, Sofia Lerche. Política educacional em tempos de transição. Brasília: Plano, 2000.
CAPÍTULO 2
INTERAÇÃO &
TRANSFORMAÇÃO
Língua portuguesa — a década de 1990
NEUSA BARBOSA BASTOS
MARIA LUCIA MARCONDES CARVALHO VASCONCELOS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Diante da importância das pesquisas sobre a historiografia linguística
voltadas para a língua portuguesa e para as questões culturais, identitárias e
lusófonas, buscamos observar os fenômenos linguísticos e culturais de nossa
brasilidade, procurando compreendê-los, analisá-los e explicá-los, abrindo
horizontes para o entendimento e crítica do nosso tempo em nosso local de
observação dos fatos contemporâneos.
Com a consciência da seriedade de se fazer um trabalho historiográfico,
tomamos como base o dito de Konrad Koerner, que menciona as dificuldades
para se proceder a esse tipo de pesquisa:
Há vários problemas metodológicos — e epistemológicos — que enfrenta o historiógrafo da
linguística. Estes incluem questões de periodização, contextualização e, geralmente, procedimentos
de investigação, assim como questões relativas às mudanças de ênfase na prática linguística atual, a
identificação de diferentes fases de desenvolvimento num quadro teórico particular, ou em
períodos de tempo mais amplos, e no papel de fatores externos, por exemplo, os sociopolíticos, na
aceitação ou rejeição de um referencial teórico (KOERNER, 2014, p. 57).
Com esses princípios como direção, neste capítulo, desvelaremos a postura
de autores de livro didático ante a sociedade da década de 1990, considerando
o processo de descrição e compreensão dos fenômenos linguísticos ainda no
período novecentista, voltadas para o material didático de língua portuguesa.
Para tal, fixamo-nos nas reflexões acerca da língua, feitas por um sujeito
enunciador numa coleção de livros didáticos para iniciarmos nosso trabalho
historiográfico, seguindo a dimensão combinatória que põe em foco uma
historiografia correlativa fixada no estudo de relações entre teorias e das
correlações entre pontos de vista em linguística e o contexto sociocultural,
político, institucional.
Retomamos o conceito de historiografia linguística de acordo com as
observações de Pierre Swiggers (2010), considerando-a
o estudo interdisciplinar do curso evolutivo do conhecimento linguístico; ela engloba a descrição e a
explicação, em termos de fatores intradisciplinares e extradisciplinares (cujo impacto pode ser
‘positivo’, i.e. estimulante, ou ‘negativo’, i.e. inibidores ou desestimulantes), de como o
conhecimento linguístico, ou mais genericamente, o know-how linguístico foi obtido e
implementado (SWIGGERS, 2010, p. 2).
CONSIDERAÇÕES LINGUÍSTICO-
PEDAGÓGICAS
Teceremos considerações acerca das concepções linguísticas e literárias
levando em consideração a situação educacional do período, da leitura dos
textos didáticos e da legislação vigente na década de 1990, mencionando que,
passados os obscuros e silenciosos anos da ditadura, após a abertura política
no país na década de 1980, as concepções de linguagem norteadoras da
prática pedagógica assentam-se em novas teorias na área das ciências
linguísticas (linguística, sociolinguística, psicolinguística, linguística textual,
pragmática e análise do discurso). A sociolinguística discute as diferenças
entre as variedades faladas pelos alunos e a variedade de prestígio
preconizada no ensino da língua. A escola havia se democratizado com a
consequente entrada das classes populares que a ela não haviam tido acesso.
Novos procedimentos se faziam necessários quanto aos conteúdos e novas
metodologias de ensino, uma vez percebida a necessidade de se chegar ao
texto, e não mais aos estudos descritivos da palavra e da frase isoladas.
Uma nova concepção de língua é proporcionada pelos estudos
desenvolvidos sobre pragmática, teoria da enunciação e análise do discurso,
enfocando a dimensão externa, levando-nos a não mais considerar a língua
como comunicação, mas sim como enunciação envolvendo os sujeitos
inseridos nas práticas sociais, condições sociais de utilização da língua e
historicidade. Essa atividade constitutiva da linguagem, a própria prática da
linguagem, passa a ser vista como interação, o que deveria provocar
mudanças no processo de ensino. Entretanto isso não ocorreu, de maneira
geral, na década de 1980, marcando ao menos a reflexão sobre novos rumos
para o ensino da língua portuguesa e provocando inclusive mudanças na
legislação educacional.
Nova concepção de língua aguarda novas perspectivas que, segundo as
autoras Lúcia Furtado de Mendonça Cyranka e Vanessa Souza da Silva, não
são levadas a termo por grande parte dos professores em sua prática docente.
A partir da linguística, foi possível vislumbrar novas perspectivas para o ensino de língua portuguesa
na intenção de que se incorporasse, na prática dos professores, uma concepção interativa de
linguagem, de valorização do sujeito do discurso e da heterogeneidade linguística dos alunos das
classes populares. Entretanto, estudos realizados da década de 1990 até os dias atuais vêm
demonstrando que a realidade do ensino da língua não sofreu grandes alterações, salvo, é claro,
raras exceções (CYRANKA & SILVA, 2009, p. 281).
As mudanças necessárias deveriam ser incorporadas às práticas docentes, a
começar de algumas explicitações como as utilizadas por José Wanderley
Geraldi:
O que é preciso ficar claro, especialmente para os professores de língua portuguesa da escola de 1º
grau, é que as mudanças contínuas na pesquisa científica não respondem simplesmente a um
modismo, mas ao desejo de desvelamento de questões obscuras no processo de compreensão do
fenômeno que se quer explicar pela ciência (GERALDI, 1993, p. 84).
Diante dessa situação, criam-se novos materiais didáticos de apoio às
práticas pedagógicas para trabalhar a diversidade linguística dos alunos, mas
as mudanças não foram totalmente incorporadas pelos docentes, que não
foram incentivados à formação continuada, o que os levaria ao contato com
as inovações ocorridas nos estudos linguísticos e na pesquisa acadêmica.
Uma das falhas apontadas por Geraldi (1993) diz respeito à questão de como
se conciliar a presença do texto com as atividades escolares de ensino de
português coalhadas de exercícios gramaticais repetitivos e
descontextualizados.
Tendo abordado algumas questões acerca da contextualização sociopolítica
do ensino de língua portuguesa na década de 1990, que apresentou uma nova
situação social presente na escola brasileira e reafirmou um antigo princípio
fincado numa antiga posição de respeito unicamente ao padrão normativo,
modelo idealizado no padrão europeu, sabemos ser necessário estar atentos
aos novos materiais didáticos para observar o corpus em sua dimensão
interna. Conhecendo a necessidade de atualizar tal procedimento no sentido
de tornar o aluno num poliglota em sua própria língua, mencionado por
Evanildo Bechara na década de 1980, passaremos a analisar os livros
didáticos selecionados por nós.
OS LIVROS DIDÁTICOS
Cumpre salientar que foi feita entrevista com as autoras dos livros didáticos
na Escola Móbile, onde atualmente trabalham, no mês de maio de 2019. Elas
informaram que se buscava privilegiar a análise de textos produzidos em
diferentes domínios sociais de comunicação, fossem eles da cultura literária
ficcional ou da cultura não literária, sempre estudados numa perspectiva de
unidade comunicativa de origem cultural e carregada de significados sócio-
históricos. Destaque-se ainda a relação que as professoras mencionaram ter
com os alunos, que eram recebidos em aula com a leitura de um poema ou
das páginas de um livro, de um conto, de uma notícia de jornal. Esse era o
momento que oportunizava o mergulho em diferentes contextos
comunicativos proposto a eles(as).
Tal procedimento de aproximação dos alunos, para que se sentissem
motivados para as aulas de língua portuguesa, é percebido na apresentação
dos quatro volumes dos livros selecionados: uma mesma carta ao aluno, cujo
conteúdo objetiva manter uma interlocução com o estudante, iniciando-se
pelo vocativo Caro aluno e procurando manter o diálogo por meio de
fórmula descontraída no primeiro subitem: ♦ Como vai?, em que se busca
uma aproximação e se aponta a dificuldade de manter um diálogo com um
aluno sem que se estabeleçam os objetivos; em seguida, apresenta-se ♦ A
intenção deste livro, na qual se propõe uma ajuda ao aluno para melhorar o
seu entendimento de informações na construção de significados, salientando
a individualidade de cada um e o respeito ao outro.
Finalizando, expõe-se o item ♦ Nosso objetivo, no qual se indica a
necessidade do desenvolvimento de habilidades para a ampliação da visão de
mundo e do universo cultural que trarão a possibilidade de entender melhor o
texto e defender mais consistentemente suas opiniões em ambientes sociais
determinados. Em seguida, mostra-se a divisão do volume, organizado em
torno de temas com diversos itens: Abertura, Contexto, Fazendo valer o
contexto, Vocabulário contextualizado, Compreensão do(s)texto(s), Você
e o(s) texto(s), Teoria da comunicação, De leitor a escritor e Brincando
com a língua. Finaliza-se a carta com uma afirmação, que indica a
preocupação com a compreensão do texto inserido nas atividades escolares:
Acreditamos que pessoas com maior capacidade de compreensão e análise acabam tendo uma
visão de mundo mais lúcida e saudável, percebendo a atuando com mais eficiência em seu meio,
não apenas como meros espectadores, mas como agentes.
Podemos reiterar que há nos livros uma preocupação com as questões
sociológicas que tangenciam o nível das ideias e da ideologia no momento do
lançamento do livro na segunda metade da década de 1990. Afirmam as
autoras que se preocupavam com os diversos gêneros, tipos textuais e temas
inseridos social, cultural e ideologicamente na década de 1990.
Assim, na 5ª série, como nas demais, o livro se divide em Estudos (de 1 a
12, com exceção da 8ª série que apresenta 9), cada um acerca de um tema em
torno do qual se concentram os itens retirados entre os apontados acima, não
sendo obrigatória a presença de todos.
Neste volume, são temas: Linguagem, Linguagem e cultura, Língua e
história, Código, Medo no tempo, Medos infantis, Outros medos, Medos
atuais, Escola e história, Modificações na escola, A escola é de todos,
Finalidade da escola. Todos eles revelam uma nova preocupação com o
tratamento do ensino da língua portuguesa, uma vez estão que relacionados
com a vida do estudante em sociedade, trazendo questões importantes para o
envolvimento do sujeito na idade de 10 a 15 anos e atendo-se à teoria da
comunicação (emissor, receptor, mensagem), à história (o contexto histórico
brasileiro e estrangeiro) e à sociologia (a organização e o funcionamento das
sociedades humanas e as leis regentes das as relações sociais), diversas áreas
que interferiram na linguística que, na década de 1980, passou a trabalhar
com a língua em uso.
Na 6ª série, o livro dividido em Estudos apresenta os seguintes temas:
Raiva, Tristeza, Solidariedade, Amor, Indígenas, Esquimós,
Muçulmanos, Beleza, Mito grego (Estudo 9), Mito grego (Estudo 10),
Lenda, Folclore. Todos abordam a questão dos sentimentos humanos
focados em culturas diversas, dimensão importante para o ensino da língua
portuguesa, uma vez que, em se envolvendo o aluno com outras realidades,
amplia-se seu universo de conhecimento, propiciando engajamento maior em
sua sociedade.
Na 7ª série, em Estudos, expõem-se os seguintes temas: Mulher, Etnias,
Menor, Opressão, Política, Cidadania, Multimídia, TV, Jornal,
Transformações, Namoro, Drogas. Todos eles tratam das questões dos
adolescentes frente ao mundo midiatizado, divulgadas através dos meios de
comunicação da época, o que nos remete à importância dada à comunicação
para a veiculação de fatos, notícias, opiniões etc. Referem-se, ainda, aos
problemas enfrentados pelos jovens ao iniciarem novos relacionamentos
pessoais e os cuidados que devem ter com tais novas situações.
Na 8ª série, em Estudos, expõem-se os seguintes nove temas:
Discriminação, Miséria, Violência, Adolescência, Regionalismo, AIDS,
Civilidade, Liberdade, Ideologia. Todos se ocupam de problemas existentes
na sociedade e que necessitam de esclarecimentos para que os estudantes
possam trabalhar bem os assuntos importantes, fortalecendo-se e ajudando os
colegas. Menciona-se, ainda, o conceito de ideologia, procurando mostrar aos
alunos as diversas formas de pensar e ver o mundo, tendendo para o
momento de abertura no qual o Brasil acabava de fazer a transição de uma
Ditadura militar ou Quinta República Brasileira, regime instaurado em 1º de
abril de 1964 e que durou até 15 de março de 1985, sob comando de
sucessivos governos militares, com diretriz nacionalista, desenvolvimentista e
de oposição ao comunismo, baseando-se num trecho do livro de Frei Betto
(OSPB — Introdução à política brasileira, São Paulo: Ática, 1986), que
define ideologia de forma geral e termina com a afirmação que se segue:
Há, porém, uma ideologia que ajuda a descobrir a realidade, fazendo-nos vê-la assim como o
mecânico vê o carro: por dentro, conhecendo toda a engrenagem e os mecanismos de
funcionamento. Essa ideologia — ideologia dos oprimidos — é temida pelos opressores.
Em todos os livros da coleção Interação e transformação — Língua
portuguesa, as gravuras são muito bem relacionadas aos assuntos tratados, e
os textos são selecionados adequando-se também aos temas tratados.
Segundo as autoras, sobre alguns dos temas das unidades, havia várias ações
educativas como debates em pequenos grupos, com registros das ideias
debatidas nesses grupos, interlocução entre os diversos grupos, leituras
dramatizadas, encenações, seminários etc. Utilizaremos, para a análise, uma
figura de cada um dos livros, focando-nos no último Estudo de cada uma das
séries.
5ª SÉRIE
6ª SÉRIE
a) Nos versos “o riso veio, não veio a utopia” quais são os sujeitos da oração?
b) Em quais versos os verbos apresentam-se no subjuntivo? Qual a intenção do autor ao utilizar o
subjuntivo?
c) Observe a primeira estrofe. Qual o sujeito dos verbos “acabou, sumiu e esfriou”? Dê a classe
gramatical do núcleo do sujeito.
(p. 144)
O exercício é feito com base em critérios meramente gramaticais numa
visão normativa orientada pela descrição gramatical tradicional, sem o
envolvimento com as novas teorias mencionadas anteriormente. Assim,
fixadas no programa de língua portuguesa para a 6ª série de acordo com as
leis educacionais, permanecem atentas a temas da época, de interesse da
comunidade estudantil e a questões linguísticas ainda relacionadas à
gramática tradicional. Os itens abordados constam de cada um dos “estudos”:
pronomes pessoais e possessivos; colocação pronominal; pronomes
demonstrativos, indefinidos e interrogativos; advérbio e locução adverbial;
sujeito e predicado; verbos transitivos e intransitivos; verbos transitivos e
preposições; predicado verbal e nominal; locuções verbais e tempos
compostos; predicado verbo-nominal; tempo e modos verbais.
Para a 7ª série, que tem no último Estudo o título Drogas, apresenta-se o
seguinte texto com as perguntas:
Antes de iniciar este Estudo, você e seus colegas discutirão todas estas perguntas utilizando o
conhecimento que possuem até o momento.
♦ Por que as pessoas consomem drogas?
♦ Pessoas de qualquer classe social utilizam drogas?
♦ Quais seus efeitos no organismo?
♦ O que é a dependência de droga?
♦ Todas as drogas criam dependência?
♦ Como saber se alguém está começando a usar uma droga e se corre o risco de ficar dependente
dela?
♦ E o que fazer quando isso acontece?
Essas são as perguntas que todos fazem. E precisam de respostas, porque, como já diz um velho
ditado popular: “É melhor prevenir do que remediar”. E porque, além disso, remediar no caso de
certas drogas é muito doloroso; por vezes quase impossível.
Este é, portanto, um assunto que deve ser tratado com seriedade, honestamente, de frente, sem
hipocrisia nem preconceitos.
Todas as perguntas remetem a um tema extremamente importante para a
faixa etária em que se encontram os alunos da 7ª série, em fase de
adolescência com todas as mudanças físicas, psicológicas e sociais que,
segundo a Organização Mundial de Saúde, marcam a transição da infância
para a idade adulta, período em que o corpo muda e as ideias também e
momento em que essas questões socioculturais devem ser discutidas.
Considerando o problema, os textos selecionados têm como títulos: Drogas?
Tô fora, gosto mais de mim! (texto retirado de A droga na escola. Fundação
Victor Civita, cartilha aprovada pelo Confen [Conselho Federal de
Entorpecentes, s/d]) e Drogas (elaborado pelas autoras).
7ª SÉRIE
8ª SÉRIE
Ideologia
Meu partido é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Frequenta agora as festas do Grand Monde
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
Agora assiste a tudo em cima do muro.
(Cazuza)
♦ Você possui sonhos? Quais?
♦ Ouça os sonhos de seus colegas e compare com os seus. São iguais ou não?
♦ Discuta com seus colegas e explique o que vocês entendem pela palavra ideologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, buscamos desvelar, na postura das autoras dos livros selecionados
na sociedade da década de 1990, os movimentos de unidade e diversidade nas
práticas de ensino, observando a dimensão externa e interna do material
selecionado, salientando o aspecto histórico das línguas por meio do qual
abordamos o universo cultural, social e ideológico. O processo de descrição e
compreensão dos fenômenos linguísticos no período novecentista mantém
ativa nossa preocupação com o material didático, uma constante nos estudos
sobre o ensino de língua portuguesa.
Nossas reflexões encontraram no material a procura da necessária
articulação entre descrição gramatical e leitura de texto, como pudemos
perceber, sem, no entanto, alcançar-se de fato tal articulação em todos os
momentos, pois alguns exercícios propostos mantêm o tradicional tratamento
da estrutura linguística desvinculada de uma formação de sentidos. Podemos
afirmar que os estudos da língua, durante o período mencionado, levaram-nos
ao trabalho historiográfico a que nos propusemos, respeitando a dimensão
combinatória que pôs em foco uma historiografia correlativa fixada no estudo
de relações entre teorias e das correlações entre pontos de vista em linguística
e o contexto sociocultural, político, institucional, como pretendíamos analisar
a partir do nosso local de observação dos fatos contemporâneos.
REFERÊNCIAS
Fontes primárias
BOURGOGNE, Cleuza Vilas Boas & SILVA, Lilian Santos. Interação & transformação: Língua
portuguesa, 5ª série. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.
____. Interação & transformação: Língua portuguesa, 6ª série. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.
____. Interação & transformação: Língua portuguesa, 7ª série. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.
____. Interação & transformação: Língua portuguesa, 8ª série. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.
Fontes secundárias
CYRANKA, Lúcia Furtado de Mendonça; SILVA, Vanessa Souza da. A língua portuguesa na Escola
ontem e hoje. In Linhas Críticas, Brasília, v. 15, n. 29, jul./dez. 2009, p. 271-287.
BATISTA, Ronaldo de Oliveira e TOCAIA, Luciano Magnoni. História, ensino de língua e material
didático: considerações para uma análise pela historiografia da linguística. In BASTOS Neusa
Barbosa; PALMA, Dieli. (org) História entrelaçada 8 — Língua portuguesa na década de 1980:
gramática, redação e educação. São Paulo: Terracota, 2018, p. 29-40
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
KOERNER, E. F. Konrad. Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados. Seleção
e edição de textos de Rolf Kemmler e Cristina Altman. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro., 2014.
PÊCHEUX, Michel. O discurso. Estrutura ou acontecimento. Trad.: Eni Orlandi. São Paulo: Pontes,
1990.
SWALES, J. M. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings. New York: Cambridge
University Press, 1990, p. 58
SWIGGERS, Pierre.. “Histoire et historiographie de l’enseignement du français: Modèles, objets et
analyses”. In COSTE, D. (ed.). Démarches en histoire du français langue étrangère ou seconde
(Études de linguistique appliquée 78), 1990, p. 27-44.
VAN DIJK, Teun A.; KINTSCH, Walter. Strategies of Discourse Comprehension. New York:
Academic Press, 1983.
CAPÍTULO 3
ALFABETIZAÇÃO
SOCIOCONSTRUTIVISTA EM
PERSPECTIVA
HISTORIOGRÁFICA
MARIA MERCEDES SARAIVA HACKEROTT
CAIO VINÍCIUS CATALANO
INTRODUÇÃO
O presente capítulo analisa a proposta de alfabetização socioconstrutivista
apresentada nas obras ALP — Alfabetização: análise, linguagem e
pensamento. Um trabalho de linguagem numa proposta socioconstrutivista
(1995) e Didática de alfabetização. Decifrar o mundo: alfabetização e
socioconstrutivismo (1996) de Maria Fernandes Cócco e Marco Antonio
Hailer. A primeira obra é o livro inicial da coleção didática de língua
portuguesa para o ensino fundamental, publicada pela FTD, e a segunda,
também lançada pela mesma editora, é um manual para formação de
professores alfabetizadores. O objetivo deste capítulo é reconstruir o clima de
opinião em que estas duas obras foram escritas e flagrar, nesses dois textos
didáticos, as rupturas com o ensino tradicional de primeiras letras, que
resultou no abandono das tradicionais cartilhas.
1. DAS CARTILHAS AO
SOCIOCONSTRUTIVISMO
As primeiras cartilhas publicadas no Brasil datam do século XIX e, no
século seguinte, observa-se um aumento significativo no lançamento de
novas obras: de cinco títulos publicados na segunda metade do século XIX,
passa-se a 58 na primeira metade do século XX. Além dos lançamentos de
novas cartilhas, muitas delas tiveram várias edições e reimpressões, tornando
o gênero uma promissora oportunidade de negócio no mercado editorial:
Causa espanto o número de edições que algumas cartilhas tiveram: em onze anos a Cartilha Sodré
teve 219 edições e a Cartilha do povo 116, isto significa que a obra de Benedicta Sodré teve em
média, dezenove edições por ano e a de Lourenço Filho teve, em média, dez edições por ano
(HACKEROTT; SANTOS, 2010, p. 85).
A produção de cartilhas prossegue até o final do século XX. As listas
apresentadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) mostram
um aumento no número de indicações de livros do gênero até o início da
década de 1990. Em meados dessa década, há uma acentuada diminuição
desse número e, a partir de 2003, o termo “cartilha” desaparece tanto do Guia
de livros didáticos/PNLD-2004 quanto dos títulos dos livros recomendados
na seção “Livros de alfabetização”. Tal medida deve-se às orientações dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) publicados em 1997.
Livros de alfabetização:
89 Cartilhas
A nova escolha do livro didático — FAE — 1985
15 Pré-livros
17 Livros de leitura intermediária
Livros de alfabetização:
92 Cartilhas
Manual para indicação de livro didático — PNLD/FAE —
14 Pré-livros
1988
22 Livros de complemento da
alfabetização
Livros de alfabetização:
Manual para indicação de livro didático — PNLD/FAE — 112 Cartilhas
1992 15 Pré-livros
23 Livros de leitura intermediária
Livros pré-escolar:
49 Cartilhas
Catálogo para indicação de livro didático — PNLD — 1997
8 Pré-livros
10 Livros de leitura intermediária
Livros didáticos de alfabetização:
nenhum livro recomendado com distinção
Guia de livros didáticos — PNLD — 2004
11 recomendados
17 recomendados com ressalvas
Figura 1: Exemplo de atividade com variação tipográfica (CÓCCO; HAILER, 1995, p. 156-157).
ÚLTIMAS PALAVRAS
Por fim, uma reconstrução do clima de opinião no Brasil da década de 1990
precisa registrar o compromisso com a democratização do ensino que tiveram
os envolvidos com a alfabetização. Não bastava promover o acesso à escola,
era preciso garantir a qualidade do ensino a todos. Para escolher o livro
didático a ser enviado às escolas públicas, os professores passaram a
examinar no exemplar do professor o referencial teórico adotado pelos
autores. Nas duas obras analisadas, Cócco e Hailer adotam uma retórica de
ruptura e assumem, juntamente com Freire (1989), que a alfabetização ocorre
por meio da compreensão crítica do ato de ler e escrever e não se esgota na
decodificação da palavra escrita.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações
entre o texto e o contexto” (FREIRE, 1989, p. 9).
REFERÊNCIAS
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo. De Piaget a Emilia Ferreiro. 8.ed. São Paulo: Ática, 2006.
BARROS, João de. Gramática da língua portuguesa: Cartinha, Gramática, Diálogo em louvor da
nossa linguagem e diálogo da viciosa vergonha. Leitura e introdução por Maria Leonor Carvalhão
Buescu, Lisboa: Universidade de Lisboa, 1971.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2009.
CÓCCO, Maria Fernandes; HAILER, Marco Antonio. ALP — Alfabetização: Análise, linguagem e
pensamento. Um trabalho de linguagem numa proposta sociocconstrutivista. São Paulo, FTD, 1995.
____. Didática de alfabetização. Decifrar o mundo: alfabetização e socioconstrutivismo. São Paulo,
FTD, 1996.
FARACO, Carlos Alberto. Escrita e alfabetização. 9.ed. São Paulo: Contexto, 2010.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores
Associados: Cortez, 1989.
FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO ESTUDANTE. A nova escolha do livro didático — FAE —
1985. Rio de Janeiro, 1985.
____. Manual para indicação de livro didático — PNLD / FAE — 1988. Rio de Janeiro, 1987.
____. Manual para indicação de livro didático — PNLD / FAE — 1992. Rio de Janeiro, 1991.
____. Catálogo para indicação de livro didático — PNLD — 1997. Brasília, 1996.
HACKEROTT, Maria Mercedes Saraiva; SANTOS, Jefferson Lucena dos. Carrossel de Cartilhas. In:
BASTOS, Neusa Barbosa; PALMA, Dieli Vesaro (orgs.) História entrelaçada 4: os discursos das
produções linguístico-gramaticais dos países lusófonos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, p. 79-
113.
[s/ autor]. Cartilha. Campeã nas salas de alfabetização, ela se transforma com o construtivismo. Nova
Escola. Outubro de 1986, n. 97.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 11.ed. São Paulo: Ática, 1995.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia de livros didáticos — PNLD — 2004. Brasília, 2003.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização (1876-1994). São Paulo: UNESP,
2000.
SOARES, Magda Becker. O livro didático e a escolarização da leitura. TVBrasil, Rio de Janeiro, p. 1-7,
7 out. 2002. Entrevista concedida a Salto para o futuro. Disponível em:
<http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/entrevistas/magda_soares.htm> Acesso em: 20 de junho de
2019.
VIEIRA, Zeneide Paiva Pereira. Cartilhas de alfabetização no Brasil: um estudo sobre trajetória e
memória de ensino e aprendizagem da língua escrita. Tese de doutorado. Orientador: Prof. Dr.
Cláudio Eduardo Félix dos Santos. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2017.
CAPÍTULO 4
ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA E UM DIÁLOGO
COM A SEMIÓTICA DISCURSIVA
NA DÉCADA DE 1990
Leitura do mundo, de Norma Discini e
Lúcia Teixeira
RONALDO DE OLIVEIRA BATISTA
LUCIANO MAGNONI TOCAIA
INTRODUÇÃO
Este capítulo elabora uma análise historiográfica da coleção didática
Leitura do mundo (Editora do Brasil), publicada em 1998 por Norma Discini
e Lúcia Teixeira. O conjunto de quatro livros — destinado aos anos finais do
que atualmente se denomina ensino fundamental II (antigo curso ginasial) —
será considerado por amostragem a partir da observação analítica do livro
destinado à 5ª série (equivalente ao atual 6º ano), uma vez que as orientações
e procedimentos didáticos e a organização geral das propostas de ensino se
repetem em todos os volumes.
Esta análise se pauta no espírito de uma interpretação historiográfica (na
linha de SWIGGERS, 1990) que procura descrever e analisar o livro didático
em relação a elementos como: concepção de língua, conteúdo programático
selecionado, metodologia de ensino, entre outros fatores relacionados a uma
dimensão interna de análise. Associada a essa dimensão interna, procura-se
contextualizar a proposta didática representada pelo livro a um contexto
social e histórico mais amplo, relativo a uma apreensão histórica dos modos
de ensino da língua portuguesa na década de 1990. Essas duas dimensões
correspondem ao que tradicionalmente se compreende em historiografia
linguística como parâmetros internos e externos de análise (cf. BATISTA,
2013; BATISTA (org.), 2019).
O historiógrafo que analisa práticas de ensino de língua, a produção de
material didático e as políticas educacionais relacionadas a essas práticas
procura contextualizar a dimensão pedagógica que envolve a língua, seu uso
e transmissão (formalizada ou não) em contextos sociais e históricos
específicos, circunscritos a esferas ideológicas em voga em determinados
períodos. Esses contextos moldam formas de ensino, evidenciadas em, por
exemplo, livros didáticos, planos de ensino, diretrizes públicas, bem como
relações entre professores e alunos.
Livros didáticos interessam ao historiógrafo porque materializam
textualmente concepções de ensino de língua. Há sempre uma perspectiva
teórica que sustenta lições (e a delimitação de conteúdos programáticos) que
se propõem a ensinar língua para um nível de ensino. Além disso, há
orientações metodológicas subjacentes (às vezes claramente afirmadas em
seções especialmente dedicadas aos professores) a atividades propostas nos
livros. Uma metodologia é também relacionada a concepções de língua e
está, dessa maneira, inscrita em um eixo de continuidades ou de rupturas com
práticas de ensino.
Cabe ao historiógrafo ir além da superfície textual (verbal, visual,
verbovisual) de um livro didático. Ao realizar esse movimento, ele é capaz de
captar redes de influências, permanências históricas ou descontinuidades com
tradições naquilo que caracteriza a obra como material direcionado ao ensino,
tal como compreendido em um eixo temporal específico. Um livro didático
oferece diferentes dimensões de observação analítica, pois interessam não só
seções/capítulos de difusão de conteúdos programáticos, mas também o
prefácio (fundamental para recriar qual é a voz discursiva — em relação
dialógica — que se mostra presente) ao professor e ao aluno, as orientações
didáticas aos professores, as referências bibliográficas.
REFERÊNCIAS
BATISTA, R. O. Introdução à historiografia da linguística. São Paulo: Cortez, 2013.
____. (Org.). Historiografia da linguística. São Paulo: Contexto, 2019.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos. Língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
DISCINI, N.; TEIXEIRA, L. Leitura do mundo — 5a. série. São Paulo: Editora do Brasil, 1998.
PIRES DE OLIVEIRA, R.; QUAREZEMIN, S. Gramáticas na escola. Petrópolis: Vozes, 2016.
SOARES, M. B. Concepções de linguagem e o ensino de língua portuguesa. In BASTOS, N. B. (org.).
Língua portuguesa. História, perspectivas, ensino. São Paulo: Educ, 1998, p. 53-60.
SOARES, M. Português na escola. História de uma disciplina curricular. In: BAGNO, M. (org.).
Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2004, p. 155-177
SWIGGERS, P. Histoire et historiographie de l’enseignement du français: modèles, objets et analyses.
Études de LinguistiqueAppliquée, n. 78, p. 27-44, 1990
UCHÔA, C. E. F. O ensino de gramática: caminhos e descaminhos. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro:
Lexicon, 2016.
1 Norma Discini foi entrevistada para a elaboração de uma narrativa historiográfica a respeito do seu
livro didático em 2018. Foram enviadas a ela por Ronaldo de Oliveira Batista perguntas que foram
respondidas por correio eletrônico.
2 Em razão dos limites deste texto, cobriremos as seções que se mostram mais relevantes à nossa
proposta, enfatizando, sobretudo, o que era (pré)definido pelos Parâmetros Curriculares como unidades
de ensino de língua portuguesa: prática de leitura; prática de produção de textos; análise e reflexão
sobre a língua.
3 No manual do aluno, é essa a seção inicial. No manual do professor, a seção dedicada aos docentes é
a parte inicial do livro.
4 As citações aos trechos da obra aqui analisada serão feitas apenas pela remissão ao número das
páginas.
CAPÍTULO 5
AS LIÇÕES DE GRAMÁTICA DE
LUIZ ANTONIO FERREIRA
A proposta de uma “gramática para o dia
a dia”
DIELI VESARO PALMA
THIAGO ZILIO-PASSERINI
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nos dizeres de Chartier (2015 [2007], p. 40), a produção de livros — e
consequentemente de textos — figura como um processo que demanda, além
do próprio ato de escrita, diferentes técnicas e intervenções e está relacionada
a diferentes momentos da história. Nesse sentido, a relação da obra com o
mundo social onde se insere vai além dos aspectos mais superficiais — tais
como os estéticos, simbólicos, entre outros — e se materializa principalmente
nas “[...] relações múltiplas, móveis, instáveis, amarradas entre o texto e suas
materialidades, entre a obra e suas inscrições”.
Partindo dessa premissa, a historiografia linguística, ao reconstruir o
conhecimento linguístico de determinada época e ao refletir sobre ele (Cf.
PALMA, 2012), promove um diálogo não só entre o passado e o presente,
como também entre diferentes ramos do conhecimento, essenciais à
compreensão dos documentos em sua totalidade. A coleção Lições de
gramática, de Luiz Antônio Ferreira, é a fonte documental de que nos
valemos na análise deste capítulo e, por meio dela, buscamos estabelecer, no
interdiscurso historiográfico, respostas para as seguintes questões: como o
autor mobilizou os conhecimentos advindos da linguística em sua obra?
Quais teorias linguísticas se destacam? Em que medida se dá a relação
gramática x linguística na abordagem do material?
Para respondermos a essas indagações, consideramos, nos dizeres de
Chartier, a materialidade do texto, circunscrevendo-o ao momento de sua
produção. Em outras palavras, seguiram-se os princípios metodológicos
preconizados por Koerner (2014 [1995]), a saber: o da contextualização, o da
imanência e o da adequação. Com base neles, foi possível, nos dizeres de
Swiggers (2010), estabelecer a análise argumentativa e a síntese histórico-
comparativa a fim de chegar à fase hermenêutica, o corolário do processo
interpretativo concernente ao labor do historiógrafo.
CONSIDERAÇÕES BIOBIBLIOGRÁFICAS DO
AUTOR
Luiz Antônio Ferreira é graduado em Letras Português — Inglês pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Farias Brito, mestre e doutor em
Educação pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor titular da
PUC-SP e exerce a função de coordenador do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Língua Portuguesa da mesma universidade. Suas linhas de
pesquisa concentram-se principalmente em questões de ensino de língua
portuguesa, sobretudo na interface da leitura. Além disso, o autor é líder do
Grupo de Estudos Retóricos da Atualidade (ERA), cadastrado no CNPq, cuja
sede também está localizada na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
Desde a década de 1970, Ferreira dedica-se ao magistério e, ao longo de
seus mais de quarenta anos de carreira, adquiriu experiência tanto na
educação básica quanto no ensino superior, além de ter desempenhado cargos
de gestão no âmbito educacional. Como autor, sua estreia dá-se exatamente
no campo dos livros didáticos, mais precisamente em 1980, com a obra
Técnicas de redação: teoria e prática, em parceria com Conceição Aparecida
Jurado. Ainda na mesma época, publicou a coleção Aulas de comunicação em
língua portuguesa, no ano de 1984.
Nos anos 1990, o autor continuou sua trajetória na produção de material
didático para a educação básica, publicando roteiros de leitura de obras
literárias para o ensino médio e também livros para o ensino fundamental II,
como os que compõem a coleção Lições de gramática, em meados da década
em questão. A partir dos anos 2000, as publicações do autor voltaram-se
sobremaneira para o ensino superior e concentraram-se principalmente nas
questões de retórica, com destaque para a obra Leitura e persuasão:
princípios de análise retórica, publicada em 2010 pela Editora Contexto.
5ª série
O primeiro volume da coleção é composto por 38 capítulos, dedicados
principalmente à morfologia e à ortografia. As três primeiras lições figuram
como um diferencial, sobretudo pela temática abordada. Delas, a primeira e a
segunda contemplam um conteúdo efetivamente linguístico, discorrendo
sobre adequação e variação linguística. A terceira é ainda mais particular,
por tratar de um assunto pouco comum no ensino fundamental,
principalmente na série em questão: a história do português. Para a análise,
selecionamos a segunda lição, intitulada “Exercitando as competências”.
O nome do capítulo já denota um conteúdo diferente: o termo competências
merece destaque, pois pertence tanto ao âmbito dos estudos linguísticos
quanto ao da pedagogia. Chomsky, na década de 1960, já se ocupava da
definição de competência, em contraposição a desempenho. Para ele, o
primeiro seria “o conhecimento que o falante-ouvinte tem de sua língua; o
segundo corresponderia “[...] ao uso real da língua em situações concretas”
(CHOMSKY, 1971 [1964], p. 6).
Na década de 1990, os PCN também empregam o termo por diversas vezes
e preconizam: “Toda educação comprometida com o exercício da cidadania
precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência
discursiva” (BRASIL, 1998, p. 23). Para tanto, ponderam que outro aspecto
importante é a competência linguística e estilística, compreendida como a
capacidade de “[...] produzir diferentes efeitos de sentido e adequar o texto a
diferentes situações de interlocução oral e escrita” (Ibid.)
As competências chegam aos documentos oficiais, sobretudo por terem
ganhado relevo nos estudos de alguns teóricos, especialmente franceses,
conforme assinala Rios (2001, p. 76). Entre eles, destaca-se Perrenoud, que
define competência como “[...] uma capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se
a eles” (PERRENOUD, 1999, p. 7). Levando em conta a formação de
Ferreira, podemos supor o seu contato mais próximo com essas teorias, tendo
em vista o fato de elas pertencerem ao campo da educação, área de
especialização de nosso autor.
Aplicando esses postulados às questões de linguagem, compreende-se que
um falante competente deve saber lançar mão de todos os recursos
linguísticos de que dispõe nas mais distintas situações de comunicação que se
lhe apresentarem. Conforme assinala Antunes (2015, p. 104), as diferentes
situações sociais demandam usos diferentes da língua. Isso porque ela “[...]
só existe em sociedade, e toda sociedade é inevitavelmente heterogênea,
múltipla, variável e, por conseguinte, com usos diversificados da própria
língua”.
A lição é aberta com uma imagem, na qual se vê uma pessoa trajando
roupas inadequadas para o contexto: uma praia. Pede-se que os alunos
observem a cena e, em seguida, respondam à pergunta: O que há de estranho
nessa situação? (p. 15). Pelo contexto, espera-se que eles percebam a
inadequação dos trajes do homem à situação retratada.
A partir da segunda questão, de caráter inferencial, inicia-se a reflexão
linguística: É possível relacionar, de alguma forma, essa situação ao que foi
estudado sobre o conteúdo de língua portuguesa? Justifique sua resposta.
Mais uma vez, fica clara a intenção de enfatizar a relação entre o uso da
língua e a situação de comunicação, como se pode observar na resposta
sugerida no livro do professor. Nela lê-se que “[...] há convenções para o uso
da língua, que deve ser adequada às diversas situações de comunicação” (p.
15).
Na sequência, há um pequeno texto expositivo destacando as variedades da
língua e afirmando que todos os falantes têm “[...] o direito de usá-las” (p.
16). Citam-se duas dessas variedades, referenciadas como variedade culta ou
padrão culto e variedade coloquial ou padrão coloquial. Para ilustrar, são
apresentadas quatro cenas de um contexto escolar em que a comunicação se
dá por meio da variedade coloquial. Na página seguinte, outra ilustração é
utilizada para exemplificar a variedade culta no contexto de uma reunião
empresarial.
A terceira questão consiste na passagem de frases da variedade coloquial
para a variedade culta. Entre elas, figuram registros como “As mangas já tá
madura. É só apanhá”; “Os aluno safado já se mandaro, fessora! ”; e “Meus
tio são tudo inteligente” (p. 17-18). Como podemos observar, apesar de se
tratar de um conteúdo efetivamente linguístico, a abordagem ainda se
assemelha ao padrão frástico da gramática tradicional. Além disso, os
exemplos de coloquialidade remetem-nos à variedade conhecida como
dialeto caipira (Cf. AMARAL, 2020 [1920]), largamente utilizada à época
para demonstrar o fenômeno da variação em livros didáticos.
A proposta do autor de se valer do conhecimento prévio dos alunos para o
ensino de gramática evidencia-se no exercício quatro, apresentado deste
modo: Pela rua onde você mora passam alguns vendedores? Como eles
fazem para divulgar a mercadoria que vendem? Anote as frases que
costumam usar nessa situação (p. 18). No livro do professor, lemos que o
objetivo da questão é levar os alunos à percepção dos inúmeros “recursos da
língua adequados a situações diversas” (p. 18). Nesse sentido, a questão
também se relaciona à competência linguística e estilística mencionada nos
PCN: para divulgar seu produto, o vendedor necessita de grande mobilização
dos recursos estilísticos da língua a fim de persuadir os clientes.
A questão de número cinco é baseada em uma figura, apresentada logo
abaixo da pergunta Qual a profissão do homem que aparece na figura a
seguir? (p. 18). Nela, observa-se um maestro, cuja identificação só é possível
pelo destaque dado à batuta que ele segura em uma das mãos. Embora o
exercício pareça desconectado do anterior, na verdade, ele é um preparo para
a reflexão proposta na sexta questão, assim formulada: É possível estabelecer
alguma ligação entre a função do maestro em relação aos músicos e a
função da gramática normativa em relação aos falantes da língua
portuguesa? Justifique sua resposta (p. 19). A resposta registrada no livro do
professor equipara a figura do maestro à da gramática, destacando que ambos
“[...] regem e determinam ao grupo como proceder” (p. 19) Assim, é possível
inferir que o conceito de gramática que norteia a obra é o normativo, ou seja,
“[...] um conjunto de regras que devem ser seguidas” (POSSENTI, 2005, p.
64, grifo do autor).
O exercício que encerra a lição propõe a reescrita de um bilhete. O contexto
inicial apresentado é de um garoto escrevendo para um amigo sobre um livro
lido. Em seguida, sugere-se que o aluno reescreva o texto, supondo outro
interlocutor: o diretor da escola. Desse modo, faz-se uma retomada dos
conceitos iniciais de variedade culta e coloquial, apresentados na parte
teórica, para finalizar a unidade.
6ª série
O segundo volume das Lições de gramática é composto por vinte e duas
lições, também dedicadas a temas predominantemente gramaticais
abrangendo a morfologia, a ortografia e a sintaxe. De todas as unidades, as
duas primeiras apresentam conteúdo marcadamente linguístico, como se pode
ver pelos títulos: “Variação linguística” e “Graus de formalismo”,
respectivamente. Para a análise, selecionamos a primeira lição, cuja temática
se relaciona à sociolinguística variacionista. Nos dizeres de Bagno (2017, p.
469), o fenômeno da variação é “[...]uma propriedade intrínseca da natureza
da mesma língua, de todas as línguas, que constituem sistemas heterogêneos,
múltiplos e variáveis” e constitui um dos pilares dessa vertente dos estudos
da linguagem.
Considerando a extensão da unidade — composta por 24 exercícios —
foram selecionados aqueles que julgamos mais significativos, incluindo a
parte teórica. A questão que abre o capítulo — Você é capaz de entender a
mensagem de Warlike? Por quê? (p. 7) — relaciona-se a uma ilustração
retirada de uma edição da revista Veja, de 1997. Nela, observam-se dois
internautas trocando mensagens, utilizando uma linguagem muito específica,
com termos como lag, flood, nick e lammer. Levando em conta o ano da
publicação do livro, o texto chama a atenção, pois a internet ainda não era
popular entre os jovens, e alguns dos termos registrados são hoje de uso
corrente, mas certamente não eram nos anos 1990.
A seguir, há um pequeno trecho explicando a fala da personagem e
ressaltando que, ainda assim, a tradução poderia não ser tão eficaz devido à
presença de termos mais específicos do vocabulário da informática. O texto
que segue ilustra a fala de um português, e o autor chama a atenção do leitor
para as diferenças vocabulares existentes entre o primeiro e o segundo textos.
Não há, nesse momento, nenhuma questão específica para o excerto
selecionado. Ele serve apenas como reflexão para a etapa seguinte. Nela, é
apresentada uma notícia com o título “Antônio Carlos abre: Timão tá
abandonado. Beque meteu a boca em cartola e no advogado do time” (p. 9),
extraída do extinto jornal Notícias Populares, de grande circulação na cidade
de São Paulo na época.
O trecho apresenta grande quantidade de gírias, e é esse o foco que se
pretende abordar, como se verifica na terceira questão: Procure, no
dicionário, os significados da palavra gíria e transcreva-os (p. 9). Em
continuação, seguem mais duas questões, agora especificamente relacionadas
ao texto: Retire as gírias do texto de Notícias Populares e O que o jornalista
quis dizer com “vai rolar o julgamento”? (p. 9).
Finalizando a etapa, uma pergunta visa mobilizar o conhecimento prévio
dos alunos e, ao mesmo tempo, estimular-lhes a criatividade: Você conhece
gírias comuns a praticantes de algum esporte? Crie frases, por exemplo, com
termos de gíria usados por: a. jogadores de futebol; b. locutores esportivos
(p. 10). No fim dessa questão, de número seis, segue um pequeno trecho
teórico, dedicado à questão da variação:
Como você pode perceber, os jovens internautas, o velho português e o jogador de futebol
praticam a mesma língua, mas não a usam do mesmo modo.
Essa é uma característica comum a todas as línguas do mundo: não são uniformes, não são usadas
da mesma maneira por todos. Apresentam, assim, variações linguísticas, que podem encontrar-se
nas modalidades escrita ou falada.
As línguas variam porque as sociedades se dividem em grupos: adultos, jovens, habitantes de
diversas regiões, profissionais de várias áreas, classes sociais.
O uso de determinada variação linguística indica o grupo a que pertence um falante da língua [...]
(FERREIRA, 1998, p. 10, grifos do autor).
Pelos dizeres, observamos a forte influência da sociolinguística
variacionista, tal como a define Bagno (2017, p. 425, grifos do autor):
[...] inaugurada por W. Labov [...] recorre aos fenômenos de ordem social para explicar os
fenômenos linguísticos, interessada como é sobretudo nos processos de mudança linguística —
nessa abordagem, portanto, o foco estaria em como a língua é configurada pela sociedade..
7ª série
O assunto predominante na 7ª série é a análise sintática. Há ainda três lições
que tratam da ortografia com especial destaque para a acentuação gráfica. Na
lição dois, por exemplo, considera-se o conceito de sílaba tônica e sílaba
átona e o de monossílabo, com sua subdivisão em tônico e átono, para se
chegar à proposição da regra de acentuação dos monossílabos.
Nessa unidade, são propostos dois textos como ponto de partida para a
construção do conceito de acentuação dos monossílabos e a noção de
palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, mostrando como ocorre a
acentuação dessas últimas. Além disso, há um terceiro texto, em quadrinhos,
que introduz as palavras oxítonas acentuadas. Encerra essa lição, uma
proposta de trabalho em grupo, que resultará na produção de duas entrevistas:
uma com gêmeos e outra com adultos, tendo como base o tema do primeiro
texto, um artigo de divulgação científica, cujo foco é a clonagem de animais.
A mesma estrutura é mantida nas vinte lições que compõem o volume da 7ª
série.
Além dos capítulos já citados, o autor traz uma lição sobre a formação do
vocabulário português, três lições sobre a formação de palavras e uma sobre
pontuação. Finalmente, há um capítulo, o décimo sétimo, que aborda
problemas na construção de frases. Ferreira seleciona dois panfletos, em que
as autoras tratam de assuntos de diferente natureza, vividos pelos
consulentes. O primeiro, intitulado “Dona Karina”, deve ser discutido em
grupo, partindo de questões propostas pelo autor.
O primeiro exercício engloba cinco perguntas. Na primeira, o autor já deixa
claro o parâmetro para o estudo desse texto: a norma culta escrita. Ela trata
da adequação do tempo verbal, com o objetivo de mostrar a correlação entre
o futuro do presente do indicativo e o futuro do subjuntivo. Na segunda, é
solicitada a localização de adjunto adverbial deslocado na oração e, na
terceira, é focalizado o uso da vírgula em expressões adverbiais, deslocadas
de sua posição, ou seja, em orações na ordem inversa. Na quarta questão, a
pergunta Que ideia transmite a expressão pelos meios de seus estudos? dá
destaque à diferença de sentido entre as expressões “pelos meios de seus
estudos” e “por meio de seus estudos”, uma vez que a primeira pode ser
interpretada como “na metade de seus estudos”, como aponta Ferreira. A
quinta pergunta aborda o uso do pleonasmo vicioso na expressão “Assuntos
particulares de cada um”. Assim, cabe ao estudante mostrar que particular só
pode ser de cada um.
Na segunda questão (p. 179), o autor introduz o seguinte período: “Uma
consulta será bastante para que se tenha a convicção do que se quer saber... ”.
É proposta uma pergunta sobre ele — Como devemos entender seu sentido?
Seu objetivo é chamar a atenção do estudante para essa construção,
classificada como estranha, uma vez que ela pode ser interpretada como “o
consulente precisar de uma consulta para ter certeza do que é que ele quer
saber ou para sair convicto do que ele quer descobrir.”, conforme resposta
apresentada no Livro do professor, à página 179. Na sequência, é solicitado
ao aluno que reescreva o período, tornando-o mais claro e objetivo. Nessa
proposta, por meio de uma questão inferencial, o autor articulou a leitura, a
escrita e a reflexão sobre a construção linguística. Embora Ferreira privilegie
a norma culta escrita, ele propõe um trabalho de gramática reflexiva, que,
segundo Travaglia (1996, p. 33), citado na bibliografia, é “a gramática em
explicitação”. Sobre esse tipo de gramática, ele afirma:
Esse conceito se refere mais ao processo do que aos resultados: representa atividades de
observação e reflexão sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e
princípios, ou seja, a constituição e o funcionamento da língua. Parte, pois, das evidências
linguísticas para tentar dizer como é a gramática implícita do falante, que é a gramática da língua.
8ª série
O volume trata das orações coordenadas e subordinadas, das orações
reduzidas, da concordância e regência verbal e da linguagem figurada. Como
todos os capítulos têm a mesma organização, escolhemos, para análise, a
décima terceira lição, que aborda a concordância verbal. Ela se inicia com o
texto “Lição de escrita”, adaptado da obra Tristes trópicos, de Claude Lévi-
Strauss, um relato de viagem. Além desse trecho, há uma tirinha de Garfield,
uma passagem de um jornal brasileiro e classificados de jornal. Todos esses
textos servem de ponto de partida para a introdução de casos de concordância
verbal, focalizados em dezoito questões, todas de caráter inferencial. Finaliza
essa lição um trabalho em grupo que tem como tema um relato de viagem.
As quatro primeiras questões referem-se ao texto de Lévi-Strauss. A
primeira apresenta uma série de frases, e é solicitado ao estudante que
assinale aquelas em que a concordância do sujeito com o verbo esteja de
acordo com a norma culta. Essa pergunta exige do aluno uma reflexão sobre
a relação entre sujeito e predicado, conceitos trabalhados na 7ª série, embora
a forma de estruturação da pergunta seja a de múltipla escolha.
A questão dois retoma o conteúdo da primeira, solicitando ao estudante que
reescreva as frases cuja concordância não esteja de acordo com a norma
culta. Ela também exige um trabalho reflexivo do estudante, mobilizando
conhecimentos anteriores.
A terceira questão é antecedida de um quadro, introduzido pela palavra
“Veja”. Nele, são apresentadas a terceira pessoa do singular e do plural, no
presente do indicativo dos verbos ler, ver, crer, vir e ter. O objetivo é mostrar
para o estudante que tais formas se diferenciam, no singular e no plural, pela
duplicação da vogal “e” em todos os verbos e pela presença do acento
circunflexo em vêm (verbo vir) e têm (verbo ter). Na sequência, é proposto o
exercício no qual é solicitado que o aluno preencha as lacunas com os verbos
que estão entre parênteses. Essa questão exige do aprendiz a relação das
informações que estão no quadro com a construção da frase, considerando a
ligação entre sujeito e predicado, conceito desenvolvido nas duas questões
anteriores.
Na quarta questão, pede-se a escrita de frases com os verbos ter, dar, crer,
ver, vir e ter, empregados na terceira pessoa do singular e na terceira do
plural. São esperadas respostas pessoais, que exigem em sua produção a
retomada do conceito de concordância verbal e o das informações contidas no
quadro com os verbos. Novamente, é demandado um processo de reflexão,
uma vez que as informações estão implícitas no texto.
A quinta questão propõe a análise de frases retiradas de um importante
jornal, e solicita-se ao estudante que verifique se elas apresentam problemas
de concordância. Caso haja falhas, as frases devem ser reescritas, de acordo
com a norma culta. Segue a frase: “Estão abertas as inscrições para o mais
importante concurso de música erudita do país. Qualquer instrumento de
orquestra, além de piano, violão, cravo, instrumentos antigos e canto podem
concorrer nas categorias solista e conjuntos” (p. 154). A falha está no uso do
plural do verbo poder, pois seu sujeito é “qualquer instrumento”, e a falta da
vírgula entre o substantivo canto e a forma verbal podem.
A questão seis vem precedida de exemplos formados por frases, nas quais
são destacados o sujeito, sendo apontado que ele está: a) no plural; b)
formado por palavra partitiva seguida de substantivo no plural; e c) formado
por substantivo coletivo. Quanto ao verbo, está indicado em a) que ele está no
plural; em b) que ele está na terceira pessoa do singular ou do plural; e em c)
que ele está na terceira pessoa do singular. A relação entre esses termos é
apresentada de forma gráfica, na qual é introduzido o conceito de
concordância. Na sequência, é proposto o exercício solicitando-se que seja
feita a concordância entre o sujeito e o predicado dos verbos entre parênteses.
Vemos que essa questão segue a mesma linha de raciocínio da quarta.
A sétima questão pede ao aluno que escreva frases sobre os nhambiquaras,
empregando, na função de sujeito, os coletivos fauna, caravana, bando,
repertório. Assim, ela retoma o conceito explicitado na questão seis, exigindo
reflexão por parte do aprendiz sobre o conceito geral de concordância e o
específico, relacionado aos substantivos coletivos.
A oitava questão solicita a modificação das frases criadas na pergunta
anterior, substituindo-se o coletivo por palavras correspondentes ao seu
significado (fauna = animais da região). Essa atividade também demanda
reflexão por parte do estudante.
A nona questão vem igualmente precedida de um quadro explicativo, de
natureza gráfica, sobre a voz passiva sintética e sua concordância, mostrando
que o sujeito no singular leva o verbo para o singular e, no plural, exige o uso
do plural. Em seguida, é solicitada a realização de atividade na qual o
estudante deve formar frases com o verbo e o substantivo indicados, seguindo
a regra de concordância. Há uma lista da qual fazem parte dois verbos
transitivos indiretos, cujos sujeitos serão indeterminados pela partícula “se”.
Esse exercício é bastante complexo, exigindo uma reflexão mais profunda em
sua elaboração.
A décima questão é introduzida por outro quadro explicativo, dessa vez
sobre os verbos transitivos indiretos e o índice de indeterminação do sujeito.
Na sequência, é apresentado um exercício semelhante ao da questão nove,
mas com foco no conteúdo do quadro. Tal como no exercício anterior, são
misturados verbos transitivos diretos, que exigem a voz passiva e sua
concordância, e verbos transitivos indiretos, que mantêm o verbo na terceira
pessoa do singular. Sobre a complexidade, vale a mesma observação da
questão anterior.
A décima primeira questão pede ao estudante que imagine ser ele um
vendedor de carros importados e, então, crie duas frases para constar em uma
placa para atrair clientes. O exercício volta-se para o uso da língua em uma
situação comunicativa especifica e demanda criatividade e reflexão na
construção linguística.
A décima segunda questão também foca o uso da língua. É dado como
modelo um classificado de jornal, com o verbo na terceira pessoa do singular
e, depois, pede-se a redação de um classificado para cada um dos três
anúncios apresentados, para venda, aluguel ou doação dos terrenos neles
anunciados. Vale o comentário feito para a questão anterior.
A décima terceira questão tem como base uma tirinha de Garfield. Dela,
são retiradas ações que o gato costuma fazer, segundo seu dono, e é solicitado
ao aluno que as redija na voz passiva, como se fosse o gato que as
anunciasse, com base em construções com o verbo no infinitivo. A atividade
é bastante complexa e exige reflexão sobre o uso da língua por parte do
usuário.
A décima quarta questão retoma o texto de Lévi-Strauss. Nele, são
destacados os verbos. Em seguida, é apresentado um modelo para o estudante
com alguns desses verbos na voz passiva sintética. Pede-se, então, que o
mesmo seja feito com os demais verbos: “Reclamou-me um bloco:
Reclamou-se um bloco”. Consideramos que essa questão igualmente
demanda reflexão em sua produção.
A décima quinta questão vem novamente antecedida de um quadro
explicativo, estabelecendo uma relação entre o verbo haver (no sentido de
existir) e os verbos existir e acontecer, indicando o seu uso na terceira pessoa
do singular e do plural. Adiante, são apresentadas frases com erros de
concordância desses verbos e é solicitado ao aluno que faça a reescrita delas,
seguindo a norma culta. O exercício apresenta complexidade e exige reflexão
por parte do usuário no momento de sua realização.
As questões dezesseis e dezessete pedem que se escrevam frases com o
verbo haver, respectivamente no sentido de existir e de acontecer, ocorrer. As
perguntas envolvem um grau de complexidade em sua resposta, exigindo do
estudante reflexão em sua elaboração.
Antecede também a décima oitava questão um quadro explicativo sobre o
uso do verbo fazer e do haver, quando usados na terceira pessoa do singular,
indicando passagem de tempo. Na atividade proposta, o verbo fazer deve ser
substituído pelo haver, podendo ou não vir acompanhado da conjunção
integrante “que”, como em Faz dez anos que li essa história de índios e
brancos. / Há dez anos, li essa história de índios e brancos. Há dez anos que
li essa história de índios e brancos. O exercício também exige reflexão por
parte do estudante em sua produção.
A última atividade da lição é o trabalho em grupo, que retoma o relato de
viagem apresentado no primeiro texto da unidade. Após a conceituação desse
tipo de texto, é solicitada ao estudante, seguindo os passos indicados pelo
autor, a produção de um relato de viagem. O trabalho deve ser feito
individualmente e, ao final, será escolhido, por votação, o relato que
representará o grupo. O escolhido será lido para a classe. Diferentemente de
outras lições, ao fim desta, não são estabelecidas relações com os conteúdos
gramaticais nela discutidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com Valente (2016, p. 247), os avanços na pesquisa linguística
propiciaram uma série de estudos cujo foco recaiu sobre as questões textuais.
Nas palavras do autor, “Todo esse processo foi enriquecedor para alunos e
professores nas práticas didático-pedagógicas”. Nesse sentido, a década de
1990, como legatária de uma série de discussões tanto pedagógicas quanto
linguísticas iniciadas em décadas anteriores, foi palco de inúmeras mudanças.
Com relação ao ensino de língua portuguesa, o período caracteriza-se não só
pela entrada dos postulados linguísticos nos documentos oficiais e nos
materiais didáticos, como também por uma tensão entre a gramática
tradicional e a linguística.
A coleção analisada, produzida em 1998, é exemplo dessa tensão, uma vez
que traz em seu título a palavra gramática e dela se ocupa precipuamente,
enfatizando a proposta de ensiná-la “para o dia a dia”. Assim, verificamos
certa continuidade na visão de ensino de língua, associado à gramática
normativa. Além disso, a obra mantém o mesmo perfil de gramática
contextualizada comum à época, valendo-se do texto como pretexto para a
abordagem gramatical e dando pouca ênfase a aspectos textuais já bastante
difundidos no momento de produção do material didático, como os advindos
da linguística textual ou da análise do discurso.
No entanto, a linguística está presente na obra, ainda que timidamente, em
algumas lições dos dois primeiros volumes. Nelas, percebe-se claramente a
influência dos estudos da sociolinguística variacionista, em consonância com
aquilo que preconizavam os PCN, também influenciados por essa vertente de
estudos da linguagem. O capítulo sobre a origem do português também
merece destaque, pois não era comum em coleções voltadas para o ensino
fundamental.
O autor igualmente rompe com o modelo tradicional dos manuais da época
ao apresentar as lições de modo dialogado, valendo-se de inúmeras questões
inferenciais para apresentar os conteúdos. Nesse ponto, ficam claros os
postulados da gramática reflexiva, pois o aluno é levado a refletir sobre as
regras e a inferi-las. A apresentação do conteúdo também se dá de modo
diferenciado, comparada a outras coleções do mesmo período: o autor não se
vale de um texto corrido para expor a matéria; ela é entremeada pelas
questões, possibilitando que a apropriação dos conceitos se dê gradualmente.
Além disso, a proposta de partir do conhecimento prévio dos estudantes é
plenamente cumprida pelo autor.
A história se circunscreve e se inscreve na materialidade do texto, registro
indelével do pensamento humano nas distintas épocas de sua existência. Ao
analisarmos as Lições de gramática, foi possível reestabelecer um diálogo
com a década de 1990, não só na tentativa de reconstruí-la por meio da obra
de Ferreira, mas também ressignificar essa obra, levando em conta o
momento de sua produção. Como vimos, as escolhas do autor refletem o
clima de opinião, a que se mantém indissociavelmente ligado. No entanto, o
seu engenho delimita em que medida se dará essa relação. Em outras
palavras, é a sua natureza inventiva que definirá as continuidades, as
descontinuidades e as rupturas com relação ao pensamento vigente, no
incessante fluxo histórico, escrito e reescrito pelo próprio homem.
REFERÊNCIAS
Fontes primárias
FERREIRA, Luiz Antonio. Lições de gramática. São Paulo: Ática, 1998 (4 volumes).
Fontes secundárias
AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: Parábola, 2020 [1920].
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São
Paulo: Parábola, 2015.
BAGNO, Marcos. Dicionário crítico de sociolinguística. São Paulo: Parábola, 2017.
____. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. 3.ed. São Paulo:
Parábola, 2015.
____. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua
portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015 [2007]
CHOMSKY, Noam. Aspectos de la teoría de la sintaxis. Madrid: Aguilar, 1971 [1965].
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola, 2017
[2008].
FARIA, Wilson de. Aprendizagem e planejamento de ensino. São Paulo: Ática, 1989.
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Educação básica no Brasil na década de 1990:
subordinação ativa e consentida à lógica do mercado. Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 82, p. 93-130,
abril 2003. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.
MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Contradições no ensino de português: a língua que se fala X a
língua que se ensina. São Paulo: Contexto; Salvador, BA: Editora da Universidade Federal da Bahia,
1995.
MC DONALD´S dá aulas de português: Professor doa cachê e aponta crise na Cultura. Folha de
S.Paulo, São Paulo, 9 de agosto de 1997. Caderno Mercado. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/09/index.html.
OLIVEIRA JUNIOR, Miguel (org.). Nurc — 50 anos: 1969-2019. São Paulo: Parábola, 2019.
PALMA, Dieli Vesaro. A oficina pedagógica: uma metodologia ativa e sua relevância na formação de
professores de língua materna. In VASCONCELOS, Maria Lucia M. Carvalho (org.) Língua e
literatura — Ensino e formação de professores. São Paulo: Editora Mackenzie, 2016, p. 55-80.
____. Lições de português e a formação de futuros professores: a proposta de Souza da Silveira para o
ensino da língua materna na perspectiva da historiografia linguística. In.: CONGRESSO
INTERNACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. Anais do IV Congresso
Internacional de Estudos Linguísticos e Literários [recurso eletrônico]. Belém: Programa de Pós-
Graduação em Letras da UFPA, 2013, p. 224-233.
PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de
Letras/Associação de Leitura do Brasil, 2005 [1996].
PRETI. Dino. Sociolinguística: os níveis de fala. São Paulo: Edusp, 2000 [1974].
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo:
Cortez, 2001.
SILVA, Alexsandro; MORAIS, Artur Gomes. Entre a tradição e inovação: um estudo sobre mudanças
no ensino de gramática em livros didáticos de língua portuguesa. In Revista Portuguesa de Educação.
V. 24, n. 1. Braga: Cied — Universidade do Minho, 2011, p. 119-144. Disponível em
http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpe/v24n1/v24n1a06.pdf.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e
2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
VALENTE, André. Por que e como ensinar gramática na escola. In.: BASTOS, Neusa Barbosa. (org.).
Língua portuguesa e lusofonia: história, cultura e sociedade. São Paulo: EDUC, 2016.
CAPÍTULO 6
DIRCE GUEDES DE AZEVEDO E
A COLEÇÃO PALAVRA &
CRIAÇÃO
Uma leitura lúdica e investigativa
MARIA IGNEZ SALGADO DE MELLO FRANCO
MARILENA ZANON
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente capítulo analisa, sob o ponto de vista da historiografia
linguística, a coleção de livros didáticos Palavra & Criação, da autora Dirce
Guedes de Azevedo, composta por 4 volumes, de 5ª a 8ª séries (5ª, 6ª e 8ª, de
1996, e a 7ª, de 1997) correspondentes, hoje, aos 6º a 9º anos do ensino
fundamental II. A coleção apresenta, em cada volume, as seguintes partes:
Texto, Leitura complementar, Pesquisa, Trabalho extraclasse, Produção de
texto, Gramática e Para Escrever melhor. Há também outros aspectos
propostos em determinados momentos do processo de ensino-aprendizagem:
conceitos e atividades de comunicação, pesquisa, trabalho extraclasse e
debate.
Um ponto positivo da coleção de língua portuguesa foi a organização do
livro, sua clareza e objetividade, que se tornam muito importantes para o
professor, pois o auxiliam com os planejamentos didáticos. Nos quatro livros,
em todas as seções, há os objetivos específicos, o conteúdo e diferentes
atividades, com propostas de variadas habilidades e competências após cada
item.
A escolha da coleção deveu-se à influência da professora Azevedo em um
período marcado por eventos, assessorias técnicas e uma vasta produção
documental. Entre eles, destaca-se o Plano Decenal da Educação para Todos,
de 1993, no governo Itamar Franco. A necessidade de formar um novo tipo
de trabalhador, requerido pelo sistema capitalista, exigiu mudanças nos
papéis sociais da educação e, consequentemente, na organização legislativa
educacional.
Este capítulo tem como objetivos: 1) analisar a coleção de língua
portuguesa Palavra & Criação sob o ponto de vista da historiografia
linguística; 2) relacionar a coleção Palavra & Criação com as concepções de
ensino e de aprendizagem presentes nas escolas brasileiras da década de
1990.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS — A
HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA
Este capítulo está alicerçado nos aspectos teórico-metodológicos da
historiografia linguística, no que tange aos princípios de contextualização,
ou seja, o clima de opinião do momento; de imanência, isto é, a busca por
ideias e políticas linguísticas e de adequação, que é a obediência aos dois
primeiros, momento de o historiógrafo tentar introduzir aproximações
modernas que permitam a apreciação do texto analisado, no nosso caso, a
coleção Palavra & Criação, objeto da nossa pesquisa. Esses princípios estão
fundamentados em Koerner (1996) e são adotados pela comunidade científica
de historiografia linguística. Baseamo-nos, também, em Swiggers (2009), que
define a tarefa do historiógrafo como a de descrever, interpretar e explicar os
fatos linguísticos. Nossa atenção está voltada para a questão do tratamento
dado à redação do ensino, leitura e gramática de língua portuguesa na década
de 1990.
Outro aspecto que merece atenção refere-se aos quatro passos
investigativos que, de acordo com Bastos e Palma (2004), são
imprescindíveis para a concepção deste trabalho: 1) seleção: fase da escolha
do documento; 2) ordenação: fase de organização; 3) reconstrução: fase do
refazimento linguístico e 4) interpretação: fase da leitura crítica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coleção didática da professora Dirce Guedes de Azevedo, publicada há
mais de duas décadas, traz aspectos bastante atuais, no que diz respeito à
interpretação do texto literário, sistematização gramatical e produção textual,
atividades desenvolvidas em uma mesma disciplina. Observamos também
que a autora seguiu as determinações da política educacional vigente. Isso
posto, podemos afirmar que a professora Azevedo desenvolveu trabalhos à
frente de sua época, mantendo postura coerente com os preceitos daquele
momento, o que a mantinha no mercado editorial.
Consideramos bastante válido a autora ensinar morfologia e sintaxe, passo a
passo, correlacionando-as, em razão da apreensão que o aluno poderia fazer
em relação a essas categorias, conjuntamente. Outro detalhe observado foi a
transmissão de conhecimentos gramaticais no uso de como escrever melhor.
Tudo isso justifica a escolha de uma leitura lúdica e investigativa no título
deste capítulo.
Ao final, acreditamos que a obra de Dirce Guedes de Azevedo, como
recurso didático, cumpriu um importante papel, de acordo com o espírito de
época, que tinha como objetivo transformar o aluno em produtor competente
de texto escrito, aspectos que pudemos observar nos quatro livros analisados.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Dirce Boemer Guedes de
Azevedo está em plena atividade, na cidade de Bauru-SP, conhecida como
Escola Guedes de Azevedo.
REFERÊNCIAS
ALTMAN, Cristina. A pesquisa linguística no Brasil (1968-1988). São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP,
1998.
ANDRÉ, Hildebrando Affonso de. Gramática ilustrada. 4.ed. São Paulo: Moderna, 1990.
AZEVEDO, Dirce Guedes. Coleção Palavra & Criação. São Paulo: FTD, 1996 ( 5ª, 6ª e 8ª séries).
____. Palavra & Criação: Língua portuguesa, 7. São Paulo, FTD, 1997. Inclui suplemento do
professor, 7ª série.
BASTOS, Neusa Barbosa; PALMA, Dieli Vesaro. História entrelaçada: a construção de gramáticas e
o ensino de língua portuguesa do século XVI ao XIX. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
BATISTA, Antônio G. Batista. Aula de português: discursos e saberes escolares. São Paulo, Martins
Fontes, 1997.
BATISTA, Ronaldo de Oliveira. Introdução à historiografia da linguística. São Paulo: Cortez, 2013.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais/Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL, SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental,
Brasília, MEC/SEF, 1997.
BRASIL, SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental:
língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF (versão preliminar), 1998.
BRITTO, L. P. L. A sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas: ABL, 1997.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e linguística. 10 ed. São Paulo: Scipione, 1997.
FAE. Definição de critérios para a avaliação dos livros didáticos: 1ª à 4ª. séries. Brasília, FAE, 1994-
1996.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1990.
GERALDI, J. W. Aprender a ensinar com textos. São Paulo: Cortez, 1997.
____. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras, ALB,
1996.
ILARI, Rodolfo. A linguística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
KOERNER, Konrad. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, nº 2,
p. 47-70, 1996.
____. Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados. Pref. Carlos Assunção. Sel. e
ed. de textos Rolf Kemmler e Cristina Altmann. Coleção Linguística, v. 11. Vila Real: Centro de
Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2014.
MESERANI, S. O intertexto escolar: sobre leitura, aula e redação. São Paulo: Cortez, 1995.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990.
ORLANDI, E. As formas do silêncio. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.
____. (org.). A leitura e os leitores. Campinas: Pontes, 1998.
____. (org.). Gestos de leitura. Campinas: Pontes, 1994.
ROCCO, M. T. F. Leitura e escrita: abrindo caminhos de mão dupla. Proleitura. São Paulo: UNESP,
ano 2 n. 6, p. 1-2, 1995.
SILVA, Rosa Virgínia Mattos. Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo: Contexto,
1989.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
____. Português na escola: história de uma disciplina curricular. Revista de Educação/AEC, nº 101, ano
25, p. 9-19, out. dez. 1996.
____. Concepções de linguagem e o ensino. In BASTOS, Neusa Barbosa (org.). Língua portuguesa.
História, perspectivas, ensino. São Paulo: EDUC, 1998, p. 53-60.
SWIGGERS, Pierre. História, historiografia da linguística: status, modelos e classificações. Eutomia
(revista online), 2010. Disponível em http://www.revistaeutomia.com.br.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º
graus, 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades básicas de
aprendizagem. Unesco: Jomtiem, 1990.
CAPÍTULO 7
ANÁLISE, LINGUAGEM E
PENSAMENTO
Uma proposta inovadora ou uma antologia
renovada?
NANCY DOS SANTOS CASAGRANDE
PATRÍCIA SILVESTRE LEITE DI IÓRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Em nossos trabalhos anteriores, História entrelaçada 6, 7 e 8,
estabelecemos relações entre as concepções linguísticas e o ensino de língua
materna. Nesses estudos, não é possível demarcar com exatidão temporal a
passagem de um paradigma de investigação para outro, mas grosso modo,
podemos afirmar que a década de 1960 estava mais voltada para uma
concepção de língua como representação do pensamento, enquanto a década
de 1970 valorizou, principalmente, uma concepção de língua como
instrumento de comunicação e, no decorrer da década de 1980, a língua
passou a ser vista como lugar de interação e atividade social, sendo
considerada nas esferas linguísticas e educacionais.
A partir dessa mudança de postura, podemos afirmar que houve avanços
para o ensino de língua portuguesa? A crise do ensino na década de 1970 foi
superada com a colaboração dos estudos linguísticos da década de 1980? A
partir da década de 1990, a perspectiva da língua como lugar de interação é
adotada pelos livros didáticos, acarretando mudanças para o ensino da
língua? Essas questões são motivadoras para a proposta deste capítulo:
contextualizar, descrever e interpretar a coleção de livros didáticos ALP —
Análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos numa proposta
socioconstrutivista, de Maria Fernandes Cócco e Marco Antonio Hailer,
publicada em 1994, em São Paulo, pela Editora FTD para os alunos de 5ª a 8ª
séries, atuais 6º a 9º anos.
Para a caracterização do ensino de língua portuguesa na década de 1990,
precisamos tratar das grandes e rápidas mudanças que marcaram o período.
Dos anos finais de uma ditadura militar de 21 anos, à (re)democratização,
chegando ao impeachment de um presidente eleito pelo voto direto; da
constatação de que nacionalmente pouco se fez pela educação, deixando-a
quase totalmente na responsabilidade dos Estados, à volta da preocupação
com a educação, com a instauração da Lei nº 9.394/96 e dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, pode-se marcar o final da década de 1980 e o início
da década de 1990 como um período de antagonismos sociais, sejam eles
políticos, educacionais ou linguísticos.
Como vimos, após a segunda metade do século XX, passamos a vivenciar
verdadeiras revoluções políticas, econômicas, sociais, científicas e
linguísticas. Cabe-nos, agora, refletir em que medida essas revoluções
influenciaram o nosso modo de aprender e ensinar a língua portuguesa na
década de 1990, tendo como ponto de partida a obra Análise, linguagem e
pensamento, doravante ALP, que descreveremos no próximo tópico.
Assim, neste capítulo, trataremos inicialmente da relação do período, a
década de 1990, com a proposta da obra e com o momento de transição das
concepções linguísticas. Em seguida, indicaremos o formato global do
documento a partir da análise do primeiro capítulo destinado a cada série —
de 5ª a 8ª série — e às diretrizes apresentadas pelos autores, momento em que
serão analisados os critérios descritivos utilizados em ALP, considerando-se
o que é oferecido na “Apresentação da proposta ALP” para os docentes e
utilizado para discussão os exemplos dados pelos autores. Por fim, teceremos
considerações sobre a relevância da obra para o clima de opinião da época.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo das questões que motivaram essa pesquisa, tendo em vista o
material didático ALP — Análise, linguagem e pensamento. A diversidade de
textos numa proposta socioconstrutivista, publicado em 1994, podemos
afirmar que a crise do ensino na década de 1970 foi atenuada com a
colaboração dos estudos linguísticos das décadas de 1980 e 1990, quando a
perspectiva da língua como lugar de interação é adotada pelos livros
didáticos, acarretando mudanças significativas para o ensino da língua. Em se
tratando do ALP, podemos afirmar que houve avanços para o ensino de
Língua Portuguesa, na medida em que o material trouxe uma enorme gama
de gêneros textuais numa época em que os estudos acerca de suas acepções
eram ainda iniciais. O ALP, concebido antes da LDBEN, se impôs no
mercado editorial como um livro inovador, já que a abordagem da leitura, da
interpretação de texto, da gramática, intitulada textual, e da produção em
todas as séries esteve atrelada aos textos propostos. Se a intenção dos autores
foi a de incentivar o trabalho com a leitura e
(...) levar o aluno à análise e à compreensão das ideias dos autores e buscar no texto os elementos
básicos e os efeitos de sentido. É muito importante que o leitor se envolva, se emocione e adquira
uma visão dos vários materiais portadores de mensagens presentes na comunidade em que vive”
(CÓCCO; HAILER, 1994c — Orientações, p. 3).
podemos dizer que ela foi atingida na medida em que os efeitos de sentido
são trabalhados nas questões de ampla interpretação e na reflexão do aluno,
calcada não só em experiências vividas, mas também na interação com os
colegas, com o professor e com a família.
Sobre a Produção, os autores postulam: “Acredita-se que o letramento se dá
quando o aluno aprende a ler o mundo que o cerca e a escrever sobre ele de
diferentes formas” (CÓCCO; HAILER, 1994c — Orientações, p. 9 — grifos
do autor). Observada a coleção nesse sentido, pode-se dizer que as inúmeras
propostas nas diferentes séries levam o aluno a escrever de forma
diversificada, planejando e organizando o pensamento lógico na elaboração
do texto.
Por fim, o trabalho realizado com a gramática refletiu a preocupação dos
autores em desenvolver o raciocínio do aluno, de modo a construir os
conceitos gramaticais, aplicando-os quando de seu uso. Dadas essas
considerações, podemos dizer que o ALP se instaurou como um material
inovador para o ensino de língua portuguesa nos primeiros anos da década de
1990.
REFERÊNCIAS
Fontes primárias
CÓCCO, M. F.; HAILER, M. A. ALP, 5: análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos
numa proposta socioconstrutivista. São Paulo: FTD, 1994a
____. ALP, 6: Análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos numa proposta
socioconstrutivista. São Paulo: FTD, 1994b
____. ALP, 7: Análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos numa proposta
socioconstrutivista. São Paulo: FTD, 1994c
____. ALP, 8: Análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos numa proposta
socioconstrutivista. São Paulo: FTD, 1994d
Fontes secundárias
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes; 2000.
SWIGGERS, P. “Histoire et historiographie de l’enseignement du français: Modèles, objets et
analyses”. In D. COSTE (ed.), Démarches en histoire du français langue étrangère ou seconde (Études
de linguistique appliquée 78), 1990, p. 27-44 (Tradução de Dieli Vesaro Palma e Maria Ignez de
Melo Franco).
SOUZA, M. E. V. Mais uma leitura do/no livro didático. In Revista Graphos. Vol. 5, nº 1, 2000, p.
123-142. Disponível em:
http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/graphos/article/view/9350/5030. Acesso em: 02/jun/2019.
5 Rose de Almeida. Revista Escrita Copperhodia, nº 122. Escrita Comunicações, julho/agosto de 1993.
CAPÍTULO 8
PORTUGUÊS: PALAVRA E
ARTE, DE TÂNIA PELLEGRINI E
MARINA FERREIRA
NANCY A. ARAKAKI
MICHELINE PADOVANI
PARA COMEÇAR
A elaboração de livro didático é tarefa complexa, pois requer de seu autor a
habilidade para criar conteúdo e a metodologia para o ensino da língua
materna que vislumbrem tanto a linguística quanto a pedagogia baseadas na
legislação contemporânea. O labor para impor o novo e o moderno em obras
educacionais parece acompanhar os produtores de material didático há
séculos. Visto por esse ângulo, concebe-se a complexidade da produção de
material sobre a/da língua (palavra), como se manifestam as autoras de
Português — Palavra e arte a respeito de que palavra se trata:
Que palavra é esta? Mais uma? Outra? A mesma? Na verdade, tal palavra, se não é inteiramente
nova, é produto de nossa formação, experiência e reflexão como estudiosas de língua e literatura e
como professoras do segundo grau, ao longo de muitos anos. Assim, ela pretende oferecer outra
maneira de estudar tais tópicos (PELLEGRINI; FERREIRA, 1996).
As palavras sobre a palavra registradas pelas autoras em 1996, na página de
Apresentação dos três volumes da série, abrem-nos um caminho para
considerar Português — Palavra e arte como objeto da prática
historiográfica.
No âmbito dos preceitos da historiografia linguística (doravante HL),
adotamos como prática metodológica a discussão de Swiggers (1990) a
respeito da produção de livros didáticos para ensino de língua. Ressaltamos
que, embora as discussões do autor mencionado sejam direcionadas ao ensino
de língua estrangeira, a abordagem que esse linguista-historiógrafo realiza é
aplicável perfeitamente ao ensino de língua materna. Estabelecemos a
aplicação dos três princípios metodológicos de Koerner (1996), considerando
o clima de opinião do período em que as autoras pesquisaram, lecionaram e
produziram sua obra. Adotamos como critério de análise as categorias que
imprimem cientificidade ao trabalho segundo a perspectiva de Bastos e Palma
(2004, p. 12): “Consideramos como categoria um aspecto, saliente em uma
obra, e mais diversos níveis linguísticos, sublinhando assim, ‘uma crença
em’...”. Essa crença advém da aceitação das correntes linguísticas que
circulavam na época em meio ao contexto sociocultural, político e
institucional.
Convém destacar que, para atender ao princípio da contextualização
(Koerner, 1996), valemo-nos da descrição socioeconômica, política, cultural
e linguística apresentada por Palma e Franco no primeiro capítulo desta
História Entrelaçada 9, acrescentando tão somente fatos e percepções
próximas ao corpus. Optamos por não desenvolver o princípio da adequação
por tratar-se de obra do tempo presente, o que permite ao historiógrafo
aplicar ou não tal princípio. Sendo assim, aplicamos com acuidade o
princípio da imanência.
A partir desse apoio teórico, o objetivo deste capítulo é apresentar uma
descrição analítica da série didática em questão, considerando em que medida
as autoras primam por um ensino de língua em torno da criatividade e da
competência comunicativa e em que medida se afastam e/ou se mantêm
próximas ao modelo anterior, cujo eixo foi a comunicação e a expressão.
DO LIVRO DIDÁTICO
Com a corrida de crianças de classes sociais menos favorecidas às escolas a
partir de 1950, o Estado aprovou mais leis sobre a educação, provocando uma
avalanche de mudanças na sociedade estudantil brasileira, pois, até esse
período, eram os “filhos-família” — termo de Houaiss (1985, p. 94) — os
ocupantes dos bancos escolares. Embora as ações do Estado e da instituição
escolar tenham sido amplas, no momento, vamos considerar apenas questões
pertinentes à produção e divulgação dos livros didáticos para o ensino de
língua portuguesa como bem apontou Alain Choppin:
Os livros didáticos não são apenas instrumentos pedagógicos: são também produtos de grupos
sociais que procuram, por intermédio deles, perpetuar suas identidades, seus valores, suas
tradições, suas culturas (CHOPIN, apud SCHRODER, 2013, p. 193).
Desse modo, a produção de livros didáticos para o ensino de língua
portuguesa da fase de alfabetização às demais fases de escolarização foi o
instrumento utilizado para formar cidadãos segundo a ideologia educacional
do Estado, assim como para facilitar o trabalho do professor. De acordo com
os historiadores e linguistas, sobre o livro didático, a produção desse material
se intensifica devido às lacunas na formação do corpo docente, à queda da
remuneração dos professores, ao excesso de aulas a que eles se submetiam
para garantir sua sobrevivência. Assim, a tarefa de preparar aulas e exercícios
foi transferida para o livro didático (SOARES, 2002).
Voltando nossos olhos para o final do século XX, período em que Pellegrini
e Ferreira (1996) produziram Português: palavra e arte para o 2º grau,
constatamos que o livro didático atende perfeitamente ao que Lajolo e
Zilberman consideram:
... o livro didático é poderosa fonte de conhecimento da história de uma nação, que, por intermédio
de sua trajetória de publicações e leituras, dá a entender que rumos seus governantes escolheram
para a educação, desenvolvimento e capacitação intelectual e profissional dos habitantes de um
país (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p. 121, apud SCHRODER, 2013, p. 200).
É no âmbito de tais considerações que verificamos que a obra — corpus
deste capítulo — tanto representa as diretrizes das décadas de 1970 quanto as
décadas de 1980/1990, no que se refere ao ensino de língua portuguesa
voltado para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da competência
linguística e comunicativa, sem contudo, romper com o ensino da gramática
tradicional.
SOBRE AS AUTORAS
Consideramos os dados biográficos das autoras descritos nos três volumes
da série Português: Palavra e arte, 1996. Tânia Pelegrini — Doutora em
Letras pela Universidade Estadual de Campinas. Professora de Sociologia da
Cultura na Unesp — Araraquara. Marina Ferreira — graduada em Letras pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Professora da rede particular de
ensino em Ribeirão Preto, SP.
(Ibidem, p. 5, vol.1)
(Vol. 3, p. 225)
PARA TERMINAR
Os comentários sobre a série Português: Palavra e arte que acabamos de
expor se revelam por uma didática de português articulada com estratégias de
ensino que comportam o uso da língua. Mais precisamente, trata-se de
estratégias que articulam a linguagem — falada e escrita; culta e coloquial —
na diversidade de textos oferecidos aos estudantes. Não apenas a eles, mas,
em primeiro plano, verificamos que a obra se direciona aos professores visto
que, retomando as palavras de Ilari (1992), o livro didático foi o veículo das
ideias da linguística, como arremata o referido linguista: “É sabido que o
professor secundário atua numa dependência muito grande em relação ao
livro didático; por isso o livro didático é um meio potencial de renovação do
ensino e um espelho bastante fiel da prática corrente” (ibidem, p. 105).
Ao estabelecer, nos exercícios, a linguagem escrita e a linguagem oral,
constatamos que as autoras criaram estratégias pedagógicas imbuídas nos
conceitos de Luft (1984) sobre a ideia de que o ensino tradicional pode
“incutir no aluno a obsessão do erro, em vez de lhe liberar os poderes da
linguagem e aprimorar a competência comunicativa”. Para Luft (1984, p.
102) é visível, nas páginas da série referendada, que é
... através da língua que se organiza o mundo na mente, se estabelece a relação entre as pessoas, e
que só a linguagem franca, desimpedida, permite o acesso à Verdade —, então compreenderemos
os malefícios que um ensino gramaticalista opressor pode causar à juventude.
REFERÊNCIAS
ARAKAKI, Nancy; A. COSTA, Victor. Domício Proença Filho: o mestre da pedagogia da literatura. In
BASTOS, Neusa M. O. B; PALMA, Dieli V. (orgs.) História entrelaçada 7: Língua portuguesa na
década de setenta: linguística, gramática e educação. São Paulo: Terracota, 2016.
____. Estudos de língua portuguesa e estudos de redação, de Douglas Tufano: a gramática como
ferramenta do ler e escrever bem. In BASTOS, Neusa M. O. B; PALMA, Dieli V. (orgs.) História
entrelaçada 8: Língua portuguesa na década de 1980: gramática, redação e educação. São Paulo:
Terracota, 2018.
BASTOS, Neusa M. O. B; PALMA, Dieli V (orgs). História entrelaçada: A construção de gramáticas
e o ensino de língua portuguesa do século XVI ao XIX. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 9-13.
BATISTA, Ronaldo O.; TOCAIA, Luciano M. História, ensino de língua e material didático:
considerações para uma análise pela historiografia da linguística. In: PALMA, Dieli; BASTOS,
Neusa B. História entrelaçada 8. Língua portuguesa na década de 1980: gramática, redação e
educação. São Paulo: Terracota, 2018.
HOUAISS, Antonio. O português no Brasil. Pequena enciclopédia da cultura brasileira. Rio de
Janeiro: Unibrade, 1985.
ILARI, Rodolfo. A linguística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
____. Linguística e ensino da língua portuguesa como língua materna. Disponível em:
http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/ENSINO-COMO-LINGUA-
MATERNA.pdf. Acesso em: 15 maio 2019.
JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. 10. ed. São Paulo: Cultrix, s.d.
KOERNER, Konrad. Questões que persistem em historiografia linguística. In Revista ANPOLL, n., 2,
p. 47-70, 1996.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: O gigolô das palavras — Por uma nova concepção da língua
materna. Porto Alegre: L&PM, 1985.
PALMA, Dieli V.; FRANCO, Maria Ignez S. M. A década de 1990: a reconstrução do espírito de
época. In PALMA, Dieli Visaro; BASTOS, Neusa Barbosa. História Entrelaçada 9. Língua
Portuguesa na década de 1990: linguística, gramática, redação e educação. São Paulo: Pá de
Palavra, 2020.
PELLEGRINI, Tânia; FERREIRA, Marina. Português: Palavra e arte. Vols. 1, 2 e 3. São Paulo:
Editora Atual, 1996.
SCHRODER, Mirian. O ensino de língua portuguesa nas páginas do livro didático. Revista Trama, vol.
9, n. 18, 2º semestre de 2013, p. 193-208.
SOARES, Magda. Português na escola: História de uma disciplina curricular. In BAGNO, Marcos
(org.) Linguística da norma. São Paulo: Edições Loyola, 2012, p. 141-161.
SWIGGERS, Pierre. História e historiografia do ensino do francês: Modelos, objetos e análises. ELA,
Études de Lingistique Apploquée. n. 78, 1990, Klincksieck: Paris. Tradução: Dieli Vesaro Palma e
Maria Ignez Salgado de Melo Franco
____. A historiografia da linguística: objeto, objetivos, organização. Confluência Revista do Instituto de
Língua Portuguesa. n. 44-45 — 1º e 2º semestres de 2013. Rio de Janeiro; p. 39-59. Disponível em:
http://llp.bibliopolis.info/confluencia/pdf/1171.pdf. Acesso em: 12 jul. 2017.
CAPÍTULO 9
ENTRE PALAVRAS, DE MAURO
FERREIRA
O ensino de língua portuguesa do livro
didático (5ª a 8ª séries) no Maranhão na
década de 1990
SÔNIA MARIA NOGUEIRA
WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este capítulo trata de questões do ensino da língua portuguesa com
reflexões, em particular, sobre o ensino fundamental em livro didático na
década de 1990. No cenário brasileiro do século XX, busca-se entender, sob
uma abordagem historiográfica, em que medida os livros didáticos
contribuíram para o ensino de língua portuguesa.
Para tanto, o corpus é constituído pela fonte documental primária Entre
palavras, coleção da 5ª à 8ª séries do ensino fundamental, de Mauro Ferreira,
publicada em 1998. A seleção dessa coleção deve-se ao fato de ter sido
aplicada, didaticamente falando, no Maranhão, bem como ao fato de ser
considerada capaz de fornecer uma visão do ensino de língua portuguesa no
período. Nessa perspectiva, busca-se 1) descrever elementos linguísticos
presentes nos livros didáticos selecionados em atividades; 2) relacionar
aspectos teórico-metodológicos presentes nas obras que contribuam com o
processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita.
O procedimento utilizado para a análise do corpus está baseado nos
preceitos da historiografia linguística (HL), que têm como um dos principais
representantes Konrad Koerner (1996) e seus três princípios metodológicos, a
saber: contextualização, que trata do clima intelectual da época e do contexto
de produção dos documentos, traçando o clima de opinião, uma vez que
aborda as correntes intelectuais do recorte em estudo, além da situação
socioeconômica, política e cultural; imanência, que tenta estabelecer um
entendimento global tanto histórico quanto crítico do texto linguístico em
análise; e a adequação, em que o historiógrafo se aventura a introduzir,
embora muito cuidadosamente e colocando seu procedimento de forma
explícita, aproximações modernas do vocabulário técnico e um quadro
conceptual de trabalho que permita uma melhor apreciação de determinado
trabalho, conceito ou determinada teoria.
Convém esclarecer que a contextualização da década de 1990 foi abordada
no primeiro capítulo deste livro, com apresentação de teorias linguísticas
concernentes ao estabelecimento do ‘clima de opinião’ geral do período.
Nesse sentido, Koerner (1996, p. 60) afirma que as “ideias linguísticas nunca
se desenvolveram independentemente de outras correntes intelectuais do
período; o ‘espírito de época’ [zeitgeist] sempre deixou suas marcas no
pensamento linguístico”.
Ressalta-se que o princípio da adequação não será abordado, visto que se
trata de uma obra considerada do tempo presente da análise. Assim, conforme
Chauveau e Tétart (1999), “[...] a história não é somente o estudo do passado,
ela também pode ser, com um menor recuo e métodos particulares, o estudo
do presente”.
Assim, primeiramente abordaremos questões político-linguístico-
educacionais. Em seguida, realizaremos a análise do corpus Entre palavras,
coleção da 5ª à 8ª série, de Ferreira (1998).
QUESTÕES POLÍTICO-LINGUÍSTICO-
EDUCACIONAIS
A história/historiografia relacionada com a língua portuguesa é importante,
em virtude de a descrição e a explicação de como se produziu e desenvolveu
o conhecimento linguístico em determinado contexto social e cultural, através
do tempo, provocarem questões relacionadas com identidade, com políticas
linguísticas e com a educação do povo (BASTOS; DI IÓRIO; NOGUEIRA,
2005).
O ensino da língua materna no ensino fundamental precisa reservar mais
atenção ao estudo da significação. No entanto, prioriza a ortografia, a
acentuação, a assimilação de regras gramaticais de concordância e regência,
entre outros, a fim de que os alunos adquiram a competência de usuário culto
da língua. Assim sendo, convém ressaltar que o sentido está sempre presente
quando se lê e se redige e, por essa razão, o ensino deve focalizar a leitura, a
interpretação e a produção de textos. Apesar disso, o estudo de textos tem
dado mais atenção à interpretação do que ao enorme repertório de
conhecimentos e à variedade dos processos que se mobiliza ao interpretar,
uma vez que se faz necessário tratar do sentido por meio de exercícios
específicos.
No ensino fundamental, o estudo da língua portuguesa tem seu início com a
utilização do livro didático. Esse modelo conhecido atualmente foi
introduzido no Brasil na segunda metade do século XX, com várias
mudanças no design interno e externo das obras, como também nas posturas
pedalinguísticas adotadas. Assim, os livros didáticos são constituídos por
conteúdo programático e por manual do professor com respostas das
atividades, facilitando o trabalho docente na preparação de aulas.
Nesse sentido, de acordo com Filgueiras (2013), o Ministério da Educação-
MEC, nas décadas de 1950 e 1960, criou a Campanha Nacional de Material
de Ensino-CNME e a Fundação Nacional de Material Escolar-Fename, com o
fim específico de produzir materiais escolares e publicar obras didáticas para
atendimento dos alunos carentes. O Programa Nacional do Livro Didático —
PNLD, implementado na década de 1980, tem como objetivo principal
contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica, por meio da
avaliação, escolha e distribuição de materiais didáticos e, assim, auxiliar o
trabalho docente para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
Ressalta-se que, de acordo com o PNLD (BRASIL, 2013, p. 11), o Manual
do professor deve “orientar os docentes para um uso adequado da coleção,
constituindo-se, ainda, num instrumento de complementação didático-
pedagógica e atualização para o docente”.
Quanto à logística de distribuição dos livros didáticos, desde as editoras até
os estudantes de escolas públicas de todo o Brasil, para que as escolas tenham
a garantia de acesso ao material essencial na prática educativa, o Ministério
da Educação (MEC), por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE), conta com o trabalho de diversos órgãos para levar os
títulos das editoras contratadas até a sala de aula. Para tanto, o Programa
Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) é quem provê as escolas
de educação básica públicas de obras didáticas, pedagógicas e literárias,
assim como outros materiais de apoio à prática educativa.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) têm a função de selecionar e
organizar objetivos para a construção de materiais didáticos e programas de
ensino. Eles orientam que, ao longo do ensino fundamental, o aluno deve ser
“capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a
palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas
situações” (BRASIL, 1998, p. 19, 21). Desse modo, “um texto só é um texto
quando pode ser compreendido como unidade significativa global. Caso
contrário, não passa de um amontoado aleatório de enunciados”. Assim
sendo, o estudo da semântica possibilita o entendimento do texto quanto à sua
significação, a fim de que ocorram a coesão e a coerência discursiva tanto na
leitura quanto na produção textual.
O PNLD (BRASIL, 2013, p. 16 grifos nossos), por sua vez, institui que o
ensino de língua portuguesa para o ensino fundamental deve propiciar ao
aluno as seguintes qualidades, dentre outras: 1) “a proficiência em leitura e
escrita no que diz respeito a gêneros discursivos e tipos de texto
representativos das principais funções da escrita em diferentes esferas de
atividade social”; 2) “as práticas de análise e reflexão sobre a língua, à
medida que se revelarem pertinentes, seja para a (re)construção dos sentidos
de textos, seja para a compreensão do funcionamento da língua e da
linguagem”. Para tanto, são contemplados quatro eixos significativos, a
saber: a leitura, a produção de textos escritos, a oralidade e os conhecimentos
linguísticos.
Assim, a coletânea de textos prioriza “a diversidade de contextos sociais de
uso (imprensa, internet, literatura, artes plásticas, música, vida cotidiana etc.);
a diversidade do contexto cultural (regional, local, urbano, rural etc.)”; assim
como “a presença de textos com diferentes graus de complexidade e a
contribuição do DVD para a experiência de leitura”, entre outras (BRASIL,
2013, p. 41). Complementa-se que o processo de ensino-aprendizagem conta
com a intermediação do docente.
A respeito das teorias linguístico-gramaticais, tanto as metodologias de
ensino e aprendizagem passavam por mudanças, quanto o paradigma de
ensino de português precisava de alterações a fim de prover a demanda de
alunos, de acordo com Di Iório, Mesquita e Nogueira (2014, p. 35). Nesse
sentido, Soares (1996, p. 10) afirma:
Ou se estuda a gramática a partir do texto ou se estuda o texto com os instrumentos que a
gramática oferece. Além disso, os manuais didáticos passam a incluir exercícios — de vocabulário,
de interpretação, de redação, de gramática. Já não se remete ao professor, como anteriormente, a
responsabilidade e a tarefa de formular exercícios e propor questões: o autor do livro didático
assume ele mesmo essa responsabilidade e essa tarefa, que os próprios professores passam a
esperar dele.
A COLEÇÃO
A análise das obras faz parte do princípio da imanência. Para iniciá-lo,
apresenta-se a coleção Entre palavras, composta por 4 volumes para alunos
de 5ª a 8ª série.
Justifica-se a seleção deste corpus por ser tratar de coleção aprovada a
partir de rigorosa análise realizada por comissões de habilitação e de
negociação sob responsabilidade do FNDE, para comprovação das condições
legais e editoriais exigidas para compras com recursos públicos. Assim, a
obra substitui os livros do ciclo anterior à sua publicação, ressaltando que ela
tem edições também no século XXI.
A coleção foi adotada na rede pública de ensino fundamental do Maranhão,
pois seguiu os trâmites nacionais da política linguístico-educacional da
década de 1990. Dessa forma, os títulos que se enquadram nas exigências
técnicas e físicas são analisados e validados pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e posteriormente encaminhados à
Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC, responsável pela avaliação
pedagógica. As empresas com obras aprovadas passam pela etapa de
habilitação para que possam fazer parte do Guia de livros didáticos, uma
espécie de catálogo que vai ajudar professores e diretores a definir o que vai
para a sala de aula.
APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO
O corpus constitui-se da coleção Entre palavras, de Ferreira (1998),
destinada às séries de 5ª à 8ª do ensino fundamental, conforme a figura 1.
Observa-se que as capas apresentam a indicação de que se trata de obras
destinadas ao professor. Na figura 2, exemplificaremos um livro didático
oferecido aos estudantes pelo governo federal. Sendo assim, a obra apresenta
em sua capa o selo do PNLD 2002, do FNDE-Ministério da Educação, com o
respectivo código e tipo.
Esta data do selo se justifica, na medida em que o ciclo de quatro anos se
reinicia, pois o corpus foi publicado em 1998.
Além disso, o autor destaca que a obra é não consumível.
ORGANIZAÇÃO
No princípio da imanência, uma das abordagens trata da organização, em
que Ferreira (1998) elabora o índice com a estrutura dos conteúdos,
apresentando uma organização resumida, como se vê a seguir:
ÍNDICE
Na coleção, o autor mantém quase a mesma estrutura em todas as séries, e
cada obra contempla, em média, 250 páginas. Observa-se que a organização é
composta por 13 unidades, dentre as quais alguns itens alternam-se. O item
Aprender mais está presente em 7 das unidades, que se constituem de
Leitura complementar, com textos de Artur da Távola; Rubens Valente;
Cassiano Ricardo; a música “Imagine”, de John Lennon; e a reportagem
Reage SP — Folha de S. Paulo, 1996. A Unidade 1 aparece na íntegra, uma
vez que será analisada neste capítulo.
Para a exemplificação da teoria, Ferreira (1998) seleciona autores de
diversos gêneros textuais, tais como os poetas: Carlos Drummond de
Andrade, Camões, Vinícius de Moraes, Mário Quintana, Manuel Bandeira; os
escritores: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Gilberto
Dimenstein, Luiz Henriques, Sergio Bardotti, Cassiano Ricardo, Thiago de
Mello, francês Paul Éluard; os pintores: Giotto, Renoir, Gustave Klint; os
escultores: Auguste Rodin, Francisco de Goya; os autores de crônicas e
contos: Jô Soares, Ernest Hemingway (Jornal da tarde, 1988), Fernando
Sabino, Chico Buarque de Holanda, Paulo Pontes, Rubem Braga, Millôr
Fernandes, Artur da Távola, Giselda Laporta Nicolelis, Port Alberni; os
romancistas: Lima Barreto, Machado de Assis, Ricardo Azevedo; os autores
de história em quadrinhos: Bill Watterson (Calvin e Haroldo), Dik Browne,
Glauco; os músicos: Gilberto Gil, Djavan, Dominguinhos, Nando Cordel,
Geraldo Vandré, Paulinho da Viola, Hermínio B. Carvalho. Além de todos
eles, o livro traz trechos de filme: Charles Chaplin; notícias de jornal;
fotos.
No que concerne aos gêneros textuais, Bakhtin (2003, p. 268) afirma que
“os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos, são correias de
transmissão entre a história da sociedade e a história da linguagem”. E
complementa que “nenhum fenômeno novo (fonético, léxico, gramatical)
pode integrar o sistema da língua sem ter percorrido um complexo e longo
caminho de experimentação e elaboração de gêneros e estilos”.
Nessa perspectiva, os trabalhos de Marcuschi (2003a, 2003b, 2006)
apresentam uma discussão acerca dos gêneros textuais além de suas
especificidades. Marcuschi (2003a, p. 19) afirma que são “fenômenos
históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social” e colaboram
para a ordenação e estabilização das atividades comunicativas do dia a dia.
Ferreira (1998), por sua vez, considera relevante a diversidade textual e, por
isso, insere considerável exemplificação tanto para a teoria, quanto nas
atividades propostas para a imediata prática. Essa metodologia confirma o
comprometimento do autor para com o ensino-aprendizagem da língua
portuguesa no ensino fundamental.
Desse modo, observa-se que o autor utiliza imagem que remete ao texto,
abordando a troca de presentes. Entre as questões, é necessário que o
estudante seja capaz de identificar a argumentação do personagem, relevante
para o desenvolvimento da leitura e escrita.
Além disso, o autor, nas atividades 5 e 6, instiga o estudante a se interessar
por semântica, uma vez que se refere à busca de significados implícitos no
texto.
Assim, conforme Marques (1996, p. 37), “de um modo geral, as inovações
linguísticas e alterações de significado são vistas como resultantes de um
esforço permanente de ajuste expressão/pensamento/sentimento”.
No item ler, há a proposta de leitura da crônica Presente para a senhora, de
Carlos Drummond de Andrade e, antes do texto, Ferreira (1998, p. 14) insere
algumas perguntas que se relacionam com os itens anteriores, Ouvir e falar,
a saber:
No dia das Mães, qual seria o melhor presente que um filho poderia
oferecer? Como escolher um presente bem especial para ela? Essa
escolha, como vimos no texto da atividade Ouvir e falar, nem sempre é
fácil...
As atividades inter-relacionadas entre dois textos que abordam a mesma
temática instigam o estudante a discutir e, assim, expor sua opinião tanto na
leitura quanto na oralidade e na escrita. Estas são atividades fundamentais
para o processo ensino-aprendizagem do ensino fundamental.
Após o texto, Ferreira (1998, p. 14) expõe uma minibiografia Sobre o
autor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), ratificando a relevância
da seleção de seus textos. Além de privilegiar questões semânticas, tratando
de sinônimos, com o item A palavra no texto, o autor auxilia o estudante na
compreensão e interpretação textual, conforme se vê a seguir:
1. bata: tipo de vestido longo e folgado
2. babado (gíria da época em que o texto foi escrito): detalhe, característica
3. rol: lista
4. regalo: presente
5. casa-olga: loja do tipo da Casa Olga, que vendia meias, lenços etc.
6. blazer: tipo de paletó (FERREIRA, 1998, p. 16).
Outro item de fundamental importância é o Estudo do texto, pois propicia
o debate de ideias entre os estudantes em torno da temática do texto. A fim de
exemplificação, apresentam-se alguns questionamentos de Ferreira (1998, p.
17):
1. Que dificuldade a personagem do início da crônica estava enfrentando? Por quê?
2. O narrador
3. Na sua opinião, os dois motivos que levaram a personagem a escolher a geladeira para
presentear a mãe são justificáveis? Por quê?
4. Nessa crônica, o autor sugere existir uma relação entre o poder aquisitivo (condição financeira)
das pessoas e a emotividade de dar e receber presentes.
a. Explique essa relação.
b. Você concorda com esse posicionamento do cronista? Justifique.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da coleção Entre palavras, da 5ª à 8ª série, de Mauro Ferreira, de
1998, esclarece que os livros didáticos foram autorizados com a chancela do
MEC, para serem distribuídos no ensino fundamental público, também no
estado do Maranhão.
O autor, além de seguir as diretrizes da LDB 3994/96, propôs a teoria e a
prática seguindo, em sua grande maioria, as concepções de linguagem e as
teorias linguísticas da década de 1990. Abordou em sua coleção a relevância
do ensino-aprendizagem, correlacionando o estudo da oralidade, da leitura e
da escrita, além de questões semânticas. Vale ressaltar que os estudos
gramaticais reforçam o ensino da gramática normativa, ainda presente em
livros didáticos do período, indo de encontro à seleção de diversos gêneros
textuais para o estudo da linguagem.
Em relação à sua organização, observa-se que a coleção trata o material
didático como instrumento linguístico que efetiva a prática de tratamento de
língua a partir de uma concepção definida pela política linguística da década
de 1990.
Assim, pode-se considerar que o ensino da gramática foi trabalhado de
forma contextualizada, uma vez que abordava inicialmente o texto. Para
tanto, o autor selecionou autores contemporâneos na exemplificação e nas
atividades, inclusive com a utilização de pinturas e notícias de jornal. Diante
disso, pode-se afirmar que a coleção contribui significativamente para o
ensino-aprendizagem da leitura e escrita, particularmente, da 5ª à 8ª série do
ensino fundamental.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. Tradução de: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
BASTOS, Neusa Barbosa; DI IÓRIO, Patrícia; NOGUEIRA, Sônia Maria. Língua portuguesa e ensino
(séculos XIX e XX): perspectivas historiográficas. In.HENRIQUES, Cláudio Cezar; DARCILIA,
Simões. Língua portuguesa: reflexões sobre descrição, pesquisa e ensino. Rio de Janeiro: Ed. Europa,
2005.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília, MEC/SEF, 1998.
____. Guia de livros didáticos: PNLD 2014: língua portuguesa: ensino fundamental: anos finais.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2013.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2004. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.
CHAUVEAU, Agnes; TÉTART, Philippe. Questões para a história do presente. Trad. Ilka Stern
Cohen. Bauru/SP: EDUSC, 1999.
DI IÓRIO, Patrícia Silvestre Leite; MESQUITA, Roberto Mesquita; NOGUEIRA, Sônia Maria.
Entrelaçando ensino de português e ensino de como ensinar português: uma análise de Português
através de textos, de Magda Soares. In BASTOS, Neusa Barbosa; PALMA, Dieli Vesaro. (orgs.)
História entrelaçada 6: língua portuguesa na década de 1960: linguística, gramática e educação. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
FERRAREZI JUNIOR, Celso; BASSO, Renato. Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo:
Contexto, 2013.
FERREIRA, Mauro. Entre palavras. 8ª série. São Paulo: FTD, 1998 (Coleção entre palavras).
FILGUEIRAS, Juliana Miranda. A produção de materiais didáticos pelo MEC: da Campanha Nacional
de Material de Ensino à Fundação Nacional de Material Escolar. Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 33, nº 65, 2013, p. 313-335.
KOERNER, K. Questões que persistem em historiografia linguística. In Revista Anpoll. Nº 2, 1996, p.
47-70.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Por uma proposta para a classificação de gêneros textuais. Recife:
UFPE, 2006.
____. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In DIONÍSIO, Ângela Paiva; BEZERRA, Maria
Auxiliadora; MACHADO, Anna Rachel (Orgs.) Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2003a, p. 19-36.
____. A questão do suporte dos gêneros. In MEURER, José Luiz; MOTTA-ROTH, Désirée (Orgs.)
DLCV: Língua, Linguística e literatura. João Pessoa: Idéia, 2003b, p. 9-40.
MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
SOARES, Magda. Português na escola: história de uma disciplina curricular. Revista de Educação
AEC, ano 25, n. 101, out./dez. 1996.
VALENTE, André. A linguagem nossa de cada dia. 3.ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.
CAPÍTULO 10
A PALAVRA É PORTUGUÊS
Uma proposta de ensino de língua
portuguesa
MARIA INÊS FRANCISCA CIRÍACO
MICHELINE TACIA DE BRITO PADOVANI
REGINA HELENA PIRES DE BRITO
Não é no silêncio que os homens se fazem,
mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.
Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’.
É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social,
quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.
Paulo Freire
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este capítulo apresenta, sob a perspectiva da historiografia linguística (HL),
a coleção de livros didáticos A palavra é português, das autoras Graça
Proença e Regina Horta, publicada em 1997. Assim, demanda esforço no
sentido da pesquisa e reflexão acerca da situação da língua portuguesa no
Brasil, com ênfase na década de 1990, em especial no tocante ao processo de
focalização da linguagem oral como essencial para a apreensão da língua
portuguesa. Desse modo, parte-se do estudo de subsídios linguísticos
presentes na coleção, corpus da nossa análise, buscando: 1) identificar e
relacionar elementos linguísticos nas atividades propostas; 2) identificar
aspectos teórico-metodológicos que auxiliam no desenvolvimento do
processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita.
É importante notar que, em referência aos estudos da linguagem, em
particular da trajetória da linguística, em seus diferentes estratos, o
conhecimento do abarcabouço teórico e a interação com ele são fundamentais
para o ensino e a aprendizagem da língua, no nosso caso, portuguesa.
Em se tratando das relações entre língua e história, é importante tanto
observar a língua como um fenômeno social, que só é possível a partir do
convívio entre os indivíduos, quanto considerar os elementos culturais
inerentes às sociedades. Nessa linha, Miranda (2007, p. 33) acentua a
relevância da perspectiva interdisciplinar
[...] a historiografia linguística estabelece com a história e outras ciências do homem, constitui-se
em um modo diferente de ver o objeto — língua que é o lugar de concretização das dimensões
históricas, culturais e identitárias de um grupo social. Trata-se de um produto histórico-social, pois
se configura na articulação da linguística e da história que, aliadas a outras ciências humanas,
tornam-se capazes de descrever e explicar essa articulação, produzindo novos conhecimentos.
Nessa direção, apoiados nos fundamentos da historiografia linguística, este
estudo alicerça-se nos princípios determinados por Koerner (2014) como
elementares para a pesquisa historiográfica: o da contextualização, o da
imanência e o da adequação, assim delimitados:
• Princípio da contextualização — objetiva suscitar as ideias do período em que o documento foi
elaborado, aludindo ao contexto histórico-cultural, as convicções linguísticas, sociais e políticas.
• Princípio da imanência — parte do inventário das informações e da percepção do documento em
relação ao contexto de produção, baseado nas concepções linguísticas e históricas.
• Princípio da adequação — viabiliza o processo de análise, por meio da adaptação do documento,
às teorias, conceitos e nomenclaturas atuais (KOERNER, 2014, p. 88-89).
O primeiro princípio serve de suporte para verificar a relevância da obra
para o ‘clima de opinião’ da década de 1990, pois o livro didático, nesse
contexto, será utilizado como fonte documental, e a pesquisa será pautada em
uma contextualização, e não apenas em uma simples coleta de dados.
Entretanto, para a contextualização da década de 1990 e a compreensão do
“clima de opinião”, é necessário um breve retrospecto da década de 1980.
Em seguida, a partir do princípio da imanência, verifica-se o clima de
opinião para observar as condições de produção do corpus selecionado,
facultando a compreensão do pensamento linguístico do período. É
importante dizer que, por se tratar de uma obra de tempo presente, não
aplicaremos o terceiro princípio — adequação. Para a análise dos volumes,
respaldamo-nos na contextualização da década de 1990, apresentada no
capítulo que abre este livro, permitindo-nos e retomar os processos político,
social e educacional vigentes no Brasil no final do século XX.
LEITURA
A rubrica Leitura é subdividida em três etapas: 1) estudo das palavras; 2)
releitura do texto; 3) compreensão do texto. A unidade temática traz sempre
um texto de literatura infanto-juvenil, sugerindo uma leitura silenciosa para
que o aluno tenha uma experiência pessoal com o texto; na sequência, a
leitura pode ser feita oralmente, possibilitando ao aluno atentar, por exemplo,
para a pronúncia das palavras, para a entonação adequada e a importância da
pontuação para a produção dos sentidos.
Ao tratar do Estudo das palavras, as autoras afirmam: “A função desta
atividade é familiarizar o aluno com a procura do significado das palavras
que desconhece” (p. 3). Para que a atividade não se torne cansativa e
desinteressante, algumas palavras aparecem com o significado, outras devem
ser procuradas no dicionário, pois, ao procurar palavras desconhecidas, os
alunos desenvolverão, também, exercícios de substituição de palavras para
que consigam visualizar, em contexto de uso, as possibilidades de
significação.
A etapa Releitura de texto consiste em responder perguntas sobre o texto.
Com essa atividade, espera-se que os alunos releiam o texto para responder às
questões, que devem ser apresentadas oralmente, para que os alunos sejam
estimulados a partilhar suas ideias e a apreciar aspectos estéticos do texto.
A última etapa diz respeito à Compreensão do texto e procura mostrar ao
aluno que os textos são organizados de maneira intencional; além disso,
procura sensibilizá-lo quanto aos diferentes papéis do texto: provocar
emoções, divulgar e levar a discutir ideias e a passar informações. Os textos
narrativos recebem tratamento especial com relação aos elementos da
narrativa, como: enredo, personagens, espaço, tempo e narrador, de modo que
o aluno se sinta estimulado a trabalhar conscientemente com tais elementos
em suas próprias produções.
REDAÇÃO
A parte intitulada Redação está voltada para a produção de textos com base
nos seguintes tópicos: Ortografia, Redigindo frases e Propostas de redação.
Em Ortografia, há atividades cuja preocupação é, naturalmente, com a
grafia correta das palavras; em Redigindo frases, tem-se um conjunto de
exercícios que estimulam a construção de frases, a fim de fixar formações
adequadas de sentenças mais frequentes no cotidiano, considerando tópicos
que oferecem dúvidas retirados do texto principal da unidade.
Em Propostas de redação, há duas sugestões para escolha: uma para ser
executada em sala de sala e outra que pode vir a ser solicitada como tarefa de
casa. Após a realização da redação, sugere-se que os alunos façam a troca dos
textos “para que percebam que todo texto escrito se dirige a um leitor real ou
virtual, por isso precisa ser claro e comunicar alguma coisa” (p. 4). As
autoras sugerem, ainda, critérios que podem ser seguidos pelo professor ao
corrigir as produções dos alunos, a saber:
a) organização do contexto;
b) adequação do conteúdo à proposta;
c) adequação do conteúdo à escolaridade do aluno;
d) correção gramatical (ortografia, sintaxe e pontuação);
e) vocabulário (extensão e adequação ao conteúdo) (HORTA; PROENÇA, 1997, p. 4).
GRAMÁTICA
O estudo de gramática tem como principal objetivo levar o aluno a
conhecer normas estruturais da língua portuguesa do ponto de vista
prescritivo, tendo em vista a leitura compreensiva, a escrita correta e clara de
um texto, além de uma eficiência quanto a sua expressão oral. Para a
realização das atividades, são revisitados lições e textos anteriores.
LINGUAGEM ORAL
O tópico Linguagem oral não aparece contemplado em todos os capítulos.
Quando presente, propõe, por meio de atividades variadas, lúdicas,
individuais e em grupo, o desenvolvimento da “fluência verbal apoiada na
agilidade de raciocínio e na bagagem de informações obtidas através de suas
experiências pessoais” (p. 5).
DISCUSSÃO DE IDEIAS
Neste item, o aluno responde a um conjunto de questionamentos a respeito
do texto lido. É a ocasião para que manifeste suas ideias e se coloque diante
de situações que integram as interações do cotidiano. A atividade possibilita,
ainda, que os estudantes exercitem a comparação entre textos. As autoras
sugerem que “a atividade de discutir ideias seja feita apenas oralmente, de
preferência em pequenos grupos e, quando possível, com abertura de
debates” (p. 5). É uma etapa que objetiva treinar a fluência de expressão oral,
a troca de ideias e a socialização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura integral dos volumes de A palavra é português possibilitou-nos
constatar que a coleção, lançada em 1997, foi produzida alinhando-se às
determinações da LDB 3994/96 e de acordo com as diretrizes dos
documentos oficiais em voga naquele momento.
As autoras, na medida do possível, elaboraram os conteúdos adequando-os
às concepções de linguagem e às teorias linguísticas, principalmente as da
linguística textual, em destaque na década de 1990, atentando para o estudo
da oralidade, o foco na leitura e na produção escrita, numa perspectiva
interacional, aplicada às variadas situações de comunicação inseridas em
contextos próprios de alunos do ensino fundamental.
Observamos que tanto a organização estrutural da obra didática, quanto a
seleção dos textos apresentam-se vinculadas às propostas de mudanças nos
processos de estudo da linguagem. É uma obra que se mostra em
conformidade com as orientações educacionais propostas pelo sistema de
ensino no Brasil dos anos 1990, associada às teorias linguísticas em debate
desde a década de 1970.
É evidente, em todos os volumes da coleção, o cuidado didático quanto à
apropriação e ao uso da linguagem no ensino da língua portuguesa. As
autoras buscaram adaptar-se às novas demandas sem, no entanto, deixar de
lado a preocupação em relação ao ensino da gramática prescritiva, trabalhada,
especialmente naquele momento, a partir de textos.
A fundamentação teórica, aporte para as autoras, embora mencione autores
anteriores à década de 1990, mostra-se em consonância com os parâmetros
desejados para um ensino pautado nos princípios da linguística
contemporânea, o que permite afirmar que, para o período em estudo, o
conjunto didático apresenta aspectos que apontam para a incorporação de
elementos inovadores.
REFERÊNCIAS
BENTES, Anna Christina. Linguagem oral no espaço escolar: rediscutindo o lugar das práticas e dos
gêneros orais na escola. Cap. 6. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010
(Coleção Explorando o Ensino; v. 19).
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. A avaliação dos livros didáticos: para entender o Programa
nacional do Livro Didático (PNLD). In ROJO, Roxane; BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Livro
didático de língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2003,
p. 25-67.
BERALDO, Alda. Trabalhando com poesia. São Paulo, Ática, 1990, v.1.
______. Trabalhando com poesia. São Paulo, Ática, 1990, v.2.
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. São Paulo, Brasiliense, 1981.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e
quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília, MEC/SEF, 1998. 107 p.
____. Guia de livros didáticos PNLD 2008: Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 2007. 150 p.
____. LEI DE DIRETRIZES E BASES (LDBN), aprovada em 1971 (Lei 5692/71). Atualizada em
1996 (Lei 3994/96).
CUNHA, Celso Cunha. Gramática da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: MEC/FENAME, 1975.
KOERNER, Ernst Frideryk Konrad. Questões que persistem em historiografia linguística. In Revista
Anpoll. Nº 2, p. 47-70, 1996.
____. Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados. Vila Real: Editora 2014.
MARCUSCHI, Beth (Org.). Livros didáticos de Língua Portuguesa: letramento e cidadania. Belo
Horizonte: Autêntica/CEALE, 2005, p. 73-118.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez,
2001.
____. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna
Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2003.
MELLO E SOUZA, Antônio Cândido e outros. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1968.
MILANEZ, Wânia. Pedagogia do oral: condições e perspectivas para sua aplicação no português.
Campinas, SP: Sama, 1993.
MIRANDA, Regina Célia Carbonari de Almeida. Brasil e Portugal: duas culturas em polêmicas.
Dissertação de Mestrado em língua Portuguesa — PUC-SP, 2007, p. 33.
MIRANDA, Marília Gouvea de. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na
América Latina. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n. 100, p. 37-48, mar. 1997.
MOISÉS, Massaud. Guia prático de análise literária. São Paulo, Cultrix, 1970.
PROENÇA, Graça; HORTA, Regina. A palavra é português 5ª série. Coleção de livros didáticos. São
Paulo: Editora Ática, 1997.
____. A palavra é português 6ª série. Coleção de livros didáticos. São Paulo: Editora Ática, 1997.
____. A palavra é português 7ª série. Coleção de livros didáticos. São Paulo: Editora Ática, 1997.
____. A palavra é português 8ª série. Coleção de livros didáticos. São Paulo: Editora Ática, 1997.
ROJO, Roxane. O perfil do livro didático de língua portuguesa para o ensino fundamental (5ª a 8ª
séries). In: ROJO, Roxane; BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Livro didático de língua
portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2003, p. 69-99.
ROJO, Roxane; BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Livro didático de língua portuguesa, letramento
e cultura da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2003.
WELLEK, René & WARREN, Austin. Teoria da literatura. Lisboa: Publicações Europa-América,
1987.
AS AUTORAS, OS AUTORES
MARILENA ZANON
Doutora em Língua Portuguesa. Professora do Departamento de Português da Faculdade de Filosofia,
Comunicação, Letras e Arte da PUC/SP. Participante de congressos nacionais. Integrante dos grupos de
pesquisa Historiografia Linguística e Educação Linguística, sob a coordenação das professoras doutoras
Neusa Maria de Oliveira Bastos e Dieli Vesaro Palma. Coautora de capítulos publicados na coleção
História Entrelaçada, organizada pelas professoras Neusa Bastos e Dieli Palma.
WEMYLLA ALMEIDA
Doutoranda e mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP, especialista em Didática do Ensino Superior
pelo IESF e licenciada em Letras pela UEMA. Professora de Língua Portuguesa da UEMASUL.
Pesquisadora dos grupos de pesquisa Historiografia da Língua Portuguesa do IP-PUC-SP e do Grupo
de Estudos Linguísticos do Maranhão da UEMASUL. Autora de capítulo em livro, de artigos em
revistas eletrônicas e em anais nacionais e internacionais. Tem experiência na área de Letras, com
ênfase em Língua Portuguesa e em Linguística, atuando nos respectivos temas: Sintaxe da Língua
Portuguesa; Historiografia Linguística; Linguística Textual e Análise do Discurso.