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CARLA FALOTICO
VITIMOLOGIA
MARÍLIA
2007
CARLA FALOTICO
VITIMOLOGIA
Orientador:
Prof.: José Eduardo L. dos Santos.
MARÍLIA
2007
FALOTICO, Carla
Vitimologia / Carla Falotico; orientador: José Eduardo
Lourenço dos Santos.
Marília, SP: [s.n.], 2007.
51f.
CDD: 341.53327
Aos meus familiares
Ao meu companheiro de todas as horas
Aos meus queridos amigos
AGRADECIMENTOS
A Deus, nosso Pai, pois sem Ele não somos capazes de nada.
A todos que de certa forma contribuíram para a elaboração deste trabalho, amigos, colegas de
trabalho, chefes...
Aos meus pais, pela colaboração e compreensão nos meus momentos de confinamento.
Ao meu namorado, pelo apoio moral e material, pesquisando textos e artigos para este
trabalho.
Ao professor José Eduardo, pela paciência e dedicação com que me orientou na elaboração
deste trabalho.
Aos meus cães, gatos e hamsters, que se comportaram nos momentos de concentração e me
alegraram nos momentos de descanso.
“O caminho para estar fora de perigo
é nunca sentir-se seguro”
Ben Franklin
FALOTICO, Carla. Vitimologia. 2007. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado
em Direito), Centro Universitário Eurípedes de Marília, Fundação de Ensino Eurípedes Soares
da Rocha, Marília, 2007.
RESUMO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 08
CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 49
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INTRODUÇÃO
vítima em relação ao delito e ao delinqüente. Este tema é ainda pouco discutido no Brasil,
atualmente, entre as prioridades dessa sociedade não está a segurança, ou seja, os indivíduos
esperam muito dos governos em relação à segurança, contudo esquecem-se que tomando
algumas precauções podem afastar a possibilidade de serem vítimas de delitos. Por isso
entendo ser importante o estudo das vítimas, principalmente para se traçar um perfil de uma
Daí a iniciativa deste trabalho em realizar uma compilação de tudo que já foi discutido
que já foi alcançado, bem como o que ainda se deve alcançar em relação às vítimas e à
criminalidade.
preliminar de que é a pessoa quem sofre as conseqüências de uma conduta lesiva praticada
por alguém, até se chegar ao conceito que inclui também a pessoa jurídica nos estudos
vitimológicos.
vítima ganhou destaque dentro dela, até levar seus estudiosos a propor à vitimologia o status
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estudo da vítima como sujeito passivo de crimes, em seus aspectos físico, psicológico e social
Veremos como essa vitimologia se desenvolveu desde sua “criação” com a macro-
como deve se organizar, a exemplo dos Estados Unidos, entre outros países, para dar
Concluiremos com este trabalho que o Brasil, a exemplo de grandes potencias como
implementação de leis e medidas de proteção, buscando minimizar os danos por elas sofridos.
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Etimologicamente, a palavra vítima tem sua raiz no latim, derivando de vincire que
significa atar, ligar, referindo-se aos animais sacrificados aos deuses após a guerra, os quais
ficavam vinculados ao ritual em que seriam vitimados. Deriva também de vincere que
significa vencer, vencedor sendo a vítima o abatido, vencido. Este conceito básico é utilizado
por vários doutrinadores, entre eles Lélio Braga Calhau e Ester Kosovski que acrescenta a ele
Com isso podemos ver que vítima é aquela quem sofre alguma lesão decorrente da
conduta delituosa de um outro agente, ou seja, aquele que vê sacrificado algum bem jurídico,
dependendo do assunto que é tratado. Como salienta Mayr (1990) no campo jurídico, esse
termo – vítima – será aplicado quando se relacionar a crimes contra a pessoa, ou seja, quando
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patrimônio, esta vítima será chamada de lesado e, nos crimes contra a honra e os costumes é
No conceito de Greco, será relevante para esse estudo o segundo tipo de vítima
apontado, ou seja, o “titular do interesse concreto”. Contudo, a mesma autora demonstra que
não deve ser considerada somente a pessoa física, mas também, a pessoa jurídica como
podemos observar:
Assim, temos como vítima todo e qualquer ente – físico ou jurídico – que possa ser
lesado por uma conduta delituosa (sujeito passivo do delito). Neste sentido, temos vítima e
Com isso o estudo do crime limita-se ao estudo deste e do criminoso; a vítima é simplesmente
Entretanto, como ressalta França (1998), ao citar Hans Von Hentig, “a relação entre o
autor e a vítima, em determinado delito, não é tão mecânica como aparece nos códigos”, isso
porque em certos delitos são as vítimas que modelam, e que dão forma ao delinqüente. O
autor chega a afirmar que da personalidade da vítima seria possível deduzir a personalidade
do criminoso.
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A partir dos estudos de Benjamin Mendelsohn a vítima passou a ser estudada como
parte e, também, fator determinante no delito. Assim, o vitimólogo israelita criou a primeira
infrator, trazida no artigo de Sandro Nogueira (2004) e também no trabalho de Piedade Júnior
própria vitimização;
delito, que sua conduta favorece a ocorrência do crime; e vítima por imprudência
aplicável nos casos de acidentes, quando ela determina o acidente por falta de
cuidados;
vítima infratora, no caso de legitima defesa em que o agressor deve ser absolvido
posto que defendia-se de agressão injusta real ou iminente por parte da vítima; e
vítima simuladora a que, buscando fazer justiça num erro, premedita o crime para
- Primeiro grupo: vítimas inocentes ou ideais sendo as que não tiveram participação na
para que o agente infrator alcance seu objetivo. Há aqui uma culpabilidade recíproca, devendo
são as vítimas que cometem por si só a ação lesiva devendo, o não culpado, ser absolvido,
Almeida (2007) nos aponta ainda a classificação de Von Hentig, que divide as vítimas
defesa) e a vítima coadjuvante sendo a que, por imprudência ou má-fé cooperam para a
Filho, que as divide em: inocentes, as que não colaboram para o resultado; natas, as que por
seu comportamento agressivo e prepotência contribuem para o crime; omissivas, que não
abrangendo as que nada contribuem para que o crime ocorra; e acidentais sendo as que se
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encontram nos locais de crimes, ficando assim sujeitas a ele, por exemplo, um cliente de
vulneráveis que são tidas como as mais frágeis (crianças, idosos, etc.) ou minorias
policial; a testemunhal constitui a que sofre ameaça ou sevícia, algumas vezes até por
policiais; e, por fim, a vitimização pós penitenciária sendo esta a exclusão social daqueles que
Uma classificação mais singela e prática seria a que França aponta em sua obra:
vítima começou a ganhar espaço dentro do estudo do crime, dando atualmente a ela maior
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justiça, vez que sua conduta influencia na penalização da conduta do agente ativo.
vitimização, ou seja, o caminho percorrido pelo indivíduo até se tornar vítima, quer das
próprias ações, quer das ações de terceiros ou de fatos da natureza. Esse processo é dividido
em várias fases como nos mostra Nogueira (2004 apud Oliveira, 2001):
1. intuição, também chamada de intuito: a vítima coloca em sua mente a idéia de ser
ofensor;
custo, ser atingida pelo resultado querido pelo agressor ou deixa-se vitimizar;
Esse processo de vitimização é facilitado por vários fatores cotidianos, tais como a
mídia, principalmente a televisiva, que tornou-se escola para criminosos e vítimas ao exibir
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crime a única opção de quem não tem como sustentar a si próprio e a sua família e também
legitima defesa e ser preso até que se prove essa excludente, encoraja delinqüentes a
infantil, o preconceito racial e também daquele que já pagou pelo seu crime e a posse de arma
de fogo em casa que acabam vitimando os próprios moradores, por motivos fúteis (brigas de
Assim, podemos concluir que o indivíduo pode tornar-se vítima não somente por
deixar de tomar os cuidados necessários a sua proteção mas também pela ausência de
informação e educação da nossa sociedade, gerando assim uma ocorrência maior de delitos.
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CAPÍTULO 2 – CRIMINOLOGIA
desta ciência. Segundo França, a criminologia “preocupa-se com os mais diversos aspectos da
vocábulo foi atribuído primeiramente ao italiano R. Galofalo dando titulo à sua principal obra,
todavia, há quem diga que o termo já teria sido anteriormente utilizado na França, por P.
Topinard.
Quetelet (1796-1874), que entendia a criminalidade como “fenômeno normal da vida social”
em que se deveria levar em conta fatores como clima, estação, sexo, profissão, raça, etc..
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Afirma que a sociedade prepara os crimes, o criminoso apenas os executa; concepção esta
Lyra (1990) nos mostra que esta ciência surgiu da sociologia, mais especificamente,
na Física Social de Quetelet, que contribuiu para o esboço daquela, buscando conhecer o
criminoso no qual encontrou, na base de seu crânio a fosseta occipital média, característica do
seguinte hipótese:
Embora tendo seu estudo se baseado no físico, Lombroso não deixou de lado a
influência do meio social, ou seja, os criminosos são produto da sociedade que os modela e
Enrico Ferri (1856-1929), precursor da sociologia criminal, que apresentou uma classificação
mais detalhada dos criminosos, sendo eles natos, loucos, passionais, ocasionais e habituais.
Ressalta Lyra (1990), que Ferri relacionou o número de crimes com as condições ordinárias
Foi Ferri quem criou as penas substitutivas (substitutivos penais) com o objetivo de
prevenir os crimes.
Criminal que tem como fim o estudo das “causas da criminalidade e da periculosidade
contudo voltada para as causas internas, sendo estas voltadas para o individuo, as causas que
criminoso, ele não nasce criminoso. O autor admite que existem criminosos doentes, e não só
doentes mentais, cujas ações podem resultar ação ou omissão criminosa, porém, nem todo
louco virá a se tornar um criminoso assim como nem todo criminoso apresenta traços de
loucura.
No Brasil, a criminologia teve inicio com Tobias Barreto (1839-1889), como aponta
Lyra (1990). Para ele, o crime era conseqüência dos “vícios da organização social”, dentre
Nesta mesma linha de pensamento, temos também o brasileiro Silvio Romero (1851-
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1914) pregando que o “homem tem a feição do meio que habita”, dando como exemplo os
autor do primeiro livro de criminologia aplicada, seguido por Euclides da Cunha (1866-1909),
à uma descrição psíquica minuciosa e por Júlio Pires Pôrto-Carrero (1887-1937) que primeiro
delinqüente e do delito por ele praticado, todavia, seu objeto, após o redescobrimento da
Assim, a “moderna criminologia”, nos termos de Molinas (1997), permite uma melhor
CAPÍTULO 3 - VITIMOLOGIA
Administração da justiça penal, até então exercida pelo particular, para o Poder Publico, a
vítima passou a ser mero elemento de prova testemunhal no processo penal. Esse quadro não
se alterou com o advento do Iluminismo no século XVIII cuja preocupação no campo penal
autor e o ambiente no qual o crime ocorreu e depois estudar juridicamente o delito em si, se
viu necessário o estudo da vítima que como já demonstramos, exerce um papel significativo
na eclosão dos delitos, formando assim, não mais um binômio, mas sim um trinômio:
que constituem segundo Greco (2004) “uma série de postulados vitimológicos no qual se
para que este ocorresse” e, apesar da vitimodogmática dar a impressão de uma co-
culpalização da vítima diante do crime, não é o que ocorre, ela apenas busca atribuir uma
Essa redescoberta da vítima não busca uma regressão à vingança privada, mas sim,
sistema legal, a sociedade, etc., bem como identificar suas expectativas e seus anseios por
deriva da palavra vítima e da raiz grega logos significando o estudo das vítimas.
“Vitimologia.
(dir. pen.)
Estudo do comportamento da vítima frente a lei, através de seus
componentes bio-sociológicos e psicológicos, para a apuração das condições
em que o indivíduo pode apresentar tendência a ser vítima de uma terceira
pessoa (o delinqüente) ou de processos decorrentes dos próprios atos, tais
como os acidentes de trabalho ou de circulação. O termo foi criado por B.
Mendelsohn, advogado em Jerusalém, tendo este estudo se desenvolvido por
obra do criminologista Hans Von Hentig. Discute-se ainda para saber se a
vitimologia é uma ciência autônoma ou um capítulo da criminologia geral.
B. - Edgard de Moura Bittencourt, Vitimologia com ciência, in Revista
Brasileira de Criminologia e Direito Penal, ano I, nº 1, abril-junho de 1963.”
(SOIBELMAN)
do crime ou do criminoso, mas em todos os ramos das ciências sociais, daí o seu caráter
jurídico.
também, as variáveis que intervêm no processo de vitimização e como estas influem no modo
como o delinqüente escolhe a sua vítima ou esta percebe seu agressor e seu modus operandi.
O risco de uma pessoa vir a ser vítima não depende de fatalidades ou azar mas sim, de
certas circunstâncias concretas, passiveis de verificação, como ressalta Molinas (1997), que
prevenção, por meio de orientação e informação a fim de evitar que outros indivíduos venham
1997)
Molinas (1997) também nos mostra que o delito não acarreta na vítima somente o
dano decorrente da lesão ou ameaça de lesão do bem jurídico, ocasiona também um sério
e temor de que ele se repita. Essa vítima sofre também uma estigmatização da própria
sociedade, destinando à ela, não sentimento de solidariedade e justiça, mas sim, mera
Os policiais e juízes, que exercem o controle penal formal, agravam ainda mais, com
sua extrema burocracia, o dano ocasionado pelo delito nas vítimas não levando em conta seus
anseios e necessidades, fazendo com que ela sinta-se menosprezada, tratando-a como se fosse
Essa situação produz uma vitimização secundária, ainda mais preocupante que a
vitimização primária, produzida pelo delinqüente, pois a vítima deixa de confiar no sistema
legal, passa a não notificar a ocorrência do delito gerando impunidade dos criminosos e,
Não é raro também infratores que, antes de delinqüir, foram também vítimas de
delitos. Por esta razão, a vitimologia vem chamando a atenção para a criação e implementação
remonta desde a antiguidade, embora sem a clareza científica da vitimologia atual, como
podemos verificar através dos Códigos e Leis antigos, dentre eles o Código de Ur-Nammu, as
Leis de Eshnunna, o Código de Hammurabi, o Alcorão, o Código de Manu e a Lei das XII
Tábuas.
dois anos após seu término, em decorrência do sofrimento dos judeus pelo nazismo de Hitler
que teve como resultado milhões de mortos, feridos e desaparecidos que chocou o mundo e
Com isso, o estudo da vítima, que se encontrava esquecida desde a época da vingança
privada, voltou a ter importância deixando de ser o Direito Penal, o Direito dos Criminosos,
Nos mostra Calhau (2002) que o estudo da vítima teve como seu precursor Benjamim
Bucareste cujo tema foi “Um horizonte novo na ciência biopsicossocial: a vitimologia”.
No ano seguinte o tema foi abordado por Hans Von Hentig ao divulgar sua pesquisa
Após estes estudiosos que deram o primeiro passo, outros vieram a discutir o tema,
com destaque para Vasile Stanciu autor de grandes obras sobre sociologia criminal, com
1965 à América Latina, com Jimenez de Asúa, sendo ali o primeiro jurista a se ocupar dela
Israel, onde foi realizado no ano de 1973, na cidade de Jerusalém, sob a supervisão de Israel
Após este, vários outros simpósios foram organizados ao longo dos anos pelo mundo:
1976 em Boston, Estados Unidos; 1979 em Münter, República Federal da Alemanha; 1982
criminoso, fez com que Mendelsohn propusesse à ONU que considerasse a vitimologia como
uma ciência e não mais como um desdobramento da criminologia, o que foi objetado por
Pinatel sob o argumento de que criminoso e vítima são indissociáveis, sendo a criminologia e
como abrangente.
Todavia, este argumento posteriormente fora refutado por Mendelsohn, que ao ampliar
conceitual que transcende o estudo das vítimas criminais, que a vitimologia era considerada
por Mendelsohn e hoje, por vários outros estudiosos, como ciência autônoma.
a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça para as Vítimas de Delitos e Abuso de Poder,
vitimologia no país.
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Com isso, vemos que a informação da vítima é uma forma de garantir seus direitos e é
este o trabalho dos grupos de apoio às vítimas, sejam eles governamentais ou não-
governamentais. A informação permite à vítima não somente uma melhor instrução com
provas, mas com conhecimento básico das leis, podendo verificar se seus direitos estão sendo
sua proteção são uma demonstração de que a vítima saiu de sua inércia em relação ao crime,
solidariedade. Calhau mostra que, em decorrência disso, faz-se necessário falar da vítima não
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só nos Tribunais como nos mais variados lugares. Isso levou a Escola de Chicago a estudar o
Países como Alemanha, Grécia, Portugal e Itália, vem criando legislações semelhantes
a nossa Lei 9.099/95 (Lei das Contravenções Penais), e instituindo a reparação do dano à
vítima como medida de política criminal, buscando substituir as sanções por outras menos
passou a vigorar em abril de 1987. Entre os direitos assegurados por esta lei à vítima, estão o
ser assistida por um advogado, emprego da ação civil, isenta de custas para a reparação dos
O Código Penal de Portugal em seu artigo 129 também prevê que a legislação especial
garantirá, por meio da criação de um seguro social, a indenização da vítima que não puder ter
Foi nos Estados Unidos que este movimento ganhou mais força como ilustra Calhau
(2002). Em 1975, foi fundada a Organização Nacional para Assistência (NOVA), sendo a
Nacional dos Direitos da Vítima e também instruindo a alocação de recursos, a fim de dar
impossibilitadas de trabalhar.
Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, um fundo exclusivo para as vítimas (VOCA),
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onde são depositados milhões de dólares todos os anos, e o Departamento de Justiça, criou a
OVC (Office for Victms of Crime), fornecendo fundos para a assistência da vítima e sua
trazidos por Calhau (2002) existem nos E.U.A. cerca de 10.000 organizações que prestam
ajuda a evitar que as pessoas se tornem vítimas da violência, que a comunidade investindo na
prevenção do crime torna-se mais forte, segura e unida para enfrentá-lo. Foi o que procurou
demonstrar uma pesquisa realizada pela organização educacional privada NCPC (National
Crime Prevention Council) em conjunto com a ADT Security Services, Inc (uma das maiores
empresas provedora de segurança eletrônica doa E.U.A.), com o titulo “nós estamos
seguros?”
Heitor Piedade Junior, citado por Calhau (2002) nos mostra que movimentos
acadêmicas, e não apenas jurídica e na Austrália a “The Victim Support Service Inc. of South
Australia”, que fornece apoio as pessoas que sofrem danos resultantes de crimes.
favor da vítima, seu tratamento passa a integrar o exercício efetivo do conceito de cidadania.
No Brasil, essa proteção à vítima ainda está engatinhando mas, como diz Calhau, as
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“Delegacia da Mulher”.
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Atualmente temos o que podemos chamar de criminalidade oculta vez que nem todos
os delitos que ocorrem são levados a conhecimento das autoridades policiais e judiciária (cifra
negra) devido ao medo de represálias ou pela descrença na justiça penal, fazendo com que as
direcionados às vítimas dos delitos, sem levar em conta as estatísticas oficiais, como aponta
mais adequada para quantificá-la e identificar suas variáveis”. Permitem identificar variáveis
como idade, nível econômico e sexo das vítimas em cada tipo de delito, facilitando os
programas de prevenção.
de renda nas mão de poucos, desemprego, desnutrição infantil e falta de saneamento básico e
conseqüências de sua conduta mas também orientando o Poder Público na prevenção dessas
causas de vitimização.
Nosso Código Penal, em seu artigo 59, orienta o juiz na primeira fase de fixação da
pena, levando em conta não só o agente ativo ou as circunstâncias, mas também a vítima,
sendo o primeiro dispositivo legal que permite a aplicação da vitimologia. Assim dispõe o
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artigo:
Com base neste artigo, o juiz deverá fixar o tipo de pena, sua quantidade, o regime de
de base para uma atividade jurisdicional, nele mencionadas. A reprovação equivale à punição
do agente pelo delito praticado, já a prevenção está não só em fazer com que o agente não
volte a delinqüir, como também em evitar que outras pessoas venham a delinqüir pelo medo
da punição.
2006)
Estas circunstâncias são descritas por Barreiros (2006), detalhadamente em seu artigo.
acertado não considerar antecedente, nada além das ocorrências criminais, já que o artigo 59
traz circunstâncias mais apropriadas para a análise desses outros fatores. Deve se ressaltar que
os crime prescritos não devem ser levados em consideração neste caso, embora haja
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entendimento diverso.
encontra inserido, seu comportamento familiar, no trabalho, na vizinhança. Esse fator faz com
que o juiz conheça a pessoa que está julgando a fim de analisar se merece maior ou menor
reprimenda.
A personalidade do réu, não pode ser confundida com maus antecedentes, servindo
culpabilidade
elemento psicológico que propulsiona a conduta e, para dosagem da pena, deve-se levar em
O processo de fixação da pena, como demonstra Barreiros (2006), ao citar Nucci, é ato
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estabelecidos na lei para o determinado delito, estabelece o quantum de acordo com seu
suficiente para aquele delito e aquele delinqüente. Essa limitação está exatamente na
recurso. Estando a parte inconformada com a decisão, irão exercitar e fundamentar seu direito
aos pontos desfavoráveis ao infrator, vez que, para fixação da pena o juiz parte do mínimo
previsto em lei e a pena final não pode ser inferior a esse mínimo. Presume-se assim que as
O Código Penal, como ressalta Damásio (2003) adotou o sistema de fixação de pena
de Nelson Hungria, que a divide em três fases. Na primeira, o juiz deve considerar primeiro as
pena abstrata, para depois levar em conta as circunstâncias legais genéricas, sendo elas as
Essa posição é questionada pela doutrina, pois pode levar o juiz a considerar duas
vezes a mesma circunstâncias, ou seja, ao fixar a pena base levaria em conta, por exemplo, o
motivo, com fundamento no artigo 59, e depois, na segunda fase, consideraria o mesmo
Essa discussão, contudo, segundo Damásio, não é correta, tendo em vista que o juiz,
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O artigo 68 do Código Penal trata da aplicação da pena, disciplinando que esta se dará
segundo os critérios do artigo 59, já estudado no item anterior, seguida da aplicação das
tipo sem as quais este não existe ou pode se configurar em outro, das circunstâncias que,
como aponta Capez (2005), são dados que se agregam à figura típica sem alterar o tipo,
referido artigo são judiciais, pois são fixadas pelo juiz, de acordo com seu convencimento. Já
quando presentes, devem obrigatoriamente ser apreciadas pelo juiz, ficando a critério deste
Neste artigo 68, podemos observar o sistema trifásico de aplicação da pena de Nelson
Hungria. O artigo 59, com suas circunstâncias judiciais é a primeira fase desse sistema, não
bastando a mera menção à essas circunstâncias, sendo necessária sua fundamentação, sob
pena de nulidade do ato decisório, seguida das circunstâncias legais que atenuam ou agravam
existe qualificadora no caso em análise uma vez que a qualificadora altera a pena base, como
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ressalta Capez (2005) citando o exemplo do homicídio, cuja pena base está entre 6 e 20 anos,
todas as atenuantes a seu favor, posto que a lei não estabelece quanto deve diminuir ou
aumentar.
vista que a lei traz previsão de quanto deve aumentar ou diminuir, a pena final aplicada pode
ficar abaixo do mínimo ou acima do máximo previsto para o tipo penal do caput.
deve-se levar em conta primeiramente as que digam respeito à personalidade do agente, aos
Nos ensina Capez (2005) que as circunstâncias judiciais do artigo 59, além de
cumprimento da pena final fixada, devendo também ser fundamentada com base nelas a
Após a década de 60, a violência deixou de ser exclusividade das ruas, passando a
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invadir o espaço doméstico, até então não observada pela criminologia e vitimologia
tornando-se objetos de estudo. Foi o que ocorreu com a criança maltratada na década de 60, a
mulher que sofre com a violência conjugal em 70, as vítimas de abuso sexual em 80 e o idoso
A ênfase alcançada pela vitimização familiar fez com que a vitimologia voltasse seus
olhos para esta nova realidade e adaptasse seus conceitos a fim atender as necessidades dessas
novas vítimas e transformar a estrutura dessas práticas sociais que favorecem a vitimização.
Outra corrente teórica apontada pelo autor é a vitimologia critica, ocupada de todas as
“criminologia dos direitos humanos”. Esta corrente teórica foi uma reação à corrente anterior,
criticando seu enfoque individualista. Essa corrente é mais focada na situação do sistema
judiciário, vez que, embora os direitos sejam legalmente reconhecidos, nem todos os cidadãos
Aponta também a vitimologia atual, surgida nos anos 80, com a crescente politização
visão de vítima inocente e criminoso culpado e a enfatizar-se os crimes ocorridos nas ruas.
identificar, como demonstra Maia (2003), em que medida a vítima interfere para o
direcionam as ações de seus agressor e em quais delitos sua participação é de maior ou menor
importância.
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Essas informações servem de base para a elaboração de textos legais, como é o caso
do nosso Código Penal que prevê vários crimes onde a participação ativa da vítima é
vítima, levando o agente a cometer o crime sob forte emoção ou em caso de eutanásia onde a
2 - rixa (artigo 137 do CP) onde vítimas e criminosos se misturam, tornando difícil
3 - estelionato (artigo171 do CP), crime que ocorre devido a ganância da vítima que na
4 - corrupção ativa e passiva (artigo 317 e 333 do CP), esses dois tipos não ocorrem
necessariamente ao mesmo tempo, mas quando ocorre as vítimas são tão culpadas quanto os
infratores;
contudo, na prática, não é o que ocorre. Ainda estamos muito atrelados ao estudo do crime e
de seu autor, deixando de dar atenção a quem estes atingiu; mesmo quando estamos
defendendo o autor, deixamos de levar em conta a vítima quando esta poderia diminuir ou até
Esta é uma nova preocupação dessa ciência, contudo, os estudos a ele relacionados ainda não
são consistentes. Assevera Calhau (2002), que o crime organizado vem derrotando o sistema
desorganizada.
Podemos ainda citar outros casos onde a participação da vítima pode ser muito
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outros.
vitimológicas a fim de identificar o que torna essa sociedade tão vulnerável a esse crime
organizado como, por exemplo, o trafico de drogas, gerando subsídios para a elaboração de
que torne-se vítima de fato, uma vez que incitando a pratica do delito, não coloca somente a si
em risco mas também a sociedade, já que o crime é perturbador da paz pública. (ROIDIS,
2000)
repressão ao delito bem como apontou importante roteiro para a elaboração de políticas de
prevenção dos mesmos, não só orientando o legislador no sentido de reformular as leis como
também na prática de meios de orientação das vítimas em potencial em relação a todo tipo de
seminários nacionais e mundiais, uma delas é a Sociedade Mundial de Vitimologia que realiza
países.
No Brasil não poderia ser diferente. Em janeiro de 1984, foi fundada no Rio de Janeiro
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sobre vários temas como a vitimização pelas drogas, as vítimas do abuso de poder, as
Catarina que busca facilitar o acesso de todos aos seus direitos fundamentais, principalmente
que presenciamos nos jornais todos os dias, como expõe Almeida (2007).
Entre eles temos os crimes contra o patrimônio que, na maioria das vezes se dão pela
necessidade de se adquirir recursos para o consumo de drogas. Neles temos como vítima não
só individuo que teve seu bem subtraído como também o delinqüente que por conseqüência é
vítima dos chefões do tráfico. Esses crimes podem ser diminuídos com uma forte campanha
É o que ocorre também com o abandono intelectual, que consiste em não providenciar
a educação primária do filho. Esse abandono se dá, na maioria das vezes, por
desconhecimento dos pais de que essa conduta é crime ou até, como ocorre no interior do
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país, pela dificuldade do acessão à escola e pela ajuda do filho no trabalho da roça. O governo
já tem implementado programas a fim de corrigir esta situação, dentre eles o bolsa família,
delas se dá dentro de bares e padarias e a maior parte dos envolvidos encontra-se em estado de
embriaguez. Assim uma prevenção sobre o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas pode
Nos crimes sexuais, a maioria das vítimas deixa de levar sua ocorrência ao
conhecimento da polícia por medo ou por vergonha. Assim, torna-se necessário um programa
investigação.
artigo 59 e outros do Código Penal, na Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995, e ainda com as
assistência à vítima de crimes, com o recurso obtido, dentre outras fonte, das multas fixadas
A Lei 9.099/1995, que facultou a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais,
veio atender, embora não totalmente, uma das principais reivindicações da vitimologia, como
Até então o crime constituía um enfrentamento entre seu autor e as leis do Estado,
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deixando de lado o conflito humano que o baseou e gerou expectativas além da pretensão
punitiva estatal.
A lei traz um modelo comunicativo e resolutivo à medida que permite o diálogo entre
o autor do fato e a vítima a fim de chegar a uma composição dos danos, resolvendo assim o
Lei 9.099/1995 serve também aos propósitos da criminologia pois permite ao delinqüente,
visualizar a extensão do dano que causou a vítima e sentir suas conseqüências, vez que irá
repará-lo, como também permite a suspensão do processo, impedindo que este infrator junte-
se a criminosos mais perigosos na prisão e posteriormente volte a sociedade, pior do que saiu
dela.
Essa justiça consensual tende a crescer no direito pátrio, como aponta Calhau (2002),
necessidade da sentença penal condenatória, tendo em vista que o sistema penal hoje não é
Apesar de a reparação dos danos neste caso ser obrigatória somente quando o agente
tiver condições de fazê-lo e os réus na maioria das vezes são pessoas incapazes de reparar o
reparação dos danos à vítima com receitas obtidas com as multas, incluindo a penal, e com
verbas estatais, uma vez que o Estado, como afirma Brega Filho (2004), “em última instancia,
tem por obrigação garantir os bens jurídicos e, em caso de lesão, deve promover a sua
indenização”
Outro diploma relevante constitui a Lei 11.430/2006 conhecida como Lei Marina da
Penha que visa proteger a mulher vítima de violência doméstica e familiar definidas pela lei
como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
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própria lei denomina, consistentes em afastamento do agressor do lar em que conviva com a
artigos 22 a 24 da lei.
Como ensina Moreira (2007), essas medidas serão concedidas pelo juiz a requerimento
do Ministério Público ou a pedido da ofendida dispensando que o pedido seja subscrito por
Público.”
Essas medidas contribuem não só para a proteção da mulher como também para evitar
Ensina ainda referido autor que por ter natureza cautelar, para que seja concedida uma medida
periculum in mora, podendo, em casos específicos ser concedida inaudita altera pars.
Itália ou dos Estados Unidos, não permite o investimento de milhões de dólares nesse tipo de
programa. Uma alternativa para este problema é a apontada por Belisário dos Santos Junior,
que consiste em utilizar o dinheiro proveniente dos bens apreendidos de condenados por
outubro de 2001, a instituir a lei n° 13.198 dispondo sobre a assistência à vítima da violência
que, como vemos nos noticiários, cresce vertiginosamente nas grandes metrópoles e também
Comitê Gestor, composto por representantes das Secretarias Municipais de Assistência Social,
sobre os atendimentos das vítimas de violência bem como dividir entre as secretarias esses
artigo 16 do Código Penal Brasileiro, como medida de política criminal, beneficiando não só
Diz o referido artigo que “nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denuncia ou da queixa, por
ato voluntário do agente a pena será reduzida de um a dois terços”. Esse dispositivo beneficia
a vítima ao permitir que tenha o seu dano reparado e, também, o criminoso por ser causa de
redução da pena ou até extinção da punibilidade nos crimes de peculato culposo, sendo
posterior à denuncia configura atenuante genérica e permite ao agente obter sursis especial ou
livramento condicional.
extrema importância, diz Calhau (2002), uma análise da atuação da vítima no caso concreto
será possível sua aplicação se a vítima se colocou na situação de agredida para que,
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“protegida” pela lei, pudesse consumar a agressão ao pretenso ofensor, ou seja, não pode
Esse dispositivo, como ressalta o delegado Guaracy Moreira Filho (CALHAU, 2002),
deve ainda ser alterado a fim de uma maior proteção aos direitos da vítima, uma vez que
somente o juiz pode averiguar se a conduta configurou realmente a legitima defesa e, até que
isto ocorra, o cidadão que reagiu a uma agressão injusta, encontra-se recolhido ao cárcere.
Assevera que “o agente que reagiu a um ataque injusto deve ser estimulado, protegido desde o
Esse receio do indivíduo em reagir e ser reprimido por isso, acaba por encorajar o
Temos ainda o consentimento da vítima, que o Código Penal, não incluiu como causa
excludente do crime, mas a doutrina o considera como cláusula supralegal. Para ser levado em
conta este consentimento deve ser eficaz, para tanto, será analisada a capacidade jurídica e
mental da vítima e da finalidade do ato para o qual consente, dentre outros fatores.
Assim, resume Greco (2004), “o consentimento para ser válido deverá ser claro, sério,
Diz Calhau (2002) que, quando este consentimento constituir elementar do tipo,
ilicitude.
Para que exista o consentimento eficaz, principalmente nos delitos sexuais, Francisco
quando a lei faculta a vítima o inicio da ação penal como é o caso da Ação Penal Privada que
Representação na qual, apesar de ser promovida pelo Ministério Público, exige a prévia
denuncia sem que o Ministério Público o faça, permitindo à vítima ingressar com a ação penal
de trânsito. Nosso Código de Trânsito Brasileiro inovou nesse sentido, instituindo a multa
reparatória, prevista em seu artigo 297 e que não tem nenhuma ligação com a multa
administrativa, aplicada pelo agente de trânsito. Este artigo prevê, como ensina Calhau que:
CONCLUSÃO
Pudemos observar que a vítima teve sua idade de ouro na antiguidade, com a
vingança privada onde ela detinha a administração da justiça penal e que, com a posterior
transferência desse poder punitivo para o Estado, a vítima deixou de ter importância na ação
Este quadro se reverteu com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o horror do
Mendelsohn que elaborou a primeira classificação das vítimas de acordo com sua
contribuição para a ocorrência do delito. A partir daí, muito tem se falado sobre a vítima pelo
Vimos também que a vítima passa por um processo de vitimização que vai desde o
momento em que a vítima mentaliza a idéia de ser vitimizada, até a obtenção do resultado
inclusive no Brasil.
vítimas em países como Alemanha, Portugal, Argentina e principalmente nos Estados Unidos,
onde foi fundada a Organização Nacional para Assistência e instituído o Fundo Para as
só no artigo 59 onde é evidente, mas também nos artigos 61, 62, 65 e 66 do mesmo diploma.
Outro exemplo marcante é a Lei 9.099/95 que prevê uma tentativa de composição
entre o autor do delito e a vítima, a fim de se evitar uma ação penal, onde dificilmente a
vítima terá seu dano reparado. Esse modelo de justiça consensual vem crescendo no direito
pátrio.
Cevic - Programa de Atendimento às Vítimas de Santa Catarina, que busca facilitar o acesso
objetivando a assistência à vítima de crimes com recursos obtidos principalmente das multas
Este trabalho mostrou que, no Brasil, muito se fala sobre a vitimologia e seus
assistência à vítima, quer em aplicação da justiça, vez que na prática, ao se julgar um delito, a
Assim, resta claro que ainda há muito o que se fazer em relação à vítima, não só
buscando a reparação dos danos por ela sofridos mas também uma efetiva redução na
da sociedade, fazendo com que surjam associações pelo país, mas também do Governo, em
BIBLIOGRAFIA
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