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Letícia Feher Lino de Araújo. Nº USP: 14588812. Turma 23.

Título da obra: O Contrato Social: Trechos selecionados.

Autor: Jean Jacques Rousseau.

Dados bibliográficos:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7420148/mod_resource/content/1/ROUSSEAU.%20
Do%20Contrato%20Social-%20trechos%20selecionados.pdf

1. Sobre o autor: Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo suíço do séc. XVIII, conhecido
por sua obra “O Contrato Social”. Nesta obra, Rousseau desenvolve sua teoria política
e social, explorando a ideia de um contrato voluntário entre os indivíduos para
estabelecer uma forma justa e legítima de governo.

O contexto histórico e cultural em que Rousseau viveu foi marcado pela transição do
Antigo Regime para o Iluminismo e pela agitação social e política na França
pré-Revolução Francesa. Ele testemunhou a desigualdade social, a injustiça e a
opressão, o que influenciou profundamente seu pensamento filosófico.

Rousseau faz parte do movimento filosófico conhecido como iluminismo, que


valorizava a razão, a ciência e a liberdade individual. Ele também pode ser
considerado um representante do contratualismo, uma corrente filosófica que busca
fundamentar a origem do Estado e da autoridade política em um contrato entre os
indivíduos.

O pensamento de Rousseau está inserido nos ramos da filosofia política, social e


moral. Ele aborda questões sobre a natureza humana, a origem da desigualdade, a
legitimidade do poder político e os fundamentos da sociedade. Sua obra influenciou
profundamente o pensamento político subsequente, tendo impacto na Revolução
Francesa e nos debates sobre democracia, liberdade e justiça social ao longo dos
séculos.

2. Tese: O contrato social permite que as pessoas sejam tão livres quanto antes, ao
unir-se em um grupo político que terá mais poder para proteger os interesses de cada
indivíduo do que uma pessoa sozinha, desde que todos sigam estritamente suas regras.
3. A força: Antes de existir um Contrato Social, qualquer pessoa possuidora de maior
força poderia se tornar dominante sobre os outros. No entanto, sempre havia o risco de
alguém mais forte surgir e substituí-lo. Se as pessoas são obrigadas a obedecer apenas
pela força, elas irão desobedecer para tentar se tornar mais fortes, pois não têm o dever
de obedecer. Portanto, o poder baseado na força não confere direitos ou se caracteriza
como poder legítimo.

a. A escravidão: Uma vez que a força é um poder ilegítimo, é lógico concluir que
ninguém tem autoridade natural sobre os outros. A autoridade legítima entre as
pessoas é baseada nas convenções.

Como as pessoas não têm autoridade sobre as outras, não podem se vender em
troca de obediência eterna a um comprador, o que o autor considera um ato de
loucura. Para ele, não há nada que compense renunciar a todos os direitos e
responsabilidades. É interessante observar que, pelo fato dos seres nascerem
vivos, não é possível alienar os próprios filhos.

i. As guerras: Mesmo no estado natural, os seres humanos não são


inimigos, uma vez que as guerras são caracterizadas como conflitos
entre Estados. Portanto, um Estado não pode considerar os homens
como seus inimigos, pois eles possuem naturezas diferentes. Além
disso, os confrontos individuais e as guerras privadas não podem
ocorrer no estado de natureza, uma vez que não há propriedade estável;
nem no estado social, onde as leis estão presentes.

Um príncipe tem o poder de tomar posse dos bens públicos de um país


derrotado, mas não dos bens privados, uma vez que isso violaria os
direitos dos quais ele próprio também desfruta. Na guerra, cujo objetivo
é destruir o Estado inimigo, é permitido matar os seus defensores. No
entanto, essa permissão não se aplica caso eles se rendam, pois então se
tornam homens com o direito à vida.

Um povo que está dominado ou em escravidão só precisa obedecer


enquanto estiver sendo coagido, sem possui obrigações com o
vencedor, uma vez que a força não cria direitos ou deveres. O suposto
direito de escravidão é inválido, pois a autoridade imposta pelo senhor
por meio da força é apenas uma convenção que perpetua o estado de
guerra.

4. O pacto social: No estado de natureza, surge a necessidade dos homens se unirem,


pois os desafios se tornam maiores do que as forças individuais.

O Contrato Social estabelece uma forma de associação que visa proteger, com toda a
força coletiva, a vida e os bens de cada membro, permitindo que cada um, ao se unir
ao todo, permaneça tão livre quanto antes, obedecendo a si mesmo.

A regra fundamental do contrato é que todos devem se entregar completamente à


comunidade, com condições iguais para todos, de forma que ninguém tenha interesse
em formar associações prejudiciais à terceiros. O contrato pode ser resumido no fato
de que cada um de nós coloca em comum sua própria pessoa e todo o seu poder, sob a
supremacia da vontade geral, e reconhecemos cada membro como parte indivisível do
todo, enquanto corpo coletivo.

A associação dos membros do povo forma um corpo, que é chamado de Estado


quando em uma posição passiva, soberano quando em ação e potência quando
comparado a outros corpos similares. Os membros dessa associação se consideram
como povo, sendo chamados de cidadãos quando participantes da autoridade soberana,
e de súditos, quando submetidos às leis do Estado.

5. Soberania: O soberano não pode impor a si mesmo algo que não possa cumprir, pois
seria contraditório. Além disso, ofender um membro afeta o corpo como um todo, e o
contrário também é verdadeiro: é impossível que o corpo busque prejudicar seus
próprios membros.

Aqueles que desejam exercer os direitos de cidadão, mas se recusam a cumprir os


deveres de súdito, podem ameaçar a existência do corpo político como um todo. Ao se
opor à vontade geral, podem ser expulsos da sociedade.

a. Inalienabilidade: A soberania não pode ser alienada, pois se trata de uma


vontade geral e só pode ser representada por si mesma.

b. Indivisibilidade: Só seria possível a divisão da soberania se não fosse a


vontade de apenas uma parte dos membros da sociedade, não uma vontade
geral.
i. Vontade geral: A vontade geral tem como objetivo buscar o interesse
comum, ao passo que a vontade de todos é a soma das vontades
individuais, voltada apenas para os interesses particulares.

c. Como se mantém a autoridade soberana: Para que a vontade geral seja


expressa e a autoridade soberana se mantenha, é necessário que o povo esteja
reunido e atue exclusivamente por meio das leis.

6. Estado civil: A liberdade natural concede aos seres humanos a capacidade de buscar
qualquer ambição que desejem. No entanto, no estado civil, que é restrita pela vontade
geral, e pela liberdade moral, que significa estar em conformidade com as leis criadas
por si mesmo. Ainda, surge a noção de propriedade, que substitui a simples posse é
fundamentada em um título positivo.

7. Domínio real: Ao abandonar o estado de natureza, a mera posse se transforma em


direito de propriedade, fundamentado no princípio do primeiro ocupante, que é
especialmente respeitado no estado civil. As condições para que exista o direito do
primeiro ocupante são: não haver ninguém anteriormente presente, ocupar uma porção
necessária para a subsistência e a posse ser obtida por meio do trabalho e da cultura.

A soberania se estende tanto aos bens particulares quanto aos públicos, e os


governantes deixam de ser indivíduos específicos, passando a representar os
territórios. A comunidade legitima o direito de propriedade. Dessa forma, os seres
humanos, que naturalmente possuem diferenças de força ou intelecto, adquirem
igualdade moral e legítima.

8. Divisão das leis: Existem quatro relações essenciais no âmbito da coisa pública. A
primeira diz respeito às relações entre o povo e o soberano, ou entre o soberano e o
Estado, as quais são regidas pelas leis políticas ou fundamentais. A segunda relação
refere-se às interações entre os membros entre si, que devem ser em menor escala para
garantir a independência de cada membro, ou entre os membros e o corpo político, que
deve ser em maior escala para garantir a dependência da comunidade; dessa relação
surgem as leis civis, que emanam da interação entre a força do Estado e a liberdade
individual. A terceira relação envolve a interação entre o homem e a lei, e é nessa
relação que são estabelecidas as leis criminais. Por fim, a quarta e última relação diz
respeito aos usos e costumes estabelecidos na sociedade.
9. Governo: Dentro do corpo político, encontramos o poder legislativo, relacionado à
vontade, e o poder executivo, relacionado à força. O poder legislativo reside no povo,
enquanto o poder executivo está nas mãos do governo, que atua como intermediário
entre os súditos e o soberano, encarregando-se de executar as leis e preservar a
liberdade.

O governo representa o exercício do poder executivo, enquanto os magistrados, reis e


príncipes são os responsáveis pela administração desse poder. Os reis e os magistrados
são membros do corpo político, enquanto o príncipe representa o corpo como um todo.

a. Divisão dos governos: Todas as formas de governo estão sujeitas a limitações e


expansões. Elas podem se misturar, o que evidencia a existência de inúmeras
formas diferentes de governo, inclusive formas mistas. Cada uma delas é
adequada em determinados casos e desfavorável em outros. Em geral,
podemos classificar as espécies de governo de acordo com o número de
membros que as compõem.

i. Democracia: quando há mais magistrados do que cidadãos. Convém


aos Estados pequenos.

ii. Aristocracia: quando há mais cidadãos do que magistrados. Convém


aos Estados médios.

iii. Monarquia: quando há um único magistrado. Convém aos Estados


grandes.

b. Degeneração: O governo tenta se sobrepor ao soberano, fazendo o corpo


político se destruir. Essa degeneração (e consequentemente, a morte do corpo
político) é impossível, portanto cabe ao homem prolongar a sua vida por meio
da melhor constituição possível.

10. Os deputados ou representantes: Uma vez que a lei é simplesmente a expressão da


vontade geral, no poder legislativo não é necessário que o povo seja representado. No
entanto, no poder executivo essa representação se faz necessária, pois é nesse
momento que a força é aplicada à lei.
A soberania não pode ser representada por meio de deputados, e toda lei que não seja
diretamente ratificada pelo povo é considerada nula. Segundo Rousseau, o Estado está
em um estado de ruína ao remunerar alguém para representar os cidadãos.

11. A censura: O julgamento público é proclamado por meio da censura, assim como a
vontade geral é expressa pelas leis. Os julgamentos têm o propósito de reforçar os
costumes estabelecidos pela legislação, contribuindo para sua preservação, mas não
para sua restauração.

12. Conclusões: O homem renuncia à sua liberdade ilimitada ao abandonar o estado de


natureza e entrar em um contrato social, visando satisfazer seus desejos individuais.
Nesse processo, ele troca sua liberdade natural pela liberdade civil e adquire a
capacidade de proteger sua propriedade contra a apropriação por outros. O governo
desempenha o papel intermediário entre o soberano e os cidadãos, exercendo o poder
executivo para fazer cumprir as leis. A soberania, inalienável e indivisível, atua como
poder legislativo e também como censora, expressando a vontade geral e a opinião
pública.

Embora exista a tendência à degeneração do corpo político, uma constituição sólida


pode prolongar sua existência. Portanto, os legisladores não devem representar os
cidadãos na criação de leis ou em atividades públicas em geral.

De acordo com Rousseau, a sociedade civil é estabelecida para alcançar a liberdade


civil. Diferentemente dos pensadores anteriores, a sociedade civil não é vista como
uma concessão de parte da liberdade individual para garantir direitos coletivos à vida.
Em vez disso, ela modifica a liberdade, que é guiada por impulsos quase instintivos,
para a liberdade civil, que permite uma convivência harmoniosa com outras pessoas.

A questão da propriedade também difere significativamente. Enquanto Locke


considerava a propriedade existente e baseada no trabalho de cada indivíduo, para
Rousseau, ela se limitava à posse. No entanto, com o estabelecimento da sociedade
civil, surge o direito à propriedade, fundamentado na teoria do primeiro ocupante.

Quanto ao funcionamento da sociedade civil, Rousseau concorda com Locke em


relação ao poder legislativo supremo e sua responsabilidade na criação das leis que
governam a sociedade. No entanto, ele explora mais a fundo a questão da soberania,
destacando sua importância tanto para o funcionamento interno da sociedade quanto
para as relações internacionais, onde todos os Estados devem ser tratados como iguais.

Embora não haja uma preferência clara por um sistema de governo específico,
Rousseau levanta um ponto relevante sobre a representatividade. Segundo ele, um
representante pode corromper a vontade geral, pois é improvável que todos os
representados pensem exatamente da mesma maneira. A vontade dos representantes
apenas se assemelha à vontade geral, e, a longo prazo, isso pode minar o próprio
funcionamento da sociedade civil.

Ao desenvolver a ideia de soberania popular, Rousseau afirma que a vontade geral


deve ser o fundamento da autoridade política. No entanto, ele não oferece uma
explicação clara de como a vontade geral é determinada e como os conflitos de
opinião podem ser resolvidos de forma justa. Além disso, ele negligencia a proteção
dos direitos individuais em prol da vontade coletiva.

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