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UNIAC

Universidade Alberto Chipande

Princípios Gerais do Processo Penal

De:

FREDERICO LUÍS ADELINO

Beira

Setembro, 2023
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FREDERICO LUÍS ADELINO

Princípios Gerais do Processo Penal

Trabalho de pesquisa a ser apresentado a


Universidade Alberto Chipande, na disciplina de
Direito Processual Penal com o fim da obtenção
do grau de Licenciatura em Ciências Jurídicas.

Beira

Setembro, 2023

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ÍNDICE
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO........................................................................................ 3
1.1 Introdução .......................................................................................................... 3
1.2 Objectivos .......................................................................................................... 3
1.2.1 Objectivo Geral........................................................................................... 3
1.2.2 Objectivos Específicos ............................................................................... 3
1.3 Métodos de procedimento .................................................................................. 3
2 CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................... 4
2.1 Conceito e caracterização do Direito Processual Penal ..................................... 4
2.2 Consequências jurídicas ..................................................................................... 4
2.3 Princípios fundamentais do processo penal ....................................................... 4
2.3.1 Os princípios na Teoria do Direito e no Processo Penal ............................ 4
2.3.2 Princípio da oficialidade ............................................................................. 5
2.3.3 Princípio da legalidade ............................................................................... 7
2.3.4 Princípio da oportunidade........................................................................... 8
2.3.5 Princípio da acusação ou do acusatório .................................................... 10
2.3.6 Princípios relativos à prossecução processual .......................................... 10
2.3.7 Implicações do princípio da acusação ...................................................... 12
2.3.8 Princípio do contraditório e da audiência ................................................. 13
2.3.9 Princípio da suficiência ............................................................................ 14
3 CAPÍTULO III: CONCLUSÃO.............................................................................. 15
3.1 Conclusão......................................................................................................... 15
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 16

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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1 Introdução
O presente trabalho de pesquisa visa abordar cerca dos princípios fundamentais ou gerias do
processo penal. No entanto, esta questão seja de resolução necessária para se conhecer da
infracção penal. Isto é torna-se necessário conhecer da questão prejudicial para se prosseguir a
acção penal – necessidade. Entende-se pois que a questão de natureza não penal seja
importante para a decisão da causa em processo penal, isto é, que a questão prejudicial
implique o conhecimento de um elemento constitutivo da infracção. Mas não um elemento
qualquer: tem que ser um elemento de tal modo relevante que possa decidir sobre a absolvição
ou a condenação do arguido, não basta uma mera circunstância atenuante.
Outro requisito – conveniência da sua resolução em processo penal – é que essa questão possa
ser resolvida convenientemente no processo penal. Isto é, o Tribunal penal só deverá deixar
de ordenar a devolução quando no processo penal tiver prova segura de todos os elementos da
infracção.
Por conseguinte, conjugando com o primeiro requisito (da necessidade), ou decide pela
absolvição ou pela condenação, isto é, o Tribunal já tem elementos estão dependentes do
conhecimento da questão prejudicial e ela pode resolver-se convenientemente no processo
penal. Então, deve ser devolvida.
1.2 Objectivos
1.2.1 Objectivo Geral
 Conhecer os Princípios Gerais do Processo Penal.

1.2.2 Objectivos Específicos


 Conceitualizar Processo Penal;
 Explicar os Princípios Gerais do Processo Penal.

1.3 Métodos de procedimento


Para a elaboração deste trabalho usou-se o método bibliográfico que segundo Fonseca (2002),
qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao
pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existe porem pesquisas científicas
que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referencias teóricas
publicadas com o objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o
problema a respeito do qual se a resposta.

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2 CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito e caracterização do Direito Processual Penal


O Direito Processual Penal é o ramo do Direito Público que organiza os procedimentos
através dos quais se aplica o direito penal e se pode debater a responsabilidade criminal de
alguém. O processo penal é um ramo de Direito Público por dois motivos:

• A maioria das regras são de natureza imperativa;

• Concretiza valores e interesses constitucionais.

2.2 Consequências jurídicas


O processo penal português tem uma lógica muito forte de direito público, o que é possível
verificar em determinados aspetos. Por exemplo, é o CPP que define o que é a prova legal e o
que é a prova proibida. Noutros sistemas jurídicos há alguma conformação relativamente aos
meios de prova. No Reino Unido, o regime do depoimento indireto é admissível desde que as
partes estejam de acordo quanto a isso. No nosso regime, isso não é permitido, já que é a lei
que determina quais as provas aceitáveis e as provas proibidas. Em alguns países, o modelo de
processo penal pode ser confirmado pelas partes. Entre nós, no processo penal não existem
partes. Temos um modelo regulado legalmente em que o objeto do processo se impõe aos
sujeitos processuais e não pode ser alterado pelos sujeitos, pois o nosso processo penal, sendo
matéria de direito público, não é disponível pelas partes. Em processo penal, em regra, os
casos só chegam a julgamento pela decisão de uma entidade pública – MP – ou pela decisão
de um juiz de instrução criminal. Um particular não pode levar alguém a julgamento. Pode
sim desencadear o processo, mas não depende só do particular levar o caso a julgamento. Isto
explica-se por não se querer que o processo penal se transforme num instrumento de
perseguição pessoal nem de vingança privada. Sendo um ramo de direito público também se
tornam diminutos os casos em que o particular pode levar alguém a julgamento penal. Mesmo
quando isto pode acontecer, muitas vezes a acusação particular não passa de uma acusação
subsidiária à acusação do Ministério Público.

2.3 Princípios fundamentais do processo penal


2.3.1 Os princípios na Teoria do Direito e no Processo Penal
Os princípios de processo penal correspondem a certas soluções organizadas de acordo com
uma certa proposição normativa, o que corresponde a uma certa cristalização. Os princípios
podem ter dois tipos de origem:
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• Podem ser proposições feitas através do direito legislado. Por exemplo, o nosso direito
legislado consagra formas vinculadas de oportunidade, mas não existe nenhuma norma a
consagrar o principio da oportunidade vinculada.

• Podem ser proposições que se foram formando historicamente. Por exemplo, não temos
nenhuma norma que diga o que é a estrutura acusatória exigida na Constituição, mas esse
conteúdo existe, foi-se formando historicamente.

• Podem ter acolhimento constitucional, tendo uma força axiologia muito intensa.

Os princípios não são regras, mas sim mandatos de otimização no sentido em que não
implicam a afirmação absoluta de um valor, mas sim a realização, tanto quanto possível do
conteúdo desse valor. No processo penal, muitas vezes os princípios derivam de normas de
conduta. Assim, não devemos separar os princípios das regras de uma forma absoluta, na
medida em que dos primeiros se podem extrair os segundos.

Robert Alexy considera que os princípios são “mandatos de otimização”: o aplicador do


direito deve materializar os princípios em casa caso concreto que tenha em mãos. Destes
mandatos podem resultar regras de otimização: para se chegar ao objetivo do principio, há que
adotar a regra processual. Por exemplo, para respeitar o principio do contraditório é
necessário criar uma regra que possibilite ouvir os sujeitos processuais em determinado
contexto.

2.3.2 Princípio da oficialidade


Em causa está saber a quem compete a iniciativa ou o impulso processual, portanto, o impulso
de investigar a infracção, e quem compete também a decisão de submeter ou não o infractor a
julgamento.
Tem-se que considerar que tal iniciativa é tarefa estatal e ela é realizada oficiosamente, em
certos casos mesmo à margem da vontade e da actuação dos particulares.
Em determinado tipo de crime, o Estado age oficiosamente: não necessita da participação, ou
do impulso particular, para que se desencadeie todo o processo de investigação, com vista a
determinar quem foram os agentes e a decisão de os submeter ou não a julgamento. O
exercício da acção penal compete ao Ministério Público – princípio da oficialidade.
Ao lado do Ministério Público, tem-se determinadas entidades oficiais que podem promover e
realizar certas diligências, mas sempre actos que são ou delegados pelas autoridades
judiciárias, ou sempre em coordenação com o Ministério Público – os chamados órgãos de
polícia criminal (arts. 55º e 56º CPP).
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Esta subordinação às autoridades judiciárias advém do art. 248º CPP. O art. 242º CPP, refere
os casos de denúncia obrigatória, mas só para os órgãos de polícia criminal, como também
para os magistrados – entidades judiciárias (juiz ou Ministério Público).
Com esta denúncia obrigatória, com esta obrigação de comunicação dos actos, com o
levantamento dos autos de notícia e porque, nos termos do art. 48º CPP, é o Ministério
Público que tem legitimidade para promover o processo penal, então, a partir do momento em
que o Ministério Público tem conhecimento de um crime inicia toda a parte do inquérito.
Desde a notícia do crime que é dada ao Ministério Público, até ao julgamento, tudo se vai
desenvolver oficiosamente, através de órgãos ou entidades em que o Estado, detentor do
poder soberano de investigar, de esclarecer determinados factos praticados pelos agentes e de
sentenciar. Quer-se dizer, que se impede, se proíbe, a actuação de particulares na investigação
dos factos que constituem crime.
É nisto que se traduz o princípio da oficialidade, é o carácter público da promoção processual.
Há limitações ao princípio da oficialidade:
a) Crimes particulares:
São constituídos por infracções de pequena gravidade, de infracções que, não se relacionando
com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a pessoa visada e a
comunidade em si própria não se sente lesada, e por conseguinte, não sente necessidade de
reagir.
Deixa-se ao particular que tome a iniciativa de dar conhecimento, e depois ele próprio, se
quiser, após a diligência do inquérito, que deduza acusação.
Se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal, dá
conhecimento ao Ministério Público e tem de declarar que se quer constituir assistente, mas
não é ele que vai fazer o inquérito, quem o faz é o Ministério Público.
Simplesmente, depois de submeter o arguido ou não a julgamento, através da dedução de
acusação[5], essa decisão última pertence ao particular, se ele não o fizer o processo é
arquivado.
b) Crimes semi-públicos:
Aqui a comunidade já se sente lesada, sente que os seus valores fundamentais foram violados.
No entanto, põe acima dos valores comunitários os valores individuais que foram infringidos,
que foram violados, porque entende que a reacção contra essa infracção depender a vítima, do
ofendido.
Se o ofendido entende que não deve queixar-se, então a comunidade também não o faz, mas
se o fizer, a partir do momento em que o ofendido se queixou, então o Estado assume nos seus

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ombros todo o processo, sem mais intervenção do ofendido: já não se torna necessário ele
constituir-se assistente e deduzir acusação particular.
A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular. Se ele quiser queixar-se, então
prossegue tudo como se fosse um crime público, como se a comunidade se sentisse violada. O
Estado assume todo o processo, desde o inquérito até ao julgamento.
A queixa, a constituição de assistente, e a dedução de acusação por particular, são momentos
distintos.
1º Momento: a pessoa queixa-se e tem de declarar que se vai constituir assistente (art. 246º
CPP).
2º Momento: a pessoa constitui-se assistente. Para tanto precisa de advogado para assinar o
requerimento[6]. Têm que estar reunidos os pressupostos processuais, como a personalidade,
a legitimidade, etc. e tem de pagar a taxa de justiça.
3º Momento: dedução da acusação particular é o momento ainda mais posterior, só surge
depois de feito o inquérito.
Nos crimes particulares, se o ofendido não declarar na queixa que se quer constituir assistente,
vai ser notificado pelo Ministério Público para o fazer. Só após a constituição de assistente é
que o Ministério Público inicia o inquérito.
No final do inquérito o particular é notificado para deduzir acusação particular (art. 285º
CPP). Se o assistente não deduzir acusação particular, o processo é arquivado.
c) Crimes públicos:
Aqueles que pela sua gravidade e consequência, atingem de tal maneira os valores da
comunidade que esta não pode ficar inactiva. E por conseguinte, basta a notícia do crime para
que o Ministério Público desencadeie todo o processo. E mais: é obrigado a deduzir acusação,
e durante o julgamento, tem que a sustentar (art. 53º/2-c CPC), tem que mantê-la. Só poderá
deixar de o fazer no final do julgamento, quando se passa à fase das alegações gerais.

2.3.3 Princípio da legalidade


Surge como forma de controlo da actividade do Ministério Público, que é um órgão
hierarquicamente dependente e responsável.
Como é que o Ministério Público desencadeia o processo (art. 262º CPP)?
Tem de haver, a chamada notícia do crime: se o crime for semi-público ou particular, tem de
ser o ofendido ou a pessoa a quem a lei confere legitimidade para tal a queixar-se, tem de
haver uma queixa.

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Se o caso se trata de um crime público, basta que alguém dê a notícia ao Ministério Público,
basta o conhecimento por parte do Ministério Público para que ele desenvolva a acção penal.
O princípio da legalidade, traduz-se, desde logo em processo penal, na obrigatoriedade de o
Ministério Público proceder, dar ou deduzir a acusação e sustentá-la efectivamente (art. 53º
CPP), por todas as infracções de cujos os pressupostos tenha tido conhecimento e que tenha
logrado recolher no Inquérito indícios suficientes.
O princípio da legalidade não é apenas aplicado ao Ministério Público. Os juízes e os órgãos
de polícia criminal também estão sujeitos a este princípio.
Se quanto ao impulso inicial basta a notícia do crime, já para o impulso processual sucessivo,
imediato, que será a dedução da acusação, torna-se necessário que durante o inquérito tenham
sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado o crime e quem foi o seu agente.
Após dedução de acusação, não acabou ainda a obrigação do Ministério Público respeitar a
legalidade. Durante a fase de julgamento ele deve não só manter essa acusação, como
sustentá-la efectivamente (art. 53º/2-c CPP).
Esta expressão “sustentar efectivamente”, quer dizer que o Ministério Público, perante a
prova que está a ser produzida em audiência de julgamento, não pode pura e simplesmente
desistir.
Terminada aquela fase de julgamento em que se faz a prova dos factos, então já o Ministério
Público fica liberto da obediência ao princípio da legalidade.
Nos crimes particulares, o princípio da legalidade não existe, o Ministério Público, não é
obrigado a deduzir acusação; apenas está obrigado a fazer o inquérito: a partir do momento
em que há queixa, declaração de constituição de assistente, então o Ministério Público é
obrigado a fazer inquérito. Mas uma vez findo, não está obrigado a deduzir acusação porque
isso é um direito que compete em exclusivo ao particular.
Nos crimes semi-públicos, pode acontecer que ao Ministério Público seja retirada a
legitimidade para continuar. Mas aqui não se tem nenhuma ofensa ao princípio da legalidade,
o que acontece é que o ofendido, até à sentença pode desistir da queixa, da instância.

2.3.4 Princípio da oportunidade


Consiste este princípio numa certa margem de discricionariedade concedida ao Ministério
Público para que ele desde logo resolva determinados casos, os arquive, não lhes dê
seguimento (arts. 277º segs. CPP). Estas situações:
- Ou é desde logo afastada, porque se trata daquelas bagatelas penais, e por conseguinte, nem
há lugar à promoção do processo.
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- Ou então há indícios da prática do crime, houve toda uma investigação, mas não se
determinam os agentes, ou determinam-se os agentes mas eles são irresponsáveis ou
inimputáveis, ou estão isentos de aplicação de pena – no final do inquérito o processo é
arquivado.
Concede-se ao Ministério Público a faculdade de dispor do processo: concede-se portanto um
certo poder discricionário para resolver desde logo o processo. É o chamado princípio da
oportunidade, concedido ao Ministério Público e que certa forma constitui uma limitação ao
princípio da legalidade. Este princípio é aceite em casos muito restritos no Código de
Processo Penal – arts. 277º e 280º.
Uma outra situação em que se verifica o princípio da oportunidade é no art. 281º CPP –
suspensão provisória do processo. Aí também, desde que se verifiquem todos os requisitos,
isto é, desde que haja indícios suficientes da prática do crime, desde que seja conhecido o
agente e determinada a sua responsabilidade, se o crime não for punível em abstracto com
pena superior a 5 anos, se o arguido for primário, se for diminuta a culpa na sua actuação, se
houver a concordância do assistente e do próprio arguido e também do Juiz de Instrução
Criminal, o Ministério Público numa situação destas, pode decidir-se não pelo arquivamento,
mas pela “suspensão provisória do processo”. Isto é, o processo fica latente, fica suspenso:
aplica-se ao arguido certas injunções e normas de conduta. Esta situação mantém-se durante
um certo prazo (até 2 anos); se ele cumprir, no fim do prazo o processo é arquivado; se não
cumprir, volta tudo ao princípio e, porque há indícios suficientes, é deduzida acusação.
Mas, se o legislador está a conceder ao Ministério Público a possibilidade de, em certas
situações, não deduzir acusação, não obedecer ao princípio da legalidade, então há que
controlar a própria legalidade do Ministério Público; ou seja, controlar a sua actuação sempre
que o Ministério Público não obedece à lei.
Uma das formas de controlar a sua actuação é através da chamada intervenção hierárquica:
quer isto dizer que o processo é levado ao conhecimento de um superior (art. 278º CPP).
A instrução é uma fase facultativa, em que se requer a intervenção do Juiz de Instrução
Criminal. O assistente é a pessoa ofendida, vítima do crime (...) que requereu ao juiz a sua
intervenção como tal, e por tanto quer também colaborar no processo, ao lado do Ministério
Público.
O assistente pode requerer ao Juiz de Instrução Criminal que venha fazer uma reapreciação do
processo, é nisto que consiste o requerimento de abertura do processo o assistente chama ao
juiz de instrução, através de um requerimento em que expõe as razões porque discorda da
actuação do Ministério Público, eventualmente pode requerer que ele faça certas diligências e

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requerer que ele aprecie a conduta do arguido no sentido de o submeter a julgamento através
de um despacho de pronúncia, tem-se aqui, também, uma forma de controlo da actividade do
Ministério Público.
As formas de controlo do Ministério Público são:
- Pelo superior hierárquico (art. 278º CPP);
- Pelo assistente (art. 287º/1-b CPP).

2.3.5 Princípio da acusação ou do acusatório


Com a adopção deste princípio, pretende-se assegurar o carácter isento, objectivo, imparcial e
independente da decisão judicial.
Com o processo penal pretende-se atingir uma determinada finalidade, e essa finalidade será
atingida com objectividade, com imparcialidade e mediante um órgão independente[7].
Para que isto seja assim, torna-se necessário que a entidade julgadora não possa ter também
funções de investigação e da acusação da infracção, por conseguinte:
- O Ministério Público investiga e acusa;
- O juiz julga, aprecia a conduta do arguido.
Ao lado desta distinção entre entidade julgadora e entidade acusadora há que estipular e
postular um princípio de igualdade de “armas” entre a acusação e defesa. Ambos devem ter
mesmos direitos e os mesmos poderes.
Mas o Ministério Público tem mais poderes, tem uma máquina investigatória ao seu dispor.
Esta igualdade de direitos só será relevante nas fases seguintes ao Inquérito, na fase de
Instrução (quando houver) e na fase de julgamento. Nesta fase o Ministério Público e o
arguido têm os mesmos direitos, está assegurado pelo princípio do acusatório.
Se ambos têm os mesmos direitos e os mesmos poderes, então ambos participam na realização
do direito, na administração da justiça. É uma chamada participação constitutiva dos sujeitos
processuais afectados na decisão do caso em apreço, ambos contribuem na definição do
direito ao caso:
- O Ministério Público acusando, imputando ao arguido à prática de determinados factos;
- O arguido defendendo-se, se o quiser fazer, impugnando, contestando, trazendo justificações
para a sua prática.

2.3.6 Princípios relativos à prossecução processual


Qual a estrutura do processo penal português?
- Tem-se uma entidade acusadora distinta da entidade julgadora;
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- Há o reconhecimento da participação constitutiva dos sujeitos processuais na definição do


direito ao caso;
- Existe por outro lado uma igualdade de poderes, nomeadamente na fase da instrução e de
julgamento;
- Ao juiz é permitido investigar os factos que são submetidos à sua apreciação em julgamento.
O processo penal português será de estrutura basicamente acusatória[8], mas integrado por um
princípio da investigação.
Com este princípio da investigação permite-se ao juiz recolher provas sobre os factos já
constantes da acusação e da pronúncia.
Trata-se ainda, numa fase de inquérito, na possibilidade que é dada ao Ministério Público de
investigar autonomamente a prática do crime, após a denúncia, após o conhecimento ou após
a notícia do crime, ele vai proceder à investigação.
Alteração substancial dos factos (art. 359º/1 CPP).
Pode acontecer que o juiz, conhecendo desses factos, impute ao arguido a prática de um crime
diverso daquele que vem descrito na acusação.
A alteração substancial dos factos descritos na acusação implica sempre que se apurem novos
factos ou que seja uma modificação dos que estão descritos na acusação, de tal maneira que
essa modificação se venha a traduzir num agravamento dos limites máximos das sanções
aplicáveis ao arguido.
O Tribunal é livre de fazer qualificação jurídica diferente daquela que é feita pelo Ministério
Público.
Não há alteração dos factos, se o arguido vier acusado pela prática de determinados factos e
em julgamento não se provarem todos esses factos de que vem acusado, mas apenas parte
deles; e com base naqueles foram provados ele será condenado por um determinado tipo de
crime.
O essencial a tomar em conta é a alteração substancial dos factos. Esta determinação e este
conceito de alteração substancial dos factos insere-se no princípio da acusação, nos poderes
que são dados ao juiz para que este, dentro do “thema probandum”[9], possa investigar
exaustivamente e oficiosamente todos esses factos; e se durante essa investigação ele se
aperceber que há outros factos, terá de os comunicar ao Ministério Público.
O princípio da economia processual, em processo penal não vinga, porque o arguido tem o
direito de se defender. Pode até não o fazer, pode concordar em ser julgado por esses factos e
prepara a sua defesa; e depois até pode nem apresentar contestação. Mas isso não impede que
tenha que haver um novo processo.

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2.3.7 Implicações do princípio da acusação


Desde logo a inadmissibilidade de investigação inicial por parte do Tribunal, a investigação
pertence a uma entidade própria.
O Tribunal não pode por sua iniciativa começar uma investigação com o objectivo de
esclarecer a existência de um crime, de determinar os seus agentes e a responsabilidade deles.
Isso compete quase exclusivamente ao Ministério Público.
Ainda como implicação deste princípio da acusação ou acusatório, impõe-se, para que haja a
dedução de acusação contra alguém, que se verifique forte suspeita da prática de um crime, e
que seja de tal maneira forte que a comunidade se sinta obrigada a chamar o agente à razão,
através de julgamento.
Portanto, quando se deduz acusação contra alguém tem que se ter sempre presente se há ou
não há, fortes indícios da prática do crime, não basta haver meras suspeitas.
Torna-se necessária uma forte suspeita da prática de um crime para que a comunidade possa
chamar aquele indivíduo à responsabilidade.
Outra implicação do princípio da acusação, é a imputação dos factos ao arguido, constitui,
define e fixa perante o Tribunal o objecto do processo.
É o mesmo que dizer-se que o objecto[10] do processo penal é a acusação.

22. A pronúncia
O despacho de pronúncia, é a imputação ao arguido da prática de determinados factos, só que
agora não pelo Ministério Público, mas por uma entidade judicial que é o Juiz de Instrução
Criminal.
Em termos práticos é muito mais gravoso para o arguido ir para julgamento com o despacho
de pronúncia do que com uma acusação, porque:
- Enquanto a acusação se baseava em indícios recolhidos por uma entidade não judicial, o
Ministério Público;
- No despacho de pronúncia, houve já uma comprovação desses mesmos factos.
A pronúncia comprova os factos deduzidos na acusação.
A estes efeitos, ou a estas consequências, chama-se em direito, a vinculação temática do
Tribunal, o Tribunal está vinculado a um tema, que é a acusação[11].
Analisando esta vinculação temática, encontra-se ainda três princípios:
1) Princípio da identidade: o objecto do processo deve manter-se o mesmo desde a acusação
até ao trânsito em julgado da sentença;
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2) Princípio da unidade ou indivisibilidade: o objecto do processo deve ser conhecido e


julgado pelo Tribunal na sua totalidade, é indivisível;
3) Princípio da consunção: o objecto do processo deve considerar-se irrepetivelmente
decidido na sua totalidade.
O Tribunal não conheceu, mas devia ter conhecido, porque os factos constam da acusação; se
não conheceu, transitou em julgado a sentença. O objecto do processo deve considerar-se
irrepetivelmente julgado, decidido na sua totalidade[12].
O objectivo que se pretende com a adopção do princípio da acusação é, desde logo, uma
protecção do arguido contra alargamentos arbitrários da actividade cognitiva e decisória do
Tribunal.
Pretende-se atingir a garantia do respeito pelo direito de contrariedade e de audiência. Isto é, o
arguido tem o poder de se fazer ouvir, o arguido tem o poder de contraditar, de impugnar, de
contestar os factos de que é acusado.
Este princípio da acusação é a garantia da estrutura acusatória do processo, na medida em que
não há processo tipo acusatório sem princípio de acusação.

2.3.8 Princípio do contraditório e da audiência


O juiz penal, no desenvolvimento da sua actividade, por tanto na prossecução processual deve
ouvir quer a acusação, quer a defesa. E mais: deve fazer ressaltar e sobressair, quer as razões
da acusação, quer as razões de defesa.
Incumbe ao Tribunal, ao juiz penal, fazer sobressair as razões, quer de acusação, quer da
defesa.
Nenhum arguido poderá ser condenado sem que lhe tenha sido dada a possibilidade de se
fazer ouvir, de se defender.
Daí que a última pessoa a ser ouvida, a pronunciar-se num julgamento e após as alegações
finais é o arguido. Resultando, que o juiz só pode proferir a sua decisão depois de dar ao
arguido a possibilidade de contestar, de contrariar as razões ou os factos que lhe são
imputados.
Este princípio do contraditório está directamente relacionado com o princípio da audiência.
A oportunidade que é conferida a todo o participante no processo de influir através da sua
audição na decisão do caso concreto.
Através do princípio da audiência tem-se o reconhecimento da dignidade pessoal do homem,
impedindo que ele se torne num objecto do processo. O arguido, como qualquer outro sujeito
processual, é um sujeito activo, é um sujeito participativo em todo o processo. Por
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conseguinte, deve ser ouvido porque através das suas declarações ele contribui para a decisão
do caso concreto.

2.3.9 Princípio da suficiência


No processo penal vão-se resolver todas as questões que interessam à decisão daquela causa
(art. 7º CPP).
Atribui-se ao juiz penal a competência para conhecer de todas as questões. Mas por vezes os
juízes deparam-se com determinadas questões no processo penal que, ou porque têm um
objecto diferente, ou porque têm uma natureza distinta da questão principal a resolver no
processo penal, ou ainda porque se revelam de uma complexidade extrema, a sua resolução
terá de ser decidida noutro Tribunal.
Estas questões que condicionam e por vezes, limitam o conhecimento do juiz penal são aquilo
a que se chama: questões prejudiciais em processo penal.
Questões de natureza civil, duas teses:
a) Tese do conhecimento obrigatório: o juiz penal é obrigado a conhecer todas as questões;
bem ou mal, o juiz penal tem delas conhecer. Em processo penal, o juiz deve conhecer de
tudo.
b) Tese da devolução obrigatória: sempre que aparece uma questão prejudicial, há que
devolvê-la para o Tribunal competente.
c) Tese ecléctica ou intermediária ou tese da devolução facultativa:
Há questões que pelo seu relevo, pela sua complexidade ou pela especialidade de que se
revestem, impõem que a sua decisão seja tomada por um Tribunal mais qualificado para o seu
conhecimento
Concede-se um certo poder discricionário quanto à devolução ou não devolução da questão
prejudicial para outro Tribunal.
É a tese da devolução facultativa, que é uma tese intermediária: o juiz analisa a questão e se
entender que não se sente à vontade para a resolver em conformidade, devolve-a para o
Tribunal que considere competente para a resolver (art. 7º/2 CPP).

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3 CAPÍTULO III: CONCLUSÃO


3.1 Conclusão
Em relação aos princípios, caso haja uma aparente colisão entre eles, também chamada de
colisão de direitos fundamentais, não se obedece à regra do tudo ou nada, mas haverá uma
ponderação dos princípios, devendo prevalecer um deles à luz do caso concreto, sem que
ocorra a exclusão do outro princípio. Os princípios, portanto, possuem um grau maior de
abstração em relação às regras. Os princípios possuem natureza normogenética, ou seja, são a
origem, a gênese das demais normas. Assim, por exemplo, quando se aborda o princípio da
publicidade, o legislador constituinte traz o preceito de que todos os atos judiciais serão
públicos, mas não traz nenhuma consequência à sua violação, utilizando, portanto, uma
fórmula aberta. Os direitos fundamentais, com sua natureza principiológica, ou seja,
constituem princí pios e não meras regras, não possuem caráter absoluto, isto é, nenhum
direito fundamental é absoluto, do que decorre que eles podem ser restringidos à luz do caso
concreto, desde que não se esvazie o princípio, ou melhor, que não se viole o núcleo essencial
do princípio. O direitos fundamentais do acusado, no processo penal, são previstos
especialmente na Constituição, em seu artigo 5º, possuindo natureza principiológica e assim
se diferenciando das regras. Em suma, é possível concluir que possuem maior grau de
abstração, natureza normogenética (dão origem a outras regras e princípios) e em caso de
colisão não se aplica a lógica do tudo ou nada (comum às regras), devendo o conflito ser
solucionado apenas no caso concreto, segundo a técnica de ponderação dos valores. Como
todo direito fundamental, são relativos e podem ser restringidos desde que não se viole o seu
núcleo essencial. Analisaremos cada um dos princípios, destacando que os princípios podem
ser convencionais (previstos em normas constitucionais, valendo a leitura do RE 466.343, que
afirma que esses princípios tem hierarquia de norma supralegal), constitucionais ou legais.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 Fonseca, J. J. S. (2002). Metodologia de pesquisa científica. Fortaleza: UEC, Apostila;
 BRASILEIRO, Renato. Manual de Processo Penal. Volume único. 4ª edição. Salvador:
JusPOD VIM, 2016.

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