Você está na página 1de 21

AS CAUSAS DO ABANDONO ESCOLAR NO

PRIMEIRO ANO NA ESCOLA DE ENSINO


MÉDIO

Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer os principais fatores que contribuem para a
evasão no primeiro ano do ensino médio da Escola de Ensino Médio Maria Marina
Soares no município de Guaraciaba do Norte- CE. Os índices de abandono do ano de
2013 serviram de base para contextualizar o problema que afeta o alcance das metas
estabelecidas pela escola. Os dados obtidos durante a pesquisa relativos ao ano letivo de
2014 mostram que o problema do abandono escolar ainda não foi resolvido. A natureza
quali-quantitativa da pesquisa deve-se a aplicação de questionários que continham
perguntas abertas e fechadas para a coleta de informações com alunos, professores e
equipe gestora. A análise dessas informações revelou que o desinteresse dos alunos é a
principal causa do abandono nesta referida série, porém existem outros fatores como a
repetência e a gravidez das jovens alunas. Professores e principalmente os gestores
recorrem aos pais e tentam sensibilizar o aluno para que ele compreenda a importância
do estudo para sua vida pessoal e profissional.

Palavras-chave: Desinteresse. Ensino Médio. Evasão.


Resumen
Esta investigación tuvo como objetivo identificar los principales factores que
contribuyen a la evasión en el primer año de la escuela secundaria Escola de Ensino
Médio Marina Maria Soares en la ciudad de Guaraciaba do Norte-CE. Las tasas del
abandono en 2013 fueron la base para contextualizar el problema que afecta el logro de
los objetivos fijados por la escuela. Los datos obtenidos durante la investigación en el
año escolar 2014 muestran que el problema de la deserción sigue sin resolverse. La
investigación cualitativa y cuantitativa se debe a cuestionarios con preguntas abiertas y
cerradas para recopilar información con los estudiantes, los profesores y el equipo
directivo. El análisis de las informaciones reveló que el desinterés de los estudiantes es
la principal causa de este abandono en esa serie, pero hay otros factores como la
repetición y el embarazo de jóvenes estudiantes. Los maestros y especialmente los
directores solicitan la ayuda de los padres y tratan de sensibilizar al alumno para que
comprenda la importancia del estudio para su vida personal y profesional.

Palabras clave: Desinterés. Escuela Secundaria. Evasión


Introdução
A evasão escolar não é um assunto novo nas discussões e estudos sobre o fracasso
escolar. Contudo, está longe de ser um problema resolvido. A cada ano os índices de
abandono crescem mais, contribuindo de forma efetiva para que 1,5 bilhão de jovens
entre 15 e 17 anos estejam fora da escola, segundo dados do Censo da Educação Básica
(INEP,2014). A temática da evasão escolar vem sendo estudada e discutida em todos os
níveis e modalidades, desde a educação infantil até o ensino superior. A etapa mais
crítica para a conclusão da educação básica é o primeiro do Ensino Médio (CAMARGO
e RIOS, 2012). É nessa série que os índices de evasão e repetência são maiores.

Especificamente, o primeiro ano do Ensino Médio mostra-se o mais preocupante. Ao


observar os alunos que ingressam nesse nível percebem-se sérias dificuldades destes em
acompanhar os conteúdos selecionados e programados para esta série. Ao concluir o
Ensino Fundamental, o aluno deveria possuir conhecimentos que serão aprofundados e
consolidados no Ensino Médio. No entanto, não é o que ocorre na prática. Essa
dificuldade de entendimento do que é ensinado em sala de aula afeta negativamente as
perspectivas do aluno em relação à escola. Faz-se necessário investigar até que ponto as
deficiências do ensino fundamental contribuem para a evasão no nível seguinte.

Para uma melhor compreensão dessa problemática é preciso conhecer os fatores


internos e externos à escola, que contribuem para o agravamento do problema. Bem
como saber os pontos de vista dos sujeitos envolvidos na questão: gestão, professores e
alunos. Algumas perguntas precisam de respostas para podermos enfrentar o problema
de forma eficaz e eficiente a fim de encontrarmos soluções viáveis que, mesmo não
erradicando por completo o ‘mal’ possam reduzir as taxas de abandono a índices
considerados aceitáveis.

De forma geral, os fatores que contribuem para o abandono escolar podem ser
analisados a partir de duas abordagens distintas. Uma delas, está relacionada ao que
ocorre fora do ambiente escolar como a desigualdade social, o trabalho e a família. Na
outra, a própria escola é apontada como fator contribuinte à evasão, assim como o
professor.
O problema da evasão escolar vem sendo analisada e discutida em todos os níveis e
modalidades.  Os estudos já realizados sobre o tema apontam diversos fatores que
concorrem como possíveis causas dos elevados índices de abandono nas escolas
públicas. A massificação e o atual modelo de ensino que não mais atrai os alunos, a
crise de valores da sociedade moderna, a necessidade de ingresso no mercado de
trabalho, são aspectos apontados como causas da evasão. A ‘bola’ vem sendo jogada da
escola para a família e vice-versa.

O abandono à escola é composto então pela conjugação de várias


dimensões que interagem e se conflitam no interior dessa problemática.
Dimensões estas de ordem política, econômica, cultural e de caráter
social. Dessa maneira, o abandono escolar não pode ser compreendido,
analisado de forma isolada. Isto porque, as dimensões socioeconômicas,
culturais, educacionais, históricas e sociais entre outras, influenciam na
decisão tomada pela pessoa em abandonar a escola. (BATISTA, SOUZA,
OLIVEIRA, 2009, p.4)
No caso específico da escola pesquisada, os alunos que estudam no período vespertino
tendem a abandonarem os estudos mais do que aqueles que estudam no período
matutino. O turno da manhã, geralmente, não apresenta casos de abandono enquanto o
turno noturno se caracteriza por ser constituído de alunos com necessidades e
peculiaridades diferenciadas em relação aos outros turnos da escola, tendo um
tratamento e uma carga horária diferenciada. Dados estatísticos fornecidos pela
secretaria da Escola de Ensino Médio Maria Marina Soares a respeito da evasão nesta
série no ano de 2013, revelaram que o turno da tarde teve um percentual maior de
abandono. Enquanto, pela manha, a taxa ficou em torno de 3,3%, à tarde o índice
chegou a 8,6%.

Nesse sentido, temos como principal objetivo conhecer os principais fatores que
contribuem para a evasão no primeiro ano do ensino médio. A relação entre os sujeitos
pesquisados com o índice de evasão. E ainda, estabelecer a relação entre o desempenho
escolar e a evasão no primeiro ano do ensino médio. Nosso objetivo vai além da
investigação ao sugerir intervenções para a redução das taxas de abandono na escola
pesquisada.

Revisão de Literatura
Contextualizando o abandono e a evasão escolar
Os temas evasão e abandono escolar vêm sendo debatidos, estudados e discutidos por
estudiosos e educadores brasileiros ao longo dos anos, contudo pouco sucesso se tem
obtido quanto a redução dos índices que se tornam cada vez mais preocupantes. O
debate envolve diversos setores da sociedade e põe em questão o papel de cada um. No
que diz respeito à educação, ela é um direito assegurado pela Constituição portanto é
dever do Estado e da família garantir o acesso e orientar a criança e o adolescente na sua
trajetória sócio-educacional. Embora haja essa garantia o que se observa é a
descontinuidade da trajetória escolar. Diagnóstico divulgado em julho de 2014 pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) intitulado "Vamos lá, Brasil! Por uma
nação de jovens formados", revelou que somente 58% dos jovens que ingressam na
escola terminam o Ensino Médio (MARINHO, 2014). Esse mesmo estudo revela ainda
que para os jovens das classes sociais mais baixas o diagnóstico é ainda pior, somente
30% concluem essa etapa da escolaridade tendo como o principal motivo do abandono o
desinteresse pelos estudos. Os jovens não acreditam que a educação seja o caminho para
terem melhores condições de vida.

Essas taxas demonstram que as políticas públicas voltadas para o combate do abandono
escolar nem sempre tem obtido êxito. Como diversas causas podem provocar tal
fenômeno, algumas delas podem ainda não terem sido analisadas a fundo. Descobrir o
que causa esse esvaziamento nas escolas brasileiras é tarefa não apenas dos órgãos
governamentais, mas da sociedade como um todo, principalmente educadores e
gestores.

Para uma melhor abordagem da temática é preciso esclarecer e diferenciar o problema.


De acordo com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) o termo evasão é
usado quando o aluno não volta a matricular-se de um ano letivo para o outro seguinte
independente de ter sido reprovado ou não. E, quando o aluno matricula-se e inicia o
ano e no decorrer desiste, ocorre o abandono escolar. Os dois problemas são
preocupantes porque interferem no fluxo escolar e geram outro problema: a distorção
série-idade. Nas escolas, de modo geral, existe uma maior preocupação com as taxas de
abandono tendo em vista que existem projetos e políticas públicas voltadas para a
permanência do aluno na escola. O monitoramento da infrequência dos alunos é uma
ferramenta utilizada por gestores para detectar quais estão em situação de abandono e
intervir antes que este se concretize.

Fatores internos e externos do abandono escolar no Ensino Médio


A literatura que aborda a temática da evasão e do abandono escolar aponta e analisa o
problema sob duas vertentes distintas. A primeira leva em consideração os fatores
externos a escola, enquanto a segunda se baseia nos fatores internos a instituição. Os
fatores externos estão ligados à família, ao trabalho, às desigualdades sociais e
econômicas, à violência e às drogas. Os internos estão associados ao currículo, à
dificuldade de aprendizagem, ao professor e aos colegas (SOUSA. et al, 2011).
É notório que a desigualdade social e a necessidade do jovem de trabalhar para
contribuir com o sustento da família é fator preponderante na decisão de abandonar a
escola. Normalmente esse tipo de aluno frequenta o turno noturno e chega à escola
exausto, depois de uma jornada de trabalho, muitas vezes, abusiva. O cansaço e o atraso
na chegada a escola contribuem para a falta de concentração e de motivação para
estudar. A solução para essas questões está longe do contexto escolar, pois engloba
problemas sociais que o país ainda não conseguiu combater. O combate à pobreza com
políticas sociais visa não apenas melhorar as condições socioeconômicas das camadas
mais pobres da população, mas também assegurar que a criança e o adolescente tenham
as mesmas oportunidades de educação que as camadas mais favorecidas.

É muito frequente a afirmação de que as altas taxas de evasão entre


jovens de baixa renda são causadas pela necessidade dos jovens de se
inserir prematuramente no mercado de trabalho. A solução derivada deste
raciocínio é aparentemente óbvia: programas condicionais de renda
mínima, que incentivem as famílias a fazer com que os seus filhos
permaneçam na escola. COSSÍO e SCHWARTZMAN (2008, p. 152).
O problema do fracasso escolar, principalmente o abandono também está associado às
questões financeiras das famílias mais carentes. Essa afirmação é resultado de um
estudo realizado pelo BID e divulgado em julho de 2014. O estudo mostrou que 85%
dos alunos mais ricos no país concluem o Ensino Médio, e apenas 28% dos jovens com
menos recursos chegam ao mesmo resultado (MARINHO,2014).Daí a importância de
programas governamentais para suprir as necessidades básicas e garantir que o aluno
frequente a escola. Programas como Bolsa Família, Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE), Caminho da Escola, Programa Nacional de Apoio ao Transporte
Escolar (PNATE) e o Mais Educação são importantes porque desenvolvem ações de
melhoria da alimentação, transporte, reforço escolar, posto que contribuem para o
acesso e a permanência do aluno na escola.
Segundo Almeida (1996, p.2) o Programa Bolsa Família que leva em consideração a
frequência do aluno “atua como ação preventiva ao desvio precoce de crianças e jovens
para o mercado de trabalho, contribuindo para ampliar a consciência de cidadania das
populações que vivem a apartação social”.

Não discutiremos as implicações políticas desses programas, apenas constatamos que a


transferência direta de dinheiro atrelada à matrícula e frequência à escola, são efetivas
para aumentar o número de matrículas. Entretanto, o significativo aumento na matrícula
e na frequência não significa uma efetiva melhoria do desempenho escolar, nem na
redução da reprovação e abandono, segundo Schwartzman (2006).

Algumas causas do abandono escolar podem ser resolvidas com políticas públicas que
atendam às necessidades dos alunos. Um exemplo de como uma gestão preocupada e
com foco na aprendizagem pode fazer a diferença é a experiência de Sobral. Com o
título “Sobral vira modelo nacional em gestão” uma reportagem do jornal Estado de São
Paulo, de 25 de abril de 2014, destaca as ações realizadas pela administração municipal
para elevar os índices de proficiência e reduzir as taxas de abandono. Segundo a matéria
“as taxas de abandono no ensino fundamental eram de 9,94% em 2000. Há dois anos
esse índice foi zerado”.

Medida considerada simples, mas que se mostrou muito eficaz.Quando o aluno não
comparece à escola, um profissional entra em contato com a família para averiguar o
que aconteceu e repassar o conteúdo do dia para o aluno. Caso seja necessário o
profissional vai à casa do aluno conversar com os pais. O elo entre família e escola fica
fortalecido e os pais compreendem a importância deles no acompanhamento da
educação dos filhos.

Essa experiência bem sucedida de acompanhamento e monitoramento junto aos pais


comprova que a parceria escola-família é determinante para garantir o sucesso escolar.
Os responsáveis pela criança ou adolescente podem responder judicialmente “por
abandono intelectual” quando não propiciam ao tutelado o direito de frequentar a escola
ou quando se mostram omissos no caso do abandono escolar (CALDAS 2000). Para
Brandão et. al (1983) a família com seu descaso para com a escola e pelas condições de
vida não contribui para encorajar os filhos na sequência dos estudos.

Resultados de estudos realizados pelo Instituto Unibanco em parceria com a Fundação


Getúlio Vargas (FGV) na busca pelos motivos da evasão escolar mostram que os jovens
brasileiros não tem a consciência da importância do estudo para a melhoria da qualidade
de vida, ocupação e renda (NERI, 2009). Segundo dados da pesquisa, os salários de
universitários é 544% superior ao de um analfabeto e a chance de ocupação é 422%
maior. A longa espera pela recompensa futura é seguramente a maior causa da falta de
motivação para os estudos. É sabido que o prêmio pelo esforço e dedicação aos estudos
será recebido na idade adulta ou na velhice, muito longe do planejamento imediatista
comum a grande maioria dos jovens. Essa situação é chamada por Neri (2009) de
miopia ou desconhecimento dos impactos potenciais da educação.

Essa mesma pesquisa mostrou que o percentual de alunos que se evadem pelo
desinteresse pelo estudo é bem maior que os que abandonam por entrarem no mercado
de trabalho. Segundo Neri (2009) 40% abandonam porque não gostam ou não
encontram motivos para estudar e apenas 27% por causa de trabalho. Nessa pesquisa,
embora o trabalho seja um motivo para o abandono, não se mostra como o principal.
Ainda de acordo com o autor aos 13 anos de idade, a proporção dos que frequentam a
escola é de 97%. Essa proporção cai para 83%, 74% e 53% aos 16, 17 e 18 anos,
respectivamente. Nessa faixa etária de 13 a 18 anos muitos jovens não se preocupam
com as consequências de seus atos. Existe uma demasiada valorização do presente em
detrimento de um futuro que se apresenta incerto.

A escola é um espaço pouco atrativo para aqueles que não se motivam apenas com a
esperança de que a escolarização lhes trará benefícios futuros. Melhorar a qualidade do
ensino pode ser a fórmula para tornar a escola mais atrativa. Para isso é preciso rever
algumas políticas e práticas pedagógicas. Essa melhoria deve ocorrer em todos os níveis
desde a educação infantil, pois cada etapa é o suporte à etapa seguinte.

Quanto aos fatores oriundos na própria instituição escolar é possível perceber que a
dificuldade dos alunos em acompanhar os conteúdos interfere na progressão para a série
seguinte, e como consequência da reprovação vem a falta de vontade de continuar os
estudos.

A ameaça de reprovação é uma motivação negativa que, quando muito,


leva o aluno a “livrar-se” da obrigação de estudar. É o problema da
motivação extrínseca: a preocupação do aluno não é empenhar-se no
estudo porque esteja ali, no estudo, intrinsecamente, o seu objetivo.
(PARO, 2001, p.111)
Uma vez que o único objetivo do aluno é ser aprovado, independente de ter aprendido
ou não, quando isso não ocorre o abandono passa a ser uma alternativa no
enfrentamento do problema. A aprendizagem não é o foco.

Dados de um estudo realizado pelo Instituto Unibanco, entre os anos de 2009 e 2010,
mostram que muitos alunos abandonam os estudos à medida que o ano letivo se
desenrola (NERI, 2014). Esse estudo deixou claro que as deficiências trazidas do ensino
fundamental reforçam a perspectiva de não conclusão do Ensino Médio. Os alunos com
maior dificuldade de aprendizagem e os que já estão fora da idade correta para a série
que frequentam devido à reprovação são sérios candidatos a abandonarem os estudos. O
desafio de possibilitar aos jovens a aquisição de conhecimentos necessários que lhes
permitam romper com o ciclo repetência-evasão deve ser prioridade no planejamento e
desenvolvimento de políticas públicas para o campo educacional.

Outro fator que é recorrente para essa questão da desmotivação para o estudo é o fato de
o currículo escolar ser extenso e muitas vezes enfadonho. Um currículo desprovido de
significado prático tem pouca chance de ser atrativo para os jovens de hoje.

Ao professor não basta conhecer o conteúdo específico de sua área; ele


deverá ser capaz de transpô-lo para situações educativas, para o que
deverá conhecer os modos como se dá a aprendizagem em cada etapa do
desenvolvimento humano, as formas de organizar o processo de
aprendizagem e os procedimentos metodológicos próprios a cada
conteúdo [...] em face da complexificação da ação docente, ele precisará
ser um profundo conhecedor da sociedade de seu tempo, das relações
entre educação, economia e sociedade, dos conteúdos específicos, das
formas de ensinar, e daquele que é a razão do seu trabalho: o aluno
(KUENZER, 1999, p.05 e 06).
É evidente que ao professor não basta o domínio do conteúdo específico de sua
disciplina. Ser conhecedor dos processos de aprendizagem e de como organizar
situações educativas torna-se tão ou mais importante que a habilidade de expor um
determinado saber.

O que deve ser considerado é que a escola deixou de ser aquele espaço apenas de
domínio escolar. A escola hoje é afetada diretamente por fenômenos que extrapolam
seus muros. Os problemas da rua, da localidade, das famílias e da sociedade, embora
não estejam literalmente em seu interior, já estão entre seus muros. Os problemas que
causam o abandono ou a evasão escolar não se limitam a um ou dois. Os fatores
externos somam-se aos fatores já existentes.  “São tantos os obstáculos que na escola
acabamos gerando inimigos ao invés de aliados: falta de uma linguagem comum; falta
de uma linha comum de atuação; perda da força do coletivo”. (VASCONCELLOS,
2002, p. 38 a 40). Foco na aprendizagem é a alternativa para permanência do aluno na
escola e a conclusão do ensino médio.

Metodologia
Optamos por uma pesquisa de perfil quali-qualitativo por se tratar de verificações feitas
em ambientes escolares. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p.11) “a influência dos
métodos qualitativos no estudo de várias questões educacionais é cada vez maior.
Pineda (et.al. 1994, p. 26) define a investigação qualitativa como sendo de “índole
interpretativa, e se realiza com grupos pequenos de pessoas, cuja participação é ativa
durante todo o processo investigativo e tem como meta a transformação da realidade”.

Por ser essa pesquisa de caráter qualitativo seus resultados não podem ser generalizados
para outros grupos, pois se trata de um estudo de grupos isolados. Como afirma Queiroz
(2006, p. 93) “sem o recurso da quantificação, a pesquisa qualitativa não produz
generalizações para se construir um conjunto de leis do comportamento humano, nem
pode aplicar testes adequados de validade e fidedignidade”.

A escola pesquisada é denominada Escola de Ensino Médio Maria Marina Soares está
localizada à Avenida 12 de novembro, nº 119, no centro do município de Guaraciaba do
Norte, no estado do Ceará. A denominação dessa avenida deu-se em homenagem a
fundação da escola aos 12 de novembro de 1953. Em 2013, a escola completou 60 anos
de muita história e tradição na educação do município.  Por ter uma excelente
localização, é a primeira opção da grande maioria de pais e adolescentes,
principalmente, aqueles que residem na sede do município.

O espaço físico da escola apesar de mostrar-se bastante antigo, com ambientes


pequenos, é agradável. Existe um pátio com uma pracinha e um pequeno jardim no
centro da escola, uma cantina que não comporta todos os alunos no momento do lanche,
uma sala de professores com armários, uma pequena sala para o núcleo gestor, uma
secretaria bem equipada e uma biblioteca instalada numa pequena sala com um acervo
de 7.015 livros.

A escola funcionou nos turnos manhã, tarde e noite com 7 turmas de primeiro ano, 6
turmas de segundo e 5 turmas de terceiro ano com uma matricula inicial de 712 alunos 
no ano letivo de 2014. As metas estabelecidas para o ano de 2014 foram: aprovação de
88%, 12% de reprovação e 7% de abandono.

Destas sete turmas de primeiro ano optamos por pesquisar apenas as turmas do turno
tarde. O turno da manhã geralmente não apresenta casos de abandono, estando o turno
da tarde com os maiores índices de abandono no período diurno.

No método de pesquisa não experimental não há a manipulação intencional, nem


deliberada das variáveis. Alvarenga (2010, p. 50) complementa afirmando que “os
estudos se realizam em ambientes naturais onde se encontra o problema a investigar,
sem manipular as variáveis”. O ambiente escolar pesquisado já existe
independentemente da ação do investigador, assim como os sujeitos selecionados. A
amostra participante foi selecionada do universo pesquisado de forma intencional.
Pesquisamos 67 alunos que frequentam o primeiro ano, incluindo os repetentes, fora da
faixa etária ou que em algum momento de sua trajetória já tenha abandonado a escola,
sem a observância de gênero. Fazem parte da amostra a diretora da escola, uma
coordenadora escolar e cinco professores que lecionam na referida série. A pesquisa de
campo contou com questionários respondidos por alunos, professores e gestores.

O uso do questionário justificou-se por se tratar da técnica mais fácil de ser aplicada
para um grupo grande de indivíduos. O formulário impresso com perguntas otimizou o
tempo de coleta, porém sempre há o risco de se obter respostas curtas e pouco claras, o
que em algumas indagações dificultou  a interpretação das informações.

Embora o uso do questionário pareça simples algumas questões foram observadas. As


perguntas responderam ao objetivo da investigação e foram elaboradas numa linguagem
clara e objetiva para evitar interpretações ambíguas. Silva e Menezes (2001, p. 33)
corroboram ao afirmar que “o questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e
estar acompanhado de instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua
aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o
preenchimento”. No caso dessa investigação, além de perguntas que caracterizam o
entrevistado e ajudam a traçar o perfil dos sujeitos pesquisados, apresentamos questões
que indagaram sobre a temática abordada.

3 Análise do Dados Coletados


A visão dos alunos sobre o abandono escolar
CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
Masculino 32 47,7%

Feminino 35 52,3%
Total 67 100,00%

TABELA I – SEXO DOS ESTUDANTES ENTREVISTADOS


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Investigamos o gênero dos estudantes e como mostra a TABELA I, 52,3% deles são do
sexo feminino e 47,7% são do sexo masculino.  No Brasil o percentual de mulheres é
bem superior ao dos homens, a superioridade é de 2,4% segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa situação é verificada em todos os
setores da sociedade e na escola parece ser intensificada. Vários fatores contribuem para
que o número de mulheres seja superior ao de homens no ensino médio, podemos citar a
necessidade dos meninos entrarem no mercado de trabalho mais cedo, abandonando a
escola; o número de acidentes vitimando jovens do sexo masculino nessa faixa etária é
alto e a taxa de natalidade de crianças do sexo feminino é superior como informam as
estatísticas oficiais. Dados do censo realizado em 2010 pelo IIBGE mostram que a
população feminina supera a masculina em 3. 941.819 indivíduos (IBGE, 2014).

O mercado de trabalho para jovens do sexo masculino que ainda não concluíram o
Ensino Médio traz a oportunidade de ganho real e a certeza para muitos da
independência financeira. Essa situação dificulta a permanência do jovem na escola,
abrindo espaço para o aumento do número de mulheres nas escolas, principalmente no
Ensino Médio. Embora existam fatores que atingem o sexo feminino como o casamento
e a gravidez ainda na adolescência, o número de mulheres que cursam o Ensino Médio
supera a taxa de homens segundo dados do censo escolar/ 2013. De acordo com
informações contidas no site oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
(INEP) o número de mulheres é de 54%, já os homens 46%.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


13 a 15 anos 39 58,20%
16 a 17 anos 24 35,80%

Acima de 18 anos 04 6,00%

Total 67 100,00%

 TABELA II-  IDADE DOS ESTUDANTES ENTREVISTADOS


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria
Marina Soares no semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE

A universalização do acesso à educação básica, principalmente ao Ensino Médio tem


reduzido a distorção de faixa etária nesse nível de ensino. Dos estudantes entrevistados,
58,2% têm entre 13 e 15 anos como mostra a TABELA II anteriormente citada. Os
resultados encontrados na escola pesquisada estão melhores do que os resultados do
restante do país. 35,6% dos alunos estão fora da faixa etária considerada ideal para o
primeiro ano do ensino médio que é até 15 anos, enquanto que a média geral do Brasil é
de 50%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada em 2012.

Esse resultado positivo da correção idade/série é fruto de políticas públicas voltadas à


permanência e ao sucesso dos alunos na escola. A Política Nacional do Ensino
Fundamental pôs em prática ações coordenadas tais como a ampliação do ensino
fundamental para nove anos de duração e a correção das distorções idade/ciclo/série.
Com a universalização do acesso à educação formal a preocupação volta-se para a
qualidade do ensino ofertado, pois não basta a criança está na escola. É preciso garantir
que elas aprendam e concluam essa modalidade na idade prevista, aos 14 anos.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


NÃO 59 88,00%
Sim 08 12,00%

Total 67 100,00%

TABELA III- JÁ ABANDONOU A ESCOLA ALGUMA VEZ 


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Do total de alunos frequentando o primeiro ano em 2014 na escola pesquisada 12% já
abandonaram a escola alguma vez. Todos eles afirmaram que desistiram de estudar uma
única vez em sua trajetória escolar. Não identificamos a série em que ocorreu o
abandono porque nosso objetivo principal é identificar os alunos em risco de abandono
ou que já abandonaram a série que estão cursando. Esse índice é superior ao alcançado
no ano letivo de 2013 nas turmas de primeiro ano à tarde que ficou em torno de 8,6%.
Contudo, o fato de 88% de alunos das turmas nunca ter abandonado ou evadido mostra
o interesse da maioria de permanecer e concluir a Educação Básica.
CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
Falta de interesse 03 37,50%
Problemas de relacionamento com 02 25,00%
colegas

Doença 01 12,50%

Gravidez 01 12,50%

Reprovação 01 12,50%

Total 08 100,00%

TABELA IV- CAUSAS DO ABANDONO ESCOLAR


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
A TABELA IV identifica as causas que levaram os alunos identificados na tabela
anterior a abandonarem os estudos. As causas são as mais variadas e não são diferentes
daquelas encontradas em outras escolas de todo o país. Doença, gravidez, problemas de
relacionamento com colegas e falta de interesse foram mencionadas, sendo que a falta
de interesse é a principal causa, contribuindo em 37,5% dos casos.

Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) coordenada pelo pesquisador
Marcelo Neri (2009) revelou que 40% dos jovens entre 15 e 17 anos deixam de estudar
simplesmente por acharem a escola desinteressante. Esse desinteresse do aluno está na
ideia de que a escola não atende às necessidades atuais dos jovens que vivem em um
mundo de fácil aquisição de informações através da internet.   Na escola eles não
encontram os mesmos atrativos que o mundo digital possibilita.

A falta de interesse entre os estudantes tem se relevado um grande obstáculo a ser


superado por professores e gestores. A gravidez na adolescência é um tema preocupante
e recorrente nas escolas. A vergonha diante da situação e o preconceito impedem que
muitas jovens continuem frequentando a escola após a confirmação da gestação. E
quando continuam apesar do visível constrangimento, após o nascimento da criança, a
necessidade de cuidar e sustentar o filho leva principalmente a jovem mãe a abandonar a
escola. (OLIVEIRA, 2008). A aluna que apontou sua gravidez como motivo para haver
interrompido os estudos ficou fora da escola por 2 (dois) anos.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


Não 52 77,70%
Sim 15 22,30%

Total 67 100,00%

TABELA V- JÁ FOI REPROVADO (A) ALGUMA FEZ


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
A reprovação como causa do abandono foi apontada na tabela IV. E não é pequeno o
índice de alunos do primeiro ano que já foram reprovados pelo menos uma vez, como
mostra a TABELA V. 77,2% deles não sabem o que é repetir um ano escolar, entretanto
22,3% já passaram pela experiência da reprovação.  Esse fracasso não aparece como
consequência da ineficácia do sistema, das metodologias equivocadas, das más
condições que são oferecidas a professores e alunos para desenvolverem seu trabalho. A
culpa sempre recai na incompetência do aluno por sua falta de inteligência ou de
vontade (PARO, 2001). Para o autor “o educador que não tem a percepção do processo
de inculpação do aluno perde importante fator de consciência do caráter nocivo da
reprovação [...]”. (PARO, 2001, p. 118). Parece incoerente ao processo pedagógico que
um aluno vá à escola para aprender e ao final do processo não tenha havido
aprendizagem.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


Sim 52 77,70%
Não 15 22,30%

Total 67 100,00%

TABELA VI- ACREDITAM HAVER RELAÇÃO ENTRE REPROVAÇÃO E


ABANDONO ESCOLAR
Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
A TABELA VI mostra que a maioria dos alunos acredita que há relação entre o
abandono escolar e a reprovação, embora como vimos anteriormente somente um aluno
abandonou a escola por esse motivo. A justificativa para esse pensamento é o fato de
que a reprovação desmotiva o aluno a continuar estudando. O sentimento de
incapacidade e o fato de perder ‘um ano de sua vida’ justifica a desistência. O jovem
não gosta de passar pelas mesmas experiências, ele sente necessidade do novo. Rever os
mesmos conteúdos e possivelmente o mesmo professor é segundo os alunos
entrevistados motivo suficiente para desistir dos estudos.
CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
Sim 62 92,50%
Não 5 7,50%

Total 67 100,00%

TABELA VII- SENTE MOTIVAÇÃO PARA CONCLUIR O ENSINO MÉDIO


Fonte: Questionário aplicado aos discentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Os alunos entrevistados mostraram-se motivados para concluir o Ensino Médio. 92,5%
deles afirmaram que com estudo adquirem conhecimentos e no futuro conseguirão um
bom emprego. Cursar uma faculdade é motivo de motivação para a permanência no
Ensino Médio daqueles que estão apenas iniciando sua caminhada. Para os 5 (cinco)
alunos que responderam negativamente, não há perspectiva no futuro através dos
estudos e pensam em desistir ou já desistiram de estudar. Como já vimos, a
desmotivação e a falta de interesse são os principais fatores que abandono juvenil nessa
etapa escolar. 

A visão docente sobre o abandono escolar


CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
Menos de  05 anos 01 20,00%

De 05 a 10 anos 01 20,00%

Mais de 10 anos 03 60,00%


Total 05 100,00%

TABELA IX – TEMPO DE EXERCICIO DA DOCÊNCIA


Fonte: Questionário aplicado aos docentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
A maioria dos professores exerce a docência há mais de 10 anos e, portanto, tem
bastante experiência. Apesar de anos no exercício da profissão o desafio de educar os
jovens nos dias de hoje é uma constante para esses profissionais.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


Avisa a coordenação 05 100,00%
Manda chamar os pais 00 00,00%

Não faz nada 00 00,00%

Total 05 100,00%
TABELA XI – NA AUSENCIA CONSTANTE DO ALUNO
Fonte: Questionário aplicado aos docentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Como podemos ver na tabela acima todos os professores consultados informam a
coordenação quando um de seus alunos das turmas pesquisadas não está frequentando
regularmente às aulas. Observa-se que a primeira ação do professor é repassar o
problema para a gestão. Embora, algumas vezes o docente não perceba que também é
uma tarefa sua buscar soluções para resolver a problema, ele não permanece inerte
frente à questão, já que comunica a ausência do aluno aos gestores escolares. O
professor é a figura mais próxima ao aluno, ele pode perceber mais facilmente os fatores
que estão contribuindo para a baixa frequência do aluno de sua sala de sala.

CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL


Avisa a coordenação 05 100,00%
Manda chamar os pais 00 00,00%

Não faz nada 00 00,00%

Total 05 100,00%

TABELA XII – QUANDO PERCEBE O ABANDONO DOS ALUNOS


Fonte: Questionário aplicado aos docentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Observa-se na TABELA XII que ao se concretizar o abandono do aluno os professores
em sua maioria, informam a coordenação. Novamente percebemos que para o professor
o problema da evasão deve ser resolvido pela gestão.  Nenhum toma uma atitude por si
só para solucionar ou pelo menos conhecer os fatores que ocasionam o abandono do
aluno. O trabalho coletivo entre família, professores e gestores é de fundamental
importância quando o aluno já não demonstra interesse em continuar frequentando a
escola.

Quando foram questionados para identificarem seu papel diante do problema da evasão
esses mesmos profissionais citaram que podem contribuir para solucionar o problema
diagnosticando os alunos em potencial risco de abandono, bem como buscando
inovações para sua prática pedagógica no sentido de facilitar a aprendizagem. Para eles
o aluno pode evadir-se quando não compreende a importância do estudo para sua vida,
por isso acreditam que devem conscientizá-lo.
CATEGORIA FREQUENCIA PERCENTUAL
As duas instituições 05 100,00%
buscam soluções
As duas instituições não 00 00,00%
buscam soluções

Total 05 100,00%

TABELA XIII – NA AUSENCIA OU ABANDONO DOS ALUNOS A


COORDENAÇÃO E PROFESSORES
Fonte: Questionário aplicado aos docentes do 1º ano turno tarde da E. E. M. Maria Marina Soares no
semestre letivo 2014.2 em Guaraciaba do Norte- CE
Na TABELA XIII todos os professores pesquisados afirmaram que tanto eles quanto a
coordenação buscam soluções para solucionar a problemática da evasão escolar.  As
soluções apontadas são simples, viáveis e podem surtir efeitos positivos, quando forem
adotadas como mecanismo de prevenção ao abandono para aqueles que demonstram
falta de interesse e motivação para prosseguir nos estudos. Foram citadas: orientar pais e
estudantes sobre a importância e o valor dos estudos; visitar a família para descobrir as
causas da ausência ou do abandono e formar parceria com o conselho tutelar para que
este assuma os casos em que a escola não consegue resolver.

Os professores apontaram o papel da gestão para reduzir as taxas de abandono na


escola. Para eles os gestores devem criar mecanismos de prevenção tais como: parcerias
com conselhos e instituições que zelam pelos direitos das crianças e adolescentes e
construir um projeto político pedagógico que atenda as necessidades e ofereça
oportunidades de desenvolvimento integral ao jovem.

O abandono sob a óptica da gestão escolar


A coordenação pedagógica da escola percebe os fatores externos que contribuem para o
abandono de seus alunos e sua impotência frente a solução desses problemas que na
maioria das vezes, é de origem socioeconômica. Embora reconheça as dificuldades, a
coordenação vê no contato com a família, a possibilidade de reduzir suas taxas de
abandono. Além disso, a gestão acredita que o acompanhamento da frequência, a oferta
de reforço escolar e aulas mais interessantes possam contribuir para a permanência do
aluno na escola e sua conclusão do Ensino Médio. Para a coordenadora da referida
escola “a gestão deve assumir o problema do abandono escolar como um desafio a
superar, pois o papel da escola é incluir e não excluir”.
Segundo a coordenadora pedagógica da escola “é muito difícil o professor
individualizar o atendimento devido ao número excessivo de alunos em sala e aos vários
problemas existentes”. Alguns professores passam tão pouco tempo em sala, devido a
pequena carga horária de sua disciplina, que dificulta o conhecimento e
acompanhamento dos alunos que estão em risco de abandono. Para a gestora “é um
desafio para o professor que além de preocupar-se com a aprendizagem deverá também
lidar com fatores externos que contribuem com o aumento da evasão”. Preocupação
semelhante foi manifestada pela atual diretora da escola ao afirmar “que os docentes
precisam participar mais da vida do estudante e que falta diálogo entre professores e
alunos”. Para ela existem questões de relacionamento entre estes sujeitos que afetam
diretamente aqueles alunos que são desmotivados e também não há o engajamento dos
docentes nessa luta.

Nas palavras da diretora é preciso “mobilizar outros segmentos da sociedade civil para o
engajamento na luta contra o abandono escolar, pois este problema não diz respeito
apenas a escola, é também de caráter social”. Segundo ela, a escola pouco pode fazer
em relação aos fatores externos que causam o abandono.  Assim como a coordenadora
entrevistada, ela também acredita que o acompanhamento da frequência desde o
primeiro dia de aula, assim como reuniões com professores e pais, além da
conscientização do aluno por meio do diálogo são meios para detectar aquele que corre
risco de abandono.

Considerações Finais
Ao realizarmos essa pesquisa não tínhamos a pretensão de solucionar o problema do
abandono na referida escola. Nosso maior objetivo focava na identificação das causas
do problema visando contribuir com a comunidade escolar. As respostas obtidas aos
questionamentos propostos mostraram uma séria preocupação dos professores e
gestores no sentido de encontrar alternativas para lidar com os fatores que, muitas
vezes, fogem ao ambiente escolar, e contribuem de forma significativa para as taxas de
abandono, que, em média, giram em torno dos 8%. Os professores não se mostram
alheios à temática, porém esperam da gestão uma posição definitiva para a solução do
problema. A gestão escolar vê na figura do professor uma peça fundamental para a
identificação precoce do aluno que posteriormente irá abandonar os estudos. Também é
consciente de que precisa desenvolver ações que também envolvam os pais como parte
importante para a permanência do aluno na escola.

Sem esgotar o assunto porque sua complexidade exige que cada caso seja analisado
individualmente, coletamos de professores sugestões que podem reduzir os casos
registrados anualmente na escola. O professorado acredita que a parceria da escola com
as famílias e com o conselho tutelar é fundamental para manter o aluno frequentando as
aulas regularmente.  Devemos ressaltar a preocupação dos professores em oferecer um
ensino que desenvolva no aluno o gosto pelo estudo. Embora a maioria que frequenta a
primeira série do Ensino Médio nessa instituição tenha a vontade de terminar esse nível
de ensino, encontramos discentes que não conseguem ver na educação uma melhoria na
sua condição de vida.

Fatores externos e internos a escola como: doença, gravidez, reprovação, problemas de


relacionamento e desmotivação contribuem para o abandono escolar. Nesse sentido a
colaboração dos diversos segmentos da sociedade em parceria com a instituição escolar
é uma ferramenta indispensável para a solução do problema. A escola deve reconhecer
que dever trabalhar com seus professores para tornar o ensino mais significativo para a
vida do aluno e assim sanar a sua principal causa do abandono. O desinteresse revelado
pelos jovens pode ser revertido através de uma escola mais viva e envolvida com as
necessidades do aluno.

Referências
Agencia de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI). Disponível em:
http://www.andi.org.br. Acesso em 13/10/2014

ALMEIDA, M.A. Programa Bolsa Escola. São Paulo: Instituto Polis, Dicas Nº 75,
1996. Disponível em:
http://www.polis.org.br/publicacoes/download/arquivos/Dicas75.pdf Acesso em:
01/05/2014
BRANDÃO, Z. et alii. O estado da arte da pesquisa sobre evasão e repetência no ensino
de 1º grau no Brasil. In Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 64, nº 147,
maio/agosto 1983, p. 38-69.

CALDAS. E. L. Combatendo a evasão escolar. Disponível


em: http://novo.fpabramo.org.br/content/combatendo-evasao-escolar. Acesso em
03/10/2014
CAMARGO, D. B.  e RIOS, M. P. G. A EVASÃO ESCOLAR NA 1ª SÉRIE DO
ENSINO MÉDIO NO MUNICÍPIO DE JOAÇABA – SC: DESAFIOS
CURRICULARES. IX ANDEP SUL. Seminário de Pesquisa em Educação na Região
Sul, 2012.  Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/
1130/945. Acesso em 19 de outubro de 2014.

COSSIO, M. B. e SCHWARTZMAN, S . Juventude, educação e emprego no Brasil. In:


A crise de audiência no Ensino Médio. Instituto Unibanco, 2008

DAYRELL, J. E escola “faz” juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil.


Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007.

GOMES, C. A. A Educação em Perspectiva Sociológica. 3ª ed., São Paulo: EPU, 1994.

KUENZER, A. Z. As políticas de formação: a constituição da identidade do professor


sobrante. Educ. Soc. 1999, vol.20, n.68, pp. 163- 183. ISSN 0101-7330.
MARINHO. A. A. G. Educação na ponta do lápis. Disponível em:
http://www.odebateon.com.br/site/blog/detalhe/38/educacao. Acesso em 13/10/14.

NERI, M. C. “O Paradoxo da Evasão e as Motivações dos sem Escola”. In: Veloso, F.;
Pessôa, S.; Henriques, R. e Giambiagi, F. (orgs), Educação Básica no Brasil:
Construindo o País do Futuro. Elsevier, Rio de Janeiro, p.171-188. (2009).

_________. O tempo de permanência na escola e as motivações dos sem-escola. Rio de


Janeiro: FGF/IBRE,CPS. 2009.

NERI, M. (Coord.) Motivos da Evasão Escolar.  FGV. Inserido em:

http://www.fgv.br/cps/tpemotivos/. Acesso em 03/10/2014.

PARO, V. H.  Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001.
SCHWARTZMAN, S. “Programas sociais voltados à educação no Brasil em, Rio de
Janeiro.” Sinais Sociais (Publicação do SESC – Serviço Social do Comércio) 1:114-
145. 2006.

SOUSA, A. de A. et al. Evasão escolar no ensino médio: velhos ou novos dilemas?


Vertices. Campos dos Goytacazes. RJ, v. 13, n. 1, p. 25-37, jan/abr. 2011.
VASCONCELLOS, C. dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto
político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. SP: Libertad, 2002.

INSTITUTO UNIBANCO. Motivos da evasão escolar. Disponível em:


http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1169/motivos-da-evasao-escolar/

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:


http://censo2010.ibge.gov.br/noticias. Acesso em 28/10/2014.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS.


www.inep.gov.br

[1]Pós-graduada em Coordenação Escolar pela Universidade Federal do Ceará.


Professora da Rede Pública Estadual.
[2]Mestre em História Social. Professora orientadora do Curso de Especialização em
Coordenação Pedagógica da Universidade Federal do Ceará.
 

Você também pode gostar