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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÓMICAS


LICENCIATURA EM DIREITO 4º ANO

Cadeira: Direito Internacional Privado

Tema: Aplicação do Direito Material Estrangeiro

Cuamba, Fevereiro de 2023


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÓMICAS
LICENCIATURA EM DIREITO 4º ANO

Cadeira: Direito Internacional Privado

Tema: Aplicação do Direito Material Estrangeiro

Discente:
Adelaide António Naueta

O presente trabalho é de carácter


avaliativo a ser apresentado na
Faculdade de Ciências Agronómicas
por sua vez tutorado pelo Docente Dr.
Felizardo Mário Jorge

Cuamba, Fevereiro de 2023


Índice
Introdução...................................................................................................................................1

Objectivos...................................................................................................................................2

Geral............................................................................................................................................2

Específicos..................................................................................................................................2

Metodologia................................................................................................................................3

Conceito de DIP..........................................................................................................................4

A “lex fori” como lei do processo...............................................................................................4

Fontes..........................................................................................................................................5

O primado da CRM.....................................................................................................................6

Aplicação de direito estrangeiro.................................................................................................7

Como é feita a prova...................................................................................................................7

Limites á Aplicação do Direito Estrangeiro................................................................................8

Qualificações...............................................................................................................................9

Nacionalidade e cidadania........................................................................................................10

Aquisição da nacionalidade......................................................................................................10

Estrangeiro................................................................................................................................11

Direitos e deveres do estrangeiro..............................................................................................12

Expulsão....................................................................................................................................13

Deportação................................................................................................................................13

Extradição.................................................................................................................................14

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................15

Referências................................................................................................................................16
Introdução
O presente trabalho versa sobre Aplicação do Direito Material Estrangeiro. Portanto a
primeira vertente é o Direito Internacional Público, que em resumo é um conjunto de regras
delineadas em tratados internacionais e aplicáveis aos países que a eles aderirem, podendo
cobrir os mais diversos temas, tais como Direito Internacional do Trabalho (tratados da OIT),
Direito Internacional Comunitário (tratados que criam blocos regionais como Mercosul e
União Europeia) e Direito Internacional Tributário (tratados de não-bitributação).
Já o Direito Internacional Privado não tem qualquer relação com tratados internacionais ou
aplicação a diversos países, mas é na verdade direito interno de cada país, que determina as
regras de solução de conflitos entre leis de diferentes jurisdições que podem ser aplicadas a
um mesmo caso.
É importante destacar que para haver necessidade de aplicação do Direito Internacional
Privado é obrigatória a presença do chamado “elemento de extremidade”, que nada mais é do
que a existência de qualquer fato que atraia a possível aplicação de uma legislação
estrangeira, como é o caso de um dos contratantes ser uma empresa estrangeira sem
representação em Moçambique.

1
Objectivos
Geral
 Compreender aplicação do direito material estrangeiro
Específicos
 Conhecer aplicações do direito estrangeiro
 Conceitualizar o direito internacional privado e publico
 Explicar as etapas da aplicação do direito material estrangeiro.

2
Metodologia
Para o presente trabalho foi usada durante a pesquisa para a elaboração deste trabalho foi
fundamentada, basicamente, na pesquisa bibliográfica. Segundo Gil, (2002) a pesquisa
bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas
por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos e páginas de web sites.

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Conceito de DIP
O Direito Internacional Privado (DIP) é a disciplina jurídica que regula as situações da vida
privada internacional.
Nas palavras de Ferrer Correia, o DIP é o ramo da ciência jurídica onde se procuram formular
os princípios e regras conducentes à determinação da lei ou das leis aplicáveis às questões
emergentes das relações jurídico-privadas de carácter internacional e, bem assim, assegurar o
reconhecimento no Estado do foro das situações jurídicas puramente internas de questões
situadas na órbita de um único sistema de Direito estrangeiro (situações internacionais de
conexão única, situações relativamente internacionais.

Segundo Ferrer Correia, incluímos no âmbito do DIP três ordens de questões: conflitos de
leis; e duas questões de direito processual civil internacional, competência internacional; e
reconhecimento de sentenças estrangeiras.

O DIP não se confina ao estudo do Direito aplicável a uma dada questão material
controvertida, preocupando-se também com os problemas relativos à eficácia e aos efeitos das
decisões emanadas, quer dos tribunais judiciais, quer dos tribunais arbitrais.

O processo mais geral de solução dos problemas de Direito Internacional Privado é o método
próprio do Direito de Conflitos. As disposições do Direito de Conflitos são constituídas por
regras de carácter formal, regras de “remissão” ou “de reconheci- mento”, e não por regras de
regulamentação material.
O legislador Moçambicano entende que a melhor maneira de solucionar casos de Direito
Internacional Privado seria o método de regulamentação conflitual através do qual procura-se
encontrar a regulamentação para a questão privada internacional, ou seja, saber qual o
ordenamento jurídico material com a qual ou quais esta mesma questão é conexa para dela se
extraírem as normas aplicáveis ao caso concreto normas de conflito.

A “lex fori” como lei do processo


O processo seguido perante os tribunais portugueses é regulado pela lei portuguesa, ainda que
ao fundo da causa se aplique uma lei estrangeira.
O sistema jurídico português trata o Direito estrangeiro como Direito e não como facto.
Artigo 23.º CC

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(Interpretação e averiguação do direito estrangeiro)
1. A lei estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de acordo com
as regras interpretativas nele fixadas.
2. Na impossibilidade de averiguar o conteúdo da lei estrangeira aplicável,
recorrer-se-á à lei que for subsidiariamente competente, devendo adoptar-se igual
procedimento sempre que não for possível determinar os elementos de facto ou de
direito de que dependa a designação da lei aplicável.

Em Moçambique a lei dispõe que, àquele que o invocar, compete fazer a prova da sua
existência e conteúdo, mas o tribunal deve procurar, oficiosamente, obter o respectivo
conhecimento.

Este conhecimento oficioso incumbe também ao julgador sempre que este tenha de decidir
com fundamento no direito estrangeiro e nenhuma das partes o tenha invocado ou a parte
contrária tenha reconhecido a sua existência e conteúdo ou não haja deduzido oposição. A lei
não exige qualquer meio de prova específico, pelo que a parte ou o juiz poderão recorrer a
qualquer meio probatório idóneo para fazer a demonstração visada (por exemplo, prova
pericial ou documental). Na impossibilidade de averiguar o conteúdo da lei estrangeira
aplicável, recorrer-se-á à que for subsidiariamente competente, devendo adoptar-se igual
procedimento sempre que não for possível determinar os elementos de facto ou de direito de
que dependa a designação de tal lei. Caso não localize uma conexão subsidiária ou se revele
impossível averiguar o conteúdo do Direito designado por intermédio dessa conexão, o
tribunal deverá recorrer às regras do Direito comum Moçambicano.

Fontes
As regras de Direito internacional privado moçambicano assentam em normas jurídicas
escritas emanadas de autoridades com poder para as gerar, ou seja, em disposições
imperativas orientadas para o estabelecimento de critérios gerais aplicáveis a situações
concretas, produzidas pelos órgãos estatais competentes.
 Pluralidade Metodológica
 Diversidade de fontes
 Dispersão dos textos legais.

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As normas de conflito vertidas nos artigos 25.° a 65.º do Código Civil, extravasa,
actualmente, a legislação de fonte interna para assumir contornos eminentemente
internacionais é supranacionais. A cooperação judiciária implementada na União Europeia
repercute-se, quer ao nível das normas de conflitos leis, quer no que diz respeito às normas de
conflitos de jurisdições.

O primado da CRM.
Art. 13.º - Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
Art. 18.º - Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias
são directamente aplicáveis e vinculam entidades públicas e privadas.
Art. 204.º - Nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais aplicar normas
que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios neles consignados.
É hoje praticamente consensual que as regras de DIP não são totalmente técnicas e formais,
pelo que não se exigem mais desenvolvimentos a este respeito. Esta é uma posição maioritária
na doutrina nacional e estrangeira. Não é já a ideia, de certa forma tradicional, do «espaço
livre de constitucionalidade», se expressa o Prof. RUI MOURA RAMOS: «admitindo-se de
forma mais ou menos clara a possibilidade de Intervenção dos comandos constitucionais nas
relações jurídicas cuja regulamentação é objecto do DIP, não é possível sem mais, no entanto,
dar por resolvido o problema do âmbito espacial destas normas, isto é, da determinação de
quais as relações jurídicas concretas que não poderão ficar imunes aos valores neles contidos.
Com efeito, se a questão da determinação de um âmbito espacial de aplicação se põe para
todas as normas jurídicas, não se vê porque é que a Constituição se veria dispensada de
afrontar esta problemática. Importa, pois, segundo o consenso generalizado da doutrina,
delimitar os casos da vida jurídica internacional a que, por assim dizer, a Constituição se vai
aplicar.
A Constituição da República Moçambicana (CRM.) consagra princípios com grande
relevância em matéria de direito privado (v.g.: proibição de qualquer tipo de discriminação
contra os filhos nascidos fora do casamento (cfr. o artigo. 36º, n.º 4 da CRM).

Como nota o Prof. RUI MOURA RAMOS, tal solução não levanta problemas no caso das
relações puramente nacionais – em que a aplicação da lex fori é de preceito nem tão pouco
no das relativamente internacionais (afinal, o inverso do anterior) em que por força se
haverá de aplicar a lei do país em relação ao qual a situação se poderá dizer puramente

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nacional. E a mesma lei deverá ainda ser apli- cada a situações não totalmente nacionais em
relação a um Estado estrangeiro mas que tenham com este Estado os contactos que o foro
considera suficientes para, se o caso surgisse, com as mesmas características, no seu âmbito.
Aplicação de direito estrangeiro
Ao aplicar o direito estrangeiro determinado por regra do D.I.P., o magistrado deverá atentar
para a lei estrangeira na sua totalidade, seguindo todas as suas remissões, incluídas suas regras
de direito intertemporal, normas relativas à hierarquia das leis, seu direito convencional, seu
direito estadual, municipal, cantonal, zonal, seu direito religioso, suas leis, constitucionais,
ordinárias, decretos, etc.

Em se tratando de matéria de fato como realmente o era, até fins do século XIX, a sua prova
representava uma obrigação imprescindível de iniciativa da parte interessada, sob pena de não
ser reconhecido pelo juiz do foro o seu direito.

Como matéria de direito, a sua prova pode deixar de ser feita, a não ser naqueles casos em que
o juiz, por ignorá-la, passa a determinar a sua produção por parte do interessado. Mesmo
assim, fica ele também obrigado a pesquisá-lo, tendo em vista alcançar o ideal de justiça.

Se a parte alegar direito estrangeiro, o juiz pode pedir a colaboração das partes (auxílio na
prova do teor e vigência do direito). Se a parte não alegar, o juiz deve saber de ofício, ou seja,
se a parte não alega direito estrangeiro, o ónus da prova incumbe a quem alegou (CPC art.
337).

Como é feita a prova


Através de certidão consular ou parecer de dois advogados estrangeiros. O Código de
Bustamante disciplina a matéria nos arts. 408 a 411.

Diz o Código que “a parte que alega lei estrangeira poderá provar sua vigência e sentido
através de uma certidão devidamente legalizada, de dois advogados em exercício no país de
cuja legislação se trata. Se a parte não puder provar ou houver insuficiência de provas, o juiz
ou o tribunal poderá solicitar de ofício, por via diplomática, antes de decidir que o Estado de
cuja legislação se trata forneça certidão sobre o texto, vigência e sentido do direito aplicável”.

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Limites á Aplicação do Direito Estrangeiro
O direito estrangeiro nem sempre é aplicado em toda a sua amplitude. Cada Estado tem o seu
sistema regulador de aplicação da lei estrangeira. O juiz, ao julgar uma relação jurídica de
direito privado com conexão internacional, aplica sempre as normas de direito internacional
privado da lei do foro (lex fori).

E como o conceito de ordem pública varia em relação ao tempo e ao espaço, existem, dentro
dos diversos sistemas jurídicos da comunidade das nações, salvaguardas que poderíamos
chamar de imunológicas, visando à não aplicação de certas leis estrangeiras, nos seguintes
casos:

Ordem pública - São os princípios estruturantes do direito privado. Esses princípios estão na
Constituição Federal, logo, todos eles são princípios de ordem pública. Então, direito
estrangeiro que fere a ordem pública pode até ser válido, mas é ineficaz no Brasil (LICC art.
17).

Ex 1: Divórcio islâmico: Dá-se pela repudia. O Supremo Tribunal Federal não homologa esse
tipo de sentença, pois fere a ordem pública.

Ex 2: Direito do consumidor: Contratos celebrados na Internet e contratos de “Time Sharing”


(tempo compartilhado), a eleição do foro no exterior, o CDC é ferido, pois segundo o mesmo,
o foro privilegiado é o do consumidor.

Fraude a lei. - A fraude à lei (fraus legis) constitui uma forma de abuso de direito, não sendo
admitida perante o direito internacional privado.
Ex : Troca de domicílio (para fugir da aplicação da lei tributária), alteração de nacionalidade.

Instituição desconhecida. - São institutos desconhecidos no ordenamento jurídico brasileiro,


como, por exemplo, o dote, o trust (forma de organização empresarial na qual uma
propriedade é doada por um doador sob os cuidados de um beneficiário), a hipoteca de bens
móveis são os exemplos mais frequentemente.

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Nesses casos, o juiz deve procurar se há algum instituto similar, e havendo, deve-se aplicar
esse instituto similar. Não havendo um instituto similar no ordenamento jurídico brasileiro,
afasta-se a aplicação do direito estrangeiro e aplica-se o direito nacional.

Questão prévia - São questões preliminares que resolvem a questão principal (questão de
fundo). As questões prévias do DIPr são todas aquelas cuja solução condiciona a da ação
original que forma o tema principal do pleito.
Ex: Contrato: Questões prévias = Requisitos de Validade
 Objecto lícito – ordem pública (LICC art. 17);
 Capacidade – Lex Loci Domicili (LICC art. 7º);

Remissão normativa: (Reenvio) - Ocorre o reenvio quando o DIPr de um país, ao aplicar o


DIPr de outro país (normas de conflito), permite a remissão normativa para o direito de um
terceiro país.
O projecto da nova LICC prevê o reenvio, mas só o reenvio do primeiro grau.
Ex: O Brasil diz que a lei aplicável é a francesa, e a lei de DIPr da França remete para a
aplicação da lei alemã.

Qualificações
Cada legislação estabelece seus próprios critérios de qualificação, resultando daí diversidade
no enquadramento das instituições, conceitos e relações de direito nos diferentes
ordenamentos jurídicos.

Pode ocorrer o conflito de qualificações quando um sistema classifica um mesmo instituto de


maneiras distintas.

Utiliza-se:
 Lex Fiori: Lei do foro – LICC art. 7º e art 10, II – utiliza-se no Direito de Família,
sucessões e societário.
 Lex Causae: Lei da causa do ato ou negócio jurídico – utiliza-se para os casos que
envolvam bens (LICC art. 8º) e obrigações (LICC art. 9º).

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Nacionalidade e cidadania
A nacionalidade é representada pelo vínculo jurídico-político entre o indivíduo e o Estado.
A cidadania confere determinados direitos à pessoa, próprios da condição de nacional
resultando na regra geral de que a cidadania pressupõe a nacionalidade, contendo excepção
assentada tão-somente quanto aos portugueses que exercem alguns direitos em Moçambique
sem a qualidade de nacionais. De igual modo, cidadania está relacionada eminentemente ao
liame das relações internas e a nacionalidade entre o dado internacional:

A teoria da nacionalidade, em direito público, tem por fim distinguir o nacional do


estrangeiro, distinção importante porque o regime do último é especial, restrito, abrangendo,
em particular, apenas o gozo dos direitos privados.

Aquisição da nacionalidade
Diversas são as maneiras de se estipular a aquisição de nacionalidade das pessoas. Distintos
critérios de classificação são impostos para a nacionalidade, dentre os quais:
a) Aquisição originária ou de nascimento:
1. Aquisição ius soli: a nacionalidade corresponde sempre ao local do nascimento,
independente da nacionalidade dos pais. É o critério adotado no Brasil
2. Aquisição ius sanguinis: os filhos adquirem a nacionalidade de seus pais, o filho incorpora
a nacionalidade dos pais à época de seu nascimento, sem a influência da mutação de
nacionalidade posterior. Terá a nacionalidade do pai na diversidade de nacionalidade dos pais;
a nacionalidade da mãe, quando desconhecer o pai e terá nacionalidade ius soli na ausência de
ambos os pais.

b) Aquisição derivada ou secundária:


1. Naturalização: (arts. 111 a 124 da Lei nº 6.815/1980) constitui ato unilateral e
discricionário de um Estado no exercício de sua soberania, sendo-lhe permitido
conceder ou negar a nacionalidade ao estrangeiro que a requer.
A satisfação das condições previstas nesta lei não assegura ao estrangeiro o direito à
naturalização.

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a) Aquisição derivada extraordinária - o estrangeiro pode requerer a naturalização, que
obrigatoriamente será atendida com a prova dos requisitos temporal, (15 anos de residência) e
ausência de condenação criminal, com sentença transitada;
b) Casamento: tende a promover a unificação das nacionalidades entre os cônjuges;
c) Ius labori: o fato de prestar serviços ao Brasil reduz o prazo para a contagem destinada à
naturalização (arts. 113,III, e 114,II da Lei nº 6.815/1980);

Estrangeiro
“E um princípio aceito em Direito Internacional que toda nação soberana tem o poder,
inerente à sua soberania e essencial à sua auto-preservação, de proibir a entrada de
estrangeiros em seus domínios, ou admiti-los somente em casos e segundo condições que lhe
pareçam adequados”. (Suprema Corte americana).

A Constituição de 1988 dispõe no artigo 5º, inciso XV, que “é livre a locomoção no território
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens”, repetindo no artigo 22, inciso XV, a competência da
União para legislar sobre “emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de
estrangeiro”.

Entretanto, para entrar em nosso território o estrangeiro necessita de visto em seu passaporte,
do consulado ou embaixada do Brasil, isto é, do local da respectiva procedência.

Em matéria de visto de entrada para estrangeiro o governo brasileiro segue política de


reciprocidade, dispondo o Decreto 82.307 de 1978 que “as autorizações de vistos de entrada
de estrangeiros no Brasil e as isenções e dispensas de visto para todas as categorias, somente
poderão ser concedidas se houver reciprocidade de tratamento para brasileiros”.

São vários os tipos de visto de entrada que podem ser concedidos ao estrangeiro,
especificados na lei como sendo:
 De trânsito,
 De turista,
 Temporário,

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 Permanente,
 De cortesia,
 Oficial
 Diplomático.

Entre nós o art. 7º da Lei n.º 6.815/80 disciplina:


“Não será concedido visto ao estrangeiro:
a) Menor de dezoito anos, desacompanhado do responsável legal ou sem a sua
autorização expressa;
b) Considerado nocivo à ordem ou aos interesses nacionais;
c) Anteriormente expulso do país, salvo se a expulsão tiver sido revogada;
d) Condenado ou processado em outros pais por crime doloso passível de extradições
segundo a lei brasileira; ou
e) Que não satisfaça as condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde.”

Direitos e deveres do estrangeiro


Direitos e Deveres EE. arts.95-105
Vedações ao estrangeiro (art.106 EE –) e Constituição Federal de 1988:
a) Igualdades de direitos com limitações constitucionais;
b) Exibir documentação comprobatóriade sua estada quando solicitado de autoridade;
c) Exercício de actividade remunerada e matrícula em estabelecimento de Ensino;
d) Vedação actividade remunerada com visto de turista, trânsito ou temporário;
e) Vedação actividade remunerada com visto temporário;
f) Limitação ao exercício actividade remunerada na entidade contratante;
g) Limitação de mudança de domicílio;
h) Comunicação de mudança de domicílio;
i) Averbamento de aquisição de nacionalidade diversa;
j) Visto de cortesia = exercício de actividade remunerada em favor de estado estrangeiro;
k) Vedação ao exercício como tripulante em porto Moçambicano, salvo em navio de
bandeira estrangeira;
l) Vedação de armação ou comando de navio nacional;
m) Vedação de propriedade de empresa jornalística/radiodifusão;
n) Vedação de gerir empresas nacionais;

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o) Vedação de exploração de aeronave;
p) Vedações constitucionais (cargos privativos brasileiros natos:
 Presidente e Vice-Presidente da República;
 Presidente da Câmara dos -Deputados;
 Presidente do Senado Federal;
 Ministro do Supremo Tribunal Federal;
 Ministro de Estado de Defesa;
 De carreira diplomática;
 De oficial das Forças Armadas).

Expulsão
Expulsão é o processo pelo qual um país expele de seu território estrangeiro residente, em
razão de crime ali praticado ou de comportamento nocivo aos interesses nacionais, ficando-
lhe vedado o retorno ao país donde foi expulso.
Na expulsão, pressupõe-se o estrangeiro com entrada ou permanência regular no País. Porém,
será expulso se de qualquer forma atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou
social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular; ou cujo procedimento o
torna nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

Este talvez seja o ponto principal que distingue o nacional do estrangeiro; enquanto aquele
tem o direito inalienável de permanecer em seu solo pátrio (só os regimes de força ousam
banir seus nacionais).

Deportação
O motivo da entrada no Brasil é irregular, nos casos em que cessou o motivo para permanecer
em território brasileiro, estando o estrangeiro em situação irregular no Brasil, muito embora
tenha ele entrado de forma regular. Uma vez sendo deportado, o estrangeiro não poderá mais
retornar ao Brasil, salvo se a critério de autoridades brasileiras publique-se um decreto
revogando a deportação.

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Extradição
É o instituto cujo procedimento se inicia com o pedido de entrega do indiciado ou criminoso,
formulado pelo Estado onde se deu o delito, ao Estado no qual se refugiou, para ser
processado ou para cumprir a pena que lhe foi imposta.

E lamentável que esse dever exista sempre em função de um tratado. Na ausência de um


tratado, não está o Estado obrigado a extraditar o criminoso, a não ser quando houver
reciprocidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito Internacional Privado tem por objectivo maior estabelecer, em razão do elemento de
conexão, as regras e os princípios para a extraterritorialidade da lei, razão pela qual ele irá
definir, em diversas situações, se a legislação a ser aplicada em determinada relação jurídica é
a legislação nacional ou a estrangeira.
Nas situações em que as regras e princípios de Direito Internacional Privado determinarem a
aplicação do direito estrangeiro, caberá ao juiz apurar a sua existência, seu conteúdo e sua
vigência. Contudo ele poderá determinar que essa tarefa seja realizada pela parte que alegar a
necessidade de aplicação dessa norma.

A norma do direito internacional privado será a aplicada como ela própria ordena, razão pela
qual incumbe ao próprio juiz tomar a iniciativa de aplicar o direito estrangeiro ao processo.

A aplicação do direito estrangeiro deve obedecer a regras processuais próprias, distintas


daquelas que se referem à aplicação do direito interno, não há necessidade de configurá-lo
como fato, socorrendo-se do meio artificial da ficção jurídica.

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Referências
DINIZ, Maria Helena, Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada, Ed. Saraiva,
2ª edição, 1996.
DOLINGER, Jacob, Direito Internacional Privado (Parte Geral), Ed. Renovar, 2ª ed., 1993.
FRIEDRICH, Tatyana Scheila, Normas Imperativas de Direito Internacional Privado - lois de
police, Ed. Forum, 2007.
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3.ª Edição, Coimbra,
2002.
OLIVEIRA, Luiz Andrade. Aplicação do Direito estrangeiro no processo. 2018.
RAMOS, Rui Moura, The private international law rules of the new Special Administrative
Region of Macau of the People's Republic of China, Louisiana Law Review, 2000, 1281 ss.
TENÓRIO, Oscar, Direito Internacional Privado, 11a ed., Freitas Bastos, 1976.
VALLADÃO, Haroldo, Direito Internacional Privado, v. 1, Ed. Freitas Bastos, 4ª ed., 1974.

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