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JOHN LOCKE E O LIBERALISMO

1. Introdução
John Locke (1632-1704) é considerado o pai do liberalismo político e cria as bases filosóficas para o liberalismo
econômico fundado por Adam Smith. Segundo este o governo não deve interferir na esfera privada da sociedade
inclusive na esfera do mercado. Locke influenciou com a sua filosofia na Revolução Gloriosa Inglesa e na revolução
norte-americana que proclamou a Independência dos Estados Unidos. A constituição dos USA tem influência de
suas idéias. Influenciou também filósofos iluministas franceses principalmente Voltaire e Montesquieu. Mas
influenciou também Rousseau apesar das grandes diferenças entre eles.
2. Idéias principais
As idéias principais de sua filosofia podem ser encontradas nos livros: "Cartas sobre a tolerância", "Ensaio sobre o
entendimento humano" e os "Dois tratados sobre o Governo Civil".
2.1 O Homem no Estado de Natureza
- Estado de Natureza: situação em que vivia o homem antes de qualquer organização social.
- opõe-se ao filósofo Aristóteles (381-322 a. c.) que afirma que a sociedade vem antes do indivíduo. Para Locke a
existência do indivíduo é anterior à sociedade e ao Estado.
- no Estado de Natureza os homens eram livres, iguais e independentes. Já eram dotados de razão e desfrutavam da
propriedade que designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano.
- A razão já existe neste estado natural orientando o homem: ela diz por exemplo: cada um é livre para dispor do seu
corpo mas ninguém deve abusar dessa liberdade para prejudicar os demais ou seja, O MEU DIREITO TERMINA
ONDE COMEÇA O DIREITO DO OUTRO. A razão também diz que não tem sentido atentar contra a liberdade dos
outros pois no estado de natureza a terra e os seus frutos são abundantes e suficientes para todos.
- Os homens poderiam viver harmoniosamente neste estado se não houvessem os criminosos, os transgressores,
aqueles que não seguem o que determina a razão e são a causa do estado de guerra entre os homens.
- Neste estado de guerra todos os que seguem a razão tem o direito de castigar o criminoso inclusive com a pena de
morte. Nesta situação a paz não pode ser alcançada por um acordo mas somente pela rendição do criminoso e pela
reparação dos danos causados. A guerra só termina quando o último dos criminosos for castigado.
- Mas na prática isto perpetua o estado de guerra pois não há garantia de que o criminoso não ressurja, o castigo não
impede a reincidência do criminoso. Além disso, em um estado em que todos são juízes e executores da lei em causa
própria, como evitar o julgamento parcial, as sentenças e os castigos excessivos?
- Há o perigo também da miséria e da fome, sempre presentes. É a falta de alimentos em certo estágio do estado de
natureza que leva o homem a mudar seu procedimento mais solidário levando-o a ser individualista e preocupado
com a acumulação. Isto propicia as trocas, a propriedade privada e o aparecimento do dinheiro. Mas também leva às
disputas e às lutas gerando estado de guerra entre os homens.
- Devido a todos esses inconvenientes os homens se unem e estabelecem livremente entre si o contrato social que
realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil, único estado onde o homem pode ser
efetivamente livre podendo preservar a si mesmo e à sua propriedade.
2.2 O Contrato Social
- É um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em fundar a sociedade civil para
preservarem e consolidarem ainda mais os direitos que possuem no estado de natureza. Através deste pacto os
indivíduos aceitam limitar sua liberdade, seu poder de fazer justiça com as próprias mãos, em troca da preservação
da sua propriedade.
- Estabelecido o estado civil o passo seguinte é a escolha pela comunidade de uma determinada forma de governo.
- Qual? Para Locke pode ser de um só indivíduo ou de vários, mas o que importa é a sua finalidade: a de concentrar
para si todo o direito de julgar e de castigar os criminosos de modo a assegurar para toda a comunidade e para cada
um de seus membros a segurança, o conforto e paz. Tem a finalidade de conservar a propriedade, a vida, bens,
liberdade.
- O poder político é uma espécie de depósito confiado por proprietários a outros proprietários. Por isso ele nunca é
ilimitado.
- No pacto social deve prevalecer a vontade da maioria. (Para Locke a vontade da maioria é algo essencial para a
democracia e para a garantia do interesse público)
- Para evitar o absolutismo no poder propõe a sua divisão em três partes: Poder legislativo, poder executivo e poder
federativo (= encarregado das relações exteriores como guerra, paz, alianças e tratados)
- Cabe à maioria escolher o poder legislativo que é superior tanto ao poder executivo como ao federativo. O poder
do governante (que exerce o poder executivo) é limitado. (observação: com isto Locke se coloca na sua época
contra o poder absoluto dos reis)
- Se o poder político origina-se de um consentimento, este ao contrário da renúncia não confere poderes ilimitados a
ninguém. Exige-se sempre uma concordância entre o que foi estabelecido e o que, efetivamente, é feito. A liberdade
que existia no estado de Natureza continua com uma diferença: no estado de natureza as limitações individuais eram
trazidas pela razão ("o meu direito termina onde começa o do outro"), no estado civil são instituídas pela lei. - Se o
governo deixa de cumprir o fim ao qual foi destinado tornando-se ilegal e tirano há o DIREITO DE REBELIÃO E
RESISTÊNCIA. Nesta situação instaurando-se um estado de guerra entra-se no estado natural e de acordo com as
características desse estado, onde não existe um árbitro comum, os homens tem o direito de resistir e de lutar contra
o poder tirano usando a força. (Observação: esta rebelião está prevista na Constituição dos Estados Unidos). O
direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se da opressão de um governo tirânico como para
libertar-se do domínio de uma nação estrangeira.
- Mas diferentemente de Rousseau, Locke não propõe a participação política constante mesmo quando advoga o
direito de voto. Para ele, essa participação só tem sentido em momentos de crise quando os direitos naturais estão
ameaçados. Além disto se são os cidadãos aqueles que promovem o pacto social nem todos são considerados
cidadãos como as mulheres e os escravos.
- É o Parlamento (poder legislativo) que resolve e legisla sobre as questões de caráter público. Ele é a expressão da
DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. Aos cidadãos compete cuidar de suas próprias vidas.
- Locke enfatiza a necessidade de leis que impeçam privilégios pessoais e garantam a propriedade como um direito
natural. "O discurso de Locke sobre a autoridade paterna serve para dizer o que o Estado não pode ser: patriarcal."
Esse tipo de governo, próprio das monarquias, "impede que os governados cresçam: como filhos, considera-os
sempre imaturos, incapazes de exercer sua própria liberdade e autonomia. Pior ainda, os governados não só aceitam
esse estado de coisas, como se habituam e ficam sempre esperando ordens pela vida afora. No Estado político, a
autoridade daquele que governa só é legítima se obtiver o consentimento dos governados, diferindo assim da
autoridade do pai e do déspota, cujos poderes não resultam de um pacto." (Do Livro: "Cidadania, uma questão para a
educação, Nilda Teves Ferreira, Ed. Nova Fronteira, 1993)
Segundo Locke: "Que pacto pode fazer um homem que não é senhor de sua vida?" (Observação: Mas nós diríamos,
criticando-o, que para ser senhor de sua vida, o indivíduo precisa de condições objetivas para viver e não apenas de
condições formais, como por exemplo, a igualdade perante a lei. Esta formalidade, este idealismo, é próprio do
liberalismo ortodoxo desde John Locke. "Desaparecem as contradições reais, e os conflitos são considerados
passíveis de ser eliminados pelo progresso ou pela luta jurídica", não há a consideração da luta de classes. "A crítica
de Marx à concepção liberal de Estado se prende ao fato de que as lutas que se travam ano interior deste - seja em
relação às formas de governo, seja em torno dos direitos políticos - ocultam interesses antagônicos das diferentes
classes sociais" (op. cit. pág. 94, 95)
- Locke retira a religião do âmbito do Estado. O Estado não pode interferir em questões religiosas nem a religião em
questões próprias do Estado. A concepção política é extremamente secularizada. Diz ele: "Toda a jurisdição do
magistrado diz respeito somente a esses bens civis (Observação do prof. Laerte: esses bens são a vida, a liberdade, a
saúde física, dinheiro, etc...) ... e que não deve e não pode ser de modo algum estendido à salvação das almas...."
(Carta acerca da Tolerância, Coleção "Os Pensadores", Editora Abril, pág. 5, ano 1978). Ao mesmo tempo prega a
tolerância religiosa em uma época marcada pela intolerância. Segundo ele: "A tolerância para os defensores de
opiniões opostas acerca de temas religiosos está tão de acordo com o Evangelho e com a razão que parece
monstruosos que os homens sejam cegos diante de uma luz tão clara". (op. cit. pág. 4) "... "Apelo à consciência dos
que perseguem, atormentam, destroem e matam outros homens em nome da religião, se o fazem por amizade e
bondade. E, então, certamente, e unicamente então, acreditarei que o fazem, quando vir tais fanáticos castigarem de
modo semelhante seus amigos e familiares, que claramente pecaram contra preceitos do Evangelho..." (op. cit. pág.
3)
- em relação às guerras Locke admite a chamada guerra justa mas afirma que o governo de um país que conquista
outro em uma guerra justa tem direito sobre a vida dos que lutaram contra ele mas não sobre as propriedades deles e
muito menos daqueles que não lutaram contra ele. Além disso segundo Locke: "... o conquistador não tem direito a
domínio sobre os que a ele se juntaram na guerra e sobre os que a ele não se opuseram no país dominado, bem como
sobe a posteridade dos que assim o fizeram, mesmo em uma guerra justa; todos estão livres de qualquer sujeição a
ele, e, se o governo primitivo for dissolvido, ficam em liberdade para dar início a um novo, instituindo-o de per si."
("Segundo Tratado sobre o Governo", pág. 108, Coleção "Os Pensadores", Ed. Abril, ano 1978)
2.3 Locke e a questão da propriedade
- A idéia de Locke quanto ao que determina o valor da mercadoria que é o TRABALHO pode ser considerada como
precursora da teoria do valor-trabalho, desenvolvida por Adam Smith e Ricardo, economistas ingleses do século
XVIII. Esta teoria foi aproveitada e transformada por Karl Marx no século XIX.
- Para Locke a propriedade já existe no estado de natureza através da propriedade do corpo e do trabalho de cada
indivíduo. Sendo uma instituição que precede a sociedade é um DIREITO NATURAL do indivíduo que não pode
ser violado pelo Estado.
- Por isso, para Locke, a propriedade propriamente dita, em sentido estrito como a posse de bens móveis ou imóveis
(como a propriedade da terra) vai ser justificada tendo como base a propriedade do corpo e do trabalho. Ou seja, a
propriedade será a extensão da posse de si mesmo, da propriedade do corpo.
- Como justificar por exemplo a propriedade privada sobre um pedaço de terra se Deus deu a terra em comum a
todos os homens? Locke a justifica através do TRABALHO. Ao incorporar seu trabalho (= energia que vem do
corpo e do qual cada indivíduo é proprietário) à matéria bruta que se encontrava em estado natural o homem torna-a
sua propriedade privada excluindo dela todos os outros homens. "Sem nenhuma dúvida, todo mundo é proprietário
de sua própria pessoa e, em consequência disso, do trabalho de suas mãos. O trabalho é comparável a uma
substância separável do corpo do indivíduo, que pode ser misturada com o objeto natural trabalhado. Através dessa
mistura da substância trabalho, que é propriedade do trabalhador, torna-se também o produto do trabalho
propriedade do proprietário do trabalho." (Manfredo Araújo de Oliveira, in Ética e Sociabilidade, edições Loyola,
1993, pág. 121). O TRABALHO se torna pois o fundamento da propriedade privada.
- No estado de natureza a propriedade era limitada. O limite era fixado pela capacidade de trabalho do ser humano e
pelo atendimento de suas necessidades possibilitando para os outros também a posse de bens. Porém o aparecimento
do dinheiro possibilitou as trocas e por consequência o comércio e a partir daí foi possível a acumulação de dinheiro
e terra e a propriedade passa a ser ilimitada. Isto gerou conflitos, disputas e lutas pois inventando o dinheiro os
homens aceitam a posse da existência desigual dos bens. Estabelece-se pois o estado de guerra. Não tendo segurança
os homens resolvem se unir em um pacto social e estabelecer, como já foi dito anteriormente, o contrato social pelo
qual preservariam a suas propriedades através da segurança dada pelo Estado. Mas é esta propriedade
fundamentalmente desigual da fase final do estado e natureza que deve ser mantida? Locke é ambíguo, nada fala
sobre a divisão eqüitativa dos bens ou sobre a regulação da propriedade dos bens materiais.

TEXTOS DE LOCKE

(Do livro: "Os Clássicos da Política", org. Francisco C. Weffort, Ed. Ática, 1989, pág. 91-110)

Introdução
Todas essas premissas tendo sido, ao que me parece, claramente estabelecidas, é impossível que os atuais governantes sobre a
Terra obtenham qualquer proveito ou derivem a menor sombra de autoridade daquilo que é tido como a fonte de todo poder,
"o domínio privado e a jurisdição paterna de Adão"; de tal modo que aquele que nem se permite imaginar que todo governo
no mundo é apenas o produto da força e da violência e que os homens somente vivem juntos pelas mesmas regras dos
animais, onde vence o mais forte e, desta forma, lança as bases para a perpétua desordem e discórdia, tumulto, sedição e
rebelião (coisas que os adeptos dessa hipótese combatem tão clamorosamente), deve necessariamente descobrir outra origern
para o governo, outra fonte do poder político e uma outra maneira de escolher e conhecer as pessoas que o exercem diferente
daquela que nos ensinou Sir Robert Filmer.
Visando este objetivo, não me parece despropositado formular o que entendo por poder político. Pois o poder de um
magistrado sobre um súdito deve ser distinguido daquele de um pai sobre seus filhos, de um senhor sobre seu servo, de um
marido sobre sua esposa e de um nobre sobre seu escravo. Como todos estes poderes às vezes se encontram reunidos numa
mesma pessoa, se a considerarmos sob tais diferentes relações, pode ser-nos útil distinguir esses poderes uns dos outros e
mostrar a diferença entre um governante de comunidade, um pai de família e um comandante de galera.
Considero, portanto, o poder político como o direito de fazer leis com pena de morte, e consequentemente todas as
penalidades menores para regular e preservar a propriedade, e o de empregar a força da comunidade na execução de tais leis e
na defesa da comunidade contra a agressão estrangeira, e tudo isso apenas em prol do bem público.

Do estado de natureza

Para compreender corretamente o poder Político e depreendê-lo de sua origem, devemos considerar em que estado todos os
homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses
e as pessoas tal como acharem conveniente, nos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de
qualquer outro homem.
Um Estado também de igualdade, onde é reciproco qualquer poder e jurisdição, nenhum tendo mais do que o outro; nada
havendo de mais evidente do que criaturas da mesma espécie e ordem, nascidas promiscuamente para as mesmas vantagens
da natureza e para o uso das mesmas faculdades, que terão sempre de ser iguais umas às outras sem subordinação ou sujeição,
a menos que o senhor e mestre de todas elas, por qualquer declaração manifesta de sua vontade, colocasse urna acima da
outra e lhe conferisse, por uma indicação evidente e clara, direito indubitável ao domínio e à soberania.
[ ... ]
Contudo, embora seja este um estado de liberdade, não o é de licenciosidade; ainda que naquele estado o homem tenha urna
liberdade incontrolável para dispor de sua pessoa ou posses, não possui, no entanto, liberdade para destruir a si mesmo ou a
qualquer criatura que esteja em sua posse, senão quando isto seja exigido por algum uso mais nobre do que a simples
conservação. O estado de natureza tem uma lei de natureza a governá-lo e que a todos submete; e a razão, que é essa lei,
ensina a todos os homens que apenas a consultam que, sendo todos iguais e independentes, nenhum deve prejudicar a outrem
na vida, na saúde, na liberdade ou nas posses. [ ... ]
E para evitar que todos os homens invadam os direitos dos outros e que mutuamente se molestem, e para que a lei da natureza
seja observada, a qual implica na paz e na preservação de toda a humanidade, coloca-se, naquele estado, a execução da lei da
natureza nas mãos de todos os homens, por meio da qual qualquer um tem o direito de castigar os transgressores dessa lei
numa medida tal que possa impedir a sua violação. Isso porque a lei da natureza, como quaisquer outras leis que digam
respeito aos homens neste mundo, seria vã se não houvesse ninguém nesse estado de natureza que tivesse o poder para pôr
essa lei em execução e deste modo preservar o inocente e restringir os infratores. [ ... ]
Concedo de bom grado que o governo civil é o remédio acertado para os inconvenientes do estado de natureza, os quais
certamente devem ser grandes onde os homens podem ser juizes em causa própria, já que é fácil imaginar que quem foi tão
injusto a ponto de causar dano a um irmão, raramente será tão justo a ponto de condenar a si mesmo por isso. Mas desejaria
que aqueles que assim objetam se lembrassem de que os monarcas absolutos são apenas homens, e se o governo deve ser o
remédio para aqueles males que se seguem necessariamente do fato de serem os homens juizes em causa própria, não sendo,
por isso, suportável o estado de natureza, desejo saber que espécie de governo é este, e em que medida é melhor que o estado
de natureza, onde um homem, governando uma multidão, tem a liberdade de ser juiz em causa própria, podendo fazer aos
seus súditos tudo quanto lhe aprouver, sem o menor questionamento ou controle por parte daqueles que lhe executam as
vontades, devendo todos a ele se submeter, seja lá o que for que ele faça, levado pela razão, pelo erro ou pela paixão?
[ ... ]
Mas, além dessas considerações, sustento que todos os homens estão naturalmente naquele estado e nele permanecem até
que, por sua própria anuência, tornam-se membros de alguma sociedade política; e não duvido que possa tornar isto mais
claro na continuação deste ensaio.

Do estado de guerra
O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição; e, por isso, ao declarar, por meio de palavra ou ação - não de um
modo apaixonado e precipitado, mas de maneira calma e firme -, um desígnio com relação à vida de outrem, coloca-o ao seu
lado num estado de guerra contra aquele a quem declarou uma tal intenção e desta forma expõe sua vida ao poder de outrem,
para ser arrebatada por aquele ou por qualquer outro que a ele se junte em sua defesa, esposando-lhe a causa. [ ... ]
Daí resulta que aquele que tenta colocar a outrem sob seu poder absoluto, põe-se por causa disto num estado de guerra com
ele, devendo-se interpretar isto como uma declaração de um desígnio em relação à sua vida. Assim, tenho motivos para
concluir que aquele que se apoderar de mim, sem meu consentimento, fará uso de mim, tal como lhe aprouver quando eu
estiver em seu poder e destruir-me-á também quando lhe der na veneta; pois ninguém pode me desejar ter sob seu poder
absoluto senão para compelir-me pela força ao que é contrário ao direito de minha liberdade - isto é, tornar-me escravo.
Livrar-me de semelhante força é a única garantia à minha preservação e a razão me ordena considerar como inimigo de
minha preservação aquele que arrebatar aquela liberdade que a protege, de sorte que quem tenta me escravizar, põe-se em
estado de guerra comigo. [ ... ]
E nisto temos a clara diferença entre o estado de natureza e o estado de guerra que, muito embora alguns tenham confundido,
estão tão distantes um do outro quanto um estado de paz, boa vontade, assistência mútua e preservação está de um estado de
inimizade, malícia, violência e destruição mútua. Quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior
comum na Terra que possua autoridade para julgar entre eles, verifica-se propriamente o estado de natureza. Todavia, a força,
ou o desígnio declarado de força contra a pessoa de outrem, quando não existe qualquer superior comum sobre a Terra a
quem apelar, constitui o estado de guerra; e é a necessidade de semelhante apelo que dá ao homem o direito de guerra mesmo
contra um agressor, ainda que este esteja em sociedade e seja igualmente um súdito.
[ ...] A falta de um juiz comum com autoridade coloca todos os homens em um estado de natureza; a força sem o direito sobre
a pessoa de um homem provoca um estado de guerra não só quando há como quando não há um juiz comum. [ ... ]
Evitar esse estado de guerra - no qual não há apelo senão para o céu, e no qual qualquer divergência, por menor que seja, é
capaz de ir dar, se não houver autoridade que decida entre os contendores - é razão decisiva para que homens se reúnam em
sociedade deixando o estado de natureza; onde há autoridade, poder na Terra do qual é possível conseguir amparo mediante
apelo, exclui-se a continuidade do estado de guerra, decidindo-se a controvérsia por aquele poder. [ ... ]

Da propriedade
[ ... ]
Embora a terra e todas as criaturas inferiores sejam comuns a todos os homens, cada homem tem uma "propriedade" em sua
própria "pessoa"; a esta ninguém tem qualquer direito senão ele mesmo. Podemos dizer que o "trabalho" do seu corpo e a
"obradas suas mãos são propriamente seus. Seja o que for que ele retire do estado que a natureza lhe forneceu e no qual o
deixou, fica-lhe misturado ao próprio trabalho, juntando-se-lhe algo que lhe pertence e, por isso mesmo, tornando-o
propriedade dele. Retirando-o do estado comum em que a natureza o colocou, anexou-lhe por esse trabalho algo que o exclui
do direito comum de outros homens. Desde que esse "trabalho" é propriedade indiscutível do trabalhador, nenhum outro
homem pode ter direito ao que foi por ele incorporado, pelo menos quando houver bastante e igualmente de boa qualidade em
comum para terceiros. [ ... ]
A mesma lei da natureza que nos dá por esse meio a propriedade, também igualmente a limita. "Deus nos deu de tudo
abundantemente" [I Tim 6, 17) é a voz da razão confirmada pela inspiração? Mas até que ponto Ele nos deu isso "para
usufruir"? Tanto quanto qualquer um pode usar com qualquer vantagem para a vida antes que se estrague, em tanto pode fixar
uma propriedade pelo próprio trabalho; o excedente ultrapassa a parte que lhe cabe e pertence a terceiros. [ ... ]
É o trabalho, portanto, que atribui a maior parte do valor à terra, sem o qual dificilmente ela valeria alguma coisa; é a ele que
devemos a maior parte de todos os produtos úteis da terra; por tudo isso a palha, farelo e pão desse acre de trigo valem mais
do que o produto de um acre de terra igualmente boa mas abandonada, sendo o valor daquele o efeito do trabalho.
De tudo isso, é evidente que, embora a natureza tudo nos ofereça em comum, o homem, sendo senhor de si próprio e
proprietário de sua pessoa e das ações ou do trabalho que executa, teria ainda em si mesmo a base da propriedade; e aquilo
que compôs a maior parte do que ele aplicou ao sustento ou conforto do próprio ser, quando as invenções e as artes
aperfeiçoaram os confortos materiais da vida, era perfeitamente seu, não pertencendo em comum a outros.
A maior parte das coisas realmente úteis à vida do homem são, em geral, de curta duração e, tal como a necessidade de
subsistência obrigou os primeiros membros das comunidades a procurar por elas, conforme ora acontece com os americanos,
da mesma forma, se não forem consumidas pelo uso, estragar-se-ão e perecerão por si mesmas; o ouro, a prata e os diamantes
são artigos a que a imaginação ou o acordo atribuiu valor, mais do que pelo uso real e sustento necessário da vida. [ ... ]
E assim originou-se o uso do dinheiro - algo de duradouro que os homens pudessem guardar sem se estragar e que, por
consentimento mútuo, recebessem em troca de sustentáculos da vida, verdadeiramente úteis mas perecíveis. [ ... ]
Mas como o ouro e a prata são de pouca utilidade para a vida humana em comparação com o alimento, vestuário e transporte,
tendo valor somente pelo consenso dos homens, enquanto o trabalho dá em grande parte a medida, é evidente que os homens
concordaram com a posse desigual e desproporcionada da terra, tendo descoberto, mediante consentimento tácito e
voluntário, a maneira de um homem possuir licitamente mais terra do que aquela cujo produto pode utilizar, recebendo em
troca, pelo excesso, ouro e prata que podem guardar sem causar dano a terceiros, uma vez que estes metais não se deterioram
nem se estragam nas mãos de quem os possui. Os homens tornaram praticável semelhante partilha em desigualdade de posses
particulares fora dos limites da sociedade e sem precisar de pacto, atribuindo valor ao ouro e à prata, e concordando
tacitamente com respeito ao uso do dinheiro; porque, nos governos, as leis regulam o direito de propriedade e constituições
positivas determinam a posse da terra.
[ ... ]
Da sociedade política ou civil
O homem, nascendo, conforme provamos, com direito a perfeita liberdade e gozo incontrolado de todos os direitos e
privilégios da lei da natureza, por igual a qualquer outro homem ou grupo de homens do mundo, tem, por natureza, o poder
não só de preservar a sua propriedade - isto é, a vida, a liberdade e os bens - contra os danos e ataques de outros homens, mas
também de Julgar e castigar as infrações dessa lei por outros conforme estiver persuadido da gravidade da ofensa e até
mesmo com a morte nos crimes em que o horror do fato o exija, conforme a sua opinião. Contudo, como qualquer sociedade
política não pode existir nem subsistir sem ter em si o poder de preservar a propriedade e, para isso, castigar as ofensas de
todos os membros dessa sociedade, haverá sociedade política somente quando cada um dos membros renunciar ao próprio
poder natural, passando-o às mãos da comunidade em todos os casos que não lhe impeçam de recorrer à proteção da lei por
ela estabelecida. [ ... ] Os que estão unidos em um corpo, tendo lei comum estabelecida e judicatura para a qual apelar, com
autoridade para decidir controvérsias e punir os ofensores, estão em sociedade civil uns com os outros; mas os que não têm
essa apelação em comum, quero dizer, sobre a Terra, ainda se encontram no estado de natureza, sendo cada um, onde não há
outro, juiz para si e executor, o que constitui, conforme mostrei anteriormente, o estado perfeito de natureza. [ ... ]
E por essa maneira a comunidade consegue, por meio de um poder julgador, estabelecer que castigo cabe às várias
transgressões quando cometidas entre os membros dessa sociedade - que é o poder de fazer leis -, bem como possui o poder
de castigar qualquer dano praticado contra qualquer dos membros por alguém que não pertence a ela - que é o poder de
guerra e de paz -, e tudo isso para preservação da propriedade de todos os membros dessa sociedade, tanto quanto possível.
[ ... ] E aqui deparamos com a origem dos poderes legislativo e executivo da sociedade, que deve julgar por meio de leis
estabelecidas até que ponto se devem castigar as ofensas quando cometidas dentro dos limites da comunidade, bem como
determinar, mediante julgamentos ocasionais baseados nas circunstâncias atuais do fato, até onde as agressões externas
devem ser retaliadas; e em um e outro caso utilizar toda a força de todos os membros, quando houver necessidade. [ ... ]
Do que ficou dito é evidente que a monarquia absoluta, que alguns consideram o único governo no mundo, é, de fato,
incompatível com a sociedade civil, não podendo por isso ser uma forma qualquer de governo civil, porque o objetivo da
sociedade civil consiste em evitar e remediar os inconvenientes do estado de natureza que resultam necessariamente de poder
cada homem ser juiz em causa própria, estabelecendo-se uma autoridade conhecida para a qual todos os membros dessa
sociedade podem apelar por qualquer dano que lhe causem ou controvérsia que possa surgir, e à qual todos os membros dessa
sociedade terão de obedecer. Onde quer que existam pessoas que não tenham semelhante autoridade a que recorrerem para
decisão de qualquer diferença entre elas, estarão tais pessoas no estado de natureza; e assim se encontra qualquer príncipe
absoluto em relação aos que estão sob seu domínio. [ ... ]
Do começo das sociedades políticas
Sendo os homens, conforme acima dissemos, por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de
sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma
pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com outras
pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, gozando
garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela.
Qualquer número de homens pode fazê-lo, porque não prejudica a liberdade dos demais; ficam como estavam na liberdade do
estado de natureza. Quando qualquer número de homens consentiu desse modo em constituir uma comunidade ou governo,
ficam, de fato, a ela incorporados e formam um corpo político no qual a maioria tem o direito de agir e resolver por todos.
[ ... ]
E assim todo homem, concordando com outros em formar um corpo político sob um governo, assume a obrigação para com
todos os membros dessa sociedade de se submeter à resolução da maioria conforme esta a assentar; se assim não fosse, esse
pacto inicial - pelo qual ele juntamente com outros se incorpora a uma sociedade - nada significaria, e deixaria de ser pacto,
se aquele indivíduo ficasse livre e sob nenhum outro vínculo senão aquele em que se achava no estado de natureza. [ ... ]
Se o assentimento da maioria não fosse aceito como razoável enquanto ato de todos submetendo cada indivíduo, nada, senão
o consentimento de cada um, poderia fazer com que qualquer coisa fosse o ato de todos; mas tal consentimento é quase
impossível de se conseguir se considerarmos as enfermidades e as ocupações secundárias com os negócios que em um grupo
qualquer, embora muito menos que em uma comunidade, afastarão necessariamente muitos membros da assembléia pública...
Quem quer, portanto, que, saindo de um estado de natureza, entre para uma comunidade deve ser considerado como
declinando de todo o poder necessário aos fins para os quais se uniram em sociedade, em favor da maioria da comunidade, a
menos que estejam expressamente de acordo quanto a um número maior do que a maioria. E isto se consegue concordando
simplesmente em unir-se em uma sociedade política, no que consiste todo pacto que existe ou deve existir entre os indivíduos
que entram em uma comunidade ou a constituem. Assim sendo, o que dá início e constitui realmente qualquer sociedade
política nada mais é senão o assentimento de qualquer número de homens livres e capazes de maioria em se unirem e
incorporarem a tal sociedade. E isto e somente isto deu ou poderia dar origem a qualquer governo legitimo no mundo.
[ ... ] Assim, essas sociedades políticas começaram todas de uma união voluntária e do acordo mútuo de homens que agiam
livremente na escolha dos governantes e das formas de governo.
[ ... ]
Nessas condições, quem uma vez deu, por acordo real e qualquer declaração expressa, o seu consentimento em fazer parte de
uma comunidade, está obrigado, perpétua e indispensavelmente, a ser e ficar inalteravelmente súdito dela, não podendo voltar
novamente à liberdade do estado de natureza, a menos que, em virtude de alguma calamidade, venha a dissolver-se o governo
sob o qual vive, ou então, mediante algum ato público, fique dispensado de ser membro dela dai por diante.

Dos fins da sociedade política e do governo

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual
ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao
domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a
fruição do mesmo é muito incerta e está constantemente exposta à invasão de terceiros porque, sendo todos reis tanto quanto
ele, todos iguais a ele, e na maioria pouco observadores da eqüidade e da justiça, a fruição da propriedade que possui nesse
estado é muito insegura, muito arriscada. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar esta condição que, embora livre, está
cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que
estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de ---
propriedade".
O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunidades, colocando-se eles sob governo, é a
preservação da propriedade. Para este objetivo, muitas condições faltam no estado de natureza. Primeiro, falta uma lei
estabelecida, firmada, conhecida, recebida e aceita mediante consentimento comum, como padrão do justo e injusto e medida
comum para resolver quaisquer controvérsias entre os homens. [ ... ]
Em segundo lugar, no estado de natureza falta um juiz conhecido e indiferente com autoridade para resolver quaisquer
dissensões, de acordo com a lei estabelecida. [ ... ]
Em terceiro lugar, no estado de natureza freqüentemente falta poder que apóie e sustente a sentença quando justa, dando-lhe a
devida execução.
[ ... ]
Assim, os homens, apesar de todos os privilégios do estado de natureza, ao se verem apenas em más condições enquanto nele
permanecem, são rapidamente levados à sociedade. Daí resulta que raramente encontramos qualquer grupo de homens
vivendo dessa maneira. Os inconvenientes a que estão expostos pelo exercício irregular e incerto do poder que todo homem
tem de castigar as transgressões dos outros levam-nos a se abrigarem sob as leis estabelecidas de governo e nele procurarem a
preservação da propriedade. É isso que os leva a abandonarem de boa vontade o poder isolado que têm de castigar, para que
passe a exercê-lo um só indivíduo, escolhido para isso entre eles e mediante as regras que a comunidade - ou os que com tal
propósito forem por ela autorizados - concorde em estabelecer. E nisso se contém o direito original dos poderes legislativo e
executivo, bem como dos governos e das sociedades. [ ... ]
[ ... ] E assim sendo, quem tiver o poder legislativo ou o poder supremo de qualquer comunidade obriga-se a governá-la
mediante leis estabelecidas, promulgadas e conhecidas pelo povo - e não por meio de decretos extemporâneos - e mediante
juízes imparciais corretos, que terão de resolver as controvérsias conforme essas leis. Obriga-se também a empregar a força
da comunidade no seu território somente na execução de tais leis, ou fora dele para prevenir ou remediar malefícios
estrangeiros e garantir a sociedade contra incursões ou invasões. E tudo isso tendo em vista nenhum outro objetivo senão a
paz, a segurança e o bem-estar do povo.

TÓPICOS DO PENSAMENTO DE MARX

1. Karl Marx (1818-1883), filósofo, sociólogo e economista alemão


2. Trabalho: enquanto meio de transformação da natureza e do homem.
- Expressão da liberdade humana enquanto possibilidade de tornar o homem cada vez mais independente da natureza e por
isso com maior autonomia.
- O trabalho cria a possibilidade do desenvolvimento de uma tecnologia cada vez mais sofisticada que possibilitaria aos
homens se libertarem da necessidade de trabalhar pela subsistência. Haveria mais tempo livre para se dedicar àquilo que
humaniza o homem.
- O trabalho sempre tem um caráter social pois em todos os tempos a humanidade só transforma o mundo, criando
diversos tipos de organização social, através de um esforço coletivo e não individual. (John Locke vê o trabalho em uma
perspectiva individual)
- Não é a razão que diferencia o homem do animal mas a capacidade de transformar o mundo e a si mesmo pelo trabalho
coletivo. A própria razão e também a linguagem surgem neste processo de transformação.
- O trabalho determina as condições de vida humana, o modo como os homens produzem sua vida material e isto é
decisivo para a análise marxista.
- Se o trabalho transforma a natureza e o próprio homem "o que os indivíduos são.... depende das condições materiais de
sua produção" (Marx). Ou seja o que os indivíduos são confunde-se com o que produzem e com o modo como
produzem. "Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, é o seu ser social que determina a consciência"
(Marx)

2. Classes sociais: A partir de um excedente econômico surgem as classes sociais na sociedade. A partir daí se origina a
possibilidade de apropriação privada do que é produzido pelo trabalho que é sempre social. Surgem as classes sociais: uma
classe proprietária dos meios de produção (terras em um primeiro momento, depois indústrias, bancos, etc...) e uma classe
não proprietária. Por conta da conseqüência do surgimento da propriedade privada que é a pobreza e miséria da maioria, os
conflitos entre as classes se agudizam. Por isto a história passa a ser, segundo Marx, a história da LUTA DE CLASSES.
(Observação: Marx não foi o primeiro a falar em classes sociais. Apesar de não usar este termo Maquiavel nos seus escritos
revela a divisão de classes na sociedade)

3. Sociedade Civil: O que é a Sociedade Civil? E responde: Não é a manifestação de uma ordem natural racional nem o
aglomerado conflitante de indivíduos, famílias, grupos e corporações, cujos interesses antagônicos serão conciliados pelo
contrato social, que instituiria a ação reguladora e ordenadora do Estado, expressão do interesse e da vontade gerais.
A sociedade civil é o sistema de relações sociais que organiza a produção econômica (agricultura, indústria e o comércio),
realizando-se através de instituições sociais encarregadas de reproduzi-lo (família, igrejas, escolas, polícia, partidos políticos,
meios de comunicação, etc.) É o espaço onde as relações sociais e suas formas econômicas e institucionais são pensadas,
interpretadas e representadas por um conjunto de idéias morais, religiosas, jurídicas, pedagógicas, artísticas, científico-
filosóficas e políticas.
A Sociedade Civil é o processo de constituição e reposição das condições materiais da produção econômica pelas quais são
engendradas as classes sociais: os proprietários privados dos meios de produção e os trabalhadores ou não-proprietários, que
vendem sua força de trabalho como mercadoria submetida à lei da oferta e da procura no mercado de mão-de-obra. Essas
classes sociais são antagônicas e seus conflitos revelam uma contradição profunda entre os interesses irreconciliáveis de cada
uma delas, isto é, a sociedade civil se realiza como luta de classes.

4. Estado - Longe de diferenciar-se da sociedade civil e de separar-se dela, longe de ser a expressão da vontade geral e do
interesse geral, o Estado é a expressão legal – jurídica e policial – dos interesses de uma classe social particular, a classe dos
proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. E o Estado não é uma imposição divina aos homens, nem
é o resultado de um pacto ou contrato social, mas é a maneira pela qual a classe dominante de uma época e de uma sociedade
determinadas garante seus interesses e sua dominação sobre o todo social.
O Estado é a expressão política da luta econômico-social das classes, amortecida pelo aparato da ordem (jurídica) e da força
pública (policial e militar). Não é, mas aparece como um poder público distante e separado da sociedade civil. Não por acaso,
o liberalismo define o Estado como garantidor do direito de propriedade privada e, não por acaso, reduz a cidadania aos
direitos dos proprietários privados (a ampliação da cidadania foi fruto de lutas populares contra as idéias e práticas liberais).

5. Mais Valia - O sistema capitalista consiste na produção de mercadorias. Mercadoria é tudo o que é produzido não tendo
em vista o valor de uso (por exemplo, uma malha que fazemos para nosso próprio uso), mas tem por objetivo o valor de troca,
isto é, a venda do produto. Sendo a mercadoria um produto do trabalho, o seu valor é determinado pelo total de trabalho
socialmente necessário para produzi-la. Como a mercadoria é produzida?
Para sobreviver, o trabalhador vende ao capitalista a única mercadoria que possui, que é a capacidade de trabalhar. Qual deve
ser o valor da força de trabalho? Sendo um ser vivo, o trabalhador precisa receber o necessário para a subsistência e
reprodução de sua capacidade de trabalho, ou seja, alimento, roupa, moradia, possibilidade de criar os filhos, etc. O salário
deve portanto corresponder ao custo de sua manutenção e de sua família.
O operário se distingue dos escravos e dos servos por receber um salário a partir do contrato livremente aceito entre as partes.
No entanto, na obra O capital, Marx explica que a relação de contrato é livre só na aparência e que, na verdade, o
desenvolvimento do capitalismo supõe a exploração do trabalho do operário. Isso porque o capitalista contrata o operário para
trabalhar durante um certo período de horas a fim de alcançar determinada produção. Mas o trabalhador, estando disponível
todo o tempo, na verdade produz mais do que foi calculado, ou seja, a força de trabalho pode criar um valor superior ao
estipulado inicialmente. No entanto, a parte do trabalho excedente não e paga ao operário, e serve para aumentar cada vez
mais o capital.
Marx diz que, ao comprar a força de trabalho, o capitalista "adquire o direito de servir-se dela ou de fazê-la funcionar durante
todo o dia ou toda a semana (...) Como vendeu sua força de trabalho ao capitalista, todo o valor, ou todo o produto por ele
[pelo operário] criado pertence ao capitalista, que é dono de sua força de trabalho, pro tempore. Por conseguinte,
desembolsando 3 xelins, o capitalista realizará o valor de 6, pois com o desembolso de um valor no qual se cristalizam seis
horas de trabalho receberá em troca um valor no qual estão cristalizadas doze horas. Se repete, diariamente, essa operação, o
capitalista desembolsará 3 xelins por dia e embolsará 6, cuja metade tornará a inverter no pagamento de novos salários,
enquanto a outra metade formará a mais-valia, pela qual o capitalista não paga equivalente algum. Esse tipo de intercâmbio
entre o capital e o trabalho é o que serve de base à produção capitalista, ou ao sistema do salariado, e tem de conduzir, sem
cessar, à constante reprodução do operário como operário e do capitalista como capitalista"
Chama-se mais-valia, portanto, ao valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo
capitalista.

6. Composição orgânica do Capital - De que depende a taxa de lucro que o capitalista pode obter de sua empresa?
Depende da relação entre o capital constante (máquinas, matérias-primas, equipamentos e conhecimento) e o capital variável
(salários). Esta relação é chamada por Marx de COMPOSIÇÃO ORGÂNICA DO CAPITAL.
Quanto mais o capitalista gastar na construção de edifícios, aquisição de máquinas e de matéria-prima em relação ao gasto da
força de trabalho mais alta será composição orgânica do capital e menor será portanto a taxa de lucro.
A composição orgânica do capital cresce com o desenvolvimento da técnica e a taxa de lucro tem que baixar ao mesmo
tempo.
A partir da década de 80, a substituição do trabalho vivo por trabalho morto (incluído nas máquinas) tem atingido proporções
inéditas na história do modo de produção capitalista. A generalização da automação na quase totalidade da produção e dos
serviços e a introdução de novos métodos organizativos têm gerado uma considerável redução da força de trabalho
empregada. O medo do desemprego - resultante desse processo, que se convencionou chamar reestruturação produtiva -
permite aos capitalistas precarizar as relações formais de trabalho, retirar direitos dos trabalhadores e reduzir a massa salarial.
O modo capitalista de produção se desenvolve pela acumulação de capital. Esta acumulação implica na mobilização de uma
quantidade cada vez maior de meios de produção, que absorvem funções que anteriormente faziam parte da atividade humana
por meio de ferramentas. Esta substituição do homem por máquinas - trabalho vivo humano por trabalho morto objetivado -
aumenta a proporção das máquinas no total do capital empregado, fenômeno que Marx chamou de aumento da composição
orgânica do capital.
Para permanecer na concorrência, um número cada vez menor de capitalistas é capaz de fazer frente à necessidade de grandes
investimentos. Na configuração atual do capitalismo, a acumulação se torna atributo de um pequeno número de empresas,
mais produtivas, com um número menor de trabalhadores.
O desemprego e a precarização das relações de trabalho atingem em cheio a composição da classe operária. Aumenta a
distância entre a aristocracia operária e o conjunto da classe. A terceirização opõe trabalhadores com contrato de trabalho
regular aos terceirizados. Diferenças regionais, raciais, de idade e de gênero muitas vezes acentuam esta diferenciação.
No discurso dominante, os trabalhadores estariam a salvo do desemprego pela qualificação, que deve ser obtida por eles
próprios e através de seus sindicatos. Porém, a exigência da qualificação é apenas formal. A norma é a perpetuação de tarefas
repetitivas e monótonas, mesmo com a introdução de equipamentos mais sofisticados tecnologicamente. A exigência de
qualificação (escolaridade, treinamento e polivalência, ou seja, domínio de múltiplas especialidades) tem um caráter de
cooptação de parcelas da classe operária.

O chamado toyotismo, que substituiu as formas fordistas de produção, foi implantado - primeiro no Japão e depois no resto
do mundo capitalista - justamente para radicalizar o processo de cooptação dos trabalhadores. Medidas como controles
coletivos de qualidade no processo industrial e a abolição de chefias são destinadas a introjetar nos próprios trabalhadores o
seu compromisso com os destinos da empresa, a maximização dos lucros capitalistas e a própria exploração, fato acentuado
recentemente pela implantação da Participação nos Lucros ou Resultados.
A conseqüência mais visível do processo de reestruturação produtiva é uma diferenciação interna da classe operária, opondo
trabalhadores regularmente contratados a desempregados, informais, terceirizados, precários e àqueles contratados
temporariamente ou a tempo parcial. Esta diferenciação é superficial, já que os fundamentos da exploração da mais valia
permanecem incólumes. Os que ainda trabalham de forma regular - dentro do arcabouço da legislação trabalhista - têm
"privilégios" voláteis, pois não têm garantias de emprego e seus direitos sociais estão sendo extintos.
Estas são algumas características atuais da classe operária:
● perda de direitos e conquistas sociais e trabalhistas;
● diferenciação pela precarização, terceirização, informalidade e desemprego;
● técnicas de cooptação, entremeadas por coerção aberta, mais sofisticadas e introjetadas pelos próprios
trabalhadores;
exigências de qualificação formal cada vez mais excludentes

7. Materialismo Histórico: "Materialismo porque somos o que as condições materiais de existência nos determinam a ser e a
pensar. Histórico porque a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem da ordem natural, mas
dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo." (Marilena Chauí)
- condições materiais de existência:
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Forças produtivas: trabalho do homem e meios de produção (equipamentos, ferramentas, máquinas)
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Relações de produção: a forma como os homens se relacionam ao produzirem materialmente sua vida. Tal
relacionamento se dá vinculado à luta de classes, é fruto da luta de classes.

- Relação entre as forças produtivas e relações de produção: Se Marx em algumas de suas obras estabelece o princípio do
primado das forças produtivas sobre as relações de produção na medida em que seriam elas que comandariam o
desenvolvimento histórico, na sua obra "O Capital" estabelece o primado das "Relações de Produção". Estas é que comandam
as transformações das Forças Produtivas. As forças produtivas não tem um caráter neutro. Há a determinação de classe. As
forças produtivas nunca tem seu desenvolvimento de forma independente das relações de produção que sempre, como vimos,
estão vinculadas à luta de classes. Exemplo: Se hoje foi introduzida a informática no processo de trabalho isto surgiu como
conseqüência das relações de produção marcadas pelo conflito de classes e não por uma desenvolvimento autônomo das
forças produtivas. No processo de luta entre as classes o capitalista, para não perder o poder introduziu a informática como
forma de garantir o seu domínio. Com ela o capitalista pode tirar o saber do trabalhador sobre o processo do trabalho e
controlá-lo. Inclusive tal fato gera o desemprego que dificulta a organização dos trabalhadores.

Esta relação nos possibilita entender tendências no Marxismo:


a) Uma posição reformista e etapista afirma que sendo o desenvolvimento das forças produtivas condição para a implantação
do Socialismo então não haveria problema se elas se desenvolvessem no interior do sistema capitalista. Não haveria pois
problema em apoiar um setor da burguesia que propusesse este desenvolvimento em escala cada vez maior. Com isto se
estabeleceriam as bases objetivas para a implantação do Socialismo.
b) Outra tendência, revolucionária, entende que é necessário forças produtivas adequadas ao socialismo sem a característica
de domínio sobre os trabalhadores. Portanto, urge derrubar o capitalismo através da revolução.

8. Estrutura e Superestrutura - As Forças Produtivas e as Relações de Produção podem ser consideradas como as bases
econômicas (ESTRUTURA) da sociedade enquanto a SUPERESTRUTURA diz respeito a fatores não econômicos como as
idéias, a organização política (Estado), leis, religião, moral, ciência.
- a SUPERESTRUTURA é determinada pela ESTRUTURA. Por isso para entender uma época é fundamental saber como os
homens vivem (condições materiais) e não como pensam. A transformação de uma sociedade não depende das mudanças nas
idéias mas da transformação da relações de produção, da estrutura material da sociedade.
- Mas os elementos não econômicos que fazem parte da Superestrutura podem ter em determinado tempo e sociedade um
papel determinante. Porém em ÚLTIMA INSTÂNCIA a determinação é dada pelo econômico (= Forças produtivas +
Relações de produção). Não há uma determinação direta e imediata da superestrutura pela base (estrutura). Exemplo: "No
modo de produção feudal a relação de produção envolve dois agentes: o senhor feudal, proprietário das condições materiais
da produção, e o servo, que mantém a posse dessas mesmas condições. Essa relação implica que o servo trabalhe para o
senhor, entregando-lhe parte da produção por ele realizada. Ora, o que leva à reprodução dessa relação? Observemos, de
imediato, que não existe nenhuma necessidade de ordem econômica para o servo assim agir, já que ele está na posse das
condições materiais da produção e mantém o controle sobre o processo de trabalho. Portanto, o servo só reproduz essa
relação, isto é, entrega ao senhor o resultado do seu trabalho, em virtude da interferência de fatores não-econômicos. Assim, é
necessário o emprego da coerção física através da força militar dos senhores para que essa relação social se reproduza. Além
disso, a ideologia religiosa cristã secreta uma representação imaginária de mundo na qual se justifica, como expressão da
vontade divina, a relação de exploração do servo pelo senhor." (Do livro: Marx - ciência e revolução, Ed. Moderna, Márcio
Bilharinho Naves, pág. 82, ano 2000). Implica pois a instância política (relação de força) e instância religiosa (catolicismo).
Mas em ÚLTIMA INSTÂNCIA é o fator econômico que explica o papel determinante da religião e da política.

- Já no capitalismo não há necessidade da coerção física e da religião. Há uma separação entre o trabalhador e os meios de
produção. Os meios de produção pertencem ao capitalista. A maioria dos trabalhadores no capitalismo entende que o
capitalista, proprietário dos Meios de Produção, paga um salário pelo seu trabalho e portanto acha justo entregar o resultado
de seu trabalho para ele não percebendo a mais-valia, ou seja, que o seu trabalho é explorado pelo capitalista. Não percebe
que o valor da mercadoria é determinado por seu trabalho incorporado nela. Não percebe o caráter social do trabalho, o que
implicaria em uma destinação social e apropriação social. Por isso vive na ALIENAÇÃO. Conclui-se portanto, que a
determinação do fator econômico é mais direta e imediata e portanto não há a influência determinante de fatores não
econômicos como a religião e a política.

9. Alienação - "é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura
como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse podem em si e por si
mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder
sobre eles. Exemplo: a globalização hoje é visto como algo natural ao qual os países têm que se sujeitar. Não é vista como
criação dos homens em um processo de luta de classes." (M. Chauí)
10. Ideologia - A Superestrutura de uma sociedade é determinada pela classe que domina economicamente. As idéias, os
valores dominantes são as idéias e valores da classe dominante. Porém estes aparecem não como próprios da classe
dominante mas como universais (para todos) e naturais (não históricos) (=IDEOLOGIA).
- A função mais importante da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas. Ex. somos levados a
acreditar que somos todos iguais porque participamos da idéia de pátria.
- Realiza a inversão: coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Opera como o
inconsciente freudiano: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas causalidades. Ex: o "ser feminino"
é colocado como causa da "função social feminina".
- Produção do imaginário social: Exemplo: poderemos subir na vida através do esforço próprio.
- A ideologia opera pelo silêncio, pelo ocultamento. Exemplo: A ideologia afirma que o homossexualismo é uma
perversão e uma doença. Silencia-se sobre os motivos pelos quais, em nossa sociedade, o vínculo entre sexo e procriação
é tão importante: nossa sociedade exige a procriação legítima e legal porque garante para a classe dominante a
transmissão do capital aos herdeiros. No caso das ocupações de terra feitas pelo MST e movimentos urbanos, a mídia
fala em invasões. O uso deste termo auxilia no ocultamento do fato da concentração da terra rural no Brasil, da ocupação
de terras públicas pelos fazendeiros (Pontal de Paranapanema), esconde-se os efeitos da especulação imobiliária nas
cidades. No caso da cidade de São Paulo fala-se em "revitalização do centro" porque esta "deteriorado" (leia-se: habitado
pela população pobre). Mas o centro está "vitalizado", os pobres estão dando vida a esta região da cidade. Na verdade o
que se pretende, muitas vezes, é a expulsão dos pobres do centro.
11.Contradições no Capitalismo - No capitalismo há contradições que geram crises que apontam para o seu fim com a
implantação do Socialismo. Causas da crise no capitalismo:
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A produção é social mas a apropriação é privada. Portanto a destinação da produção não é para satisfazer as necessidades
da maioria mas para atender as necessidades do lucro dos capitalistas.
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Por isso acontece a anarquia na produção: desperdício, desemprego
12. O operariado e a revolução: o capitalismo cria o seu coveiro, a classe que o irá destruir: o operariado. Através de uma
revolução se criaria um Estado socialista com a socialização dos meios de produção. Não haveria mais a apropriação privada
do que é produzido coletivamente. Este é um período de transição caracterizado pelo que Marx chama Ditadura do
Proletariado, necessário para impedir a contra-revolução da burguesia e para acabar de vez com a existência de classes na
sociedade. Ditadura para a minoria e democracia para a maioria, isto é, o povo. Após este período de transição chegaríamos
finalmente ao COMUNISMO, uma sociedade sem classes, sem a opressão do homem pelo homem, sem Estado. O social do
trabalho seria finalmente resgatado e teríamos a sociedade com igualdade e justiça. O homem não seria mais lobo do outro
homem.
13. Exemplo de uma estudo da realidade embasado na perspectiva marxista: Ocupação do espaço urbano na cidade de
São Paulo. (termos marxistas: luta de classes na disputa pelo espaço urbano, a cidade produzida através do trabalho de todos,
alienação, ideologia, expropriação do trabalho social)

TEXTOS DE MARX

Luta de Classes

“A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das luas de classes. Homem livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, têm permanecido em
constante oposição uns aos outros, envolvidos numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre, ou
por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou pela destruição das duas classes em luta.” (Karl Marx e
Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. In: Cartas filosóficas e outros escritos, p. 84)

“No que me concerne, não me cabe o mérito de haver descoberto nem a existência das classe, nem a luta entre elas. Muito
antes de mim, historiadores burgueses já haviam descoberto o desenvolvimento histórico dessa luta entre as classes e
economistas burgueses haviam indicado sua anatomia econômica. O que eu trouxe de novo foi: 1) demonstrar que a
existência das classes está ligada somente a determinadas fases de desenvolvimento da produção; 2) que a luta de classes
conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3) que essa própria ditadura nada mais é que a transição à abolição de
todas as classes e a uma sociedade sem classes (...) (Marx, Carta a Weydemeyer, 5/3/1852)

“Os indivíduos só formam uma classe na medida em que se vêem obrigados a sustentar uma luta comum contra outra classe,
já que no mais eles se enfrentam uns aos outros, hostilmente, no plano da competência (Marx e Engels, Ideologia alemã, I
parte, “Feuerbach”)

“Os proprietários da simples força de trabalho, os proprietários do capital e os donos da propriedade fundiárias, cujas
respectivas fontes de renda são o salário, o lucro e a renda fundiária, ou seja, os trabalhadores assalariados, os capitalistas e os
proprietários fundiários, constituem as três grandes classes da sociedade moderna, fundada sobre o modo de produção
capitalista.” (Marx, O Capital, III, 3, Cap. 52)

Estado, ideologia, alienação em escritos de Marx

“No Estado corporifica-se diante de nós o primeiro poder ideológico sobre os homens, A sociedade cria um órgão para a
defesa de seus interesses comuns, em face dos ataques de dentro e de fora. Esse órgão é o poder do Estado. Mas, apenas
criado, esse órgão se torna independente da sociedade, tanto mais quanto mais se vai convertendo em órgão de uma
determinada classe e mais diretamente impõe o domínio dessa classe. A luta de classe oprimida contra a classe dominante
assume forçosamente o caráter de uma luta política, de uma luta dirigida, em primeiro lugar, contra o domínio político dessa
classe; a consciência da relação que essa luta política tem para com sua base econômica obscurece e pode chegar a
desaparecer inteiramente.” (Engels, Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã, cap. IV)

“A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe ao mesmo tempo dos meios de produção intelectual... As idéias
dominantes não são outra coisa senão a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais
dominantes na forma de idéias; são, portanto, expressão das relações que justamente fazem de uma classe a classe
dominante.... (Marx e Engels, Ideologia alemã, I parte, “Feuerbach”)

“A alienação do trabalhador em seu produto significa não apenas que seu trabalho se converte em um objeto, em uma
existência exterior, mas que existe fora dele, independente, estranho, que se converte em um poder independente diante dele;
que a vida que dedicou ao objeto enfrenta com ele como coisa estranha e hostil” (Karl Marx . Manuscritos Econômico-
filosóficos)

“Como os produtores somente entram em contato social mediante a troca de seus produtos de trabalho, as características
especificamente sociais de seus trabalhos privados só aparecem dentro dessa troca. Em outras palavras, os trabalhos privados
só atuam, de fato, como membros do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do
trabalho e, por meio dos mesmos, entre os produtores. Por isso, aos últimos aparecem as relações sociais entre seus trabalhos
privados como o que são, isto é, não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos, senão como
relações reificadas entre as pessoas e relações sociais entre as coisas.” (Karl Marx, O Capital)

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