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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
1. ESTUDO DA TEORIA GERAL DO CRIME ........................................... 5
2.Conduta punível .............................................................................................. 6
2. 1. Teorias sobre a conduta. ............................................................................ 6
2. 2. Conduta e tipicidade ................................................................................... 8
2.3 Funções do tipo ............................................................................................ 9
2.4 Elementos do tipo ....................................................................................... 10
3. TIPOS OMISSIVOS DOLOSOS E A AÇÃO NOS CRIMES
COMISSIVOS DOLOSOS ................................................................................ 12
3.1. Teoria da Imputação Objetiva ................................................................... 12
3.2. Conceito de dolo ....................................................................................... 13
3.3. Espécies de dolo ....................................................................................... 14
4. TENTATIVA..........................................................................................15
4.1. Elementos da tentativa .............................................................................. 16
4.2. Crimes que não admitem tentativa ............................................................ 19
4.3. Desistência voluntária e arrependimento eficaz ........................................ 20
5. TIPOS CULPOSOS ............................................................................. 21
5.1. Dever de cuidado objetivo ......................................................................... 22
5.4. Resultado .................................................................................................. 22
5.5. Previsibilidade ........................................................................................... 23
5.6. Culpa consciente e dolo eventual .............................................................. 24
6. CONCURSO DE PESSOAS................................................................24
6.1. Autoria e participação ................................................................................ 25
7. ILICITUDE............................................................................................26
7.1. Conceito e generalidades. ........................................................................ 26
7.2. Causas de exclusão da ilicitude ............................................................... 27
7.3. Legítima defesa ........................................................................................ 27
7.4. Conceito ................................................................................................... 27
7.5. Histórico ................................................................................................... 28
7.6. Fundamento jurídico ................................................................................. 28
7.7. Requisitos................................................................................................. 28
7.8. Estado de necessidade ............................................................................ 30
7. 9. Conceito ................................................................................................... 30
7.10. Histórico .................................................................................................. 30
7.11. Fundamento jurídico ................................................................................ 30
7.12 O fundamento jurídico do estado de necessidade se encontra no art. 24 do
CP........ ..............................................................................................................30
7.12. Requisitos................................................................................................ 31
7.13. Excesso ................................................................................................... 31
7.14. Estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito ........... 32
7.15. Distinção e delimitação............................................................................ 32
7.16. O consentimento do titular do bem jurídico ............................................. 33
7.17. Excesso ................................................................................................... 34
8. CULPABILIDADE .............................................................................. 34
9. IMPUTABILIDADE .............................................................................. 35
9.1. Conceito .................................................................................................... 35
9.2. Menoridade ............................................................................................... 36
9.3. Causas de exclusão da imputabilidade ..................................................... 36
9.4. Embriaguez ............................................................................................... 37
10. CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE .......................................................... 38
10.1. Erro de proibição ..................................................................................... 39
10.2. Descriminantes putativas ........................................................................ 40
11. EXIGIBILIDADE DE COMPORTAMENTO CONFORME O DIREITO 41
11.1. Princípios gerais ...................................................................................... 41
11.2. Coação moral irresistível e obediência hierárquica ................................. 42
11.3. Escusas absolutórias.............................................................................. 42
12. REFERÊNCIAS: .................................................................................. 48
INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o
tema tratado.
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos
ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de
atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso
da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a
ser seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!
1. ESTUDO DA TEORIA GERAL DO CRIME

Crime é todo fato típico, ilícito, culpável que alguém cometa infringindo
alguma lei, o art. 1º do Código Penal informa: não há crime sem lei anterior que
o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
NOVAES e BELLO (2020) versam a respeito da teoria geral do crime, a
qual é vista pela doutrina como tendo quatro formas, assim conceitua crime de
conceito formal ante o aspecto formal crime que é o procedimento que está
constituída em uma norma penal incriminadora, perante ameaça de sanção
penal.
Já o conceito material de crime é a conduta humana causadora de lesão
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, o qual é passível de sanção penal.
Quanto ao conceito formal-material entende-se como uma conduta
humana prevista em lei, causadora de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado, passível de sanção penal.
Ainda o conceito analítico o qual leva em consideração os elementos os
quais compõem a infração penal, sua composição, que os elementos que
compõem o crime são: fato típico, ilicitude e culpabilidade (conceito tripartite).
Só é crime aquilo que a lei diz que é, se o indivíduo comete um ato o
qual, não existe lei que o defina como crime, o agente não pode sofrer sanção.
Grande parte da doutrina adota um conceito sobre o crime, onde o
entendimento é de que o crime é uma ação típica e antijurídica, onde figura a
culpabilidade como um juízo de reprovação, estando somente uma hipótese de
aplicação da pena, não elemento do crime.
Sendo, este o conceito dominante, onde prevalece o entendimento de
que o crime é uma conduta humana típica, ilícita e culpável. (NOVAES. BELLO,
2020)
Assim entende-se que se o indivíduo comete um fato tipificado em lei
como sendo ilícito ele comete um crime.

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2. CONDUTA PUNÍVEL

Qualquer conduta anteriormente tipificada como crime é uma conduta


punível, dentro da corrente finalista, a conduta é toda ação ou omissão exercida
por um ser humano, com controle voluntário de sua ação e conduzida pelo dolo
ou pela culpa.
Assim a presença do dolo bem como da culpa na conduta, são
resultantes do agir ou omitir humano, sendo a grande inovação do finalismo
penal (Welzel) frente às correntes causalistas anteriores, que encontravam
inicialmente o dolo e a culpa na culpabilidade como espécies de culpabilidade
(teorias psicológicas), só depois como subsídios da consciência da ilicitude
(teorias psicológico-normativas).
A partis do finalismo, dolo e culpa afastam-se de forma definitiva da
culpabilidade sendo inseridos no conceito de conduta, assim sendo deixam de
ter afinidade com a consciência da ilicitude, passando a ter relação com a
consciência da conduta, como elementos naturais. (NOVAES. BELLO, 2020)
Qualquer ação praticada pelo agente a qual foi tipificada, regulamentada
como crime é uma conduta passível de punição.

2. 1. Teorias sobre a conduta.

O art. 4º do CP versa: Considera-se praticado o crime no momento da


ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Ou seja, a conduta pode ser por ação ou omissão, ação quando a
pessoa pratica o crime de forma voluntária ou involuntária e omissiva, quando a
pessoa deixa de praticar uma ação que resulta em um ato ilícito ou configurado
como crime.

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Por meio do tipo penal, a lei descreve os crimes, nessa descrição, o
legislador, via de regra, utiliza diversas formas para descrever a conduta proibida
no tipo penal especificado.
Sendo o núcleo do tipo penal, a conduta criminosa, predita pelo
legislador de forma descritiva.
Assim, quando o tipo penal descreve uma ação como conduta,
encontrar-se os crimes classificados como comissivos, quando descreve uma
omissão os crimes são omissivos próprios.
O crime comissivo, exige ação como conduta, mas pode
excepcionalmente ser praticado por omissão, estando limitada tal hipótese às
situações de omissão imprópria, previstas pelo art. 13, § 2.º, do CP.
O agente que agiu de forma omissa deve ter o dever e possibilidade de
impedir o crime comissivo, ocorrendo de se omitir, será responsabilizado por ele.
A conduta omissiva deve ser praticada de forma voluntária, ou seja,
assim sendo, os atos inconscientes ou incontroláveis não caracterizam condutas
omissivas e não podem ser tipificadas.
Assim, são casos que excluem a voluntariedade, tornando o fato atípico,
a exemplo de caso fortuito: onde a força dos ventos ou das águas que empurram
o agente.
Em casos de força maior: coação física irresistível, que exclui o controle
do agente dos movimentos do seu próprio corpo, o ato deixa de ser voluntário,
excluindo a tipicidade e tornando o fato atípico. (NOVAES. BELLO, 2020)
Existe também a coação moral irresistível, a qual exclui do agente a
possibilidade de decisão por uma conduta diferente, onde ele é obrigado a
praticar uma conduta tipificada como crime, a exemplo do sequestro de
familiares para obrigar o agente a praticar tal conduta, a qual caracteriza
inexigibilidade de conduta diversa, excluindo a culpabilidade.

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2. 2. Conduta e tipicidade

O art. 13, do CP versa: O resultado, de que depende a existência do


crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Sendo o fato típico composto, em regra, por conduta, resultado, relação
de causalidade e tipicidade penal.
O art. 23 do CP vai trazer as possibilidades de exclusão de ilicitude, as
quais serão analisadas no caso concreto a fim de tornar o ato um fato típico,
lícito, permitido pelo direito naquelas circunstâncias.
Falando na culpabilidade, ela, é um juízo de condenação que incide
sobre o homem, determinando sua reprovação, quando estiverem presentes três
elementos: a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade
de conduta diversa. (NOVAES. BELLO, 2020)
Destarte, o art. 23 o qual, exclui a culpabilidade do agente em estado de
necessidade ou força maior

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de


necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível
Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,
responderá pelo excesso doloso ou culposo. (BRASIL, 1940)

Este artigo traz um rol de situações onde o agente não será punido, ou
seja, onde o agente não será passível de punição por causa da ilicitude de sua
ação.

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2.3 Funções do tipo

A principal função do tipo é descrever um comportamento proibido pelo


Direito Penal, dessa forma, limitando e individualizando as condutas relevantes
para o Direito Penal.
Todos os elementos que compõem a descrição de um comportamento
abstrato proibido pelo Direito Penal formam o tipo.
Quando se fala em tipicidade, se fala da definição abstrata do tipo penal,
ou seja, da conduta. Assim, é necessário que se realize um estudo sobre o crime
capaz de identificar a relação que existe entre: a conduta; as características
objetivas e subjetivas do tipo penal.
Uma vez que o princípio da legalidade faz com que um fato só se torne
crime se estiver descrito no tipo penal, ou seja, se estiver tipificado como crime
podendo a adequação ser direta ou imediata que é quando o fato condiz
exatamente com o tipo penal descrito.
Indireta ou mediata que é quando existe a necessidade de enquadrar o
crime em outra norma, a exemplo da tentativa tipificada no art. 14, II do CP ou
do concurso de agentes tipificado no art. 29 do CP. (NOVAES. BELLO, 2020)
Assim, entende-se que para ser típico, ou para ser tipificada como crime,
exige-se a prática de uma conduta que dá causa a um resultado previsto na lei
como tal. Presentes os elementos que tipificam o crime, o fato será formalmente
típico.
MENDONÇA e DUPRE (2018) vão dizer que além da tipicidade formal é
necessário que se enquadre também na tipicidade material, onde deve ser
observado se a ofensa ao bem jurídico é algo relevante.
Assim, observa-se nesses casos o princípio da insignificância (ou
bagatela) o qual é apto para excluir a tipicidade material.
Conforme os nossos Tribunais Superiores, os requisitos para aplicação
do Princípio da insignificância (ou bagatela) são:
 Conduta minimamente ofensiva;
 Reduzido grau de reprovabilidade;

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 Ausência de risco social;
 Lesão inexpressiva para a vítima.
Requisitos estes que são cumulativos e devem ser analisados de acordo
com o caso concreto.

A doutrina brasileira, influenciada pela tipicidade conglobante, passou


a definir tipicidade penal como um conjunto entre tipicidade formal e
tipicidade material. Assim, considera a necessidade de previsão legal,
mas também a necessidade de lesão relevante, possibilitando que o
princípio da insignificância exclua a tipicidade. (NOVAES. BELLO, p.
57)

Para que se defina o que é punível, ou seja não só um fato típico, é


necessário que se conheça os elementos do tipo penal.

2.4 Elementos do tipo

O tipo penal deve ter seus elementos descritos em lei de forma a deixar
claro o que constitui o ato punível, para afirmar do princípio da legalidade, o tipo
penal deve descrever o ilícito penal com todos os seus elementos constitutivos.
Além de garantir ao Estado o direito de punir bem como o indivíduo que
sofreu o dano ver o que praticou ser punido, assim o tipo também tem o dever
de limitar a penalidade a fim de garantir que o Estado não poderá punir ninguém
se o crime não estiver devidamente tipificado em lei.
Assim, para conseguir cumprir este objetivo, o tipo penal precisa ser
taxativo e claro na descrição do crime, para isso utiliza elementos de descrição.
(NOVAES. BELLO. 2020)
Tais elementos podem ser normativos (descritos em lei), objetivos
(conduta e seus resultados) e subjetivos (dolo ou culpa).
 Elementos objetivos (descritivos): o sujeito ativo é o indivíduo que
pode cometer a conduta descrita no tipo penal da forma que se
encontra prevista de forma abstrata na lei. Já o sujeito passivo é
o indivíduo que pode suportar o resultado da conduta descrita no
tipo penal tal qual previsto abstratamente na lei.

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Quanto ao núcleo do tipo, observa-se a ação humana descrita, no tipo
penal. Já em relação ao resultado, este resultado pode ser natural, ou seja, é a
modificação que ocorre no mundo exterior, ou jurídico que culmina na ofensa
(dano ou perigo) do bem jurídico protegido pelo tipo.
Em relação ao objeto material, tem-se a coisa ou pessoa que venha a
ser responsabilizada penalmente.
 Elementos circunstanciais: são alguns tipos penais que
apresentam elementos de tempo, lugar, meio etc., a exemplo do
furto noturno, que se caracteriza pelo tempo em que é praticado.
 Elementos normativos: são elementos do tipo penal que precisam
ser valorados pelo responsável por interpretar, ou, entender o
caso concreto.
Quanto aos elementos normativos eles podem ser jurídicos e culturais.
Os elementos jurídicos são aqueles os quais possuem conceitos
próprios do direito, a exemplo: “coisa alheia” no furto (art. 155 do CP) ou
“duplicata” na duplicata simulada (art. 172 do CP).
Quanto aos Elementos culturais (axiológicos) são os elementos próprios
de outras disciplinas ou que dependem de conceitos sociais, a exemplo de: “ato
obsceno” (art. 233 do CP).
Já os elementos subjetivos: são relativos ao Dolo, a culpa, assim como
os elementos subjetivos especiais, que preveem finalidades específicas.
(NOVAES. BELLO, 2020)
Uma vez que o agente cometa uma ação punível é necessário que se
analise a possibilidade punitiva, ou seja se todos os elementos estão no ato para
que se possa punir de maneira justa.
É preciso analisar se não existem elementos que negam a ilicitude dos
fatos fazendo assim com que o ato se torne lícito, ou o agente inculpável.

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3.TIPOS OMISSIVOS DOLOSOS E A AÇÃO NOS CRIMES COMISSIVOS
DOLOSOS

Os crimes omissivos são aqueles cujo agente deixa de praticar uma


conduta que poderia salvar a vida de uma pessoa, já os omissivos dolosos é
quando a não ação possui dolo ou seja o agente não age objetivando o resultado
danoso.
NUCCI (2020) vai dizer que os crimes comissivos são aqueles cometidos
a partir de uma ação, já os omissivos são aqueles que não dependem de uma
ação, mas de uma recusa voluntária de agir.
Existem ainda os crimes comissivos por omissão, que são restritos dos
indivíduos que tem o dever de impedir o resultado, mas não o impedem (art. 13,
§ 2º, CP).
Assim como existem os omissivos por comissão que são os delitos
cometidos por pessoa que teria o dever de cuidado, ou de socorro, mas que
impede que o indivíduo em perigo seja socorrido, empregando assim, força para
impedir que alguém o socorra.
Já os comissivos dolosos é quando o agente pratica a ação objetivando
o resultado danoso.

3.1. Teoria da Imputação Objetiva

A teoria da imputação objetiva está relacionada ao fato de o agente ter


cometido a ação ilícita, chegando-se a conclusão de que ele deve ser punido e
não outro.
Assim, a relação de imputação objetiva, se encontra no fato típico
praticado pelo funcionário público, o qual atua como um complemento à relação
de causalidade.

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Se agregando a outros requisitos os quais irão atuar de acordo com a
relação de causalidade, a fim de consentir a atribuição de um resultado a uma
conduta.
Após ser constatado o nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado, deve-se demonstrar outros requisitos existentes, os quais atuarão
juntamente e, permitirão a imputação do evento ao autor. (GONÇALVES. RIOS,
2020.)
É a partir da imputação objetiva que irá se observar todos os fatos ou
seja, o nexo de causalidade que irá ligar o agente ao ato ilícito.

3.2. Conceito de dolo

Está relacionado ao desejo do agente em praticar conduta ilícita, no


entendimento de GONÇALVES e RIOS (2020) o dolo consiste na vontade do
agente de efetivar os elementos objetivos e normativos do tipo.
Para conceituar o dolo existem várias correntes doutrinárias:
 Teoria da vontade: onde o dolo é a vontade que se direciona a
fim de atingir o resultado. Onde, o indivíduo age dolosamente,
tendo consciência do resultado, ou seja, pratica a conduta com a
intenção de produzir o resultado tipificado como crime.
 Teoria da representação: nessa teoria, não há distinção entre
dolo eventual e culpa consciente. Havendo o dolo quando o
sujeito realiza uma ação ou omissão onde prevê o resultado
como certo ou provável (ainda que não o deseje) (Von Liszt e
Frank).
 Teoria do consentimento ou do assentimento: onde o agente,
prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo, agindo assim
de forma dolosa.
Assim, se trata da vontade do agente em praticar o ato que ele sabe ser
ilícito com um determinado fim.

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3.3. Espécies de dolo

O dolo se classifica em diversas espécies: dolo direto ou imediato; dolo


indireto ou mediato; dolo de dano; dolo de perigo; dolo natural ou neutro; dolo
híbrido ou normativo; dolo genérico; dolo específico; dolo geral ou dolus
generalis.
O dolo direto ou imediato ocorre quando o sujeito deseja produzir o
resultado; já o dolo indireto ou mediato subdivide-se em eventual que ocorre
quando o agente não quer produzir o resultado, mas, pela sua conduta, assume
o risco de atingi-lo e alternativo que é quando o agente quer produzir um
resultado, mas acaba produzindo outro resultado não planejado.
A doutrina fala também sobre o dolo de dano, que ocorre quando o
agente pratica uma conduta com o objetivo de lesar o bem jurídico tutelado na
norma penal; há também o dolo de perigo, onde o agente visa somente colocar
o bem jurídico em perigo, mas não possui a intenção de lesioná-lo.
Assim, o dolo de dano, ocorre quando o agente se comporta com o
objetivo de lesar o bem jurídico tutelado na norma penal; já o dolo de perigo
ocorre quando o agente pretende apenas expor o bem jurídico a perigo, mas não
possui intenção de lesioná-lo.
Quanto ao dolo natural ou neutro, de acordo com a doutrina ele ocorre
quando possui dois elementos: consciência e vontade.
Já o dolo híbrido ou normativo é o dolo que contém, além da consciência
e da vontade, a consciência da ilicitude.
A doutrina vai falar ainda sobre o dolo genérico que é o dolo que trata da
vontade do agente de efetivar os elementos do tipo os quais estão presentes em
todos os crimes dolosos.
Já o dolo específico, é quando a intenção especial do agente e que se
encontra presente em alguns delitos dolosos, o dolo genérico consiste na
vontade livre e consciente de privar o ofendido de sua liberdade de locomoção,
já o dolo específico, se encontra na finalidade do agente em obter alguma

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vantagem, a exemplo da condição ou preço do resgate. No entanto, as
expressões “dolo genérico” e “dolo específico” encontram-se defasadas, não
sendo aceitas por boa parte da doutrina.
Assim, o dolo envolve apenas a pretensão de realizar os elementos do
tipo, onde a intenção especial a que se dirige a conduta do agente, prevista em
alguns crimes, é que configura elemento subjetivo específico do tipo.
Ainda assim, o dolo geral ou dolus generalis, ocorre quando o agente
pratica uma conduta com o objetivo de alcançar um resultado e, acreditando que
irá atingi-lo, produz comportamento diverso, que acaba por produzir o resultado
pretendido.
Apesar de a doutrina classificar o dolo de tantas formas, ao final o
agente responderá apenas por um tipo penal, o chamado crime doloso
consumado. (GONÇALVES. BELLO. 2020)
O agente que comete um ato doloso deverá ter os aspectos de dolo
analisados pelo juízo que irá julga-lo.

4.TENTATIVA

Diz-se da tentativa ou crime tentado quando, o agente, objetiva cometer


o ato ilícito com um fim, no entanto ele não consegue consumar o crime, NUCCI
(2020) conceitua a tentativa como sendo, a consumação imperfeita da conduta
típica, a qual não é punida como crime autônomo conforme versa o art. 14, II,
CP. Como diz Aníbal Bruno, é a tipicidade não concluída. O Código Penal não
prevê, cada delito, da figura da tentativa, apesar de a boa parte dos crimes
admita a figura tentada.
Assim, como o Código Penal não prevê todas as formas de tentativa,
optou-se por usar a extensão do crime que existam em outras normativas, a
exemplo da tentativa no crime de homicídio, que não se encontra prevista, mas,
nesta situação, usa-se a figura do crime consumado, previsto no art. 14, II. Nesse
caso, aplica-se a figura do crime consumado em associação com o disposto no
art. 14, II, onde configura-se o crime tentado de homicídio a união do “matar

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alguém” com o “início de execução, que não se consumou por circunstâncias
alheias à vontade do agente”.
Não existe legislação para cada espécie de tentativa, no entanto usa-se
a associação com o crime consumado para julgar o caso concreto.

4.1. Elementos da tentativa

A tentativa possui elementos: subjetiva (voluntarística ou monista);


objetiva (realística ou dualista); subjetivo-objetiva (teoria da impressão); teoria
sintomática.
A tentativa subjetiva é aquela leva em consideração, a vontade criminosa
do agente em cometer o ato criminoso, assim fundamentando a punição, a partir
da vontade nítida do agente em praticar o ilícito, iniciando assim, a possibilidade
de punir o agente no momento em que ele planeja o crime.
Uma vez que o objetivo é punir o agente que manifesta vontade de
praticar um ato ilícito o juiz sempre deve atenuar a pena.
Já a tentativa objetiva é aquela cujo objetivo da punição da tentativa se
dirige ao perigo efetivo ao bem jurídico, a tentativa objetiva só se configura
quando os atos executórios, os quais objetivam, atingir o resultado crime (art. 14,
II, CP).
Destarte, a redução da pena torna-se, obrigatória, uma vez que o bem
jurídico não se perdeu por completo, pois somente nesta hipótese caberia a
punição completa.
No crime de tentativa subjetivo-objetiva a punição se fundamenta pela
junção da ponderação entre a vontade criminosa com um princípio de risco ao
bem jurídico protegido.
Nos dizeres de Roxin,
(...)“a tentativa é punível, quando e na medida em que é apropriada
para produzir na generalidade das pessoas uma impressão
juridicamente ‘abaladora’; ela põe, então, em perigo a paz jurídica e
necessita, por isso, de uma sanção correspondente a esta medida”
(Resolução do fato e começo da execução na tentativa. Problemas
fundamentais de direito penal, p. 296).

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Assim, se leva em consideração a pretensão criminosa e o prejuízo que
essa manifestação criminosa pode causar à sociedade, sendo então faculdade
do juiz reduzir a pena;
Já a teoria sintomática do crime de tentativa indicada pela Escola
Positiva, entende que o fundamento de punição da tentativa deve se concentrar
na análise da periculosidade do agente.
Na tentativa se leva em consideração o dolo, ou seja, o desejo do agente
em cometer o ilícito procura-se então punir o ato e a preparação objetivando a
não redução da pena.
Uma vez que o caminho até o agente chegar a realização do crime vai
da cogitação criminosa até a consumação, dividido assim em duas fases: interna
e externa.
A fase interna, ocorre na mente do agente, ou seja, se dá na cogitação,
que é o momento em que o agente tem a ideia da pratica do delito, ou seja,
quando o agente tem a ideia de praticar o crime.
Já a deliberação, é o momento que o agente pondera sobre a atividade
criminosa arquitetada.
Enfim, a resolução é o momento em que o agente decide, efetivamente,
pratica o delito.
A tentativa possui ainda a fase externa, a qual ocorre no momento em
que o agente manifesta por meio de atos, seu objetivo criminoso, esse momento
se subdivide em:
Manifestação que é o momento em que o agente anuncia a quem queira
e possa ouvir a sua decisão de cometer o ato criminoso.
Apesar de não poder se punir esta fase como tentativa do crime
ambicionado, é possível tornar essa figura típica autônoma, a exemplo da
concretização do delito de ameaça.
A preparação do crime é a fase em que se expõe a ideia do crime,
através de atos, os quais começam a se consolidar a fim de alcançar o seu
objetivo que vai configurar uma verdadeira ponte entre a fase interna e a
execução.

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No direito brasileiro a preparação não é punida, uma vez que o agente
ainda não ingressou nos atos executórios.
Ainda assim, de forma excepcional, diante do caso concreto e da
importância da conduta do agente o legislador criou então um tipo especial que
prevê a punição de certos delitos, onde nesses casos específicos, existe então
a autonomia do crime consumado.
Segue alguns exemplos desse tipo especial: possuir substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante ou material destinado à sua
fabricação (art. 253, CP) não deixa de ser a preparação para os crimes de
explosão (art. 251, CP) ou de uso de gás tóxico (art. 252, CP), motivo que torna
a conduta punível pela existência de tipicidade incriminadora autônoma.
Já a execução, é a fase onde a conduta criminosa se realiza, a qual é
constituída, como regra, por atos convenientes e parecidos com o fim de chegar
ao resultado, mas também daqueles que representarem atos imediatamente
anteriores a estes, desde que se tenha certeza do plano concreto do autor.
A exemplo destes atos criminosos tem-se: comprar um revólver com o
dolo de matar a vítima (preparação), efetuar tiros em direção ao indivíduo (ato)
para chegar ao fim desejado matar.
Quando se fala em consumação, é o momento de consumação do delito,
onde se agrupam todos os tipos penais, assim o crime se finaliza no momento
em que todos os atos criminosos sessam, ou seja, quando percebem os atos
previstos no tipo, não sendo a consumação obrigatória.
A exemplo de esgotamento do crime pode-se observar o recebimento de
resgate mediante extorsão ou sequestro, o qual se consuma após a vítima ter
sido privada da sua liberdade, este ato nominado pela doutrina consumação
material. (NUCCI, 2020).
Analisa-se todo o processo de preparação até o momento da
consumação do ato ilícito, para assim punir o agente.

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4.2. Crimes que não admitem tentativa

Existem alguns crimes no Código Penal os quais não admite tentativa,


pelo fato no caso concreto: Delitos culposos, em casos de resultado involuntário,
ou seja, o agente não quis o resultado, foi um acidente, crimes preterdolosos é
quando o indivíduo tina o dolo de executar um tipo penal, mas acaba por cometer
um crime que não pretendia, a exemplo do roubo seguido de morte, o objetivo
do agente era roubar, mas por algum motivo ele acaba matando a vítima nesses
casos geralmente o segundo crime é mais grave que o primeiro.
Existem também os crimes unissubsistentes, aos quais são constituídos
por um único ato, a exemplo da ameaça verbal, o objetivo é intimidar a vítima,
no entanto o delito cessa rapidamente, se tornando o crime irrelevante.
Os crimes omissivos próprios também não admitem tentativa, pois ou o
indivíduo deixa de praticar a conduta configurando o tipo, ou ele pratica tornando
o crime atípico.
Os chamados delitos habituais próprios, não admitem tentativa, pois só
configuram crime quando determinada conduta é reiterada, ou seja, o agente a
pratica com habitualidade. Sendo casos isolados, se tornam irrelevantes.
As contravenções penais, também não admitem tentativa art. 4º da Lei
de Contravenções penais, uma vez que já são considerados crimes menores,
não se admite a tentativa neste tipo penal.
Ainda, os delitos condicionados, que são aqueles em que são
submetidos a outro para sua concretização, a exemplo do crime de induzimento
ou instigação ao suicídio, no entanto conforme prevê a lei, somente se configura
como crime caso haja lesão ou morte da vítima.
A doutrina ainda traz os crimes permanentes na forma omissiva, que é
por exemplo quando o carcereiro recebe um alvará de soltura e decide não dar
cumprimento, permanecendo assim preso o beneficiado do alvará, dessa forma
o carcereiro comete o delito de cárcere privado uma voz que foi omisso quanto
ao alvará que recebeu.

19
Também não admitem tentativa os crimes que punem apenas os atos
preparatórios de outros crimes, estes, via de regra não são punidos, a não ser
que esteja previsto em lei, os quais não admitem tentativa. (NUCCI, 2020)
Assim, os crimes culposos, preterdolosos, unissubsistentes, crimes
omissivos próprios, habituais próprios, contravenção penal, delitos
condicionados, crimes de atentado, crimes permanentes na forma omissiva,
crimes que punem somente atos preparatórios, não admite crime de tentativa.

4.3. Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Diz-se da desistência voluntária que ela ocorre quando o agente pratica


o ato mas desiste voluntariamente, é o caos por exemplo do agente que atira na
vítima, mas se arrepende e presta socorro, chama a ambulância e etc.
Para NUCCI (2020), é quando o agente desiste voluntariamente do
prosseguimento dos atos executórios do crime, assim, responde o agente
somente pelos atos que já praticou.
O agente quer praticar o ato, mas em sua consciência sabendo ser ilícito
se arrepende e opta pela desistência.
Existe também a chamada desistência momentânea que é quando o
agente desiste de avançar na execução do delito, porque entende que aquele
não é o melhor momento, ele pretende continuar em outra ocasião, assim, deve
ser beneficiado pela excludente, conforme pensamento doutrinário majoritário.
Já o arrependimento eficaz, é quando o indivíduo está terminando de
efetuar a ação e desiste, como por exemplo no caso em que o indivíduo rouba
um objeto e resolve devolver antes de ocorrer a denúncia do crime.
No arrependimento eficaz a desistência acontece entre o término dos
atos executórios e a consumação. O agente, já concretizou o ato criminoso, no
entanto resolve intervir para que o resultado não ocorra.

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NUCCI (2020) traz um exemplo de desistência voluntária:

(...) o autor ministra veneno a B; os atos executórios estão concluídos;


se nada fizer para impedir o resultado, a vítima morrerá. Por isso, o
autor deve agir, aplicando o antídoto para fazer cessar os efeitos do
que ele mesmo causou. Exige a norma do art. 15 do Código Penal que
o arrependimento do agente seja realmente eficaz, ou seja, capaz de
impedir o resultado. Não se aplica o benefício previsto neste artigo
caso o autor dos atos executórios, embora arrependido, não consiga
evitar que o resultado se produza, por qualquer causa. Exemplificando:
se o agente dá veneno, pretendendo matar a vítima, mas, antes que
esta morra, arrepende-se e resolve ministrar o antídoto; se o ofendido
não se salvar (seja porque o antídoto falhou ou mesmo porque a vítima
não quis ingeri-lo), responderá por homicídio consumado. (NUCCI,
2020. p. 454)

Apesar da desistência voluntária o agente ainda pode ser punido por


seus atos praticados ainda que preste socorro à vítima, o arrependimento eficaz
depende de que sua ação para impedir a consumação se torne eficaz, caso
contrário deverá responder, ainda que existem questões doutrinárias que
entendam a não necessidade de pena uma vez que o agente já desistiu, se
arrependeu da ação praticada.

5. TIPOS CULPOSOS

Existem alguns elementos do fato típico do crime culposo os quais são:


conduta (voluntária); tipicidade; resultado (involuntário); nexo causal; quebra do
dever de cuidado objetivo, por imprudência, negligência ou imperícia;
previsibilidade objetiva do resultado; relação de imputação objetiva.
Sendo, os principais elementos os quais o constitui se encontram
também no fato típico do crime doloso que são: conduta, tipicidade, resultado,
do nexo causal, assim como da relação de imputação objetiva.

21
5.1. Dever de cuidado objetivo

Dever de cuidado objetivo está ligado ao que se espera do homem


“comum” que seria o cuidado não só com o seu bem, mas também com o bem
alheio.
O dever de cuidado incide na obrigação a todos prevista, de observar os
cuidados necessários no dia a dia, a fim de não lesar bens alheios, a partir de
um padrão mediano, que se baseia no comportamento que se esperaria de uma
pessoa comum, de mediana precaução e discernimento.
Onde o fato que determinará a violação desse dever vai se dar pela
imprudência, negligência ou imperícia. (GONÇALVES. RIOS, 2020)
Cuidado e previsibilidade são requisitos para que a conduta seja
considerada culposa.

5.4. Resultado

Para que se chegue ao resultado da conduta ou ação, é necessário que


se analise alguns requisitos, os quais devem ser analisados: qual o dever de
cuidado objetivo na situação em que o fato ocorreu; deve se verificar se o
resultado produzido era objetivamente previsível; uma vez constatadas a quebra
do dever de cuidado impostas a todos e a possibilidade de prever o resultado,
conforme se espera de uma pessoa que possui mediana prudência e
discernimento, assim, o fato será considerado típico; sendo a tipicidade um
indicativo da ilicitude do comportamento, finalmente, deve se analisar a
previsibilidade subjetiva do resultado, ou seja, se o agente, conforme suas
capacidades pessoais, podia prever o resultado produzido, se presente, o sujeito
responderá pelo crime; se ausente, ficará excluída a culpabilidade.
(GONÇALVES. RIOS, 2020)
A tipicidade é o fundamento para se analisar a previsão de culpa do
agente.

22
5.5. Previsibilidade

O crime doloso se encontra previsto no art. 18, inciso II do Código penal:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984) Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I -
doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime culposo
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - culposo, quando o agente
deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Salvo os
casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Agravação pelo resultado (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1940)

O qual diz-se do crime doloso como algo que possui os requisitos e


negligência, imprudência ou imperícia para ser qualificado como crime.
Existem três modalidades de culpa, que se encontram instituídas de
forma expressa no Código Penal (art. 18, II): imprudência, negligência e
imperícia.
A imprudência, constitui a culpa revelada de forma ativa, a qual se dá a
partir do momento em que o agente quebra regras de conduta ensinadas pela
experiência, os quais se dão no fato de o agente agir sem precaução, de forma
precipitada, de forma ousada ou impetuosa.
Já a negligência, se dá quando o agente se comporta sem o devido
cuidado, onde a culpa que se revela na forma omissiva.
Por fim, a imperícia, se dá a partir da falta de capacidade para o exercício
de arte ou profissão. Podendo ser classificada de forma omissiva ou comissiva,
por alguém que não tinha capacidade, por falta de conhecimento ou
inexperiência. (GOLÇALVES. RIOS, 2020)
Identifica-se para configurar a modalidade culposa como um dos
requisitos o dever de cuidado.

23
5.6. Culpa consciente e dolo eventual

Observa-se que se o agente agiu de acordo com os cuidados devidos


ele não cometeu crime, no entanto se ele deixou de observar estes requisitos,
bem como pode se observar outros requisitos do crime culposo, o juízo verificará
se houve culpa consciente (com previsão do resultado) ou inconsciente (sem a
previsão do resultado), a fim de dosar a sanção cabível. (GONÇALVES. RIOS,
2020)
A culpa consciente é a culpa com previsão do resultado, ou seja, o
agente comete o fato, prevendo a probabilidade de ocorrer o evento, porém,
irrefletidamente, confia na sua habilidade, produzindo assim, por imprudência,
negligência ou imperícia.
Já a culpa inconsciente é a culpa sem previsão onde o sujeito não
consegue prever que o resultado possa ocorrer. O agente nem imagina que
possa dar causa ao resultado através de sua conduta imprudente.
(GONÇALVES. RIOS, 2020)
Tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual o autor prevê o
resultado, mas na culpa consciente o autor age com o intuito de evitar o
resultado, mas no dolo eventual o agente age com desinteresse.

6. CONCURSO DE PESSOAS

Diz-se do concurso de pessoas quando o crime for cometido por mais


de um agente, esta modalidade também recebe o nome pela doutrina de:
coautoria, participação, concurso de delinquentes, concurso de agentes,
cumplicidade.
Existe três teorias na doutrina que exemplificam o concurso de pessoas:
 Teoria unitária (monista ou monística), onde existindo pluralidade
de agentes, com condutas distintas, que levam a apenas um
delito, ou seja, um ato criminoso. Essa teoria é regra.

24
 Teoria pluralista (cumplicidade do delito distinto ou autonomia da
cumplicidade): existindo pluralidade de agentes, com condutas
distintas, ainda que gerando apenas um resultado, cada agente
responde por um delito. Vai culminar no chamado “delito de
concurso”, onde ocorrem vários delitos associados por uma
relação de causalidade. (GONÇALVES. RIOS, 2020)
Destarte, quando houver concurso de pessoas o juízo precisará
observar a função de cada agente para que possa separar entre autor e
partícipe.

6.1. Autoria e participação

O Código Penal em seu artigo 29 institui:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Se a participação for de
menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Se algum dos
concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de
ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1940)

Os participantes de um crime então poderão receber sua pena de acordo


com a participação no crime o que deverá ser investigado para saber quem
recebe maior e quem recebe menor penalidade.
A doutrina entende como teoria formal, quando o autor é quem realmente
efetiva o fato criminoso e partícipe é o agente que pratica atos não especificados
como tipo penal, sendo praticamente impune, havendo assim a regra de
extensão que o torna responsável. (GONÇALVES. RIOS, 2020)
Existem algumas doutrinas que ponderam sobre a condenação do
partícipe dizendo que o autor cometeu um ato ilícito, culpável e antijurídico,

25
enquanto o partícipe que apenas no exemplo de um assalto ficou do lado de fora
e dirigiu o carro, se deveria ou não ser condenado. Entende-se que sim pela
teoria da acessoriedade limitada.

7. ILICITUDE

A ilicitude ocorre quando o agente comete ato contrário a Lei Penal, ou


seja, um ilícito, conforme supra- citado aquilo que a lei configura como crime.
Conforme NOVAES e BELLO (2020), o fato antijurídico ou ilícito, é aquele fato
especificado em lei como ilícito, ou seja, como punível, a qual precisa ser
confirmada como lei em algum lugar para se tornar crime, ou seja, ilícito.
Para que se confirme um ato como ilícito, é necessária que se realize
uma análise dos elementos negativos, ou seja, faz-se necessário que haja
elemento que negam a ilicitude tornando o fato lícito.
Dessa forma as excludentes de ilicitude ou antijuridicidade se
encontram, em regra, previstas em lei, onde a lei tornou criminosos determinados
fatos nos tipos penais, podendo permiti-los por meio de normas de justificação.
(NOVAES. BELLO, 2020)
Destarte, o ato ilícito é o ato previsto em lei, ou ato contrário a lei.

7.1. Conceito e generalidades.

Para entender melhor traz-se o conceito de ilicitude, segundo o


entendimento de Grecco:

“a relação de antagonismo, de contrariedade entre a conduta do


agente e o ordenamento jurídico (ilicitude formal) que cause lesão, ou
exponha a perigo de lesão, um bem juridicamente protegido (ilicitude
material), ou seja, falar em ilicitude é preciso que o agente contrarie
uma norma. ” (GRECCO, 2017)

Podemos pensar na ilicitude sempre que o fato for típico, ou seja,


estando tipificado em lei como crime ele automaticamente se torna ilícito, no

26
entanto não estuda- se a ilicitude pelos seus elementos e sim pelas suas
excludentes.

7.2. Causas de exclusão da ilicitude

O art. 23 do Código Penal vai tratar das causas de Exclusão de ilicitude:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de


necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito. (BRASIL, 1940)

Desse modo as causas de exclusão de ilicitude podem ser classificadas


em: Legitima defesa; Estado de necessidade; Estrito cumprimento do dever
legal; Exercício regular do direito; Consentimento do ofendido.

7.3. Legítima defesa

7.4. Conceito

Segundo o entendimento de Mendonça e Dupret a legítima defesa é:

um direito de reação a uma agressão humana, atual ou iminente e


injusta. É preciso usar meios necessários e moderados. Ou seja, a
reação deve ser a suficiente para fazer cessar a agressão.
(MENDONÇA. DUPRET, 2018. p. 30)

A legítima defesa vai tratar de uma agressão injusta a um indivíduo, onde


o próprio ou outrem age em defesa do indivíduo agredido cometendo assim um
ato ilícito.

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7.5. Histórico

A legítima defesa se encontra instituída no art. 25 do CP, ocorre legítima


defesa quando o agente, utilizando-se moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão atual ou iminente a um direito próprio ou de terceiros.
A legítima defesa consiste em uma forma de autotutela a qual se
encontra autorizada pelo ordenamento jurídico penal.
A legítima defesa deve partir de uma agressão injusta a qual consista
em um ato humano oposto a um direito bem como um ato proibido, de forma
injusta pelo ordenamento jurídico.
Assim, somente agressões humanas típicas e antijurídicas podem ser
repelidas em legítima defesa. (NOVAES. BELLO, 2020.)
Ou seja, o direito de defender seus interesses, bens e principalmente a
vida.

7.6. Fundamento jurídico

Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. (BRASIL, 1940)

7.7. Requisitos

O requisito para que a excludente de ilicitude de legítima defesa seja


aceita, é o fato de risco, depende de uma agressão injusta, atual e iminente, a
qual não tenha cessado.
A ação de legítima defesa deve ocorrer no momento da agressão ou
iminente, ou seja, antes dela iniciar quando se percebe possibilidade de ocorrer
naquele momento.

28
Caso a agressão injusta incida sobre Direito próprio ou alheio, pode se
usar a legítima defesa a fim de defender qualquer direito, não havendo restrições
ou valorações para que se admita a defesa de um direito, no caso concreto deve
se observar a razoabilidade entre o direito que foi lesionado e o que se buscava
defender, ainda que não haja restrições objetivas.
O agente que pratica a legítima defesa deve agir com moderação,
utilizando somente os meios necessários ou seja, aquele proporcional à
agressão que se pretende repelir, quanto mais intensa a agressão, mais intenso
o meio necessário para repeli-la, assim terminada a agressão injusta, termina
também o meio de repressão a agressão, ou seja, caso o agente em situação de
legítima defesa permaneça os atos, pode ser punido de forma dolosa ou culposa.
(NOVAES. BELLO, 2020)
A legítima defesa pode ser classificada em: própria; sucessiva;
preordenada.
Quando se fala em legítima defesa própria ou de terceiros deve-se levar
em consideração o proprietário do direito protegido, pertencendo ao próprio
agente da legítima defesa, ela configura a legítima defesa própria, em caso de
direito alheio, ela será de terceiro.
Existe também a chamada legítima defesa sucessiva, ela ocorre quando
o agente da legítima defesa se excede, este cria uma nova agressão, a qual se
torna injusta, onde o agressor inicial agora busca se defender da agressão, agora
se tornando em situação de legítima defesa.
Já a legítima defesa preordenada consiste na utilização de mecanismos
de defesa, normalmente o que se pretende defender é o patrimônio, os quais
são instalados como prevenção a agressão que ainda não atual ou iminente, no
entanto estes mecanismos só serão utilizados contra o agressor quando a
agressão se iniciar. Ex.: ofendículos como a cerca elétrica, cacos de vidro etc.
(NOVAES. BELLO, 2020)
A legítima defesa deve ser usada como excludente de ilicitude quando o
agente causador estiver agido demasiadamente com o objetivo de impedir
injusta agressão.

29
7.8. Estado de necessidade

7. 9. Conceito

Estado de necessidade é quando o agente comete um ato ilícito


mediante uma necessidade, não era vontade do agente cometer tal ilícito, no
entanto ele opta por comete-lo mediante algum perigo atual e iminente.
É quando o agente pratica um fato típico contra um direito com o objetivo
de salvar outro, sendo essa relação razoável, que se configura quando o direito
que se buscou salvar tem valor maior ou o mesmo juridicamente que o direito
sacrificado.
É necessário que a ameaça seja atual ou iminente, ameaça essa que
não tenha sido provocada pela vontade (dolo) do agente, ainda que a culpa não
impeça o agente de ser beneficiado pelo instituto do estado de necessidade se
não havia como evitar.
No Brasil, o estado de necessidade possui teoria unificadora, onde ele
sempre é excludente de ilicitude. (NOVAES. BELLO. 2020)

7.10. Histórico

O objetivo do estado de necessidade é retirar do agente a culpa uma vez


que ele não agiu com dolo e sim pelo fato de estar sofrendo algum tipo de
coação.

7.11. Fundamento jurídico


O fundamento jurídico do estado de necessidade se encontra no art. 24
do CP:
Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº

30
7.209, de 11.7.1984) § 1º - Não pode alegar estado de necessidade
quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Embora seja razoável exigir-se o
sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL,
1940)

Assim instituído a ilicitude em casos que estejam de acordo com o


instituído no artigo supracitado.

7.12. Requisitos

Os requisitos para a excludente de ilicitude se encontram no art. 24 do


CP, onde estabelece as circunstâncias em que o caso concreto irá se encaixar
nestes requisitos.
O estado de necessidade será considerado defensivo quando o bem
atingido pertence ao causador do perigo, será agressivo quando alcançar
direitos de indivíduos os quais não tinham qualquer relação com o perigo que
ameaça o direito protegido. (NOVAES. BELLO. 2020)
Devendo então o estado de necessidade ser aplicado em casos em que
o bem pertença ao agente ou nos casos em que essa ação atingir bens alheios.

7.13. Excesso

A exceção se encontra no art. 24 § 1º onde versa que se o agente for


agente que tinha o dever legal de enfrentar o perigo, este não poderá alegar
estado de necessidade.

31
7.14. Estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito

7.15. Distinção e delimitação

Diz-se do agente que tem por obrigação agir daquela forma, ou seja
ainda que o ato se configure como ilícito, comete o ato em cumprimento do seu
encargo. Segundo NOVAES e BELLO (2020) não existe uma norma que trate
especificamente do estrito cumprimento do dever legal, o conceito é retirado do
próprio nome, ou seja, porque uma vez que este dever seja gerado de uma
norma jurídica, se torna então um dever legal.
Sendo, que este dever se origina de um fato previsto em lei como crime,
a exemplo da prisão em flagrante que seria considerada cárcere privado, mas
uma vez que é praticado por um agente em seu dever de fazer cumprir uma
norma se torna uma ação lícito.
O exercício regular do direito bem como o estrito cumprimento do dever
legal são notas penal em branco que aparece no art. 23 do CP.

Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Incluído pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - em legítima defesa; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) (Vide ADPF 779) III - em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984) Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1940)

Como exemplo de exercício regular de um direito, é o caso de uma


pessoa que se encontre sendo prejudicada em suas posses por exemplo, com o
fim de afastar os invasores, efetua disparos de arma de fogo, deixando um deles
ferido mortalmente.
Nesse caso, se observa que houve excesso, apesar de ser uma conduta
inicialmente lícita, o Código Civil, ao regular o desforço imediato na defesa da

32
posse, dispôs que: “os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse” (art. 1.210, § 1º). Podendo,
a excludente de ilicitude se fundar não só em normas jurídicas, como também
nos costumes, como ocorre no caso dos trotes acadêmicos, observando que os
trotes excessivos constituirão crime.
Existem outros exemplos bastante comuns onde a excludente de
ilicitude: intervenção médico-cirúrgica, o médico não pode entrar com uma
intervenção cirúrgica sem autorização do próprio paciente ou de pessoa
responsável, se menor, salvo em estado de necessidade aí sim o médico poderá
fazer uma intervenção cirúrgica antes de receber autorização do paciente.
Em casos de violência desportiva, sendo o esporte regulamentado
oficialmente, ocorrendo a lesão dentro das regras, o boxeador que provoca lesão
no oponente durante a luta não comete crime.
Existe também o flagrante facultativo (CPP, art. 301), onde qualquer
pessoa possui a faculdade conferida por lei para prender quem esteja em
situação de flagrante delito, assim o que der a voz de prisão não poderá ser
punido por sequestro (CP, art. 148) ou constrangimento ilegal (CP, art. 146).
(GONÇALVES. RIOS, 2020)

7.16. O consentimento do titular do bem jurídico

O consentimento do ofendido não está previsto em lei, mas é conhecido


pela doutrina como causa de ilicitude.
O consentimento do ofendido consiste em causa supralegal de exclusão
de ilicitude, embora não previsto em lei, a doutrina defende que a concordância
do ofendido exclui a ilicitude do fato, não estando previsto como elemento do tipo
penal.
Podendo aparecer como excludente de tipicidade: quando se encontra
previsto como elemento do tipo penal, expressa ou implicitamente, a aceitação
do ofendido precisa ser analisada na tipicidade formal, para verificar se há
adequação entre o fato e o tipo penal.

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Existe também a excludente supralegal da ilicitude: que é quando a
aceitação do ofendido não se encontra prevista no tipo penal o fato é típico,
sendo, nessas situações o consentimento usado como causa de exclusão
supralegal da ilicitude.
NOVAES e BELLO trazem alguns exemplos de excludente supralegal
de ilicitude:
Ex.: o crime de dano patrimonial, art. 163 do CP, não prevê o
consentimento do ofendido como elemento do tipo penal, o que
significa que o dano mesmo consentido é típico. Requisitos para que o
consentimento do ofendido exclua a ilicitude: capacidade – o ofendido
deve ser maior de 18 anos, ter plena consciência quando do
consentimento, não pode ser portador de doenças mentais ou estar
embriagado; validade do consentimento – não é válido o
consentimento obtido mediante coação, fraude, violência, ameaças
etc.; o consentimento deve incidir sobre direitos (bens) disponíveis – o
direito que será atingido mediante o consentimento do ofendido deve
ser disponível; tratando-se de direitos indisponíveis, o consentimento
não tem validade de excludente de ilicitude. Ex.: a vida é indisponível;
portanto, ainda que haja consentimento do ofendido, o homicídio será
crime; o consentimento deve ser anterior ou simultâneo à prática do
fato, e o consentimento posterior não exclui a ilicitude do fato.
(NOVAES. BELLO. 2020. p. 62,63)

7.17. Excesso

O excesso se dá quando na tentativa de proteger seu bem por exemplo


o agente usa de força excessiva, causando um dano maior do que poderia
causar se tivesse sido mais cuidadoso.

8. CULPABILIDADE

A culpabilidade é o elemento do crime, quando o agente comete uma


infração reprovável, o qual possui a finalidade de verificar se o agente que
praticou o fato típico e antijurídico deve ser ou não reprovado.
Levando em consideração determinados elementos pessoais a fim de
examinar se ele deve ser reprovado. (NOVAES. BELLO. 2020)

34
Não se exclui a culpabilidade no Brasil, uma vez que é um dos elementos
do crime, no entanto o Código Penal traz algumas excludentes de culpabilidade.
No Código Penal brasileiro, existe o julgamento das excludentes de
culpabilidade que permitem inferir quais os elementos que a compõem.
Portanto, o art. 21 isenta de pena quem pratica o fato do qual
desconheça o caráter ilícito (erro de proibição) já o art. 22 isenta de pena o
indivíduo o qual não se pode exigir outra conduta (inexigibilidade de conduta
diversa).
Os arts. 26 a 28 versam sobre às pessoas que não possuem capacidade
de perceber o caráter ilícito do fato bem como de se determinar a exemplo da
inimputabilidade.
Ao que se pode concluir que a culpabilidade, de acordo com o Código
Penal Brasileiro se resume da soma dos seguintes elementos: imputabilidade;
potencial consciência da ilicitude; exigibilidade de outra conduta. (GONÇALVES.
RIOS, 2020)
Assim, existem algumas excludentes de culpabilidade as quais eliminam
o caráter ilícito da ação.

9. IMPUTABILIDADE

9.1. Conceito

É a capacidade do agente de se autodeterminar capacidade de


entendimento de diferenciação entre o ato lícito e ilícito.
Para que se verifique se o agente possuía capacidade para agir de forma
diversa deve-se verificar, sua capacidade de culpabilidade.
Para Welzel a imputabilidade se define em dois momentos: um
cognoscitivo ou intelectual, que se entende como sendo, a capacidade de
entendimento do injusto e outro momento volitivo ou de vontade, que se entende
como sendo a capacidade do agente de se determinar de acordo com sua
compreensão.

35
Sendo que a imputabilidade é a capacidade de se autodeterminar entre
o lícito e o ilícito, ou seja, a capacidade de entender um ato como ilícito

Há três critérios para fixar a inimputabilidade ou diminuir a


culpabilidade: (a) biológico (sistema francês), que condiciona a
capacidade à saúde mental; (b) psicológico, que condiciona a
capacidade à inexistência, independente da causa, da faculdade de
entender o caráter ilícito do fato e de se autodeterminar conforme esse
entendimento; (c) biopsicológico, que é a união dos dois primeiros, isto
é, condiciona a capacidade à inexistência da faculdade de entender o
caráter ilícito do fato e de se autodeterminar conforme esse
entendimento, causada pela enfermidade mental. O Brasil adotou o
critério biopsicológico, com exceção da menoridade, que adota o
critério meramente biológico. (NOVAES. BELLO. 2020. p. 63, 63)

9.2. Menoridade

O CP, art. 27, institui: Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente


inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Ainda assim se observa o art. 228 da CF/88, que estabelece: São penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial.
Assim, a menoridade, atende ao critério puramente biológico, pois todos
os menores de 18 (dezoito) anos são inimputáveis, independentemente de
serem mais ou menos desenvolvidos mentalmente. (NOVAES. BELLO, 2020. p.
64)

9.3. Causas de exclusão da imputabilidade

As causas de exclusão da imputabilidade precisam estar presentes no


momento da ação, tornando o requisito temporal fundamental, o que significa
dizer que no momento da ação ou omissão criminosa é que deve ser analisada
a capacidade de entendimento e compreensão da ilicitude do ato, assim como a
possibilidade do agente de se autodeterminar.

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Existe a possibilidade de que, alguém se encontre são no momento da
conduta, mas que após venha a ter suprimida a sua capacidade em virtude de
doença mental.
Nesse caso, responderá normalmente pelo crime, mas haverá
implicações quanto ao rumo do processo ou da execução da pena, a depender
do momento em que surja a doença mental. (GONÇALVES. RIOS, 2020. p. 635)
Existem diversas situações onde se aplica a inimputabilidade, o juízo
deverá analisar o caso concreto usando das formas admitidas em direito para
analisar a real causa de inimputabilidade.

9.4. Embriaguez

A embriaguez é um dos casos conhecidos de afastamento de


imputabilidade, a qual decorre de caso fortuito ou força maior art. 28 do CP.

Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou
culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena o agente que,
por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) §
2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía,
ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(BRASIL, 1940)

Para que se aplique a inimputabilidade em casos de embriaguez o juízo


deverá observar se houve embriaguez voluntária ou involuntária, proveniente de
caso fortuito ou força maior.

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A embriaguez, via de regra não exclui a imputabilidade, mas aquela que
decorre de caso fortuito, poderá excluir a imputabilidade, no entanto a
embriaguez não poderá ser voluntária ou culposa. Conforme institui o art. 28, II,
quando voluntária ou culposa não há alteração na imputabilidade do agente.
Nos casos de embriaguez preordenada, a imputabilidade é mantida, por
ser voluntária (28, II), sendo a pena ainda agravada (art. 61, inciso II, letra l, do
CP).
Em casos de dependência química, não existe norma que trate desta
hipótese, devendo ser aplicado o art. 26, atendendo ao critério
biopsicológico, pois o agente precisa ser dependente químico de
substância entorpecente e esta dependência deve impedir
completamente o agente de compreender o caráter ilícito do fato ou de
se autodeterminar conforme seu entendimento. Caso a questão
envolva drogas da Portaria 344/1998 da Anvisa devem ser aplicados
os arts. 45 (inimputável) e 46 (semi) da Lei 11.343/2006, Lei de Drogas.
(NOVAES. BELLO. 2020. p. 65)

Além da embriaguez por caso fortuito ou força maior existe também a


embriaguez patológica, que é causada pelo vício do agente a qual também pode
ser considerada causa de inimputabilidade.

10. CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE

Existem agentes que agem de forma ilícita com consciência de sua


ilicitude, porém existem agentes que agem de forma ilícita, mas não possuem
consciência de sua ilicitude.
Uma vez que o agente venha agir com consciência e dolo de praticar o
fato típico, no entanto não possui consciência da ilicitude, o que afasta a
reprovabilidade, independentemente de a ação ser típica e antijurídica não será
culpável.
Destarte, não é culpável aquele que pratica o fato sem concordar com a
ilicitude, quando não se podia presumir a ilicitude dele.
O art. 21 do CP, versa que há erro de ilicitude quando o erro de proibição
é inevitável ou escusável, o agente é isento de pena, não há culpabilidade;

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quando o erro é evitável ou inescusável, há apenas diminuição de pena, devendo
ser condenado. (NOVAES. BELLO, 2020)
Existem situações em que o agente tem consciência da ilicitude de seu
ato, porém ele enfrenta uma determinada situação concreta onde não poderia
agir de forma diversa ainda que ilícito seu ato. “ Se o fato é cometido sob coação
irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de
superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. ” (art. 22 do
CP)

10.1. Erro de proibição

Os arts. 20 e 21 do Código Penal vão tratar do chamado erro de tipo ou


erro de proibição, o qual corresponde a um erro do agente quanto a tipicidade
de sua conduta.
Este tipo de erro exclui dolo, mas não impede o agente de ser punido
por crime culposo.
Quanto ao erro de tipo, se configura quando o agente não possui dolo,
ele simplesmente se confunde, diga-se assim, por exemplo, uma pessoa que sai
de um grande supermercado, dirigindo-se ao estacionamento e, entra em um
automóvel idêntico ao seu (mesma cor e modelo), assim, com sua chave, ele vai
embora para sua casa, levando embora coisa alheia móvel.
Caso o verdadeiro dono do veículo chegando percebesse o ocorrido iria
concluir que estava sendo vítima de um furto e, acionaria a Polícia.
No entanto como citado anteriormente o motorista desatento, nem
imagina que conduz automóvel de outrem, uma vez que pensa estar dirigindo
seu próprio veículo.
Assim, o que se entende sobre esse caso é que o instituto que se
encaixa é o do erro de tipo.
Já no erro de proibição, o agente tem plena noção da realidade, sabendo
exatamente o que faz, no entanto possui desconhecimento acerca de uma regra
de conduta.

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Violando, o agente alguma proibição pelo fato de não conhecer norma
penal que verse sobre o assunto.
A exemplo de uma pessoa que se depara com um relógio valioso na rua,
procura o seu dono, depois de muito procurar, não o encontrando decide ficar
com o relógio, acreditando de boa-fé, assim ele sabe que aquele objeto não é
dele mas toma posse porque desconhece o art.169, parágrafo único, II, do CP
define como crime o ato de se apropriar de coisa achada.
Assim, de acordo com a norma, o indivíduo que encontra um objeto
perdido deve devolver ao dono ou, em até quinze dias, confiar à autoridade.
Havendo então o erro de tipo, o desconhecimento do caráter ilícito da
ação do agente. (GONÇALVES. RIOS. 2020)
O erro de tipo pode ser identificado como um engano por parte do
agente, ou quando o agente pratica o ato acreditando que podia agir daquela
forma, como o caso do agente que furta algo de seu devedor porquê dessa forma
entende paga a dívida.

10.2. Descriminantes putativas

Quanto ao delito putativo por erro de tipo, o agente entende estar


cometendo um ato ilícito, quando na verdade não está, por exemplo: um
indivíduo que porta uma arma de fogo de brinquedo, mas acredita que ela é
verdadeira.
O indivíduo supracitado não pratica nenhum crime, no entanto pensa
que está praticando o crime. Aplica- se então, a figuram descrita no art. 17 do
CP o chamado crime impossível. (GONÇALVES. RIOS. 2020. p. 520)
Destarte, não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do
meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o
crime.
Existem ainda, outras configurações de delito putativo ou crime
imaginário, as quais são: Delito putativo por erro de proibição: onde o sujeito

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concretiza um fato que, na sua mente, é proibido por lei criminal, no entanto não
existe nenhuma normativa que proíbe tal ato.
Delito putativo por obra do agente provocador: essa figura se dá quando
o agente pratica um ato ilícito induzido por terceiro, a exemplo de um policial à
paisana o qual finge estar embriagado, buscando chamar a atenção de um
ladrão, diz que está com dinheiro na carteira, induzindo o ladrão a roubá-lo, o
qual ao fazê-lo, é preso em flagrante, o que conforme a doutrina não configura
crime.
O Supremo Tribunal Federal sumulou a tese de que “não há crime
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
consumação” (Súmula n. 145 do STF). Para nosso Pretório Excelso,
ocorre o crime impossível (CP, art. 17). O delito putativo por obra do
agente provocador também é denominado delito de ensaio ou delito de
experiência. A Súmula n. 145 do STF, anteriormente citada, somente
se aplicará mediante dois requisitos: a preparação (ou induzimento) do
flagrante pela polícia, somada à impossibilidade (absoluta) de
consumação do crime. (GONÇALVES. RIOS, 2020. p. 521)

Quanto a natureza jurídica das descriminantes putativas, ela se modifica


de acordo com a teoria da culpabilidade adotada.
Para GONÇALVES, RIOS (2020): No caso da teoria extremada, todas
as descriminantes putativas, sejam as que incidem sobre os pressupostos fáticos
de uma causa de justificação, ou as que recaem sobre os limites autorizadores
de uma excludente de ilicitude, as duas são tratadas como erro de proibição, no
entanto quando o erro do agente incide sobre os pressupostos fáticos, há erro
de tipo o chamado erro de tipo permissivo, caso incida sobre os limites
autorizadores, há erro de proibição o chamado erro de proibição indireto.

11. EXIGIBILIDADE DE COMPORTAMENTO CONFORME O DIREITO

11.1. Princípios gerais

O Código Penal, não regula de forma expressa o erro incidente sobre as


causas as quais excluem a culpabilidade. No entanto, tal discussão tem

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relevância conforme o art. 22 do CP, ou seja, da coação moral irresistível e da
obediência hierárquica.

11.2. Coação moral irresistível e obediência hierárquica

Coação moral irresistível é quando o indivíduo é coagido, impelido a agir


daquela forme ilícita mediante ameaça.
Quando existe a coação moral irresistível ou ocorre na obediência
hierárquica, o entendimento é de que não se pode exigir do agente uma conduta
diversa, tornando-o isento de pena a chamada exclusão da culpabilidade.
(GONÇALVES. RIOS, 2020)
Quando ocorre este tipo de conduta o agente se torna isento de pena,
uma vez que não cometeu o ilícito com dolo, mas sim por coação de outrem.
Ainda segundo o art. 20 § 2º do CP vai dizer que responde pelo crime o terceiro
que induziu o agente a erro. Sendo, que a ação do agente que pratica o erro se
torna atípica.

11.3. Escusas absolutórias

Uma das causas de escusa absolutória se encontra tipificada no art. 181


do Código Penal:

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos
neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) I - do cônjuge,
na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou
descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural. (BRASIL, 1940)

Havendo então a não tipificação da lei ter-se-á a chamada escusa


absolutória que é quando o crime não possui tipicidade.

Existem hipóteses em que o agente é isento de pena por expressa


determinação legal. Assim, não obstante a prática do delito –ação ou
omissão típica, antijurídica e culpável- a imposição de sua
consequência (pena/medida de segurança) resta obstada por causa de

42
natureza pessoal, fundada em razões de conveniência e oportunidade.
As escusas absolutórias encontram–se taxativa e expressamente
consignadas nos textos legais, mormente na parte especial dos
Códigos Penais (PRADO, 2004: 712. apud. BOZZI, 2016. p. 7)

Assim, o próprio código penal isento de pena certos atos ainda que a
conduta seja típica, antijurídica e culpável.
Havendo causas de extinção da punibilidade o Estado então está
renunciando do seu direito de punir, seja pelo fato de não-imposição de uma
pena, seja pelo fato da não-execução ou por interrupção do cumprimento
daquela já aplicada. (PRADO, 2004: 718. apud. BOZZI, 2016. p. 8)
O art. 107 do Código Penal traz um rol taxativo de causas extintivas de
punibilidade:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984) I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como
criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela
renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a
admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado
pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos
previstos em lei. (BRASIL, 1940)

Outra causa de extinção de punibilidade se encontra prevista na morte


do agente.
De acordo com o artigo 5.º, XLV, da CF, em respeito ao princípio da
pessoalidade da pena, a morte do agente que cometeu o crime extingue a
punibilidade.
Contudo, como explica Régis Prado, os efeitos civis da condenação uma
vez transitada em julgado permanecem, podendo a obrigação de reparar o dano
e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor patrimonial transferido
(conforme enunciado do artigo 5.º, XLV, 2.ª parte, CF) (BOZZI, 2016)

43
Ainda assim a anistia, graça ou indulto extingue a punibilidade, sendo a
anistia um ato do Congresso Nacional versa os artigos 21, XVII, e 48, VIII, CF,
que concedida antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, esta
extingue seus efeitos penais.
Ainda, PRADO (2004) preleciona que o elemento preponderante da
anistia os quais são os delitos políticos, não exclui sua aplicação tem caráter
excepcional em relação aos crimes comuns.
Uma vez concedida a anistia, o juiz, de ofício, ou a requerimento do
interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativo
do Conselho Penitenciário, declarará extinta a punibilidade (artigos 107, II, CP;
187, LEP). (BOZZI, 2016)
A Abolitio criminis, também se encontra entre as normas que extinguem
a punibilidade, é uma norma penal que revoga o tipo incriminador, e determina
o seja imediatamente reconhecida a extinção da punibilidade do processo na
fase em que estiver.
Fazendo ainda desaparecer todos os efeitos penais uma vez que já
exista sentença condenatória, com o advento da lei nova a conduta perde sua
característica de ilicitude penal, extinguindo-se a punibilidade (art. 107, III, CP).
A lei posterior mais benéfica retroage a fim de alcançar inclusive fatos
definitivamente julgados (art. 2.º, CP). Afastando por completo os efeitos penais
da condenação, persistindo unicamente os efeitos civis (PRADO, 2004: 722.
apud. BOZZI, 2016. p. 10)
Encontra-se ainda a renúncia como norma que não pode ser punida.
O cabimento da renúncia, somente nas ações penais exclusivamente
privadas, no caso do sistema dos Juizados Especiais Criminais não é possível
que se renuncie ao direito de representação no caso de ação penal pública
condicionada.
Poderá o Ministério Público oferecer denúncia, desde que não haja outra
causa extintiva da punibilidade (PRADO, 2004: 722).

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Assim, existem algumas formas de renúncia sejam elas expressa ou
tácita conforme o art. 104, caput, CP.
A renúncia expressa, ocorre por manifestação explícita, e tácita, assim,
caso exista a prática de ato contrário com a vontade de processar.
No caso de renúncia, tácita, admite-se todos os meios de prova (art. 57,
CPP). Já a renúncia expressa, obrigatoriamente clara e incontestável, deverá
constar declaração assinalada pelo ofendido, por seu representante legal ou
procurador com poderes especiais (art. 50, CPP), como bem observa Régis
Prado. (BOZZI, 2016. p. 11)
Perdão do ofendido, escusa absolutória, o perdão do ofendido é o ato
pelo qual, após dar início a ação penal exclusivamente privada, o ofendido
(querelante) ou seu representante legal desiste de dar prosseguimento a ação,
tendo sentido de desistência por ocorrer sempre após à propositura da queixa,
sendo facultado ao querelante, no decorrer da ação penal privada, perdoar o
querelado (ofensor), extinguindo-se assim a punibilidade do delito, conforme art.
107, V, do Código Penal.
Posteriormente, o perdão do ofendido, em crimes em que somente se
procede mediante queixa, impede, portanto, o prosseguimento da ação, artigo
105, do Código Penal. (BOZZI, 2016. p. 12) (BOZZI, 2016. p. 12)
O perdão judicial, escusa absolutória, é a capacidade que o juiz possui
de deixar de aplicar a pena nas hipóteses previstas em lei.
Assim, evidencia PRADO (2004), que apesar de perfeito o delito em
todos os seus elementos constitutivos a ação ou omissão típica, ilícita e culpável,
existe a possibilidade de o magistrado, mediante determinadas circunstâncias
que estejam legalmente previstas, deixe de aplicar a sanção penal
correspondente, outorgando o perdão judicial., o que trata de direito subjetivo do
réu, e não mera faculdade judicial (PRADO, 2004: 723-724. apud. BOZZI, 2016.
p. 13)
A retratação também é causa de escusa absolutória, é o ato de retirar o
que foi dito, ainda, conforme PRADO (2004), é um ato unilateral o qual

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independe de aceitação por parte do ofendido, o qual busca resguardar a
verdade, interesse esse superior da justiça.
Sendo, ato pessoal, a retratação feita por um dos querelados não se
aplica aos demais, tornando-se irrelevante se a declaração é espontânea ou não,
como os motivos que a constituíram, contudo, destaca PRADO (2004), o fato de
ser voluntária a retratação é algo imprescindível.
Destarte, a retratação extingue a punibilidade do agente somente nos
casos em que a lei permitir (art. 107, VI, CP), a exemplo dos casos de crimes
de calúnia e difamação (art. 143, CP); crimes contra a honra praticados através
da imprensa (art. 26, Lei 5.250/1967); crimes de falso testemunho e falsa perícia
(art. 342, § 2.º, do CP). (BOZZI, 2016. p. 13)
A decadência incide na perda do direito de ação pelo lapso temporal, a
qual se conceitua como a perda do direito de oferecer queixa ou de representar,
sendo, inadmissível o direito de queixa ou de representação o qual subsiste
indefinitivamente.
Salienta, PRADO (2004), após ser determinado o prazo decadencial, há
a extinção da punibilidade (artigo 107, IV, do CP).
Existindo a decadência apenas na ação penal privada ou pública
condicionada, podendo a prescrição acontecer em qualquer tipo de ação, onde
a vítima tem o prazo de 6 meses do conhecimento da autoria para representar
ou para oferecer a queixa (art. 38 do CPP). (BOZZI, 2016)
Já a Prescrição enquanto escusa absolutória, é relativa, ou seja, o
Estado, pela sua inércia não exercitou dentro do lapso temporal previamente
fixado, o direito de punir.
Destaca-se que a regra geral de prescritibilidade relativa a todas as
infrações penais não é absoluta, já que a Constituição Federal de 1988
estabelece a imprescritibilidade a prática do racismo e a ação de grupos
armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático
(art. 5.º, incisos XLII e XLIV).
Ainda assim, a prescrição da pretensão punitiva, onde, praticado o fato
típico, nasce a punibilidade, passando, o Estado passa a ter o direito de utilizar-

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se dos meios próprios a fim de dar início a persecução criminal, a qual irá resultar
na aplicação da pena ou da medida de segurança, surgindo para o Estado o
poder de punir o criminoso. (BOZZI, 2016)
Diante disso existem diversas situações tratadas pelo Código Penal
como excludente de punibilidade.
A exemplo das escusas absolutórias que são formuladas de modo
negativo, a fim de afastar a punibilidade do agente.

Assim, em ambas situações, o crime encontra-se perfeitamente


estruturado, somente a possibilidade de aplicação da pena é
sobrestado por considerações político-criminais. Portanto, no que se
refere a condição objetiva de punibilidade, sua ausência excluía
punibilidade do delito em relação aos demais coautores ou partícipes;
diversamente, a escusa absolutória –instituída de modo taxativo pela
lei –não se comunica aos eventuais partícipes que não apresentem as
características personalíssimas exigidas, pois são causas pessoais de
isenção de pena. (BOZZI, 2016. p. 25)

As escusas absolutórias, no entanto, possuem características


personalíssima, ou seja, causas especiais de isenção de pena que produzirão
seus efeitos de acordo com o caso concreto.

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12. REFERÊNCIAS:

BELLO, Rodrigo. NOVAES, Filipe. Manual de prática penal. 6. ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.

BOZZI, Claudemir Lopes. Punibilidade, escusas absolutórias e causas extintivas


da punibilidade. JUDICARE, revista eletrônica da faculdade de direito de alta
floresta. 2016. Disponível em:
<http://ienomat.com.br/revista/index.php/judicare/article/view/44/43> acesso
maio de 2021.

BRASIL, decreto lei n° 2848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>
acesso maio de 2021.

GONÇALVES, Estefam, André; RIOS, Victor Eduardo. Direito penal


esquematizado parte geral. Coordenador Pedro Lenza. 9. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020.

https://www.academia.edu/42991779/Codigo_Penal_Comentado_Rogerio_Gr
eco> acesso maio de 2021.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2020.

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