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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA – ISTA

________________________________________________________________
Criado pelo Decreto nº 24/07 do Conselho de Ministros, em 07 Maio de 2017
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE DIREITO

JUSTIÇA E PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL


PRIVADO

ÓSCAR DA CONCEIÇÃO DOMINGOS

CAXITO-DEZEMBRO
2022/2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA – ISTA
________________________________________________________________
Criado pelo Decreto nº 24/07 do Conselho de Ministros, em 07 Maio de 2017
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE DIREITO

JUSTIÇA E PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Trabalho apresentado ao Instituto Superior Técnico de


Angola (ISTA) no curso de Psicologia, como requisito
parcial para avaliação na cadeira de Direito Internacional
Privado:

Orientado pelo Prof.: Bartolomeu Silva

ESTUDANTE: ÓSCAR DA CONCEIÇÃO DOMINGOS


4º ANO
SALA: 07
PERÍODO: PÓS LABORAL

CAXITO - DEZEMBRO
2022/2023
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente aos meus familiares, que tanto sofrem comigo durante
este período da minha formação e aos colegas, amigos que de forma direita ou indireita têm me
acompanhado e dando forças, ao Dr. Bartolomeu, que consiste em grande sacrifício para o
melhoramento da minha formação.

I
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradecemos a Deus todo-poderoso, por ter nos concedido a vida,


saúde e paz. Aos Docentes do Instituto Superior Técnico de Angola (ISTA) pelos conselhos,
sugestões e atenção ao trabalho, pelo seu profissionalismo e simpatia na transmissão dos
conteúdos, particularmente ao Dr. Bartolomeu Silva, tudo quanto de forma profissional e
direitamente contribuiu para atingirmos esta grande nossa formação.

II
RESUMO

O Direito Internacional Privado se ocupa dos problemas decorrentes de situações


jurídicas privadas de dimensão internacional. Sua principal função é orientar o juiz
competente no momento de decidir qual a lei aplicável a uma controvérsia que tenha contato
com mais de um ordenamento jurídico, razão pela qual é classificado como espécie de
“sobredireito”. Seu principal objetivo é indicar ao juiz nacional, mediante a utilização de
“regras de conexão”, a lei mais adequada para reger uma relação jurídica privada de dimensão
internacional (determinar o centro de gravidade da relação jurídica), mesmo que aquela lei
seja uma lei estrangeira. Conhecido como o “direito da tolerância” não pode prescindir de
considerações de justiça, seja no seu fundamento e sua obrigatoriedade, seja na sua aplicação.
Com efeito, como toda norma jurídica, as regras de conexão também devem estar
comprometidas com o valor final da justiça, razão pela qual é preciso rever a utilização de
regras de conexão rígidas, inflexíveis e mecânicas, inclusive por fidelidade ao objectivo
primeiro do Direito Internacional Privado, esclarecido pelos Pais da disciplina, a saber, o da
determinação da lei mais adequada e justa para o problema dos conflitos de leis.

Palavras-chaves: Direito internacional. Principio. Direito internacional Privado.

III
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA..........................................................................................................................I
AGRADECIMENTOS...............................................................................................................II
RESUMO..................................................................................................................................III
1- INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
1.1- Objectivos........................................................................................................................2
1.1.1-Geral...............................................................................................................................2
1.1.2- Específicos....................................................................................................................2
1.2- Justificativa......................................................................................................................2
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................................3
2.1- Conceito, Direito Internacional Privado..........................................................................3
2.2- O que é o direito internacional privado............................................................................3
2.3- DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO...............................................................................................................................3
3- PRINCÍPIOS, SUJEITOS E FONTES...................................................................................4
3.1- Princípios do direito internacional privado......................................................................4
3.2- Objecto e denominação do DIP.......................................................................................6
4- SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL.....................................................................6
4.1- Objeto da norma de Direito internacional privado..........................................................7
4.2- Conflito de leis no espaço................................................................................................7
4.3- Objetivos do Direito Internacional Privado.....................................................................8
4.4- Elementos de conexão......................................................................................................9
4.5- Valladão classifica os elementos de conexão em:...........................................................9
5- NA ORDEM JURÍDICA ANGOLANA................................................................................9
5.1- Aplicação do Direito Estrangeiro no Processo..............................................................10
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................11
7- BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................12
1- INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda assunto referente ao tema Justiça e Princípios do Direito


Internacional Privado. Portanto, o direito internacional privado pode ser comparado a um jogo
de xadrez, de natureza peculiar eis que as peças brancas e pretas não são movimentadas por
dois jogadores, em posições opostas, mas por um só. Há, de início um ligeiro embate, mas a
final, as peças se harmonizam.

No Direito Internacional Privado nem sequer basta o recurso a um princípio paralelo


ao da teoria do facto passado e o recurso ao princípio do reconhecimento dos direitos
adquiridos. Pelo que respeita às situações absolutamente internacionais, importa ainda, num
segundo momento fazer intervir uma regra de conflitos capaz de dirimir o concurso entre as
leis em contacto com os factos.

Uma regra que não tem por preocupação a justiça é digna de ser chamada “norma jurídica”?
Durante séculos, filósofos e jus-filósofos das mais diversas matizes têm tentado encontrar os contornos
da justiça, e o modo com que este valor tão aspirado e de difícil apreensão se relaciona com o direito.

A discussão acerca do papel da justiça na ciência jurídica é geralmente feita tendo-se


por base o direito substantivo, que determina o “dever -ser” no âmbito de sua função
solucionadora de controvérsias materiais, atribuindo direitos e obrigações aos sujeitos de
direito. O sobredireito, i.e., o conjunto de normas que indica o direito substantivo aplicável à
solução material dos litígios seja na dimensão temporal (direito intertemporal), seja na
espacial (Direito Internacional Privado) é por vezes negligenciado no que toca ao centro da
preocupação dos estudiosos da justiça, talvez pela falsa percepção de que o sobredireito não
seria, de fato, direito.

O Direito Internacional Privado (DIP) surgiu com a finalidade de resolver conflitos de


leis no espaço, quando uma determinada situação jurídica vincula-se a mais de um sistema
normativo, como no caso de um casamento entre pessoas de nacionalidades diferentes, de um
contrato realizado entre partes domiciliadas em países distintos, ou de um acidente de
automóvel envolvendo pessoas domiciliadas em países diferentes, ocorrido num terceiro país.
Em situações como essas, o DIP deve indicar ao juiz competente a lei que deverá ser aplicada,
podendo inclusive determinar que o juiz local aplique, no exercício de sua jurisdição, lei
estrangeira – razão pela qual é conhecido como “direito da tolerância”. Mas se o objectivo do

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DIP é tão simplesmente indicar o direito material aplicável a um caso pluriconectado, qual
seria, de facto, o papel da justiça no âmbito desta disciplina?

Não procurarei tratar, neste estudo, de temas tão caros à Teoria da Justiça como o
conteúdo do justo ou de reflexões sobre a justiça em suas diversas acepções. Antes, buscarei
demonstrar que o DIP, na condição mesma de sobredireito, tampouco pode prescindir de uma
reflexão finalística ou teleológica no que respeita às consequências práticas de sua aplicação
em casos concretos. A preocupação com o resultado material (justeza das decisões) em
decorrência da aplicação de normas jurídicas é, aliás ao menos para parte significativa dos
teóricos (particularmente os de cunho não positivista) elemento imprescindível para a
aceitação de uma norma.

1.1- Objectivos

1.1.1-Geral

 O objectivo do estudo é conhecer os precedentes históricos de Justiça e princípio do


Direito Internacional Privado.

1.1.2- Específicos

 Entender a importância do Direito Internacional Privado, seu conceito, as fontes e a


aplicação;
 Descrever os princípios do direito internacional privado;
 Analisar importância do direito internacional privado.

1.2- Justificativa

O Direito Internacional Privado é resultante da pluralidade de Estados e por


conseguinte, de legislações (aspecto jurídico); e da movimentação de pessoas, bens e serviços
(aspecto fático).

O DIPr não existiria se os ordenamentos jurídicos fossem todos iguais ou se os


Estados (países) vivessem de forma isolada.

Diante disso, percebemos que não existe um Direito superior a todos os demais, capaz
de resolver esses conflitos. O Direito Internacional Privado supre esta ausência, determinando
qual ordenamento jurídico que deve ser aplicado a cada situação concreta, que permita (em
razão de elementos de conexão) a aplicabilidade de mais de um ordenamento jurídico.
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2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1- Conceito, Direito Internacional Privado

Os objetivos principais da disciplina são: introdução aos problemas de regulação das


situações transnacionais, mediante a caracterização do Direito Internacional Privado enquanto
ramo do Direito e o esclarecimento dos diferentes planos, processos e técnicas de regulação
das situações transnacionais; estudo da Parte Geral do Direito de Conflitos, proporcionando
aos alunos o conhecimento das noções gerais, princípios orientadores, institutos e métodos
relevantes para a determinação e aplicação das normas de conflitos; estudo das principais
soluções para os problemas de determinação do Direito aplicável e do reconhecimento de
decisões judiciais estrangeiras.

2.2- O que é o direito internacional privado

Direito internacional privado é o conjunto de normas jurídicas, criado por uma


autoridade política autônoma (um Estado nacional ou uma sua província que disponha de uma
ordem jurídica autônoma), com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço.

Em termos simples, o Direito internacional privado é um conjunto de regras de direito


interno que indica ao juiz local que lei se a do foro ou a estrangeira; ou dentre duas
estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso (geralmente privado) que tenha relação com mais
de um país.

É um conjunto de normas definido pela humanidade através de seus representantes,


que auxilia na regulação das relações externas e na boa convivência entre as nações. Ele pode
ser um direito objetivo, no qual compreende os princípios de justiça que governam as relações
entre povos ou positivo, caracterizado por ser concretamente aplicado a partir de acordos
entre os sujeitos. (VALLADÃO, 1980, p. 28).

2.3- DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E DIREITO INTERNACIONAL


PRIVADO

O direito internacional trata destas relações e deste âmbito normativo, que pode ser
positivado ou costumeiro (costumes). Denomina-se Direito internacional público quando
tratar das relações jurídicas (direitos e deveres) entre Estados, ao passo que o Direito
internacional privado trata da aplicação de leis civis, comerciais ou penais de um Estado sobre
particulares (pessoas físicas ou jurídicas) de outro Estado.

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Há duas correntes doutrinárias concentradas em determinar as diferenças entre as duas
disciplinas, A primeira corrente dá ênfase à natureza da norma ao conceber o Direito Público
como ramo do Direito onde as normas jurídicas são de natureza pública, em outras palavras,
cogentes, sendo o Direito Privado o ramo do Direito onde as normas são permissivas, ou seja,
não cogentes. Uma segunda corrente, que é a predominante, privilegia a natureza da pessoa
envolvida na relação jurídica, ou seja, baseia-se nas partes que compõem a relação jurídica,
construindo um Direito Público como aquele que regula situações jurídicas figurando em uma
parte o Estado, tornando o Direito Privado aquele que regulamenta situações jurídicas onde o
Estado não seja parte ou então equiparado a um particular. (MACHADO, 2002)

3- PRINCÍPIOS, SUJEITOS E FONTES

3.1- Princípios do direito internacional privado

Limites à eficácia da lei no espaço: As normas jurídicas enquanto normas de conduta


que são têm o seu âmbito de eficácia limitado por factores temporais e espaciais, ou seja, elas
não podem regular factos que se passaram antes da sua entrada em vigor e nem os factos que
se passaram ou passam sem qualquer contacto com o estado que as criou.

Quanto aos factores de ordem espacial, há a aquela limitação, na medida em que,


sendo a natural expectativa dos indivíduos na continuidade e estabilidade das suas relações
jurídicas ou direitos um pressuposto fundamental da existência do direito como ordem
implementada na vida humana de relação, há que respeitar os direitos aqdquiridos ou as
situações jurídicas constituídas à sombra da lei eficaz, isto é, da lei sob cujo império ou dentro
de cujo âmbito de eficácia o direito foi adquirido ou a situação jurídica se constituiu.
(SEITENFUS, 1997, p. 45).

Assim sendo, o ponto de partida de todo o DIP assenta em dois princípios ou regras:

 Regra da não transactividade: nenhuma lei, seja a do foro ou qualquer outra, aplica-
se à factos que não se achem em contacto com ela.
 Princípio do reconhecimento das situações jurídicas constituídas no âmbito de eficácia
duma lei estrangeira.

Do exposto resulta que, quer o direito de conflitos de lei no tempo, quer o direito de
conflitos de lei no espaço têm como critério base “a localização dos factos” por um lado no
tempo e por outro no espaço, daí que se afirma que estes dois direitos são “direitos de

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conexão”. A conexão dos factos com os O.J é que constitui o ponto determinante de
aplicabilidade dos mesmos sistemas jurídicos, por isso, podemos enunciar como regra base de
todo direito de conflitos a seguinte: “a quaisquer factos aplicam-se as leis e só se aplicam as
leis que com eles se achem em contacto”. Esta regra é que nos vai dar o âmbito de aplicação
possível de qualquer lei. (RECHSTEINER, 2007)

Na vida jurídica, uma relação jurídica pode estar em contacto com um ou mais
ordenamentos jurídicos através de um dos seus elementos, daí que temos situações jurídicas
internas; relactivamente internacionais; e absolutamente internacionais.

Internas: Um contrato de mútuo celebrado em Portugal, entre portugueses para ser


executado em Portugal; aqui não se põe qualquer problema de aplicação da lei no espaço,
pois, a situação jurídica está em contacto com apenas um O.J e será este o competente para
regular o caso.

Defendendo a primazia do princípio de proximidade, Paul Lagarde, o grande mestre


francês, disse que este princípio é nobre, pois contém uma lição de modéstia ao ensinar-nos
que nenhuma vontade política, nenhum juiz, pode pretender que suas leis devam governar as
relações jurídicas sobre as quais ele não tem controlo.

O direito internacional privado é o terreno básico para estas melhorias na sociedade


internacional. O principal conceito que inspira este nipprochement é definitivamente o
princípio da proximidade. E assim, ouso dizer que o princípio da proximidade é o grande
condutor do direito privado para um mundo melhor, um mundo no qual as pessoas estenderão
as mãos umas para as outras, no qual os juristas de diferentes nações compararão os diferentes
sistemas jurídicos e as regras específicas para cada situação que seus respectivos povos
criaram ao longo dos tempos, escolherão e aplicarão a lei apropriada, tudo com base na lei
mais próxima à hipótese.

Relactivamente internacionais ou puramente internos relactivamente à um estado


estrangeiro: Um contrato de mútuo celebrado em Portugal, entre portugueses para ser
executado em Portugal: aqui também, a situação jurídica está apenas em contacto com um só
ordenamento jurídico, mas o conflito resultante dessa relacção jurídica foi submetido à
apreciação de um ordenamento jurídico com o qual a situação jurídica não teve contacto
algum.

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Solução: Por força de um princípio universal de direito, segundo o qual “devem ser
respeitados os direitos adquiridos e deve-se garantir a continuidade da vida jurídica dos
indivíduos, tutelando as suas naturais expectativas, devemos concluir que, o juiz do foro,
nestes casos, deve aplicar o direito estrangeiro com o qual a situação jurídica tem contacto,
pois, aqui não se coloca o problema da lei aplicável, na medida em que a situação está apenas
em contacto com um único O.J e só este pode ser aplicado.

Absolutamente internacionais: aqui os factos constitutivos da situação jurídica estão


em contacto com vários O.J, surgindo assim a necessidade de saber se dentre os O.J
interessados, qual deles é o efetivamente aplicável. Em DIP nem sempre a regra da não
transactividade e o recurso ao princípio do reconhecimento dos direitos adquiridos, é
suficiente, sendo ainda necessário uma regra capaz de dirimir o concurso de lieis em contacto
com a situação jurídica. È que em DIP terá que se atender, para além da conexão dos factos
através do lugar da sua verificação, à sede das pessoas, à situação das coisas, bem como
outros elementos de conexão de maior relevância. (MACHADO, 2002).

3.2- Objecto e denominação do DIP

Objecto: Situações da vida privada internacional, isto é, factos susceptíveis de


relevância jurídico-privada que têm contacto com mais de um sistema jurídico (absolutamente
internacionais) ou que se passaram adentro do âmbito de eficácia de uma, e só uma, lei
estrangeira (relactivamente internacionais).

O Direito Internacional Privado tem como propósito indicar leis que regulem contratos
firmados entre indivíduos de países diferentes, como também adoções ocorridas entre pais e
crianças de nacionalidades diferentes, sequestros internacionais, e outras relações da área
trabalhista, familiar, contratual ou comercial que necessitem do poder jurídico. (MACHADO,
2002, p. 67).

4- SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL


O sujeito de direito internacional é a entidade jurídica que goza de direitos e de
deveres previstos pelo direito internacional e que tem capacidade de atuar na esfera
internacional para exercê-los. Só são sujeitos de direito internacional quem reúne as 3
características em negrito. Quem tem direitos, deveres e reúne a capacidade para exercer esses
direitos e deveres.

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 Os atores não têm personalidade jurídica, mas exercem influência no direito
internacional.
 Ex: organizações não-governamentais => não estão relacionadas com Estados e
governos.
 Ex: Greenpeace, WWF, Human Rights Watch, Cruz Vermelha

4.1- Objeto da norma de Direito internacional privado

Numa definição estrita, o Direito internacional privado compreende apenas as normas


de solução dos conflitos de leis no espaço. Muitos estudiosos, porém, entendem que as regras
de direito referentes a nacionalidade, conflito de jurisdições e condição jurídica do estrangeiro
também integram o objeto do Direito internacional privado. (VALLADÃO, 1974).

4.2- Conflito de leis no espaço

Entende-se como conflito de leis no espaço qualquer relação humana ligada a duas ou
mais ordens jurídicas cujas normas não são coincidentes. O juiz ou o intérprete da lei, diante
de um caso de conflito de leis no espaço, assiste portanto à concorrência de duas ou mais leis -
produzidas por países (ou províncias) diferentes sobre a mesma questão jurídica. (RESEK,
2008, p. 44).

A dúvida sobre qual direito (o nacional ou o estrangeiro; ou um dentre dois ou mais


direitos estrangeiros) aplicar a um caso concreto envolvendo estrangeiros nasce da circulação
de pessoas e coisas no espaço, de um lado, e, de outro, da proliferação de ordens jurídicas
nacionais e, em alguns casos, provinciais ou estaduais autônomas que procuram regular, cada
uma a seu modo, as mesmas situações jurídicas. No entendimento de Del’Olmo (2010), o
objecto central do DIPr consiste no Conflito de Leis no Espaço, definido este espaço como o
de ordenamentos jurídicos diversos, ou seja, de cada Estado. Nestas leis estão incluídos temas
das mais diversas áreas do Direito Privado, ou seja, das relações entre os particulares.

Assim, temos como objeto do DIPr resolver conflitos de leis no espaço. Podemos
observar que quando aplicamos uma lei estrangeira em razão das determinações de uma lei
local, não estamos tratando de conflitos, mas tão-somente do reconhecimento de um direito
adquirido no exterior. Quem vai nos dizer se iremos aplicar a lei nacional ou estrangeira é a
nossa própria lei, normalmente a atual Lei de Introdução, a LINDB.

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Temos ainda como objecto do DIPr: indicar direito competente para o fato
interjurisdicional; indicar direito aplicável ou adequado a esse fato; determinar a jurisdição
competente em matéria de Direito Processual; resolver conflito de leis escolhendo a lei
aplicável ao fato interjurisdicional. (MACHADO, 2002, p. 45).

4.3- Objetivos do Direito Internacional Privado

De acordo com Rechsteiner (2007), a conexão internacional da causa sub judice (sob a
apreciação judicial) é pressuposto de fato necessário para a aplicação, pelo juiz, de uma
norma de Direito Internacional Privado da lex fori (lei do foro). Assim, a norma de conexão
determinará o Direito aplicável, ou seja, o Direito doméstico ou determinado Direito
estrangeiro. (RECHSTEINER, 2007, p. 54).

Assim, o Direito Internacional Privado vai indagar qual o vínculo mais significativo
para uma relação jurídica com conexão internacional. O autor supracitado argumenta ainda
que cada Estado estabelece a partir do elemento de conexão, ou seja, a partir da norma do
Direito Internacional Privado designativa do Direito aplicável, a relação mais estreita com
uma determinada ordem jurídica. Indica o elemento de conexão que mais lhe convém, uma
vez que este, na realidade, pode distinguir-se, consideravelmente, nos vários ordenamentos
jurídicos nacionais. O elemento e objeto de conexão serão estudados de forma aprofundada na
próxima Unidade. (RECHSTEINER, 2007).

É importante observar se a aplicação do Direito estrangeiro in casu violar princípios


fundamentais do Direito interno, ou seja, a ordem pública. Nestes casos o Direito estrangeiro
não será aplicado.

A doutrina postula que o juiz deverá levar em consideração não só os princípios


básicos da ordem jurídica interna, mas também aqueles do Direito Internacional,
consubstanciados em tratados internacionais, no Direito costumeiro internacional, em
princípios gerais de Direito e em outras fontes supranacionais que vinculam juridicamente um
Estado, trata-se da observância complementar da “ordem pública internacional”, “ordem
pública mundial” ou “verdadeiramente internacional”.

Nadia de Araujo (2006) adverte que a primeira finalidade do Direito Internacional


Privado deve ser a proteção da pessoa humana, devendo os limites em relação à solução de
conflitos de lei serem traçados pelos direitos, pois a proteção da pessoa humana e de seus

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direitos fundamentais tem caráter universal, e não deverá esbarrar nas Constituições nacionais
dos diferentes países.

4.4- Elementos de conexão

Os elementos de conexão constituem-se na chave para solucionar os conflitos de leis


no espaço. As diversas legislações nacionais de Direito internacional privado organizam-se,
via de regra, em torno daqueles, que apontam a lei competente para solucionar os conflitos.
Valladão define-os como certas circunstâncias diretamente ligadas ao caso, usadas pela norma
de Direito internacional privado para indicar a lei competente. (FRIEDRICH, 2007, p. 67).

4.5- Valladão classifica os elementos de conexão em:

 Reais: a situação da coisa, o lugar do ato ou fato, o lugar do contrato ou de sua


execução, o lugar da origem ou nascimento, o lugar do domicílio;
 Pessoais: a nacionalidade, a religião, a tribo, a raça, a vontade; e
 Institucionais: o pavilhão ou a matrícula de navio ou aeronave, o foro (i.e., a
autoridade que conhece do caso).

Outro exemplo de classificação é a doutrina francesa (são, a rigor, "regras de


conexão", pois já indicam o elemento e a lei competente):

 O estatuto pessoal é regido pela lei nacional;


 O estatuto real é regido pela lei da situação dos bens; e
 Os factos e atos jurídicos são regidos pela lei do local de sua ocorrência ou pela da
escolha das partes. (DOLINGER, 1993, p. 34).

5- NA ORDEM JURÍDICA ANGOLANA


Na ordem jurídica angolana, as situações internacionais são, em princípio, reguladas
pelo processo conflitual. Estamos a referir-nos ao DIPr enquanto conjunto de normas jurídicas
que regulam as situações jurídico-privadas pluri-localizadas, isto é, aquelas relações que, ab
initio, ou a posteriori entram em conexão com mais de um ordenamento jurídico, cabendo às
normas de conflitos apontar para o ordenamento jurídico competente para regular o facto.

É a estas regras de conflitos que cabe a tarefa de coordenar essas diferentes ordens
jurídicas na sua aplicação, de modo que cada aspecto ou efeito da relação jurídica concreta só
por uma dessas ordens ou leis venha a ser regida.
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Desde esta perspectiva e com base nos ensinamentos do professor Ferrer Correia, o
DIPr passa a ser um ramo da ciência jurídica que formula os princípios e regras conducentes à
determinação da lei ou leis aplicáveis a situações emergentes das relações privadas
internacionais e assegura o reconhecimento, no Estado do foro, das relações jurídico-privadas
constituídas à luz de um ordenamento jurídico estrangeiro.

O DIPr, apesar de cuidar fundamentalmente das soluções adequadas para os problemas


emergentes das relações privadas de carácter internacional (relações jurídico-privadas
absolutamente internacionais), dá igualmente relevância aos direitos adquiridos no âmbito da
eficácia de uma lei estrangeira.

5.1- Aplicação do Direito Estrangeiro no Processo

As normas de direito internacional privado integram a ordem jurídica interna de cada


país e devem ser aplicadas pelo juiz de ofício. Na sua essência, designam o direito aplicável a
relações jurídicas de direito privado com conexão internacional. Este sempre será ou do
direito interno ou um determinado direito estrangeiro. Quanto à aplicação do direito interno,
não há dúvida de que o juiz o aplique de ofício. No entanto, é assunto controvertido na
doutrina como o juiz deve aplicar o direito estrangeiro no processo.

Nos dias atuais, existem, basicamente, três tendências gerais nos diferentes sistemas
jurídicos nacionais. Conforme a primeira, cumpre ao juiz aplicar o direito estrangeiro de
ofício. A adoção desses princípios, entretanto, não significa que o juiz não possa exigir das
partes a colaboração na pesquisa do direito estrangeiro, sendo-lhe facultado determinar
diligências para apuração do teor, da vigência e da interpretação de tal direito. Para a corrente
oposta àquela que admite a aplicação do direito estrangeiro pelo juiz ex oficio, cabe
unicamente às partes do processo alegar e provar o direito estrangeiro. Nesse sentido, não
incumbe ao juiz tomar a iniciativa.

Muitos países não seguem qualquer dos dois princípios in extremis. Deixam, em
princípio, a critério do juiz decidir em que medida deve atuar por iniciativa própria, para que
seja aplicado o direito estrangeiro ao processo. Mas também dentro desse âmbito, detectam-se
diferenças entre os ordenamentos jurídicos nacionais.

Deste modo, o direito angola no art.º 55 da sua lei, regula, expressamente, como o juiz
deve aplicar o direito estrangeiro. A sua interpretação, contudo, é controvertida na doutrina.

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Embora o teor da lei não seja muito claro, Haroldo Valladão chega a conclusão de que a lei
estrangeira deve ser conhecida por todos, e o juiz deve aplicá-la, em princípios de ofício.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como tentativa de conclusão fica então a ideia de ser o DIP um direito nacional,
atendendo aos interesses individuais e particulares (privados) de seus súditos, enquanto o
Direito Internacional Público, ou das gentes, atende a conflitos de caráter público (e não
particular) e interesse geral dos Estados, devendo ser lei comum e invariável para todos os
Estados.

Alguns doutrinadores trazem ainda outros problemas relevantes à matéria, como a


questão da nacionalidade na solução dos conflitos entre pessoas. Nesse caso um Estado não
pode impor suas normas aos demais, valendo a norma interna de casa país (leia-se também
Estado) para a solução.

Importante também é determinar a condição jurídica do estrangeiro, ou seja, o


conjunto de direitos internos de cada país aplicáveis ao estrangeiro.

O que pretendíamos demonstrar é que, em que pese a defesa do caráter híbrido do


Direito Internacional Privado um Direito Interno, de espírito Internacional, somos partidários
da tese que entende o DIP como sistema nacional especial, ou seja, como Direito Interno, um
ramo especial do Direito Interno, como bem demonstra Fonseca, 1967, ( p.53).

As regras de DIP são nacionais, havendo “elementos especiais internacionais ou não-


nacionais” nas relações de fato às quais as regras de DIP incidem (Fonseca, 1967, (p.55). Daí
a importância do DIP para a integração, já que, com a aproximação maior entre os Estados, os
súditos destes logicamente também se inter-relacionarão, aumentando a ocorrência do
elemento estrangeiro nas relações jurídicas. (ROCHA, 1975.)

Assim, podemos dizer que as normas do direito internacional privado indicam, na sua
essência, qual o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com conexão
internacional, dependendo sempre, para serem aplicadas, de uma autoridade judiciária ou de
um órgão, com funções equivalentes, que seja internacionalmente competente. A ausência
desse requisito processual impede o juiz, tribunal ou outro órgão, equiparado ao Poder
Judiciário, de pronunciar-se com relação ao mérito da causa sub judice.

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7- BIBLIOGRAFIA

1. DOLINGER, J. (1993). "Direito Internacional Privado (Parte Geral) (2ª ed.). Ed.
Renovar.
2. FRIEDRICH, T. S. (2007). Normas Imperativas de Direito Internacional Privado .
lois de police: Ed. Forum.
3. MACHADO, J. B. (2002). Lições de Direito Internacional Privado (3.ª ed.).
Coimbra,.
4. RECHSTEINER, B. W. (2007). Direito Internacional Privado: teoria e prática (10ª
ed.). (r. e. atual, Ed.) São Paulo: Saraiva.
5. RESEK, J. F. (2008). Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva.
6. ROCHA, O. (1975.). Curso de Direito Internacional Privado. ( 3ª ed.). São Paulo:
Saraiva.
7. SEITENFUS, R. ( 1997). Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre:
Livraria do Advogado.
8. VALLADÃO, H. (1974). Direito Internacional Privado ( 4ª ed., Vol. 1). (F. Bastos,
Ed.)
9. VALLADÃO, H. (1980). Direito Internacional Privado (Vol. 5ª ). Rio de Janeiro,
Brasil: Freitas Bastos.

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