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Exame Filosofia Política Europeia

6/10 - partindo da caracterização da democracia liberal como uma forma histórica e


contingente, antes objeto de consenso mas agora questionada e desafiada.

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8/10 - Caracterização dos pressupostos da concepção moderna de democracia, no
século XVII, a partir da abordagem antropológica de Hobbes (uma leitura dos caps.
XIII-XVIII da obra Leviatã de Thomas Hobbes).
Três ideias fundamentais:
1) A ideia de que todos os homens são indivíduos iguais: por maiores que sejam
as diferenças entre os homens, nenhuma é suficientemente relevante para que
faça diferença no que tange ao estado de insegurança no estado de natureza
em que cada um se encontra. A ideia de "potentia": cada homem tem, no
estado de natureza, um direito natural a tudo, apenas limitado pela sua
capacidade ou "potentia".
2) A ideia de que há uma paixão (ou sentimento) que todos os homens partilham
em função da sua igualdade: o medo, proveniente da sua insegurança.
3) A ideia de que todos os homens têm uma razão que aconselha à realização de
um pacto em que cada um renuncie ao estado de natureza. O conceito de
soberania, alicerçada no conceito de representação (cap. XVI do Leviatã),
como condição de possibilidade do pacto e do aparecimento de um "estado
civil" como alternativa ao estado de natureza. A soberania como poder
constituinte da unidade política do povo. A distinção entre povo e multidão: o
povo como unidade política e a multidão como conjunto de singulares
irredutível a uma unidade.

Democracia:
Estado de natureza- estado de guerra de todos contra todos. estado de poder que não reconhece nenhuma lei
que o limite.

A partir do séc 17 elaboração de um pensamento político que tem a pretensão de ser um


pensamento científico.
Quando penso no indivíduo penso no ator, um sujeito capaz de ações com determinadas
capacidades, poder ou potências de fazer algo.
Não existe lei natural que me iniba e limite a capacidade de me fazer o que eu quero,
exercer a minha vontade, tenho um direito de fazer aquilo que posso fazer.
Cada um de nós, enquanto indivíduo, tem poder e é sujeito de um direito absoluto e
ilimitado, porque não há uma lei que o limite. Este poder traduz-se no facto de a na nossa
relação com os outros não termos restrições.
Ponto de partida do Hobbes - Cada indivíduo é sujeito de um limite ilimitado, absoluto a tudo
chamado Estado de Natureza, estado em que todos os indivíduos são iguais, justamente
porque todos são sujeitos a um direito ilimitado de fazerem o que quiserem.
Não vivemos num mundo ilimitado, o nosso pensamento está vinculado à verdade (somos
limitados no pensamento). A lei depende da vontade criadora de quem a estabelece. O
pensamento é limitado mas a nossa vontade e capacidade é ilimitada. Vontade e
Pensamento são coisas que em nós divergem. Querer é um exercício de uma potência que
não tem limites, somos insaciáveis, pleonexia. Querer sempre mais! No estado da natureza
não existe distinção entre pessoa e coisa. Somos uma potência que se expressa com a
aquisição, relação de competição com os outros “bellum omnium contra omnes”, ninguém
estava seguro, insegurança gera uma igualdade radical, na sua raiz são todos iguais,
ninguém está seguro, no sentido em que cada um tem um sentimento da relação com outro-
sentimento de insegurança. O indivíduo é marcado pela vontade e pelo medo. Erradicar o

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medo e a insegurança, sabendo que este medo não desaparece mas fica num estado de
presente ausente. Temos de sair do estado de natureza.
Em contraposição ao estado natureza temos o estado civil. O problema consiste em como é
possível transitar de um para o outro. O princípio da sua filosofia política passa por como
transitar para outro estado, neste caso o estado civil como alternativa ao estado de
natureza.
Paixão, medo presente no estado natureza, não é a vontade, que é a capacidade de
desejar ilimitadamente. A razão! Convocação em nós da necessidade de racionalidade, lidar
com as nossas paixões e vontades de forma racional. A razão compreende que a vontade e
paixão são destruidoras. Se não há lei no estado natureza, cria um estado de absoluta
liberdade. Temos direito a tudo mas liberdade não é reconhecida no EN, a ausência de
impedimentos externos dá possibilidade de exercermos a nossa liberdade, temos direito a
tudo mas liberdade para nada. Temos no estado natureza impedimentos e barreiras ao
exercício das nossas vontades e direitos. Máximo de direitos corresponde com o mínimo de
liberdade. A razão diz-nos que temos de reduzir direitos, na condição de que o outro
também reduza. Cada um de nós é chamado sobre o ponto de vista da sua razão a
cederem os seus direitos do EN se os outros também o cederem. A razão faz-nos perceber
o que temos de fazer para sair do estado de natureza.
O Pacto é o reconhecimento desta ideia. O pacto é essencial para sair do estado de
natureza. É unilateral. Abdicam unilateralmente que os outros também abdicam. Para
Hobbes o essencial é perceber qual a condição para a realização do pacto. O que garante a
possibilidade do pacto? Só é possível que haja um pacto se eu pressupor que haja um
poder capaz de punir o não cumprimento do pacto. Exercer uma punição sobre o
desrespeito. Um pacto sem poder são meras palavras. É precisa uma condição, ou seja,
um poder que o faça respeitar. este poder tem como característica fundamental é o facto de
não estar limitado, em disputa, capaz de se impor incondicionalmente.
Poder = Soberania! Poder é a condição do cumprimento do pacto que sustenta o estado
civil, poder indiscutível. Soberania é a base do Estado Civil. Estado retratado como Deus
mortal. Se não houver representação, o corpo político desaparece e volta o estado de
natureza.
O Soberano tem sobre mim um poder absoluto. Será que o Soberano pode ser injusto?
Não! Porque é o soberano que determina o que é justo ou injusto. O soberano não pode
mentir porque não há verdade para além da soberania. Um milagre? Interrupção de uma lei
natural, milagre é o que o soberano diz que é milagre. O soberano pode fazer tudo, mas se
o soberano me condenar à morte eu posso não aceitar e resistir porque é o soberano que
me proporciona a vida e se estaria a contrapor. No Estado civil todos nós entramos
abdicando do direito absoluto aceitando apenas a lei civil, que nos dá o soberano. Temos
direito a tudo o que a lei não proíbe (direitos civis). Direitos e Liberdades coincidem! Perdi
direitos mas aumentei a minha liberdade. Pacto acontece com a aceitação do poder
soberano. Soberania é Representação! Representação com substituição, direito privado.
Necessidade que alguém tenha de eleger o seu representante, advogado, pago para
representar a vontade de alguém. Desaparecendo o estado civil entra o estado natureza
novamente. Soberano constitui o estado civil e é por causa dele que este existe, poder
constituinte. Soberano é um criador.

Leviatã - Thomas Hobbes

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CAPÍTULO XIII - Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e
miséria

“a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer
um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também
aspirar, tal como ele.”

CAPÍTULO XIV - Da primeira e Segunda leis naturais, e dos contratos

“O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que
cada homem possui de usai seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação
de sua própria natureza”

CAPÍTULO XVI - Das pessoas, autores e coisas personificadas

“Quando o ator faz qualquer coisa contra a lei de natureza por ordem do autor, se pelo
pacto anterior for obrigado a obedecer-lhe, não é ele e sim o autor que viola a lei de
natureza. Pois a ação, embora seja contra a lei de natureza, não é sua; pelo contrário,
recusar-se a praticá-la é contra a lei de natureza, que obriga a cumprir os contratos.”

CAPÍTULO XVII - Das causas, geração e definição de um

“Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a conseqüência
necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um
poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao
cumprimento de seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza”
“A multidão que pode ser considerada suficiente para garantir nossa segurança”
“Mesmo que haja uma grande multidão, se as ações de cada um dos que a compõem forem
determinadas segundo o juízo individual e os apetites individuais de cada um, não poderá
esperar-se que ela seja capaz de dar defesa e proteção a ninguém, seja contra o inimigo
comum”

(Aula 4) (Revisão da aula anterior) Hobbes: A paixão política fundamental para Hobbes é o
medo, é o medo que faz a política.
Razão Estratégica - cada um unilateralmente abandone os seus direitos ilimitados, ligados
ao desejo ilimitado, para se subordinar a outro direito, o direito civil, renúncia ao direito
natural é denominada de pacto, renúncia de cada indivíduo ao direito que tinha no estado
natureza. Qual a palavra chave para compreendermos o conceito de soberania? —>
Representação, este processo é um processo de ficção, uma entidade só funciona como
ator político pelo processo de representação, por exemplo, a Universidade de Coimbra para
ser um ator político tem de ter representação, o Reitor da Universidade de Coimbra.
Hobbes, pensa a soberania através da representação, Hobbes usa dois conceitos, o
conceito de povo e o conceito de multidão. O povo é o sujeito político por excelência, mas é
o povo representado, tomado como unidade (unum quid), uma multidão é pluralidade,
anarquia, ausência de um princípio. A figura do soberano aparece em Hobbes sacralizada,
unidade do povo na vida concreta.

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13/10 - Nesta aula deu-se início à parte da matéria sobre o liberalismo clássico.
Discutiu-se o conceito de liberdade, na forma como aparece em vários autores de
filosofia política, para mostrar como este princípio de justiça é específico do
liberalismo, não lhe sendo no entanto exclusivo. Mostraram-se algumas das raízes
históricas e políticas do liberalismo, com ênfase no contexto anglo-saxónico, e
introduziu-se a versão do liberalismo representada por John Locke, a partir de uma
breve análise do Segundo Tratado do Governo.

Liberalismo clássico: Locke

O Conceito de Liberdade: No liberalismo existe a prioridade da liberdade em relação aos


outros princípios de justiça como a autodeterminação, a necessidade, mérito e igualdade

- Negativa (liberdade de interferência externa; ausência de coerção) sou livre quando


não me impedem de realizar algo
- Liberdade Liberal, Positiva (liberdade para certas atividades; autodeterminação;
autonomia) capacidade para se fazer algo
- “Republicana” como ausência de dominação (ligação com a igualdade de
participação e acesso a oportunidades)
- “Real” (obtenção das condições para uma efetivação concreta da liberdade, por
exemplo a pré-disposição) meios para se poder exercer a liberdade. Podemos ter
uma liberdade numa constituição mas na realidade as pessoas não têm meios nem
capacidades de exercer essa determinada liberdade.
- Social (intersubjetiva; possibilitada pelas interações e instituições que permitem
reconhecimento mútuo).

Liberal acredita que se não tiver interferência do estado é livre porque ninguém o está a
limitar a sua liberdade. (Rawls - Liberdade: Uma teoria da Justiça; Nozick - Anarquia,
Estado Utopia - mais radical do que os liberais)

Liberalismo Político

Corrente muito lata de pensamento que em geral se caracteriza por:


- Prioridade da Liberdade sobre outros princípios de justiça, por exemplo a igualdade,
e distinguir do liberalismo, por exemplo Rawls, Nozick;
- Defesa de um conjunto de direitos individuais, por exemplo liberdades e garantias
como a liberdade de expressão e associação, proteção de direitos como os de
propriedade;
- Defesa de uma forma limitada, mas não existente de Estado, marcada pela
separação de poderes.

Tem várias fases e autores marcantes por exemplo:


- Século XVII-XVIII-XIX,Liberalismo Clássico, Locke, Smith, Stuart Mill,
- Século XX: Rawls, Dworkin, Raz, entre muitos outros

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Liberalismo Clássico

Surge num movimento de contestação ao Absolutismo.Tem raízes no Renascimento e no


Protestantismo (primazia do indivíduo na interpretação da palavra sagrada), impondo-se à
medida que as sociedades feudais altamente estratificadas começam a passar por um
processo de erosão. Tem o seu epicentro no contexto político-filosófico anglo-saxônio e terá
uma influência decisiva no Iluminismo (sobretudo no “Iluminismo Escocês”).
Tem uma relação clara com as guerras, revoluções e novas formas políticas dos séculos
XVII e XVIII, por exemplo, política interna inglesa (“Wigs” vs. “Tories”) no final do século
XVII e a revolução americana. Acaba por dar azo, por exemplo em Locke, a uma teoria da
revolução legítima. ( tenta expor uma teoria sobre o que é o governo legítimo. Caso este
não seja efetivado existiria a legitimidade do povo em derrubar um governo ilegítimo.)
Origina, em tensão com as discussões sobre a natureza da soberania, várias teorias do
contrato social (diferenças entre Hobbes, Locke, Rousseau).

Medo da morte violenta é que vai levar à constituição do estado civil que irá eleger um
soberano que lhe confere certos direitos e implica desfazer de certas liberdades. ???

John Locke (1632-1704)

É conhecido sobretudo pelas contribuições para a teoria do conhecimento (posição


empirista) - Ensaio sobre o Entendimento Humano.
E a filosofia política: 2 tratados do governo (publicados de forma anônima) e Carta sobre a
tolerância. O período entre 1688-1989 é especialmente profícuo - apesar de os tratados
terem sido escritos no início da década - usado para justificar o liberalismo

Dois Tratados do Governo:

São publicados no contexto da “Revolução Gloriosa” que opôs Jaime II (Católico) e


Guilherme II de Orange (Protestante) - fim do absolutismo britânico e reforço do poder do
parlamento.
O Primeiro Tratado tem uma natureza polémica, visando refutar a justificação do
Absolutismo. O Segundo Tratado apresenta a versão Lockeana do governo justo
(verdadeira inovação)

Objetivos gerais do segundo tratado:


- Definir a natureza e o papel do governo legítimo;
- Definir a base para a revolução legítima;
- Definir a necessidade do governo, com base no contrato social, como saída do
Estado Natureza.

(Definição de Poder Político: “o direito de legislar coercivamente, de ditar leis sancionadas


com a pena de morte”; “o direito de utilizar a força da comunidade para a execução da
legislação desenvolvida e de defesa da comunidade de injúrias estrangeiras - tudo isto
exclusivamente com vista ao bem público.”) - Locke - Segundo Tratado do Governo
(analisado) - pag 34

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(Propriedade) - Locke - Segundo Tratado do Governo (analisado) - pag 59 “A mesma lei da
natureza que nos concede a propriedade define igualmente os seus limites.” “Através do
trabalho, uma pessoa poderá fixar a sua propriedade em tudo aquilo de que puder retirar
proveito, antes de se deteriorar.”

15/10- A abordagem da democracia em Espinosa, no século XVII, no quadro da


concepção hobbesiana da política. A diferença fundamental de Espinosa em relação a
Hobbes: a ideia de que a potência de cada indivíduo no estado de natureza não deve
desaparecer sob a omnipotência de um soberano, mas deve ser conservada e
potenciada no estado civil. O direito natural como expressão da potência: a afirmação
de Espinosa de que o direito natural tem de ser conservado no estado civil. O estado
civil como alicerçado no estabelecimento de uma "potência comum" da multidão: o
comum como um incremento da potência. A democracia como o regime mais potente,
na medida em que abrange a potência de todos: a democracia em Espinosa como o
"regime totalmente absoluto".

Espinosa é politicamente um hobbesiano, judeu de origem portuguesa, refugiado na


Holanda.
Tratado Teológico-Político e o Tratado Político, trata da monarquia, aristocracia e
democracia. Espinosa é o autor da multidão, multidão como ator político. Espinosa é
realmente um hobbesiano em termos da soberania. Carta 50, Janis Jelleo, Espinosa
mantém o Estado Natureza.
O desejo é ilimitado, queremos sempre mais, a potência de cada um é um perigo para a
potência do outro, no pensamento de Hobbes. Quando se tem medo torna-se impotente,
Espinosa chama ao medo uma paixão triste. Esperança é a paixão que se contrapõe ao
medo. No estado Civil não pode ser a anulação da potência de cada um mas sim potenciar
a potência de cada um. Hobbes é a racionalidade política frio e impiedoso. Estado Civil
potenciador a partir de Hobbes. A relação entre dois amigos potencia um potencial ainda
maior. Comum entre dois amigos torna potencial a potência de cada um que é mais do que
a soma da potência de cada um. Soberania é o poder constituinte da própria unidade
representada. O soberano representa cada um dos indivíduos. Cada indivíduo assume a
própria vontade do soberano como a sua própria vontade. Poder monárquico era o que teria
mais poder porque o poder coincide apenas com um representante

20/10- Nesta aula foi abordada a segunda figura ligada ao liberalismo clássico, Adam
Smith. Foi contextualizada a produção de Adam Smith a partir de uma abordagem
sucinta da Teoria dos Sentimentos Morais e da Riqueza das Nações, argumentando-
se que Smith foi, dos autores clássicos, aquele que maior influência teve na vertente

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económica do liberalismo, mostrando-se porém também que as leituras mais usuais
da famosa metáfora da mão invisível são talvez atravessadas por um conjunto de mal
entendidos, pois em geral ignoram o contexto da teoria moral de Adam Smith. Foi
igualmente feito um excurso alusivo à diferença entre a economia clássica (economia
política) e a economia neoclássica, dominante a partir do século XX, para se
contextualizar Adam Smith enquanto autor clássico.

Liberalismo clássico: Adam smith (1723-1790)

- considerado o pai da ciência econômica moderna


- na verdade, era professor de filosofia moral em Glasgow
- Publicou duas grandes obras: Teoria dos sentimentos morais (1759); Riqueza das
nações (1776)
- Adam Smith era um economista político/ clássico.

A noção de economia vem da Grécia, a gestão e administração daquilo que era do domínio
privado/da família. Existe uma teoria moral desenvolvida por ele onde analisamos a “mão
invisível”. Existe uma diferença entre o sentido que queria dar à metáfora e a maneira como
esta foi utilizada posteriormente. De todos os liberais clássicos Adam Smith é aquele que
mais influente se tornou, de forma imediata e duradoura, em termos políticos, dada a sua
contribuição para o liberalismo econômico que Smith ajudou a forjar e a disseminar. No
entanto, muita dessa influência pode dever-se a um conjunto de mal entendidos.
Quase só o que passou para a posterioridade foi a famosa metáfora da “mão invisível" da
riqueza das nações, usada como justificação para a autorregulação do mercado e como
oposição à interferência do estado. Todo o contexto da filosofia Smithiana e nomeadamente
as teses da teoria dos sentimentos morais é geralmente esquecido. Essa leitura é hoje
posta em causa.

mail com passagens.

3/11- Nesta aula terminou-se a lecionação da matéria relativa a Adam Smith, com
leitura comentada de excertos da Riqueza das Nações dedicados às questões do
auto-interesse e da mão invisível, comparando-as brevemente com a filosofia moral
avançada por Smith em A Teoria dos Sentimentos Morais. Iniciou-se igualmente a

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lecionação da filosofia política da terceira figura ligada ao liberalismo clássico, John
Stuart Mill, através de uma breve apresentação da obra Sobre a Liberdade, incidindo
na definição de liberdade apresentada e com leitura comentada de um excerto da
introdução a respeito do princípio do dano.

Liberalismo Clássico: Adam Smith

A metáfora da mão invisível, tudo o que deve existir é o mercado livre porque o mercado
livre autorregula-se, influência da fábula das abelhas de Mandeville. Egoísmo: quando
vamos ao talho, à cervejaria e à padaria pagamos com dinheiro, não porque nos dão de boa
vontade mas sim porque recebem algo em troca e garantem o seu próprio interesse. A ação
das pessoas é movida pelo interesse próprio, vai ser muito importante na formulação da
teoria económica e do Utilitarismo. O utilitarismo movem-se pelo seu interesse e não pelo
dos outros (motivações morais). Visão especifica do funcionamento do mercado, o individuo
rege a sua vida através do acordo, da troca e da compra. Ideia do dinheiro como algo
universal. Ação humana do egoísmo e auto interesse. Mão Invisível: Cada indivíduo
esforça-se continuamente por encontrar emprego mais vantajoso para qualquer que seja o
capital que detém. Na verdade, aquilo que tem em vista é o próprio benefício e não o da
sociedade. Mas o juízo da sua própria vantagem leva-o, naturalmente, ou melhor,
necessariamente, a preferir o emprego mais vantajoso para a sociedade. (continuação) Que
mão invisível? O Mercado Teoria dos Sentimentos Morais: Disposições Éticas como sendo
fundamentais ao mercado: Empatia, Confiança.
Conclusões- A relação entre a ética e a economia + Ilibar Adam Smith da responsabilidade
pelo neoliberalismo + Apelar à leitura da Teoria dos Sentimentos Morais. John Stuart Mill
(1806-1873) Grande figura do liberalismo político do século XIX, Utilitarista, Obras que mais
influenciam a posteridade: Sobre a Liberdade (1859) e Utilitarismo (1861). A analogia da
mão invisível tem influencias politicas, em ultima instancia também fala do auto interesse.
Economia era um Ramo da Filosofia Moral.
Utilitarismo: Consequências + Bem (Prazer + Utilidade (interesse próprio)) —> Utilidade
Agregada Stuart Mill - “Sobre a Liberdade”. Principais Temas- Definição da Liberdade,
Princípio do dano, Importância da liberdade de opinião e de expressão, Limitação do poder
do Estado que pode ser legitimamente exercido sobre o indivíduo. Âmbito do livro. Princípio
do Dan

5/11- Jean-Jacques Rousseau e a concepção de democracia moderna como uma


forma política assente no princípio da soberania do povo. O "Contrato Social" e o
povo como sujeito político e o conceito de vontade geral: a vontade de todos os
cidadãos como ponto de partida é possível aferir a vontade do sujeito coletivo que
constitui o povo. O povo como sujeito unitário de uma vontade unitária: a lei como

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objeto geral da vontade geral. O carácter problemático da vontade geral enquanto
princípio constitutivo do povo enquanto sujeito político soberano. O "paradoxo da
liberdade" e a ideia de que o indivíduo poderá ser "forçado a ser livre".

10/11- Nesta aula foi terminada a lecionação da parte da matéria relativa ao


liberalismo clássico, com a conclusão da análise de Stuart Mill. Para o efeito, foi feita
uma leitura comentada de um excerto do capítulo II da obra "Sobre a Liberdade" a
propósito da liberdade de expressão. Recordaram-se os elementos basilares da teoria
de Stuart Mill (liberdade, individualismo, limites da autoridade da sociedade e do

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Estado sobre o indivíduo), incluindo alguns dos exemplos de aplicações que são
dados nos últimos capítulos do livro, sendo feita uma súmula dos principais
elementos característicos do liberalismo clássico nos três autores estudados: Locke,
Smith e Stuart Mill. Deu-se igualmente início à parte da matéria sobre o
neoliberalismo. Para tal, foi feita uma contextualização histórica: a contestação
política e económica ao liberalismo na primeira metade do século XX; a influência do
keynesianismo a partir da década de 1930; e a posterior afirmação do neoliberalismo,
primeiro na teoria e depois na prática (sobretudo a partir do final da década de 1970);
foram igualmente referidos alguns dos autores (von Mises; Hayek, Friedman) e
figuras políticas (Thatcher; Reagan) normalmente associados ao neoliberalismo.

Princípio do dano

O objetivo deste ensaio é assegurar um princípio muito simples, que se destina a reger em
absoluto a interação da sociedade com o indivíduo no que diz respeito à coação e controlo,
quer os meios usados sejam a força física, na forma de punições legais, quer a coerção
moral da opinião pública. É o principio de que o único fim para o qual as pessoas tem
justificação, individual ……. materiais

Liberdade de expressão

nunca devemos silenciar uma expressão


Para Stuart Mill o contexto é importante.
Não somos infalíveis.

Caps. III, IV e V

- Reflexão sobre o caráter individual da liberdade


- Análise de casos concretos de interferência legítima ou ilegítima na liberdade de
cada um
- Aplicações da teoria de Mill e diversas esferas

Conclusões

O'Liberalismo classico não é uma teoria unificada, tem vários domínios (político, economico)
e autores
No entanto, todos concorrem na ideia da necessidade de existência de um estado, ainda
que devidamente limitado, e na defesa da ideia de liberdade
Muitos destes ideias será radicalizadas ou até transfiguradas com o surgimento do
neoliberalismo

Contexto histórico

O liberalismo torna-se uma doutrina influente no séc. xix mas é contestado politicamente
(socialismo, autoritarismo) e economicamente na primeira metade do sé. xx

A seguir à grande depressão de 1929 o keynesianismo afirma-se como uma teoria


econômica mais apta para lidar com as crises.

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Sai da crise com esforço de guerra. FDRoosevelt - sai da crise de 29 com um “estado de
providencia” new deal - criação da segurança social; baseado em políticas economicas
keyneesianas - defende o papel do estado e intervenção do papel na economia para
enfrentar as crises.

o estado social/providência surge sobretudo no final da 2 gm.

Neste contexto, o neoliberalismo começa a afirmar-se como nova forma de liberalismo,


primeiro na teoria e mais tarde em termos políticos e economicos.

Origens neoliberalismo

Origem e afirmação do termo: colóquio dedicado a walter lippman em 1938 e que reuniu
vários intelectuais liberais

Inspiração teórica: para além da escola austríaca, também a escola de chicago


Figuras políticas: reagan, thatcher

12/11 - A articulação contigente entre liberalismo e democracia no século XIX. A


possibilidade de liberalismo sem democracia: Guizot e o exemplo francês da
Monarquia de Julho (1830-1848). O liberalismo como parlamentarismo e os seus dois
princípios fundamentais: a) a separação de poderes e a impossibilidade do exercício
de um poder soberano; b) a concepção de direitos individuais fundamentais,
limitadores da acção do poder político. A possibilidade de uma concepção de
democracia sem liberalismo: a concepção de revolução e ditadura do proletariado em
Marx. A concepção da história como luta de classes e a ideia de Partido no
"Manifesto do Partido Comunista" de Marx e Engels (1848). A necessidade, no século
XX, de repensar a articulação entre liberalismo e democracia. Hans Kelsen e a
concepção da democracia como democracia liberal. O livro "Essência e Valor da
Democracia" (1923) de Hans Kelsen, e a base do conflito intelectual entre Hans
Kelsen e Carl Schmitt.

17/11 - Nesta aula prosseguiu-se a análise do neoliberalismo, apresentando as suas


principais características. Mostraram-se as suas várias dimensões: os aspectos
teóricos; o facto de ser simultaneamente um modo de governo, uma política e uma
ideologia, apesar de ser um conceito crítico / polémico no qual poucos se revêem.
Apresentaram-se em seguida, tendo como base a apresentação de Ricardo Paes
Mamede no documentário "A mão invisível: uma história do neoliberalismo em

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Portugal" os principais aspectos teóricos e as principais políticas públicas
geralmente associados ao neoliberalismo. Finalmente, reconstituiu-se a forma como,
a partir do final da década de 1970 e sobretudo nas décadas de 1980 e 1990 o
neoliberalismo se consolidou na "governança" económica mundial, analisando
algumas das consequências que teve nas sociedades ocidentais: por exemplo, as
questões de desigualdade de rendimentos, erosão do Estado social, e a precarização
dos vínculos laborais. Finalmente, foi traçado um paralelismo com o consenso em
torno da democracia liberal pós-1989, mostrando-se como, com a aparição da
chamada 'terceira via' o consenso em torno de um modelo de democracia liberal
capitalista transforma o panorama dos partidos de esquerda, criando um consenso
ao centro que, por sua vez, faz com que partes do eleitorado deixem de se reconhecer
num centro político que passa a ser visto como sendo insuficientemente diferenciado
entre si.

Referência principal desta aula:

A mão invisível – uma história do neoliberalismo em Portugal(Projeto RECON – “Que


ciência económica se faz em Portugal?”)

Documentário disponível no YouTube: https://youtu.be/ceTCzCptzEM

Neoliberalismo:

Contexto Histórico

- O liberalismo torna-se numa doutrina influente no século xix mas é contestado


politicamente (marxismo-leninismo, socialismo, autoritarismo) e economicamente na
primeira metade do séc. XX.
- A seguir à grande depressão de 1929 o keynesianismo afirma-se como uma teoria
econômica mais apta para lidar com as crises.
- Neste contexto, o neoliberalismo começa a afirmar-se como nova forma de
liberalismo, primeiro na teoria e mais tarde em termos políticos

Dimensões:

- Tens aspetos teóricos/ doutrinários embora quase ninguém se afirme como


“neoliberal”. É um conceito crítico/polêmico). realidade com várias dimensões
complexas. Tem uma componente teórica que inspira realidades políticas.
- É uma política e um modo de governo, sobretudo sobre questões economicas, mas
com implicações sociais. Forma de orientar a vida das pessoas (reger a conduta das
pessoas) para além de termos políticos formais.
- É também uma ideologia/ modo de justificação das suas práticas. Capitalismo como
modo mais justo.

Ponto de vista doutrinário

A mão Invisível, Ricardo Paes Mamede

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- foco central no indivíduo. este acima de tudo. Como se o estado não fosse
necessário.
- Crença na bondade da competição como ferramenta de emancipação da
humanidade.
- Ceticismo profundo em relação ao Estado (visto como fonte de opressão e de
instabilidade).
- Mas o Estado é necessário na prática como regulador para que osistema funcione.
este depende de grandes estruturas como o fmi, a ue e o banco central europeu.
mas nada disto seria possível sem a opinião dos atores políticos estatais.

Politcas economicas:

RPM:

No séc. 20 era essencial o domínio estatal.


em todos os contextos em que existam empresas públicas o neoliberalismo é promover a
privatização dessas empresas.
- privatização das empresas públicas
- liberalização das trocas internacionais, sem taxas aduaneiras.
- liberalização dos fluxos de capital entre países.
- desregulamentação dos mercados de trabalho e dos sistemas financeiros. quanto
menos rígido forem os mercados de trabalho melhor-mais fácil despedir melhor-
trabalhador com mais direito maior dificuldade de adaptação ao mercado de trabalho
- independencias dos Bancos centrais da zona euro na verdade já não responde à
estrutura do seu país.
- foco da política econômica e monetária na estabilidade dos preços.
- Princípio de que os estados se devem financiar através dos mercados financeiros e
não do seu banco central. está instancia tem menos controlo
- Serviços públicos devem ser concessionados a privados e funcionar de acordo com
uma lógica de mercado e concorrência.
- risco deve ser suportado pelos indivíduos (que contratam seguros privados para
todas as formas de risco).
- Toda a política social visa proteger contra formas extremas de pobreza e é apenas
aí que deve residir a preocupação do estado.

Neoliberalismo e democracia liberal:

- A partir da década de 1980 as políticas econômicas neoliberais, personificadas em


thatcher e reagan começam a tornar-se hegemônicas
- Década de 1990: depois dos traumas da 2 guerra mundial e da guerra fria, a queda
do muro de Berlim em 1989 e a dissolução do Bloco de Leste deixou a democracia
liberal e o capitalismo sem alternativa ideológica.
- Aparição da terceira via, alegado socialismo de rosto humano mas que na prática foi
um abandono de bandeiras tradicionais da esquerda (direitos laborais, critica ao
capitalismo)

Consequências:

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- aumento da concentração de capital e desigualdade de rendimentos desde a década
de 1970
- Precarização dos vínculos laborais, o indivíduo deve ser responsável por aquilo que
faz a nível laboral. Empresas com força de realocar a sua força de trabalho.
- Erosão progressiva do Estado social.
- Parte dos eleitorados deixam de se reconhecer nos partidos tradicionais. Deixa de
haver divisão ideológica suficiente.
A União Europeia

Será que é um projeto neoliberal?

- Maastricht (1992)- criação do mercado comum


- Pacto de estabilidade e crescimento (1997)
- Euro (2002)
- Crise de dívida~s soberanas (2010-2011) e tratado orçamental (2012)
- Crise pandemica

19/11- A concepção da democracia por Hans Kelsen: a democracia pensada a partir


da liberdade. A distinção entre dois conceitos de liberdade de origem kantiana:
liberdade como indeterminação (liberdade negativa) e liberdade como
autodeterminação ou autonomia (liberdade positiva). A ideia de que, sendo a
democracia uma forma de governo, liberdade democrática significa não ausência de
determinação ou governo, mas determinação do governo por si próprio: se é preciso
obedecer em democracia, em democracia obedece-se apenas a si mesmo. O
significado político da autodeterminação democrática: a obediência política em

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democracia e o seu carácter objectivo e incondicional; a caracterização da
autodeterminação democrática como capacidade de influenciar o governo. O carácter
essencial dos partidos (e da pluralidade de partidos) em democracia: só organizados
em partidos podem os indivíduos influenciar o governo.

24/11 - Nesta aula terminou-se a discussão sobre o neoliberalismo, investigando-se a


tese segundo a qual a União Europeia poderia ser considerada um projeto neoliberal.
Para tal, recordaram-se as origens da UE e analisaram-se alguns dos Tratados e
acordos intergovernamentais, bem como a forma como a UE tem respondido às
últimas crises económicas, salientando-se a existência de uma tensão entre a esfera
política e a esfera económica no seio da UE. Iniciou-se igualmente a introdução ao
módulo sobre o populismo, sublinhando-se a natureza polémica deste conceito e a
sua oposição a uma visão tecnocrática da política. Foram depois dadas algumas

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breves indicações das características do populismo, a partir da obra A Razão
Populista de Laclau, e do artigo "Crítica da Razão Populista".

União Europeia:

Tentativa de estabelecer um projeto supranacional de paz e prosperidade após a 2 GM -


baseado em interesses economicos comuns.

Modelo social europeu, tentativa de conjugar:


- Mercados abertos (liberdade economica) sociedades capitalistas que supostamente
fornecem liberdade economica com garantia de liberdades políticas e básicas mas
que ao mesmo tempo juntam a garantia de estados sociais fortes e proteção social.
- Democracia liberal (liberdade política)
- Estados sociais fortes (proteção social)

Qual o impacto do capitalismo e das suas mutações nos tratados, normas e prática política
da UE?

Será que é um projeto neoliberal?

- Maastricht (1992)- criação do mercado comum


- Pacto de estabilidade e crescimento (1997)
- Euro (2002) deixa de haver controlo dos países sobre a sua política monetária
- Crise de dívidas soberanas (2010-2011) e tratado orçamental (2012)
- Crise pandemica

- Por um lado, há uma naturalização das opções de política monetária com fortes
restrições às opções economicas e políticas dos membros da UE: cria uma tensão
entre a esfera econômica e política. Na prática há uma grande decisão da parte das
grandes empresas que têm verdadeiramente os que têm poder economico e a
esfera política.
- Por outro lado, muitas das consequências imputáveis ao neoliberalismo também se
verificam no interior da UE, tais como o aumento da desigualdade e a precarização
dos vínculos laborais.

O espectro do populismo:

- conceito polêmico usado no espaço público de forma pejorativa


- Vagueza constitutiva e indeterminação semântica
- Abrange todo o espectro politico (de esquerda e de direita) que escapa ao centro
- É identificado muitas vezes como uma ameaça à democracia liberal
- Opõe-se a uma visão tecnocrática ou epistocrática da política.

A razão opulista (laclau)

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- constituição de um povo e de uma hegemonia/ contra hegemonia (unificação de
reivindicações numa vontade popular).
- Mobilização dos afetos
- Lógica agonística e revalorização do papel do conflito político (identificação de um
adversário), contra uma visão de gestão de consensos insuficientemente
diferenciados.
- Oposição ao statu quo e que vê na possibilidade de mudança um dos seus valores
de base mais importantes.

Uma politca não essencialista

- As articulações políticas são contingentes (incluindo a democracia liberal)- o


significante é o vazio
- O populismo pode ser fator de mudança, face à crítica dos consenso anteriores
- É possível imaginar a criação de subjetividades democráticas diferentes daquela que
se tornou hegemônica
- Diferentes estratégias hegemônicas podem ser tentadas mas é possível diferenciá-
las

26/11 - Continuação da abordagem por Kelsen da democracia. A concepção


democrática do povo como soberano e o seu significado para Kelsen: a ideia de que
o povo não pode ser pensado politicamente como a soma de um conjunto de
indivíduos, mas como um sistema unitário de acções e actos individuais
determinados juridicamente pelo Estado. A concepção kelseniana do Estado como
correlato da sua concepção de povo: o Estado como personificação do direito
enquanto sistema normativo. A soberania democrática concebida não como poder
fáctico de que deriva o direito, mas como a autosuficiência do próprio direito
enquanto sistema normativo. O contraste entre as visões de Hans Kelsen e de Carl

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Schmitt sobre o direito: o problema da crise e da excepção. A identificação entre
norma e ordem em Kelsen, e a distinção entre norma e ordem em Carl Schmitt.

3/12 - A crítica fundamental do decisionismo de Carl Schmitt ao normativismo de


Hans Kelsen: a ideia de que não são as normas jurídicas que geram ordem social e
política, mas é a ordem social e política que torna possível a normal vigência das
normas. A possibilidade do estado de excepção, em Schmitt, como estado no qual as
normas são suspensas para que a ordem possa ser preservada e defendida. O
conceito do político em Carl Schmitt: a transformação de uma concepção liberal de
política - baseada na restrição do político ao estatal e na distinção entre um âmbito
político e âmbitos da vida humana (plano religioso, social, económico) em que a
política não poderia interferir - e a ideia de que o político é uma relação definida pela
conflitualidade. O político como distinção amigo-inimigo e a distinção entre uma
forma pessoal (inimicus) e uma forma política de inimizade (hostis). A política
concebida por Carl Schmitt como a arte de coexistir com inimigos, e a sua
importância para a concepção da conflitualidade democrática.

10/12 - Esclarecimentos em torno de O Conceito do Político de Carl Schmitt. Uma tese


em torno da génese do Estado moderno: o conflito religioso como um conflito que
envolve o conflito pessoal (a distinção entre fiéis e infiéis) e o Estado moderno
surgido da neutralização política do conflito religioso. O conflito político como
baseado na inimizade pública, não pessoal: a necessidade de não discriminar
moralmente inimigos políticos e de coexistir e negociar com eles. A importância da
concepção do político por Carl Schmitt para o populismo contemporâneo: a ideia de
que o conflito consiste numa recuperação da dimensão conflitual da política, para
além do consenso liberal. A influência de Schmitt em Chantal Mouffe: o populismo de
esquerda pensado a partir da conflitualidade schmittiana. O conceito de antagonismo
em Chantal Mouffe e Ernesto Laclau, pensado a partir da conflitualidade do político: a
ideia de que o antagonismo consiste num conflito em que a identidade dos
adversários é determinada pelo próprio conflito. O conceito de povo no populismo: o
povo como uma identidade que se define nos termos de uma contraposição à "elite".

15/12 - Nesta aula foi lecionada a matéria relativa ao populismo de esquerda, a partir
da obra "Por um Populismo de Esquerda" de Chantal Mouffe. Foi feita uma
apresentação geral da obra, com ênfase no capítulo 3 "Radicalizar a Democracia".
Tendo-se abordado os conceitos de povo, hegemonia e agonismo, mostrou-se o
surgimento do momento populista em relação com a crise de hegemonia do
neoliberalismo e discutiu-se a forma como o projeto de Mouffe pretende ser uma
radicalização da democracia liberal, mostrando ainda algumas das objeções que são
normalmente dirigidas a este projeto. Finalmente, a partir da "Crítica da Razão
Populista" foram indicados alguns critérios possíveis de avaliação e distinção de
propostas políticas "populistas".

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Por um populismo de esquerda: Chantal Mouffe (capítulo 3)

Uma política não essencialista

- As articulações políticas são contingentes (processo histórico), incluindo a


democracia liberal - o significante é o vazio
- O populismo pode ser factor de mudança, face à crítica dos consenso anteriores
- É possível imaginar a criação de subjetividades democráticas diferentes daquela que
se tornou hegemônica (tentativa de dar uma configuração política específica algo
que é caótico e contingente)
- Diferentes estratégias hegemônicas podem ser tentadas, mas é possível diferenciá-
las. todas as opções são diferentes daquilo que temos tipo, e até que ponto é que
essas hegemonias são desejadas.

O populismo de esquerda:

momento em que o neoliberalismo está em crise mas não é claro o que segue - momento
populis- diferentes reivindicações populares tanto de esquerda como de direita colocam em
legitimidade o movimento anterior.

O momento populista surge de várias reivindicações heterogêneas (contestações sociais à


ordem existente) contra múltiplas formas de dominação que surgem do neoliberalismo.
O adversário do populismo de esquerda é a oligarquia. aqueles sujeitos políticos que detêm
mais poder do que os outros em virtude do facto de terem capital, acesso ao poder que os
diferenciam do restante povo e que impedem a democracia liberal de nos limites dos limites
ser uma verdadeira democracia. através da defesa dos seus interesses cria mecanismos
que visam a presença? de uma verdadeira igualdade.

A estratégia: traçar uma fronteira política entre o povo e os obstáculos à realização e


aprofundamento da democracia
O povo como um coletivo que resulta da mobilização dos afetos em defesa de igualdade e
de justiça social (para se opor ao populismo de direita).

Âmbito de análise: Europa ocidental

O populismo surge da crise de hegemonia do neoliberalismo.

Uma das teses principais: só um populismo de esquerda pode verdadeiramente derrotar o


populismo de direita e alterar a hegemonia anterior, visto como sendo injusta. O populismo
de direita as raizes de mau estar do neoliberalismo como as desigualdades

Mouffe sustenta que o populismo de esquerda é compatível com a democracia liberal.

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Democracia liberal foco de tensão permanente entre os ideais do liberalismo (estado de
direito, separação de poderes, liberdades individuais) e da democracia (igualdade e
soberania popular)

A democracia liberal alivia esta tensão através de negociações pragmáticas entre a


esquerda e a direta mas permanece sempre a possibilidade de um processo agonístico de
conflito político.

O neoliberalismo preservou a tradição liberal mas significou um constrangimento


significativo à democracia - questão da pós-democracia.

Objetivo radicalização da democracia fazendo que que os ideais de liberdade e igualdade


para que todos sejam efetivados.

Estes ideais estão sempre em tensão. O que importa é que a forma como a hegemonia em
vigor os interpreta e configura o horizonte normativo de determinada sociedade.

ex. A democracia ser identificada com igualdade de direitos e soberania popular é diferente
de significar propriedade privada e individualismo

Resultado pretendido: transformar as práticas econômicas e sociais atuais, baseadas no


neoliberalismo, interpretando de forma diferente os ideais da democracia liberal

Mouffe não aponta para uma revolução. mas para uma interpretação diferente daquilo que é
a democracia liberal pluralista

Isto significa que o populismo de esquerda não tem um programa nem um tipo de regime
em ment. poderia ser conciliável com projetos de socialismo democrático, eco-socialismo,
democracia participativa

Problemas em aberto:

- A diferença entre agonismo, que identifica adversários, com antagonismo, que


identifica inimigos
- A conciliação com o pluralismo inerente às democracias representativas
- A relação entre identidade e diferença na construção da cadeia de equivalência que
constitui um povo.

Crítica da razão populista:

problema- exacerbação dos antagonismos. seria difícil criar qualquer tipo de consenso e de
diálogo
Distinguir em cada proposta populista, os ideias, normas e valores que promove na sua
prática política concreta e no imaginário que propõe

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Critério: alargamento da democracia vs. destruição das condições de possibilidade da
própria democracia

17/12 - O conceito de antagonismo em Hegemonia e Estratégia Socialista, de Ernesto


Laclau e Chantal Mouffe: um conflito originário de que deriva a identidade dos
elementos em contenda. A contraposição populista - povo vs elite - como
contraposição antagónica. A concepção de "construção do povo" mediante o
antagonismo: a ideia de que o povo não é uma população, ou uma entidade étnica
marcada por uma identidade peculiar, mas uma construção que é o produto de uma
relação de antagonismo. A ideia de uma construção do povo através de uma "lógica
equivalencial" que articula demandas (e identidades) que não têm entre si qualquer
articulação. O papel do conceito de hegemonia na construção do conceito de povo
pelo populismo, segundo Laclau: a ideia de que uma demanda particular se pode
hegemonizar enquanto particular, assumindo a função de simbolizar a própria
articulação entre demandas díspares no quadro de uma polarização "povo vs elite".

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