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D

Dossiê

Epistemologia feminista:
contribuições para o estudo do fenômeno religioso
Feminist epistemology: contributions to the study of religious phenomena

Ana Ester Pádua Freire*

Resumo
As teorias feministas têm uma contribuição fundamental para as Ciências da Religião ao incluírem o
mundo da vida e da religião das mulheres como fundamentos centrais para a pesquisa. As teorias
feministas aportam referenciais e conceitos interessantes para as Ciências da Religião ao proporem uma
metodologia de investigação baseada em um paradigma emancipatório e na relevância do cotidiano da
vida das mulheres para o estudo das religiões e das experiências religiosas. A interdisciplinaridade define
as Ciências da Religião. Nesse sentido, faz-se possível um diálogo das Ciências da Religião com o
feminismo - que igualmente se desenvolve como uma ciência interdisciplinar. O presente texto dialoga
com feministas de diferentes campos do conhecimento, a fim de explorar criticamente a própria ciência
ocidental e androcêntrica, por meio de uma epistemologia feminista. Em diálogo com a epistemologia
teológica feminista de Ivone Gebara, o texto aproxima as abordagens dessa proposta epistemológica
com as Ciências da Religião, tendo em vista a importância de conceitos e chaves, como a epistemologia
contextual e afetiva, para a pesquisa teórica e empírica feminista na área das Ciências da Religião.
Consideramos que a epistemologia feminista traz importantes aportes metodológicos e epistemológicos
para a pesquisa das religiões e das mobilidades humanas de ordem espiritual no contexto
contemporâneo. O objetivo do texto é situar a epistemologia feminista dentro dos fundamentos centrais
para pensar uma metodologia de pesquisa feminista. Além de Ivone Gebara, autoras como Elizabeth
Schüssler Fiorenza, Joan Scott, Sandra Sardenberg e Evelyn Fox Keller servem de referencial teórico
para este artigo.

Palavras-chave: Epistemologia Teológica Feminista. Ciências da Religião. Gênero.

Abstract
Feminist theories have an essential contribution to Religious Studies by including the world of women’s
lives and religion as a central foundation for research. Feminist theories provide interesting references
and concepts to Religious Studies by proposing an investigation methodology that is based on an
emancipatory paradigm as well as on the relevance of women’s daily lives for the study of religion and
religious experiences. Interdisciplinarity defines Religious Studies. Hence, it is possible to draw parallels
between Religious Studies and feminism, that develops as an interdisciplinary science. This text engages
in dialogue with feminists from different fields of knowledge in order to critically explore western and
androcentric science itself, though a feminist epistemology. By establishing a dialogue with Ivone
Gebara’s feminist theological epistemology, this text brings the approaches of that epistemological
proposal closer together with Religious Studies, taking into consideration the importance of concepts and
keys like the contextual and affective epistemology for theoretical research and feminist experience in
the field of Religious Studies. We consider that feminist epistemology brings important methodological e
epistemological inputs to the research of religion and human mobility of spiritual order in the
contemporary context. The objective of this text is to place feminist epistemology in the main
foundations that are necessary for one to think a methodology of feminist research. Along with Ivone
Gebara, authors like Elizabeth Schüssler Fiorenza, Joan Scott, Sandra Sardenberg and Evelyn Fox Keller
serve as theoretical reference for this article.

Keywords: Feminist Theological Epistemology. Religious Studies. Gender.

*
Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pelo Centro Universitário de Belo Horizonte
(2001). Bacharel em Teologia pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix (2014). Mestre em Ciências da
Religião pela PUC-Minas (2015). Dedica seus estudos às Ciências Feministas, à Teologia Feminista (Ivone
Gebara) e à Teologia Queer. Sócia-colaboradora da Associação Brasileira de História das Religiões, ABHR, e
membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas Feministas da PUC-Minas, GPFEM.
Paralellus, Recife, v. 6, n. 13, p. 377-390, jul./dez. 2015.
~ 378 ~ Ana Ester Pádua Freire – Epistemologia feminista: contribuições para o estudo...

1 Introdução

Desde o século XX, o feminismo de gênero. Por isso, estudar as religiões


tem proposto diferentes abordagens ao “é adentrar num complexo sistema de
fazer científico. Ainda que não sejam trocas simbólicas, de jogos de interesse”
simpatizantes ou adeptos ao feminismo, (SOUZA, 2004, p. 123). Nesse sentido,
cientistas têm sido impactados pela este artigo apresentará as relações entre
presença da mulher na ciência. No o feminismo e a ciência a partir da crítica
âmbito das Ciências da Religião, as feminista e da epistemologia teológica
teorias feministas compreendem a feminista, tendo como principal objetivo
religião como mediadora do mundo e do apresentar as contribuições da
ser humano, a partir de uma prática epistemologia feminista para o estudo do
singular das mulheres (GEBARA, 1997). fenômeno religioso.
Dando voz e visibilidade a essas A epistemologia teológica
mulheres, o estudo das religiões as feminista será apresentada como modelo
introduz na epistemologia como agentes possível, mas não único, de método de
de sua própria história e religiosidade. investigação do fenômeno religioso.
Considerando a religião como Focar-se-á na epistemologia feminista
sendo uma construção sociocultural, seu proposta por Ivone Gebara (1997), na
estudo implica na discussão sobre busca pelos aportes que podem
relações de poder, de classe e, também, contribuir para com o estudo da religião.

2 Epistemologia feminista

Segundo Helen E. Longino (2008, Destaca-se, então, o importante


p. 505), epistemologia é “um campo de papel para a epistemologia feminista do
pesquisa [...] que investiga o significado sujeito cognoscente e suas
das afirmações e atribuições do particularidades, pois ele é modificado
conhecimento, as condições e pelas perspectivas feministas do
possibilidades do conhecimento, a conhecimento. Sua individualidade é
natureza da verdade e da justificação”. ressaltada, culminando em uma
Para a autora, a epistemologia feminista pluralidade epistemológica feminista.
é uma necessidade, tendo em vista que Como explica Longino (2008, p. 513):
as pressuposições filosóficas, nas quais Não existe uma epistemologia
se tem apoiado as disciplinas acadêmicas feminista única. O que existe é
uma superabundância de ideias,
tradicionais, muitas vezes implicam aproximações e argumentos que
têm em comum somente o
costumes sexistas e androcêntricos. comprometimento de seus
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autores com a exposição e a pelo qual algo se torna conhecido.


reversão da derrogação das
mulheres e do preconceito de Segundo Cecilia Maria Bacellar
gênero das fórmulas tradicionais.
Sardenberg (2007, p. 10), “uma
Partindo da compreensão de epistemologia feminista deve constituir-
Longino (2008) sobre a pluralidade se, necessariamente, através de um
epistemológica feminista e da processo de mão dupla, ou seja, de um
perspectiva de Margareth Rago (1998), processo tanto de desconstrução como
que explica que a reflexão filosófica de construção”.
sobre a epistemologia feminista foi Nessa mesma perspectiva,
posterior à prática teórica, propõe-se segundo Rago (1998), o projeto
uma discussão a partir de feministas que feminista de ciência, ou a epistemologia
ousaram pensar sobre uma teoria feminista, é o campo conceitual a partir
feminista do conhecimento a partir de do qual o conhecimento científico é
sua prática. produzido. Para a autora, a
epistemologia feminista é o
2.1 Epistemologia e a crítica feminista “contradiscurso” ou “nova linguagem”,
pois é o conhecimento sendo produzido a
A crítica feminista questiona os
partir de outras “vozes”, ou seja, de
aportes usados pela ciência, que acabam
outros sujeitos.
por corroborar com uma ciência
Ao pensar a partir de diferentes
universalizante, branca, androcêntrica e
sujeitos, a epistemologia feminista
ocidental. A tarefa implicada à crítica
questiona as relações de poder outrora
feminista radical da ciência é, segundo
estabelecidas nas formas de
Evelyn Fox Keller (1982), histórica e
conhecimento vigentes. Segundo Diana
transformadora. A autora afirma que
Maffia (2007, tradução nossa) 2,
“em um esforço histórico, as feministas
podem trazer toda uma nova gama de os achados epistemológicos mais
fortes do feminismo encontram-
sensibilidades, levando a uma nova se na ligação que foi feita entre
"conhecimento" e "poder”. Não
consciência igualitária das latentes apenas no sentido óbvio de que
possibilidades do projeto científico” o acesso ao conhecimento
implica o aumento do poder, mas
(KELLER, 1982, p. 602, tradução de modo mais controverso
1 através do reconhecimento de
nossa) . que a legitimação das pretensões
Nesse esforço transformador, são do conhecimento está

lançadas as bases para uma ciência


feminista, que busca reconstruir o modo 2
Los hallazgos epistemológicos más fuertes del
feminismo reposan en la conexión que se ha hecho
entre 'conocimiento' y 'poder'. No simplemente en el
sentido obvio de que el acceso al conocimiento entraña
1
In the historical effort, feminists can bring a whole new aumento de poder, sino de modo más controvertido a
range of sensitivities, leading to an equally new través del reconocimiento de que la legitimación de las
consciousness of the potentialities lying latent in the pretensiones de conocimiento está íntimamente ligada
scientific project. con redes de dominación y de exclusión.
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intimamente ligada a redes de [...] Isso tem trazido


dominação e de exclusão. consequências bastante
desvantajosas para as mulheres,
A crítica feminista evidencia as principalmente no sentido de
excluí-las dos processos de
relações de poder constitutivas da investigação e negar-lhes
autoridade epistêmica,
produção dos saberes. A epistemologia menosprezando os estilos e
feminista, então, busca desarticular a modos cognitivos ditos
“femininos”. Ademais, o
aparente neutralidade de quem produz androcentrismo tem contribuído
para a produção de teorias sobre
ciência, revelando os interesses que
as mulheres que as representam
estão por trás das teorias científicas. como seres inferiores, desviantes
ou só importantes no que tange
Essa análise é feita a partir, por aos interesses masculinos, tal
como acontece com as teorias de
exemplo, da linguagem da ciência. Para fenômenos sociais que tornam as
Maffia (2007), a linguagem apropria-se atividades e interesses femininos
menores e obscurecem as
de metáforas sexuais, que revelam relações de poder entre os
sexos. (SARDENBERG, 2007, p.
relações de poder e relações de gênero 9-10).
opressivas, colocando a ciência a serviço
Então, ao se incluírem nos
do controle social.
processos de investigação científica, as
Ao desarticular as metáforas
usadas pelos cientistas, são
mulheres lançam mão dos aportes da
descobertas as analogias que crítica feminista buscando não somente
revelam não somente a
suposição acrítica, mas também a desconstrução, como também a
o reforço de certos valores
sociais vigentes. Quando estes
reconstrução da ciência a partir de
valores implicam relações de padrões igualitários de investigação. A
gênero opressivas, a ciência põe-
se a serviço do controle social. epistemologia feminista, segundo Rago
(MAFFIA, 2007, tradução
nossa)3.
(1998), dá-se a partir do se pensar a
diferença. A solidificação das bases para
Nesse sentido, a epistemologia
a construção de uma epistemologia
feminista é contrária à posição
feminista é dada “pelos avanços teórico-
hegemônica do conhecimento produzido.
metodológicos no interior do próprio
A crítica feminista à ciência busca revelar
pensamento feminista com a construção
não apenas como as categorias de
e a teorização em torno das relações de
gênero têm se inserido no vértice da
gênero” (SARDENBERG, 2007, p. 5).
ciência, mas, sobretudo, o
Nesse processo de formulação da teoria
androcentrismo desse sujeito branco e
feminista do conhecimento,
ocidental.
cabe à epistemologia feminista
propor princípios, conceitos e
práticas que possam superar as
3
Al desarticular las metáforas usadas por científicos, limitações de outras estratégias
quedan de manifiesto las analogías que revelan no sólo epistemológicas, no sentido de
la asunción acrítica sino incluso el refuerzo de ciertos atender aos interesses sociais,
valores sociales predominantes. Cuando esos valores
políticos e cognitivos das
implican relaciones opresivas entre los géneros, la
ciencia se pone al servicio del control social. mulheres e de outros grupos
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historicamente subordinados. histórico? As respostas


(SARDENBERG, 2007, p. 10). dependem do gênero como
categoria de análise. (SCOTT,
A epistemologia feminista, 1989, p. 1055, tradução nossa)4.

segundo Rago (1998), enfatiza a O gênero como categoria de


historicidade dos conceitos e a análise, em seu uso historiográfico,
coexistência de temporalidades. “Os como o proposto por Scott (1989),
estudos feministas inovam na maneira propõe-se a rever a história das relações
como trabalham com as multiplicidades entre homens e mulheres na busca por
temporais, descartando a ideia de linha compreender as relações sociais que são
evolutiva inerente aos processos estabelecidas entre os dois. Nessa
históricos” (RAGO, 1998, p. 12), perspectiva, o gênero une-se a outras
reconhecendo, assim, a particularidade categorias de análise não se sobrepondo,
do modo de pensamento, abandonando mas somando, em um esforço analítico
a pretensão de haver uma única para compreender como se dão as
possibilidade de interpretação da relações entre homens e mulheres.
realidade. Segundo Scott (1989, p. 1067,
A relação com a qual a tradução nossa)5, “gênero é um elemen-
epistemologia feminista relaciona-se com to constitutivo das relações sociais
a pluralidade de perspectivas dá-se a baseado nas diferenças percebidas entre
partir do uso do gênero como categoria os sexos, e o gênero é uma forma
analítica. O gênero torna-se uma primeira de significar as relações de
categoria que sustenta esse rico poder”. Essa definição do conceito de
“edifício” epistemológico. gênero aponta seu aspecto crítico diante
das relações de poder que se
2.2 Epistemologia feminista e a estabelecem baseadas nas diferenças
categoria analítica de gênero
percebidas entre os sexos.
Segundo Joan Scott (1989), Nesse enfoque, para Miriam
gênero refere-se à organização social da Grossi (2014, p. 5) gênero é “uma
relação entre os sexos. Para ela, o categoria usada para pensar as relações
conceito baseado na questão da sociais que envolvem homens e
“relação” é um desafio teórico, pois mulheres, relações historicamente

Exige a análise não somente da


relação entre experiências 4
It requires analysis not only of the relationship between
masculinas e femininas no male and female experience in the past but also of the
passado, mas também a ligação connection between past history and current historical
entre a história do passado e as practice. How does gender work in human social
práticas históricas atuais. Como relationships? How does gender give meaning to the
organization and perception of historical knowledge?
o gênero funciona nas relações The answers depend on gender as an analytic category.
sociais humanas? Como o gênero 5
Gender is a constitutive element of social relationships
dá sentido à organização e à based on perceived differences between the sexes, and
percepção do conhecimento gender is a primary way of signifying relationships of
power.
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determinadas e expressas pelos humanas e da crítica do


empiricismo e do humanismo
diferentes discursos sociais sobre a que desenvolvem os pós-
estruturalistas, as feministas não
diferença sexual”. Pode-se dizer, então,
somente começaram a encontrar
que gênero é mutável, pois é social, uma via teórica própria, como
elas também encontraram
cultural e historicamente determinado. aliados cientistas e políticos. É
nesse espaço que nós devemos
Gênero diz respeito a construções
articular o gênero como uma
sociais, culturais e históricas que categoria de análise.

culminam em hierarquias que se Para Scott (1989), o gênero é


estabelecem a partir da binarização dos uma categoria de análise importante
sexos. Para Gayle Rubin (1986) seria para a ressignificação da epistemologia.
impossível compreender a mulher Rago (1998) explica que a categoria de
apenas a partir de seu sexo, por isso a gênero “desnaturaliza as identidades
importância de uma teoria que a sexuais e postula a dimensão relacional
compreenda a partir das relações que se do movimento constitutivo das
estabelecem entre o sexo e o gênero. diferenças sexuais” (RAGO, 1998, p. 6).
Grossi (2014) afirma que Sendo assim, gênero como categoria de
De uma forma simplificada, diria análise rompe com o enquadramento
que sexo é uma categoria que
ilustra a diferença biológica entre conceitual normativo.
homens e mulheres; que gênero Além disso, gênero, como
é um conceito que remete à
construção cultural coletiva dos categoria de análise, propõe novos
atributos de masculinidade e
feminilidade (GROSSI, 2014, p. temas, novos objetos e novas questões
12). às Ciências da Religião, tais como,

Compreendido, então, o gênero bruxaria, prostituição, aborto, parto,

como uma categoria analítica criada a maternidade, saúde, sexualidade.

partir das abordagens feministas, pode- Segundo Rago (1998, p. 13),

se afirmar, como Sardenberg (2007), Feministas assumidas ou não, as


mulheres forçam a inclusão dos
que a ciência feminista é “um saber
temas que falam de si, que
alavancado em uma perspectiva crítica contam sua própria história e de
suas antepassadas e que
feminista de gênero” (SARDENBERG, permitem entender as origens de
muitas crenças e valores, de
2007, p. 2). Como explica Scott (1989,
muitas práticas sociais
p. 1066, tradução nossa)6, frequentemente opressivas e de
inúmeras formas de
Do lado da crítica da ciência desclassificação e estigmatiza-
desenvolvida pelas ciências ção. De certo modo, o passado
já não nos dizia e precisava ser
reinterrogado a partir de novos
6
on the side of the critique of science developed by the olhares e problematizações,
humanities, and of empiricism and humanism by post- através de outras categorias
structuralists, feminists have not only begun to find a interpretativas, criadas fora da
theoretical voice of their own but have found scholarly estrutura falocêntrica especular.
and political allies as well. It is within this space that we
must articulate gender as an analytic category.

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Novos temas, novas perguntas hierarquização social, que se expressa,


são contribuições da epistemologia também, na construção hierárquica do
feminista para o estudo do fenômeno conhecimento. “Apesar dos avanços
religioso a partir dos recortes propostos positivos do conhecimento humano, a
pela categoria analítica de gênero. natureza e os seres humanos são
cientificamente utilizados para servir a
2.3 Epistemologia teológica feminista certos interesses políticos e econômicos
minoritários” (GEBARA, 1997, p. 36).
O presente artigo preocupou-se
Gebara (1997) nomeia a
até agora em apresentar a epistemologia
epistemologia antropocêntrica, andro-
feminista como método de conhecimento
cêntrica, branca e ocidental vigente
que lança mão da categoria analítica de
como “epistemologia teológica
gênero para o conhecimento, e como
patriarcal”, que é construída sobre os
perspectiva fundamental para o processo
seguintes paradigmas: essencialismo,
de pesquisa e da crítica à ciência
monoteísmo, androcentrismo, verdades
hegemônica, que tem excluído a mulher
eternas, aristotélico-tomista.
e seus conhecimentos do cabedal
O essencialismo trata da
científico. Cabe, então, apresentar a
epistemologia que “busca a essência de
epistemologia teológica feminista como
cada coisa, ou a forma como Deus criou
método para o estudo do fenômeno
cada ser” (GEBARA, 1997, p. 39). A
religioso.
marca dessa epistemologia teológica
Tendo em vista a afirmação de
patriarcal diz respeito a uma realidade
Maria José F. Rosado-Nunes (2001), de
superior ou anterior ao ser humano, que
que foram as teólogas cristãs que
pré-determina a sua existência,
primeiramente desenvolveram uma
retirando-a da cotidianidade. Aponta
análise feminista das religiões, buscar-
uma necessidade de restauração
se-á na teóloga e filósofa feminista
histórica nunca realizável, levando o ser
brasileira, Ivone Gebara, os aportes
humano para um movimento de volta,
teórico-metodológicos para uma
embora a vida caminhe para diante. O
epistemologia que contribua com o
essencialismo aventa a “essência
estudo do fenômeno religioso.
humana” como uma realidade anterior à
Criticando a epistemologia
“queda” de Adão e Eva. É, então, uma
vigente, Gebara constata que “as
“essência ideal”, nunca atingível.
epistemologias filosóficas elaboradas a
O paradigma monoteísta é,
partir da tradição ocidental são de base
também, marca da epistemologia
antropocêntrica e androcêntrica”
teológica patriarcal, remetendo a um
(GEBARA, 1997, p. 33). A autora explica
Deus único que se impõe às diferentes
que essa base repercute em uma
culturas. Aponta um Deus objeto de
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conhecimento, alvo dos estudos católica como “verdades da fé”, que


teológicos, compreendendo “que há um nunca podem ser contrariadas pela
Deus, ou um modelo divino centralizador razão. Segundo Gebara (1997, p. 51),
que torna possível o conhecimento “do ponto de vista epistemológico
humano” (GEBARA, 1997, p. 42). A revela-se a presença de uma estrutura
crítica de Gebara (1997), nesse de conhecimento teológico limitada por
contexto, diz respeito ao jeito afirmações imutáveis”. Ou seja, as
pretensiosamente objetivo como se falou dúvidas levantadas pela razão que
sobre Deus e as consequências históricas atravessam o cotidiano não podem ser
desta fala na vida de grupos sociais, levadas adiante, não sendo permitida,
sobretudo os oprimidos e as mulheres. assim, a formulação de valores
O paradigma epistemológico humanos.
androcêntrico “situa o centro de todo A “epistemologia teológica
conhecimento na experiência masculina” patriarcal” de Gebara (1997) é
(GEBARA, 1997, p. 45), apontando, fortemente presente no estudo das
assim, para reduções históricas da religiões, excluindo as experiências das
presença da mulher nas narrativas mulheres e de grupos inferiorizados. O
sagradas. A voz criadora de Deus é uma silenciamento dessas vozes marginais
voz masculina que outorga as grandes universaliza a experiência religiosa e não
decisões sociais e políticas aos homens, leva em conta a diversidade de vivências
confinando as mulheres no mundo que se revelam na concretude da vida.
doméstico. Gebara (1997) propõe, então,
Gebara (1997), também, uma nova epistemologia, não como
apresenta a epistemologia patriarcal substitutiva da primeira, mas que parta
como sendo de verdades eternas, ou da percepção da importância da
seja, verdades constitutivas e imutáveis experiência, da vida para a construção
da fé cristã. São “verdades reveladas” do conhecimento. A pretensão de uma
que não podem ser condicionadas aos formulação epistemológica feminista é a
diferentes contextos socioculturais. Essas de “denunciar o caráter ideológico de
verdades “indubitáveis” não levam em boa parte da ciência patriarcal”
consideração os imprevistos e previstos (GEBARA, 1997, p. 56), buscando
da vida cotidiana, deixando de lado a repensar a relação do ser humano com a
sabedoria que emerge da vida. Terra e com o Cosmos. A autora
O paradigma aristotélico-tomista apresenta a “epistemologia ecofemi-
7
“distingue entre as verdades adquiridas nista ” como sendo: de gênero e de
pela razão natural e as verdades da fé”
(GEBARA, 1997, p. 50). Diz respeito ao 7
Ecofeminista, porque Gebara trabalha com o paradigma
“oikocêntrico feminista”. Segundo ela, o termo
que é compreendido pela tradição ecofeminismo começou a ser usado na França, a partir
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ecologia, contextual, holística, afetiva, A epistemologia “holística”


inclusiva. proposta por Gebara (1997) diverge do
A epistemologia ecofeminista modelo cartesiano do conhecimento,
“entende gênero e ecologia como abrindo inúmeras perspectivas de
mediação para a compreensão e aprendizado. Em uma perspectiva
interpretação do mundo e do ser teológica, a holística entende como
humano” (GEBARA, 1997, p. 67). A sagrado as coisas e as relações que têm
introdução da categoria de gênero, relevância para a vida humana. Trata da
segundo a autora, afirma que na ideia de que o todo está em nós.
construção do conhecimento o masculino Além disso, a epistemologia
e o feminino devem expressar sua ecofeminista é “afetiva”, pois “sugere a
maneira de compreender o mundo. Já a impossibilidade de determinar com
categoria de ecologia propõe o resgate clareza os limites entre objetividade e
das “culturas originárias”. Ambos subjetividade” (GEBARA, 1997, p. 73),
marcam a epistemologia ecofeminista reconhecendo, assim, o universo das
como instrumentos para a “mediação emoções como fonte de conhecimento.
para a compreensão e interpretação do Não são aceitas, então as distinções
mundo”. Mediação no sentido de “aquilo masculino/razão e feminino/emoção,
que é meio e finalidade constitutiva do próprias da estrutura patriarcal. Sendo
sujeito que conhece e da realidade que assim, natureza e cultura não são
se dá a conhecer” (GEBARA, 1997, p. compreendidas como separadas, mas
67). como indissociáveis. O afeto borra os
A epistemologia ecofeminista limites entre o objetivo e o subjetivo e já
propõe-se “contextual” no sentido de não é possível estabelecer limites claros
não absolutizar a forma de entre um e outro.
conhecimento, admitindo, assim, sua Finalmente, a epistemologia
provisoriedade histórica. Assim, uma ecofeminista apresenta-se, também,
epistemologia contextual busca referir-se como “inclusiva”, não sendo orientada
ao contexto de cada grupo humano. As por características consideradas como
dúvidas e as respostas surgem, então, normativas. Ela acolhe a multiplicidade
em contextos específicos, mantendo a das experiências religiosas e propõe a
tensão entre o caráter regionalista e o rearticulação dos valores da vida nos
caráter universalista do conhecimento processos cognitivos. O objetivo da
humano. proposta de Gebara (1997) de uma
epistemologia ecofeminista é captar os
do final dos anos 70, pela socióloga feminista Françoise
D’Eaubonne, “para mostrar a aliança entre a luta pela aspectos fundamentais da vida,
mudança de relações entre homens e mulheres e a
mudança de nossas relações com o ecossistema” ocultados no campo cognitivo, pois o
(GEBARA, 1997, p. 9).

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conhecimento e a experiência se Para Gesché (GEBARA, 2000), a


atravessam. segunda contribuição epistemológica de
Para Gebara, a realidade do Gebara é a introdução da fenomenologia
conhecimento é processual e não linear no tratamento teológico da questão
como a vigente. Por isso, uma outra feminina, permitindo que a realidade
epistemologia, tem como objetivo vivida mostre-se. Deus, aqui, não é mais
“superar essa linearidade e acolher a retratado através de discursos
complexidade da realidade processual emprestados, mas nos discursos, nas
que somos” (GEBARA, 1997, p. 64). falas das mulheres.
Diante do exposto, ressalta-se O terceiro ponto levantado por
que a epistemologia teológica feminista, Gesché (GEBARA, 2000) é o uso do
em seu método de desconstrução/ conceito de gênero como instrumento
reconstrução, abre as portas para um epistemológico.
“outro” fazer teológico. Ivone Gebara introduz este
conceito em teologia, refazendo
Essa ressignificação conceitual assim o gesto que sempre foi o
gera conflitos entre os poderes gesto das teologias vivas:
estabelecidos e os novos poderes recorrer a instrumentos
que buscam uma afirmação e um conceituais novos conquistados
reconhecimento. E nesse jogo de em outros lugares, onde a
forças só o futuro nos mostrará cultura fez envelhecer alguns,
que novas configurações e novas que não podem mais servir, e
cartografias estamos construindo suscitou novos, que se tornam
para apoiar os sentidos de nossa indispensáveis. E que devem ser
existência em uma opção de integrados, mesmo que seja a
justiça de gênero, de justiça título de ensaio, no discurso
social e de eco-justiça. (GEBARA, teológico inculturado, se
2007, p. 41). quisermos que a fé e a conduta
que lhe corresponde continuem
No prefácio do livro “Rompendo o sendo portadoras de sentido
numa cultura que se renova. Não
silêncio”, de Gebara (2000), Adolphe deveria ser este o voto, ou
melhor ainda, o dever de todo
Gesché explica a epistemologia usada aquele que deseja que a boa-
pela teóloga. Para ele, o método de nova do Evangelho encontre
todas as suas chances? (GESCHÉ
Gebara aponta avanços epistemológicos, in GEBARA, 2000, p. 22).
que garantem o valor científico de sua
A quarta, e última, contribuição
obra. Primeiramente, Gesché (GEBARA,
epistemológica de Gebara é a inserção
2000) explica que Gebara situa a
da experiência pessoal no discurso
questão das mulheres na teologia, ou
teológico. Segundo Gesché (GEBARA,
seja, em seus discursos e conceitos. A
2000), Gebara permite que as mulheres
mulher destinada ao silêncio, à
contem as suas histórias.
obediência e à submissão é o cerne do
A perspectiva teológica contextual
discurso teológico de Gebara, que não
proposta por Gebara, muitas vezes, vai
fala sobre as mulheres, mas a partir do
além dos limites dos discursos teológicos
mundo das mulheres.
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Ana Ester Pádua Freire – Epistemologia feminista: contribuições para o estudo... ~ 387 ~

convencionais. É uma perspectiva que democrática, com todos os


limites que ela comporta.
está atenta à expressão, ao silêncio e às (GEBARA, 2000, p. 35).
dores das mulheres.
Segundo Gebara (2000), a
Minha reflexão teológica não será contribuição da epistemologia feminista
especificamente bíblica, embora
não deixe de recorrer à Escritura. é mostrar a relação entre a vivência
Vou trabalhar principalmente na
perspectiva de uma antropologia feminina em Deus ou com Deus e os
teológica, essencial à construção discursos teológicos propostos pelas
de relações de justiça e
solidariedade. Esta antropologia instâncias oficiais da Igreja.
poderá eventualmente abrir as
portas para decretar o fim da É por isso, que André Musskopf
“maldição das mulheres” na (2012), sobre o método de Gebara,
nossa cultura e na nossa
teologia. A palavra “escandalosa” afirma que “em suas reflexões acerca de
das mulheres, ou o “escândalo”
de sua palavra, poderiam ser questões epistemológicas no âmbito da
lidos como um anúncio de teologia a autora assume uma
salvação, como um evento de
redenção, como um ensaio de perspectiva assumidamente fenômeno-
restauração da justiça numa
estrutura de violência. A lógica a partir da qual o cotidiano
compreensão patriarcal e emerge como locus privilegiado da
hierárquica do cristianismo,
própria à nossa tradição, poderá construção teórica” (MUSSKOPF, 2012,
abrir-se a uma compreensão não
patriarcal, mais aberta e p. 337).

3 Considerações finais

Adentrar a rica seara do a epistemologia feminista como método


feminismo, ainda que por meio de sua de estudo do fenômeno religioso.
epistemologia, é uma árdua, mas A epistemologia feminista é o
necessária tarefa na busca por métodos campo conceitual a partir do qual o
mais justos de conhecimento, que levem conhecimento científico é produzido por
em consideração a multiplicidade da vida meio da categoria analítica de gênero.
religiosa. Árdua, pois, na busca por Esta compreendida como sendo uma
“justiça” ou “igualdade” epistemológicas, categoria relacional que valoriza a
acaba-se incorrendo em injustiças na dimensão simbólica, o imaginário social,
impossibilidade de apontar-se uma a construção dos múltiplos sentidos e
epistemologia feminista que abarque interpretações no interior de uma dada
toda interseccionalidade que o feminismo cultura (RAGO, 1998).
pressupõe. Entretanto, ainda que diante A epistemologia feminista é plural
das limitações que a pesquisa impõe, e dinâmica e propõe a ressignificação
este artigo preocupou-se em apresentar dos conceitos de objetividade, de
neutralidade e de universalidade a partir
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da historicidade do sujeito. A religiões. Diante das novas perguntas


objetividade é compreendida como que a categoria de gênero suscita às
flexível e capaz de se mover entre a pesquisas sobre as religiões, faz-se
distância e a intimidade do sujeito e do possível o uso de uma epistemologia
objeto da pesquisa. feminista que seja de gênero e de
No âmbito do estudo do ecologia, contextual, holística, afetiva e
fenômeno religioso, ressalta-se que o inclusiva (GEBARA, 1997).
objetivo da epistemologia feminista não Com esses aportes, a
é acrescentar as mulheres aos estudos já epistemologia feminista contribui com o
existentes, mas reconstruir o estudo do fenômeno religioso ao propor
instrumental de análise pela a ressignificação de conceitos positivistas
incorporação do gênero como categoria de pesquisa, propiciando uma
analítica. Sendo assim, por meio dos metodologia de investigação baseada em
aportes levantados pela epistemologia um paradigma emancipatório e na
teológica feminista, buscaram-se as relevância do cotidiano da vida das
contribuições para o estudo das mulheres.

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~ 390 ~ Ana Ester Pádua Freire – Epistemologia feminista: contribuições para o estudo...

Recebido em: 29/09/2015.


Aceito para publicação em: 20/12/2015.

Paralellus, Recife, v. 6, n. 13, p. 377-390, jul./dez. 2015.

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